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ARTIGO - A Dinâmica Do Design Na Indústria Cerâmica Utilitária e Decorativa Nacional PDF
ARTIGO - A Dinâmica Do Design Na Indústria Cerâmica Utilitária e Decorativa Nacional PDF
RESUMO
INTRODUÇÃO
CENÁRIO 2 CARACTERIZAÇÃO
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Neste contexto, a análise da gestão do design nas empresas do subsector é um dos
aspectos que, entre outros de natureza mais tecnológica e de mercado, se torna
oportuno investigar. Os resultados da investigação aqui apresentados inserem-se
num projecto de doutoramento iniciado há pouco mais de um ano e na sequência
de uma participação na Design Conference em Berlim (15 a 17 de Fevereiro de
2009), com publicação de um artigo numa revista internacional com revisão
(Antunes et al., 2009). Neste âmbito foi criado um fórum que pretende promover o
diálogo e a partilha de opiniões sobre o tema (www.gestaodesign.com).
METODOLOGIA
CARACTERÍSTICAS EMPRESAS
Número de 1 empresa tem entre 25-50 empregados, 11 têm entre 50-125, 8 têm entre
Funcionários 125-205 e 6 têm um número superior a 250 colaboradores.
Tipo de Pasta
10 empresas de faiança, 8 de grés, 5 de porcelana e 3 de terracota.
Utilizada
Caracterização do
As empresas inquiridas produzem louça utilitária e/ou louça decorativa.
Produto
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Robert Brain define gestão do design como a “implementação do design num
programa formal de actividades dentro da empresa, comunicando a importância do
design a longo termo em estratégias corporativas e coordenando os recursos do
design em todos os níveis da actividade corporativa, para alcançar os objectivos da
empresa” (1993 citado in Cooper & Press, 1999, p. 103).
No questionário realizado nas empresas o conceito de design foi adoptado por 18
empresas e por 22 o conceito de gestão de design. Houve uma tendência por parte
das empresas em definirem design como a forma criativa de desenvolver produtos
tendo em conta aspectos formais, estéticos e utilitários (ver a Figura 1). Para a
definição de gestão de design foram considerados os aspectos mais mencionados: a
gestão de funções e recursos de todos os departamentos da empresa, visando o
desenvolvimento de um produto, individual ou em equipa.
Imagem Corporativa
Kathryn Best, no seu recente livro (2006, p. 16) refere que “dentro de uma
empresa, a gestão do design está presente na comunicação da marca, no produto
ou serviço de design, nos edifícios corporativos, ambiente de vendas, websites e
campanhas de publicidade”.
Pretende fazer-se a análise da imagem corporativa das empresas segundo os
parâmetros mencionados no Manual de Gestão de Design (1997, p. 114),
nomeadamente os seguintes: “Comunicação gráfica ou identidade visual, Produto,
Local onde se prestam os serviços e Equipa humana” e com base nos questionários
realizados nas empresas.
Para o item “comunicação gráfica ou identidade visual” identificaram-se 24
empresas com site na internet. Observou-se, contudo, que a maioria não tinha o
site actualizado. Relativamente aos elementos visuais gráficos, como material
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impresso ou para download, observa-se que 16 empresas têm uma linguagem
visual coerente entre todos os elementos. Acrescenta-se ainda que na maioria das
empresas, o nome funciona como marca e logótipo, sendo este último trabalhado
graficamente. Observa-se uma preocupação por parte empresas estudadas para
este tópico, visto 11 terem mais que uma marca para distinguir os diferentes
segmentos de mercado, mas todavia 21 referiram que a marca não se associa à
maioria das peças que produz.
Na análise do “produto” observou-se que as empresas produzem mais louça
utilitária (80,7%) do que decorativa (19,2%), sendo que 16 empresas produzem
ambos os tipos, 7 exclusivamente louça utilitária e 3 louça decorativa. Em termos
de técnica de decoração registou-se o vidrado como a principal técnica, seguindo-se
a aplicação de decalques e a pintura manual. Nas peças produzidas é aplicada a
marca da empresa sempre que o cliente o permite e a embalagem representa
também, na maioria dos casos, uma exigência do cliente. Muitas empresas
analisadas referiram que uma parcela da sua produção é destinada ao
desenvolvimento de decorações específicas para clientes, como cadeias de hotéis e
restaurantes, facto que vai de encontro ao conceito de personalização em massa
defendido por Best (p. 118). Outro factor observado foi a flexibilidade destas
empresas na produção com diversos tipos de pasta (faiança, porcelana, grés ou
terracota) a fim de tentarem satisfazer as necessidades dos clientes.
Quanto ao “local onde se prestam os serviços” foi considerado o local de produção e
o mostruário, existindo um local exclusivo para o estacionamento dos carros dos
clientes. No interior da fábrica observou-se que 25 empresas têm um “showroom”
agradável onde predominam peças, catálogos e publicações. O espaço é bem
iluminado e confortável, tem mesa de reuniões e, nalguns casos, máquina de café,
mini cozinha e outros elementos decorativos. Nas fábricas onde foi possível visitar a
zona fabril, observaram-se preocupações no cumprimento das regras de segurança
e higiene no trabalho. Pode também referir-se que as empresas analisadas têm
preocupações em termos de prestação dos serviços pela rapidez de resposta (“time
to market”), capacidade de reposição (cadeias de distribuição) e no serviço pós-
venda.
Verificou-se também que quatro das empresas analisadas têm museus ou um
percurso aberto dentro da fábrica, a fim de proporcionarem aos visitantes um
conhecimento das técnicas de produção ou da história do produto. Este conceito
insere-se dentro de um novo tipo de turismo denominado de “industrial” ou de “de
descoberta económica” muito comum em países como o Japão, Alemanha, França e
Inglaterra (Silva, 2008). O autor refere que já foram realizados estudos onde o
turismo industrial “levou a um aumento das vendas das empresas, fortaleceu a
imagem, produtos e marca, permitiu a difusão das informações técnicas e know-
how dos produtos e valorizou o conteúdo do trabalho dos empregados”. As visitas a
estes espaços atraem novos públicos, prolongam as estadias e fomentam o
comércio e serviços nessa região.
Relativamente à “equipa humana” com que houve contacto (recepcionistas,
colaboradores, administradores e designers) a generalidade manifestou simpatia.
Registou-se também que, sempre que o interlocutor da entrevista era contactado
por um cliente, a reunião parava. Observou-se a existência de prioridade do cliente
sobre todos os assuntos.
Identidade Corporativa
Best refere que a identidade corporativa deve expressar “os valores e os desejos
expressos na marca e na missão da empresa. Os mesmos deverão ser traduzidos
em vários objectivos de negócio e planos estratégicos de acordo com o número de
departamentos da empresa que se manifestam nos ambientes, comunicações,
produtos e serviços na empresa” (2006, p. 28).
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Zurlo amplifica esta definição, aconselhando que a “visão da empresa deve ser
transmitida a todos os colaboradores, de uma forma a motivar e dar substância à
cultura da empresa” (2007, p. 49).
Baseado nos parâmetros de identidade corporativa observou-se que 19 empresas
definiram a missão, 19 os objectivos de mercado e 17 o plano estratégico. Com
base nas palavras-chave mais mencionados pelas empresas e apresentadas na
Figura 2, pode definir-se:
a) Missão como a criação de produtos com design e inovação com vista a satisfazer
as necessidades dos clientes;
b) Objectivos de mercados como a procura de novos mercados;
c) Plano estratégico, como uma aposta no design e inovação com vista a penetrar
em novos mercados.
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Mozota refere que na estratégia “design-imagem a função do designer é de reforçar
o poder da empresa no seu mercado através do poder da imagem e das marcas e
colocando valor visual ao produto” e que a estratégia “design-mercado visa
conhecer os mercados e o tipo de utilizadores; sendo a função do designer a de
reforçar a posição da empresa, melhorar o valor do produto no intuito de adaptá-lo
melhor às necessidades dos utilizadores”. A predominância destas duas estratégias
pode ser observada também nas definições de missão, plano estratégico e
objectivos de mercado.
Desenvolvimento do Design
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No estudo, observou-se que, internamente, os projectos são avaliados pelas
possibilidades de fabrico (73,1%), pelos factores estéticos (53,8%) e pelo
mercado/cliente (50%). Identificou-se de igual modo, que a decisão final de tornar
os projectos exequíveis está dependente das encomendas dos clientes (65,4%), da
decisão da gerência/administração (46,2%) e, por último, do departamento
comercial (23,1%).
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Observou-se, no universo de estudo, que 25 empresas trabalham com designers,
10 exclusivamente com designers internos, 6 unicamente com freelancers e 9 com
a colaboração dos dois tipos de serviços. O designer residente é normalmente
caracterizado por ser bom conhecedor dos processos de fabrico, das limitações da
fábrica e das capacidades da empresa, o que torna o seu trabalho mais eficiente em
termos produtivos. Relativamente ao designer externo (freelancer), a autora Best
refere que ele pode ser contratado por várias razões: “pela empresa não ter
recursos humanos internos, ser necessária uma perspectiva diferente ou pela
motivação que o designer pode dar à equipa interna” (2006, p. 170). Verifica-se,
na Figura 5, que as empresas da amostra empregam uma considerável
percentagem de designers há menos de um ano o que pode significar uma
tendência na aposta do design, inovação e melhoramento dos seus produtos, face
às dificuldades sentidas.
CONCLUSÕES
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acima mencionadas. Os planos estratégicos das empresas apontam para uma
aposta mais forte no design e uma procura de novos mercados.
Neste enquadramento estratégico, o contributo do design e do designer é, sem
dúvida, crucial. O design foi definido como a forma criativa de desenvolver produtos
tendo em conta a forma/estética e a função utilitária. Já em termos projectuais os
factores mais importantes são a estética/forma e também a facilidade de produção.
Assim sendo, há todo o interesse no desenvolvimento de uma grande proximidade
entre o criativo e o comprador/mercado e no acompanhamento da produção por
parte do criativo. Contudo, os dados do questionário demonstraram que não existe
uma participação assídua do designer nas reuniões com os clientes nem no
acompanhamento da produção. Este, é por isso, um dos aspectos a melhorar na
gestão do design da maioria das empresas nacionais deste subsector, permitindo,
por exemplo, que o desenvolvimento de produto seja mais individualizado e que se
atinja uma imagem mais forte de identidade da empresa, com maior distinção entre
o produto desenvolvido e o da concorrência.
De acordo com a caracterização do subsector feita pelo ICEP em 1999, a elevada
flexibilidade de produção e o know-how, eram factores positivos das empresas. Se
estes factores fossem associados a estratégias de inovação, marketing, cooperação
e mercados podia ter originado um novo cenário que não fosse o que se vive na
actualidade. A produção com marcas brancas, uma característica comum a muitas
indústrias, recai numa política de marca ainda não instaurada em Portugal. As
políticas de marca também poderiam assentar em práticas de turismo industrial ou
de identidade cultural, ligando as actividades de turismo e indústria, bem com em
apostar no melhoramento dos serviços e qualidade.
O relatório do ICEP refere uma reduzida capacidade de inovação dos produtos mas,
nessa área, parece existir algum esforço por parte das empresas estudadas apesar
de ser necessário aliar ao produto estratégias de marketing. O estudo indica a
importância do cliente em termos de desenvolvimento de produto, mas deveria ser
considerado também enquanto objecto de estudo, no sentido de conhecer os
mercados de destino. Nessa perspectiva o desenvolvimento de produto poderia ser
contextualizado para as tendências e hábitos dos mercados. A cooperação entre
empresas, estratégia mencionada na caracterização do ICEP e no estudo
prospectivo de Silva, aparentemente não é aplicada e não é dada a devida
importância para a competitividade do subsector.
AGRADECIMENTOS
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Agradece-se, igualmente, a outras entidades, como a APICER, o Centro Tecnológico
da Cerâmica e do Vidro (CTCV), o CENCAL (Centro de Formação Profissional para a
Indústria de Cerâmica) e o Centro de Design de Interiores, e ainda a todas pessoas
que se mostraram disponíveis para colaborar.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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