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Primeiro aspecto que a gente já conversou é que no nosso direito societário ele é tanto por
forma como por organização legislativa, quanto acompanhada pela doutrina e a doutrina
dominante ele é estudado levando em consideração alguns critérios, algumas classificações
nos quais as sociedades se submetem.
A primeira classificação que a gente já abordou, mas é bom lembrar, as sociedades são
classificadas levando em conta o seu objeto, a sua atividade econômica.
Empresária
Simples
Embora a gente já tenha visto isso é bom lembrar que a sociedade empresária é aquela que
exerce atividade econômica que envolva a produção de bens, a circulação de bens ou a
prestação de serviços.
Sociedade simples, a maioria da doutrina e o teu examinador, entendem que será considerada
sociedade simples a sociedade que exerça atividade econômica PREDOMINANTEMENTE
intelectual ou atividade econômica considerada rural.
Essas duas sociedades, por força da atividade não empresária, não empresarial, essas são
consideradas sociedades simples por força do seu objeto não ser empresarial.
Sociedade por ações, sociedade anônima, comandita por ações, ainda que a atividade
econômica seja intelectual, ainda que a atividade econômica seja identificada como
rural, sociedade por ações SEMPRE sociedade empresária. Logo, o seu registro deve
ser feito na Junta Comercial.
Cooperativa se submete aos termos da sociedade simples. Chegamos a ver no nosso
último encontro: onde deve ser feito o registro da cooperativa, do contrato social
das cooperativas? Embora ela se submeta ao regime próprio da sociedade simples,
embora aparentemente nos termos da lei ela devesse ter o seu contrato social
registrado no Registro Civil das Pessoas Jurídicas, a Lei especial, Lei 8934/94, art. 32,
II, “a” determina que os contratos das cooperativas deve ser registrado na Junta
Comercial.
II - O arquivamento:
Em que pese a importante crítica feita pelo Tavares Borba que continua entendendo que o
contrato social das cooperativas deve ser levado a registro no RCPJ.
Nesse sentido é que se diz que as sociedades elas podem ser identificadas como sociedades:
Personificadas
Despersonificadas ou não personificadas.
Quanto às sociedades Personificadas:
Em que pese, ela possa existir antes do registro. Na medida em que os sócios se reúnem e
celebram um contrato (contrato de sociedade) previsto no art. 981, CC/2002,
esse contrato ele é o único contrato capaz de gerar uma nova pessoa. Pessoa jurídica
identificada no art. 44, II, CC/2002.
II - as sociedades
Essa nova pessoa, pessoa jurídica, sociedade, ela passa a ter e tem um patrimônio distinto do
patrimônio dos seus sócios.
Ela existe, ela até pode como sociedade exercer atividade econômica, mas ela não é, ainda,
diz a maioria da doutrina, personificada. Ela não adquire, ela não dispõe, ainda, de
personalidade jurídica.
Em algumas circunstâncias a sociedade para ter o seu contrato registrado ela precisa de
AUTORIZAÇÃO seja do Poder Executivo, seja do Poder Legislativo.
Já adianto a vocês, por exemplo, a S.A de capital aberto vai precisar de autorização da CVM
que é órgão ligado ao Poder Executivo.
Outro exemplo: Sociedade de economia mista para ter o seu contrato registrado, ela precisa de
autorização do Poder Legislativo, inclusive, de lei específica apta à sua constituição.
O que a gente está abordando agora é a existência legal, é a existência jurídica, é o momento
em que a sociedade, para a maioria da doutrina, adquire personalidade jurídica.
Esse art. 45, CC/2002 deve ser combinado com o art. 985, CC/2002
Uma vez que o contrato social tenha sido levado a registro, regra, a sociedade adquire
personalidade.
A personificação da sociedade diretamente relacionada ao registro do contrato social.
Com essa definição, com essa linha de pensamento, a maioria da doutrina sustenta que a
aquisição de personalidade à sociedade acarreta alguns efeitos específicos para a sociedade.
I - cédula de identidade;
Observação. Entendimento do Professor Tavares Borba: tanto para o Fábio Ulhoa Coelho
como para o Tavares Borba a sociedade, para esses dois autores, ela adquire personalidade, é
um entendimento a parte, segunda corrente, outra linha de pensamento, no momento da
celebração do contrato, no momento da convenção. Para eles, a sociedade passa a ter
personalidade nesse momento. O registro, para esses dois autores, apenas atribui a
regularidade formal. E com a regularidade formal, acesso à proteção a determinados bens,
acesso a determinados direitos. Isso decorre da aquisição de regularidade formal.
Para esses dois autores, adquirir ou ter personalidade jurídica é outro fenômeno. Ter
personalidade jurídica é o fato da sociedade ter aptidão genérica para ser titular de direitos e
obrigações na esfera jurídica.
Essa aptidão para ser titular de direitos e obrigações na esfera jurídica, que é a definição
tradicional de personalidade, a sociedade adquire no momento da celebração do contrato.
Ela passa a ter a possibilidade, por exemplo, na qualidade de sociedade, de ter os seus bens
pessoais atingidos, mesmo sem registro. Ela passa a ter a prerrogativa, por exemplo, de ter
acesso ao exercício de determinados direitos. Não todos! Não vai poder ter parcelamento
tributário. Não vai ter direito, em regra, mas, por exemplo, ainda que o contrato não tenha sido
registrado, essa sociedade, ainda que despersonificada, ainda que sem o contrato registrado,
por exemplo, pode estar em juízo. A sociedade tem direito ao acesso à justiça, direito de ação,
mesmo sem ter personalidade.
O CPC no seu art. 12 estabelece a prerrogativa de agir ativa e passivamente à sociedade, art.
12, VII, art. 12, §2º CPC estabelece a legitimação ativa ou passiva de uma sociedade sem
personalidade jurídica.
Ela dispõe de alguns direitos. Não de todos! Não dispõe, propriamente, dos direitos específicos
das sociedades, dos agentes econômicos regulares, não. Não vai ter direito à recuperação,
certamente não vai ter direito ao parcelamento tributário. Esses são específicos direitos de
quem é regular.
Para esses autores, ainda que o contrato social não esteja registrado, para eles, a sociedade
adquire, tem sim, personalidade jurídica e essa personalidade se dá no momento da
celebração do contrato.
Então, esse ponto de vista, ainda que minoritário, faz sucesso aqui no RJ e é a postura
adotada nas procuradorias.
Sociedade despersonificadas
Sociedade em comum
Sociedade em conta de participação
Sociedade em Comum
A sociedade em comum ela é despersonificada por força de lei, mas é despersonificada por
ausência do registro do contrato social. A disciplina da sociedade em comum se inicia no Art.
986, CC/2002.
Se se tratar de atividade intelectual ou rural, regra, o contrato não for levado a registro no
RCPJ a sociedade se submete às normas dessa capítulo.
Aqui, vocês deve fazer uma remissão às sociedades anônimas. Por quê?
A constituição de uma sociedade anônima, já deixem registrado, em uma S.A, que é exceção,
aqui, a constituição de uma S.A não vai se submeter aos termos dessa sociedade em comum.
A constituição de uma S.A ela obedece a determinadas etapas.
Primeira etapa: providências ou requisitos preliminares. Uma segunda etapa que diz respeito à
constituição propriamente dita e uma terceira etapa que a doutrina chama de providências
complementares.
Ela passa por, pelo menos, essas três etapas. Então, primeira etapa, em síntese, em que todos
os acionistas, pelo menos dois, subscrevem todo o capital social. Uma vez realizado isso, eles
têm que realizar uma assembléia de constituição e ai se faz a opção se a sociedade vai ser de
capital aberto ou fechado.
Se se tratar de S.A de capital aberto é preciso elaborar um projeto de estatuto, uma prospecto
e enviar à CVM para obter a autorização da CVM para negociar seus valores imobiliários em
bolsa de valores ou mercado de balcão. Uma vez obtida essa autorização da CVM é preciso
realizar outra assembléia para a transferência dos bens destinados à sociedade em cartório,
seja RGI, seja DETRAN, ou seja, os bens próprios dos sócios são transferidos à sociedade.
Passada toda essa etapa, art. 86, 87, 90, ai sim é que o administrador, eleito em uma dessas
assembléias, é que tem que pegar o estatuto, já não mais o projeto, elaborado e assinado
pelos acionistas e levar a Junta Comercial.
Na S.A essa fase anterior ao registro é disciplinada por lei especial. Então, essa fase na S.A
anterior ao registro é o que o CC está chamando de “exceto por ações em organização”. São
as etapas anteriores de constituição de uma S.A e, ai, ela vai ser regida lá pela Lei 6404/76 e
não diretamente pelo CC.
Se houver lá na Lei das S.A perda de prazo para a realização do registro ou submissão
equivocada da sociedade anônima, se ela começar a exercer atividade econômica fim sem
efetivar o registro, se houver algum descumprimento das normas especiais pertinentes às S.A
ela vai passar a ser regida pelos termos do CC.
Então, não confundam. Se o estatuto social da S.A ou qualquer contrato social não tiver sido
regularmente levado a registro a sociedade se submete aos termos do capítulo do CC. O que o
art. 986, insisto, ele estabelece que a constituição da S.A ele se submete a etapas, a ações em
organização e essas etapas são disciplinadas em lei especial.
Em regra, a sociedade que não tem o seu contrato social registrado ela se submete aos termos
da sociedade em comum.
Até bem pouco tempo atrás a doutrina e a jurisprudência faziam uma distinção entre as
sociedades de fato e a irregular. Hoje isso está praticamente superado. A idéia de sociedade de
fato e sociedade irregular foi quase que integralmente substituída pelos efeitos da sociedade
em comum.
A principal conseqüência é que uma vez constituída a sociedade os sócios passam a ter
responsabilidade solidária e ilimitada perante as obrigações constituídas pela sociedade.
A sociedade existe. Não teve o seu contrato social registrado. Vai haver controvérsia na
doutrina acerca de ter ou não personalidade jurídica. Para a maioria da doutrina ela não dispõe
de personalidade jurídica, pois não tem o seu contrato levado a registro. No entanto, ela é
pessoa jurídica. É dotada, identificada e dispõe de um patrimônio.
Quem exerce atividade econômica é a sociedade. Ela é que exerce atividade econômica.
Logo, prestem atenção! Isso é responsabilidade civil pura. Se é a sociedade que exerce a
conduta e que, com nexo causal, causa algum resultado danoso, seja em face dos tributos ou
da Fazenda Pública,seja em face dos funcionários, seja face do meio ambiente, seja em face
dos consumidores, seja qual for a relação jurídica que acarrete em crédito, quem exerce a
atividade econômica, quem exerce a conduta, se, com nexo causal, causa um resultado a
obrigação recai sobre o patrimônio da sociedade. A obrigação é dela. Ela assume a obrigação
em razão do exercício da sua atividade econômica.
Como é que ela vai ter patrimônio se ela não teve o contrato social registrado? Quem é
que vai fazer a sociedade atuar? Quem é que presenta a sociedade? Quem é que assina
um cheque em nome da sociedade? Quem é que contrata um funcionário em nome da
sociedade? quem é o sujeito que organiza a estrutura da sociedade?
Duas observações.
Uma a gente já viu, mas é bom destacar. Diz o art. 988 os “bens e dividas sociais”. Então, a
sociedade pode ter bens, a sociedade pode estar endividada. É deste dispositivo, aqui, ou com
base nesse artigo que o Tavares Borba extrai a conclusão de que a sociedade tem
personalidade. Se a sociedade pode ter bens, se a sociedade pode ter dívidas, então ela tem
personalidade, diz ele, porque se ter personalidade é ter aptidão genérica para ser titular de
direitos e obrigações, então, mesmo sem registro, a sociedade dispo de personalidade.
A idéia aqui é a seguinte. Se a sociedade não teve o seu contrato social registrado dificilmente
ela vai ter bens em seu próprio nome. O que mais acontece na prática e, efetivamente, em
razão da sua estrutura é que a sociedade vai exercer atividade econômica e precisa de um
automóvel para a entrega de uma mercadoria ou de uma frota de motocicletas. O automóvel
consta registrado no DETRAN, por exemplo, em nome de um dos sócios, mas o sócio usa
esse automóvel para o exercício da atividade econômica da sociedade. o outro sócio, por
exemplo, se vale de sua conta corrente e parte do dinheiro é utilizado para o exercício da
atividade econômica da sociedade. o outro sócio, por exemplo, dispõe de um imóvel, de um
estacionamento, que ele usa para o exercício da atividade econômica.
Esses bens sociais constituem patrimônio especial, no qual os sócios são titulares em comum.
Diz a maioria da doutrina que esses bens se identificam como patrimônio de afetação ou bens
de afetação.
Bens de afetação são determinados bens que são destinados a uma determinada tarefa/
atividade econômica entregues a um sujeito com específica capacidade de proporcionar renda,
valorização, do próprio bem afetado.
Essencialmente, a nossa legislação não admite essa identificação em todo e qualquer bem.
Precisa de norma específica, caracterizando como patrimônio de afetação.
Aqui no Brasil, essa idéia já colou na sociedade em comum de acordo com o art. 988 onde
esse patrimônio especial se identifica como patrimônio de afetação. São bens que integram
formalmente o patrimônio dos sócios, mas que estão sendo destinados, entregues, à atividade
econômica exercida pela sociedade.
Em relação aos bens, os sócios e a sociedade são titulares em comum.
A sociedade. se ela exerce a conduta ela assume a obrigação. Diz o art. 988
A execução vai ser proposta em face de quem? Quem a Fazenda Pública, por exemplo,
pode propor a execução em uma hipótese como essa? Pode cobrar em face da
sociedade? Pode cobrar de um dos sócios? Pode cobrar de todos?
Em uma execução. O credor pode promover a execução em face de um, alguns ou todos, já
que a responsabilidade é solidária. Todos respondem pela dívida total.
Qual é a regra?
Regra: todas às vezes em que vocês identificarem que o sócio dispõe de responsabilidade
solidária, a responsabilidade solidária em direito societário ela admite benefício de ordem. É
uma responsabilidade solidária-subsidiária.
Sócio com responsabilidade subsidiária. Para o processo civil esse fenômeno é o de benefício
de ordem.
Vamos ao art. 1024, CC/2002, que é o padrão, que é a regra. Diz ele:
Art. 596. Os bens particulares dos sócios não respondem pelas dívidas da
sociedade senão nos casos previstos em lei; o sócio, demandado pelo
pagamento da dívida, tem direito a exigir que sejam primeiro excutidos os bens
da sociedade.
O sócio executado ele tem o benefício de que ele seja, por exemplo, o segundo da fila, o último
da fila, mas que primeiro, que é a sociedade, tenha os seus bens executados em primeiro
lugar.
E, por que isso? Por que a sociedade deve responder, quase sempre, em primeiro lugar?
Exemplo: Vamos imaginar que em uma sociedade os sócios não registraram o contrato, mas
celebraram um contrato entre eles (contrato existe, sociedade também) só que, por exemplo,
um sócio capta dinheiro, abre financiamento com um banco no valor de R$ 500.000,00. O outro
sócio, essencialmente, contrata empregados e atribui a eles tarefas pertinentes ao horário de
chegada, metas, uniforme, se vincula aos empregados. O outro sócio, essencialmente, se
vincula a mandar email aos fornecedores.
Cada sócio assumiu em nome, ou fazendo as vezes de sociedade, agindo como administrador,
uma dessas relações jurídicas. Como o contrato social não foi registrado, é obvio que quem
está se vinculando é a sociedade porque cada sócio está agindo como administrador. Então, o
vínculo se dá com a sociedade, na medida de que quem exerce atividade econômica é a
sociedade. então, quem está se vinculando é a sociedade com o Banco, embora o dinheiro
tenha sido depositado na conta pessoal do sócio. Nesse caso, por exemplo, o Banco, no
exercício da sua pretensão de cobrança pode promover a cobrança, promover a execução em
face de quem?
De todos. Todos são responsáveis solidários, conforme diz o art. 990 CC/2002.
Por exemplo, se o Banco propuser ação de cobrança em face de um dos sócios, não
diretamente daquele que tomou o dinheiro emprestado, esse outro sócio, se executado, ele tem
direito de fazer com que a execução, primeiro, recaia sobre os bens da sociedade.
A parte final do art. 990 está dizendo que aquele que contratou pela sociedade, ai, não tem
jeito, ou seja, se o Banco propuser ação de cobrança em face desse sócio, a relação jurídica foi
estabelecida com a sociedade por intermédio daquele sócio, do sócio contratante. Esse sócio
contratante é o único que não tem direito ao benefício de ordem.
Se a ação for proposta em face dele, ele propriamente vai ter que pagar a dívida inteira, ainda
que a sociedade tenha bens, ainda que haja outros bens disponíveis aptos à satisfação da
pretensão.
Essa é a única hipótese em que um sócio não tem direito a beneficio de ordem.
Temos que combinar o Art. 988 CC/2002 c/c art. 990, CC/2002.
Então, os bens que a sociedade está utilizando para o exercício de sua atividade econômica,
ele formalmente está constituído em nome do sócio, mas estes bens estão sendo utilizados no
exercício da atividade econômica, então a sociedade também é dona dele. Todos esses bens
são afetados à atividade econômica. Formalmente constam em nome dos sócios, mas os bens
estão sendo utilizados para o exercício da atividade econômica
E por que isso?
Porque o contrato não foi registrado. O contrato não sendo registrado, esses bens afetados
são suscetíveis de satisfação dos credores da sociedade. Não é o sócio que está exercendo
atividade econômica, mas sim a sociedade. É o que alguns autores chamam de abstração,
ficção. No Brasil, a pessoa jurídica, inclusive, é uma realidade técnica. Quem está exercendo a
atividade econômica é a sociedade. Daí essa peculiaridade dos bens constam formalmente no
nome do sócio, mas afetados à atividade econômica da sociedade. Daí serem suscetíveis à
satisfação do crédito de credores. É a peculiaridade da combinação do art. 988 e do art. 990.
Aliás, alguns autores, de uma corrente minoritária, acerca desse artigo 988, até complementem
ai, é que o entendimento dominante é que esse patrimônio especial identifica-se como
patrimônio de afetação.
Mas uma corrente minoritária chega a dizer que esses bens são identificados como
condomínio, ou seja, há um condomínio entre sociedade e sócios acerca desses bens. Chega
ao ponto de atribuir a co-propriedade direta de todos. E, ai, um sócio passa a ser dono ou
condômino do imóvel que está registrado no RGI do outro sócio.
Pergunta: essa idéia do benefício de ordem pode ser afastada quando há a possibilidade
de afetar a continuidade da empresa. E se essa execução recair sobre o patrimônio da
sociedade e fica ameaça a continuidade dessa sociedade, de forma que ela possa até
mesmo deixar de existir. Haveria possibilidade de executar primeiro os bens dos sócios?
Obs:A idéia de benefício de ordem diz respeito à possibilidade de o sócio fazer com que a
execução recaia primeiro sobre o patrimônio da sociedade.
Resposta: em princípio não justamente por esse raciocínio. Quem responde pela atividade é
quem exerce a atividade. Quem responde pelo dano causado é quem exerceu a conduta, no
caso a sociedade. Em regra, se a sociedade ao cumprir as suas obrigações coloca em risco a
própria permanência da atividade econômica por ela mesmo exercida isso é caso de falência,
isso é caso de paralisação da atividade econômica.
Quando isso ocorre, e isso é até comum na jurisprudência, a sociedade, essencialmente, vai
ser colocada a sua atividade econômica em risco, então, o sócio vai pagar tendo ele
responsabilidade solidária ou não, está fazendo ele, ai, é pagamento por sub-rogação e não,
propriamente, beneficio de ordem.
Beneficio de ordem ocorre quando a cobrança se dá em face do sócio, quando o sócio dispôs
de responsabilidade, não é em todo e qualquer hipótese que isso vai acontecer como, por
exemplo, na LTDA, na S.A isso também não acontece, salvo o sócio controlador, mas quando o
sócio dispõe de responsabilidade solidária a cobrança recai sobre ele em primeiro lugar e ele
indica bens da sociedade.
O CPC, a gente acabou não vendo aqui, abram o art. 596, CPC
Art. 596. Os bens particulares dos sócios não respondem pelas dívidas da
sociedade senão nos casos previstos em lei; o sócio, demandado pelo
pagamento da dívida, tem direito a exigir que sejam primeiro excutidos os bens
da sociedade.
É o sócio sendo cobrado e ele tendo direito à satisfação indicar bens em nome da sociedade.
Essencialmente, ele vai pagar. Ele vai pagar em sub-rogação e, ai, você não fala em benefício
de ordem. E é um direito que é disponível. Ele pode não exercer esse direito e pagar sem
querer discutir nada com o credor.
Pergunta: se o contratante for demandado em uma ação de cobrança ele vai poder
chamar ao processo os outros sócios?
Se o Banco propuser ação de cobrança, ou qualquer credor, em face de outro sócio, um não
contratante, esse sócio tem responsabilidade solidária, mas, aqui e em todas as outras
hipóteses, a responsabilidade dele é solidária-subsidiária. Ele vai ter direito a benefício de
ordem e indicar bens, se houver, em nome da sociedade.
Obs: a sociedade não tem bens. Esse sócio contratante está sendo demandado por uma dívida
contraída pelo outro sócio. Ele é devedor solidário. O devedor solidário é obrigado ao
pagamento da dívida toda. Tem que pagar sozinho. Mas ele vai poder se sub-rogar no direito
de crédito. O co-devedor solidário que paga a dívida por inteiro se sub-roga no direito de
crédito e pode cobrar as demais cotas-parte dos demais devedores.
Já sabendo dessa jurisprudência, colocou uma exceção no art. 990, parte final. Este
artigo estabelece a única exceção de sócio com responsabilidade solidária, mas sem
direito de benefício de ordem.
Obs: responsabilidade solidária do ponto de vista processual para o credor atribui a ele, como
conseqüência processual, a prerrogativa de escolha, mas isso do ponto de vista da relação
material. Do ponto de vista processual acaba acarretando em um litisconsórcio passivo
facultativo, mas essa faculdade é para o credor. O credor pode escolher em face de quem ele
vai propor a execução.
A sociedade não tem personalidade, seguindo a linha majoritária. O que é que eu vou
desconsiderar, aqui?
Na sociedade em comum, isso vai valer para outras hipóteses também, mas, aqui, na
sociedade em comum, não se fala em desconsideração, mas não é porque a sociedade não
tem personalidade não, não é por isso não. Aqui, e em outras hipóteses também, não se fala
em desconsideração porque os sócios respondem solidariamente, não precisa desconsiderar.
Desnecessário isso.
Aliás, já adianto a vocês, EM TODAS AS HIPÓTESES que se voce puder identificar que o
sócio dispoe de solidariedade solidária ou responsabilidade ilimitada, TODAS AS HIPÓTESES.
Se você puder identificar que um determinado sujeito, sócio ou administrador, dispoe de
responsabildiade solidária ou de responsabilidade ilimitada NÃO SE FALA EM
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA.
Quando estudarmos LTDA é que se estuda desconsideração, seja sociedade simples limitada,
sociedade empresária limitada e, obviamente, S.A, de capital aberto ou fechado. Lá sim
interessa estudar a desconsideração. Nas outras hipóteses não.
Aqui, não se fala em desconsideração. Não é, insisto, porque a sociedade não tem
personalidade. Aliás, já adianto também, a desconsideração da personalidade jurídica da
pessoa jurídica não desconsidera personalidade jurídica, aliás, ela considera a personalidade,
considera a separação pessoal e a separação patrimonial e, claro, parte-se da premissa que o
sócio esteja, em princípio, protegido.
Então, na sociedade em comum não há que se falar em desconsideração. Aliás, não há que se
falar em desconsideração da personalidade jurídica em todas as hipóteses que o sócio
dispuser de responsabilidade solidária ou ilimitada.
Segunda observação:
Sociedade em comum pode ter a falência decretada? Ela pode falir? Quem pode falir no
direito brasileiro?
Sistema restritivo caracteriza o fato de que só podem falir no direito brasileiro ou só pode ter
acesso às recuperações o Empresário individual e sociedade empresária.
Ela é empresária ou ela é simples? Como saber se uma sociedade é empresária ou simples?
Pela atividade. Ela vai poder falir, claro, se se tratar de uma atividade econômica empresarial.
O que define se uma sociedade é empresária ou simples não é o registro. O que define se uma
sociedade é empresária ou simples é a atividade econômica exercida. Se se tratar de uma
atividade econômica que envolva, por exemplo, produção de bens, circulação de bens ou
prestação de serviços, ela é uma sociedade empresária.
Então, se se tratar de uma atividade econômica empresarial ela pode falir? Claro que pode.
Para falir no direito brasileiro basta ser empresário ou sociedade empresária. Não precisa ser
regular. Para falir ou para ter a falência decretada basta a qualidade de sociedade empresária.
Basta caracterizar o exercício da atividade empresarial.
Peguem esse vocábulo “devedor” e remetam para o art. 190 da Lei 11.101/2005,
Na sociedade em comum, o contrato não sendo levado a registro – conseqüência do art. 190 –
os sócios dispõem de responsabilidade ilimitada.
Em caso de falência da sociedade em comum. Que ela pode falir não há muito o que se
discutir. Já vimos que sendo sociedade empresária, caracteriza a atividade empresarial,
perfeitamente possível a decretação da falência.
Uma ampla maioria da doutrina sustenta que esse art. 190 identifica-se como uma exceção ao
sistema restritivo. Qual é a regra? Quem é que pode falir no direito brasileiro? Empresário e
sociedade empresaria. Daí o sistema restritivo.
Sócio não é empresário, sócio não é sociedade empresária, mas se ele dispuser de
responsabilidade ilimitada, excepcionalmente, diz essa linha de pensamento, esse sócio é
considerado falido também. É uma exceção ao sistema restritivo.
Então, para uma primeira linha de pensamento, esse art. 190 ele se caracteriza como uma
exceção ao sistema restritivo. (adotada na Banca)
Para essa segunda corrente de entendimento os sócios com responsabilidade ilimitada apenas
podem se submeter a alguns efeitos da sentença de falência.
Os efeitos pertinentes à responsabilidade ilimitada. Então, eles podem ter os seus bens
pessoais arrecadados. A responsabilidade ilimitada ou solidária submete o patrimônio do
devedor, no caso aqui tanto sociedade quanto sócio, à satisfação dos credores. No caso da
falência, à satisfação dos credores habilitados ao processo.
A primeira corrente identifica o sujeito como falido. Para a segunda corrente ele pode ter os
efeitos da sentença, ter seus bens pessoais atingidos, aliás no art.190 c/c art. 81 da Lei
11.101/2005. O art. 81 vai determinar alguns dos efeitos da sentença falimentar, notadamente,
a parte pertinente à arrecadação de bens. Diz o art. 81:
Esse artigo 81 ele reforça a primeira corrente. Os sócios serão considerados falidos.
O que a segunda corrente faz é dizer: não, eles não podem ser considerados falidos em razão
do sistema. Eles combinam esses dois dispositivos, art. 190 e 81, com o art. 1º.
Qual é a diferença?
Se você considera esse sujeito falido, um dos efeitos da categoria falido, da submissão do
sujeito à categoria de falido, é que ele não pode mais exercer atividade empresarial.
Se você adotar a primeira corrente e entender que esse sócio com responsabilidade ilimitada
ele é sim identificado como falido, conseqüência disso é que a própria Lei de Falência no seu
art. 102 estabelece uma restrição ao exercício da atividade empresarial. O falido ele não vai
poder exercer atividade empresarial como empresário individual. Diz lá o art. 102:
Como conseqüência, se você o identifica como falido ele não pode exercer atividade
empresarial como empresário individual.
Maioria da doutrina afirma que não pode ser empresário individual nem poderá constituir uma
nova sociedade porque quem exerce a atividade é a sociedade e não o sócio desde que ele
não seja administrador desta nova sociedade.
Ele não pode ser empresário individual. Ele pode ser sócio em outra sociedade?
Ele não registro. A sociedade faliu. Para essa primeira corrente ele também é considerado
falido. Vai poder ter os seus bens pessoais arrecadados e os demais sócios também. Mas com
a qualidade de falido ele não pode ser empresário individual, mas ele vai poder constituir
uma nova sociedade?
Outra observação.
A maioria da doutrina, mesmo essa primeira corrente, afirma o seguinte: ele não pode ser é
empresário individual, mas poderá, sim, constituir uma nova sociedade. uma nova sociedade
ele pode. Por que é que uma nova sociedade seria possível?
Porque quem vai exercer a atividade econômica não é o sócio e sim a sociedade, desde que,
afirma essa linha de pensamento, ele não seja administrador.
Ser sócio em uma nova sociedade é possível. Administrador não. Por que não?
Porque o CC lá no seu Art. 1011, §1º estabelece essa restrição. Não pode ser administrador
quem seja proibido ou haja restrição para ser empresário individual.
Cuidado!
Acrescente ai uma feliz observação feita pelo Professor Gladston Mamede. Diz ele: nesse
caso, esse falido não pode ser empresário individual e nem ser sócio. Ele veda a possibilidade
desse falido constituir uma nova sociedade. De onde ele extrai essa conclusão?
Também do CC. Ele se utiliza no CC do Art. 1030, P.Ú, CC/2002. O art. 1030 está inserido no
capítulo do CC que trata da dissolução parcial, mais precisamente, trata da resolução da
sociedade em relação ao sócio. Dentre as várias hipóteses de resolução da sociedade em
relação ao sócio ou resolução parcial, diz lá o art. 1030.
Esse artigo 1030, P.Ú estabelece que o sujeito que é sócio, exercendo atividade econômica
dele, se ele for declarado falido ele tem que ser expulso da sociedade, excluído de pleno direito
da sociedade, como admitir que o falido ingresse em outra sociedade, constitua uma nova
sociedade.
O que o Gladston Mamede acrescenta é: a sociedade faliu. O sócio tem responsabilidade
ilimitada. Se você o considerar falido também, ele está proibido de ser empresário individual,
está proibido também de constituir uma nova sociedade tendo em vista o P.U do art. 1030. Se
o próprio legislador manda excluir um sócio falido da sociedade não seria admissível a
constituição de uma nova sociedade para um sujeito que já é falido. Não faz sentido, não há
lógica em admitir a constituição de uma nova sociedade para um sujeito que foi considerado
falido.
A recuperação judicial é identificada pela doutrina como um acordo judicial com forte carga
novativa. Acordo que se faz em juízo que tem por pretensão a obtenção de uma novação ou
com forte carga novativa.
Para se ter acesso à recuperação judicial devem ser preenchidos alguns requisitos, dentre
eles, o previsto no art. 48 Lei 11.101/2005
Então, o caput do art. 48 estabelece não só legitimação ativa para a ação de recuperação, tem
que ser empresário ou sociedade empresária, bem como uma condição especial dessa ação.
Agora ele está regularizado. Dois dias depois ingressa em juízo e pede a recuperação.
A jurisprudência tem admitido. A interpretação que vem sendo dada em relação a esse art. 48
é que se no momento do pedido ele estiver regular e se ele já exerça atividade econômica a
mais de dois anos, ele pode ter acesso à recuperação, claro, desde que preenchido os demais
requisitos.
Pela redação do art. 48 ele tem que ser regular e exercer a atividade a mais de dois anos.
Atividade regular a mais de dois anos.
O que a jurisprudência vem admitindo é que a atividade seja feita a mais de 2 anos e no
momento do pedido ele esteja regular, ainda que a atividade tenha sido feito irregularmente.
Mas uma coisa é certa. Se o contrato não estiver registrado ai não tem jeito. Sociedade em
comum não tem direito à recuperação judicial.