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Nicholas Roerich
mangelesfdez@yahoo.es
Sem dúvida, este pintor russo da primeira metade do século XX possui o segredo da cor.
Com uma paleta limpíssima, de cores puras, e poucos traços de desenho, Roerich nos
remete a um mundo de sonhos, quase de ilustrações de contos infantis. Seduzido pelo
mundo oriental, enche suas telas de montanhas solitárias, templos, monges e guerreiros,
tudo como se estivesse suspenso numa fantasia silenciosa. Porque, por alguma
misteriosa razão, seus quadros sugerem silêncio. Contemplação. Neste “Oscuridad
Ardiente” utilizou uma única cor: o azul. Nem sequer com muitas tonalidades: mais
claro, mais cinzento, mais violeta. As sombras não são negras, mas um pouco mais
escuras; não há profundidade, não há ponto de fuga, o céu é uma extensão cromática das
montanhas, que se desenham nele com uma leve linha negra, que contribui com a
sensação plana de algo incorpóreo. Os cumes, totalmente áridos, desnudos,
sobressaltam e entristecem.
No meio, a única luz. Brota magicamente do cofre que porta uma figura: um mahatma,
seguido de outros dois, os três com coroas em suas cabeças. Detrás, discípulos; um
deles, de barba longa, foi identificado como um estranho auto-retrato do pintor.
O mahatma porta a Luz. Sai de algum lugar oculto, de alguma cova nas montanhas, e
leva o cofre luminoso talvez para os homens, talvez para deixá-lo em algum
desconhecido monastério.
Não importa. Mas o que vemos, o que nos impacta, é esse mistério azul e desnudo que
Roerich nos mostra.
O fundamental para todos os calendários, desde os mais antigos até nosso calendário
moderno, é o movimento dos astros ou, melhor dizendo, seu movimento aparente como
o observamos da Terra. Antes de mais nada, referiremos-nos aos distintos aspectos do
movimento complexo do Sol e da Lua e, também, ao movimento dos planetas e das
estrelas.
Como um mês civil tem que constar de um número inteiro de dias, é necessário definir
os meses de maneira que o calendário concorde com as fases da Lua.
Calendário solar
Este calendário segue o ciclo das estações do ano trópico de 365.24220 dias. Tem um
valor muito prático; auxilia-nos a determinar o tempo em que começam os trabalhos
agrícolas.
Aqui também, segundo as regras do calendário, o ano civil pode se ajustar de maneiras
diferentes do ano trópico.
Calendário astral
O calendário astral (estelar) segue o movimento aparente do Sol pela esfera celeste, e
por isso é um calendário verdadeiramente astrológico. Um ano sideral –365,25636 dias
– é o tempo transcorrido entre duas passagens aparentes consecutivas pelo mesmo ponto
com relação às estrelas.
O princípio do ano
A precessão causa a diferença de duração entre o ano sideral e o ano trópico. Como esta
diferença é muito pequena, é impossível saber apenas a base da duração do ano civil se
se trata de calendário solar ou astral.
Os ciclos
O calendário ideal deveria unir de uma maneira prática os três fenômenos básicos: a
fase lunar (a Lua), a estação do ano (o Sol) e o movimento da esfera celeste. Como estes
fenômenos têm períodos distintos, a harmonia pode ser obtida apenas em ciclos longos.
O ciclo metônico
A maioria dos calendários antigos, na realidade, combinavam o tipo lunar e o tipo solar
de calendário. O mês civil tentava seguir o período sinódico da Lua e o ano civil tentava
seguir as estações do ano. No entanto, um ano de doze meses sinódicos é muito curto;
são aproximadamente 354,367 dias. Para compensar esta diferença, segundo o princípio
de intercalação, interpõem-se às vezes anos de treze meses.
O ano de Platão
Como a diferença de duração entre o ano trópico e o ano sideral é muito pequena,
necessita-se de um tempo maior para fechar um ciclo; 9421035,6 dias (25974 anos
trópicos ou 25973 anos siderais). Este período se chama “Ano Grande” ou o “Ano de
Platão”. Depois de um ano de Platão, na mesma data do ano trópico, o Sol volta à
mesma posição na esfera celeste. A direção do eixo de rotação da Terra com relação às
estrelas determina as eras astrológicas.
O ciclo de Saros
É um ciclo dos eclipses do Sol e da Lua. O eclipse ocorre quando o Sol, a Terra e a Lua
estão aproximadamente alinhados. Do ponto de vista da Astronomia, este ciclo une o
mês sinódico e o mês nódico. Transcorridos os 6585,3 dias (223 meses sinódicos ou 242
meses nódicos ou ainda 19 anos nódicos) do ciclo Saros, os eclipses do Sol e da Lua se
reproduzem na mesma ordem.
O ciclo chio-shi-chou
Há distintos ciclos que abarcam a periodicidade dos fenômenos astronômicos com mais
ou menos êxito. Os chineses conhecem o ciclo dos eclipses que têm 135 meses
sinódicos. Chama-se de ciclo chio-shi-chou. Depois deste ciclo, repetem-se na mesma
ordem 23 eclipses do Sol e da Lua. Yang Wei, por volta do ano 390 a.C. conseguia
prever se algum eclipse ia ser parcial ou total.
Tzolkin
Uma curiosidade dos calendários da América Central é o ciclo tzolkin, que tem 260
dias. Ainda que não pareça ter nenhum vínculo com o movimento dos corpos celestes,
pode-se notar o seguinte:
a) 4*260 = 1040 e 3 * 346,62 = 1039,62 = 1040. Isso quer dizer que Tzolkin abarca o
ciclo de eclipses.
b) O ciclo de 20*260 = 5200, com uma correção simples, une o mês sinódico com o
mês nódico: 176*29,53059 = 5197,4 e 191*27,21222 = 5197,5.
A orientação astronômica
Além dos calendários e de seus ciclos, um fenômeno que também nos interessa são dois
tipos de construções cuja característica principal é sua função de calendário.
Os observatórios antigos deste tipo também estão orientados aos pontos de saída e de
chegada da Lua e alguns outros planetas, especialmente Vênus.
Megalitos
O complexo megalítico em New Grange na Irlanda tem por cima da entrada uma
“janela” construída de maneira que, durante o solstício de inverno, o Sol matutino
ilumine a parede do fundo da câmara central. Enquanto o complexo não era usado, esta
“janela” estava fechada com um bloco de pedra.
Muitos exemplos desses foram estudados pelo professor Thom, um dos pioneiros da
Arqueoastronomia. Há que notar especialmente o fato de que todos estes monumentos
estão orientados de forma muito precisa. Para as atividades agrícolas do homem
neolítico (no caso de que as tivesse desenvolvido bem) teria bastado uma orientação
aproximativa. Teria sido suficiente observar os pores-do-sol do centro de seu povoado.
Por outro lado, a construção de alguns monumentos megalíticos como Stonehenge
exigia um esforço enorme e aparentemente desnecessário.
O eixo principal do templo está orientado ao ponto de saída do Sol no dia do solstício de
inverno. Dentro do templo existia uma câmara especial com uma janela e um lugar
determinado para fazer sacrifícios. No dia do solstício de inverno, o raio do Sol entrava
pela janela e passava por cima desse lugar destinado aos sacrifícios.
Teotihuacán
O segundo eixo forma um ângulo reto com o Caminho dos Mortos, e sua ponta
ocidental vai ao lugar no horizonte onde se põe o cúmulo estelar chamado de Pléyades.
As estrelas tocam o horizonte em cima da montanha chamada Cerro Colorado. Estas
direções tinham tanta importância que até mesmo o curso do rio San Juan foi mudado
de acordo com elas.
Debaixo da Pirâmide do Sol se encontra uma gruta misteriosa. A entrada da gruta está
ao lado das escadas da pirâmide e pode-se entrar uns cem metros ao centro da pirâmide.
Aí se abre um espaço com quatro vãos.
Caracol
São poucos os monumentos dos maias que têm uma planta circular. Um dos
monumentos extraordinários deste tipo é a torre do observatório Caracol em Chichén
Itzá. Suas janelas estão orientadas aos pontos principais no horizonte e a alguns pontos
do pôr de Vênus.
As construções sacras da Idade Média estão definidas por dois eixos cruzados:
decumano e cardo. O decumano está determinado pelos pontos da saída e do pôr-do-sol,
é o eixo leste-oeste. Pode existir diferença entre a verdadeira direção leste-oeste e este
eixo como, por exemplo, no caso da catedral de Notre Dame em Paris, cujo eixo está
determinado pelo ponto de saída do Sol em 15 de agosto (o dia da consagração). O
cardo está determinado pela sombra de um pilar (o símbolo do eixo vertical) no
momento em que o Sol está no ponto mais alto da sua elevação sobre o horizonte, é o
eixo norte-sul.
Entre os séculos IX e XII na Croácia, por toda a costa do mar Adriático, foram
construídas pequenas igrejas de pedra.
Suas plantas têm formas geométricas de quadrado, retângulo ou círculo, mas quase não
existem lugares em que essas formas tenham sido perfeitamente traçadas. Também há
irregularidades na parte vertical destas construções: os arcos das janelas normalmente
estão fora do eixo de simetria, os contornos interiores e exteriores das aberturas são
diferentes.
A igreja de Santa Cruz em Nin, na Croácia, é deste tipo. Parece que nada tem uma
forma regular. O desenho da planta circular é muito inclinado a uma lado, a cúpula
central é elíptica porque foi construída sobre uma base trapezóide e não há sequer uma
janela construída na parte mais destacada do abside.
Ao redor dos ângulos mais acentuados desta igreja se pode traçar um quadrado perfeito,
o que é muito importante para a organização de toda a construção. Sobre a reta da base
do quadrado está a linha da fachada, e os três lados restantes da igreja formam com os
outros lados do quadrado ângulos iguais ao ângulo que existe entre o oeste verdadeiro e
o leste.
A diagonal da superfície debaixo da cúpula está exatamente sobre a linha norte-sul pelo
meridiano local. A parede que leva o abside do meio corresponde à passagem do
primeiro raio de Sol no dia do solstício de inverno, e a diagonal do quadrado descrito ao
redor da igreja corresponde ao primeiro raio do equinócio.
O interior da igreja também foi construído de maneira que facilita a determinação das
horas de oração. Nos quatro dias característicos do ano, os equinócios e os solstícios, as
horas de oração podem ser determinadas com pontualidade apenas olhando o lugar onde
estão os raios do Sol que passam pelas aberturas nas paredes.
Epílogo
Os exemplos apresentados aqui apenas constituem uma pequena parte do que foi
descoberto nas investigações.
Apesar de tudo isso, o campo do oculto não diminuiu, mas, ao contrário, tem crescido.
A ciência de hoje está apegada cegamente ao seu ponto de vista, certa de que o saber de
hoje abarca todos os conhecimentos e todo o saber que sempre existiu. Por isso, não
pode nos dar nenhuma resposta, nem sequer pode entender o que realmente importa.