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Sim, eu continuo insistindo em escrever.

Continuo escrevendo essas coisas sem nexo e todas as


bobagens que me vem à cabeça. Não existe qualquer profundidade lingüística, erudição ou
genialidade no que escrevo. Apenas escrevo. Os fatos vêm à minha mente como o oxigênio que
entra em nossos pulmões e por fim é expelido novamente na atmosfera. Então esse ciclo de
desconexões e bobagens me preenche, se amontoa num compartimento qualquer que parece
sempre estar com sua capacidade excedida, pois quanto mais a mão trabalha, mais as loucuras
vão brotando. É isso que talvez seja o que me faz querer esvaziar esse compartimento através da
escrita: a necessidade de manter essa engrenagem ativa e não deixar que a coisa desande e
ocasione uma catástrofe iminente, um tsunami de pensamentos.

Não sei se já vivi um percentual considerável da minha vida, mas o que já foi vivido sempre
está aí a me fuzilar com sua metralhadora giratória municiada de sentimentos. Sejam eles tristes,
depravados, engraçados, monótonos: é um carrossel que gira constantemente, movido a energia
atômica, na velocidade da luz. Daí eu me fecho nessa redoma de informações e vivências, me
saturo com todas essas loucuras, onde uma vontade de gritar cresce cada vez que outra nova
história é acumulada e não redigida. Eu necessito escrever!

Meu corpo não acompanha o cérebro nesse turbilhão de idéias, a fala não consegue expressar
todos esses sentimentos de uma maneira compreensível, meu problema de dicção também
atrapalha nesse processo de esvaziamento. Tudo bem, eu sei! As mãos também não são tão
ágeis assim para catalogar essas experiências, mas me tranqüilizo, me acalmo, quando as
descrevo e escrevo. Não sei o porquê... Escrever é o que me resta para fugir de todas as
ditaduras. A ditadura do “feliz constantemente” e a do sucesso incondicional, essas são as
piores. Não consigo passar mais de um dia sem me sentir triste ou um perdedor. Sou um
fracasso. Mas quando sento a bunda para escrever, seja lá para o que for, eu vôo e ascendo a
todas as formas físicas possíveis. Ninguém me julga ou me censura (essas barreiras eu mesmo
criava no inicio de tudo, agora não mais), com as palavras sendo derramadas na folha em branco
e traçando um caminho para além do que eu consiga compreender, o compartimento vai se
esvaziando, me aliviando. O processo não falha.

Não é uma simples terapia nem mesmo uma necessidade humana/vaidosa de ser notado, é o
meio mais fácil de brincar quando se é adulto. É como jogar bola na rua de casa com os amigos
da infância até se exaurir; é como tomar banho de cachoeira até os dedos ficarem enrugados;
Escrever é como entrar num parque de diversões com gratuidade em todos os brinquedos sem
pressa pra se divertir e voltar pra casa. Escrever é a máxima da condição humana, é como ir ao
limite do que me faz eu. É o que me faz feliz/vivo.

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