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BOBBIO
PODER: relação entre os dois sujeitos na qual um impõe o outro sua própria vontade
determinando seu comportamento (tipologia clássica). Poder como a capacidade que um sujeito
tem de influenciar, condicionar, determinar o comportamento de outro sujeito.
PODER POLÍTICO:
Universalidade: capacidade dos detentores de poder de tomar decisões legítima e operantes para
toda a comunidade
PODER POLÍTICO CUJO MEIO ESPECÍFICO É A FORÇA: Instrumento decisivo para impor
a própria vontade é o uso da força, a guerra. O uso da força como condição necessária, mas não
suficiente, para a existência do poder político. É caracterizado pela exclusividade do uso da
força em relação a todos os grupos que agem em um determinado contexto social (assemelha-se
ao conceito de Estado para Weber, onde é descrito como “comunidade humana que pretende,
com êxito, o monopólio do uso legítimo da força física dentro de um determinado território”)
Violência/força como meio comum e característico do poder político, assim como weber-
contrário a ideia de Hannah Arendt, onde o poder é baseado numa concordância social.
Poder civil baseado num consenso ( EM LOCK/BOBBIO) remete a idéia de Hannah Arendt do
poder caracterizado pela concordância dos membros de uma sociedade e não pela relação de
domínio.
Política não baseada nos fins, assim como Weber, mas com um fim mínimo: ordem pública nas
relações internas e a defesa da integridade nacional nas relações de um Estado com outros
Estados. Contrário a Aristóteles, que diz que o fim da política seria o “viver bem/bem comum”.
PODER PELO PODER: forma degenerada do exercício de qualquer forma de poder, em Weber,
quem participa ativamente da luta pelo poder, o QUER como meio de servir a outros objetivos
ideais ou egoístas, quer “poder pelo poder”, afim de desfrutar da sensação de prestígio atribuída
pelo poder.
CARL SCHMITT
Para ele, o político não de esgota na realidade estatal, pois o Estado, como expressão histórica
concreta da unidade política, não é nada mais do que o status político de um povo organizado
em um território, ou seja, a forma institucional moderna do político. A noção de Estado
enquanto status de um povo rejeita as abordagens normativistas ou contratualistas que reduzem
o público ao privado a partir da pressuposição de uma realidade pré-estatal e pré-social e não
histórica.
O ESTADO COMO ALGO POLÍTICO mostra-se errado pois o político é visto como algo
estatal, entretanto, ouve uma interpenetração entre o Estado e a sociedade e todas as questões
estatais tornaram-se sociais e as questões sociais transformaram-se em estatais. De modo geral,
o político é relacionado ao Estado, excluindo a sociedade como algo não estatal, logo não
político ou apolítico. Entretanto, segundo Schmitt, o estatuto do político é distinto do estatuto
moderno, pois este, no sentido literal do termo e conforme sua manifestação histórica, é uma
situação de um tipo particular de povo, e, mais precisamente, a situação que da a medida (ou
determinante) no caso decisivo, ele constitui assim em relação aos múltiplos status pensáveis,
tanto individuais como coletivos, o status por excelência.
O político exige um poder que decide sobre a ordem e garanta a unidade de um povo. Através
da decisão política é assegurada a unidade e soberania, ordem e representação tanto
externamente quanto internamente.
ESTADO PARA SCHIMTT: é a tentativa de evitar a guerra civil por meio do monopólio da
decisão e, durante alguns séculos, o monopólio político. Dessa forma, antes do monopólio da
violência, o Estado moderno possuía o monopólio da decisão, pois através deste adquiriu o jus
belli e a jurisdictio , autonomia externa e soberania interna, numa expressão, existência política.
Assim, o deciosinismo schmittiano difere da simples arbitrariedade por meio da constituição da
ordem, ou seja, a exceção que insere no interior do direito não é niilista, ao contrário: funciona
como mecanismo para possibilitar o funcionamento da ordem e como fundamento, embora não
racional, do direito, lado a lado com a decisão que determina a situação de exceção.
Segundo ele, a dimensão publica é a única verdadeiramente política, assim como para Hannah
Arendt.
HANNAH ARENDT
Labor e trabalho são classsificados como pertencentes a esfera privada, que é, para Arendt, o
reino da necessidade; a ação é tida como pertencente a esfera pública, que é o reino da
liberdade.
Por dependerem da esfera pública - e, aqui, "público" quer dizer "que tudo o que vem a público
pode ser visto e ouvido por todos e tem a maior divulgação possível"- a ação e o discurso têm o
caráter de revelar "quem", e não simplesmente "o que", o homem é. Vilolência como
característica do privado e persuassão (discurso) do público.
Para Hannah a individualidade (o quem) é importante, enquanto para Carl Schmitt o que
importa é o agrupamento.
Todas as três atividade tem relação com a natalidade. Mas a ação é a que tem maior intimidade,
pois o novo começo inerente a cada nascimento pode-se fazer sentido no mundo porque ele
possui a capacidade de agir.
Tudo o que adentra o mundo humano torna-se parte da condição humana. A existência humana
seria impossível sem as coisas, e elas seriam apenas um amotoado de artigos incoerentes se não
fossem condicionantes da existência humana.
Na modernidade, quando a sociedade surgiu como terceira esfera (as outras duas são a família e
a polis) e a distinção clara entre público e privado não foi mais possível, o terreno do homo
politicus começou a esvair-se sob seus pés. Está nova esfera não só surgiu como ponte entre o
publico e o privado, vestindo-se este último para colocá-lo no primeiro, como também trouxe
consigo, na opinião de hannah arendt, o declinio simultâneo destas duas esferas, de forma que a
esfera pública na era moderna passa a ser menos política do que social.
A abolição da ação faz da esfera pública - que era o lugar da distinção onde os homens
mostravam "quem" eram - o lugar onde os homens não manifestam sua humanidade, mas
apenas seu caráter de fabricantes de coisas, na pessoa do homo faber, ou sua animalidade,
envolvidos estão no ciclo do processo vital.
Violência como praticável pelos índividuos por viverem subjugado ás necessidades, entretanto a
violência é um ato pré-político para liberta-se das necessidades e conquistar a liberdade no
mundo. Ao contrário de todos os outros autores onde a violência/força física era um meio
político comum para alcançar determinado fim, para Hannah é um ato pré-político, o meio
político comum para ela é o discurso, a persuassão.
** direito que regulamenta o governo na modernidade é tido como pré-político na Grècia, pois o
domínio era característico do privado e não do político/público.
Crítica ao conformismo, o comportamento, - bem como Eva Maria Lakatos no seu capitulo
social-, busca a ação, o novo, o diferente. Comportamento como oposto de ação. "Ao invés de
ação a sociedade espera de cada um dos seus membros um certo tipo de comportamento,
impondo inúmeras e variadas regras, todas elas tendentes a 'normalizar' os seus membros, a
fazê-los "comportaram-se", a abolir a ação espontânea ou a reação inusitada. ** "sociedade das
massas, a esfera do social abrange e controla todos os membros de uma comunidade.
Igualdade agora como oposta a da polis, não é mais a capacidade de agir publicamente, hoje é
comandar e ser comandado, é ter um comportamento devido.
Quanto maior é a população, maior a probabilidade de que o social, e não o político, constitua a
esfera pública.
A construção da esfera pública depende do trabalho para que nela se exerça a ação. "O mundo
comum". O mundo comum acaba quando é visto somente sob um aspecto e só se lhe permite
uma perspectiva.
Significado da vida pública: ser visto e ouvido por outros é impotante pelo fato de que todos
veem e ouvem de ângulos diferentes. A aparência constitui a realidade.
A delimitação territorial é importante para delimitar o espaço do público, a esfera privada serve
também como limite do público/privado, assim como em Bobbio. Há a submersão do
público/privado no social.
A propriedade moderna perdeu seu caráter mundano e passou a situar-se na própria pessoa,
naquilo que o individuo somente podia perder juntamente com a vida, a "força de trabalho".
A pluralidade tem o duplo aspecto de igualdade (se não fossem iguais não conseguiram
compreender-se entre si) e diferença (se não fossem diferentes de tudo que já existiu ou existirá,
não necessitariam do discurso ou da ação para se fazerem entender). Pluralidade humana é a
pluralidade de seres singulares . O singular se mostra através do discurso e da ação. A ação
corresponde ao fato do nascimento (iniciar algo) e o discurso ao fato da distinção. Há uma
grande necessidade do discurso para o caráter revelador da ação, o discurso revela mais do que a
ação, por isso é necessário a identificação do autor, do que ele fez, faz e vai fazer, para
caracterizar a ação, que sem ele perde seu caráter de ação. A ação não é possivel no isolamento.
É necessária uma teia de relações humanas para que possa exibir o discurso e a ação.
O caráter revelador da ação e do discurso só se revelam com a presença de outros, não pró
(praticante de boas ações) nem contra (criminoso), pois estes não podem correr o risco da
revelação.
Na relação social existe uma teia de relações humanas, que é tecida pela ação e discurso dos
homens, cada feito novo entra em contato com outros feitos já pré-existentes, que criam novos
processos que afetam muitos outros, principalmente o que estão diretamente ligados. A esfera
dos negócios humanos consiste na teia de relações humanas que existe onde quer que os homens
vivam juntos ( O Etado, as leis, a moral, a religião...).
O homem poderoso por estar só é uma história falaciosa, porque qualquer ação vai incidir em
uma teia de relações humanas de homens também dotados do poder de ação, então ele nunca
está só, e mesmo com toda a força se ele não tiver apoio dos seus semelhantes, não se mantiverá
como governante.
Toda vez que alguém nasce (capaz de agir e discursar) ameaça a esfera dos negócios humanos
até então vigente. Nem todas as fronteiras (leis, etc) criadas para proteger essa esfera é capaz de
resistir ao efeito destruidor da ação. Por isso a moderação é uma das virtudes políticas por
excelência.
A ação é altamente individualista, quando o sujeito busca uma "eudamonia", deixar sua marca
na história, ser essencial, pois o anseio da auto-revelação é dado á custas de todos os outros
fatores e consequência (seria o caso de ética dos fins últimos de weber, que não pensa na
consequência de seus atos) O que importa é a ação, e não suas consequências ou finalidades.
A polis é um lugar imaterial, seu verdadeiro espaço se situa onde as pessoas vivem juntas com
propósito de agir e falar em conjunto. A polis era o espaço da aparência, onde eu apareço para
os outros e os outros aparecem para mim, garantindo assim a realidade do mundo. Esse espaço
da aparência existe sempre onde os homens se reúnem na modalidade da ação e do discurso, e
desaparece com a separação dos homens e com a suspensão das atividades. Espaço da aparência
reúne os homens e deixa de existir quando eles se separam(seria o caso de alguns movimentos
sociais como as manifestações de 2013, a primavera árabe etc).
"O poder só é efetivado enquanto a palavra e o ato não se divorciam, quando as palavras não são
vazias e os atos não são brutais, quando as palavras não são empregadas para velar intenções,
mas para revelar realidades e os atos não são usados para violar e destruir, mas para criar
relações e novas realidades."
O poder mantém a existência da esfera pública, ele mantèm as pessoas unidas. O poder existe
quando os homens agem juntos e desaparece no momento em que se dispersam, ao contrário da
força, que é qualidade natural de um índividuo isolado. A única limitação do poder é a
existência de outras pessoas, da pluralidade, mas esta é a condição humana dele, por isso é
possível dividir o poder e não o reduzir e até aumentá-lo (divisão dos três poderes de
Montesquieu), ao contrário da força, que é indivisível.
A violência é contrária ao poder e pode destrui-lo, mas não pode substituí-lo. A junção da força
e da impotência leva a futilidade ( ex.: tirania, que baseia no isolamento e destrói a pluralidade
da esfera pública).
O poder pode aniquilar a força, e a força combinada da maioria é ameaça constante ao poder. A
tirania tentou substituir o poder pela força.
O homo faber e o animal laborans denunciam o discurso e a ação como ociosidade, julgam pela
utilidade para os "fins mais nobres". Há uma incapacidade do homo faber para a diferenciação.
A principal diferença entre o trabalho escravo e o moderno trabalho livre não é a posse da
liberdade pessoal - liberdade de ir e vir, liberdade de atividade econômica e inviobilidade
pessoal - mas o fato de que o operário moderno é admitido na esfera pública enquanto cidadão.
O momento crucial da história do movimento operário foi a abolição do requisito de
propriedade para o exercício de direito de voto.
Houve a tentativa de eliminar a pluralidade pela modernidade, buscando fugir da fragilidade dos
negócios humanos, buscando a solidez (substituir a ação pela fabricação para salvaguardar
contra os perigos da pluralidade) equivale sempres a supressão da própria esfera pública. A
monarquia é a forma de poder oposta pluralidade humana, há o banimento do cidadão da esfera
pública.
No pensamento de Hannah Arendt, a politica não é dominio, não se baseia na distinção entre
governantes e governados e nem é mera violência, mas a ação em comum acordo, ação em
conjunto, sendo reflexo da condição plural do homem e fim em si mesma, já que não é um meio
para objetivos mais elevados. A politica aqui é vista como contrária a dominação.
Platão identificou a linha divisória entre pensamento e ação como fosse o que separa o
governante do governado (um ordena/sabe e não executa, e o outro executa sem saber/pensar) .
Platão queria eliminar o caráter privado da comunidade doméstica "a multidão torna-se um em
todos os aspectos", embora o homem "agisse" seria apenas como os outros, sem a possibilidade
do dissenso, todos agiriam igual. Platão via no conceito de governo o principal instrumento para
ordenar e julgar os negócios humanos sob todos os aspectos. Essa seperação entre
conhecimento/governo/comando e obdiência/execução serviu como base para as teorias de
dominio. As ideias dele se convertem em normas de comportamento, padrões. Buscava eliminar
a natureza frágil dos negócios humanos, a supressão do elemento pessoal para alcançar o
"governo ideal" platônico.
A era moderna traz a conviccção de que o homem é um homo faber e não um animal rationale,
de que suas capacidades "superiores" dependem da fabricação, trazendo então as implicações
mais antigas da violência.
Todos os meios, para o homo faber,desde que sejam eficazes, são permissiveis e justificaveis
quando queremos alcançar um "fim".
O trabalho passou a ser executado á maneira do labor, e os produtos do trabalho passaram a ser
consumidos como bens de consumo, destinados ao uso.
Para a autora alemã, a dignidade da política, conferida pela ação e discurso, não desapareceu
completamente. Hannah Arendt afirma que a "instrumentalização" da ação e a degradação da
política, como meio de atingir outra coisa, jamais chegariam a suprimir a ação, a evitar que ela
continuasse a ser uma das mais decisivas experiências humanas, nem a destruir por completo a
esfera dos negócios humanos".
O filho representa um novo mundo no mundo existente. O amor é anti-politico e por isso não é
o único capaz de perdoar, pois se fosse, a esfera dos negócios humanos não poderia perdoar.
Quando a promessa de caráter de pequenas ilhas de certeza, quando se abusa dessa faculdade, as
promessas perdem seu caráter de obrigatoriedade. A força que une as pessoas é a força da
promessa, do contrário mútuo. A moralidade se altera com o tempo, e não tem outro apoio
senão a boa intenção de perdoar e ser perdoado, de fazer e cumprir promessas.
A ação é vista como faculdade milagrosa do homem. O nascimento (a ação) salva a esfera de
negócios humanos * sua ruína natural, pois dá um novo começo.
A liberdade não era obtida no relacionamento do eu consigo mesmo, mas sim na interação com
seus semelhantes, pressupondo tanto a presença de outros "eus" , quanto a existência de um
espaço público organizado que permitiria a todos os homens livres "aparecer", isto é, agir.
Não só a possiblidade, latente em todos os seres humanos, de "começar", de criar algo novo,
fazendo surgir o inesperado, o imprevisivel, mas também, e não de maneira secundária, que a
ação política nunca se realiza no isolamento, sempre é uma ação em conjunto, configurando um
acordo entre iguais. Por mais que o inicio seja obra de um único individuo, há a necessidade de
"outros" para que a ação seja concluída, havendo então uma complementariedade entre as
dimensões da ação politica em Hannah Arendt. A politica não é a essencia do homem,
considerado isolamento, ser um "animal politico" como pensava aristóteles, mas por viver em
um mundo plural, a presença, o olhar do "outro".
A ação politica está em busca de distinção, isto é , a luta por reconhecimento da própria
singularidade, pois, como diz Arendt, é na coragem de agir, de "aparecer" no espaço público,
que o homem revela "quem é", que ele confirma sua própria identidade, a imagem que possui
dele mesmo.
Por estarmos inseridos em uma rede de relações, onde toda a ação gera reações, não podemos
saber intelgramente qual o resultado do processo irreversivel que desencadeamos no mundo. Por
isso Arendt diz que apesar de agirmos, não somos os autores da história.
Ninguém governa sozinho, sendo que atè mesmo aquele que se utiliza da violência, que governa
através de implementos, precisa de uma certa organização, do apoio dos outros para a
implementação dos seus objetivos, nas palavras de Arendt, diriamos que mesmo "o mandante
totalitário, cujo maior instrumento de dominio é a tortura, precisa de uma base de poder - a
policia secreta e sua rede de informantes"; o que significa dizer que a violência, apesar de ser
uma variavel que não pode ser ignorada, não é um operador universal, não sendo suficiente para
constituir uma comunidade política.
A politica, tal como Arendt a entende, como criação do novo, do inesperado, como ação plural,
resultado do amor ao mundo e não como violência, não somente se apresenta como uma
alternativa, como algo realizável, sendo inerente a condição humana, mas também representa
uma necessidade, pois é condição para a constituição do individuo e da comunidade politico-
juridica na qual nos movemos, haja vista que o reconhecimento do outro em sua diversidade não
somente repercute na confirmação do sentido da minha vida, mas antes é essencial para a
existência daquele que me transcende, que me precedeu e que provalvemente não desaparecerá
depois do meu 'fim'.