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1 Somatizações e Distúrbios Neurovegetativos - Material Alunos PDF
1 Somatizações e Distúrbios Neurovegetativos - Material Alunos PDF
De modo geral, o Transtorno Somatoforme se caracteriza por um salto do psíquico para o orgânico, com
predominância de queixas relacionadas aos órgãos e sistemas, como por exemplo, queixas
cardiovasculares, digestivas, respiratórias, etc.
Quando se usa o termo Conversão, embora exista da mesma forma um salto do psíquico para o orgânico,
os sintomas são predominantes no “sistema de comunicação” da pessoa com o mundo, ou seja, em sua
mímica, em seus cinco sentidos, em sua mobilidade e coordenação motora. Dessa forma, todos os
quadros de conversão se confundem com sintomas neurológicos, ou seja, desmaios, formigamentos,
paralisias, perda da voz, da visão, etc. Na Conversão os sintomas aparecem sob a forma de perda da
função de um ou de vários atributos necessários à vida de relação. Isso significa que a musculatura
estriada e os órgãos sensoriais são afetados.
Os problemas de Somatização, por sua vez, normalmente envolvem a clínica médica. Os sintomas
envolvem os diversos órgãos e sistemas, como por exemplo, dores no peito (sistema cardiovascular), falta
de ar (sistema respiratório), cólicas abdominais (sistema gastroenterológico ou ginecológico), e assim por
diante.
Nos distúrbios de Dissociação há, da mesma forma, um salto do psíquico, porém, não mais para o
orgânico: há um salto do psíquico para o próprio psíquico. Aqui são afetadas a consciência e integração
da pessoa com a realidade. A Dissociação, segundo a CID.10, é representada pelos fenômenos onde o
indivíduo fica, repentinamente, dissociado dos estímulos internos e externos.
Todos esses sintomas psicorreativos são reversíveis e não obedecem à realidade orgânica ou à fisiologia
médica conhecida. Eles obedecem sim, à representação emocional que o sujeito tem de seus conflitos, de
seu corpo e de seu funcionamento. Através dessa representação sintomática nada fisiológica podemos
observar uma perda total da visão sem que o reflexo foto-motor se encontre alterado, ou uma lombalgia
com exames neurológicos normais, tonturas com exames otoneurológicos normais e assim por diante.
Vale acrescentar que nenhum desses sintomas tem algo a ver com a simulação, tratando-se, pois, da
comunicação corporal de um conflito ou mobilização emocional. É a expressão de uma necessidade
psicológica onde os sintomas não são voluntariamente produzidos e não podem ser explicados, após
investigação apropriada, por qualquer mecanismo clínico conhecido.
É muito importante fazer uma boa distinção entre sintomas somatiformes e conversivos com os sintomas
psicossomáticos, embora todas essas manifestações possam ocorrer em um mesmo paciente. Na
Conversão e Somatização, a representação da realidade vivenciada penosa, desagradável ou traumática é
Isso pode ser o que acontece, por exemplo, quando uma paciente apresenta queixa ginecológica vaga e
incongruente, após ter participado de alguma prática sexual com o namorado em desacordo com seus
valores morais. Nesses casos não existem lesões orgânicas, embora sempre exista a queixa do sofrimento.
Tais queixas conversivas ou alterações funcionais independem da anatomia e fisiologia reais do
organismo.
Na Doença Psicossomática, diferentemente, de fato existe alteração orgânica confirmada por exames
clínicos, embora tais alterações tenham sido desencadeadas, determinadas ou agravadas por razões
emocionais. Na Doença Psicossomática o Sistema Nervoso Autônomo (SNA) é o mais mobilizado.
Alguns autores aceitam a idéia de que a Doença Psicossomática acontece quando há prejuízo da
manifestação afetiva típica, ou seja, quando há alguma dificuldade para a pessoa reconhecer e verbalizar
sentimentos e emoções (alexitimia).
Resumindo, a maneira mais didática de entender essa sucessão de termos parecidos e confusos pode ser
assim:
TERMO SIGNIFICADO
Somatiforme, ou Toda patologia psíquica que se faz representar no orgânico através
Somatomorfo de sintomas compatíveis ou não com a patologia clínica, com a
anatomia ou com a fisiologia.
Somatização Quando a parte física envolvida diz respeito aos órgãos e sistemas
(coração, muscular, respiratório, genital...)
Transtornos Somatoformes
A característica principal dos Transtornos Somatoformes é a presença de sintomas físicos que sugerem
alguma doença orgânica ou física. A base do quadro clínico diz respeito à presença repetida de sintomas
físicos associados à busca persistente de assistência médica. Apesar dos médicos nada encontrarem de
anormal nos pacientes com Transtorno Somatoforme, as queixas persistem. E quando há alguma alteração
orgânica, esta normalmente não justifica a queixa.
A pergunta que sempre está presente diante de casos com somatização é quanto à intencionalidade
consciente dos sintomas. Nos Transtornos Somatoformes a intencionalidade é inconsciente, ou seja, pode
haver uma espécie de “planejamento” inconsciente da sintomatologia, a qual passa a se manifestar
involuntariamente. Esse quadro difere da simulação, onde os sintomas físicos não são conscientemente
intencionais, isto é, voluntários.
Há estudos mostrando que 75% das pessoas adultas e sadias sofrem algum tipo de dor ou de mal estar
num prazo de uma semana. Isso quer dizer que, em condições normais, o ser humano costuma apresentar
alguma queixa sobre si mesmo e isso não se constitui em nenhum transtorno psiquiátrico (White KL,
Williams TF, Greenberg BG. The ecology of medical care. N Eng J Med 1961; 265: 885-892). Entretanto,
devemos pensar em um diagnóstico de Somatização, apenas quando a pessoa que se queixa acredita estar
sofrendo de um problema orgânico e busca diagnóstico e tratamento médico persistentemente. Nesses
casos parece haver uma relutância do paciente em aceitar as seguidas negativas dos médicos quanto a
possibilidade de não haver nenhuma doença física.
A diferença entre os Transtornos Somatoformes e as Doenças Psicossomáticas está no fato dessas últimas
comportarem, junto com a queixa, realmente alguma alteração orgânica constatável clinicamente,
enquanto na somatização não. Havendo confirmação de alterações orgânicas e, sendo a doença em pauta
influenciável (determinada ou agravada) por razões emocionais, estamos diante de Doenças
Psicossomáticas. Alguns exemplos desses transtornos podem ser a asma brônquica, hipertensão arterial
essencial, psoríase, retocolite ulcerativa, entre muitas outras.
A indiscutível importância dos Transtornos Somatoformes está na gritante freqüência com que esses
pacientes visitam médicos das mais variadas especialidades. Tão ou mais importante ainda é o fato desses
transtornos estarem quase sempre associados a outros quadros emocionais.
Comorbidade
A comorbidade do Transtorno Somatoforme (concordância com outra doença simultaneamente) com
outros quadros emocionais tem sido observada em torno de 85% dos casos, com predomínio de
transtornos depressivos e de ansiedade. Essa comorbidade pode ser assim dividida (García-Campayo J,
Sanz Carrillo C, Pesrez-Echeverría MJ, Campos R, Lobo A. Trastorno por somatización en atención
primaria: aspectos clínicos diferenciales. Med Clin – Barc - 1995; 105: 728-733.)
Diagnóstico associado %
Distimia 40.0
Agorafobia 17.1
Outros 14.2
Não obstante, apesar da assiduidade desses pacientes no sistema de saúde, eles estão continuadamente
descontentes com o tratamento que recebem. A dificuldade do médico em lidar com esse transtorno
emocional faz com que o paciente esteja constantemente trocando de serviço de saúde.
Quem trabalha em saúde está familiarizado com aquele tipo de paciente que apresenta queixas múltiplas,
imprecisas, confusas e difusas. Normalmente começam dizendo “... não sei nem por onde começar
doutor.” Essas pessoas costumam se sentir inconformadas com resultados negativos dos muitos exames
que se submetem.
Existem numerosos sintomas físicos e variados, contínuos e queixados no dia-a-dia que caracterizam mais
a maneira desse paciente ser do que uma maneira nervosa dele estar. Assim sendo, os somatoformes são
pacientes poliqueixosos, com sintomas sugestivos de muitos problemas de saúde, mas que não se
confirmam pelos exames médicos habituais.
Os sintomas da somatização podem aparecer como quadros dolorosos incaracterísticos, queixas cardíacas
e circulatórias que não se confirmam por exames especializados, distúrbios digestivos e respiratórios,
enfim, por queixas que refletem alterações em qualquer sistema funcional, mas raramente se confirmam
5 - náuseas 16 - dismenorréia
A manifestação emocional somatizada não respeita a posição sócio-cultural do paciente, como podem
suspeitar alguns, não guarda também relação com o nível intelectual, pois, como se sabe, a emoção é
senhora e não serva da razão. O único fator capaz de atenuar as queixas é a capacidade da pessoa
expressar melhor seus sentimentos verbalmente. Quanto maior a capacidade do indivíduo referir seu mal-
estar emocional através de discurso sobre o que sente, como por exemplo, relatando sua angústia, sua
Entre os próprios médicos ainda é muito forte a idéia de que o paciente somatizador tenta enganá-los ou
procede de má-fé. Às vezes e intimamente, o médico se aborrece porque as queixas somatiformes não
obedecerem o que ele aprendeu nos livros tradicionais de medicina e, tão diferentes assim eles passam a
representar um desafio a seus conhecimentos científicos e fisiopatológicos.
A. Um ou mais sintomas ou déficits afetando a função motora ou sensorial voluntária, que sugerem
uma condição neurológica ou outra condição médica geral.
B. Fatores psicológicos são julgados como associados com o sintoma ou déficit, uma vez que o início
ou a exacerbação do sintoma ou déficit é precedido por conflitos ou outros estressores.
D. O sintoma ou déficit não pode, após investigação apropriada, ser completamente explicado por uma
condição médica geral, pelos efeitos diretos de uma substância ou por um comportamento ou
experiência culturalmente sancionados.
F. O sintoma ou déficit não se limita a dor ou disfunção sexual, não ocorre exclusivamente durante o
curso de um Transtorno de Somatização, nem é mais bem explicado por outro transtorno mental.
A teatralidade dos histéricos é sempre marcante, ensaiando e interpretando papéis que acreditam
adequados a eles. Por mais que lhe sejam dispensados carinhos a atenções, estes nunca são suficientes e
insistentemente estão a reclamar que ninguém os entende. Ele não simula seus sintomas, não está
enganando e não é caso de falcatrua. De fato o conversivo está sofrendo e percebendo subjetivamente
seus sintomas.
Neste tipo de transtorno, sempre que o sintoma servir para o alívio de alguma emoção (medo, ansiedade,
angústia, desespero, frustração, etc.), haverá um mecanismo chamado de Lucro Emocional Primário. Diz-
se “primário” porque é dirigido ao benefício emocional da própria pessoa. Uma adolescente conversiva,
por exemplo, diante de uma situação vivencial potencialmente ansiosa, como pode ser o caso de uma
briga entre seus pais, recorre a uma síncope conversiva (desmaio). Com esse desmaio, certamente ela
estará se afastando da situação traumática e se protegendo da ansiedade provocada pela briga dos pais.
Também um soldado com Transtorno Conversivo, diante da ansiedade produzida pelo conflito entre o
medo do combate e a vergonha da fuga, poderá apresentar uma paralisia ou qualquer outra limitação
neuromuscular; se fosse um deficiente físico, não teria de experimentar a ansiedade de saber-se um
covarde já que, infelizmente, a natureza impediu sua participação no combate através de uma doença
limitante de sua mobilidade. Nessa circunstância pode aparecer-lhe uma paralisia, por exemplo.
Num outro mecanismo psicodinâmico a pessoa conversiva obtém um Lucro Emocional Secundário, ou
seja, um benefício junto aos espectadores. Ela conquista um suporte de aprovação, complacência ou
compaixão do ambiente para com sua falha funcional ou para a evitação constrangedora da atividade que
lhe é nociva. A mesma adolescente do exemplo acima, que manifestou uma síncope ao presenciar a briga
de seus pais, despertará sentimentos de remorso nas pessoas responsáveis pela sua crise, juntamente com
uma compaixão pelo seu estado deplorável e, inevitavelmente, receberá uma boa dose de carinho em
seguida.
Para o diagnóstico de Transtorno Doloroso a dor deve causar sofrimento significativo e algum prejuízo
sócio-ocupacional, sendo suficientemente severa para indicar uma atenção médica. A dor pode perturbar
severamente vários aspectos da vida diária, como por exemplo, no emprego ou na escola, assim como
causar problemas de relacionamento, tais como desajuste conjugal e mudanças no estilo de vida
(desemprego, isolamento social, problemas financeiros, etc.).
Os fatores psicológicos devem exercer um papel importante para esse diagnóstico, seja na gravidade, na
exacerbação ou na manutenção da dor. Nunca é demais ressaltar que a dor não é voluntariamente
produzida ou simulada, como culturalmente se acredita, e esse aspecto involuntário é que diferencia o
Transtorno Doloroso da simulação.
O longo itinerário médico das pessoas com Transtorno Doloroso deve-se à convicção que eles têm sobre
a existência, em algum local, de um médico que tenha a "cura" para sua dor. Eles podem gastar tempo e
dinheiro na busca de um árduo objetivo.
Muitíssimo semelhante é o Transtorno Hipocondríaco. Aqui existe uma preocupação, medo ou crença
persistente de estar com algum transtorno somático grave e progressivo. De modo geral a atenção do
paciente se concentra em um ou dois órgãos ou sistemas. Pode acontecer também dos pacientes
manifestarem queixas somáticas persistentes ou preocupação duradoura com a aparência física. Sensações
e sinais físicos normais ou triviais são freqüentemente interpretados pelo sujeito como anormais ou
perturbadores.
De um modo geral, tanto o Transtorno Doloroso quanto o Hipocondríaco, parecem estar associados com
outros transtornos emocionais, especialmente a Transtornos Depressivos e de Ansiedade. Pacientes cuja
dor está associada à severa Depressão e aqueles cuja dor se relaciona a uma doença terminal, mais
notadamente câncer, parecem estar em risco aumentado de suicídio.
Na prática, em pesquisa realizada no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (1995), houve
prevalência de 73% de transtornos de ansiedade e 37% de transtornos depressivos em 51 pacientes
portadores de queixas difusas. Esses dados contribuem para estruturar a idéia de que a somatização
também possa ser uma forma de expressão dos transtornos afetivos ou de ansiedade. As sólidas
constatações da associação somatização-depressão têm levado alguns autores a acreditar que os quadros
somáticos possam ser uma forma da Depressão se apresentar em algumas pessoas.
No sistema cardiovascular, por exemplo, pode haver aceleração da freqüência sem nenhuma
correspondência clínica. Para ilustrar melhor as diferenças de classificação podemos dizer que, se fosse
BIBLIOGRAFIA: