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Apontamentos de Responsabilidade Civil
Apontamentos de Responsabilidade Civil
3º - Modalidades da Prestação
A) Prestação de coisas e Prestação de facto
A primeira modalidade consiste na entrega de uma ou várias coisas, tanto moveis como imoveis.
Esta pode consistir num dar, num prestar ou num dar.
A estas obrigações podem estar implícitos certos deveres acessórios
Por sua vez, a prestação de facto pode ser de facto negativo ou de facto positivo. A primeira consiste numa
abstenção ou omissão, enquanto a segunda traduz-se numa atividade ou ação do devedor. Também neste
tipo de obrigações se revela a existência de deveres secundários. Importa ainda distinguir que as prestações
de facto negativo ou constituem um puro não fazer ou podem constituir uma tolerância.
B) Prestações fungíveis e Prestações não fungíveis
A prestação diz-se fungível quando pode ser realizada tanto pelo devedor como por outra pessoa, sem
prejuízo para o credor.
Por sua vez, a prestação diz-se não fungível quando tenha de ser necessariamente cumprida pelo devedor.
A infungibilidade da prestação pode resultar da sua próprio natureza ou da vontade das partes. No
entanto, a infungibilidade da prestação não exclui a possibilidade de o devedor recorrer a auxiliares.
Quando se trate de prestação de coisa, esta prestação, a menos que as partes tenham disposto noutro
sentido, é sempre fungível, um vez que o interesse do credor em receber a coisa pode, em geral, ser
efetuada por qualquer pessoa. No entanto, a coisa objeto da prestação pode ser fungível ou infungível.
Ora, no caso do inadimplemento, se a obrigação é infungível, o credor tem apenas o direito de exigir uma
indemnização dos danos resultantes do não cumprimento.
Tratando-se de uma obrigação fungível, cabe-lhe a faculdade de requerer, em execução, que o fato seja
prestado por outrem a custo do devedor.
Também só a certas obrigações de prestação de facto infungível é que se podem aplicar sanções
pecuniárias compulsórias.
Se a prestação for fungível, a impossibilidade respeitante a pessoa do devedor não o exonera uma vez que
este pode fazer-se substituir por terceiro.
Ao invés se a prestação for infungível, a impossibilidade subjetiva tem como consequência extinguir-se a
obrigação.
C) Prestações instantâneas e Prestações duradoras
As prestações quanto à maneira da sua realização temporal dividem-se em instantâneas e duradoras
Dizem-se instantâneas as prestações a executar num só momento, extinguindo-se a correspondente
obrigação com esse único ato isolado de satisfação do interesse do credor.
Em todos os restantes casos, a prestação qualifica-se como duradoras.
Dentro das duradouras cabem as prestações divididas e as continuadas.
Se o cumprimento se efetua por partes, em momentos temporais diferentes, a prestação diz-se dividida.
Consideram-se continuadas a prestação que consiste numa atividade ou abstenção que se prolonga
ininterruptamente durante um período mais ou menos longos.
Por sua vez, quando existam diversas prestações a satisfazer regularmente ou sem regularidade exata
teremos prestações periódicas.
Ora, só as dividas liquidáveis fracionadamente estão sujeitas a regra do Art.781 ou ao regime especial dos
Art’s.934º e ss.
Nos contratos com prestações periódicas ou continuadas , a impossibilidade da prestação de uma das
partes, durante algum tempo, exonera a outra contraparte relativa a esse tempo (Art.793º)
No caso de uma prestação instantânea pode o risco ficar a cargo do credor.
D) Obrigações Divisíveis e Indivisíveis
A obrigação é divisível quando a prestação comporte fracionamento sem prejuízo da sua substância ou do
seu valor económico.
Por sua vez, diz-se indivisível a obrigação que não possa ser fracionada sem prejuízo para a sua substância
ou para o seu valor económico. Esta pode resultar da própria natureza da coisa (ex: caneta/automóvel), do
acordo das partes ou da lei.
As obrigações divisíveis aplica-se o regime comum. O legislador limitou-se a enunciar quanto a estas o
princípio geral do Art.534º.
O regime legal das obrigações indivisíveis apresenta-se diverso conforme se verifique pluralidade passiva
ou pluralidade ativa.
Havendo vários devedores, só de todos eles pode o credor exigir o cumprimento da prestação. Caso a
obrigação se extinga apenas relativamente a algum ou alguns devedores, o credor continua a poder exigir a
prestação integral dos restantes devedores, embora lhes tenha de entregar o valor da partes que cabia ao
devedor ou devedores exonerados (Art.534º). A doutrina tem intendido que este artigo destina-se a evitar
que a extinção da obrigação de um dos codevedores resulte prejuízo para os outros. Assim, o credor só fica
obrigado à entrega do valor da parte correspondente ao devedor exonerado quando os restantes devedores
veja, as suas contribuições para a prestação agravadas.
A prestação indivisível se se tornar impossível por facto imputável a algum ou alguns dos devedores,
apenas sobre este ou estes recai a responsabilidade pela respetiva indemnização, ficando os outros
exonerados (Art.537º). Quanto aos devedores não responsáveis verifica-se uma situação de
inadimplemento por impossibilidade não culposa (Art.790º e ss.).
Se existirem vários credores, qualquer deles tem o direito de exigir a prestação indivisível por inteiro.
Sendo certo que o devedor enquanto não for judicialmente citado, só relativamente a todos, em conjunto,
se pode exonerar ( Art.538º, nº1). A lei distingue entre o cumprimento por via judicial e o cumprimento
extrajudicial. No primeiro caso, basta a intervenção de um dos credores, no segundo caso, torna-se
necessária a intervenção de todos.
E) Obrigações Genéricas
Obrigação genérica é aquela em que o objeto da prestação se encontra determinado apenas quanto ao
género e quantidade.
As partes podem fixar com mais ou menos amplitude o género em que há de ser efetuada a prestação e,
nessa medida, terá o devedor maiores ou menos possibilidades de cumprimento. Mas o género não pode
ser tão amplo que prejudique a determinabilidade da prestação, nem tão restrito que deixe de ser um
verdadeiro género para constituir um mero conjunto de espécies.
A respeito do preenchimento do género, estabelece o Art.540º que, enquanto a prestação for possível com
coisas do género estipulado não fica o devedor exonerado pelo facto de perecer aquelas com que se
dispunha a cumprir.
A individualização ou determinação do objeto da prestação realiza-se, via de regra, mediante uma
operação de escolha. Esta compete ao devedor, salvo se as partes houverem atribuído ao credor ou a
terceiro essa competência (Art.539º). A escolha realizada pelo devedor antes do cumprimento da obrigação
só possui eficácia desde que se verifique acordo do credor, não bastando que ele conheça ou lhe seja
declarada (Art’s 540º & 541º). Esta solução explica-se pelo facto de que com a concentração do obrigação
transfere-se o risco do perecimento da coisa.
Se a escolha compete ao credor ou a terceiro, importa distinguir se existe ou não prazo fixado. Não
havendo prazo fixado, poderá fazer-se a escolha a qualquer momento, exigindo-se porem que esta seja
comunicada ao devedor ou a ambas as partes (Art.542º, nº1). Por sua vez, se a escolha tiver prazo fixado e
não for realizada no tempo devido, se esta pertencer ao devedor ou a terceiro será esta feita pelo tribunal
(Art.400º), se esta pertencer ao credor , fica a escolha a cabo do devedor (Art.542º).
A concentração do objeto da prestação tem por efeito transforma a obrigação genérica em especifica.
A concentração antes do cumprimento pode verificar-se em virtude de ato do credor ou de terceiro
(Art.542º). Todavia, a lei prevê outras causas que produzem a concentração da obrigação:
1º - Quando haja acordo das partes
2º - Quando o género se extinga a ponto de restar apenas uma das coisas nele compreendidas
3º - Existindo mora creditória (Art.813º)
4º - Mediante a entrega da prestação a transportadora ou expedidor ou a pessoa indicada para a execução
do envio, tratando-se de obrigações em que o devedor se vincula a remeter a coisa para local distinto do
lugar do cumprimento (Art.797º).
Nos contratos com eficácia real, se a transferência da propriedade respeita a coisa indeterminada, o direito
transfere-se, em regra, logo que a coisa se torna determinada com o conhecimento de ambas as partes
(Art.488º, nº2). No entanto, este regime prevê nas suas exceções o regime das obrigações genéricas, sem,
no entanto, indicar quais os aspetos visados. Dai que as soluções se “adquiriram” por vai interpretativa.
Quando a concentração antes do cumprimento por acordo das partes, através da mora creditória ou
ocorrendo a entrega para envio, dá-se transmissão da propriedade e do risco do devedor para o credor. Ora,
nenhum interesse do credor digno de proteção fica descoberto. No entanto, quando a concentração do
cumprimento se opera pela extinção do género, entende o professor Almeida Costa que a transferência da
propriedade e do risco para o adquirente só se opera quando ele conheça o facto da concentração. Só assim
é que o credor pode tomar pelas providencias que considere adequadas a salvaguarda dos seus legítimos
interesses.
Ora, ate a transferência da propriedade o risco corre por conta do alienante e se todo o género
desaparecer ele suporta esse risco, porque não poderá exigir do adquirente a contraprestação. Mas se a
detioração ou perecimento da coisa se da apos a concentração, é o credor que sofre o correspondente
prejuízo, continuado vinculado a sua prestação e não podendo a reaver se já a realizou.
Existe assim um princípio da integralidade do cumprimento, ou seja, a prestação tem de ser efetuada por
inteiro e não fracionadamente, excepto se a convenção das partes, a lei ou os usos sancionarem outro
regime (Art.763º, nº1). Assim, o devedor não pode forçar o credor apenas a receber parte da prestação, ou
por outras palavras, não pode constranger-lho a um cumprimento parcial. Todavia, o credor pode abdica
desta vantagem reclamando apenas uma parte da prestação. No entanto, se o credor apenas exige uma
parte da prestação, isto não impede o devedor da possibilidade de oferecer a prestação por inteiro
(Art.763º, nº2).
Apesar da regra do nº1 do Art.763º, segundo o professor Almeida Costa defende que o princípio da boa-fé
impede a que seja lícito ao credor recusar o cumprimento parcial sem um motivo sério, como por exemplo,
esse cumprimento parcial lhe causar danos. Afasta-se, assim, a recusa da prestação que significa um puro
capricho ou arbítrio. A situação aproxima-se do abuso do direito.
B) Quem pode Efetuar a Prestação
Segundo o Art.767º, nº1, a prestação pode ser feita tanto pelo devedor como por terceiro interessado ou
não no cumprimento da obrigação.
Quanto ao cumprimento efetuado pelo devedor a lei não exige que ele tenha capacidade se a prestação
consiste num simples ato material ou omissão. Mas tal requisito já se torna necessário tratando-se de um
ato de disposição. Porem o credor que haja recebido do devedor incapaz pode opor-se ao pedido de
anulação se o devedor não sofrer prejuízo com o cumprimento (Art.764º, nº1).
Tendo o devedor capacidade pode cumprir ele próprio ou fazer-se substituir no ato da prestação por um
representante voluntario, contando que o cumprimento possa ser efetuado por pessoa diversa do devedor
(Art.767º,nº2).
A lei admite que a obrigação seja cumprida por terceiro. Contudo não pode o credor ser constrangido a
recebe de terceiro a prestação, quando haja acordo expresso em contrário ou quando a substituição o
prejudique (Art.767º, nº2). Alem disso, o terceiro que efetue a prestação deve fazê-lo sabendo que essa se
trate de divida alheia.
Podendo a prestação ser efetuada por terceiro, o credor deve aceitá-la nos mesmo termos em que estava
obrigado a recebê-la do próprio devedor, sob pena de incorrer em mora creditória. A recusa apenas será
licita quando o devedor se oponha ao cumprimento e o terceiro não poder ficar sub-rogado nos direitos do
credor de acordo com o Art.592º. Mas a oposição do devedor não obsta a que o credor aceite validamente a
prestação se o terceiro poder ficar sub-rogado na posição do credor nos termos do Art.592º.
Ora, nenhuma particularidade se regista quando o credor de boa-fé que vê o seu crédito satisfeito. Para o
terceiro, este umas vezes ocupa a posição do credor ou adquire um direito novo contra o devedor, outras
vezes não tem qualquer direito em relação ao devedor.
O terceiro que efetue a prestação pode estar diretamente interessado no cumprimento. Neste caso o
terceiro que cumpre fica investido nas qualidades de credor do antigo devedor. Ou seja, o crédito transmite-
se mediante sub-rogação legal do artigo devedor para o terceiro interveniente (Art.592º, nº1).
Mas a lei admite que a prestação seja efetuada por um terceiro não interessado no cumprimento. Neste
caso o terceiro que cumprir pelo devedor pode também ficar com os direitos que competiam ao credor
desde que que se verifiquem uma cessão (Art.577º e ss.) ou uma sub-rogação convencional (Art.589º e ss.).
Pode também acontecer que o terceiro cumpra a obrigação com o prévio assentimento do devedor
embora não se produza uma sub-rogação dado que a vontade de sub-rogação tem de ser expressa
(Art.590º, nº2).
Apurada tal hipótese se o terceiro agiu na qualidade de mandatário sem representação o devedor terá o
direito a uma indemnização nos termos gerais do contrato de mandato (Art.1180º e ss.). Contudo o terceiro
nada poderá reclamar ao devedor exonerado se queria com o seu ato fazer-lhe uma liberdade.
Não se verificando qualquer dos referidos pressupostos, o terceiro que cumpre a obrigação de outrem sem
um interesse próprio só poderá agir contra o devedor de acordo com as regras da gestão de negócios ou do
enriquecimento sem causa.
C) A Quem pode ser Efetuada a Prestação
Esclarece o Art.769º que a prestação deve ser feita ao credor ou ao ser representante.
Importa distinguir se a representação é legal ou voluntaria.
No segundo caso, a prestação pode ser efetuada quer ao credor quer ao representante. No entanto, a
menos que haja convenção em contrário, o devedor não esta obrigado a satisfazer a prestação ao
representante (Art.771º).
Existindo representação legal que visa suprir a incapacidade do credor, a prestação deve ser feita ao seu
representante legal. Assim, se a prestação for efetuada ao credor incapaz, verifica-se a invalidade do
cumprimento, continuando o dever obrigado a realizar a nova prestação ao seu representante legal. No
entanto, importa neste último caso atender ao regime do Art. 764º, nº2.
Se a prestação for feita a terceiro, esta só extingue a obrigação quando se verifique um dos casos previstos
no Art.770º.
D) Lugar do Cumprimento da Obrigação
O Art.772º, nº1 estabelece o princípio geral segundo o qual na falta de estipulação ao disposição especial, a
prestação deve ser efetuada no lugar do domicílio do devedor.
Se a prestação consistir na entrega de coisa móvel, esta deve ser cumprida no lugar onde essa coisa se
encontrava ao tempo da conclusão do negócio (Art.773º).
Quanto aos obrigações pecuniária, a lei dispõem que a prestação deve ser realizada no domicílio em que o
credor tiver ao tempo do cumprimento ( Art.774º).
Pode acontecer que a prestação se torna impossível no lugar fixado para o cumprimento. Neste caso, se a
obrigação se mantiver, o Art.776º declara que se aplicam as regras supletivas dos Art’s 772º a 774º. Porem
haverá fundamento para considerar a obrigação nula ou extinta sempre que se mostre essencial à satisfação
do interesse do credor que se efetue a prestação no lugar designado no contrato.
E) Quando deve ser Cumprida a Prestação
Se tiver sido estabelecido um prazo ou um dia certo para o cumprimento, deve ser nessa altura que a
prestação se realiza. Este prazo pode ser estabelecido pelas partes, pode resultar da lei ou ser fixado pelo
tribunal.
Não havendo prazo para o cumprimento estaremos perante uma obrigação pura. O princípio geral para
estas esta consagrado no nº1 do Art.772º segundo o qual na falta de estipulação ou disposição especial da
lei, o credor tem o direito de exigir a todo o tempo o cumprimento da obrigação, assim como o devedor
pode a todo o tempo exonerar-se dela. Fica, assim na dependência da vontade das partes o vencimento da
obrigação sem prazo.
O modo pelo qual o credor pode exigir o cumprimento por parte do devedor denomina-se de interpelação.
Esta pode ser judicial ou extrajudicial. Estatui o Art.803º, nº1 que o devedor só fica constituído em mora
depois de ter sido judicial ou extrajudicialmente interpelado para cumprir.
No nº2 do Art.777º, estabelece-se que, se pela própria natureza da prestação, que por virtude das
circunstâncias que a determinaram, quer por força dos usos pode se necessário o estabelecimento de um
prazo.
Sendo a estipulação do prazo deixada ao credor, devera ele proceder de acordo com os princípios da boa-
fé (Art.777º, nº3).
Para alem da fórmula geral consagrada no Art.777º a nossa lei estatui prazos especiais para o cumprimento
de algumas obrigações.
As obrigações a prazo são aquelas que tem um termo de vencimento estabelecido pelas próprias partes.
Esta vencem-se automaticamente sem necessidade de interpelação do credor
A prepósito destas pode perguntar-se em benéfico de quem o mesmo se encontra estabelecido. Não
havendo convenção das partes, a lei consagra no Art.779º que o prazo tem-se estabelecido a favor do
devedor, quando não se mostra que o foi estabelecido a favor do credor, ou a favor do devedor ou do
credor conjuntamente.
Ainda que haja um prazo a benefício do devedor, o credor pode exigir antecipadamente o cumprimento da
obrigação verificando-se certas circunstâncias. Estas vem indicadas no Art.780º, nº1. Verificando-se uma
dessas situações, o credor pode reclamar o cumprimento imediato da obrigação. Contudo, o nº2 do
Art.780º o credor pode exigir ao devedor em lugar da cumprimento imediato da obrigação, a substituição
ou reforço das garantias, se estas sofrerem diminuição.
Uma terceira hipótese refere-se as dividas liquidáveis em prestações. Segundo o Art.781º a obrigação que
puder ser liquidável em duas ou mais prestações, a falta de realização de uma delas importa o vencimento
de todas. No entanto, o Art.934º regula um regime diferente no caso de compra e venda a prestações.
2.2 - Ilicitude
A ilicitude consiste na infração de um dever jurídico.
É o Art.483º que fixa o princípio geral da matéria, onde se indica as duas formas essências de ilicitude:
A) Violação de um direito de outrem
Neste incluem-se tipicamente as ofensas de direitos absolutos. Quanto aos direitos familiares pessoais,
tem sido doutrina maioritária que a sua infração não origina um dever de indemnizar, mas esta regra
excetua-se quanto as direitos familiares patrimoniais.
B) Violação de disposições legais destinadas a proteger interesses alheios
Este grupo tem em conta a ofensa de deveres impostos por lei que vise a defesa de interesses particulares,
sem que confira quaisquer direitos subjetivos.
Contudo, a invocação desta vertente da ilicitude depende da verificação de certos requisitos próprios:
1º - Que a lesão dos interesses dos particulares corresponda a uma ofensa de uma norma legal
2º - Que se trate de interesses alheios legítimos ou juridicamente protegidos por essa norma, e não simples
interesses reflexos ou por ela apenas reflexamente protegidos, enquanto tutela interesses indiscriminados
3º - Que a lesão se efetive no próprio bem jurídico ou interesse privado que a lei tutela
No entanto, a lei não se limita como Art.483º, completando com alguns casos especiais de ilicitude e que
não se enquadrariam nessa previsão genérica.
C) Ofensa do crédito ou do bom nome (Art.484º)
A regra consiste na irrelevância da veracidade ou falsidade do facto, mas sempre que estejam em causa a
proteção de interesses legítimos, parece de admitir a «exceptio veritatis». Por sua vez, o facto afirmado ou
difundido deve mostrar-se suscetível de afetar o crédito ou a reputação da pessoa visada.
D) Prestação de conselhos, recomendações ou informações (Art.485º)
Regra geral, os conselhos, recomendações ou informações não dão origem a responsabilidade civil, ainda
que haja dolo da parte de quem os da.
No entanto, este preceito prevê certas exceções a esta regra:
1º - Quando se haja assumido a responsabilidade que pelos conselhos, recomendações ou informações
resultarem para o destinatário
2º - Quando exista o dever jurídico legal ou convencional de aconselhar, recomendar ou informar
3º -Quando a conduta do agente constitua crime
2.4 - Dano
Requisito essencial da responsabilidade civil é a verificação de um dano ou prejuízo a ressarcir.
Na perspetiva da responsabilidade civil, dano ou prejuízo é toda a ofensa de bens ou interesses alheios
protegidos pela ordem jurídica.
Classificações de Danos:
A)
Danos Patrimoniais: Estes incidem sobre interesses de natureza material ou económica.
Danos Não Patrimoniais: Estes incidem sobre valores de ordem espiritual, ideal ou moral.
B)
Danos Pessoais: Estes são danos que se produzem sobre pessoas.
Danos não Pessoais: Estes são danos que incidem sobre coisas.
C)
Dano Real: Prejuízo que o lesado sofreu em sentido naturalístico
Dano de Cálculo: Consiste na expressão pecuniária de tal prejuízo
D)
Dano emergente: Este compreende a perda ou diminuição d valores já existentes no património do lesado
Lucro Cessante: Estes dizem respeito aos benefícios que el deixou de obter em consequência da lesão
E)
Danos Presentes: Estes são os danos que já se encontram verificados a data da fixação da indemnização
Danos Futuros: Estas são os danos que ainda não se verificaram a data da fixação da indemnização. Estes só
serão indemnizáveis se forem previsíveis
D) Colisão de Veículos
Não havendo culpa de nenhum dos condutores, importa distinguir se os danos são produzidos por um ou
ambos os veículos. No primeiro caso, apenas p detentor do veículo que originou os danos é obrigado a
indemnizar. No segundo caso, a responsabilidade é repartida na proporção em que o risco de cada um dos
veículos tenha contribuído para os danos.