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As Questões do Império
Costuma-se explicar a queda da monarquia em 1889 como o resultado de várias
“questões” que abalaram o Império nas décadas de 1870 e 1880. Ao contrário de terem sido
causas, estas questões são o reflexo da situação de crise pela qual o regime monárquico vinha
passando. Como o governo imperial não teve habilidade para lidar com essas transformações,
acabou se envolvendo em atritos com o Exército, a Igreja e a classe latifundiária, as quais
contribuíram para a sua queda.
1. A Questão Militar
Desde o seu retorno da Guerra do Paraguai, os militares vinham demonstrando sua
insatisfação tanto pela demora no processo de promoção, o que dificultava o progresso na
carreira militar, quanto pela proibição de utilizarem a imprensa para expressar suas opiniões
políticas. Essa insatisfação tornou-os simpatizantes das ideias republicanas, além de
defenderem a abolição da escravidão. A situação agravou-se quando os tenentes-coronéis
Sena Madureira e Cunha Matos manifestaram-se publicamente pela imprensa e participaram
de campanhas eleitorais e de discussões públicas com membros da Assembleia Nacional sem
permissão superior, sendo, por isso, severamente punidos pelo governo. O espírito de
corporação do Exército provocou uma inesperada reação de apoio aos dois militares
envolvidos e uma confrontação aberta com a monarquia, que, a partir desse incidente, perdeu
o apoio dos militares do Exército, que se colocaram em oposição ao governo e participaram
diretamente da queda do Império.
2. A Questão Religiosa
A Constituição de 1824 estabelecia a submissão da Igreja ao Estado. Dessa maneira, a
vigência do padroado dava ao imperador o direito de indicar os sacerdotes para os cargos
eclesiásticos, sendo os padres considerados funcionários públicos, pois recebiam remuneração
do governo, devendo obediência ao Estado.
Assim, por não ser do seu interesse, o governo imperial não atendeu às determinações
da Bula Syllabus, do papa Pio IX, a qual condenava a maçonaria e impunha uma série de
medidas contra os seus frequentadores. Os bispos de Olinda e Belém, Dom Vital de Oliveira e
Dom Macedo Costa, resolveram acatar as determinações do papa, ameaçando de excomunhão
a todos os católicos que se declarassem maçons. As pressões políticas fizeram com que o
imperador punisse os bispos, destituindo o seu poder (usando o direito do padroado), e os
condenasse à prisão com trabalhos forçados. Essa atitude repercutiu negativamente e, apesar
de D. Pedro II ter, posteriormente, anistiado os bispos, a monarquia perdeu o apoio da Igreja.
3. A Questão Abolicionista
A política empreendida no Império em relação à questão escravista acabou desagradando
tanto aqueles que se opunham ao regime escravocrata quanto aqueles que o apoiavam. Entre
os que se opunham, consideravam o imperador omisso à questão abolicionista. Essa oposição
aumentou significativamente a partir da participação dos negros na Guerra do Paraguai, já que
muitos membros do Exército, ao participarem do conflito junto aos negros, retornaram da
guerra reprovando o regime escravocrata e engrossando o movimento abolicionista. Esse
movimento passou a associar a escravidão à monarquia e a luta pela abolição ao projeto
republicano.
Por outro lado, quando finalmente o governo imperial decretou a Lei Áurea, em 1888,
sem indenizar os donos de escravos, provocou grande insatisfação entre os fazendeiros de
café, principalmente os do Vale do Paraíba, que estavam em decadência e não tinham
condições de mudar completamente o regime de produção. Apesar de sua difícil situação
econômica, os fazendeiros do Vale do Paraíba ainda possuíam influência política. Sem o seu
apoio, a monarquia perdeu uma importante base de sustentação.
Fim do Império
As questões do Império demonstram a crise ampla que envolvia todos os setores da vida
nacional da época. O Império estava abalado em suas estruturas, não havendo soluções que
pudessem restabelecer-lhe o prestígio. Ruindo o Império, pôde o modelo republicano
estabelecer-se no Brasil, sendo proclamado em 15 de novembro de 1889.