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PROCESSO Nº TST-RR-533-14.2016.5.08.

0013

A C Ó R D Ã O
(1.ª Turma)
GMDS/r2/ane/ma/dz

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE


REVISTA. INTERPOSIÇÃO SOB A ÉGIDE DA
LEI N.º 13.467/2017. AUSÊNCIA DE
IMPUGNAÇÃO DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS
DA DECISÃO RECORRIDA. ÓBICE ERIGIDO
NA DECISÃO DE ADMISSIBILIDADE.
TRANSCENDÊNCIA RECONHECIDA. Superado
o óbice divisado e demonstrado,
quanto à questão de mérito, o
dissenso de teses, admite-se o
Recurso de Revista. Agravo de
Instrumento conhecido e provido.
RECURSO DE REVISTA. DISPENSA
IMOTIVADA. NORMA INTERNA. Apesar de
pacificada a questão da não inclusão
dos serviços sociais autônomos no
âmbito da administração pública,
direta ou indireta, o que torna
desnecessária a motivação do ato de
dispensa (matéria decidida em
repercussão geral no julgamento do RE
n.º 789.874/DF, Relator: Ministro
Teori Zavascki), a questão não foi
dirimida sob esse enfoque pela Vara
de origem, que entendeu que o
SEBRAE/PA, na dispensa do reclamante,
deveria obedecer aos procedimentos e
formalidades por ele mesmo
estabelecidos. Pontua-se que, ao
entender pela inexigibilidade de
emissão de parecer para a validação
do ato de dispensa, a Corte a quo não
infirmou as premissas fáticas
delineadas pelo Julgador de origem,
de que havia normativo interno do
reclamado a disciplinar o ato de
dispensa questionado. Ocorre que é
pacífico, no âmbito desta Corte
Superior, o entendimento de que as
normas procedimentais internas
adotadas pelo reclamado vinculam a
sua atuação, pois, ao editar
espontaneamente normas de gestão que
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impõem limites de observância


obrigatória na dispensa dos
empregados, torna-se obrigado a
segui-las. Assim, embora as normas
internas não sejam capazes de
conferir estabilidade aos empregados,
instituíram formalidades para a
dispensa – como a motivação mediante
emissão de parecer prévio – que devem
ser observadas e cumpridas.
Precedentes. Recurso de Revista
conhecido e provido.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de


Recurso de Revista n.º TST-RR-533-14.2016.5.08.0013, em que é
Recorrente JOÃO JORGE MOSCOSO E SILVA e são Agravados SERVIÇO
BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS e SERVIÇO DE APOIO
ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS DO ESTADO DO PARÁ - SEBRAE/PA.

R E L A T Ó R I O

Contra a decisão pela qual se denegou seguimento


ao seu Recurso de Revista (fls. 1.198/1.200), o reclamante interpôs
o presente Agravo de Instrumento (fls. 1.205/1.222).
Foram apresentadas razões de contrariedade.
Sem remessa dos autos ao Ministério Público do
Trabalho, na forma regimental.
É o relatório.

V O T O

AGRAVO DE INSTRUMENTO

ADMISSIBILIDADE

Preenchidos os requisitos gerais de


admissibilidade, conheço do Agravo de Instrumento.
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TRANSCENDÊNCIA
Considerando a possibilidade de, ultrapassado o
óbice estabelecido pelo Regional, a decisão recorrida importar em
contrariedade à jurisprudência pacífica do TST, e diante da função
constitucional uniformizadora desta Corte, há de se reconhecer a
transcendência política, nos termos do art. 896-A, § 1.º, II, da
CLT.

MÉRITO

AUSÊNCIA   DE   IMPUGNAÇÃO   DOS   FUNDAMENTOS   JURÍDICOS


DA DECISÃO RECORRIDA – ÓBICE ERIGIDO NA DECISÃO DE ADMISSIBILIDADE
O   Regional   denegou   seguimento   ao   Recurso   de
Revista do autor pelo óbice do inciso III do § 1.º­A do art. 896 da
CLT, nos termos da decisão abaixo transcrita:

"PRESSUPOSTOS INTRÍNSECOS
Rescisão do Contrato de Trabalho / Reintegração/Readmissão ou
Indenização.
Alegação(ões):
- contrariedade à(s) Súmula(s) n.º 51 do Tribunal Superior do
Trabalho.
- violação do(s) artigo 5.º, inciso XXXVI; artigo 5.º, inciso LIV;
artigo 5.º, inciso LV; artigo 7.º, inciso I, da Constituição Federal.
- violação do(a) Consolidação das Leis do Trabalho, artigo 444, 468.
- divergência jurisprudencial.
Insurge-se o recorrente contra a decisão da E. Turma que deu
provimento ao Recurso Ordinário das reclamadas, ora recorridas, para
considerar válido o ato demissional, indeferindo as parcelas da inicial.
A E. Turma assim fundamentou sua decisão, sendo que a parte em
negrito foi a indicada no Recurso de Revista para fins de
prequestionamento:
Analiso.
Em atenção aos argumentos apresentados pelo reclamante, em
contrarrazões, ressalto que, em que pese ter sido instruído processo IUJ de
n. 0010099-89.2017.5.08.0000, a IUJ foi indeferida, não foi editada
Súmula, sendo autorizada a liberação dos processos sobrestados.
Pois bem.

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Ressalto, primeiramente, que a reclamada possui natureza de pessoa


jurídica de direito privado e, embora a ela sejam aplicadas algumas regras
da Administração, não está sujeita à necessidade de motivação dos atos de
despedidas de seus empregados, conforme se infere da inteligência do item
I da OJ 247 da SDI-I do C. TST.
Analisando caso semelhante, esta E. Turma entendeu que a
disposição do Manual de Políticas e Procedimentos - SPG (id. b55cce2,
5a1023f, 5929c3a, 157745f,dbd4a23, fd3e6c2 e f3c66d6), qual seja, ‘Os
processos de contratação, demissão, promoção e movimentação de
profissionais do SEBRAE/PA serão acompanhados de parecer prévio
emitido pela UGP’, tem caráter meramente procedimental interno, não
conferindo, pois, direito subjetivo aos empregados de não sofrerem
demissão caso o parecer não seja emitido, visto que o órgão emissor de
tal ato não detém autonomia administrativa para tomada de decisão,
de modo que, ainda que fosse emitido parecer opinando contra a
demissão, este não vincularia o administrador.
Assim, ainda que o parecer favorecesse o empregado, a reclamada
poderia decidir conforme sua conveniência, pois o parecer não é
requisito de validade do ato demissional.
Ressalto, ainda, que o Estatuto Social (id. 846f624 - Pág. 16), dispõe
que a demissão de empregados é ato de atribuição do diretor
superintendente.
O fato de inexistir parecer não seria obstáculo à prática do ato
demissional.
Evidencio, por fim, que não restou comprovada nenhuma falta
disciplinar, portanto, não há falar em aplicação do Código de Ética, por
conseguinte, não houve punição. A dispensa decorreu de ato de gestão do
empregador.
Dessa forma, é válido o ato demissional.
No mesmo sentido, outros processos já foram apreciados por esta E.
Turma, a exemplo dos acórdãos proferidos nos autos dos processos
0000680-43.2016.5.08.0012 e 0001258.27.2016.5.08.0005,
respectivamente, da lavra dos desembargadores relatores Graziela Leite
Colares e Mario Leite Soares.
Por tudo que fora acima exposto, dou provimento aos recursos das
reclamadas para, reformando a sentença, considerar válido o ato
demissional, indeferindo, assim, os pedidos da inicial.
Antes de iniciar a análise, convém destacar que o presente recurso
está regido pela Lei n.º13.015/2014. Nesse novo viés, tem-se como
imperioso ao cumprimento dos pressupostos de admissibilidade, a
satisfação do § 1.ª - A, do artigo 896, da CLT, o qual disciplina:
I - indicar o trecho da decisão recorrida que consubstancia o
prequestionamento da controvérsia objeto do Recurso de Revista; II -
indicar, de forma explícita e fundamentada, contrariedade a dispositivo de
lei, súmula ou orientação jurisprudencial do Tribunal Superior do
Trabalho que conflite com a decisão regional; III - expor as razões do
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pedido de reforma, impugnando todos os fundamentos jurídicos da decisão


recorrida, inclusive mediante demonstração analítica de cada dispositivo
de lei, da Constituição Federal, de súmula ou orientação jurisprudencial
cuja contrariedade aponte.
A parte não se desincumbiu do ônus estabelecido pelo inciso III, do
artigo 896, § 1.º-A, ao não expor as razões do pedido de reforma,
impugnando todos os fundamentos jurídicos da decisão recorrida, inclusive
mediante demonstração analítica de cada dispositivo de lei, da Constituição
Federal, de súmula ou orientação jurisprudencial cuja contrariedade aponte.
Ainda que tivesse preenchido o pressuposto acima indicado, percebe-
se da leitura do v. Acórdão recorrido que o mesmo foi proferido com base
no conjunto probatório existente nos autos, bem como aplicou o princípio
do livre convencimento motivado (art. 371 do CPC/2015). Dessa forma,
para reexaminar as matérias na forma proposta pelo recorrente, seria
necessário o revolvimento de fatos e de provas, o que encontra óbice na
Súmula n.º 126 do C. TST.
Em relação às divergências jurisprudenciais indicadas, constato que a
recorrente não obedeceu ao disposto no § 8.º do art. 896 da CLT.
Por conseguinte, nego seguimento ao apelo, inclusive por
divergência jurisprudencial, já que também encontra óbice do inciso
III, do § 1.º-A, do artigo 896 da CLT.

CONCLUSÃO
DENEGO seguimento ao Recurso de Revista." (Grifos no original.)

O Agravante alega que o cerne da questão perpassa
pela   necessidade   de   observância,   por   parte   do   SEBRAE/PA,   de   suas
próprias normas internas, nos termos dos arts. 444 e 468 da CLT e da
Súmula n.º 51 do TST. Defende que a Revista atendeu à novel redação
do   art.   896   da   CLT,   uma   vez   que   expôs   as   razões   do   pedido   de
reforma,   impugnou   todos   os   fundamentos   jurídicos   da   decisão
recorrida e fez a demonstração analítica de cada dispositivo de lei
invocado, de súmula ou orientação jurisprudencial cuja contrariedade
apontou.
Com razão.
O   Regional   entendeu   que,   por   ser   o   empregador
pessoa   jurídica   de   direito   privado,   não   haveria   necessidade   de
motivação da dispensa (sem justa causa) de seus empregados, não se
aplicando ao caso as normas procedimentais instituídas pelo próprio
empregador.

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Nesse   cenário,   considero   que   a   parte   atendeu


satisfatoriamente às exigências do art. 896, § 1.º­A, III, da CLT.
Ao   defender   que   a   demissão,   ainda   que   sem   justa   causa,   deveria
seguir   o   regramento   instituído   pelo   empregador,   identificou
precisamente   a  contrariedade   da  decisão   recorrida  aos   dispositivos
constitucionais/legais tidos por violados e à Súmula n.º 51 do TST.
Logo,   superado   o   óbice   então   estabelecido,
prossigo no exame do Agravo de Instrumento. 

NECESSIDADE  DE   UNIFORMIZAÇÃO  DA   JURISPRUDÊNCIA  DO


TRT DA 8.ª REGIÃO – ART. 926 DO CPC/2015
O   Regional   (fls.   1.199)   assim   se   manifestou   a
respeito do pedido autoral:

"Em atenção aos argumentos apresentados pelo reclamante, em


contrarrazões, ressalto que, em que pese ter sido instruído processo IUJ de
n. 0010099-89.2017.5.08.0000, a IUJ foi indeferida, não foi editada
Súmula, sendo autorizada a liberação dos processos sobrestados."

Do   que   acima   foi   exposto,   está   prejudicada   a


apreciação do pedido.

DISPENSA IMOTIVADA – NORMA INTERNA
O   reclamante   alega   que,   conforme   jurisprudência
pacificada   no   TST,   havendo   critérios   e/ou   procedimentos   para   a
prática da rescisão contratual, como no caso dos autos, o empregador
deve   observá­los,   por   se   tratar   de   procedimentos   obrigatórios   e
vinculantes   para   a   validade   da   dispensa   de   seus   empregados,
porquanto aderem ao contrato de trabalho, nos termos dos arts. 444 e
468   da   CLT   e   da   Súmula   n.º   51   do   TST.   Afirma   que,   em   caso   de
revogação/alteração   de   tais   regramentos,   somente   os   trabalhadores
admitidos posteriormente poderiam ser atingidos.
Diz   que   o   próprio   Código   de   Ética   do   SEBRAE/PA
(art. 5.º, IV) enumera a demissão sem justa causa como sanção e que
o   Manual   SGP   7.0   estabelece   em   seu   item   4   que   as   dispensas   serão

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precedidas de parecer elaborado pela Unidade de Gestão de Pessoas –
IGP.
Defende   a   necessidade   de   uniformização   da
jurisprudência   do   TRT   da   8.ª   Região,   nos   termos   do   art.   926   do
CPC/2015, haja vista a discrepância de entendimentos sobre a matéria
entre as Turmas do Regional. 
De  outra  banda,  calcado  no  art.  300  do  CPC/2015,
requer   a   concessão   de   medida   liminar   em   seu   favor,   ratificando   a
nulidade   da   dispensa,   com   a   determinação   de   manutenção   do   emprego
e/ou sua reintegração.
Examino.
Inicialmente,   deve   ser   dito   que,   apesar   de
pacificada a questão da não inclusão dos serviços sociais autônomos
no âmbito da Administração Pública, direta ou indireta, o que torna
desnecessária   a   motivação   do   ato   de   dispensa   (matéria   decidida   em
repercussão   geral   no   julgamento   do   RE   n.º   789.874/DF,   Relator:
Ministro   Teori   Zavascki),  a   questão   não   foi   dirimida   sob   esse
enfoque   pela   Vara   de   origem,   que   entendeu   que   o   SEBRAE/PA,   na
dispensa   do   reclamante,   deveria   obedecer   aos   procedimentos   e
formalidades por ele mesmo estabelecidos (fls. 425).
Ao   reformar   a   sentença,   o   Regional   consignou   o
seguinte (fls. 943):

"Analisando caso semelhante, esta E. Turma entendeu que a


disposição do Manual de Políticas e Procedimentos - SPG (id. b55cce2,
5a1023f, 5929c3a, 157745f, dbd4a23, fd3e6c2 e f3c66d6), qual seja, ‘Os
processos de contratação, demissão, promoção e movimentação de
profissionais, tem do SEBRAE/PA serão acompanhados de parecer prévio
emitido pela UGP’ caráter meramente procedimental interno, não
conferindo, pois, direito subjetivo aos empregados de não sofrerem
demissão caso o parecer não seja emitido, visto que o órgão emissor de tal
ato não detém autonomia administrativa para tomada de decisão, de modo
que, ainda que fosse emitido parecer opinando contra a demissão, este não
vincularia o administrador.
Assim, ainda que o parecer favorecesse o empregado, a reclamada
poderia decidir conforme sua conveniência, pois o parecer não é requisito
de validade do ato demissional.

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Ressalto, ainda, que o Estatuto Social (id. 846f624 - Pág. 16), dispõe
que a demissão de empregados é ato de atribuição do diretor
superintendente."

Verifica­se,   portanto,   que   a   decisão   recorrida


apresenta   cunho   interpretativo,   somente   combatível   nesta   instância
recursal por dissenso de teses.
Importante   ressaltar   que,  ao   entender   pela
inexigibilidade   de   emissão   de   parecer   para   a   validação   do   ato   de
 
dispensa, a Corte   a quo
    não infirmou as premissas fáticas delineadas
pelo Julgador de origem, de que havia normativo interno do reclamado
a disciplinar o ato de dispensa questionado.
Tecidas   essas   considerações,   tem­se   que   o
reclamante, em suas razões de Revista, observando os requisitos do §
8.º do art. 896 da CLT, logra êxito em demonstrar dissenso de teses
com o aresto colacionado de fls. 996, oriundo do TRT da 10.ª Região,
que,   em   sentido   diverso,   entendeu   pela   obrigatoriedade   do
cumprimento dos procedimentos e formalidades descritos no Sistema de
Gestão   do   SEBRAE   (Nacional)   para   a   demissão,   mesmo   que   sem   justa
causa, de seus funcionários.
Demonstrada   a   divergência   jurisprudencial,   admito
o Recurso de Revisa. 
Conforme previsão no Ato SEGJUD.GP n.º 202, de
10.6.2019, proceder-se-á, de imediato, à análise do Recurso de
Revista na primeira sessão ordinária subsequente ao término do prazo
de cinco dias úteis, contados da publicação da certidão de
julgamento do presente Agravo de Instrumento.

RECURSO DE REVISTA

Preenchidos os requisitos gerais de


admissibilidade, passo à análise dos pressupostos intrínsecos.

CONHECIMENTO

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Em   razão   do   exposto   no   Agravo   de   Instrumento,


conheço do Recurso de Revista, por divergência jurisprudencial.

MÉRITO

DISPENSA IMOTIVADA – NORMA INTERNA
Discute­se,  in   casu,   a   necessidade   de   serem
observadas   normas   procedimentais   internas   editadas   pelo   próprio
SEBRAE/PA   ­   Serviço   Social   Autônomo,   integrante   do   Sistema   "S"   ­
para a dispensa de seus empregados.
O Regional aduziu que "a disposição do Manual de
Políticas   e   Procedimentos   ­   SPG   (...)   tem  caráter   meramente
procedimental   interno  (...)   de   modo   que,   ainda   que   fosse   emitido
parecer   opinando   contra   a   demissão,  este   não   vincularia   o
administrador".
Ocorre   que   é   pacífico,   no   âmbito   desta   Corte
Superior,   o   entendimento   de   que   as   normas   procedimentais   internas
adotadas   pelo   reclamado   vinculam   a   sua   atuação,   pois,   ao   editar
espontaneamente normas de gestão que impõem limites de observância
obrigatória na dispensa dos empregados, torna­se obrigado a segui­
las.
Assim, tais normas internas pactuadas, que regulam
o   procedimento   de   dispensa,   por   serem   mais   favoráveis   aos
trabalhadores, integrarão o contrato de trabalho. Logo, prevalecerão
sobre a CLT e deverão ser observadas pelo empregador.
Note­se que, ao estabelecer as referidas normas, o
SEBRAE/PA   abriu   mão   do   direito   de   despedir   imotivadamente   seus
subordinados,   não   podendo   retroceder,   porque   foi   criada   condição
mais benéfica incorporada ao patrimônio jurídico do reclamante.
Importante   ressaltar   que,   embora   as   normas
internas não sejam capazes de conferir estabilidade aos empregados,
instituíram formalidades para a dispensa – como a motivação mediante
emissão de parecer prévio – que devem ser observadas e cumpridas.
Nesse sentido, cito os seguintes precedentes desta
Corte, envolvendo o mesmo reclamado:
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"AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA.


RECURSO DE REVISTA REGIDO PELO CPC/2015 E PELA
INSTRUÇÃO NORMATIVA N.º 40/2016 DO TST. SERVIÇO SOCIAL
AUTÔNOMO. SEBRAE/PA. DISPENSA IMOTIVADA.
IMPOSSIBILIDADE. MOTIVAÇÃO EXIGIDA EM NORMA INTERNA.
Na hipótese, consignou o Regional que ‘o serviço social autônomo
reclamado, ademais, tem regulamento interno - Sistema de Gestão de
Pessoas - SGP - que exige a motivação para a despedida, sob a forma de
parecer prévio emitido pela Unidade de Gestão de Pessoas – UG’. Dessa
forma, concluiu que ‘é dever regulamentar e contratual do serviço social
autônomo reclamado preceder a despedida de seus empregados de um
parecer prévio, dever descumprido porque o reclamado, ostensivamente,
optou por despedir a reclamante-Recorrente sem justa causa’. Nesse
contexto, considerando que o reclamante foi dispensado do emprego sem a
devida observância dos critérios previstos no regulamento interno, o
Regional reconheceu a nulidade da dispensa e determinou a sua
reintegração ao emprego, com todos os direitos e vantagens desde o
afastamento. A controvérsia cinge-se, portanto, ao exame do conteúdo de
norma interna editada pelo próprio SEBRAE/PA - Serviço Social
Autônomo para a dispensa de seus empregados. No caso, tem-se que o
regulamento interno deve ser observado, porquanto integra o contrato de
trabalho, nos termos da Súmula n.º 51, item II, do TST, além de instituir
condição mais favorável ao trabalhador. Portanto, diante dessa
particularidade, relativa à exigência de motivação em norma interna, não há
falar em ofensa ao artigo 37, inciso II, da Constituição Federal nem em
contrariedade à Orientação Jurisprudencial n.º 247 da SBDI-1 do TST e à
Súmula n.º 390 do TST. Precedentes. Agravo de instrumento desprovido."
(Processo: AIRR-492-62.2016.5.08.0008, Relator: Ministro José Roberto
Freire Pimenta, 2.ª Turma, Publicação: DJT 17/5/2019.)

"II - RECURSO DE REVISTA. RECLAMANTE. LEI N.º


13.015/2014. INSTRUÇÃO NORMATIVA N.º 40 DO TST. SERVIÇOS
SOCIAIS AUTÔNOMOS. INTEGRANTES DO SISTEMA ‘S’.
DISPENSA IMOTIVADA. IMPOSSIBILIDADE. MOTIVAÇÃO
EXIGIDA EM NORMA INTERNA. 1 - A controvérsia dos autos diz
respeito à necessidade de serem observadas normas procedimentais internas
editadas pelo próprio SEBRAE/PA - Serviço Social Autônomo, integrante
do Sistema ‘S’ - para a dispensa de seus empregados. 2 - Conforme se
infere do trecho do acórdão Recorrido transcrito pela parte, a Corte
Regional levantou tese no sentido de que ‘Todas essas normas são previstas
internamente nos manuais da instituição’ e que, por isso, as disposições
dessas normas não geram direito subjetivo a não dispensa aos empregados,
uma vez que ‘se trata de norma de cunho meramente procedimental interno
da instituição’. Consignou que o parecer prévio à dispensa estabelecido nas
Firmado por assinatura digital em 11/09/2019 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
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PROCESSO Nº TST-RR-533-14.2016.5.08.0013

normas internas do Sebrae/PA não vincula os seus administradores, os quais


estão subordinados apenas ao Estatuto Social. Por fim, observou que tal
Estatuto não estabelece limitação de normas internas ao poder de dispensa
do administrador. 3 - As normas procedimentais internas adotadas pelo
reclamado vinculam a sua atuação, pois este, ao editar espontaneamente
normas de gestão, que impõem limites de observância obrigatória quanto à
dispensa dos empregados, se obriga a segui-las. 4 – Por consequência, essas
normas internas pactuadas, as quais regulam o deverão ser observadas pelo
empregador. 5 - Ademais, conforme se verifica, o próprio Sebrae/PA, ao
estabelecer as referidas normas, despojou-se do seu direito relativamente à
despedida imotivada de seus subordinados, não podendo, retroceder, porque
foi criada condição mais benéfica incorporada ao patrimônio jurídico do
reclamante. 6 - Cabe salientar, ainda, que embora as normas internas não
sejam capazes de conferir estabilidade aos empregados, estabeleceram
formalidades para a dispensa - como a motivação mediante emissão de
parecer prévio - que devem ser observadas e cumpridas. 7 - Como foram
pactuadas as condições de trabalho, nelas incluídas as regras para a
dispensa dos empregados, entende-se que as normas internas editadas pelo
reclamado não possuem a fragilidade de simples orientação, mas ressaltam
direitos e obrigações das partes, de modo que deve ser considerada nula a
dispensa imotivada que não observa o disposto na norma interna. 8 -
Recurso de revista a que se dá provimento". (Processo: RR-577-
63.2016.5.08.0003, Relatora: Ministra Kátia Magalhães Arruda, 6.ª Turma,
Data de Publicação: DEJT 29/3/2019.)

Ainda,   transcrevo   julgados   que   demonstram   o


entendimento do TST sobre a matéria:

"AGRAVO DE INSTRUMENTO DA RECLAMADA. INSTRUÇÃO


NORMATIVA 40 DO TST. RECURSO DE REVISTA SOB A ÉGIDE DA
LEI 13.015/2014. REQUISITOS DO ARTIGO 896, §1.º-A, DA CLT,
ATENDIDOS. A existência de norma interna da reclamada que prevê o
cumprimento de condição prévia para validar a resilição contratual não
retira da empresa o poder de resilir o contrato de trabalho. Todavia, devem
ser observadas as regras contidas no regulamento em questão para se
promover a dispensa sem justa causa, com participação da empregada no
programa de recuperação de desempenho assegurado na norma. No caso
concreto, o Regional asseverou que a reclamada não comprovou a
implementação dos termos da referida norma interna, o que frustrou o
objetivo da Política de Orientação para Melhoria por ele instituída. Frise-se
que a jurisprudência desta Corte entende que a não observância da condição
na Política de Orientação para Melhoria enseja a nulidade da dispensa com
a devida reintegração da obreira ao emprego. Precedentes de todas as
Turmas desta Corte. Agravo de instrumento não provido." (Processo: ARR-
Firmado por assinatura digital em 11/09/2019 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.12

PROCESSO Nº TST-RR-533-14.2016.5.08.0013

20514-39.2015.5.04.0251, Relator: Ministro Augusto César Leite de


Carvalho, 6.ª Turma, Data de Publicação: DEJT 15/12/2017.)

"AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. LEI


13.015/2014. POLÍTICA DE ORIENTAÇÃO PARA MELHORIA.
OBSERVÂNCIA DE NORMA INTERNA. NULIDADE DA DISPENSA.
REINTEGRAÇÃO. O Tribunal Regional deu provimento parcial ao recurso
do autor para declarar a nulidade da dispensa sem justa causa, com a
determinação de sua reintegração ao emprego e o pagamento dos salários e
demais vantagens do período compreendido entre a dispensa até a sua
efetiva reintegração, ao fundamento de que a reclamada não comprovou a
implementação dos termos da norma interna, concernentes à ‘Política de
Orientação para Melhoria’. A decisão guarda sintonia com o entendimento
desta Corte Superior no sentido de que o regulamento interno instituído
pela empresa vincula seus procedimentos e passa a integrar o contrato de
trabalho do empregado, de maneira a obrigar o cumprimento do próprio
regulamento em caso de demissão. Pertinência da Súmula 333 do TST e do
art. 896, § 7.º, da CLT. Precedentes. Agravo de instrumento a que se nega
provimento." (Processo: AIRR-20068-75.2013.5.04.0002, Relatora:
Ministra Maria Helena Mallmann, 2.ª Turma, Data de Publicação: DEJT
19/12/2017.)

"LEI N.º 13.015/2014. DESCUMPRIMENTO DE NORMA


INTERNA. NULIDADE DA DISPENSA SEM JUSTA CAUSA.
REINTEGRAÇÃO/INDENIZAÇÃO. A ‘Política de Orientação para
Melhoria’, criada pela empresa, estabelecia expressamente um
procedimento prévio à dispensa que, no caso concreto, não foi observado.
Desse modo, a reintegração é consequência lógica da nulidade da despedida
em desrespeito à própria norma interna e ao procedimento demissional
fixados pelo empregador. Recurso de Revista não conhecido." (Processo:
RR-1533-84.2012.5.09.0652, Relator: Ministro Lelio Bentes Corrêa, 1.ª
Turma, Data de Publicação: DEJT 10/11/2017)

"RECURSO DE REVISTA - NULIDADE DA DESPEDIDA -


REINTEGRAÇÃO - NORMA INTERNA. O Eg. Tribunal Regional
concluiu que a reclamada não observou o procedimento previsto em norma
interna para a demissão sem justa causa. Diante da constatação da nulidade
da despedida e exaurido o período previsto para a aplicação do Processo de
Orientação e Melhoria, a indenização compensatória é medida que se
impõe. Precedentes." (Processo: RR-1290-60.2013.5.04.0001, Relator:
DesEmbargador Convocado João Pedro Silvestrin, 8.ª Turma, DEJT Data
de Publicação: 19/12/2014.)

Desse modo, tendo a Vara de origem estabelecido a
premissa   –   não   desconstituída   pelo   Regional,   reitere­se   –   de   que
Firmado por assinatura digital em 11/09/2019 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.13

PROCESSO Nº TST-RR-533-14.2016.5.08.0013

foram pactuadas as condições de trabalho, nelas incluídas as regras
para   a   dispensa   dos   empregados   ­   como   a   necessidade   de   motivação
mediante   a   emissão   de   parecer   prévio   ­,   entende­se   que   as   normas
internas   editadas   pelo   reclamado   não   consubstanciam   simples
orientação, mas veiculam direitos e obrigações das partes, de modo
que deve ser considerada nula a dispensa imotivada que não observa o
disposto na norma interna.
Pelo exposto, dou provimento ao Recurso de Revista
para   declarar   nula   a   dispensa   do   reclamante   e   restabelecer   a
sentença   pela   qual   se   determinou   a   reintegração   ao   emprego,   nos
termos do disposto de fls. 429/430 e 528/529.

ISTO POSTO

ACORDAM os Ministros da Primeira Turma do Tribunal


Superior do Trabalho, à unanimidade: I - conhecer do Agravo de
Instrumento e, no mérito, dar-lhe provimento para determinar o
trânsito do Recurso de Revista; II - conhecer do Recurso de Revista,
por divergência jurisprudencial, e, no mérito, dar-lhe provimento
para declarar nula a dispensa do reclamante e restabelecer a
sentença pela qual se determinou a reintegração ao emprego.
Brasília, 11 de setembro de 2019.

Firmado por assinatura digital (MP 2.200-2/2001)


LUIZ JOSÉ DEZENA DA SILVA
Ministro Relator

Firmado por assinatura digital em 11/09/2019 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

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