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Aula 04.

Primeiro aspecto que a gente já conversou é que no nosso direito societário ele é tanto por
forma como por organização legislativa, quanto acompanhada pela doutrina e a doutrina
dominante ele é estudado levando em consideração alguns critérios, algumas classificações
nos quais as sociedades se submetem.

A primeira classificação que a gente já abordou, mas é bom lembrar, as sociedades são
classificadas levando em conta o seu objeto, a sua atividade econômica.

Quanto ao seu objeto, é sempre bom lembrar, o Art. 982, CC/2002

Começa a classificação das sociedades levando em consideração a atividade econômica e


dividindo as sociedades em:

 Empresária
 Simples

Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária


a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de
empresário (art. 966, caput) sujeito a registro (art. 967); e, simples, as
demais.

Embora a gente já tenha visto isso é bom lembrar que a sociedade empresária é aquela que
exerce atividade econômica que envolva a produção de bens, a circulação de bens ou a
prestação de serviços.

Sociedade simples, a maioria da doutrina e o teu examinador, entendem que será considerada
sociedade simples a sociedade que exerça atividade econômica PREDOMINANTEMENTE
intelectual ou atividade econômica considerada rural.

Essas duas sociedades, por força da atividade não empresária, não empresarial, essas são
consideradas sociedades simples por força do seu objeto não ser empresarial.

Classificação quanto ao objeto

Sociedade empresarial / Sociedade simples.


Essa é uma primeira classificação que a gente mencionou no nosso último encontro, as
sociedades são classificadas também quanto à sua forma.

Quanto à forma, a disciplina legal está no art. 982, P.Ú.

Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se


empresária a sociedade por ações, SOCIEDADE ANONIMA,
SOCIEDADE EM COMANDITA POR AÇÕES; e, simples, a
cooperativa.

 Sociedade por ações, sociedade anônima, comandita por ações, ainda que a atividade
econômica seja intelectual, ainda que a atividade econômica seja identificada como
rural, sociedade por ações SEMPRE sociedade empresária. Logo, o seu registro deve
ser feito na Junta Comercial.
 Cooperativa se submete aos termos da sociedade simples. Chegamos a ver no nosso
último encontro: onde deve ser feito o registro da cooperativa, do contrato social
das cooperativas? Embora ela se submeta ao regime próprio da sociedade simples,
embora aparentemente nos termos da lei ela devesse ter o seu contrato social
registrado no Registro Civil das Pessoas Jurídicas, a Lei especial, Lei 8934/94, art. 32,
II, “a” determina que os contratos das cooperativas deve ser registrado na Junta
Comercial.

Art. 32. O registro compreende:

II - O arquivamento:

a) dos documentos relativos à constituição, alteração, dissolução


e extinção de firmas mercantis individuais, sociedades mercantis e
cooperativas;

Em que pese a importante crítica feita pelo Tavares Borba que continua entendendo que o
contrato social das cooperativas deve ser levado a registro no RCPJ.

Terceiro critério de classificação das sociedades.

As sociedades podem ser classificadas quanto à aquisição ou não de personalidade jurídica. É


o que a doutrina chama de classificação de sociedades quanto à sua PERSONIFICAÇÃO.

Nesse sentido é que se diz que as sociedades elas podem ser identificadas como sociedades:

 Personificadas
 Despersonificadas ou não personificadas.
Quanto às sociedades Personificadas:

A maioria da doutrina sustenta que as sociedades adquirem personalidade no momento do


registro do seu contrato social. Art. 985, CC/2002

Art. 985. A sociedade adquire personalidade jurídica com


a inscrição, no registro próprio e na forma da lei, dos seus atos
constitutivos (arts. 45 e 1.150).

Em que pese, ela possa existir antes do registro. Na medida em que os sócios se reúnem e
celebram um contrato (contrato de sociedade) previsto no art. 981, CC/2002,

Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que


reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços,
para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si,
dos resultados

esse contrato ele é o único contrato capaz de gerar uma nova pessoa. Pessoa jurídica
identificada no art. 44, II, CC/2002.

Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado:

II - as sociedades

Essa nova pessoa, pessoa jurídica, sociedade, ela passa a ter e tem um patrimônio distinto do
patrimônio dos seus sócios.

Ela existe, ela até pode como sociedade exercer atividade econômica, mas ela não é, ainda,
diz a maioria da doutrina, personificada. Ela não adquire, ela não dispõe, ainda, de
personalidade jurídica.

Reparem bem. Abram o art. 45, CC/2002.

Art. 45. Começa a existência legal das pessoas


jurídicas de direito privado com a inscrição do ato
constitutivo no respectivo registro/, precedida, quando
necessário, de autorização ou aprovação do Poder
Executivo, averbando-se no registro todas as
alterações por que passar o ato constitutivo
Mais para frente, nós vamos abordar essa segunda parte desse artigo 45. Como assim?

Em algumas circunstâncias a sociedade para ter o seu contrato registrado ela precisa de
AUTORIZAÇÃO seja do Poder Executivo, seja do Poder Legislativo.

Já adianto a vocês, por exemplo, a S.A de capital aberto vai precisar de autorização da CVM
que é órgão ligado ao Poder Executivo.

Outro exemplo: Sociedade de economia mista para ter o seu contrato registrado, ela precisa de
autorização do Poder Legislativo, inclusive, de lei específica apta à sua constituição.

Isso são situações excepcionais. Em regra, a constituição de sociedade ela é franqueada à


iniciativa privada. Logo, a sociedade pode existir e ela existe a partir do contrato.

O que a gente está abordando agora é a existência legal, é a existência jurídica, é o momento
em que a sociedade, para a maioria da doutrina, adquire personalidade jurídica.

Esse art. 45, CC/2002 deve ser combinado com o art. 985, CC/2002

Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de


direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo
registro, precedida, quando necessário, de autorização ou
aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas
as alterações por que passar o ato constitutivo

Art. 985. A sociedade adquire personalidade jurídica com a


inscrição, no registro próprio e na forma da lei, dos seus atos
constitutivos (arts. 45 e 1.150).

Art. 1.150. O empresário e a sociedade empresária vinculam-


se ao Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das
Juntas Comerciais, e a sociedade simples ao Registro Civil das
Pessoas Jurídicas, o qual deverá obedecer às normas fixadas
para aquele registro, se a sociedade simples adotar um dos
tipos de sociedade empresária

Então, o que diz a maioria da doutrina?

Uma vez que o contrato social tenha sido levado a registro, regra, a sociedade adquire
personalidade.
A personificação da sociedade diretamente relacionada ao registro do contrato social.

Com essa definição, com essa linha de pensamento, a maioria da doutrina sustenta que a
aquisição de personalidade à sociedade acarreta alguns efeitos específicos para a sociedade.

Quais seriam esses efeitos específicos à sociedade?

1. A sociedade passaria a ter um patrimônio distinto do patrimônio dos seus sócios.


Patrimônio separado do patrimônio dos seus sócios.
2. A sociedade, uma vez personificada, registrada, passaria a ter regularidade formal e a
conseqüência dessa regularidade formal a sociedade passaria a ter acesso à proteção
de determinados bens e direito a acesso a determinados benefícios (direitos
específicos). Direito, por exemplo, a parcelamento das obrigações e débitos tributários,
direito a acesso a recuperação judicial. O Art. 48, Lei 11.101/2005 estabelece essa
prerrogativa, esse requisito. Para se ter acesso à recuperação judicial vai dizer o art.
48:

Art. 48. Poderá requerer recuperação judicial o devedor


(EMPRESÁRIO OU SOCIEDADE EMPRESÁRIA) que,
no momento do pedido, exerça regularmente suas
atividades há mais de 2 (dois) anos e que atenda aos
seguintes requisitos, cumulativamente:

Então, diz a maioria da doutrina, é um direito que só tem a sociedade regular ou o


empresário individual regular.
Já vimos que a jurisprudência está mitigando esse aspecto pertinente ao acesso à
recuperação porque se o sujeito estiver registrado no momento do registro e ainda que
ele já tenha exercido atividade econômica a mais de 2 anos, ainda que tenha sido
irregular, a jurisprudência tem concedido a recuperação se preenchido os demais
requisitos.

3. A sociedade registrada como regular dispõe do direito de participar de licitações (art.


28, Lei 8666/93)

Art. 28. A documentação relativa à habilitação jurídica, conforme


o caso, consistirá em:

I - cédula de identidade;

II - registro comercial, no caso de empresa individual;


III - ato constitutivo, estatuto ou contrato social em vigor,
devidamente registrado, em se tratando de sociedades comerciais, e,
no caso de sociedades por ações, acompanhado de documentos de
eleição de seus administradores;

IV - inscrição do ato constitutivo, no caso de sociedades civis,


acompanhada de prova de diretoria em exercício;

V - decreto de autorização, em se tratando de empresa ou


sociedade estrangeira em funcionamento no País, e ato de registro ou
autorização para funcionamento expedido pelo órgão competente,
quando a atividade assim o exigir.

Observação. Entendimento do Professor Tavares Borba: tanto para o Fábio Ulhoa Coelho
como para o Tavares Borba a sociedade, para esses dois autores, ela adquire personalidade, é
um entendimento a parte, segunda corrente, outra linha de pensamento, no momento da
celebração do contrato, no momento da convenção. Para eles, a sociedade passa a ter
personalidade nesse momento. O registro, para esses dois autores, apenas atribui a
regularidade formal. E com a regularidade formal, acesso à proteção a determinados bens,
acesso a determinados direitos. Isso decorre da aquisição de regularidade formal.

Para esses dois autores, adquirir ou ter personalidade jurídica é outro fenômeno. Ter
personalidade jurídica é o fato da sociedade ter aptidão genérica para ser titular de direitos e
obrigações na esfera jurídica.

Essa aptidão para ser titular de direitos e obrigações na esfera jurídica, que é a definição
tradicional de personalidade, a sociedade adquire no momento da celebração do contrato.

Ela passa a ter a possibilidade, por exemplo, na qualidade de sociedade, de ter os seus bens
pessoais atingidos, mesmo sem registro. Ela passa a ter a prerrogativa, por exemplo, de ter
acesso ao exercício de determinados direitos. Não todos! Não vai poder ter parcelamento
tributário. Não vai ter direito, em regra, mas, por exemplo, ainda que o contrato não tenha sido
registrado, essa sociedade, ainda que despersonificada, ainda que sem o contrato registrado,
por exemplo, pode estar em juízo. A sociedade tem direito ao acesso à justiça, direito de ação,
mesmo sem ter personalidade.

O CPC no seu art. 12 estabelece a prerrogativa de agir ativa e passivamente à sociedade, art.
12, VII, art. 12, §2º CPC estabelece a legitimação ativa ou passiva de uma sociedade sem
personalidade jurídica.

Art. 12. Serão representados em juízo, ativa e passivamente:

VII - as sociedades sem personalidade jurídica, pela pessoa a


quem couber a administração dos seus bens;
§ 2o - As sociedades sem personalidade jurídica, quando
demandadas, não poderão opor a irregularidade de sua constituição.

Ela dispõe de alguns direitos. Não de todos! Não dispõe, propriamente, dos direitos específicos
das sociedades, dos agentes econômicos regulares, não. Não vai ter direito à recuperação,
certamente não vai ter direito ao parcelamento tributário. Esses são específicos direitos de
quem é regular.

Para esses autores, ainda que o contrato social não esteja registrado, para eles, a sociedade
adquire, tem sim, personalidade jurídica e essa personalidade se dá no momento da
celebração do contrato.

 Personalidade jurídica é adquirida no momento da celebração do contrato  Corrente


para procuradoria. (posição minoritária)

Então, esse ponto de vista, ainda que minoritário, faz sucesso aqui no RJ e é a postura
adotada nas procuradorias.

Ora, se a sociedade, vamos continuar levando em consideração o que pensa a maioria da


doutrina, ela adquire personalidade no momento em que registra o seu contrato,
conseqüentemente, se o contrato não estiver registrado a sociedade é identificada como
sociedade despersonificada, com a exceção do Fabio Ulhoa Coelho e Tavares Borba.

Quais são, para a maioria da doutrina e para o nosso legislador, as sociedades


despersonificadas?

Sociedade despersonificadas

 Sociedade em comum
 Sociedade em conta de participação

Primeiro vamos a abordagem das sociedades em comum.

Sociedade em Comum
A sociedade em comum ela é despersonificada por força de lei, mas é despersonificada por
ausência do registro do contrato social. A disciplina da sociedade em comum se inicia no Art.
986, CC/2002.

Art. 986. Enquanto não inscritos os atos


constitutivos, reger-se-á a sociedade, exceto por ações em
organização, pelo disposto neste Capítulo/, observadas,
subsidiariamente e no que com ele forem compatíveis, as
normas da sociedade simples.

Primeira observação: de que sociedade se trata? Simples ou empresária?

Tanto faz.independentemente da atividade econômica, se a atividade econômica for


empresária, mas o contrato não for levado a registro, regra, a sociedade se submete aos
termos desse Capitulo.

Se se tratar de atividade intelectual ou rural, regra, o contrato não for levado a registro no
RCPJ a sociedade se submete às normas dessa capítulo.

Então, esse capítulo da sociedade em comum, ele disciplina as sociedades, as conseqüências


das sociedades que não tiveram o seu contrato social regularmente registrado.

A redação do dispositivo continua

Art. 986. Enquanto não inscritos os atos constitutivos,


reger-se-á a sociedade, exceto por ações em organização,
pelo disposto neste Capítulo, observadas, subsidiariamente e
no que com ele forem compatíveis, as normas da sociedade
simples.

Aqui, vocês deve fazer uma remissão às sociedades anônimas. Por quê?

A constituição de uma sociedade anônima, já deixem registrado, em uma S.A, que é exceção,
aqui, a constituição de uma S.A não vai se submeter aos termos dessa sociedade em comum.
A constituição de uma S.A ela obedece a determinadas etapas.

Primeira etapa: providências ou requisitos preliminares. Uma segunda etapa que diz respeito à
constituição propriamente dita e uma terceira etapa que a doutrina chama de providências
complementares.

Tudo está disciplinado pela Lei 6404/76, no seu art. 80 e seguintes.


Como é que se constitui uma sociedade anônima?

Ela passa por, pelo menos, essas três etapas. Então, primeira etapa, em síntese, em que todos
os acionistas, pelo menos dois, subscrevem todo o capital social. Uma vez realizado isso, eles
têm que realizar uma assembléia de constituição e ai se faz a opção se a sociedade vai ser de
capital aberto ou fechado.

Se se tratar de S.A de capital aberto é preciso elaborar um projeto de estatuto, uma prospecto
e enviar à CVM para obter a autorização da CVM para negociar seus valores imobiliários em
bolsa de valores ou mercado de balcão. Uma vez obtida essa autorização da CVM é preciso
realizar outra assembléia para a transferência dos bens destinados à sociedade em cartório,
seja RGI, seja DETRAN, ou seja, os bens próprios dos sócios são transferidos à sociedade.
Passada toda essa etapa, art. 86, 87, 90, ai sim é que o administrador, eleito em uma dessas
assembléias, é que tem que pegar o estatuto, já não mais o projeto, elaborado e assinado
pelos acionistas e levar a Junta Comercial.

Na S.A essa fase anterior ao registro é disciplinada por lei especial. Então, essa fase na S.A
anterior ao registro é o que o CC está chamando de “exceto por ações em organização”. São
as etapas anteriores de constituição de uma S.A e, ai, ela vai ser regida lá pela Lei 6404/76 e
não diretamente pelo CC.

A S.A é uma situação excepcional.

Se houver lá na Lei das S.A perda de prazo para a realização do registro ou submissão
equivocada da sociedade anônima, se ela começar a exercer atividade econômica fim sem
efetivar o registro, se houver algum descumprimento das normas especiais pertinentes às S.A
ela vai passar a ser regida pelos termos do CC.

Então, não confundam. Se o estatuto social da S.A ou qualquer contrato social não tiver sido
regularmente levado a registro a sociedade se submete aos termos do capítulo do CC. O que o
art. 986, insisto, ele estabelece que a constituição da S.A ele se submete a etapas, a ações em
organização e essas etapas são disciplinadas em lei especial.

Agora, se houver descumprimento, perda de prazo, irregularidade na constituição de uma S.A e


ela começar a exercer ATIVIDADE ECONOMICA FIM, começar a vender produto, prestar
serviços, sem o devido arquivamento do seu estatuto social, ai não tem jeito ela também vai se
submeter aos termos do CC.

Em regra, a sociedade que não tem o seu contrato social registrado ela se submete aos termos
da sociedade em comum.

Até bem pouco tempo atrás a doutrina e a jurisprudência faziam uma distinção entre as
sociedades de fato e a irregular. Hoje isso está praticamente superado. A idéia de sociedade de
fato e sociedade irregular foi quase que integralmente substituída pelos efeitos da sociedade
em comum.

Neste aspecto, qual a principal conseqüência da ausência do registro do contrato


social?

A principal conseqüência é que uma vez constituída a sociedade os sócios passam a ter
responsabilidade solidária e ilimitada perante as obrigações constituídas pela sociedade.

Algumas observações e isso vai ser uma constante em todas as sociedades.

A sociedade existe. Não teve o seu contrato social registrado. Vai haver controvérsia na
doutrina acerca de ter ou não personalidade jurídica. Para a maioria da doutrina ela não dispõe
de personalidade jurídica, pois não tem o seu contrato levado a registro. No entanto, ela é
pessoa jurídica. É dotada, identificada e dispõe de um patrimônio.

Quem é que vai exercer a atividade econômica? Sócio ou sociedade?

Quem exerce atividade econômica é a sociedade. Ela é que exerce atividade econômica.

Logo, prestem atenção! Isso é responsabilidade civil pura. Se é a sociedade que exerce a
conduta e que, com nexo causal, causa algum resultado danoso, seja em face dos tributos ou
da Fazenda Pública,seja em face dos funcionários, seja face do meio ambiente, seja em face
dos consumidores, seja qual for a relação jurídica que acarrete em crédito, quem exerce a
atividade econômica, quem exerce a conduta, se, com nexo causal, causa um resultado a
obrigação recai sobre o patrimônio da sociedade. A obrigação é dela. Ela assume a obrigação
em razão do exercício da sua atividade econômica.

Como é que ela vai ter patrimônio se ela não teve o contrato social registrado? Quem é
que vai fazer a sociedade atuar? Quem é que presenta a sociedade? Quem é que assina
um cheque em nome da sociedade? Quem é que contrata um funcionário em nome da
sociedade? quem é o sujeito que organiza a estrutura da sociedade?

São as pessoas encarregadas de fazer a sociedade presente. São os administradores.


Qualquer sociedade serão presentadas, tornadas presentes, pela figura do administrador.

O administrador, em qualquer sociedade, é identificado como presentante da sociedade. Não


são simplesmente representantes.
A peculiaridade aqui é a seguinte: como a sociedade não teve o seu contrato social registrado,
qualquer dos sócios poderá fazer as vezes de administrador. O contrato não está registrado.
Então, por exemplo, um dos sócios pode ficar encarregado da contratação dos funcionários.
Ele está agindo como administrador nessa relação jurídica de contratação dos empregados. O
outro sócio pode ficar encarregado de tomada de recursos emprestados do Banco. Ele toma
dinheiro emprestado do Banco em nome próprio. O outro sócio, por exemplo, fica encarregado
de ficar no balcão, organizando os funcionários. Cada um dos sócios com atribuições
específicas destinadas à organização administrativa da sociedade. A sociedade é constituída e
separada em relação aos sócios, mas a atividade econômica é exercida por todos. Reparem.
Quem exerce a atividade especificamente é a pessoa jurídica. Cada um dos sócios pode atuar
como presentante da pessoa jurídica, na qualidade de administrador, mas a atividade
econômica e as relações são assumidas pela sociedade, por intermédio do seu administrador
que, aqui, pode ser qualquer um dos sócios.

Com essa idéia na cabeça, abram o art. Art. 988, CC/2002

Art. 988. Os bens e dívidas sociais constituem


patrimônio especial, do qual os sócios são titulares em
comum.

Duas observações.

Uma a gente já viu, mas é bom destacar. Diz o art. 988 os “bens e dividas sociais”. Então, a
sociedade pode ter bens, a sociedade pode estar endividada. É deste dispositivo, aqui, ou com
base nesse artigo que o Tavares Borba extrai a conclusão de que a sociedade tem
personalidade. Se a sociedade pode ter bens, se a sociedade pode ter dívidas, então ela tem
personalidade, diz ele, porque se ter personalidade é ter aptidão genérica para ser titular de
direitos e obrigações, então, mesmo sem registro, a sociedade dispo de personalidade.

E segue o artigo 988 onde se diz “patrimônio especial”.

A questão controvertida é qual a natureza desse patrimônio? O que significa esse


patrimônio especial?

A idéia aqui é a seguinte. Se a sociedade não teve o seu contrato social registrado dificilmente
ela vai ter bens em seu próprio nome. O que mais acontece na prática e, efetivamente, em
razão da sua estrutura é que a sociedade vai exercer atividade econômica e precisa de um
automóvel para a entrega de uma mercadoria ou de uma frota de motocicletas. O automóvel
consta registrado no DETRAN, por exemplo, em nome de um dos sócios, mas o sócio usa
esse automóvel para o exercício da atividade econômica da sociedade. o outro sócio, por
exemplo, se vale de sua conta corrente e parte do dinheiro é utilizado para o exercício da
atividade econômica da sociedade. o outro sócio, por exemplo, dispõe de um imóvel, de um
estacionamento, que ele usa para o exercício da atividade econômica.

Os bens, normalmente, constam formalmente atribuídos aos sócios e utilizados na atividade


econômica pela sociedade.

Esses bens constituem bens caracterizados como estabelecimento da sociedade.

Idéia de estabelecimento- conjunto de bens, complexo de bens que a sociedade, sociedade


empresária ou empresário individual, usam como instrumento da atividade econômica.

O que está dizendo esse artigo 988?

Esses bens sociais constituem patrimônio especial, no qual os sócios são titulares em comum.

O que diz a maioria da doutrina? Qual é a natureza jurídica desses bens?

Diz a maioria da doutrina que esses bens se identificam como patrimônio de afetação ou bens
de afetação.

O que é um patrimônio de afetação?

Bens de afetação são determinados bens que são destinados a uma determinada tarefa/
atividade econômica entregues a um sujeito com específica capacidade de proporcionar renda,
valorização, do próprio bem afetado.

A idéia é. Confiando esse bem a determinada pessoa com capacidade específica de


proporcionar renda, valorização do próprio bem.

Essencialmente, a nossa legislação não admite essa identificação em todo e qualquer bem.
Precisa de norma específica, caracterizando como patrimônio de afetação.

Apenas a título de ilustração: o empresário individual, no Brasil, ele responde de forma


ilimitada, ele responde com todos os seus bens disponíveis. Tramita no Congresso uma
proposta, uma PL que transforma o empresário individual, os bens que ele usa na atividade
econômica como patrimônio de afetação, com uma tentativa de redução da sua
responsabilidade.

EIRELI  Já foi criada, atualizar isso.

Aqui no Brasil, essa idéia já colou na sociedade em comum de acordo com o art. 988 onde
esse patrimônio especial se identifica como patrimônio de afetação. São bens que integram
formalmente o patrimônio dos sócios, mas que estão sendo destinados, entregues, à atividade
econômica exercida pela sociedade.
Em relação aos bens, os sócios e a sociedade são titulares em comum.

Pergunta: em uma execução. Em uma cobrança, notadamente, da Fazenda Pública,


quem responde pelas obrigações assumidas pela sociedade? Quem exerce a conduta
aqui, sócio ou sociedade?

A sociedade. se ela exerce a conduta ela assume a obrigação. Diz o art. 988

Art. 988. Os bens e dívidas sociais constituem


patrimônio especial, do qual os sócios são titulares em
comum.

As dívidas pertencem à sociedade.

Mas e a execução, a cobrança. Ela pode ser feita em face de quem?

Aí, vamos ao Art. 990, CC/2002

Art. 990. Todos os sócios respondem solidária e


ilimitadamente pelas OBRIGAÇÕES SOCIAIS, excluído do
benefício de ordem, previsto no art. 1.024, aquele que
contratou pela sociedade.

As obrigações pertencem à sociedade. Os sócios dispõem de responsabilidade. É um segundo


vínculo obrigacional. A obrigação é da sociedade. A responsabilidade solidária é de todos
(sociedade e sócios).

A execução vai ser proposta em face de quem? Quem a Fazenda Pública, por exemplo,
pode propor a execução em uma hipótese como essa? Pode cobrar em face da
sociedade? Pode cobrar de um dos sócios? Pode cobrar de todos?

A legitimação, aqui, o litisconsórcio passivo é facultativo. A responsabilidade é solidária. O


credor, inclusive a Fazenda pública, pode promover a execução em face de um, de alguns ou
de todos, porque a responsabilidade é solidária.

Em uma execução. O credor pode promover a execução em face de um, alguns ou todos, já
que a responsabilidade é solidária. Todos respondem pela dívida total.

Um pode vir a ser chamado ao cumprimento da dívida toda. Responsabilidade solidária é


aquela velha idéia: um por todos, todos por um.
O fato é. Se é execução, é claro que vai haver o Poder Judiciário aqui no meio. Se a execução
for proposta em face de um dos sócios? Poderia ter sido feita em face de todos, mas a
cobrança foi feita em face só de um. Esse sócio, ele tem direito ao benefício de ordem?
Esse sócio, ele tem direito a dizer: olha credor, olha Fazenda Pública, o negócio é o
seguinte: eu tenho um imóvel sim, mas a sociedade tem uma conta corrente. Aliás, nós
três abrimos uma conta corrente conjunta e há dinheiro na conta corrente e dinheiro
prefere aos outros bens. Então, credor, primeiro execute os bens pertencentes à
sociedade. Esse sócio tem direito ao benefício de ordem?

Qual é a regra?

Regra: todas às vezes em que vocês identificarem que o sócio dispõe de responsabilidade
solidária, a responsabilidade solidária em direito societário ela admite benefício de ordem. É
uma responsabilidade solidária-subsidiária.

Em regra, sócio com responsabilidade solidária, administrador com responsabilidade solidária,


em qualquer hipótese, sócio vai ter direito a benefício de ordem, porque essa é a norma
padrão.

Sócio com responsabilidade subsidiária. Para o processo civil esse fenômeno é o de benefício
de ordem.

Vamos ao art. 1024, CC/2002, que é o padrão, que é a regra. Diz ele:

Art. 1.024. Os bens particulares dos sócios não podem ser


executados por dívidas da sociedade, senão depois de executados os
bens sociais.

Remissão Art. 1024 CC/2002 c/c art. 596 CPC.

Art. 596. Os bens particulares dos sócios não respondem pelas dívidas da
sociedade senão nos casos previstos em lei; o sócio, demandado pelo
pagamento da dívida, tem direito a exigir que sejam primeiro excutidos os bens
da sociedade.

§ 1o Cumpre ao sócio, que alegar o benefício deste artigo, nomear bens da


sociedade, sitos na mesma comarca, livres e desembargados, quantos bastem
para pagar o débito.

§ 2o Aplica-se aos casos deste artigo o disposto no parágrafo único do


artigo anterior.
No direito empresarial esse fenômeno é chamado de Responsabilidade subsidiária. Lá no
processo civil esse mesmo fenômeno é chamado de benefício de ordem.

Por que benefício de ordem?

O sócio executado ele tem o benefício de que ele seja, por exemplo, o segundo da fila, o último
da fila, mas que primeiro, que é a sociedade, tenha os seus bens executados em primeiro
lugar.

Esse é o fenômeno da responsabilidade subsidiária ou do benefício de ordem.

E, por que isso? Por que a sociedade deve responder, quase sempre, em primeiro lugar?

Em qualquer sociedade quem exerce a conduta é a sociedade. Se é a sociedade que exerce a


conduta, ela assume, em primeiro lugar, a obrigação. A obrigação é dela. Caso ela não cumpra
voluntariamente, recai sobre o seu patrimônio a responsabilidade.

Então, a assunção de dívida em responsabilidade recai, quase sempre, em primeiro lugar,


sobre o patrimônio da sociedade.

Só vai haver uma norma excepcional.

Exceção. Art. 990, CC/2002, in fine.

Art. 990. Todos os sócios respondem solidária e ilimitadamente


pelas obrigações sociais, excluído do benefício de ordem,
previsto no art. 1.024, aquele que contratou pela sociedade

Sócio contratante, nesse caso, que assume as vezes de administrador ,


esse sócio contratante se a cobrança se der em face dele, esse sócio tem que pagar a dívida
sozinho. Para ele, não tem benefício de ordem.

Exemplo: Vamos imaginar que em uma sociedade os sócios não registraram o contrato, mas
celebraram um contrato entre eles (contrato existe, sociedade também) só que, por exemplo,
um sócio capta dinheiro, abre financiamento com um banco no valor de R$ 500.000,00. O outro
sócio, essencialmente, contrata empregados e atribui a eles tarefas pertinentes ao horário de
chegada, metas, uniforme, se vincula aos empregados. O outro sócio, essencialmente, se
vincula a mandar email aos fornecedores.

Cada sócio assumiu em nome, ou fazendo as vezes de sociedade, agindo como administrador,
uma dessas relações jurídicas. Como o contrato social não foi registrado, é obvio que quem
está se vinculando é a sociedade porque cada sócio está agindo como administrador. Então, o
vínculo se dá com a sociedade, na medida de que quem exerce atividade econômica é a
sociedade. então, quem está se vinculando é a sociedade com o Banco, embora o dinheiro
tenha sido depositado na conta pessoal do sócio. Nesse caso, por exemplo, o Banco, no
exercício da sua pretensão de cobrança pode promover a cobrança, promover a execução em
face de quem?

De todos. Todos são responsáveis solidários, conforme diz o art. 990 CC/2002.

Por exemplo, se o Banco propuser ação de cobrança em face de um dos sócios, não
diretamente daquele que tomou o dinheiro emprestado, esse outro sócio, se executado, ele tem
direito de fazer com que a execução, primeiro, recaia sobre os bens da sociedade.

A parte final do art. 990 está dizendo que aquele que contratou pela sociedade, ai, não tem
jeito, ou seja, se o Banco propuser ação de cobrança em face desse sócio, a relação jurídica foi
estabelecida com a sociedade por intermédio daquele sócio, do sócio contratante. Esse sócio
contratante é o único que não tem direito ao benefício de ordem.

Se a ação for proposta em face dele, ele propriamente vai ter que pagar a dívida inteira, ainda
que a sociedade tenha bens, ainda que haja outros bens disponíveis aptos à satisfação da
pretensão.

Essa é a única hipótese em que um sócio não tem direito a beneficio de ordem.

Temos que combinar o Art. 988 CC/2002 c/c art. 990, CC/2002.

O que está dizendo o art. 988 CC?

Art. 988. Os bens e dívidas sociais constituem patrimônio


especial, do qual os sócios são titulares em comum.

Então, os bens que a sociedade está utilizando para o exercício de sua atividade econômica,
ele formalmente está constituído em nome do sócio, mas estes bens estão sendo utilizados no
exercício da atividade econômica, então a sociedade também é dona dele. Todos esses bens
são afetados à atividade econômica. Formalmente constam em nome dos sócios, mas os bens
estão sendo utilizados para o exercício da atividade econômica
E por que isso?

Porque o contrato não foi registrado. O contrato não sendo registrado, esses bens afetados
são suscetíveis de satisfação dos credores da sociedade. Não é o sócio que está exercendo
atividade econômica, mas sim a sociedade. É o que alguns autores chamam de abstração,
ficção. No Brasil, a pessoa jurídica, inclusive, é uma realidade técnica. Quem está exercendo a
atividade econômica é a sociedade. Daí essa peculiaridade dos bens constam formalmente no
nome do sócio, mas afetados à atividade econômica da sociedade. Daí serem suscetíveis à
satisfação do crédito de credores. É a peculiaridade da combinação do art. 988 e do art. 990.

Aliás, alguns autores, de uma corrente minoritária, acerca desse artigo 988, até complementem
ai, é que o entendimento dominante é que esse patrimônio especial identifica-se como
patrimônio de afetação.

Mas uma corrente minoritária chega a dizer que esses bens são identificados como
condomínio, ou seja, há um condomínio entre sociedade e sócios acerca desses bens. Chega
ao ponto de atribuir a co-propriedade direta de todos. E, ai, um sócio passa a ser dono ou
condômino do imóvel que está registrado no RGI do outro sócio.

Esse não é o entendimento dominante. O entendimento dominante é que esse patrimônio


especial do art. 988 é identificado como patrimônio de afetação. Daí, esses bens poderem ser
utilizados para o cumprimento das obrigações, salvo em relação ao sócio contratante.

Pergunta: essa idéia do benefício de ordem pode ser afastada quando há a possibilidade
de afetar a continuidade da empresa. E se essa execução recair sobre o patrimônio da
sociedade e fica ameaça a continuidade dessa sociedade, de forma que ela possa até
mesmo deixar de existir. Haveria possibilidade de executar primeiro os bens dos sócios?

Obs:A idéia de benefício de ordem diz respeito à possibilidade de o sócio fazer com que a
execução recaia primeiro sobre o patrimônio da sociedade.

Resposta: em princípio não justamente por esse raciocínio. Quem responde pela atividade é
quem exerce a atividade. Quem responde pelo dano causado é quem exerceu a conduta, no
caso a sociedade. Em regra, se a sociedade ao cumprir as suas obrigações coloca em risco a
própria permanência da atividade econômica por ela mesmo exercida isso é caso de falência,
isso é caso de paralisação da atividade econômica.

Agora, se há esse risco, o sócio pode substituir a obrigação e cumprir a obrigação da


sociedade. Tecnicamente isso não é beneficio de ordem. Tecnicamente isso é um terceiro
interessado, porque você tem a sociedade que é a primeira interessada, tem os credores que
são os segundos interessados, sócio ou qualquer outra pessoa diretamente e juridicamente
interessada pode cumprir, pagar a dívida em nome da sociedade. Isso não caracteriza
benefício de ordem.

Quando isso ocorre, e isso é até comum na jurisprudência, a sociedade, essencialmente, vai
ser colocada a sua atividade econômica em risco, então, o sócio vai pagar tendo ele
responsabilidade solidária ou não, está fazendo ele, ai, é pagamento por sub-rogação e não,
propriamente, beneficio de ordem.

Beneficio de ordem ocorre quando a cobrança se dá em face do sócio, quando o sócio dispôs
de responsabilidade, não é em todo e qualquer hipótese que isso vai acontecer como, por
exemplo, na LTDA, na S.A isso também não acontece, salvo o sócio controlador, mas quando o
sócio dispõe de responsabilidade solidária a cobrança recai sobre ele em primeiro lugar e ele
indica bens da sociedade.

O CPC, a gente acabou não vendo aqui, abram o art. 596, CPC

Art. 596. Os bens particulares dos sócios não respondem pelas dívidas da
sociedade senão nos casos previstos em lei; o sócio, demandado pelo
pagamento da dívida, tem direito a exigir que sejam primeiro excutidos os bens
da sociedade.

§ 1o Cumpre ao sócio, que alegar o benefício deste artigo, nomear bens da


sociedade, sitos na mesma comarca, livres e desembargados, quantos bastem
para pagar o débito.

Então, o que é que caracteriza o benefício de ordem?

É o sócio sendo cobrado e ele tendo direito à satisfação indicar bens em nome da sociedade.

Mas se essa indicação colocar em risco a própria atividade econômica da própria


empresa?

Essencialmente, ele vai pagar. Ele vai pagar em sub-rogação e, ai, você não fala em benefício
de ordem. E é um direito que é disponível. Ele pode não exercer esse direito e pagar sem
querer discutir nada com o credor.

Pergunta: se o contratante for demandado em uma ação de cobrança ele vai poder
chamar ao processo os outros sócios?

Sim. São todos co-devedores solidários, mas a obrigação de pagar é dele.


Aqui, a regra é pertinente às obrigações solidárias. Um co-devedor solidário eu é demandado
ele é obrigado ao pagamento da dívida por inteiro. E se sub-roga no direito de crédito. Pode se
sub-rogar no próprio processo já dividindo a cota-parte dos demais co-devedores.

Se a ação de cobrança, se o Banco propôs a ação de cobrança em face do contratante, esse


contratante não tem jeito. Ele não tem direito ao benefício de ordem, conforme a parte final do
art. 990 CC/2002.

Se o Banco propuser ação de cobrança, ou qualquer credor, em face de outro sócio, um não
contratante, esse sócio tem responsabilidade solidária, mas, aqui e em todas as outras
hipóteses, a responsabilidade dele é solidária-subsidiária. Ele vai ter direito a benefício de
ordem e indicar bens, se houver, em nome da sociedade.

Obs: a sociedade não tem bens. Esse sócio contratante está sendo demandado por uma dívida
contraída pelo outro sócio. Ele é devedor solidário. O devedor solidário é obrigado ao
pagamento da dívida toda. Tem que pagar sozinho. Mas ele vai poder se sub-rogar no direito
de crédito. O co-devedor solidário que paga a dívida por inteiro se sub-roga no direito de
crédito e pode cobrar as demais cotas-parte dos demais devedores.

A peculiaridade, aqui, se dá em relação a esse sócio contratante. É uma sanção que o


legislador estabelece ao sócio que não se preocupou em realizar o registro do contrato
social. Aqui não tem jeito mesmo. É a única exceção de sócio que não dispõe de
beneficio de ordem. Em TODAS as outras situações cabe benefício de ordem. O próprio
STJ Sumula 534 dizendo que o sócio gerente não responde diretamente na execução
fiscal, mas primeiro a sociedade, mesmo quando o CTN diga lá no art. 134 que sócio
gerente responde solidariamente. O próprio STJ, o STF já tinha feito isso anteriormente,
estabelecendo que embora a responsabilidade seja solidária, se a sociedade tiver bens a
execução primeiro recaia sobre o patrimônio da sociedade.

O que fez o CC/2002?

Já sabendo dessa jurisprudência, colocou uma exceção no art. 990, parte final. Este
artigo estabelece a única exceção de sócio com responsabilidade solidária, mas sem
direito de benefício de ordem.

Obs: responsabilidade solidária do ponto de vista processual para o credor atribui a ele, como
conseqüência processual, a prerrogativa de escolha, mas isso do ponto de vista da relação
material. Do ponto de vista processual acaba acarretando em um litisconsórcio passivo
facultativo, mas essa faculdade é para o credor. O credor pode escolher em face de quem ele
vai propor a execução.

Algumas observações seguindo o raciocínio da doutrina dominante, em que pese o


posicionamento do Tavares Borba, essa sociedade não tem personalidade jurídica.

Pode-se falar em desconsideração da personalidade jurídica da pessoa jurídica?

A sociedade não tem personalidade, seguindo a linha majoritária. O que é que eu vou
desconsiderar, aqui?

Na sociedade em comum, isso vai valer para outras hipóteses também, mas, aqui, na
sociedade em comum, não se fala em desconsideração, mas não é porque a sociedade não
tem personalidade não, não é por isso não. Aqui, e em outras hipóteses também, não se fala
em desconsideração porque os sócios respondem solidariamente, não precisa desconsiderar.
Desnecessário isso.

Aliás, já adianto a vocês, EM TODAS AS HIPÓTESES que se voce puder identificar que o
sócio dispoe de solidariedade solidária ou responsabilidade ilimitada, TODAS AS HIPÓTESES.
Se você puder identificar que um determinado sujeito, sócio ou administrador, dispoe de
responsabildiade solidária ou de responsabilidade ilimitada NÃO SE FALA EM
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA.

A desconsideração pressupõe responsabilidade limitada. Desonsideração é premissa


da desconsideração que o sócio em princípio esteja protegido. Premissa da
desocnsideração que o sócio tenha responsabilidade limitada, restringida. Se não
houver responsabilidade limitada nem se discute desconsideração. O que se discute é
solidariedade, subsidiariedade, benefício de ordem.

Quando estudarmos LTDA é que se estuda desconsideração, seja sociedade simples limitada,
sociedade empresária limitada e, obviamente, S.A, de capital aberto ou fechado. Lá sim
interessa estudar a desconsideração. Nas outras hipóteses não.

Aqui, não se fala em desconsideração. Não é, insisto, porque a sociedade não tem
personalidade. Aliás, já adianto também, a desconsideração da personalidade jurídica da
pessoa jurídica não desconsidera personalidade jurídica, aliás, ela considera a personalidade,
considera a separação pessoal e a separação patrimonial e, claro, parte-se da premissa que o
sócio esteja, em princípio, protegido.
Então, na sociedade em comum não há que se falar em desconsideração. Aliás, não há que se
falar em desconsideração da personalidade jurídica em todas as hipóteses que o sócio
dispuser de responsabilidade solidária ou ilimitada.

Segunda observação:

Sociedade em comum pode ter a falência decretada? Ela pode falir? Quem pode falir no
direito brasileiro?

Sempre lembrando, a Lei de Falência e Recuperações é a Lei 11.101/2005. Já mencionamos


que no que concerne à falência e recuperações no direito brasileiro, adotou-se um sistema
restritivo.

O que é o sistema restritivo?

Sistema restritivo caracteriza o fato de que só podem falir no direito brasileiro ou só pode ter
acesso às recuperações o Empresário individual e sociedade empresária.

Sociedade em comum pode falir?

Ela é empresária ou ela é simples? Como saber se uma sociedade é empresária ou simples?
Pela atividade. Ela vai poder falir, claro, se se tratar de uma atividade econômica empresarial.
O que define se uma sociedade é empresária ou simples não é o registro. O que define se uma
sociedade é empresária ou simples é a atividade econômica exercida. Se se tratar de uma
atividade econômica que envolva, por exemplo, produção de bens, circulação de bens ou
prestação de serviços, ela é uma sociedade empresária.

Se se tratar de uma sociedade em que a atividade econômica predominantemente envolva


aspecto intelectual, de cunho artístico, científico, literário, regra, sociedade simples.

Então, se se tratar de uma atividade econômica empresarial ela pode falir? Claro que pode.
Para falir no direito brasileiro basta ser empresário ou sociedade empresária. Não precisa ser
regular. Para falir ou para ter a falência decretada basta a qualidade de sociedade empresária.
Basta caracterizar o exercício da atividade empresarial.

Aqui, haverá uma conseqüência.

Se a falência for decretada nessa sociedade (sociedade comum empresária), e em outras


hipóteses também, falida a sociedade, se isso vier a acontecer falido também estarão os
sócios. Pelo menos assim afirma o Art. 190 da Lei 11.101/2005.

E, aqui, começa uma sucessão de polêmicas.


Abram a Lei no Art. 1º da Lei 11.101/2005 que tem a seguinte redação:

Art. 1o Esta Lei disciplina a recuperação judicial, a recuperação


extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade
empresária, doravante referidos simplesmente como devedor.

Peguem esse vocábulo “devedor” e remetam para o art. 190 da Lei 11.101/2005,

Art. 190. Todas as vezes que esta Lei se referir a devedor ou


falido, compreender-se-á que a disposição também se aplica
aos sócios ilimitadamente responsáveis

Então, o art. 190 estabelece, também, a conseqüência da falência para os sócios


ilimitadamente responsáveis.

É o nosso caso agora.

Na sociedade em comum, o contrato não sendo levado a registro – conseqüência do art. 190 –
os sócios dispõem de responsabilidade ilimitada.

Aqui é que começa uma ampla controvérsia.

Nesse caso, o sócio pode ser também considerado falido?

Em caso de falência da sociedade em comum. Que ela pode falir não há muito o que se
discutir. Já vimos que sendo sociedade empresária, caracteriza a atividade empresarial,
perfeitamente possível a decretação da falência.

O ponto é. E o sócio? O sócio será considerado falido?

Uma ampla maioria da doutrina sustenta que esse art. 190 identifica-se como uma exceção ao
sistema restritivo. Qual é a regra? Quem é que pode falir no direito brasileiro? Empresário e
sociedade empresaria. Daí o sistema restritivo.
Sócio não é empresário, sócio não é sociedade empresária, mas se ele dispuser de
responsabilidade ilimitada, excepcionalmente, diz essa linha de pensamento, esse sócio é
considerado falido também. É uma exceção ao sistema restritivo.

Então, para uma primeira linha de pensamento, esse art. 190 ele se caracteriza como uma
exceção ao sistema restritivo. (adotada na Banca)

Só que uma 2ª corrente de entendimento sustenta que os sócios com responsabilidade


ilimitada não podem ser considerados falidos. E por que não? Justamente em função do
sistema restritivo. Eles não são empresários e nem sociedade empresária.

Mas, ai, fica um problema. O que fazer com o art. 190?

Para essa segunda corrente de entendimento os sócios com responsabilidade ilimitada apenas
podem se submeter a alguns efeitos da sentença de falência.

Quais efeitos da sentença de falência?

Os efeitos pertinentes à responsabilidade ilimitada. Então, eles podem ter os seus bens
pessoais arrecadados. A responsabilidade ilimitada ou solidária submete o patrimônio do
devedor, no caso aqui tanto sociedade quanto sócio, à satisfação dos credores. No caso da
falência, à satisfação dos credores habilitados ao processo.

A primeira corrente identifica o sujeito como falido. Para a segunda corrente ele pode ter os
efeitos da sentença, ter seus bens pessoais atingidos, aliás no art.190 c/c art. 81 da Lei
11.101/2005. O art. 81 vai determinar alguns dos efeitos da sentença falimentar, notadamente,
a parte pertinente à arrecadação de bens. Diz o art. 81:

Art. 81. A decisão que decreta a falência da sociedade com


sócios ilimitadamente responsáveis também acarreta a falência
destes, que ficam sujeitos aos mesmos efeitos jurídicos
produzidos em relação à sociedade falida e, por isso, deverão
ser citados para apresentar contestação, se assim o
desejarem.

Esse artigo 81 ele reforça a primeira corrente. Os sócios serão considerados falidos.
O que a segunda corrente faz é dizer: não, eles não podem ser considerados falidos em razão
do sistema. Eles combinam esses dois dispositivos, art. 190 e 81, com o art. 1º.

Qual é a diferença?

Se você considera esse sujeito falido, um dos efeitos da categoria falido, da submissão do
sujeito à categoria de falido, é que ele não pode mais exercer atividade empresarial.

Se você adotar a primeira corrente e entender que esse sócio com responsabilidade ilimitada
ele é sim identificado como falido, conseqüência disso é que a própria Lei de Falência no seu
art. 102 estabelece uma restrição ao exercício da atividade empresarial. O falido ele não vai
poder exercer atividade empresarial como empresário individual. Diz lá o art. 102:

Art. 102. O falido fica inabilitado para exercer qualquer atividade


empresarial a partir da decretação da falência e até a sentença que
extingue suas obrigações, respeitado o disposto no § 1 o do art. 181
desta Lei.

Como conseqüência, se você o identifica como falido ele não pode exercer atividade
empresarial como empresário individual.

Pode ser sócio em outra sociedade?

Maioria da doutrina afirma que não pode ser empresário individual nem poderá constituir uma
nova sociedade porque quem exerce a atividade é a sociedade e não o sócio desde que ele
não seja administrador desta nova sociedade.

Ele não pode ser empresário individual. Ele pode ser sócio em outra sociedade?

Ele não registro. A sociedade faliu. Para essa primeira corrente ele também é considerado
falido. Vai poder ter os seus bens pessoais arrecadados e os demais sócios também. Mas com
a qualidade de falido ele não pode ser empresário individual, mas ele vai poder constituir
uma nova sociedade?

Outra observação.

A maioria da doutrina, mesmo essa primeira corrente, afirma o seguinte: ele não pode ser é
empresário individual, mas poderá, sim, constituir uma nova sociedade. uma nova sociedade
ele pode. Por que é que uma nova sociedade seria possível?
Porque quem vai exercer a atividade econômica não é o sócio e sim a sociedade, desde que,
afirma essa linha de pensamento, ele não seja administrador.

Ser sócio em uma nova sociedade é possível. Administrador não. Por que não?

Porque o CC lá no seu Art. 1011, §1º estabelece essa restrição. Não pode ser administrador
quem seja proibido ou haja restrição para ser empresário individual.

Art. 1.011. O administrador da sociedade deverá ter, no exercício


de suas funções, o cuidado e a diligência que todo homem ativo e probo
costuma empregar na administração de seus próprios negócios.

§ 1o Não podem ser administradores, além das pessoas impedidas


por lei especial, os condenados a pena que vede, ainda que
temporariamente, o acesso a cargos públicos; ou por crime falimentar, de
prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato; ou contra a
economia popular, contra o sistema financeiro nacional, contra as
normas de defesa da concorrência, contra as relações de consumo, a fé
pública ou a propriedade, enquanto perdurarem os efeitos da
condenação.

Cuidado!

Acrescente ai uma feliz observação feita pelo Professor Gladston Mamede. Diz ele: nesse
caso, esse falido não pode ser empresário individual e nem ser sócio. Ele veda a possibilidade
desse falido constituir uma nova sociedade. De onde ele extrai essa conclusão?

Também do CC. Ele se utiliza no CC do Art. 1030, P.Ú, CC/2002. O art. 1030 está inserido no
capítulo do CC que trata da dissolução parcial, mais precisamente, trata da resolução da
sociedade em relação ao sócio. Dentre as várias hipóteses de resolução da sociedade em
relação ao sócio ou resolução parcial, diz lá o art. 1030.

Art. 1.030. Ressalvado o disposto no art. 1.004 e seu parágrafo


único, pode o sócio ser excluído judicialmente, mediante iniciativa da
maioria dos demais sócios, por falta grave no cumprimento de suas
obrigações, ou, ainda, por incapacidade superveniente.

Parágrafo único. Será de pleno direito excluído da sociedade o


sócio declarado falido, ou aquele cuja quota tenha sido liquidada nos
termos do parágrafo único do art. 1.026.

O que apresenta o Professor Galdston Mamede?

Esse artigo 1030, P.Ú estabelece que o sujeito que é sócio, exercendo atividade econômica
dele, se ele for declarado falido ele tem que ser expulso da sociedade, excluído de pleno direito
da sociedade, como admitir que o falido ingresse em outra sociedade, constitua uma nova
sociedade.
O que o Gladston Mamede acrescenta é: a sociedade faliu. O sócio tem responsabilidade
ilimitada. Se você o considerar falido também, ele está proibido de ser empresário individual,
está proibido também de constituir uma nova sociedade tendo em vista o P.U do art. 1030. Se
o próprio legislador manda excluir um sócio falido da sociedade não seria admissível a
constituição de uma nova sociedade para um sujeito que já é falido. Não faz sentido, não há
lógica em admitir a constituição de uma nova sociedade para um sujeito que foi considerado
falido.

Última observação em relação à sociedade em comum.

Sociedade em comum pode ter acesso à recuperação judicial?

A recuperação judicial é identificada pela doutrina como um acordo judicial com forte carga
novativa. Acordo que se faz em juízo que tem por pretensão a obtenção de uma novação ou
com forte carga novativa.

Para se ter acesso à recuperação judicial devem ser preenchidos alguns requisitos, dentre
eles, o previsto no art. 48 Lei 11.101/2005

Art. 48. Poderá requerer recuperação judicial o devedor que,


no momento do pedido, exerça regularmente suas atividades
há mais de 2 (dois) anos e que atenda aos seguintes
requisitos, cumulativamente:

I – não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas,


por sentença transitada em julgado, as responsabilidades daí
decorrentes;

II – não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão


de recuperação judicial;

III – não ter, há menos de 8 (oito) anos, obtido concessão


de recuperação judicial com base no plano especial de que
trata a Seção V deste Capítulo;

IV – não ter sido condenado ou não ter, como


administrador ou sócio controlador, pessoa condenada por
qualquer dos crimes previstos nesta Lei.

Parágrafo único. A recuperação judicial também poderá


ser requerida pelo cônjuge sobrevivente, herdeiros do devedor,
inventariante ou sócio remanescente.

Então, o caput do art. 48 estabelece não só legitimação ativa para a ação de recuperação, tem
que ser empresário ou sociedade empresária, bem como uma condição especial dessa ação.

Qual a condição especial dessa ação?


O registro. O sujeito tem que exercer a atividade REGULARMENTE. Então, a sociedade em
comum pode ter acesso à recuperação judicial?

Não. Por ausência de registro.

Observação: a jurisprudência vem admitindo a seguinte peculiaridade. O sujeito exerce uma


atividade econômica a 15 anos sem registro. Tudo errado. Tudo irregular. Sentindo dificuldade
financeira e pretendendo pedir a recuperação judicial, ele chama um contador ou um
advogado, elabora um contrato, vai à Junta e se registra.

Agora ele está regularizado. Dois dias depois ingressa em juízo e pede a recuperação.

Ele pode obter a recuperação nesse caso?

A jurisprudência tem admitido. A interpretação que vem sendo dada em relação a esse art. 48
é que se no momento do pedido ele estiver regular e se ele já exerça atividade econômica a
mais de dois anos, ele pode ter acesso à recuperação, claro, desde que preenchido os demais
requisitos.

Pela redação do art. 48 ele tem que ser regular e exercer a atividade a mais de dois anos.
Atividade regular a mais de dois anos.

O que a jurisprudência vem admitindo é que a atividade seja feita a mais de 2 anos e no
momento do pedido ele esteja regular, ainda que a atividade tenha sido feito irregularmente.

Daí a minha preocupação. O registro, a comprovação do registro, passou a ser e é identificada


como uma condição especial da ação. Distribui-se a petição inicial, alguns requisitos, balanço,
art. 51 Lei 11.101/05, um deles, o registro. Se está ou não exercendo atividade regular a mais
de dois anos isso vem sendo superado em função da função social da empresa.

Mas uma coisa é certa. Se o contrato não estiver registrado ai não tem jeito. Sociedade em
comum não tem direito à recuperação judicial.

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