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Não seria necessária uma lupa sobre o povo Guarani-Kaiowá para constatar a gravidade
do processo de genocídio a que nas últimas décadas está submetida essa que é a
segunda maior população indígena do Brasil (43,3 mil, conforme o IBGE). Segundo
dados do Conselho Indigenista Missionário, entre 2003 e 2011, 279 pessoas do povo
Guarani-Kaiowá foram assassinadas. No mesmo período, a Fundação Nacional de
Saúde (Funasa) registrou 555 suicídios. A falta de terra acarreta ainda grave
vulnerabilidade alimentar, provocando com frequência morte por subnutrição entre as
crianças.
De vítimas a suspeitos
Em julho deste ano, essa história aparentemente começou a ser reescrita. Beneficiado
por uma delação premiada, um homem testemunhou o ataque de pistoleiros à
comunidade Guaiviry, município de Aral Moreira, em 18 de novembro de 2011. Tendo
participado também do incidente, ele relatou à Polícia Federal (PF) detalhes do violento
episódio que deixou inúmeras pessoas feridas e culminou com a execução e o
desaparecimento do cacique Nízio Gomes, de 59 anos.
Apesar de o inquérito seguir em segredo de justiça, o delator contou para uma TV local
que os fazendeiros decidiram não esperar pela ordem judicial e resolveram por conta
própria retirar as famílias da comunidade Guaiviry. Segundo o criminoso, a determinação
para os capangas era de chegar atirando. “Velhos, jovens e crianças. Todos, à força.
Era para chegar atirando em todo mundo”, conta.
Na ação foram utilizadas seis armas calibre 12 munidas com bala de borracha e
moedas. “Disseram que era para a gente atirar à vontade porque não era letal, mas não
foi isso que aconteceu. Orientaram para colocar moedas nos canos das armas para ferir
mais, ter mais impacto e ser mais letal. Foi a ordem passada”, recorda a testemunha.
No final de julho, a polícia encerrou o inquérito e concluiu que Nízio Gomes foi
assassinado. Seu corpo segue desaparecido. Os dezenove acusados pela PF
responderão por homicídio qualificado, lesão corporal, ocultação de cadáver, quadrilha
ou bando armado, porte ilegal de arma de fogo e corrupção de testemunha. Entre os
que tiveram prisão decretada estão o presidente do sindicato rural de Aral Moreira,
Osvin Mittanck, catorze funcionários da empresa de segurança privada Gaspem e seu
proprietário, o empresário e ex-policial militar Aurelino Arce. Na ficha corrida de crimes
da Gaspem contra os Guarani-Kaiowá constam a acusação de pelo menos outros dois
assassinatos, tentativas de homicídios e incêndios criminosos.
Ouvir
Mas José Villalba não havia sido atacado por arma de fogo nem por nenhum
desconhecido no dia 1º de novembro, durante o encontro, mas sim caído de bicicleta.
Lideranças e professores Guarani-Kaiowá pediram aos fotógrafos que a imagem não
fosse divulgada, mas, depois de publicada na página do Facebook da Coluna PósTV
Guarani-Kaiowá, ligada ao grupo Fora do Eixo, mais de 3,2 mil pessoas a
compartilharam. “Pedimos aos fotógrafos que não fosse publicada para que não desse
uma impressão errada, mas pelo visto nos desrespeitaram”, lamenta o professor
indígena Anastácio Peralta.
Cristiano Navarro