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RECOMENDAÇÃO CONJUNTA Nº 001/2019

DA COORDENADORIA DE SAÚDE PÚBLICA E TUTELA COLETIVA E DO NÚCLEO DEFESA DOS


DIREITOS HUMANOS DA DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO E DA 1ª
DEFENSORIA PÚBLICA REGIONAL DE DIREITOS HUMANOS DA DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO NO
RIO DE JANEIRO

A COORDENADORIA DE SAÚDE E TUTELA COLETIVA e o NÚCLEO DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS


DA DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO e a 1ª DEFENSORIA PÚBLICA REGIONAL
DE DIREITOS HUMANOS DA DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO NO RIO DE JANEIRO, por intermédio dos
Defensores Públicos signatários, Drª Alessandra do Nascimento Rocha Glória, Drª Thaísa Guerreiro de Souza,
Dr. Fábio Amado de Souza Barretto, Drª Lívia Miranda Müller D. Casseres, Dr. Pedro González Montes de
Oliveira e Dr. Thales Arcoverde Treiger:

Considerando que a Defensoria Pública possui, com fulcro no art. 5º da Lei nº 7.347/1985 e arts. 4º,
VII e X, e 128, X, da Lei Complementar nº 80/1994, atribuição para, entre outras, (i) propor ação civil pública e
todas as espécies de ações em defesa dos interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos, quando o
resultado da demanda puder beneficiar grupo de pessoas vulneráveis; (ii) contatar órgãos e entidades
objetivando a obtenção de informações, dados, perícias, vistorias, documentos, exames, certidões, estudos,
pareceres, diligências, esclarecimentos e providências necessárias ao exercício de suas atribuições; e (iii)
buscando a solução extrajudicial dos litígios, atuar em conjunto com outras autoridades públicas e a sociedade
civil para o cumprimento das normas de proteção e defesa dos vulneráveis;

Considerando que, em 1946, a Organização Mundial de Saúde (OMS) conceituou a saúde como o
completo bem-estar físico, mental e social, em oposição à concepção anterior, de mera ausência de doença;

Considerando que, nesse passo, o direito fundamental à saúde, previsto nos arts. 6º, 196 e segs. da
Constituição Federal, art. 2º da Lei nº 8.080/1990 e em diversos instrumentos de Direito Internacional dos quais
o Brasil é signatário (Declaração Universal de Direitos Humanos, de 1948 – art. XXV, item 01; Pacto
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Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, de 1966 – art. 12; Convenção sobre os Direitos da
Criança, de 1989 – art. 3, item 03; e Declaração de Alma-Ata, dentre outros), constitui verdadeira liberdade real
ou concreta que impõe ao Estado a obrigação de ofertar uma ampla rede de serviços voltada também à atenção
e garantia da saúde mental;

Considerando que a Lei nº 10.216/2001 consolidou a Política Nacional de Saúde Mental como uma
política de governo, e redirecionou o modelo de assistência em saúde mental com foco na
desinstitucionalização progressiva e na construção de redes diversificadas e territorializadas de cuidados em
saúde mental, centradas na arte, cultura e renda como recursos terapêuticos e instrumentos de produção da
autonomia e inclusão social;

Considerando que, segundo essa política, consolidada há quase 20 anos, a internação, em qualquer
de suas modalidades (voluntária, involuntária e compulsória), só pode ser indicada mediante laudo médico
circunstanciado e como medida de exceção (ultima ratio), ou seja, apenas quando os recursos extra-
hospitalares se mostrarem insuficientes;

Considerando que a Lei nº 13.840/2019, que alterou a Lei nº 11.343/2006 e previu a possibilidade de
internação involuntária do usuário ou dependente de drogas, perfilha a mesa ratio acima e determina que a
internação, em qualquer de suas modalidades (voluntária e involuntária) (i) deverá ser precedida de decisão
médica e (ii) só poderá ser indicada quando comprovada a impossibilidade de utilização de outras alternativas
terapêuticas previstas na rede de atenção à saúde, ou seja, quando os recursos extra-hospitalares se
mostrarem insuficientes (art. 23-A);

Considerando que, como forma de garantir a aplicação correta da lei, evitar o desvio de finalidade do
instituto da internação do usuário ou dependente de drogas e garantir o seu direito fundamental à liberdade,
autonomia e integridade pessoal (art. 5º da CRFB/88), o art. 23-A, § 7º, da Lei nº 11.343/2006 determina que
todas as internações e altas ali previstas deverão ser informadas, em no máximo, 72 (setenta e duas) horas,
ao Ministério Público, à Defensoria Pública e a outros órgãos de fiscalização, por meio de sistema informatizado
único;

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Considerando que, por se tratar de garantia legal de direitos fundamentais caros ao Estado
Democrático de Direito (art. 1º, III, da CRFB/88), ela deve ser aplicada imediatamente e com a máxima
efetividade (art. 5º, §1º da CRFB/88);

Considerando que, no último dia 05 de agosto, o Município do Rio de Janeiro expediu o Decreto nº
46314/2019 suplementando a Lei nº 11.343/2006 para, de forma objetiva, operacionalizar a internação do
usuário ou dependente de drogas e de pessoa em situação de rua no território deste Município;

RECOMENDAM

Ao Exmo. Sr. Prefeito do Município do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, à Exma. Secretária Municipal
de Saúde, Ana Beatriz Busch e ao Exmo. Secretário Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos, Dr.
João Mendes de Jesus, bem como às demais autoridades municipais dotadas de atribuição para ações
administrativas e operacionais necessárias ao atendimento da presente, que:

(i) em no máximo 04 (quatro) dias, informe à Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro
(Coordenadoria de Saúde e Tutela Coletiva), ao Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro
e aos demais órgãos de controle eleitos pelo Município do Rio de Janeiro, o procedimento que,
em cumprimento ao disposto no art. 23-A, § 7º, da Lei nº 11.343/2006, será utilizado para
comunicação de todas as internações e altas de usuários ou dependentes de drogas e pessoa
em situação de rua, inclusive o sistema informatizado único que será utilizado para tanto com
a senha e modo de acesso;

(ii) em no máximo 04 (quatro) dias, informe a todas as unidades e órgãos públicos de saúde e
assistência social e direitos humanos bem como contratados e conveniados (públicos ou
privados) que, nos termos do art. 23-A, §7º, da Lei nº 11.343/2006, informem, em no máximo
72 (setenta e duas) horas, à Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro (Coordenadoria
de Saúde e Tutela Coletiva) e ao Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro todas as
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internações (voluntárias e involuntárias) e altas de usuários ou dependentes de drogas e
pessoa em situação de rua;

(iii) Em no máximo 04 (quatro) dias, respondam a presente recomendação, informando as medidas


que foram implementadas.

ADVERTEM, outrossim, que a presente Recomendação cientifica e constitui em mora os


destinatários quanto às providências solicitadas e poderá, em tese, importar ato ímprobo na hipótese de não
atendimento, além de implicar a adoção de medidas administrativas e judiciais cabíveis contra os responsáveis
inertes, inclusive, junto à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, em face da violação dos dispositivos
legais.

Rio de Janeiro, 06 de agosto de 2019

Alessandra do Nascimento Rocha Glória Thaísa Guerreiro de Souza


Defensora Pública Estadual/Coordenadoria de Defensora Pública Estadual/Coordenadoria de
Saúde e Tutela Coletiva Saúde e Tutela Coletiva
Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro

Fábio Amado de Souza Barretto Lívia Miranda Müller D. Casseres


Defensor Público Estadual/Núcleo de Defesa dos Defensora Pública Estadual/Núcleo de Defesa dos
Direitos Humanos Direitos Humanos
Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro

Pedro González Montes de Oliveira Thales Arcoverde Treiger


Defensor Público Estadual/Núcleo de Defesa dos Defensor Público Federal/1º Defensor Regional de
Direitos Humanos Direitos Humanos
Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro Defensoria Pública da União no Rio de Janeiro

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