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a Museologia do século XXI já não está mais preocupada meramente com a

descrição das instituições ou dos objetos que elas guardam, visto que teve o seu escopo
de investigação alargado dos museus para todos os processos que envolvem as suas ações;
das práticas em museus para toda a cadeia museológica (Brulon-Soares, 2012) que escapa
os limites da instituição – ou seja, a cadeia da musealização; da interpretação do objeto
de museu para a reflexão sobre o objeto da Museologia...(anais icompolam Buenos aires,
2014)

Recorrentemente, através de seus objetos e dos


modos de apresenta-los, os museus nos provocam
emoções que fazem parte de experiências museais
capazes de gerar ressonância. Por vezes, um pequeno
museu local dedicado à microhistória, ou um museu-casa
voltado a um personagem histórico em particular, ou
mesmo uma pequena exposição sobre temas cotidianos
nos evoca mais emoções do que é capaz de evocar um
grande museu nacional. Isto porque, em geral, o pequeno
patrimônio de um dado grupo local, a narrativa de uma
vida breve ou a história da vida cotidiana podem gerar
mais ressonância do que as grandes narrativas da
História oficial às quais se dedicam os museus
tradicionais dominantes.(aniasencontor icofomlam Buenos aires, 2014, brulon)

A ressonância, logo, não está ligada à abrangência


das narrativas, mas aos múltiplos sentidos e significados
que elas podem produzir. Ao analisar o conceito de
“ressonância” tal como proposto por Greenblatt, o
antropólogo José Reginaldo Gonçalves chama a atenção
para o caráter liminar do patrimônio (ou de objetos de
museus) que se encontram entre passado e presente,
entre a cultura e os indivíduos, entre a memória e a
história (Gonçalves, 2005, p.20). Tais objetos, por vezes
impostos pelos museus e pelos Estados como patrimônio
de uma dada coletividade, nem sempre encontram
ressonância entre aquelas populações às quais devem
pertencer.
O que faz o objeto de museu ter ressonância é, em
primeira instância, o reconhecimento por parte do público
e o sentido de pertencimento. Tal reconhecimento é mais
facilmente alcançado quando os próprios agentes do
museu, participantes ativos dos processos de
musealização, fazem parte do público da instituição. Os
processos de musealização funcionando como recortes
das realidades sociais pelos próprios atores de um
determinado grupo – a partir de sua vontade de mostrar o
seu patrimônio – em geral levam a uma maior aderência
patrimonial entre as pessoas e as coisas.
O trabalho dos museus, e os processos de
musealização, são, assim, atos performativos com o
intuito de gerar ressonância. Por vezes bem sucedidos,
por vezes fracassados, esses atos intencionam
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estabelecer ligações diretas, de corpo e alma, entre os
objetos e aqueles que devem se relacionar com eles. Tal
ação dos museus visando gerar ressonância escapa
sensivelmente os limites das instituições e os espaços
expositivos tradicionais, e, com efeito, são geralmente
bem sucedidas quando o fazem com maestria.

Falar na ressonância dos objetos musealizados nos


leva a refletir sobre a amplitude indeterminada do objeto
de estudo da Museologia. Se aceitamos a visão proposta
por Greenblatt e posteriormente por Gonçalves,
entendendo esses objetos como nódulos das relações
que os museus ajudam a estabelecer, entre as pessoas e
as coisas que lhes apresentam valor, entre passado,
presente e futuro, entre o espaço e o tempo... Tem-se aí
definido o caráter liminar daquilo que se pretende estudar
a Museologia.(a partir da noção que a museologia pretende estudar a ressonância dos
objetos feita por atores, grupos, pesquisar as motivações, os atos performáticos feitas
para gerar relação é um grande aporte para compreender o cerne dos processos
museológicos.

Ao utilizar a noção de “agência”, o antropólogo

Bruno Latour propõe que sua aplicabilidade seja

ampliada das pessoas para incluir também os objetos.

Segundo esse autor, objetos têm agência visto que o

“homem” não pode ser considerado o único ator da

relação. Para a teoria ator-rede, defendida por Latour, ao

mantermos a decisão de considerar os atores através de

suas agências, então tudo aquilo que modifica o estado

das coisas ao fazer alguma diferença é,

presumivelmente, um ator (Latour, 2005, p.71). Museus

têm agência pois não são apenas reprodutores de

realidades sociais dadas, mas atuam diretamente na

ordem social modificando seus valores e estruturas.


Isso não significa que os objetos fazem coisas “em

vez” dos atores humanos. O que Latour defende é a

inexistência de hierarquias estabelecidas para diferenciar

sujeitos de objetos. Uma coisa também pode ser

estudada como um ator na equação sujeito-objeto – ou,

ao menos, como uma atuante, se não apresentar ainda

figuração. Isso não significa, é claro, que esses

participantes ‘determinam’ a ação, ou que “os martelos

‘impõem’ o martelar no prego”. Para o autor, as coisas,

muitas vezes, servem de pano de fundo da ação humana,

e, mais do que isso, elas podem “autorizar, propiciar, dar

condições, encorajar, permitir, sugerir, influenciar,

bloquear, ternar possível, proibir, e etc.” (Latour, 2005,

p.71).

Sendo assim, Latour argumenta que nenhuma

ciência do social pode existir se a pergunta sobre quem

ou o que participa na ação não for primeiramente

explorada. Essa questão científica primária poderia

significar – e certamente significa no caso da Museologia

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– deixar os chamados “não-humanos” entrarem (Latour,

2005, p.71). A reação homem-realidade, limitadora do

objeto da Museologia, poderia começar a ser percebida

como uma relação entre associações e, neste sentido,

ela poderia ser efetivamente estudada por uma ciência

humana.

A Museologia encontra-se no
momento de redefinição dos seus paradigmas
fundadores para se constituir como ciência em sintonia
com as tendências e os desafios da episteme
contemporânea.

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