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Recomendação Internação Compulsória Decreto 46314 de 2019 PDF
Recomendação Internação Compulsória Decreto 46314 de 2019 PDF
Considerando que a Defensoria Pública possui, com fulcro no art. 5º da Lei nº 7.347/1985 e arts. 4º,
VII e X, e 128, X, da Lei Complementar nº 80/1994, atribuição para, entre outras, (i) propor ação civil pública e
todas as espécies de ações em defesa dos interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos, quando o
resultado da demanda puder beneficiar grupo de pessoas vulneráveis; (ii) contatar órgãos e entidades
objetivando a obtenção de informações, dados, perícias, vistorias, documentos, exames, certidões, estudos,
pareceres, diligências, esclarecimentos e providências necessárias ao exercício de suas atribuições; e (iii)
buscando a solução extrajudicial dos litígios, atuar em conjunto com outras autoridades públicas e a sociedade
civil para o cumprimento das normas de proteção e defesa dos vulneráveis;
Considerando que, em 1946, a Organização Mundial de Saúde (OMS) conceituou a saúde como o
completo bem-estar físico, mental e social, em oposição à concepção anterior, de mera ausência de doença;
Considerando que, nesse passo, o direito fundamental à saúde, previsto nos arts. 6º, 196 e segs. da
Constituição Federal, art. 2º da Lei nº 8.080/1990 e em diversos instrumentos de Direito Internacional dos quais
o Brasil é signatário (Declaração Universal de Direitos Humanos, de 1948 – art. XXV, item 01; Pacto
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Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, de 1966 – art. 12; Convenção sobre os Direitos da
Criança, de 1989 – art. 3, item 03; e Declaração de Alma-Ata, dentre outros), constitui verdadeira liberdade real
ou concreta que impõe ao Estado a obrigação de ofertar uma ampla rede de serviços voltada também à atenção
e garantia da saúde mental;
Considerando que a Lei nº 10.216/2001 consolidou a Política Nacional de Saúde Mental como uma
política de governo, e redirecionou o modelo de assistência em saúde mental com foco na
desinstitucionalização progressiva e na construção de redes diversificadas e territorializadas de cuidados em
saúde mental, centradas na arte, cultura e renda como recursos terapêuticos e instrumentos de produção da
autonomia e inclusão social;
Considerando que, segundo essa política, consolidada há quase 20 anos, a internação, em qualquer
de suas modalidades (voluntária, involuntária e compulsória), só pode ser indicada mediante laudo médico
circunstanciado e como medida de exceção (ultima ratio), ou seja, apenas quando os recursos extra-
hospitalares se mostrarem insuficientes;
Considerando que a Lei nº 13.840/2019, que alterou a Lei nº 11.343/2006 e previu a possibilidade de
internação involuntária do usuário ou dependente de drogas, perfilha a mesa ratio acima e determina que a
internação, em qualquer de suas modalidades (voluntária e involuntária) (i) deverá ser precedida de decisão
médica e (ii) só poderá ser indicada quando comprovada a impossibilidade de utilização de outras alternativas
terapêuticas previstas na rede de atenção à saúde, ou seja, quando os recursos extra-hospitalares se
mostrarem insuficientes (art. 23-A);
Considerando que, como forma de garantir a aplicação correta da lei, evitar o desvio de finalidade do
instituto da internação do usuário ou dependente de drogas e garantir o seu direito fundamental à liberdade,
autonomia e integridade pessoal (art. 5º da CRFB/88), o art. 23-A, § 7º, da Lei nº 11.343/2006 determina que
todas as internações e altas ali previstas deverão ser informadas, em no máximo, 72 (setenta e duas) horas,
ao Ministério Público, à Defensoria Pública e a outros órgãos de fiscalização, por meio de sistema informatizado
único;
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Considerando que, por se tratar de garantia legal de direitos fundamentais caros ao Estado
Democrático de Direito (art. 1º, III, da CRFB/88), ela deve ser aplicada imediatamente e com a máxima
efetividade (art. 5º, §1º da CRFB/88);
Considerando que, no último dia 05 de agosto, o Município do Rio de Janeiro expediu o Decreto nº
46314/2019 suplementando a Lei nº 11.343/2006 para, de forma objetiva, operacionalizar a internação do
usuário ou dependente de drogas e de pessoa em situação de rua no território deste Município;
RECOMENDAM
Ao Exmo. Sr. Prefeito do Município do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, à Exma. Secretária Municipal
de Saúde, Ana Beatriz Busch e ao Exmo. Secretário Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos, Dr.
João Mendes de Jesus, bem como às demais autoridades municipais dotadas de atribuição para ações
administrativas e operacionais necessárias ao atendimento da presente, que:
(i) em no máximo 04 (quatro) dias, informe à Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro
(Coordenadoria de Saúde e Tutela Coletiva), ao Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro
e aos demais órgãos de controle eleitos pelo Município do Rio de Janeiro, o procedimento que,
em cumprimento ao disposto no art. 23-A, § 7º, da Lei nº 11.343/2006, será utilizado para
comunicação de todas as internações e altas de usuários ou dependentes de drogas e pessoa
em situação de rua, inclusive o sistema informatizado único que será utilizado para tanto com
a senha e modo de acesso;
(ii) em no máximo 04 (quatro) dias, informe a todas as unidades e órgãos públicos de saúde e
assistência social e direitos humanos bem como contratados e conveniados (públicos ou
privados) que, nos termos do art. 23-A, §7º, da Lei nº 11.343/2006, informem, em no máximo
72 (setenta e duas) horas, à Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro (Coordenadoria
de Saúde e Tutela Coletiva) e ao Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro todas as
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internações (voluntárias e involuntárias) e altas de usuários ou dependentes de drogas e
pessoa em situação de rua;
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