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Nesta nossa disciplina trataremos de assuntos como a visão do Direito Público, a atuação do Estado,
a Organização Política – Administrativa da República, os Princípios da Administração Pública, veremos
também uma visão elementar da atividade financeira do Estado e o Direito Financeiro (orçamento
público, despesa etc.), bem como o processo administrativo, atos de improbidade administrativa e, por
fim, os contratos administrativos. É nossa expectativa que você aprenda bastante.
Para facilitar seu trabalho, apresentamos na tabela abaixo os assuntos que deverão ser estudados e,
para cada assunto, a leitura fundamental exigida e a leitura complementar sugerida, além das videoaulas.
No mínimo, você deverá buscar entender bastante bem o conteúdo da leitura fundamental, só que essa
compreensão será maior se você acompanhar também a leitura complementar. Você mesmo perceberá
isso ao longo dos estudos.
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Nota: ver as referências bibliográficas para maior detalhamento das fontes de consulta indicadas.
b – Referências bibliográficas
Livro-texto
ARAUJO, Luiz Alberto David; NUNES JUNIOR, Vidal Serrano. Curso de Direito Constitucional. 17. ed.
São Paulo: Verbatim, 2013.
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 21. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
HARADA, Kioshi. Direito Financeiro e Tributário. 17. ed. Revista e ampliada. São Paulo: Atlas, 2008.
MEIRELLES, Hely Lopes. Curso de Direito Administrativo. 34. ed. São Paulo: Malheiros, 2008.
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2008.
SEGUNDO, Hugo de Brito Machado. Direito Tributário e Financeiro. Vol. 24. 6. ed. Séries Leituras
Jurídicas Provas e Concursos. São Paulo: Atlas, 2011.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Positivo. São Paulo: Editora Malheiros, 2010.
Outras referências
CRETELLA JUNIOR, José. Curso de Direito Administrativo. 18. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006.
FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Curso de Direito Administrativo. 9. ed. São Paulo: Malheiros, 2008.
GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de Direito Administrativo. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo moderno. 12. ed. São Paulo: RT, 2008.
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TÓPICOS ESPECIAIS EM DIREITO PÚBLICO (OPTATIVA)
Unidade I
DIREITO PÚBLICO E DIREITO PRIVADO
O homem é um ser gregário, por natureza viveu sempre em sociedade. Para tanto, abdicou de uma
parcela de sua liberdade, buscando, como contrapartida, normas que garantissem sua segurança e os
seus direitos. Assim, surgiu o Direito. O Direito, como um conjunto de normas de conduta humana,
impostas coativamente pelo Estado, constitui uma unidade indivisível, maciça, monolítica. Embora seja
assim, como ciência jurídica, é dividido, somente para fins didáticos, em diversos ramos. Reconhecendo-
se, desde os romanos, dois grandes ramos: público e privado.
O Direito Público regula as relações jurídicas em que predomina o interesse do Estado. Nessa
perspectiva, são ramos do Direito Público: o Direito Administrativo, o Direito Constitucional, Tributário,
Penal, Processual e outros. Por outro lado, o Direito Privado disciplina as relações entre particulares,
tutelando, sobretudo, os interesses individuais, de modo a assegurar a convivência harmônica das
pessoas em sociedade, além da fruição de seus bens, pensando nas relações de indivíduo a indivíduo.
São ramos do Direito Privado: o Direito Civil e o Direito Comercial (Direito Empresarial).
No Direito Privado, vigora o princípio da autonomia da vontade, significando que as partes podem
eleger livremente as finalidades a alcançar e utilizar todos os meios para atingi-las, desde que nenhum
deles, finalidades e meios, sejam proibidos pelo Direito.
No Direito Público, ao contrário, se ocupa dos interesses da sociedade como um todo, ou seja, dos
interesses públicos. No Direito Público não vigora o princípio da autonomia da vontade, mas a ideia de
função, de dever de atendimento do interesse público.
O Direito Administrativo, o Direito Constitucional e o Direito Tributário, que iremos ver ao longo
de alguns temas dos “Especiais de Direito Público”, como ramo do Direito Público, devem, de forma
inescusável e irrenunciável, atender ao interesse público.
O Direito Administrativo, como rege as relações jurídicas do Poder Público, esse dotado de
prerrogativas de autoridade na consecução do interesse público, constituiu-se um ramo do Direito
Público. É, portanto, uma disciplina que estuda as relações entre a Administração e os administrados.
Versa sobre atos administrativos (licenças, autorizações), desapropriações, responsabilidade civil do
Estado, autarquias, serviços públicos. Todos esses assuntos e muitos outros são estudados pelo ramo do
Direito Público denominado Direito Administrativo.
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Unidade I
O Direito Constitucional pode ser conceituado como o ramo do Direito Público que tem por objeto
o estudo da Constituição. A Constituição é o complexo de regras que dispõem sobre a organização do
Estado, origem e organização dos Poderes, organização das liberdades públicas e competências estatais.
De acordo com o conceito de José Afonso da Silva, Direito Constitucional “é o ramo do direito público
que expõe, interpreta e sistematiza os princípios e normas fundamentais do Estado”. Constituição é a
organização jurídica fundamental do Estado. Ela encontra-se no ápice do nosso ordenamento jurídico.
O Direito Tributário é ciência que estuda os princípios e as normas que disciplinam a ação estatal de
exigir, fiscalizar e arrecadar os tributos.
Na doutrina de Hugo de Brito Machado, verifica-se que é “o ramo do Direito que se ocupa das
relações entre o fisco e as pessoas sujeitas às imposições tributárias de qualquer espécie, limitando o
poder de tributar e protegendo o cidadão contra os abusos desse poder”.
Em sentido amplo, o Direito Administrativo pode ser conceituado como um ramo do Direito Público
interno que tem como objeto a busca pelo bem comum da coletividade e pelo interesse público.
Contudo, na doutrina brasileira, o conceito de Direito Administrativo é tema de grande divergência.
Essa polêmica decorre de uma definição clara quanto ao seu objeto, que vem sendo sistematicamente
ampliado, modificado, ou mesmo reduzido em alguns pontos, em virtude de novos anseios da sociedade,
como também mutações estatais que foram vivenciadas nas últimas décadas. Vejamos alguns:
Para Celso Antonio Bandeira de Mello[1]: “o direito administrativo é o ramo do direito público que
disciplina a função administrativa, bem como pessoas e órgãos que a exercem”. Percebe-se que o autor
enfatiza a ideia de função administrativa.
Hely Lopes Meirelles, por sua vez, destaca o elemento finalístico na conceituação: os órgãos,
agentes e atividades administrativas como instrumentos para realização dos fins desejados pelo Estado.
Vejamos: “o conceito de Direito Administrativo Brasileiro, para nós, sintetiza-se no conjunto harmônico
de princípios jurídicos que regem os órgãos, os agentes e as atividades públicas tendentes a realizar
concreta, direta e imediatamente os fins desejados pelo Estado”.[2]
Maria Sylvia Zanella di Pietro coloca em evidência como objeto do Direito Administrativo os órgãos,
agentes e as pessoas integrantes da Administração Pública no campo jurídico não contencioso.
Para a autora, o Direito Administrativo é o “ramo do direito público que tem por objeto os órgãos,
agentes e pessoas jurídicas administrativas que integram a Administração Pública, a atividade jurídica
não contenciosa que exercer e os bens de que se utiliza para a consecução de seus fins, de natureza
pública”.[3]
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TÓPICOS ESPECIAIS EM DIREITO PÚBLICO (OPTATIVA)
Segundo José dos Santos Carvalho Filho[4], o Direito Administrativo pode ser conceituado como ramo
do Direito Público que estuda princípios e normas reguladores do exercício da função administrativa.
Fonte é o local de onde algo provém. No Direito, as fontes são os fatos jurídicos de onde nascem
as normas emanam. As fontes jurídicas podem ser de dois tipos:
- secundárias – são instrumentos acessórios para originar normas, derivados de fontes primárias.
No Direito Administrativos, somente a lei constitui fonte primária na medida em que as demais
fontes (secundárias) estão a ela subordinadas.
Doutrina, jurisprudência e costumes são fontes secundárias. A lei é o único veículo habilitado para
criar diretamente deveres e proibições, obrigações de fazer ou não fazer, no Direito Administrativo (art. 5,
II, da CF). A doutrina não cria diretamente a norma, mas esclarece o sentido e o alcance das regras jurídicas
conduzindo o modo como os operadores do Direito devem compreender as determinações legais.
A jurisprudência, entendida como reitera decisões dos tribunais sobre determinado tema, não tem
a força cogente de uma norma criada pelo legislador, mas influencia decisivamente a maneira como
as regras passam a ser entendidas. Os costumes são práticas reiteradas da autoridade administrativa
capazes de estabelecer padrões obrigatórios de comportamentos. Ao serem repetidos constantemente,
criam o hábito de os administrados esperarem aquele modo de agir, causando incerteza e instabilidade
social sua repentina alteração. Importante relembrar que os costumes não têm força jurídica igual à da
lei, razão pela qual só podem ser considerados vigentes e exigíveis quando não contrariarem nenhuma
regra ou princípio estabelecido na legislação. Costumes contra legem não se revestem de obrigatoriedade.
[1]
Curso de Direito Administrativo, p. 37.
[2]
Direito Administrativo Brasileiro, p. 38.
[3]
Direito Administrativo, p. 47.
[4]
Manual de Direito Administrativo, p. 8.
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Unidade I
SERVIÇOS PÚBLICOS
A Constituição Federal de 1988 estabeleceu uma divisão clara entre dois setores de atuação: o
domínio econômico (arts. 170 a 174) e o serviço público (arts. 175 e 176). O domínio econômico
ou a ordem econômica é campo de atuação próprio dos particulares e tem como fundamentos a
valorização do trabalho humano e a livre-iniciativa. Seus princípios estão elencados no artigo 170, da
CF/88, e são: soberania, propriedade privada, função social da propriedade, livre concorrência, defesa
do consumidor, defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o
impacto ambiental de produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação, redução das
desigualdades regionais e sociais, busca do pleno emprego, tratamento favorecido para as empresas de
pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no país.
O Estado atua no domínio econômico como agente normativo e regulador. A exploração direta
de atividade econômica pelo Estado, ressalvados os casos previstos na CF, só será permitida quando
necessária aos imperativos da segurança nacional ou à relevante interesse coletivo (art. 173). Nessas
hipóteses, a atuação estatal na exploração direta da atividade econômica ocorrerá por meio das empresas
públicas e sociedade de economia mista. No tocante à prestação dos serviços públicos, esses são
de titularidade do Estado, somente admitindo a transferência a particulares quando houver expressa
delegação estatal, como ocorre nas concessões e nas permissões.
2- Conceito
Para Maria Sylvia Zanella di Pietro, serviço público é: “toda atividade material que a lei atribui
ao Estado para que a exerça diretamente ou por meio de seus delegados, com o objetivo de satisfazer
concretamente às necessidades coletivas, sob o regime jurídico total ou parcialmente público”.[1]
Hely Lopes Meirelles define como sendo: “todo aquele prestado pela Administração ou por seus
delegados, sob normas e controles estatais, para satisfazer necessidades sociais essenciais ou secundárias
da coletividade ou simples conveniências do Estado”.[2]
Celso Antonio Bandeira de Mello: “serviço público é toda atividade de oferecimento de utilidade
e comodidade material destinada à satisfação da coletividade em geral, mas fruível singularmente pelos
administrados, que o Estado assume como pertinente a seus deveres e presta por si mesmo ou por
quem lhe faça as vezes, sob o regime de Direito Público – portanto, consagrador de prerrogativas de
supremacia e de restrições especiais-, instituído em favor dos interesses definidos como públicos no
sistema normativo”.[3]
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TÓPICOS ESPECIAIS EM DIREITO PÚBLICO (OPTATIVA)
3- Dever de prestar
- Compete à União – art. 21, X a XII: manter o serviço postal e o correio aéreo nacional,
explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços de
telecomunicações, nos termos da lei, explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão
ou permissão, os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e imagens etc.
- Compete aos estados – art. 25, 2º, da CF: serviços locais de gás canalizado, na forma da lei
- Compete aos municípios – art. 30, da CF: organizar e prestar, diretamente ou sob regime
de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte
coletivo, que tem caráter essencial; prestar, com cooperação técnica e financeira da União e do
Estado, serviços de atendimento à saúde da população.
- Compete ao Distrito Federal: são atribuídas as competências legislativas reservadas aos estados
e aos municípios. Art. 32, § 1º.
A execução dos serviços públicos poderá se dar de maneira centralizada ou de forma descentralizada,
a seguir definidas:
• Centralizada: sempre que a execução do serviço for realizada pela Administração direta do
Estado, ou seja, pelo próprio ente político competente, que poderá realizá-las por meio do ente
político ou por meio de seus órgãos, visando a imprimir eficiência aos serviços que disponibiliza,
a exemplo das Secretarias, Ministérios etc.
• Descentralizada: quando os serviços forem prestados por pessoas físicas ou jurídicas que não
se confundem com a Administração direta, mas que podem ou não integrar a Administração
Pública indireta ligada ao ente político competente para a prestação do serviço. Se estiverem
dentro da Administração Pública indireta, poderão ser autarquias, fundações, empresas públicas
ou sociedades de economia mista (Administração indireta do Estado – por outorga). Se estiverem
fora da Administração, serão particulares e poderão ser concessionários e permissionários
(prestação indireta por delegação).
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Unidade I
b) Igualdade: encontra respaldo no art. 5º, da CF/88 – não se pode fazer, no oferecimento dos
serviços públicos, distinção a quem quer que seja. Todos têm direito aos serviços.
Requisitos: os serviços públicos devem ser prestados aos usuários com a observância de certos
requisitos, a fim de que eles estejam sempre adequados à forma em que foram propostos (conforme o
art. 175, § único, IV – CF/88). Portanto, os requisitos mais apontados pela doutrina e jurisprudência são:
b) Continuidade: caráter de contínuo e sucessivo. Uma vez instituído e regulamentado deve ser
prestado normalmente.
c) Eficiência: exige sempre a preocupação com o bom resultado, sem desperdícios. Máximo de
resultado com o mínimo de investimentos.
f) Generalidade: o oferecimento do serviço público deve ser igual para todos. Decorrente do princípio
da igualdade, tracejado no art. 5º, da CF.
g) Cortesia: obriga a Administração a oferecer aos usuários de seus serviços um bom tratamento.
h) Modicidade: impõe que sejam os serviços públicos prestados mediante taxas ou tarifas justas,
pagas pelos usuários para remunerar os benefícios recebidos e permitir o seu melhoramento
e expansão.
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TÓPICOS ESPECIAIS EM DIREITO PÚBLICO (OPTATIVA)
6- Classificação
Vários critérios têm sido adotados pela doutrina para classificar os serviços públicos. Para Hely Lopes
Meirelles, eles podem ser:
1- Quanto à essencialidade
b) Serviços de utilidade pública: são úteis, mas não essenciais, atendem ao interesse da
continuidade, podem ser prestados diretamente pelo Estado, ou por terceiros, mediante
remuneração paga pelos usuários e sob constante fiscalização. São nominados de pró-cidadão.
Ex.: transporte coletivo, energia elétrica, gás, telefonia etc.
2) Quanto à adequação
3) Quanto à finalidade
b) Serviços industriais: não são atividades próprias do Estado. São os que produzem renda
para aquele que os presta. A remuneração decorre de tarifa ou preço público, devendo
ser prestados por terceiros e pelo Estado, de forma supletiva (art. 173, da CF). Ex.: energia
elétrica, transporte público.
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Unidade I
Serviços gerais ou uti universi: não possuem usuários ou destinatários específicos, são prestados
pela Administração Pública à coletividade em geral, sem atender a uma coletividade específica. Têm como
característica sua indivisibilidade, por não poderem ser mensuráveis em sua utilização. Encontram sua
remuneração originária por meio de impostos. Ex.: iluminação pública, calçamento público, asfaltamento
das ruas, implantação de abastecimento de água, prevenção de doenças e outros do gênero.
Serviços individuais ou uti singuli: podem ser mensurados e são divisíveis, pois sua necessidade é
auferida de acordo com a utilização de cada usuário, são remunerados por taxas ou tarifas controladas
pelo Estado. Ex.: serviços de telefonia, iluminação domiciliar. Cada usuário utiliza os serviços conforme
sua necessidade e paga na proporção de sua utilização
Nos termos do disposto no art. 7º, da Lei n. 8987/95, são direitos e obrigações dos usuários, além
daqueles estabelecidos no Código de Defesa do Consumidor:
c) obter e utilizar o serviço, com liberdade de escolha entre vários prestadores de serviços, quando
for o caso, observadas as normas do poder concedente;
Entre a oferta dos serviços públicos e o preço cobrado por tal prestação deve existir uma equidade,
ou seja, o preço não deve ser excessivo e nem a oferta ruim, entre ambos deve existir uma equivalência.
a) Remuneração por taxa: quando a fruição tiver natureza compulsória, deve obedecer ao princípio
da anterioridade (art. 145, II, CF/88) e ser definida por lei.
b) Remuneração por tarifa: quando a fruição for facultativa, pode ser definida por Decreto, não estando
sujeita ao princípio da anterioridade. A taxa ou tarifa deve compensar adequadamente os serviços; os
usuários devem pagar o capital, o melhoramento, a expansão e o lucro se for prestado por terceiros.
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