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Racismo Institucional: um desafio para a

eqüidade no SUS?
Institutional Racism: a challenge to equity in the National
Health System (SUS)?

Suzana Kalckmann Resumo


Pesquisadora do Instituto de Saúde da SES-SP, Doutoranda em
ciências, Área de Concentração em Infectologia em Saúde Pú- O racismo institucional é definido como o “fracasso
blica, Coordenadoria de Controle de Doenças, SES-SP. coletivo de uma organização para prover um serviço
Endereço: Rua Santo Antonio 590, 2o Andar, Bela Vista,cep01413-000,
São Paulo,SP, Brasil.
apropriado e profissional para as pessoas por causa
E-mail: suzanak@isaude.sp.gov.br de sua cor, cultura ou origem étnica. Ele pode ser vis-
to ou detectado em processos, atitudes e comporta-
Claudete Gomes dos Santos
mentos que totalizam em discriminação por precon-
Educadora da Saúde Pública do Instituto de Saúde da SES-SP, His-
toriadora e Mestre em Ciências. ceito involuntário, ignorância, negligência e estereoti-
E-mail: cgsantos@isaude.sp.gov.br pação racista, que causa desvantagens a pessoas de
Luís Eduardo Batista minoria étnica”. A prática do racismo institucional na
Assistente Técnico da Coordenadoria de Controle de Doenças área da saúde afeta preponderantemente as popula-
(CCD), Pesquisador do Instituto de Saúde da SES-SP e represen- ções negra e indígena. Este artigo tem como objetivo
tante da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo no Conse- relatar a sondagem de opinião sobre a existência de
lho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra racismo nos serviços de saúde. Para isso, foi realiza-
do Estado de São Paulo, Doutor em Sociologia.
do um estudo exploratório, aprovado pelo Comitê de
E-mail: lebatista@saude.sp.gov.br
Ética em Pesquisa do Instituto de Saúde, com análise
Vanessa Martins da Cruz de questionário auto-aplicável entregue aos partici-
Assistente de pesquisa do Instituto de Saúde, SES-SP, Fisioterapeuta.
pantes do 2º Seminário de Saúde da População Negra
E-mail: vanessa@isaude.sp.gov.br
do Estado de São Paulo, ocorrido no Município de São
Paulo, em 17 de maio de 2005. Os resultados evidenci-
am que a população negra vem sendo discriminada
nas unidades de saúde, como usuários e como profis-
sionais. Verificou-se que os serviços de saúde, por
meio de seus profissionais, aumentam a vulnerabili-
dade desses grupos populacionais, ampliando barrei-
ras ao acesso, diminuindo a possibilidade de diálogo
e provocando o afastamento de usuários. Diante do
encontrado, acredita-se ser importante estimular dis-
cussões sobre o tema e desenvolver estudos que além
de dar visibilidade às iniqüidades possam contribuir
para a compreensão de como as discriminações atu-
am na saúde da população negra.
Palavras-chave: Racismo institucional; Saúde da po-
pulação negra; Discriminação racial.

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Abstract Introdução
Institutional racism is defined as the collective failu- Estudos nacionais e internacionais evidenciam que
re of an organization to provide appropriate and pro- há desigualdades importantes entre a saúde de bran-
fessional services for people because of their color, cos e negros, homens e mulheres, explicitando inte-
culture or ethnic roots. It can be seen or detected in rações sinérgicas entre desigualdades sociais, raciais
processes, attitudes and behaviors that produce dis- e de gênero (Williams, 1997; Silvério, 2002, Oliveira,
crimination due to unintentional prejudice, igno- 2002). Não há como negar o peso da dimensão étnico-
rance, negligence and racism stereotypes, causing racial nos profundos problemas sociais que assolam
dis-advantage to people belonging to ethnic minori- o país, “(...) bloqueando relações, possibilidades de
ties. The practice of institutional racism in the heal- participação, inibindo aspirações, mutilando práxis
th area affects specially the black and indigenous po- humana, acentuando a alienação de uns e de outros,
pulations. The present article aims to present an in- indivíduos e coletividades” (Ianni, 2004, p. 23).
vestigation into opinions about the existence of ra- A discriminação por cor/raça, na maioria das ve-
cism in the health services. To achieve this, an zes de forma velada, em virtude de leis que a proíbem,
exploratory study was conducted, approved by the perpetrada por meio de “(...) mecanismos de expres-
Committee for Research Ethics of the Health Institu- são que não ferem abertamente essas normas” (Perei-
te (Instituto de Saúde do Estado de São Paulo), with ra e col., 2003, p. 95), determina diferenças importan-
the analysis of a self-administered survey delivered tes no acesso e na assistência nas diferentes esferas
to those who attended the 2nd Black Population Heal- da sociedade, como, por exemplo, na menor oportuni-
th Seminar of the state of São Paulo, which was held dade de escolarização, “(...) na polícia e outras forças
in the city of São Paulo on May 17, 2005. The results de autoridade e controle social através de prisões ile-
show that the black population has been discrimina- gais e detenções arbitrárias (...), na justiça, como re-
ted in the health units, both as users and as professi- flexo da falta de informação e da relação melhor ren-
onals. It was verified that the health services, throu- dimento econômico/melhor defesa e de penas distin-
gh their professionals, increase the vulnerability of tas, (...)” (Lopes, 2005).
those groups, enlarging access barriers, reducing the Estas diferenças no âmbito dos direitos e do espa-
possibility of dialog and causing the withdrawal of ço público configuram o racismo institucional, defi-
users. In light of these findings, it is believed that it nido como: “O fracasso coletivo de uma organização
is important to stimulate discussions about the topic para prover um serviço apropriado e profissional para
and develop studies to give visibility to the inequities as pessoas por causa de sua cor, cultura ou origem
and, therefore, contribute to the understanding of how étnica. Ele pode ser visto ou detectado em processos,
discrimination acts in the black population’s health. atitudes e comportamentos que totalizam em discri-
Keywords: Institutional Racism; Black Population’s minação por preconceito involuntário, ignorância,
Health; Race Discrimination. negligência e estereotipação racista, que causa des-
vantagens a pessoas de minoria étnica” (Documento
da Comission for Racial Equality, 1999 apud Sampaio,
2003, p. 82).
Na área da saúde, estudos recentes têm evidencia-
do “que as desigualdades quanto à saúde e [à] assis-
tência sanitária dos grupos étnicos e raciais são ób-
vias e que, das explicações de tais desigualdades, o
racismo é a mais preocupante” (Organización Mundi-
al de la Salud, 2001, p. 7).
As pessoas tornam-se impotentes diante de uma
situação não explícita de discriminação. A sensação

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de impotência é igual ou maior do que a vivida diante A adoção sistemática dessa prática resultou na
da agressão física, porque as vítimas não encontram redução da mão-de-obra escrava indígena e, para su-
acesso a recursos e a apoios adequados para se prote- pri-la, os europeus voltaram os olhos para a África,
gerem do agravo e de suas conseqüências indesejá- dando início à escravidão negra, igualmente placitada
veis (Lopes, 2003). pela Igreja Católica, por governantes e por intelectu-
A prática do racismo institucional na área da saú- ais como Montesquieu, que, como diz Freitas (1985,
de afeta preponderantemente as populações negra e p. 12), “(...) fundamentou na religião o racismo antine-
indígena. A invisibilidade das doenças que são mais gro”, ao afirmar que: “Não se pode admitir a idéia de
prevalentes nestes grupos populacionais, a não inclu- que Deus, que é um ser infinitamente sábio, tenha
são da questão racial nos aparelhos de formação, a colocado uma alma, sobretudo uma alma boa, em um
dificuldade de acesso aos serviços de saúde, a quali- corpo completamente negro” (Montesquieu apud
dade da atenção à saúde, assim como o acesso aos Freitas, 1985, p. 12).
insumos, determinam diferenças importantes nos A África, assim, sofreu durante séculos uma espolia-
perfis de adoecimento e morte entre brancos e negros ção sistemática, levada a efeito por traficantes de escra-
(Loureiro e Rozenfeld, 2005; Lopes, 2005a; Batista e vos e governos europeus (Carvalho, 1984). As “(...) idéias
col., 2005). racializadas das épocas prévias se congelaram em uma
O racismo minimiza as possibilidades de diálogo ideologia racista sistêmica para condenar toda a gente
das pessoas com os serviços, interfere na auto-esti- de ‘cor’ à inferioridade racial e cultural” (Sivanandan,
ma e, conseqüentemente, contribui de forma decisiva 2002), sendo justificada, portanto, a sua escravidão.
na saúde, especialmente mental dos usuários (Silva, Em 1855, a publicação do livro Ensaio Sobre as
2005; Lopes, 2005b). Por conseguinte, quando presen- Desigualdades Raciais, de Arthur Joseph Gobineau,
te nos serviços, reforça, quando não agrava, a exclu- começa a dar à ideologia racista uma validade “cien-
são social. tífica” (Carvalho, 1984; Sivanandan, 2002). O autor
Este trabalho tem como objetivo relatar os resul- defendia no livro “(...) a ‘superioridade’ inata do ‘aria-
tados de uma sondagem acerca da existência de ra- no’, ramo superior da raça branca, destinado a gover-
cismo nos serviços de saúde. nar sobre os demais” (Carvalho, 1984, p. 10). Essa teo-
ria encontrou eco no pensamento racista, populari-
Um Pouco de História... zando ainda mais a questão das hierarquias sociais
dos indivíduos.
No final do século XV e início do XVI, a Europa estava
no seu apogeu “(...) como dona dos mares e do dinhei-
ro e como pedestal do homem branco senhor do mun-
Enquanto Isso, no Brasil...
do, (...)” (Carvalho, 1984, p. 10). Imbuídos dessa ideo- No Brasil, o racismo tem suas raízes na escravidão e,
logia, os conquistadores europeus – especificamente por conseguinte, na “anulação dos valores da cultura
espanhóis e portugueses – iniciaram a colonização da negra feita pelos colonizadores como forma de legiti-
América recém descoberta implementando um siste- mar a dominação” (O Negro..., 1986, p. 3). A força des-
ma produtivo baseado na mão-de-obra escrava (Davi- se racismo pode ser medida pelo fato de a escravidão
doff, 1986). ter dominado a história do Brasil por mais de três sé-
Assim, populações inteiras de indígenas foram culos, sendo o último país do mundo a aboli-la. Como
escravizadas e exterminadas (Carvalho, 1984; Siva- afirma Freitas (1985, p. 12), “Nenhuma outra região
nandan, 2002), com o beneplácito da Igreja Católica, do Novo Mundo foi tão completamente modelada e
que, comungando com o ideário da superioridade dos condicionada pela escravidão quanto o Brasil. Sim-
brancos europeus sobre os demais povos, considera- plesmente, a escravidão fez o Brasil”.
va os indígenas “(...) ‘sub-homens’, os filhos de Cam, Não se pode afirmar, sem incorrer em erro, o nú-
nascidos para ser escravos, e que podiam, por conse- mero exato de africanos trazidos ao Brasil desde a
guinte, ser escravizados ou exterminados” (Siva- segunda metade do século XVI até 1850, quando o trá-
nandan, 2002). fico de escravos passou a ser considerado crime, por

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meio da Lei nº. 851 – Lei Eusébio de Queirós, de 4 de emprego doméstico, biscates, enfim, as ocupações
setembro de 1850 (Brasil, 2007). Diversos historiado- subalternas (Freitas, 1985; Moura, 1985). Nascia as-
res se debruçaram, e ainda o fazem, sobre o tema, mas sim uma massa de miseráveis, “(...) herdeiros de tudo
o que se tem são apenas estimativas das mais diver- aquilo de negativo que os blocos de poder do Império
sas (Moura, 1994), nunca abaixo de 3 milhões. Para e da República legaram como herança econômica,
Alencastro (2006), “(...), mais de 4 milhões de africa- política, social e cultural aos escravos e ex-escravos”
nos foram deportados para o Brasil entre 1550 e 1850, (Moura, 1985, p. 15).
tornando o Brasil o agregado político americano que Em linhas gerais, o desemprego, o analfabetismo,
recebeu a maior parte dos africanos desembarcados a subnutrição, a fome e a doença que assolam sobre-
no Novo Mundo”. maneira os negros, são reflexos de uma ideologia
Apesar desses números, a situação dos negros não excludente que “(...) continua pesando, através do ra-
melhorou após o 13 de maio de 1888. Embora não ha- cismo ambíguo e dissimulado do brasileiro, a esma-
vendo a lavratura de qualquer instrumento jurídico- gar não apenas economicamente, mas, também, psi-
institucional impondo barreiras legais aos ex-escra- cológica, cultural e existencialmente a grande popu-
vos, a extinção da escravatura não extinguiu o racis- lação não-branca do Brasil. O racismo é, assim, a arma
mo no país. A Lei Áurea deu aos negros “o estatuto de ideológica através da qual os opressores discriminam
pessoas juridicamente livres” (Arruda, 1995, p. 7), mas os não-brancos para manter os seus níveis de privilé-
não os livrou da exclusão e da discriminação, pois a gio, como, antes, os senhores de escravos da mesma
ideologia racista permaneceu, “(...) a ideologia segun- forma procediam” (Moura, 1985, p. 15).
do a qual o negro, homem inferior, pode e deve ser dis- Apesar de recentes leis antidiscriminatórias e da
criminado” (Freitas, 1985, p. 12). melhoria da imagem do negro, sua real condição na
Consonante com esse ideário, a classe dominante sociedade brasileira ainda é de desvalorização. Na
brasileira optou pela imigração de europeus brancos, esfera governamental, observa-se que “(...) as iniciati-
com o claro intuito de “branquear” o país (Freitas, vas de combate às desigualdades raciais ainda têm um
1985; Rolnik, 1986; Heringer, 2002; Barreto, 2004). alcance limitado e podem ser mais facilmente identifi-
Como diz Rolnik (1986, p. 3), essa opção “(...) im- cadas nos documentos e recomendações do que por
plicou também a formulação de uma teoria social – a meio de ações práticas” (Heringer, 2002, p. 62). Por
raça negra estava condenada pela bestialidade da es- sua vez, no âmbito social, “ainda há discrepâncias
cravidão – e a vinda de imigrantes europeus traria ele- entre ‘imagem e prática’ a respeito da segregação e
mentos étnicos superiores que, através da miscigena- discriminação racial no nosso país, onde, freqüente-
ção, poderiam branquear o país, como ‘uma transfu- mente, vemos pessoas afirmarem que o povo brasileiro
são de puro e oxigenado sangue de uma raça livre’. A está se tornando um povo mais homogêneo, mas em
operação substituição da mão-de-obra escrava signi- todo momento flagramos evidências de práticas discri-
ficou, portanto, a redefinição do lugar do negro na minatórias na vida cotidiana” (Barreto, 2004, p. 245).
sociedade – de escravo a marginal”. Assim, pressupõe-se que a sociedade brasileira con-
A ideologia do “embranquecimento (branqueamen- temporânea permanece racista e esse racismo também
to)” representou, então, “a passagem do racismo de está presente no Estado e, conseqüentemente, nas ins-
dominação ao racismo de exclusão” (Sodré, 1995, p. tâncias governamentais (nos aparelhos formadores,
6), pois, para os detentores do poder, “(...) negro livre nos serviços de atenção aos cidadãos, nas políticas
não servia para trabalhar. A posição de marginalidade públicas, dentre outros). O governo, ao não dar a devi-
do negro em relação a esta nova configuração social da visibilidade às desigualdades raciais existentes na
seria, então, justificada através da idéia de inferiori- sociedade, ao não ter uma política explicita de comba-
dade cultural da raça negra, característica responsá- te ao racismo, colabora para a sua institucionalização.
vel pela ‘inadaptação’ dos libertos a uma relação mais O presente artigo tem como objetivo relatar a son-
moderna de trabalho” (Rolnik, 1986, p. 3). dagem de opinião sobre a existência de racismo nos
Devido a essa “inadaptação”, aos negros sobraram serviços de saúde e subsidiar a discussão de racismo
“as ocupações improdutivas” (Freitas, 1985, p. 13): institucional entre os profissionais de saúde.

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Metodologia nerada e 9% estavam desempregados. No tocante à
escolaridade, 25,8% tinham curso superior completo,
Estudo exploratório aprovado pelo Comitê de Ética em e apenas 2,1% não tinham nenhuma instrução formal.
Pesquisa do Instituto de Saúde, com análise de ques- Apesar do predomínio de participantes da religião
tionário auto-aplicável, com informações sobre as va- católica (58,8%), as demais religiões também estive-
riáveis demográficas e sociais (idade, sexo, cor/raça, ram presentes: evangélica (15,8%), espiritismo Karde-
escolaridade, estado civil, ocupação, religião), ques- cismo (9,7%), candomblé e umbanda (8,1%), e budismo
tões sobre a percepção dos participantes acerca do (0,4%), assim como os ateus e sem religião, 1,4% e
racismo e relato de experiências vivenciadas, entre- 4,8%, respectivamente. Chama a atenção a proporção
gue aos participantes do 2º Seminário de Saúde da de não resposta a essa questão (13%).
População Negra do Estado de São Paulo, ocorrido no No total, 43,3% (104) responderam que já percebe-
Município de São Paulo, em 17 de maio de 2005. ram alguma discriminação racial nos serviços de saú-
O seminário realizado anualmente é dirigido às de, 60%, 44,2% e 40,8%, entre os de cor preta, branca
lideranças do movimento negro, gestores e profissio- e parda, respectivamente. A proporção de pessoas que
nais do SUS, e tem como objetivos instrumentaliza- relataram ter vivenciado o racismo foi muito maior
los e sensibiliza-los sobre os principais temas/proble- que a encontrada na pesquisa feita pela Fundação
mas de saúde da população negra. Perseu Abramo (2004), realizada com a população em
Considerando-se o registro de inscrições, 553 pes- geral. Essa pesquisa constatou que o setor saúde é o
soas participaram do evento, das quais 294 (53,2%) se principal local discriminador, pois 3% dos entrevis-
autodefiniram de cor preta, 103 (18,6%) de cor parda, tados relataram ter sofrido discriminação ao buscar
147 (26,6%) de cor branca, 5 (0,90%) indígena e 4 cuidados de saúde (1% brancos, 3% pardos, 6% pretos
(0,72%) de cor amarela; 285 (51,5%) residiam na capi- e 3% indígenas).
tal, 178 (32,2%) no interior, 80 (14,5%) na Grande São Não se pode deixar de considerar que a amostra
Paulo e 10 (1,8%) em outros estados. do presente estudo é diferenciada comparada à popu-
Dos questionários distribuídos, 240 (46,3%) foram lação, em termos de escolaridade e de consciência/
devolvidos respondidos. A análise dos dados foi feita sensibilidade diante da questão.
por meio do programa EpiInfo e SPSS 8,0 for Windows. A partir da leitura dos relatos de racismo viven-
As respostas às perguntas sobre percepção de discri- ciados, diretamente ou por meio de algum conhecido,
minação racial nos serviços de saúde foram analisadas e levando-se em conta o conceito de vulnerabilidade
segundo o significado das mensagens (Bardin, 1977). (Ayres e col., 1999; Lopes, 2003) foram criadas as se-
guintes categorias para a análise: restrição ao acesso
Resultados e Discussão e/ou ao atendimento (40 pessoas), qualidade do aten-
dimento ao pré-natal e ao parto (14) restrição ao aces-
A população estudada caracterizou-se por um predomí- so e qualidade do atendimento específico a anemia
nio (71,3%) de pessoas que se autodeclararam negras – falciforme (12), e relacionado às relações entre os pro-
considerou-se o critério adotado pelo IBGE1 – somató- fissionais de saúde (10). No total, 28 pessoas afirma-
rio dos que se autodefinem como de cor preta (45,8%) e ram ter vivenciado situação de discriminação na saú-
de cor parda (21,3%), sendo agregados também os 4,2% de, mas não relataram o acontecido.
que se autodefiniram como da “população negra”. Para maior detalhamento, buscou-se identificar os
Os questionários foram respondidos majoritaria- sujeitos envolvidos nos relatos, e para tanto, criou-se
mente por mulheres (66%), a idade dos respondentes as seguintes categorias: “leu e/ou escutou sobre pes-
variou de 14 a 68 anos, com média de 38,5 (+12,81) e quisas”, aconteceu “com a própria pessoa”, aconteceu
mediana de 39 anos; 77,1% exerciam atividade remu- “com parentes ou amigos”, “não-especificado”.

1 Consideramos como população negra o somatório dos indivíduos que se consideram de cor preta e de cor parda, conforme categorias
adotadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (Portaria nº.3947/GM. Diário Oficial da União, 1999
(www.ibge.gov.br)

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Foram mais freqüentes os episódios vividos pela mente. Para o autor, esses insultos são mensagens
própria pessoa, como profissional ou como usuário, para que o cidadão negro não se esqueça de seu lugar
37% (39) do total, proporção que passa a 41,8% (28) subalterno nas relações e retorne ao seu lugar inferi-
quando se considera os que se declaram de cor preta. or. É interessante refletir sobre o significado que pa-
Entre os relatos vividos pela própria pessoa, verifica- lavras como “negão”, “negro”, “preto”, “roxinho”, etc.,
se que a cor é uma variável que interfere na intensida- assumem, especialmente, quando acompanhadas de
de com que o racismo é percebido. Resultado similar atitudes como as descritas, elas trazem o passado de
ao observado por Oliveira e Barreto (2003), ou seja, há humilhação e subordinação, falam mais que de uma
mais relatos de pessoas que se autodefinem como de simples cor.
“cor preta” do que entre os que se dizem da “cor parda”. Outras situações mostram como se dá o impedi-
As falas apresentadas são fragmentos de histórias mento ao acesso e ao atendimento com eqüidade, re-
vividas, ou melhor, sofridas e devem ser entendidas velam formas de acirramento das desigualdades:
como a materialização do racismo institucional. A “No Hospital X o médico me destratou e disse que
análise destas situações deve ser vista como alterna- preto tem que morrer em casa” (54 anos, cabeleireira,
tiva para o enfrentamento do problema, contribuindo cor preta); “Comigo, a GO (ginecologista) não quis me
com elementos para que os profissionais de saúde examinar, eu disse que estava com corrimento e co-
possam refletir sobre a própria prática. ceira” (48 anos, desempregada, cor preta).
“O meu tio foi vítima de assalto, chegou baleado
Restrição do Acesso aos Serviços e Atendimentos
no PS e foi tratado como assaltante” (55 anos, auxili-
à Saúde ar de enfermagem, cor preta); “A enfermeira se negou
Nesta categoria foram reunidos os relatos que descre- a examinar minha sobrinha” (24 anos, atendente de
vem formas diversificadas de afastar o usuário dos lanchonete, cor preta); “A população quilombola não
serviços de saúde, em diferentes tipos de atendimento. tem acesso aos serviços públicos de saúde” (40 anos,
A análise de situações percebidas como discrimi- psicólogo, cor preta); “Vi uma senhora, ao não concor-
natórias revela que as atitudes parecem estar ligadas dar ou entender a prescrição, ouvir do médico: a se-
à ideologia do dominador que perpassa o cotidiano nhora é uma velha negra e sem diploma, eu que estu-
estando introjetada nos profissionais, como, por dei, sei o que estou fazendo” (52 anos, presidente de
exemplo, acreditar que as pessoas negras são “mais ONG, cor preta).
fortes e resistentes à dor”, como: “Negro não adoece” “No Hospital X, a médica nem examinou a minha
(51 anos, auxiliar de enfermagem, preta); “Não é uma filha, passou um remédio para sarna, ela nem me ou-
coisa assim fácil de falar, sinto que somos tratados viu falando que eu achava difícil, ela não tem contato
com mais displicência” (51 anos, jornalista, cor pre- com animal; levei a outro médico e ele descobriu um
ta); “Eu estava com muita dor e a médica falava: que é processo alérgico” (30 anos, enfermeira, cor preta).
isso? Não dói tanto” (23 anos, professora, parda); “Ra- A maioria dos relatos envolve o médico, mas os
paz! Um negão desse tamanho sentindo dor?” (55 anos, outros profissionais, como enfermeiro, psicólogo,
agente comunitário de saúde, cor preta); “Médicos auxiliar de enfermagem e recepcionista, também, fo-
atendem de forma diferente infratores negros e bran- ram citados.
cos” (37 anos, agente educacional da Febem, cor preta). Associar a cor da pele ao baixo poder aquisitivo,
Há uma tendência a minimizar as queixas. naturalizando o processo, parece ser uma constante:
“A discriminação está presente em todos os seto- “A recepcionista demorou para me dar atenção e quan-
res da vida brasileira” (28 anos, psicólogo, cor parda); do eu entreguei o cartão do convênio, ela olhou duas
“Na rotina dos nossos serviços, é muito comum a uti- vezes para mim, pediu o meu RG, coisa que não havia
lização de palavras discriminatórias, que afastam as feito com outras pacientes brancas, ela parecia não
pessoas” (36 anos, enfermeira, cor branca). acreditar que eu pudesse pagar o convênio. Nos tra-
Em várias situações são usadas palavras, ou me- tam como um ser de segunda categoria, até mesmo a
lhor, insultos, que, segundo Guimarães (2000), têm a solicitação do documento de identidade, pode ser in-
função de manter as relações estabelecidas historica- terpretado como ‘tirar a prova real’, será que essa pes-

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soa realmente é beneficiária deste plano?” (32 anos, “Quando um paciente negro chega ao hospital com
enfermeira, cor preta). crise de dor por anemia falciforme, é tratado como
Vale salientar que os relatos não se restringem aos viciado em ‘dolantina’ e ‘franol’” (20 anos, presidente
serviços públicos de saúde, incluem também reno- de ONG, negra);”Os médicos sabem pouco ou desco-
mados planos de saúde. nhecem a anemia falciforme” (52 anos, médico, bran-
Não se pode deixar de considerar/refletir que ati- co); “O meu menino tinha dor no braço e eles enges-
tudes como as relatadas pelos participantes, além de saram” (48 anos, socióloga, branca ); “Eu sentia um
afastar os usuários dos serviços, interferem de forma cansaço, e me sentia culpada por não dar conta dos
negativa na construção de suas identidades. serviços de casa, eu estava quase acreditando que era
preguiçosa, daí no pré-natal descobriram que eu tinha
Qualidade do Atendimento ao Pré-Natal e Parto uma alteração nos glóbulos vermelhos” (34 anos, pro-
Os relatos mostram que as situações de discriminação fessora, parda ); “A gente vê muitos casos de anemia
são mais freqüentes quando as pessoas estão mais falciforme que não recebem tratamento específico”
fragilizadas, como durante a gravidez e durante o par- (42 anos, diretora de Escola de Samba, cor não decla-
to: “Escutei a recepcionista (pré-natal) falar: negra é rada); “Quando a gente fala que é falciforme, eles
como coelho, só dá cria” (43 anos, diretora de ONG, olham para gente, não acreditam” (52 anos, assistente
cor preta); “No parto do meu último filho não me de- social, negra).
ram anestesia” (43 anos, auxiliar administrativa, ne- Segundo estimativas da OMS, nascem, anualmen-
gra); “O médico nem examinou a gestante negra” (40 te, no Brasil, 2500 crianças com a patologia, das quais
anos, coordenador de conselho de cultura, negro); “No 20% morrem antes dos 5 anos de idade por complica-
pré-natal, só mandavam emagrecer eu nem sabia o que ções relacionadas a ela, por não ser um tema de domí-
era eclampsia, quase morri” (28 anos, professora pri- nio dos profissionais de saúde, há dificuldades para o
mária, cor preta). diagnóstico adequado, o que contribui para o sub-re-
Essas falas são compatíveis às encontradas por gistro dos óbitos causados por ela (Anvisa, 2005).
Leal e col. (2005), que revelam que as pretas e pardas As falas indicam a persistência da situação mos-
recebem pior assistência ao parto e no pré-natal nas trada pelo estudo clínico, que ouvindo 80 pacientes,
maternidades do Rio de Janeiro. As autoras concluem identificou que para 90% deles o diagnóstico só acon-
que as mulheres negras peregrinam mais em busca teceu quando tiveram acesso a algum setor do Hospi-
de local para o parto, têm pior pré-natal e proporções tal das Clínicas da Unicamp, pois até então tiveram
maiores delas não recebem anestesia. apenas tratamento sintomático (Silva e col., 1993).
Os relatos também denunciam a inexistência de
Qualidade do Atendimento à Anemia Falciforme
serviços que possam atender a população, resultando
A anemia falciforme é a doença hereditária mais co- em peregrinação em busca de resolução, levando ao
mum do Brasil, considerando a população geral, com diagnóstico tardio que, segundo os especialistas, é o
maior prevalência entre os afro-descendentes, é cau- maior problema para o controle da patologia.
sada por uma mutação do gene da hemoglobina que O desconhecimento dos procedimentos adequados
determina a alteração da forma dos glóbulos verme- para controlar as crises de dor e demais sinais e sin-
lhos, que se tornam parecidos a uma foice. As hemá- tomas da doença contribui para o afastamento do pa-
ceas agregam-se e dificultam a circulação do sangue ciente dos serviços de saúde, além de impingir sofri-
nos pequenos vasos do corpo. Com a diminuição da mentos que poderiam ser evitados. Isso sem conside-
circulação ocorrem lesões nos órgãos atingidos, po- rar as mortes advindas da doença, pois, estima-se que
dendo causar dor, inchaço, insuficiência renal, hepáti- muitos morrem sem diagnóstico.
ca, pulmonar, cerebral, priapismo, dor de cabeça, con- O priapismo, que é um estado de ereção dolorosa,
vulsões, derrame, desmaios, etc. Provoca grande varia- causada pela obstrução dos vasos do pênis, e que ge-
bilidade clínica, alguns pacientes têm um quadro de ralmente ocorre espontaneamente, é confundido com
grande gravidade e estão sujeitos a inúmeras compli- excitação sexual, o que encontra respaldo nos estere-
cações e freqüentes hospitalizações, outros apresen- ótipos veiculados na mídia: o homem negro sempre
tam uma evolução mais benigna (Zago, 2001). disposto a ter relações sexuais e a não trabalhar.

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“Meu filho sofria de priapismo, e quando era ado- de atenção aos portadores é a expressão material do
lescente, a enfermeira me disse que ele era ‘um racismo institucional.
neguinho safado’” (48 anos, psicóloga, branca). Os relatos das situações de discriminação apresen-
tados, casos reais, apesar de partirem de uma amos-
Relações entre os Profissionais de Saúde
tra de conveniência do município de São Paulo, podem
Apesar de em menor número, os relatos também apon- contribuir para que os profissionais reflitam sobre as
tam situações de racismo institucional que ocorrem próprias atitudes e práticas. Não se pode deixar de
entre os dirigentes e o trabalhador, entre os trabalha- considerar que o racismo se evidencia nas interações
dores e entre usuários e trabalhadores negros. entre pessoas, e que mesmo o profissional não consi-
“Muitos não são admitidos por que são negros” (60 derando que teve uma atitude racista, ao não escutar
anos, técnico químico, negro);”Os cargos de direção e a percepção do sujeito que sofreu a ação, está contri-
de alto escalão são preenchidos por pessoas brancas” buindo também com o racismo institucional. Além
(48 anos, coordenador de cursos, pardo); “A médica disto, as instituições, ao não terem um posicionamen-
branca me destratou e fez alusão a minha cor” (50 to explícito e espaços onde essas condutas sejam dis-
anos, psicóloga, negra); “Meu marido é médico, foi cutidas, são coniventes e institucionalizam o racismo.
questionado se tinha competência” (46 anos, profes- A inexistência da discussão sobre o impacto do
sora, negra); “A usuária não quis que auxiliar de en- racismo na saúde e nos aparelhos de formação, den-
fermagem negra aplicasse vacina em seus filhos” (52 tre eles nos cursos oferecidos pelos Pólos de Educa-
anos, educadora de saúde, parda). ção Permanente para profissionais médicos, enfer-
meiros e dentistas, reforçam o racismo na saúde.
Conclusão Por fim, sejam usuários, sejam profissionais, não
se pode negar que a vivência da discriminação racial
Os resultados evidenciam que a população negra vem interfere sobremaneira na construção das identida-
sendo discriminada nos serviços de saúde, tanto como des e na produção dos sujeitos, e conseqüentemente
usuários, quanto como profissionais. Embora os rela- na saúde das pessoas. Assim, é importante que os efei-
tos, na sua maioria, remetam a serviços públicos, os tos sociais do racismo sejam relatados para que as
planos privados também foram citados. instituições adotem medidas para a sua desconstru-
Lembrando que um dos princípios básicos do SUS ção, se não na sociedade como um todo, pelo menos
é a eqüidade, ou seja, os serviços de saúde devem ofere- nas suas dependências.
cer tratamentos diferenciados e específicos para os Para tanto, faz-se necessário estimular discussões
desiguais, visando reduzir diferenças de vulnerabili- sobre o tema e desenvolver estudos que, além de dar
dade das populações. No caso da população negra, que visibilidade às iniqüidades, possam contribuir para a
é mais vulnerável a várias patologias pelo processo his- compreensão de como as discriminações atuam sobre
tórico de exclusão social, econômica, política e cultu- a saúde da população negra. Além de ser fundamen-
ral a que foi submetida, cabe aos serviços de saúde ga- tal que, considerando a dimensão territorial e a diver-
rantir atendimentos adequados, que reduziriam essa sidade étnico-racial do Brasil, se promovam estudos
vulnerabilidade. No entanto, verificou-se que os servi- no país, buscando identificar diferenças regionais. O
ços de saúde, por meio de seus profissionais, aumentam racismo institucional deve ser aferido para que seja
a vulnerabilidade destes grupos populacionais, ampli- entendido como indicador da qualidade do atendimen-
ando barreiras ao acesso, diminuindo a possibilidade to prestado à população.
de diálogo e provocando o afastamento de usuários. Espera-se que os resultados contidos neste artigo
No caso específico da anemia falciforme, patolo- possam servir de subsídios para outros estudos que
gia genética de maior prevalência entre a população se proponham a investigar o impacto do racismo na
negra, a sua invisibilidade nos serviços de saúde, a saúde, bem como para a adoção, por parte dos pode-
ausência de informação sobre ela nos aparelhos for- res constituídos, de medidas efetivas para a redução
madores (universidades), a falta de informação/forma- das iniqüidades raciais e, especificamente, para a pro-
ção específica para os profissionais, inclusive nos moção de políticas realmente eqüitativas no âmbito
Pólos de capacitação e a inexistência de programas do Sistema Único de Saúde.

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Recebido em: 30/05/2006


Reapresentado em: 22/03/2007
Aprovado em: 26/03/2007

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