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PROCESSO Nº TST-AIRR-37600-18.2007.5.02.

0038

A C Ó R D Ã O
5ª Turma
DCTRV/mmpg

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE


REVISTA. CONTRATO DE ESTÁGIO. RELAÇÃO
DE EMPREGO NÃO CONFIGURADA. HORAS
EXTRAORDINÁRIAS. COMPENSAÇÃO POR
DANOS MORAIS. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. DESPROVIMENTO. Mantém-
se a negativa de admissibilidade do
recurso de revista, uma vez que não
demonstrado que o apelo se encontra
revestido dos requisitos intrínsecos
previstos no art. 896 da CLT. Agravo
de instrumento desprovido.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de


Agravo de Instrumento em Recurso de Revista n° TST-AIRR-37600-
18.2007.5.02.0038, em que é Agravante MICHEL MENDES OLIVEIRA e
Agravado 29ª TABELIÃO DE NOTAS DE SÃO PAULO.
O Egrégio Tribunal Regional denegou seguimento ao
recurso de revista do Autor.
Irresignada, a parte interpõe o presente agravo de
instrumento, sustentando, em síntese, que o despacho denegatório
merece ser reformado, porquanto se encontram preenchidos os
requisitos legais exigidos para o regular processamento do seu apelo
revisional.
Foram apresentadas contraminuta ao agravo de
instrumento e contrarrazões ao recurso de revista.
Não houve remessa dos autos ao Ministério Público
do Trabalho, ante o disposto no artigo 83 do Regimento Interno do
Tribunal Superior do Trabalho.
É o relatório.

V O T O

CONHECIMENTO
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Conheço do agravo de instrumento porque presentes


os pressupostos recursais de admissibilidade.

MÉRITO

O recurso de revista teve seguimento trancado com


base nos seguintes fundamentos:

PRESSUPOSTOS INTRÍNSECOS
CONTRATO INDIVIDUAL DE TRABALHO /
RECONHECIMENTO DE RELAÇÃO DE EMPREGO.
Alegação(ões):
- violação do(s) art(s). 3º, II, da Lei 11.788/2008.
- divergência jurisprudencial.
O Regional destacou que, observado o disposto na Lei 6.494/77, não
é possível reconhecer que houve vínculo empregatício no período em que
houve contrato de estágio.
A fundamentação exposta no v. acórdão é a de que:
Insurge-se o recorrente contra a r. sentença de origem,
que reputou válido o contrato de estágio entabulado entre as
partes e indeferiu o reconhecimento do vínculo de emprego no
período anterior ao registro.
Não prospera a irresignação.
Com efeito, o contrato de estágio, como modalidade
especial de prestação de serviços, embora admitido em sede
laboral, deve ser analisado com reservas, tendo em vista a
possibilidade de ser utilizado como forma de fraudar direitos
trabalhistas, desvirtuando-se de seu real objetivo e colocando o
trabalhador à margem da proteção legal. Assim, sua
configuração torna imprescindível a estrita observância das
condições impostas pela Lei nº 6.494/77 e Decreto nº
87.497/82, vigentes à época.
In casu, da prova documental colacionada aos autos
depreende-se que entre as partes fora firmado termo de
compromisso de estágio, mediante interveniência da instituição
de ensino (docs. 05/06 do 1º volume em apartado), no qual o
reclamante obrigou-se a cumprir suas atividades no horário
das 9 às 18 horas, com uma hora para alimentação e descanso,
inexistindo o propalado estágio atípico.
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Demais disso, o próprio demandante confessou, em


depoimento pessoal, que "foi indicado para trabalhar na
reclamada através da Unibs, que é um curso profissionalizante;
que o depoente fez entrevista e foi aprovado; que durante o
período de estágio o pessoal da Unibs comparecia na
reclamada de três em três meses a fim de acompanhar o
trabalho do depoente..." (fl. 79). Da confissão real, depreende-
se, de forma inequívoca, a inexistência de animus contrahendi,
porquanto tinha pleno conhecimento de sua condição de
estagiário.
O objetivo da lei é propiciar a profissionalização do
estudante, a aquisição de conhecimento teórico e,
fundamentalmente, prático, de forma a capacitá-lo em sua vida
profissional, sendo computado o referido período como
experiência profissional, para efeito de currículo. O serviço
prestado era voltado, de forma inconteste, para o
aperfeiçoamento profissional do reclamante que, inclusive,
confessou que desenvolvia o seu trabalho com
acompanhamento e supervisão.
Por outro lado, o fato de estabelecer-se jornada de
trabalho afigura-se plenamente compatível com as disposições
contidas no art. 5º, da Lei 6.494/77, porquanto não
comprovada (nem mesmo alegada) incompatibilidade com o
horário escolar.
Nesse contexto e de conformidade com o art. 4º da Lei
6.494/77, não há que se falar em inserção do autor nos
quadros da reclamada na condição de empregado no período
anterior a 02.01.2003, sendo, por conseguinte, irrepreensível o
julgado de origem.
Não obstante as afrontas legais aduzidas, bem como o dissenso
interpretativo suscitado, inviável o seguimento do apelo, uma vez que a
matéria, tal como tratada no v. acórdão e posta nas razões recursais, reveste-
se de contornos nitidamente fático-probatórios, cuja reapreciação, em sede
extraordinária, é diligência que encontra óbice na Súmula 126/TST.
DURAÇÃO DO TRABALHO / HORAS EXTRAS.
Alegação(ões):
- contrariedade à(s) Súmula(s) 338/TST.
- violação do(s) art(s). 74, § 2º, da CLT.
- divergência jurisprudencial.
A Turma indeferiu o pagamento de horas extras, por entender que os
controles de frequência não foram desmentidos nos autos.
Consta do v. acórdão:
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Irrepreensível a sentença proferida pela MM. Vara de


Origem que, de conformidade com o sistema do livre
convencimento motivado, da persuasão racional e da
valoração das provas (art. 131, CPC), entendeu não provada a
jornada declinada na exordial, dando prevalência à prova
documental.
Isso porque o próprio reclamante confessou, em
depoimento pessoal (fl. 79), que "o depoente efetivamente tinha
uma hora de intervalo diário", infirmando os termos da
exordial.
Demais disso, além de a única testemunha do reclamante
não ter trabalhado aos sábados, não se tratando de testemunha
presencial no particular, de segunda a sexta feira indicou
jornada de trabalho diversa daquela descrita na peça de
ingresso. Já o depoimento da testemunha patronal confirma a
correção das anotações de ponto (fl. 80).
Tais fatos mostram-se suficientes para o convencimento
de que a prova documental, consubstanciada nos cartões de
ponto, não restou infirmada.
Sob esse prisma, competia ao autor apontar, válida e
analiticamente, quaisquer diferenças de horas extras,
confrontando os controles de ponto e recibos de pagamento, de
cujo encargo não se desvencilhou, vez que não apontou, ainda
que por amostragem, quaisquer diferenças, reputando-se, por
conseguinte, inexistentes. Mera ilação, sem correspondência
fático-probatória, não atende às disposições contidas nos arts.
818, consolidado e 333, I, do CPC.
Analisando os embargos declaratórios opostos, o
Regional destacou que:
Está jurisprudencialmente assentado que não há
obrigatoriedade processual de serem esmiuçados todos os
pontos arguidos nos arrazoados das partes, bastando a
explicação dos motivos norteadores do convencimento sobre a
relação litigiosa, mediante a entrega da prestação
jurisdicional.
Contudo, apenas para fins de esclarecimentos, consigno
que todas as questões relevantes e controvertidas foram
analisadas e fundamentadas nos itens 2 e 5 do apelo obreiro,
de forma que não se afigura adequada a utilização da via
declaratória pela parte que busca reverter decisão avessa ao
seu interesse. De qualquer forma, no particular, registre-se que
ainda que admitíssemos a inversão do ônus probatório na
forma da Sumula 338, III do TST, a presunção favorável à
jornada inicial, restou infirmada pelo depoimento pessoal do
próprio reclamante, porquanto, como dito, confessou a fruição
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de uma hora de intervalo para alimentação, contrariando os


termos da exordial.
A controvérsia foi dirimida à luz do contexto fático-probatório, cuja
reapreciação encontra óbice na Súmula 126/TST e inviabiliza o seguimento
do recurso, inclusive por divergência jurisprudencial.
RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR/EMPREGADO
/ INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL.
Alegação(ões):
- divergência jurisprudencial.
Sobre o tema, assim manifestou-se a Turma:
A obrigação de indenizar exige inquestionável
comprovação de ato ou omissão pelo agente causador, nexo
causal e danos daí advindos, cuja prova deve ser sobejamente
demonstrada pela parte, aplicando-se a regra do art. 818
consolidado.
No caso vertente, não provou o demandante tivesse
sofrido grave abalo em sua reputação ou sequela moral, por
ato perpetrado pelo empregador, tampouco nexo causal, de
forma a ensejar reparação, mormente porque a única
testemunha obreira afiançou "que não havia problemas entre o
reclamante e a Sra Priscila, sendo que esta dispensava ao
reclamante um tratamento normal, cordial" (fl. 80), o que
restou corroborado pela prova testemunhal patronal .
No que se refere à modalidade rescisória, o reclamante
concorreu com a dispensa por justa causa, conforme decidido
no tópico supra, não havendo, pois, que se falar em
indenização por dano moral.
Nada a reparar.
Para chegar à conclusão diversa seria necessário o reexame de fatos e
provas, o que encontra óbice na Súmula 126/TST e inviabiliza o
seguimento do recurso, inclusive por divergência jurisprudencial.
DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DO TRABALHO / PARTES E
PROCURADORES / SUCUMBÊNCIA / HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS.
Alegação(ões):
- contrariedade à(s) Súmula(s) 425/TST.
- divergência jurisprudencial.
O recorrente sustenta que deve ser indenizado pelas despesas que teve
com honorários de advogado, nos termos dos arts. 389, 395 e 404, do CC.

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Eis a tese combatida:


Diante da improcedência da ação, não há que se falar em
honorários advocatícios, os quais, de qualquer forma, seriam
indevidos.
Isso porque é certo que o reconhecimento judicial do
direito material vindicado importa em reparação integral pela
obrigação descumprida. Não menos certo é que, em sede
trabalhista, esta reparação não abrange os honorários
advocatícios, vez que a parte pode atuar pessoalmente na
defesa de seus interesses (art. 791, CLT).
Nessa esteira de raciocínio, não há que se cogitar em
diminuição patrimonial decorrente de ato patronal, de forma a
ensejar reparação, estando ausente nexo causal, posto que os
danos materiais advindos do pagamento de honorários
advocatícios foram assumidos espontaneamente pelo autor.
Adoto, no particular, as Súmulas 219 e 329 do TST.
A Turma decidiu em consonância com as Súmulas 219 e 329, do C.
TST, o que afasta a admissibilidade do apelo, inclusive por dissenso
jurisprudencial (CLT, art. 896, § 4º).
CONCLUSÃO
DENEGO seguimento ao Recurso de Revista.

A Agravante alega que as provas colhidas nos autos


demonstram que foram preenchidos os requisitos legais necessários
para configuração da relação de emprego durante todo o período em
que o Autor prestou serviços ao Réu, inclusive durante o contrato de
estágio. Alega, em decorrência disso, violação dos arts. 3º e 9º da
CLT; art. 1º, 3º, II e §2º da Lei n. 11.788/2008, bem como aponta
dissenso pretoriano.
Argumenta, também, que o acórdão regional
contrariou a Súmula n. 338, III do TST e violou os arts. 74, § 2º,
818 da CLT; 333 do CPC, pois entende que o ônus da prova referente
às horas extras incumbe ao Vindicado, do qual não se desincumbiu.
Sustenta que os cartões de ponto carreados aos
autos são inválidos, pois não condizem com a realidade, seja porque
estão "invariáveis", seja porque estão em desacordo com outros
elementos probantes. Apresenta divergência jurisprudencial.

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Aduz que o acórdão merece reforma quanto ao


indeferimento da indenização por dano moral "(...) pois os fatos
apurados em audiência instrutória, comprovam que a recorrida foi sim
responsável direta das agressões psicológicas sofridas pelo
recorrente (...)" (sic, pág. 401).
Assevera que o apelo revisional merece ser
conhecido e provido, a fim de arbitrar honorários advocatícios,
argumentando, em síntese, que é "(...) sem sentido que ao se buscar
receber as verbas trabalhistas, mediante ação judicial, venha o
Autor ao final ter menos do que receberia, se cumprida a obrigação
contratual extrajudicialmente." (pág. 405) e que o jus postulandi
não se aplica às instâncias superiores. Aponta contrariedade à
Súmula n. 425/TST e à OJ n. 305 da SDI-1 desta Corte; violação aos
arts. 5º, 133 da CF; 16 da Lei n. 5.584/70; da Lei n. 8.906/94 e
apresenta dissenso pretoriano.
Inicialmente, cumpre-me esclarecer que fica
prejudicada a análise do apelo no tocante ao tema "indenização por
danos morais", com   fulcro   no   inciso   II   do   art.   514   do   CPC   e   na
súmula n. 422/TST, uma vez que a parte não rebate especificamente os
fundamentos expostos no despacho denegatório.
Quanto à alegação de existência de "vínculo de
emprego no período do contrato de estágio", esclareço que o Regional
concluiu, após a análise das provas contidas nos autos, insuscetível
de reexame nesta instância (óbice da Súmula n. 126/TST), que não
restou configurada a relação de emprego entre as partes no período
anterior a 02.01.2003, consignando expressamente que a decisão
observou as condições impostas pela Lei n. 6.494/77 e pelo Decreto
n. 87.497/82, os quais regulamentavam o contrato de estágio na
época.
Incólumes, portanto, os dispositivos invocados
pelo Recorrente e inviável o cotejo de teses.
Relativamente ao tema "horas extraordinárias"
observa-se que as alegações expostas no agravo de instrumento não
logram êxito em demonstrar o desacerto do despacho de
admissibilidade, pois para se alcançar conclusão diversa da
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constante no acórdão, necessário seria o reexame de fatos e provas,


o que encontra óbice da Súmula n. 126/TST.
Quanto aos "honorários advocatícios", cumpre
registrar que diante da improcedência da ação e manutenção do
trancamento do recurso de revista quanto aos tópicos anteriores, a
discussão acerca do preenchimento dos requisitos exigidos para a
concessão dos honorários advocatícios revela-se inócua.
Prejudicada a análise de divergência
jurisprudencial, bem como da arguição de violação dos dispositivos e
de contrariedade aos enunciados invocados, no particular.
Mantém-se, portanto, a negativa de admissibilidade
do recurso de revista.
Nego provimento.

ISTO POSTO

ACORDAM os Ministros da Quinta Turma do Tribunal


Superior do Trabalho, por unanimidade, conhecer do agravo de
instrumento e negar-lhe provimento.
Brasília, 15 de outubro de 2014.

Firmado por Assinatura Eletrônica (Lei nº 11.419/2006)


TARCÍSIO RÉGIS VALENTE
Desembargador Convocado Relator

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