Você está na página 1de 20

I

Responsabilidade Civil Contratual


1º - Elementos essenciais da relação obrigacional
A) Sujeitos
O vínculo obrigacional estabelece-se entre pessoas em sentido jurídico, ou seja, pessoas singulares,
pessoas coletivas e sociedades.
O sujeito ativo é a pessoa em proveito de quem terá de se efetuar a prestação e quem pode exigir o seu
cumprimento.
O sujeito passivo é a pessoa sobre quem recai o devedor de realizar a prestação.
Ora, cada um dos lados da relação obrigacional pode haver um ou mais sujeitos.
B) Objeto
O objeto da relação jurídica define-se como sendo aquilo sobre o qual incidem os poderes do seu titular
ativo.
Ora, cabe distinguir entre o objeto imediato do objeto mediato. O primeiro consiste na prestação devida
com vista à satisfação do interesse do credor. O segundo reside na coisa ou facto que deve ser prestado.
A prestação pode, também, ser de facto ou de coisa. A prestação de facto tanto pode ser de facto positivo
como de facto negativo, seja esse facto de uma abstenção pura ou numa simples tolerância. Quanto a
prestação de coisas, esta pode consistir em dar, em prestar ou de restituir.
C) Facto Jurídico
Para que uma relação obrigacional se se metamorfose de abstrata para concreta é sempre indispensável a
existência de um facto que lhe dê origem.

2º - Sujeitos das Obrigações


A) Obrigações de Sujeito indeterminado
Segundo o Art.511º do CC, a pessoa do credor pode não ficar determinada logo no momento em que se
constitui a obrigação.
Esta indeterminação pode resultar da sua identificação estar dependente de um evento futuro incerto ou
da circunstância de ser apenas De ser apenas indireta ou mediata a ligação entre ele e a relação
obrigacional, determinando-se o credor através da sua qualidade de sujeito de uma relação de outra
natureza.
Por sua vez, é passivo que não pode haver obrigações autónomas de sujeito passivo indeterminado.
B) Obrigações Conjuntas
As obrigações conjuntas são aquelas em que cada um dos credores ou dos devedores apenas compete
uma fração do crédito ou do debito.
À pluralidade de credor ou de devedor correspondem, igualmente, a uma pluralidade de vínculos.
As obrigações conjuntas pressupõem a divisibilidade da prestação, uma vez que, só nesse caso será
possível que um dos credores reclame, ou um dos devedores satisfaça uma parte dela.
C) Obrigações Solidarias
As obrigações solidarias caraterizam-se por haver uma pluralidade de sujeitos tendo em conta a um
cumprimento unitário da prestação.
A solidariedade pode ser ativa ou passiva ou passiva e ativa ao mesmo tempo.
De acordo com o Art.513º do CC a solidariedade entre devedores ou entres os credores constitui um
regime excecional, apenas haverá solidariedade quando esta resulte da lei ou da vontade das partes.
- Solidariedade Passiva
O efeito fundamental da solidariedade passiva consiste em que cada um dos codevedores se responsabiliza
pela inteira prestação.
Logo, o credor pode exigir-lha, no todo ou em parte, da totalidade dos devedores ou só de alguns deles.
Oura consequência da solidariedade é o facto de não ser lícito ao devedor demandado opor o benéfico da
divisão.
Por sua vez, a renuncia à solidariedade apenas a favor de um ou de alguns dos devedores não prejudica o
direito do credor relativamente aos restantes, contra os quais conservar o direito à prestação por inteiro.
O credor que, por meios extrajudiciais, se dirigir sem sucesso a um dos codevedores não se encontra
impedido de reclamar dos outros cumprimentos.
Desde que um dos devedores satisfaça o direito do credor, todos os outros ficam exonerados
relativamente ao credor comum.
Se a prestação se tornar impossível por facto imputável a um dos codevedores, subsiste a responsabilidade
de todos pelo respetivo valor. No entanto, só que ocasiona a impossibilidade responde pelos danos que
excedam o valor da prestação, assim como pelo cumprimento da clausula penal que se tenha estipulado.
Havendo vários devedores culposos, a uma responsabilidade era igualmente solidaria.
O mesmo regime aplica-se à mora de um dos devedores. Também apenas esse fica responsável pelas
consequências que dela resultam.
Se por sua vez, a impossibilidade da prestação se verifique por causa não imputável a qualquer dos
devedores.
No que toca à prescrição, esta corre automaticamente em relação a cada um dos devedores. Assim, a
prescrição que um adquira não aproveita aos restantes, tal como as causas que suspendem ou interrompem
a prescrição a respeito de um dos devedores não afeta a dos demais.
Aquele dos devedores solidários que satisfaça o direito do credor fica perante os outros com o chamado
direito de regresso.
Em princípio, surge entre os vários codevedores uma obrigação conjunta, da qual é credor o devedor
solidário que pagou e são devedores todos os restantes. Só que, no caso de insolvência ou de
impossibilidade de cumprimento de um dos codevedores, a sua quota-parte repartir-se-á
proporcionalmente entre todos os demais, incluindo-se o credor de regresso e os devedores que pelo
credor hajam sido exonerados da obrigação ou apenas do vínculo da solidariedade.
- Solidariedade Ativa
O efeito predominante da solidariedade entre credores é o de cada um deles tem o direito de exigir a
prestação integral, sem que o devedor comum possa aduzir a exceção de que esta não lhe pertence por
inteira.
Pode acontecer que a prestação se torne impossível por facto imputável ao devedor. Neste caso, ira
permanecer a solidariedade relativamente ao crédito de indemnização.
De acordo com o Art.532º a satisfação do direito de um dos credores produz a extinção, relativamente a
todos os credores, da obrigação do devedores.
Como qualquer um deles tem o direito ao cumprimento integral da prestação, permite-se ao devedor a
escolha do credor a que a satisfação, desde que não haja ainda sido judicialmente citado para a respetiva
ação por outro credor cujo crédito se ache prescrito.
Se a prestação se tornar impossível por facto imputável a um dos credores, a obrigação extingue-se.
Todavia, o credor culpado fica obrigado a indemnizar os restantes cocredores.
O credor solidário que vir o seu direito satisfeito para alem do que lhe cabia na relação interna entre os
cocredores, terá de satisfazer aos outros a parte que lhes pertence no crédito comum.

3º - Modalidades da Prestação
A) Prestação de coisas e Prestação de facto
A primeira modalidade consiste na entrega de uma ou várias coisas, tanto moveis como imoveis.
Esta pode consistir num dar, num prestar ou num dar.
A estas obrigações podem estar implícitos certos deveres acessórios
Por sua vez, a prestação de facto pode ser de facto negativo ou de facto positivo. A primeira consiste numa
abstenção ou omissão, enquanto a segunda traduz-se numa atividade ou ação do devedor. Também neste
tipo de obrigações se revela a existência de deveres secundários. Importa ainda distinguir que as prestações
de facto negativo ou constituem um puro não fazer ou podem constituir uma tolerância.
B) Prestações fungíveis e Prestações não fungíveis
A prestação diz-se fungível quando pode ser realizada tanto pelo devedor como por outra pessoa, sem
prejuízo para o credor.
Por sua vez, a prestação diz-se não fungível quando tenha de ser necessariamente cumprida pelo devedor.
A infungibilidade da prestação pode resultar da sua próprio natureza ou da vontade das partes. No
entanto, a infungibilidade da prestação não exclui a possibilidade de o devedor recorrer a auxiliares.
Quando se trate de prestação de coisa, esta prestação, a menos que as partes tenham disposto noutro
sentido, é sempre fungível, um vez que o interesse do credor em receber a coisa pode, em geral, ser
efetuada por qualquer pessoa. No entanto, a coisa objeto da prestação pode ser fungível ou infungível.
Ora, no caso do inadimplemento, se a obrigação é infungível, o credor tem apenas o direito de exigir uma
indemnização dos danos resultantes do não cumprimento.
Tratando-se de uma obrigação fungível, cabe-lhe a faculdade de requerer, em execução, que o fato seja
prestado por outrem a custo do devedor.
Também só a certas obrigações de prestação de facto infungível é que se podem aplicar sanções
pecuniárias compulsórias.
Se a prestação for fungível, a impossibilidade respeitante a pessoa do devedor não o exonera uma vez que
este pode fazer-se substituir por terceiro.
Ao invés se a prestação for infungível, a impossibilidade subjetiva tem como consequência extinguir-se a
obrigação.
C) Prestações instantâneas e Prestações duradoras
As prestações quanto à maneira da sua realização temporal dividem-se em instantâneas e duradoras
Dizem-se instantâneas as prestações a executar num só momento, extinguindo-se a correspondente
obrigação com esse único ato isolado de satisfação do interesse do credor.
Em todos os restantes casos, a prestação qualifica-se como duradoras.
Dentro das duradouras cabem as prestações divididas e as continuadas.
Se o cumprimento se efetua por partes, em momentos temporais diferentes, a prestação diz-se dividida.
Consideram-se continuadas a prestação que consiste numa atividade ou abstenção que se prolonga
ininterruptamente durante um período mais ou menos longos.
Por sua vez, quando existam diversas prestações a satisfazer regularmente ou sem regularidade exata
teremos prestações periódicas.
Ora, só as dividas liquidáveis fracionadamente estão sujeitas a regra do Art.781 ou ao regime especial dos
Art’s.934º e ss.
Nos contratos com prestações periódicas ou continuadas , a impossibilidade da prestação de uma das
partes, durante algum tempo, exonera a outra contraparte relativa a esse tempo (Art.793º)
No caso de uma prestação instantânea pode o risco ficar a cargo do credor.
D) Obrigações Divisíveis e Indivisíveis
A obrigação é divisível quando a prestação comporte fracionamento sem prejuízo da sua substância ou do
seu valor económico.
Por sua vez, diz-se indivisível a obrigação que não possa ser fracionada sem prejuízo para a sua substância
ou para o seu valor económico. Esta pode resultar da própria natureza da coisa (ex: caneta/automóvel), do
acordo das partes ou da lei.
As obrigações divisíveis aplica-se o regime comum. O legislador limitou-se a enunciar quanto a estas o
princípio geral do Art.534º.
O regime legal das obrigações indivisíveis apresenta-se diverso conforme se verifique pluralidade passiva
ou pluralidade ativa.
Havendo vários devedores, só de todos eles pode o credor exigir o cumprimento da prestação. Caso a
obrigação se extinga apenas relativamente a algum ou alguns devedores, o credor continua a poder exigir a
prestação integral dos restantes devedores, embora lhes tenha de entregar o valor da partes que cabia ao
devedor ou devedores exonerados (Art.534º). A doutrina tem intendido que este artigo destina-se a evitar
que a extinção da obrigação de um dos codevedores resulte prejuízo para os outros. Assim, o credor só fica
obrigado à entrega do valor da parte correspondente ao devedor exonerado quando os restantes devedores
veja, as suas contribuições para a prestação agravadas.
A prestação indivisível se se tornar impossível por facto imputável a algum ou alguns dos devedores,
apenas sobre este ou estes recai a responsabilidade pela respetiva indemnização, ficando os outros
exonerados (Art.537º). Quanto aos devedores não responsáveis verifica-se uma situação de
inadimplemento por impossibilidade não culposa (Art.790º e ss.).
Se existirem vários credores, qualquer deles tem o direito de exigir a prestação indivisível por inteiro.
Sendo certo que o devedor enquanto não for judicialmente citado, só relativamente a todos, em conjunto,
se pode exonerar ( Art.538º, nº1). A lei distingue entre o cumprimento por via judicial e o cumprimento
extrajudicial. No primeiro caso, basta a intervenção de um dos credores, no segundo caso, torna-se
necessária a intervenção de todos.
E) Obrigações Genéricas
Obrigação genérica é aquela em que o objeto da prestação se encontra determinado apenas quanto ao
género e quantidade.
As partes podem fixar com mais ou menos amplitude o género em que há de ser efetuada a prestação e,
nessa medida, terá o devedor maiores ou menos possibilidades de cumprimento. Mas o género não pode
ser tão amplo que prejudique a determinabilidade da prestação, nem tão restrito que deixe de ser um
verdadeiro género para constituir um mero conjunto de espécies.
A respeito do preenchimento do género, estabelece o Art.540º que, enquanto a prestação for possível com
coisas do género estipulado não fica o devedor exonerado pelo facto de perecer aquelas com que se
dispunha a cumprir.
A individualização ou determinação do objeto da prestação realiza-se, via de regra, mediante uma
operação de escolha. Esta compete ao devedor, salvo se as partes houverem atribuído ao credor ou a
terceiro essa competência (Art.539º). A escolha realizada pelo devedor antes do cumprimento da obrigação
só possui eficácia desde que se verifique acordo do credor, não bastando que ele conheça ou lhe seja
declarada (Art’s 540º & 541º). Esta solução explica-se pelo facto de que com a concentração do obrigação
transfere-se o risco do perecimento da coisa.
Se a escolha compete ao credor ou a terceiro, importa distinguir se existe ou não prazo fixado. Não
havendo prazo fixado, poderá fazer-se a escolha a qualquer momento, exigindo-se porem que esta seja
comunicada ao devedor ou a ambas as partes (Art.542º, nº1). Por sua vez, se a escolha tiver prazo fixado e
não for realizada no tempo devido, se esta pertencer ao devedor ou a terceiro será esta feita pelo tribunal
(Art.400º), se esta pertencer ao credor , fica a escolha a cabo do devedor (Art.542º).
A concentração do objeto da prestação tem por efeito transforma a obrigação genérica em especifica.
A concentração antes do cumprimento pode verificar-se em virtude de ato do credor ou de terceiro
(Art.542º). Todavia, a lei prevê outras causas que produzem a concentração da obrigação:
1º - Quando haja acordo das partes
2º - Quando o género se extinga a ponto de restar apenas uma das coisas nele compreendidas
3º - Existindo mora creditória (Art.813º)
4º - Mediante a entrega da prestação a transportadora ou expedidor ou a pessoa indicada para a execução
do envio, tratando-se de obrigações em que o devedor se vincula a remeter a coisa para local distinto do
lugar do cumprimento (Art.797º).

Nos contratos com eficácia real, se a transferência da propriedade respeita a coisa indeterminada, o direito
transfere-se, em regra, logo que a coisa se torna determinada com o conhecimento de ambas as partes
(Art.488º, nº2). No entanto, este regime prevê nas suas exceções o regime das obrigações genéricas, sem,
no entanto, indicar quais os aspetos visados. Dai que as soluções se “adquiriram” por vai interpretativa.
Quando a concentração antes do cumprimento por acordo das partes, através da mora creditória ou
ocorrendo a entrega para envio, dá-se transmissão da propriedade e do risco do devedor para o credor. Ora,
nenhum interesse do credor digno de proteção fica descoberto. No entanto, quando a concentração do
cumprimento se opera pela extinção do género, entende o professor Almeida Costa que a transferência da
propriedade e do risco para o adquirente só se opera quando ele conheça o facto da concentração. Só assim
é que o credor pode tomar pelas providencias que considere adequadas a salvaguarda dos seus legítimos
interesses.

Ora, ate a transferência da propriedade o risco corre por conta do alienante e se todo o género
desaparecer ele suporta esse risco, porque não poderá exigir do adquirente a contraprestação. Mas se a
detioração ou perecimento da coisa se da apos a concentração, é o credor que sofre o correspondente
prejuízo, continuado vinculado a sua prestação e não podendo a reaver se já a realizou.

4º - Cumprimento das Obrigações


A) Como Deve ser Feito o Cumprimento
Segundo o nº1 do Art.762º o devedor cumpre a obrigação quando realiza a prestação a que esta vinculado.
A primeira diretriz dada pela nossa lei a este respeito é o da boa-fé das partes (Art.762º, nº2). Assim, as
partes devem atuar pelos ditames da lealdade e da possibilidade.
Quanto ao conteúdo exato do dever de boa-fé terá de ser determinado em face de várias situações
concretas, limitando-se o legislador a estabelecer uma formulação elástica que impõem a cada uma das
partes uma conduta honesta conscienciosa a fim de eu não resultem afetadas os legítimos interesses da
outra.
O princípio base de quem pertence ao devedor cumprir a obrigação nos precisos termos em que foi
constituída tem vários corolários:
1º - A necessidade de acordo do credor para a dação em cumprimento (Art.877º)
2º - A exclusão do “beneficium competentiae”
3º - A exigência integral da prestação

Existe assim um princípio da integralidade do cumprimento, ou seja, a prestação tem de ser efetuada por
inteiro e não fracionadamente, excepto se a convenção das partes, a lei ou os usos sancionarem outro
regime (Art.763º, nº1). Assim, o devedor não pode forçar o credor apenas a receber parte da prestação, ou
por outras palavras, não pode constranger-lho a um cumprimento parcial. Todavia, o credor pode abdica
desta vantagem reclamando apenas uma parte da prestação. No entanto, se o credor apenas exige uma
parte da prestação, isto não impede o devedor da possibilidade de oferecer a prestação por inteiro
(Art.763º, nº2).

Apesar da regra do nº1 do Art.763º, segundo o professor Almeida Costa defende que o princípio da boa-fé
impede a que seja lícito ao credor recusar o cumprimento parcial sem um motivo sério, como por exemplo,
esse cumprimento parcial lhe causar danos. Afasta-se, assim, a recusa da prestação que significa um puro
capricho ou arbítrio. A situação aproxima-se do abuso do direito.
B) Quem pode Efetuar a Prestação
Segundo o Art.767º, nº1, a prestação pode ser feita tanto pelo devedor como por terceiro interessado ou
não no cumprimento da obrigação.
Quanto ao cumprimento efetuado pelo devedor a lei não exige que ele tenha capacidade se a prestação
consiste num simples ato material ou omissão. Mas tal requisito já se torna necessário tratando-se de um
ato de disposição. Porem o credor que haja recebido do devedor incapaz pode opor-se ao pedido de
anulação se o devedor não sofrer prejuízo com o cumprimento (Art.764º, nº1).
Tendo o devedor capacidade pode cumprir ele próprio ou fazer-se substituir no ato da prestação por um
representante voluntario, contando que o cumprimento possa ser efetuado por pessoa diversa do devedor
(Art.767º,nº2).
A lei admite que a obrigação seja cumprida por terceiro. Contudo não pode o credor ser constrangido a
recebe de terceiro a prestação, quando haja acordo expresso em contrário ou quando a substituição o
prejudique (Art.767º, nº2). Alem disso, o terceiro que efetue a prestação deve fazê-lo sabendo que essa se
trate de divida alheia.
Podendo a prestação ser efetuada por terceiro, o credor deve aceitá-la nos mesmo termos em que estava
obrigado a recebê-la do próprio devedor, sob pena de incorrer em mora creditória. A recusa apenas será
licita quando o devedor se oponha ao cumprimento e o terceiro não poder ficar sub-rogado nos direitos do
credor de acordo com o Art.592º. Mas a oposição do devedor não obsta a que o credor aceite validamente a
prestação se o terceiro poder ficar sub-rogado na posição do credor nos termos do Art.592º.
Ora, nenhuma particularidade se regista quando o credor de boa-fé que vê o seu crédito satisfeito. Para o
terceiro, este umas vezes ocupa a posição do credor ou adquire um direito novo contra o devedor, outras
vezes não tem qualquer direito em relação ao devedor.
O terceiro que efetue a prestação pode estar diretamente interessado no cumprimento. Neste caso o
terceiro que cumpre fica investido nas qualidades de credor do antigo devedor. Ou seja, o crédito transmite-
se mediante sub-rogação legal do artigo devedor para o terceiro interveniente (Art.592º, nº1).
Mas a lei admite que a prestação seja efetuada por um terceiro não interessado no cumprimento. Neste
caso o terceiro que cumprir pelo devedor pode também ficar com os direitos que competiam ao credor
desde que que se verifiquem uma cessão (Art.577º e ss.) ou uma sub-rogação convencional (Art.589º e ss.).
Pode também acontecer que o terceiro cumpra a obrigação com o prévio assentimento do devedor
embora não se produza uma sub-rogação dado que a vontade de sub-rogação tem de ser expressa
(Art.590º, nº2).
Apurada tal hipótese se o terceiro agiu na qualidade de mandatário sem representação o devedor terá o
direito a uma indemnização nos termos gerais do contrato de mandato (Art.1180º e ss.). Contudo o terceiro
nada poderá reclamar ao devedor exonerado se queria com o seu ato fazer-lhe uma liberdade.
Não se verificando qualquer dos referidos pressupostos, o terceiro que cumpre a obrigação de outrem sem
um interesse próprio só poderá agir contra o devedor de acordo com as regras da gestão de negócios ou do
enriquecimento sem causa.
C) A Quem pode ser Efetuada a Prestação
Esclarece o Art.769º que a prestação deve ser feita ao credor ou ao ser representante.
Importa distinguir se a representação é legal ou voluntaria.
No segundo caso, a prestação pode ser efetuada quer ao credor quer ao representante. No entanto, a
menos que haja convenção em contrário, o devedor não esta obrigado a satisfazer a prestação ao
representante (Art.771º).
Existindo representação legal que visa suprir a incapacidade do credor, a prestação deve ser feita ao seu
representante legal. Assim, se a prestação for efetuada ao credor incapaz, verifica-se a invalidade do
cumprimento, continuando o dever obrigado a realizar a nova prestação ao seu representante legal. No
entanto, importa neste último caso atender ao regime do Art. 764º, nº2.
Se a prestação for feita a terceiro, esta só extingue a obrigação quando se verifique um dos casos previstos
no Art.770º.
D) Lugar do Cumprimento da Obrigação
O Art.772º, nº1 estabelece o princípio geral segundo o qual na falta de estipulação ao disposição especial, a
prestação deve ser efetuada no lugar do domicílio do devedor.
Se a prestação consistir na entrega de coisa móvel, esta deve ser cumprida no lugar onde essa coisa se
encontrava ao tempo da conclusão do negócio (Art.773º).
Quanto aos obrigações pecuniária, a lei dispõem que a prestação deve ser realizada no domicílio em que o
credor tiver ao tempo do cumprimento ( Art.774º).
Pode acontecer que a prestação se torna impossível no lugar fixado para o cumprimento. Neste caso, se a
obrigação se mantiver, o Art.776º declara que se aplicam as regras supletivas dos Art’s 772º a 774º. Porem
haverá fundamento para considerar a obrigação nula ou extinta sempre que se mostre essencial à satisfação
do interesse do credor que se efetue a prestação no lugar designado no contrato.
E) Quando deve ser Cumprida a Prestação
Se tiver sido estabelecido um prazo ou um dia certo para o cumprimento, deve ser nessa altura que a
prestação se realiza. Este prazo pode ser estabelecido pelas partes, pode resultar da lei ou ser fixado pelo
tribunal.
Não havendo prazo para o cumprimento estaremos perante uma obrigação pura. O princípio geral para
estas esta consagrado no nº1 do Art.772º segundo o qual na falta de estipulação ou disposição especial da
lei, o credor tem o direito de exigir a todo o tempo o cumprimento da obrigação, assim como o devedor
pode a todo o tempo exonerar-se dela. Fica, assim na dependência da vontade das partes o vencimento da
obrigação sem prazo.
O modo pelo qual o credor pode exigir o cumprimento por parte do devedor denomina-se de interpelação.
Esta pode ser judicial ou extrajudicial. Estatui o Art.803º, nº1 que o devedor só fica constituído em mora
depois de ter sido judicial ou extrajudicialmente interpelado para cumprir.
No nº2 do Art.777º, estabelece-se que, se pela própria natureza da prestação, que por virtude das
circunstâncias que a determinaram, quer por força dos usos pode se necessário o estabelecimento de um
prazo.
Sendo a estipulação do prazo deixada ao credor, devera ele proceder de acordo com os princípios da boa-
fé (Art.777º, nº3).
Para alem da fórmula geral consagrada no Art.777º a nossa lei estatui prazos especiais para o cumprimento
de algumas obrigações.
As obrigações a prazo são aquelas que tem um termo de vencimento estabelecido pelas próprias partes.
Esta vencem-se automaticamente sem necessidade de interpelação do credor
A prepósito destas pode perguntar-se em benéfico de quem o mesmo se encontra estabelecido. Não
havendo convenção das partes, a lei consagra no Art.779º que o prazo tem-se estabelecido a favor do
devedor, quando não se mostra que o foi estabelecido a favor do credor, ou a favor do devedor ou do
credor conjuntamente.
Ainda que haja um prazo a benefício do devedor, o credor pode exigir antecipadamente o cumprimento da
obrigação verificando-se certas circunstâncias. Estas vem indicadas no Art.780º, nº1. Verificando-se uma
dessas situações, o credor pode reclamar o cumprimento imediato da obrigação. Contudo, o nº2 do
Art.780º o credor pode exigir ao devedor em lugar da cumprimento imediato da obrigação, a substituição
ou reforço das garantias, se estas sofrerem diminuição.
Uma terceira hipótese refere-se as dividas liquidáveis em prestações. Segundo o Art.781º a obrigação que
puder ser liquidável em duas ou mais prestações, a falta de realização de uma delas importa o vencimento
de todas. No entanto, o Art.934º regula um regime diferente no caso de compra e venda a prestações.

5º - Não Cumprimento das Obrigações


A) Responsabilidade do Devedor pelo Não Cumprimento
O princípio básico é o de que o devedor que falta culposamente ao cumprimento da obrigação se torna
responsável pelos prejuízos ocasionados ao credor.
A lei estabelece uma presunção de culpa do devedor. Logo é a este que cabe provar que o não
cumprimento não se deve a culpa sua (Art.799º).
A1) Não Cumprimento Definitivo
Quando este ocorre por culpa do devedor, o credor tem direito a uma indemnização pelos danos sofridos.
Constituem causas de determinação do inadimplemento definitivo a perda de interesse do credor e a
inobservância de uma prazo suplementar razoável por ele fixado (Art.808º). Se a obrigação resulta de um
contrato bilateral, a lei concede ainda ao credor o direito de resolvê-lo, podendo exigir a restituição por
inteiro da sua contraprestação, se já a houver efetuado (Art.801º, nº2). Cabe, assim, ao interessado optar
entre a indemnização compensatória dos prejuízos sofridos pelo não cumprimento e a resolução do
contrato.
O Art.801º, nº2,confere o direito a resolução sem embargo do direito a indemnização. O que se discute é
se a indemnização que se cumula com a resolução visa colocar o lesado na situação em que estaria se não
tivesse celebrado o contrato (Interesse Contratual Negativo) ou na posição que se encontraria se o contrato
fosse cumprido (Interesse Contratual Positivo). Ora afigura-se que a nossa lei consagrou a primeira solução.
Seria contraditório que o lesado optasse pela resolução do contrato e pedisse a indemnização pelo seu não
cumprimento.
Na hipótese de a prestação se tornar apenas parcialmente impossível, poderá o credor escolhe entra a
resolução do negócio e o cumprimento do que for possível, reduzindo a sua contraprestação se for devida.
Mantem-se no entanto, o direito à indemnização (Art.802º).
A lei atribui ,ainda, ao credor a faculdade de reclamar o chamado «commodum» de representação. Porem
se o credor reclamar o cómodo representativo, este será reduzido no montante da indemnização dos danos
a que porventura tenha direito (Art.803º).
A2) Mora
A simples mora do devedor obriga-o a reparar os danos causados ao credor (Art.804º). Verifica-se mora se
houve atraso culposo no cumprimento, mas subsiste a possibilidade futura deste.
Em princípio o devedor só fica constituído em mora depois de uma sua interpelação, judicial ou
extrajudicial, para cumprir (Art.805º, nº1). No entanto haverá mora debitória independentemente de
interpelação nas situações previstas no Art.805º.
A pura mora não extingue a obrigação, continuando o devedor adstrito a satisfazer a prestação respetiva.
Nem o credor pode resolver o contrato que esteja na base da obrigação, enquanto o atraso do devedor não
se equipare a incumprimento definitivo. Apenas lhe cabe a faculdade de estabelecer um prazo suplementar
razoável, mas perentório, para a realização da prestação (Art.808º, nº1), pois não se compreenderia que a
mora se mantivesse por tempo indefinido.
A mora debitória tem efeitos. Reconduzem-se antes de tudo, à indemnização dos prejuízos causados ao
credor (Art.804º, nº1). Esta determina-se nos termos gerais. Todavia a lei dispõem alguns preceitos
especiais: Quanto as obrigações pecuniárias (Art.806º); Quanto a mora do locatário (Art.1041º); Quanto a
mora do mutuário (Art.1145º); Quanto à mora no pagamento das prestações anuais a cargo do superficiário
(Art.1531º, nº2).
O devedor moroso torna-se responsável pelo risco da deterioração ou perda da coisa devida, mesmo que
esses factos lhe não sejam imputáveis (Art.807º, nº1). Fica alva nos termos do nº2 do mesmo artigo a
possibilidade de o devedor provar que o credor teria sofrido igualmente os danos se a obrigação tivesse sido
cumprida em tempo.
B) Causas Legitimas de Não Cumprimento
Em certas hipóteses embora a prestação se mostre possível, é lícito ao devedor recusar o cumprimento da
obrigação a que se acha vinculado.
Uma delas consiste na exceção de não cumprimento (Art.428º a 431º). A outra é o direito de retenção (Art.
754º). Nestes dois exemplos a lei visa a tutela de um crédito do devedor contra o seu credor. Todavia,
existem situações em que a faculdade de não cumprir é outorgada ao devedor para a defesa de certos
interesses deste como tal. Assim sucede quando se verifica a falta de cooperação do credor que não impeça
o cumprimento de que constituem hipóteses típicas a recusa de quitação (Art.787º, nº2) e circunstancia de
o devedor não poder efetuar a prestação com segurança por motivo relacionado com a pessoa do credor
(Art.841º,nº1, al.a)).
C) Causas de Inadimplemento não Imputáveis ao Devedor
Exclui-se a responsabilidade do devedor pelo incumprimento definitivo, simples mora ou cumprimento
defeituoso, sempre que tais situações derivem de facto do credor ou de facto não imputável nem a um nem
a outro. Ocorre a última hipótese quando o inadimplemento derive de facto de terceiro ou, em termos
gerais, exista caso fortuito ou de força maior.
Estatui o nº1 do Art.790º que a obrigação se extingue quando, por causa não imputável ao devedor, ocorre
impossibilidade objetiva da prestação. Mas só a impossibilidade absoluta libera o devedor e não a mera
impossibilidade relativa. À esta equipara-se a impossibilidade subjetiva quando o devedor não se possa fazer
substituir por terceiro no cumprimento (Art.791º).
A impossibilidade da prestação no que respeita a contratos bilaterais tem normas especiais. Aqui importa
distinguir se a prestação se torna impossível virtude causa não imputável a qualquer das partes ou por causa
imputável ao credor. Na primeira hipótese fica o credor desobrigado da contraprestação e assiste-lhe o
direito de reaver o que já tenha prestado. Na segunda hipótese o credor não fica liberto da contraprestação,
mas desconta-se nela o benefício que, porventura, o devedor consiga com a respetiva exoneração (Art.795º)
A impossibilidade pode ser temporária. Esta consiste numa situação diversa da mora, dai que se excluem
os seus efeitos gravosos. Enquanto a impossibilidade for temporária, o devedor não responde pelos
prejuízos resultantes da retardação (Art.792º). Todavia a outra parte, estando em causa um contrato
bilateral, tem a possibilidade de invocar a exceção do não cumprimento.
Se a impossibilidade for parcial o devedor exonera-se prestando o que for possível com a redução
proporcional da contraprestação (Art.793º). Porem o credor dispõem da faculdade de resolver o contrato
baseado em justificada falta de interesse no cumprimento parcial da obrigação.
D) Mora do Credor
Esta libera o devedor da responsabilidade pelo não cumprimento. Esta ocorre quando o credor, sem
motivo justificado, não aceita a prestação que lhe é oferecida nos termos legais ou não pratica os atos
necessários ao cumprimento da obrigação.
A constituição do credor em mora não exige que a sua falta de cooperação seja culposa.
Uma das consequências da mora creditória traduz-se na isenção de responsabilidade moratória do devedor
(Art.798º). Por outro lado, a mora proporciona ao devedor a faculdade de se exonerar da obrigação
mediante consignação em deposito (Art.841º). É necessário que se trate de prestação de coisa.
Caso o devedor não se exonera da obrigação verifica-se um abrandamento da responsabilidade debitória.
Quanto ao objeto passa a responder apenas pelo seu dolo. Em relação aos proventos da coisa o devedor
tão-só responde pelos que hajam sido percebidos. E a divida deixa de vencer juros sejam de que tipos sejam
(Art.814º).
Dá-se também a inversão do risco. Assim o risco do perecimento e da deterioração da coisa, por facto não
impotável a dolo do devedor, passa a recair sobre o credor. Sendo o contrato bilateral o credor moroso não
fica desobrigado da contraprestação, mas descontar-se-á neste valor de algum benefício que o devedor haja
porventura obtido com a extinção da sua obrigação (Art.815º).
Por sua vez, o devedor tem o direito a uma indemnização pelas maios despesas que tenha de realizar
(Art.816º).
II
Responsabilidade Civil Extracontratual
1 - Distinção entre a responsabilidade civil contratual e extracontratual
Distingue-se a responsabilidade civil em contratual e extracontratual:
- A responsabilidade contratual resulta da violação de um direito de crédito ou uma obrigação em sentido
técnico. Estes podem resultar de negócios jurídicos unilaterais, de contratos ou diretamente da lei.
- A responsabilidade extracontratual abrange os restantes casos de ilícito civil. Esta deriva da violação de
deveres ou vínculos jurídicos gerais, ou seja, de deveres de conduta impostos a todas as pessoas e que
correspondem aos direitos absolutos, ou ate da prática de atos que, embora lícitos, produzem dano a
outrem.
Ora, a responsabilidade extracontratual encontra-se nos arts. 483º e ss., enquanto a responsabilidade
contratual encontra-se regulada nos arts. 798ºe ss. A estas duas formas de responsabilidade interessam
ainda os arts. 562º e ss.
As diferenças essências entre estas são:
- A culpa presume-se na responsabilidade contratual (Art.799º) e não na responsabilidade extracontratual
(Art.487º,nº1).
- Em caso de pluralidade passiva, o regime é o da solidariedade na responsabilidade extracontratual
(Art.497º & 507º), ao invés na do que sucede na responsabilidade contratual, excepto se a próprio
obrigação viola tinha a natureza solidaria (Art.513º).
- A possibilidade de graduação equitativa da indeminização quando haja mera culpa do lesante, está apenas
consagrada na lei para a responsabilidade extracontratual (Art.494º), ideia que não se estende a
responsabilidade civil tendo em conta as legitimas expectativas do contraente lesado.
- Quanto a prescrição, vigora na responsabilidade extracontratual certas normas especiais respeitantes ao
prazo, a qual o fixa em 3 anos (Art.498º), enquanto a responsabilidade contratual se encontra submetida ao
prazo ordinário de 20 anos (Art.309º).
- A responsabilidade contratual por facto de 3º não depende do pressuposto da comissão, requisito
estabelecido para a responsabilidade extracontratual (Art.500º).

2 - Responsabilidade por Factos Ilícitos


O princípio geral da matéria encontra-se consagrado no art. 483º do CC.
O dever de reparação resultante da responsabilidade civil por factos ilícitos depende de vários
pressupostos. Na terminologia técnica corrente, como elementos constitutivos da responsabilidade civil
extracontratual: o facto, a ilicitude, a imputação do facto ao lesante, o dano e o nexo de causalidade entre o
facto e o dano.

2.1 - Facto Humano


Na raiz da responsabilidade civil por factos ilícitos esta necessariamente uma conduta da pessoa obrigada a
indemnizar, ou seja, um facto voluntario.
Excluem-se assim, os factos naturais produtores de danos, ou seja, facto de que não dependam a vontade
humana ou que sejam por ela incontroláveis.
Por sua vez, não se exige que os factos sejam intencionais ou ainda que o agente possua capacidade de
exercício de direitos.
Via de regra, a conduta do agente constitui um facto positivo, ou seja uma ação stricto sensu, admite-se
também que um facto negativo, ou seja, uma omissão pode ocasionar danos.
É no Art.486º que a lei refere esta posição. Segundo este artigo, as omissões só geram responsabilidade
civil desde que se verifique um pressuposto específico: que exista um dever jurídico da prática do ato
omitido.
Este dever jurídico de agir pode resultar da lei ou de negócio jurídico. Todavia, parece razoável, no âmbito
da autonomia privada, equipara ao negócio jurídico certos casos porventura qualificáveis como relações de
facto. Do mesmo modo cabe admitir-se que sempre que na esfera do direito penal impenda sobre o
omitente o dever de agir, deve-se, no plano civilística, afirmar a existência de idêntico conteúdo que o
responsabiliza caso o dano efetivamente se produza.

2.2 - Ilicitude
A ilicitude consiste na infração de um dever jurídico.
É o Art.483º que fixa o princípio geral da matéria, onde se indica as duas formas essências de ilicitude:
A) Violação de um direito de outrem
Neste incluem-se tipicamente as ofensas de direitos absolutos. Quanto aos direitos familiares pessoais,
tem sido doutrina maioritária que a sua infração não origina um dever de indemnizar, mas esta regra
excetua-se quanto as direitos familiares patrimoniais.
B) Violação de disposições legais destinadas a proteger interesses alheios
Este grupo tem em conta a ofensa de deveres impostos por lei que vise a defesa de interesses particulares,
sem que confira quaisquer direitos subjetivos.
Contudo, a invocação desta vertente da ilicitude depende da verificação de certos requisitos próprios:
1º - Que a lesão dos interesses dos particulares corresponda a uma ofensa de uma norma legal
2º - Que se trate de interesses alheios legítimos ou juridicamente protegidos por essa norma, e não simples
interesses reflexos ou por ela apenas reflexamente protegidos, enquanto tutela interesses indiscriminados
3º - Que a lesão se efetive no próprio bem jurídico ou interesse privado que a lei tutela
No entanto, a lei não se limita como Art.483º, completando com alguns casos especiais de ilicitude e que
não se enquadrariam nessa previsão genérica.
C) Ofensa do crédito ou do bom nome (Art.484º)
A regra consiste na irrelevância da veracidade ou falsidade do facto, mas sempre que estejam em causa a
proteção de interesses legítimos, parece de admitir a «exceptio veritatis». Por sua vez, o facto afirmado ou
difundido deve mostrar-se suscetível de afetar o crédito ou a reputação da pessoa visada.
D) Prestação de conselhos, recomendações ou informações (Art.485º)
Regra geral, os conselhos, recomendações ou informações não dão origem a responsabilidade civil, ainda
que haja dolo da parte de quem os da.
No entanto, este preceito prevê certas exceções a esta regra:
1º - Quando se haja assumido a responsabilidade que pelos conselhos, recomendações ou informações
resultarem para o destinatário
2º - Quando exista o dever jurídico legal ou convencional de aconselhar, recomendar ou informar
3º -Quando a conduta do agente constitua crime

2.2.1 - Causas de exclusão de ilicitude


Estas tratam-se de circunstâncias que, a verificarem-se, excluem a ilicitude do ato por parte do agente e
consequentemente a responsabilidade civil.
A) Exercício e um direito ou cumprimento de um dever
O facto danoso não é ilícito quando praticado no reguçar exercício de um direito ou no cumprimento de
um dever jurídico.
A pessoa que viola um direito alheio no exercício de um direito próprio não atua ilicitamente. No entanto,
importa atender ao disposto no Art.335º e também os limites impostos pelo instituto do abuso do direito
(Art.334º).
De igual modo não se verifica responsabilidade dos que atuam no cumprimento de um dever jurídico.
Existindo colisão de deveres caberá ao agente dar prevalência ao mais importante. Essa supremacia é
determinada pelo valor do bem ou mais interesse que se visa prosseguir ou proteger. No entanto, este só
serve se o sujito não contribui culposamente para a impossibilidade de satisfazer de ambos.
B) Ação Direita (Art.336º)
A ação direta consiste no recurso à força com o fim de realizar ou assegurar o próprio direito.
Em matéria de exercício de direitos o princípio fundamental é o da proibição da autodefesa (Art.1º do
Cod.Proc.Civl).
Segundo o Art.336º, a licitude da ação direta depende da verificação dos seguintes requisitos:
1º - Que se trate de realizar ou assegurar um direito próprio
2º - Que haja impossibilidade de recorrer em tempo útil aos meios coercivos normais para evitar a
inutilização pratica desse direito
3º - Que o agente não exceda o estritamente necessário para impedir o prejuízo
4º - Que não se sacrifiquem interesses superiores aos que se visam defender
Se o titular do direito proceder na convicção errónea de que se verificam os pressupostos justificativos da
ação direta, nem por isso deixa essa de ser ilícita.
C) Legitima Defesa (Art.337º)
Pode definir-se a legitima defesa como sendo a realizada pelo próprio titular de um direito, ou por terceiro,
contra uma agressão atual e ilícita a esse direito, quando não for possível, em tempo útil, recorrer à
autoridade publica.
Como requisitos da Legitima defesa existem:
1º - Que haja uma agressão atual e ilícita contra a pessoa ou património do agente ou de terceiro
2º - Que seja impossível de recorrer aos meios normais para afastar essa agressão
3º - Que o prejuízo causado pelo ato não seja manifestamente superior ao que pode resultar da agressão.
Havendo excesso de legitima defesa, esta encontra-se justificada sempre que se deva a perturbação ou
medo não censurável do agente.
Por sua vez, se o agente atuar na suposição errónea de se verificaram os pressupostos da legitima defesa,
não afasta este erro a obrigação de indemnizar, exceto se esse erro for desculpável.
D) Estado de Necessidade (Art.339º)
Atendendo a letra da lei, parece que o referido apenas admite o sacrifício de coisas pu direitos patrimoniais
alheios, inclusivo através do ato menos prejudicial do seu simples uso.
Todavia, a ideia de ponderação de interesses subjacente ao estado de necessidade torna-o suscetível de
abranger situações em que se verifique a violação de bens pessoais.
Os requisitos do estado de necessidade são:
1º - A existência de um perigo atual
2º - Que esse perigo ameace um direito ou um bem jurídico relativo à pessoa ou ao património do agente
ou de terceiro
3º - Que a conduta do agente seja o meio necessário para preservar o direito ou bem jurídico em causa
4º - Que os interesses defendidos devem ser manifestamente superiores aos sacrificados
O nº2 do Art.339º estabelece soluções diversas, consoante a situação de necessidade seja ou não criada
por culpa exclusiva do autor da destruição ou dano. No primeiro caso, ele fica obrigado a indemnizar o
lesado pelo prejuízo sofrido, no segundo caso, pode o tribunal fixar uma indeminização equitativa e
condenar nela não só o agente, como aqueles que tiraram proveito do ato ou contribuíram para o estado de
necessidade.
E) Consentimento do Lesado
Segundo este, o ato lesivo dos direitos de outrem é lícito desde que o ofendido consinta na lesão. No
enanto, ainda que o lesado concita, se o ato por parte do agente for contrário a uma proibição legal ou aos
bons costumes, esse consentimento não exclui a ilicitude do ato.
Por outro lado, entende-se que o consentimento do lesado deve anteceder o ato, uma vez que, apos este
apenas se pode verificar uma renúncia aos efeitos da ilicitude do ato.
Existe para esta figura uma presunção do consentimento do lesado, quando esta se de no seu interesse e
de acordo com a sua vontade presumida.

2.3 - Imputação do Facto ao Lesante


Ora, não basta que se verifique a violação ilícita de um direito ou interesse juridicamente protegido de
outrem. Impõem-se ainda que se tenha procedido com dolo ou mera culpa.
A culpa em sentido amplo consiste precisamente na imputação do facto ao agente. A culpa traduz-se numa
determinada posição ou situação psicológica do agente para com o facto.
A lei exige que a violação ilícita dos direitos ou interesses de outrem esteja ligada a uma certa pessoa, a de
maneira que possa afirmar-se, não só que foi obra sua, mas também que ela podia devia, nas circunstâncias,
ter agido diversamente.
Esta pressupõem dois pressupostos:
1º - Que o agente seja imputável.
Consideram-se não imputáveis as pessoas que no momento em que o facto danoso ocorre se encontrem
privadas do discernimento suficiente para prever o dano, a menos que o agente se tenha colocado
culposamente nesse estado, sendo ele transitório. Em relação aos menores de sete anos aos interditos por
anomalia psíquica presume-se a falta de imputabilidade.
Todavia, mesmo os não imputáveis podem ser condenados a reparar total ou parcialmente os danos
causados, desde que não seja possível obter a reparação do dano por parte daquele a quem incumbe a sua
vigilância.
2º- Que a conduta do agente seja reprovável
Para apurar deste pressuposto importa distinguir entre as modalidades de culpa. Estas são
fundamentalmente duas: o dolo e a negligencia (mera culpa).
A negligencia consiste no simples desleixo, imprudência ou inaptidão. Logo, o resultado ilícito deve-se
somente a falta de cuidado, imprevidência ou imperícia.
O dolo consiste na representação do resultado por parte do agente, sendo que este age com o fim de
obter esse resultado.
O dolo pode ter uma de 3 categorias:
A) Dolo Direito : O agente representa e age com o intuito de atingir o resultado ilícito da sua conduta
B) Dolo Necessário: Este ocorre quando o agente não tem intenção de causar o resultado ilícito, mas sabe
que este constituirá uma consequência necessária e inevitável do efeito imediato a que a sua conduta visa.
C) Dolo Eventual: Neste o agente representa o resultado como consequência possível do seu
comportamento, e atua conformando-se com a possibilidade da sua verificação
A negligencia pode ter uma de duas categorias:
A) Negligencia Consciente: Nesta, o agente representa o resultado como consequência possível da sua
atuação, mas atua com a convicção de que ele não se vai verificar
B) Negligencia Inconsciente: Nesta o agente nem sequer representa o resultado como consequência
possível da sua atuação
A lei consagra que a apreciação da culpa, não havendo outro critério legal para o efeito, em abstrato.
Assim, a culpa aprecia-se em face das circunstâncias de cada caso, pela diligencia de um bom pai de família.

2.3.1 - Prova e Presunções de Culpa


Incube ao lesado provar a culpa do autor da lesão, excepto se sobre este recair uma presunção legal de
culpa.
A lei consagra quatro presunções de culpa a respeito da responsabilidade subjetiva:
A) Havendo danos causados por incapazes presume-se e existência de culpa da parte das pessoas que, em
virtude da lei ou de negócio jurídico, estavam obrigadas à sua vigilância. No entanto, estas não respondem
se provarem que cumpriram o seu dever de vigilância ou que os danos se teriam produzido ainda que o
tivessem cumprido.
B) O proprietário ou possuidor, a respeito dos danos derivados de edifícios ou outras obras que ruírem, no
todo ou em parte, como consequência de vicio de construção ou defeito de conservação. Também aqui o
agente pode afastar a responsabilidade se provar que não existiu culpa sua, ou que, mesmo com a diligencia
devida, se não teriam evitado os danos.
C) Havendo danos causados por coisas ou animais, presume-se a culpa daqueles que os detenham e tenham
o dever de vigiá-la. Aqui afasta-se a responsabilidade através da falta de culpa ou de que os danos se teriam
igualmente verificado.
D) A lei consagra ainda uma presunção de culpa caso o dano se deu devido ao exercício de uma atividade
perigosa, que pela sua própria natureza ou pele natureza dos meios utilizados. Neste caso, pode o agente
afastar a sua responsabilidade derivada de tais danos se o agente mostrar que empregou todas as
providencias exigidas pelas circunstâncias com o fim de as prevenir.

2.4 - Dano
Requisito essencial da responsabilidade civil é a verificação de um dano ou prejuízo a ressarcir.
Na perspetiva da responsabilidade civil, dano ou prejuízo é toda a ofensa de bens ou interesses alheios
protegidos pela ordem jurídica.
Classificações de Danos:
A)
Danos Patrimoniais: Estes incidem sobre interesses de natureza material ou económica.
Danos Não Patrimoniais: Estes incidem sobre valores de ordem espiritual, ideal ou moral.
B)
Danos Pessoais: Estes são danos que se produzem sobre pessoas.
Danos não Pessoais: Estes são danos que incidem sobre coisas.
C)
Dano Real: Prejuízo que o lesado sofreu em sentido naturalístico
Dano de Cálculo: Consiste na expressão pecuniária de tal prejuízo
D)
Dano emergente: Este compreende a perda ou diminuição d valores já existentes no património do lesado
Lucro Cessante: Estes dizem respeito aos benefícios que el deixou de obter em consequência da lesão
E)
Danos Presentes: Estes são os danos que já se encontram verificados a data da fixação da indemnização
Danos Futuros: Estas são os danos que ainda não se verificaram a data da fixação da indemnização. Estes só
serão indemnizáveis se forem previsíveis

2.4.1 - Ressarcibilidade dos danos não patrimoniais


Entende-se que os danos não patrimoniais, embora insuscetíveis de uma verdadeira e própria reparação
ou indeminização, podem ser, em todos o caso compensados.
No entanto, apenas serão indemnizáveis os danos não patrimónios que pela sua gravidade mereçam a
tutela do direito.
Quanto a responsabilidade civil pelo risco, a sua aplicação a esta estende-se diretamente pela aplicação do
Art.499º,que define que as disposições da responsabilidade aplica-se a responsabilidade pelo risco.
Quanto a sua aplicação na responsabilidade contratual, ainda que estes não sejam danos comuns a esta
responsabilidade, nada obsta a que se estes, desde que tenham uma gravidade tal que mereçam a tutela do
direito, sejam indemnizáveis.

2.5 - Nexo de Causalidade entre o Facto e o dano


Este último pressuposto vem ainda enunciado no nº1 do Art.483º.
Não há que ressarcir todos e quaisquer danos que sobrevenham ao facto ilícito, mas tão-só os que ele
tenha na realidade ocasionado (Art.563º).
Muitas vezes a determinação do nexo causal entre o facto e o dano se mostra expedita. Todavia não raro
ela se analisa também numa operação mais ou menos complexa. Dai que se ponha a questão dos critérios a
utilizar no aferimento da suficiente ligação causal do dano ao faco, quer dizer, na definição dos prejuízos
reparáveis.
Para aferir a causalidade entre o facto e o dano existem atualmente três doutrina:
A) Doutrina da Equivalência das Condições
Segundo esta doutrina consideram-se prejuízos causados por um facto todos os que não se teriam
produzido se esse facto não houvesse sido praticado.
Esta doutrina poe em destaque aspetos importantes. Desde logo a necessidade de que o facto danoso seja
condição do prejuízo.
Alem disso, destaca a responsabilidade do homem pelos danos resultantes de forças naturais
desencadeadas por ação sua.
B) Doutrinas Seletivas
Nesta linha sustentam certos autores que será causa a condição mais próxima a última posta. Outros
entendem por causa a condição que na verdade foi eficaz o proeminente em relação às restantes.
Também estas construções trouxeram algum contributo positivo à solução do problema. Mas todas elas
apresentam um defeito comum, uma vez que partem do princípio que é possível estabelecer uma diferença
objetiva entre a causa e simples condição.
C) Doutrina de Causalidade Adequada
Segundo esta doutrina considera-se que há nexo entre o facto e o dano quando este, em abstrato, se
mostra adequado a produzi-lo.
Ora, esta parte da equivalência das condições, no entanto, o nexo deixa-se de verificar sempre que de
acordo com a lição da experiência comum e dadas as circunstâncias do caso, não se possa afirmar . em
termo de probabilidade que o facto originaria normalmente o dano.
Neste juízo de adequação abstrata deve atender-se, tanto as circunstâncias cognoscíveis à data da
produção do facto por uma pessoa normal, como às na realidade conhecidas do agente.

3º - Responsabilidade pelo Risco


Em regra a ilicitude e a culpa são requisitos da responsabilidade cível extracontratual (Art.483º).
No entanto há situações denominadas de responsabilidade objetiva ou pelo risco. Dispensa-se, pois, a
culpa do agente ou responsável.

3.1º - Responsabilidade do Comitente


Este vem regulado no Art.500º.
Ora, impõe-se, em primeiro lugar a existência de uma relação de comissão, ou seja, exige-se que uma
pessoa tenha encarregado outra de uma comissão ou serviço, consistindo num ato isolado ou numa
atividade duradoura. O que importa é que o comissário se encontre numa relação de subordinação ou
dependência quando a este último.
Um segundo requisito consiste em recair sobre o próprio comissario a obrigação de indemnizar. Torna-se,
no entanto, necessário que este haja praticado com culpa o facto ilícito causador do dano. No entanto, se o
comitente tiver agido com culpa, este requisito é dispensado.
Por sua vez é necessário que o comissario tenha praticado o facto danoso no exercício das suas funções,
ainda que intencionalmente ou contra as instruções daquele.
Quando o comitente satisfaça a obrigação tem o direito de regresso sobre o comissario excepto se houver
também culpa, caso em que se aplicara o Art.497º, nº2.

3.2º - Responsabilidade do Estado e de Outras Pessoas Coletivas Publicas


Esta vem regulada no Art.501º.
Este artigo aplica-se, apenas, quando se trate de atos no âmbito da gestão privada, ou seja, quando a
atividade se decorre sobre a égide do direito privado.

3.3º - Danos causados por Animais


Este vem regulado no Art.502º.
Este ocorre quando alguém utiliza animais no seu interesse e esses animais causam danos. No entanto,
esse dano tem de resultar do perigo especial que envolve a sua utilização.

3.4º - Acidentes Causados por Veículos de Circulação Terrestre


Esta disciplina vem regulada nos Art’s 503º a 508º.
Antes de mais importa referir que excluem-se desta a navegação fluvial e a navegação aérea.
A) As Pessoas Responsáveis
Esta disciplina vem regulado no Art.503º.
Segundo este, respondem pelos danos que o veículo causarem quem tenha o poder de facto sobre ele,
acompanhado ou não de legitimação jurídica, e o utilize em proveito próprio, mesmo que através de
comissario, sendo indiferente que o veículo se encontre em circulação.
Quanto aos inimputáveis o artigo remeta a sua responsabilidade para o Art.489º.
Por sua vez, aquele que conduz o veículo por conta de outrem, só responde pelos danos que causar. A lei
consagra uma presunção de culpa em consequência da qual o condutor resultará responsabilizado sempre
não consiga ilidi-la. Porem só existe responsabilidade objetiva do condutor quando ele dirija o veículo fora
das suas funções, ai responde como detentor.
B) Beneficiários da Responsabilidade
Esta matéria em estabelecida no Art.504º.
Quanto a terceiros, o conceito de terceiro para este efeito são aqueles que se encontrem fora do veículo
tais como aqueles ocupadas na atividade do veículo sempre que o acidente se relacione com os riscos que
são próprios daquele.
Relativamente as pessoas transportadas em virtude de contrato a lei declara que a responsabilidade
abrange apenas os danos que atinjam as próprias ou as coisas por elas transportadas.
Se o transporte for gratuito a responsabilidade cobre apenas os danos pessoais sofridos pelo transporte.
C) Causas de Exclusão da Responsabilidade
Entre estas temos (Art.505º):
1º - Se o acidente for imputável ao próprio lesado
2º - Se o acidente for imputável a terceiro
3º - Se este resultar de força maior estranha ao funcionamento do veículo

D) Colisão de Veículos

Este vem regulado no Art.506º.

Não havendo culpa de nenhum dos condutores, importa distinguir se os danos são produzidos por um ou
ambos os veículos. No primeiro caso, apenas p detentor do veículo que originou os danos é obrigado a
indemnizar. No segundo caso, a responsabilidade é repartida na proporção em que o risco de cada um dos
veículos tenha contribuído para os danos.

Você também pode gostar