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HISTÓRIA

FORMAÇÃO DE PORTUGAL / REVOLUÇÃO DE AVIS


A Península Ibérica, berço geográfico da pátria portuguesa, foi primitivamente habitada por um povo
cuja origem é envolta numa complicada teia de lendas: os iberos. Por volta do ano 2000 a.C., um novo
grupo étnico formado com a assimilação dos iberos pelos celtas – os celtiberos – ocuparia a região.
No século XII a.C., gregos e fenícios – buscando estanho na Europa Setentrional – estabeleceram fei-
torias no sinuoso e recortado litoral da Península, principalmente em Málaga, Sevilha e Cádis. Pouco
depois, cartagineses, também navegando na “rota do estanho”, criaram entrepostos em solo ibérico.
No século I a.C., a Península Ibérica, após feroz resistência liderada pelo pastor Viriato, foi ocupa-
da pelos romanos, que a denominaram de Lusitânia. Em pouco tempo, a região conheceria um pro-
cesso de romanização. No século V d.C., com o colapso do Império Romano do Ocidente, levas su-
cessivas de bárbaros germânicos – suevos, alanos e vândalos – assolaram a Península. Culminando
o processo invasionista germânico, os visigodos, encabeçados por Ataulfo, instalaram-se na região.

No século VIII, ocorreria uma profunda alteração: atravessando o estreito das Colunas de Hércu-
les (hoje, Gibraltar), mouros e árabes ocuparam a maior parte das terras ibéricas. Os mouros eram
inimigos ferozes dos cristãos europeus, contra quem lutaram durante séculos. Muitos descendentes
dos antigos visigodos – agora cristianizados - recusaram-se, em nome da fé, a aceitar a dominação
islâmica, refugiando-se nas Astúrias – extremidade setentrional da Península Ibérica - e dando início,
sob o comando de Pelágio, a uma secular luta de resistência à presença muçulmana: a Guerra da
Reconquista. Pouco a pouco, ao longo desse sangrento e prolongado conflito e em consequência
desse, foram se formando os reinos ibéricos.

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HISTÓRIA

A FORMAÇÃO DO MODERNO VII, sucessor de Afonso VI no reino de Leão, em


Cerneja. Por fim, enfrentou com êxito os mouros
PORTUGAL em Ourique.
Portugal foi um dos reinados gerados pela Re- Política e militarmente fortalecido, Dom
conquista. Por ser fruto de um processo mi- Afonso Henriques proclamou, em 1139, a in-
litar, a nação portuguesa, formada no século dependência do reino de Portugal, tornando-se
XII, apresentou uma estrutura de poder centra- seu primeiro rei e fundador da Dinastia de Bor-
lizado, desconhecendo, desde sua fundação, gonha. Deste modo, Portugal emergiu como es-
o feudalismo no sentido político do termo. De tado soberano no início do século XII.
fato, o nascimento de Portugal, que foi dolorido Na época em que Portugal se tornou inde-
e sangrento, resultou na precoce formação de pendente, sua economia era basicamente vol-
uma monarquia poderosa e detentora de plena tada à agricultura. A principal fonte de renda
soberania. do país advinha da produção de azeite, vinho
Ao longo da Guerra da Reconquista (a ex- e cereais. Diferentemente das terras do interior,
pulsão dos muçulmanos da Península Ibérica) onde predominavam a agricultura e a pecuária,
foram nascendo vários pequenos reinos. No a região litorânea tornou-se centro de outras ati-
século XI, três deles – os de Castela, Galiza e vidades econômicas: a pesca, a navegação e o
Leão – se uniram sob a liderança de Afonso VI. início do comércio.
Dentro do espírito cruzadista então impe- Durante a Guerra da Reconquista, a monar-
rante na Europa Ocidental, a nobreza e o clero quia portuguesa ganhou força ao anexar novas
franceses apoiavam os esforços militares his- terras. Em 1147, Lisboa foi conquistada por D.
pânicos. Dentre inúmeros outros, dois nobres Afonso I e tornou-se a capital do reino. Em mea-
franceses, os irmãos Raimundo e Henrique de dos do século XIII, a região de Algarve, localiza-
Borgonha apoiaram a luta de Leão contra os da ao sul de Portugal, foi anexada por D. Afonso
muçulmanos. III. Naquela época, desenvolvia-se um sentimen-
to de nacionalismo português e as diferenças
Como recompensa de seus esforços, Rai-
culturais entre o povo de Portugal e de outras
mundo de Borgonha, ao se casar com a filha
populações da Península Ibérica ficavam cada
mais velha e legítima de Afonso VI, Dona Urra-
vez mais evidentes.
ca, recebeu como dote o Condado da Galiza.
Seu irmão mais novo casou-se com Tereza, filha
bastarda do soberano leonês, ganhando o Con- O PAPEL DOS BORGONHAS
dado Portucalense, região situada ao sul do rio (1139 – 1383)
Minho.
A Dinastia de Borgonha, primeiro momento
Com a morte de Afonso VI, Dona Urraca,
da história lusitana, desempenhou uma sé-
aproveitando-se do falecimento de seu cunha-
rie de importantes papéis para a consolida-
do, Henrique, exigiu que sua irmã lhe prestasse
ção inicial do reino de Portugal:
votos de vassalagem. Entretanto, Dona Tereza,
influenciada pelo amante – o Conde Fernando O PERÍODO DOS BORGONHAS
Peres de Trava – recusou-se a aceitar a imposi-
A. Autonomia e centralização monárquica.
ção da irmã.
B. Integralização do território português em fun-
Dom Afonso Henriques, filho legítimo de
ção da total expulsão dos muçulmanos. O pros-
Tereza, irritado com a influência de Trava sobre
seguimento da Guerra da Reconquista, agora
sua mãe, rebelou-se contra ela, vencendo seus
sob a liderança dos Borgonhas, deu ao conflito
partidários na famosa Batalha de São Mamede.
um cunho mais acentuadamente nacionalista.
Em seguida, bateu as tropas da tia e de Afonso

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De fato, enquanto a reconquista no resto da Pe- nomia nacionais; competências vedadas aos
nínsula Ibérica foi levada a efeito em nome do cidadãos, mesmo se proprietários. Em síntese,
cristianismo ocidental, em Portugal, ela passou podemos definir o Estado como o monopólio le-
a ser legitimada por interesses estritamente na- gítimo - pois fixado em lei - da força.
cionais. Pelo fato de que a formação e a Reconquista
C. Início da ascensão da burguesia mercantil portuguesas foram levadas a cabo sob a lide-
com aumento da importância dos portos e o sur- rança de um Rei precocemente centralizador, o
gimento de embrionárias técnicas de comércio. monarca lusitano não era apenas soberano em
seu país, mas praticamente seu proprietário.
D. Início da acumulação de capital comercial,
Quando desejoso de premiar os nobres que o
fundamentalmente em razão da exportação do
apoiavam, o governante português concedia a
sal da região de Setúbal.
eles a eventual posse de terras, não conferindo
As especificidades da formação e consoli- a soberania sobre elas, o que era essencial na
dação do Reino de Portugal, sob a égide dos estrutura feudal, onde a camada senhorial tinha
Borgonhas, geraram um Estado Patrimonialista. a posse e a soberania sobre os feudos. Dessa
maneira, ao contrário da nobreza feudal de ou-
CONCEITO DE ESTADO tras regiões europeias, o nobre lusitano recebia
PATRIMONIALISTA uma dádiva do Rei, sendo dele dependente e a
Para bem compreendermos o conceito de Es- ele submetido.
tado Patrimonialista, característica política da Como consequência, em Portugal, tornou-
formação de Portugal e, infelizmente, um vício -se relativamente indistinta as diferenças entre a
herdado pelo Brasil, devemos, inicialmente, de- esfera do público e do privado, pois o Rei era
finir dois preceitos jurídicos: o de Posse e o de soberano e proprietário. As competências do
Soberania. poder público e os direitos da posse se confun-
Dos Borgonhas, geraram um Estado Patri- diam. Ao contrário do que aconteceu nas nações
monialista. europeias nórdicas, nas quais os limites entre o
poder do Estado e o direito de apropriação eram
DEFINIÇÃO DE POSSE bem definidos, em Portugal, o Poder não era
uma função, um cargo, mas uma propriedade.
O direito de usar e abusar, conforme o tradicio-
Isso criou uma mentalidade viciosa em Portugal
nal preceito da doutrina jurídica romana. A pos-
e em suas colônias: não há governantes, há “do-
se de qualquer bem implica que esse pode ser
nos do poder”.
vendido, comprado, alugado, emprestado, hipo-
tecado, destruído, doado, etc. Noutros termos, A Dinastia de Borgonha, que reinou até 1383,
o proprietário pode dele dispor segundo suas não foi capaz de administrar com sucesso as mu-
vontades ou conveniências. danças sociais e econômicas que ocorriam em
Portugal. Esta dinastia não mantinha boas rela-
Dos Borgonhas, geraram um Estado Patri-
ções com a classe dos mercadores, que cresceu
monialista.
durante este período. A Dinastia de Borgonha foi
DEFINIÇÃO DE SOBERANIA substituída pela Dinastia Avis, que se preocupava
com os interesses comerciais e urbanos.
Consiste no poder – específico e exclusivo do
Estado – de querer coercitivamente e fixar com- No final do século XIV, Portugal, que até en-
petências. De fato, somente o aparelho estatal tão havia sido uma nação agrícola, começou a
pode impor sua vontade pela coerção juridi- desenvolver uma economia mais voltada para o
camente regulamentada, pois ele tem o direito comércio e a navegação. Na próxima aula, estu-
de aplicar justiça, tributar, exigir serviço militar, daremos o que causou essa transformação eco-
cunhar moeda e disciplinar as finanças e a eco- nômica em Portugal.
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HISTÓRIA

A EUROPA FEUDAL 5. Morte das cidades – Na Idade Média, as ci-


dades quase desapareceram e a maioria da po-
No século V, o gigantesco Império Romano do pulação vivia no campo e se dedicava à agricul-
Ocidente, já vitimado por uma crise estrutural tura e à pecuária.
iniciada dois séculos antes, foi destruído por Em resumo, o feudalismo - sistema políti-
bárbaros germânicos. As invasões dos bárbaros co, econômico e social que se consolidou por
provocaram uma terrível regressão nas estrutu- volta do século IX d.C. - caracterizou-se como
ras europeias: o abandono das cidades e um um modo de produção definido pelo regime de
consequente processo de ruralização, a quase servidão.
perda da economia monetária, o aniquilamen-
to da ordem jurídica romana e um enorme re- Após séculos de absoluta pobreza (a cha-
trocesso cultural. Além disso, a Europa se viu mada Alta Idade Média que se estendeu dos
comprimida num espaço geográfico limitado séculos V ao IX), a Europa feudal conheceu a
pela presença de muçulmanos no Mar Mediter- “Revolução Tecnológica do Século X”: o aprimo-
râneo e na Península Ibérica, além da ameaça ramento das técnicas de produção, tais como
de invasões magiares e tartáricas no leste e o fe- o surgimento da ferradura, a invenção do ara-
chamento de suas fronteiras setentrionais pelos do pesado, o atrelamento do cavalo pelo dorso
normandos e outros povos nórdicos. e não pelo pescoço e, no trabalho agrícola, a
transição da rotação bienal para a trienal, au-
CARACTERÍSTICAS DO mentando a produção de gêneros alimentícios.
FEUDALISMO Essas inovações técnicas, que propiciaram uma
1. Relação social fundamental – Os servos melhor alimentação para o homem feudal e o
eram subordinados aos senhores. Estes eram trabalho de pacificação realizado pela Igreja Ca-
donos da terra e ofereciam aos servos proteção tólica na Europa Ocidental, geraram a explosão
e o direito de utilização de seu solo em troca demográfica do século XI, quando se estima
de trabalho. Parte da produção era destinada que a população aumentou de 20 milhões para
à subsistência dos servos; outra parte, a maior, 60 milhões de habitantes.
era possuída pelos senhores. Esse brutal surto populacional causou uma
2. Descentralização Política – Na Idade Média, severa crise na Europa.
não existiam países como nós conhecemos hoje A Crise dos séculos XI e XII foi caracterizada
(Inglaterra, Estados Unidos, Brasil). Havia feu- pelos seguintes fatores:
dos, que eram porções de terra sobre as quais
1. Êxodo rural – Embora a população de gêne-
os senhores tinham posse e poder político. Os
ros tenha crescido, o aumento da população su-
senhores eram donos dos feudos e também
perou a capacidade técnica de alimentar todas
seus governantes.
essas pessoas. Em função disso, houve o aban-
3. Vassalagem – Os senhores feudais ou no- dono dos feudos, onde novamente prevalecia
bres mantinham entre si relações de fidelidade, a escassez. A consequência disso foi o êxodo
visando a proteção mútua. O vassalo, que era rural que resultou num grande crescimento na
um nobre, jurava fidelidade e apoio ao suserano, população vivendo nas cidades europeias.
que era um nobre de maior importância e em
2. Surgimento de uma nobreza pobre – Na Ida-
situação superior.
de Média, era vigente a “lei da primogenitura”:
4. Mínimo desenvolvimento econômico – Pra- só o filho mais velho herdava as propriedades.
ticamente não havia comércio; a produção era Como consequência da explosão demográfica,
destinada a abastecer o próprio feudo (“econo- aumentou o número dos secundogênitos que,
mia de subsistência”). apesar de seus pomposos títulos, nada possu-

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íam. A esses restavam, como opções, a vida O cruzadismo, a “Guerra da Reconquista” e
eclesiástica ou as aventuras da Cavalaria. o avanço germânico em direção ao leste euro-
peu fizeram o homem europeu, até então con-
3. Nomadismo – Em razão da crise, o homem
finado aos seus feudos, ampliar seus espaços
europeu passou a se locomover em busca de
e horizontes, físicos e também culturais. Como
espaço territorial e liberdade. O medievalista
consequência, surgiria o “comércio à longa dis-
(historiador especializado nos estudos sobre a
tância”, fator responsável pelo colapso da estru-
Idade Média) francês Jacques Le Goff descreve
tura feudal. De fato, ao longo do período com-
o período com uma saborosa expressão: “o ano
preendido entre os séculos VI e XII, a Europa
mil, ano da mobilidade e da vagabundagem”.
só conhecera o comércio à curta distância, no
Este nomadismo levou, inicialmente, à devas-
qual não existe a relação entre abundância e es-
tação das florestas europeias, visando criar no-
cassez. Noutros termos: duas regiões próximas
vas áreas agriculturáveis, e, também a peregri-
entre si apresentam os mesmos característicos
nações religiosas em direção à Terra Santa e à
climáticos, geológicos, topográficos e tecnológi-
Roma.
cos. Dessa maneira, o produto que é abundan-
4. Banditismo – A pobreza então vivida pela Eu- te numa determinada região, também o é numa
ropa tornou as viagens extremamente perigosas área próxima. Isso faz com que as trocas não
e inseguras, pois as estradas passaram a ser valham a pena, em termos pecuniários. Exem-
tomadas por assaltantes e marginais de todo o plifiquemos: se uma região “A” produz laran-
gênero. jas, nas cercanias, também existirão laranjais.
A única maneira de superação da crise que Assim, toda e qualquer troca será entre gêne-
abalava o Velho Mundo era dar início a um pro- ros semelhantes. A partir do momento em que,
cesso de expansão, visando ampliar os horizon- o homem europeu entrou em contato com o
tes territoriais europeus. Oriente e com áreas distantes de sua terra natal,
surgiu o comerciante: o indivíduo que percebeu
A expansão europeia a partir do século XII que um produto abundante e, portanto, barato,
assumiu três formas: numa determinada zona, se transportado para
1. As Cruzadas – A pretexto de libertar a Ter- uma área distante, onde esse gênero fosse raro
ra Santa, que caíra sob o domínio dos turcos e, por conseguinte, caro, essa locomoção traria
seldjúcidas (que eram muçulmanos radicais), o lucro. Nesse momento, tinha origem o capital
homem europeu levou adiante uma série de in- comercial.
cursões militares em direção ao Oriente Médio, Definição de capital comercial: capital gerado
cujas verdadeiras finalidades eram conquistar pela circulação de produtos.
novos territórios e reabrir o Mar Mediterrâneo
para a navegação ocidental. Definição de comerciante medieval: um loco-
movedor de bens, entre áreas distantes entre si,
2. A “Guerra da Reconquista” – Nobres hispâ- que ganha em função das diferenças dos pre-
nicos, com o apoio da Igreja e da nobreza fran- ços interzonais.
cesa, deram início a uma guerra para expulsar
os muçulmanos da Península Ibérica, por eles Por volta dos séculos XIII e XIV, nascia a bur-
dominada, em sua quase totalidade, desde o guesia mercantil, setor social dedicado ao co-
século VIII. O real significado da “Reconquista” mércio com o propósito de acumular capitais.
foi ampliar o continente europeu na sua extremi- Logo, o mercador percebeu que havia uma ou-
dade ocidental. tra forma de reproduzir seu dinheiro: emprésti-
mos que eram devolvidos com juros. Maravilho-
3. A “Marcha para o Leste” – A nobreza germâ- sa descoberta: o capital usurário.
nica ruma para a Europa Oriental, com o objeti-
vo de expandir a Europa para o leste. Definição de capital usurário: capital gerado
pela circulação do próprio dinheiro.

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O capital comercial e o capital usurário fo- o Rei, aniquilou os feudos, submetendo-os ao
ram os responsáveis pelo processo da acumu- poder do Rei, agora efetivo titular da soberania.
lação primitiva de capital, responsável pelo nas-
2. Burocratização - A intervenção estatal se faz
cimento do modo de produção capitalista, que
mediante um complexo e sofisticado quadro bu-
seria efetivamente implantado pela Revolução
rocrático, chefiado e simbolizado pelo Sobera-
Industrial do século XVIII. Numa primeira, e ain-
no.
da simplista, definição, chamamos essa acumu-
lação de primitiva pelo fato de ter precedido e 3. Solução de Compromisso – O estado ab-
possibilitado o capitalismo. solutista corresponde a um momento histórico
europeu no qual havia uma paridade de forças
OS OBSTÁCULOS À ACUMULAÇÃO entre a burguesia, detentora do poder econômi-
PRIMITIVA DE CAPITAL co, e a nobreza, politicamente ainda dominante.
Assim, podemos dizer que o absolutismo é um
O processo da acumulação primitiva de capital
“Pacto” entre dois setores sociais potencialmen-
e o consequente florescimento da economia
te conflitantes, mas momentaneamente, equili-
de mercado – elementos responsáveis pelo re-
brados.
nascimento urbano, desenvolvimento das ma-
nufaturas, emergência do capital financeiro e a 4. O apoio da nobreza – A aristocracia apoia
abertura dos feudos ao mercado – tiveram de e ocupa o aparelho de estado absolutista para
enfrentar dois obstáculos. manter seus privilégios sociais, já que estava
perdendo o controle da economia.
O primeiro deles foi o particularismo político
feudal. O fato de a nobreza deter a posse e a so- 5. O apoio da burguesia - Essa nova classe
berania sobre os feudos criava problemas para financiava e fortalecia o Rei, pois necessitava
os mercadores que se dedicavam ao comércio à do apoio estatal para destruir os feudos e ob-
longa distância. Percorrendo grandes extensões ter uma alavanca política para seu crescimento
geográficas, os burgueses eram obrigados a econômico.
atravessar inúmeros feudos, vendo-se forçados
O absolutismo, no plano político, correspon-
a pagar tributos em cada um deles, a cambiar
de a uma política econômica de cunho Mercan-
moeda de acordo com os desejos dos senho-
tilista. De fato, o Rei e os quadros burocráticos
res feudais e, até mesmo, a oferecer produtos,
estatais perceberam, ao longo dos Tempos Mo-
gratuitamente, aos potentados feudais. Tudo
dernos (período compreendido entre os séculos
isso encarecia os produtos. Com a finalidade de
XV e XVIII), que atitudes políticas que ajudassem
superar esse obstáculo, a burguesia mercantil
o enriquecimento da burguesia favoreceriam o
buscou eliminar a descentralização política feu-
fortalecimento do próprio estado. Na Europa
dal por meio do apoio ao Rei, que, assim fortale-
Ocidental geraria, nesse contexto histórico, um
cido, aniquilaria o particularismo político e enca-
“casal indivorciável”: Estado Absolutista e Políti-
beçaria a criação da fórmula política própria ao
ca Econômica Mercantilista.
mundo moderno: Estado Nacional.
CARACTERÍSTICOS DO
FORMAÇÃO DO ESTADO NACIONAL MERCANTILISMO
MODERNO – BURGUESIA MERCANTIL
APOIA E FINANCIA O REI 1. Protecionismo - Os governos impediam a en-
trada no país de produtos estrangeiros, visando
O Estado nacional, num primeiro momento, teve
impedir a saída de dinheiro para o exterior. Ao
como regime político o Absolutismo, cujos ca-
mesmo tempo, os governos diminuíam os im-
racterísticos foram:
postos sob os produtos nacionais para facilitar a
1. Estrutura política centralizadora – O estado venda deles nos mercados internacionais, o que
absolutista, fruto da aliança entre a burguesia e traria dinheiro para o país. Assim, os comercian-

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tes e produtores nacionais ficavam mais ricos e os governos mais fortes. Acelerava-se a acumulação
primitiva de capital. O slogan do mercantilismo era: “vender sempre, comprar nunca ou quase nun-
ca”;
2. Balança de comércio favorável - O protecionismo tinha como objetivo fazer com que o país ven-
desse mais do que comprasse, tendo assim, uma balança de comércio favorável a ele;
3. Metalismo - Os grupos obtidos no comércio eram medidos pela quantidade de metais preciosos
(principalmente ouro e prata) que o país possuísse. O símbolo, o sinal da riqueza de um país, era a
quantidade de metais que ele tivesse.

A CRISE DO SÉCULO XIV EM PORTUGAL


No século XIV, a Europa enfrentou problemas como a fome, guerras e pragas que devastaram gran-
de parte do continente. A crise do século XIV foi um crítico intervalo entre a destruição da realidade
feudal e o nascimento da estrutura capitalista. A Grande Fome, ocorrida nos anos de 1315 a 1317,
foi resultado de um grande crescimento demográfico ocorrido durante a época de más colheitas e da
alta no preço dos grãos. A quantidade de alimento era pequena em relação ao número de pessoas
a serem alimentadas; como a procura por comida aumentava, os preços também subiam. A Grande
Fome foi ainda mais difícil para a população urbana, que devido à falta de comida começou a migrar
das cidades para o campo.
Outra grande tragédia que atingiu a Europa foi a Peste Negra, um terrível surto de peste bubôni-
ca ocorrida entre 1347 e 1350, que se espalhou pelo continente e resultou na morte de aproximada-
mente 1/3 de todos os europeus. A Peste Negra resultou principalmente das terríveis condições de
higiene e alimentação existentes na Europa naquela época.
Além disso, falências das manufaturas, desemprego, escassez de gêneros, revoltas urbanas e
camponesas e conflitos militares, principalmente a Guerra dos Cem Anos (1337-1453), entre França
e Inglaterra, interromperam o comércio e levaram à destruição da agricultura na Europa Ocidental.
Os camponeses tornaram-se mais pobres, pois os senhores feudais começaram a exigir mais e
mais tributos para conseguirem pagar pelos bens comercializados que eram produzidos na Europa.
Esta situação levou à revolta de diversos camponeses e contribuiu para a decadência do feudalismo.
Neste momento histórico, o comércio europeu tinha basicamente dois grandes centros: a Itália
ao sul e os Flandres ao norte. Na região de Flandres, na atual Bélgica, foi desenvolvida uma podero-

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sa manufatura de tecidos de lã. Mercadores e ar- de produção e as relações sociais do Velho
tesãos flamengos (de Flandres) logo adquiriram Mundo. Agora, a mão de obra assalariada, a
grande fortuna e poder. A região de Flandres economia de mercado e a proliferação de cida-
e as cidades italianas do sul eram ligadas por des caracterizavam o panorama socioeconômi-
rotas comerciais terrestres que atravessavam o co europeu. Toda essa prosperidade, contudo,
centro da Europa. Era necessário, porém, uma tinha aspectos negativos. Se, por um lado, o
região central onde mercadores do norte e sul crescimento da força de trabalho, o aumento do
pudessem se encontrar para realizar seus negó- mercado consumidor e o regime de assalaria-
cios. Foi escolhida a planície de Champagne, na mento geravam riquezas nas mãos da camada
atual França, onde se realizavam, a cada ano, mercantil e dos manufatureiros, por outro, impli-
grandes feiras. cavam a elevação dos preços das mercadorias,
a exploração da força de trabalho e a ruína dos
Entretanto, no século XIV, os caminhos que
proprietários rurais e dos pequenos e médios
ligavam esses dois centros econômicos foram
artesãos e negociantes. Por toda parte, crescia
abandonados devido às calamidades que ocor-
a intranquilidade social. Com efeito, as profun-
riam no continente europeu: guerras, fome, pra-
das mudanças econômicas e sociais causavam
gas e a revoltas dos camponeses.
temor na maior parte da população europeia,
Visto que os caminhos terrestres se torna- que via, impotente, o aumento da pobreza e do
ram inviáveis, os mercadores italianos e flamen- desemprego. Agravando a crise, os monarcas
gos traçaram uma rota marítima que partia do europeus, buscando saldar as dívidas decor-
Mediterrâneo, chegava ao Atlântico e, parando rentes da manutenção das cortes e das guerras
em Portugal, continuava em direção ao mar do constantes, desvalorizavam as moedas, o que
Norte. A posição de Portugal como intermediário encarecia os gêneros básicos e aumentava as
impulsionou as atividades mercantis e urbanas dificuldades das famílias de menor poder aquisi-
na região litorânea do país. Nas áreas litorâneas, tivo. Esse processo inflacionário desorganizava
inicialmente marcadas pela presença de peque- a produção e o comércio, fomentando crises de
nas e pobres vilas dedicadas à pesca e a um crédito e inseguranças monetárias.
artesanato rústico, passaram a aportar navios
As crises europeias afetavam principal-
ingleses que rumavam para a Terra Santa, le-
mente as áreas rurais em Portugal. Diferente
vando militares que lutavam nas Cruzadas sob a
da próspera região litorânea, o interior do país,
liderança do Rei Ricardo, Coração-de-Leão. Nos
predominantemente agrícola, estava sofrendo
portos lusitanos, as tropas britânicas compra-
as terríveis consequências da Peste Negra e da
vam suprimentos, notadamente vinhos, frutas
Grande Fome. Os senhores feudais tiranizavam
e peixes defumados. Também as embarcações
os camponeses portugueses, conhecidos como
que faziam a “rota de Flandres” (da Itália para os
“povo miúdo”, que reagiam com rebeliões.
Países Baixos) paravam, por razões comerciais,
nas vilas litorâneas de Portugal. Pouco a pou- Nas cidades litorâneas, em contrapartida,
co, as regiões marítimas experimentaram gran- a burguesia comercial tornava-se mais rica e
de desenvolvimento mercantil, acompanhado poderosa, beneficiando-se com a abertura das
de flutuações sociais, mobilidade populacional, rotas atlânticas. Esta nova classe não tinha in-
trocas lucrativas e amplos contatos com merca- teresse em fazer parte da sociedade feudal; de-
dores estrangeiros. Em síntese, as vilas se trans- sejava envolver-se em atividades de navegação
formaram em cidades, sedes de uma próspera e expandir o comércio ultramarino, procurando
burguesia mercantil beneficiada por uma rápida outros mercados fora da Europa.
acumulação de capital.
D. Fernando, o Formoso (1367-1383), foi o
A crescente presença de uma próspera ca- último rei da Dinastia de Borgonha. Durante seu
mada de comerciantes transformou os modos reinado, as diferenças entre o litoral e o interior

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português ficaram ainda mais acentuadas. A moso, cuja esposa – Leonor Telles - era odiada
monarquia enfrentava dificuldades econômicas pela camada mercantil e pelos segmentos po-
e o rei, querendo impulsionar a economia, es- pulares, pois seu amante, o Conde de Andeiro,
timulou o comércio e a navegação oferecendo era ligado aos castelhanos. Além disso, a filha
incentivos e isenções fiscais aos comerciantes e de Dona Leonor, Beatriz, era casada com Dom
armadores. Enquanto isso, no interior de Portu- João, príncipe de Castela. Pairava, portanto, so-
gal, a situação econômica se agravava. Rebeli- bre Portugal a ameaça de “castelhanização”, hi-
ões estavam ocorrendo e as pessoas deixavam pótese impensável para o grupo mercantil.
o campo para migrar para as cidades litorâneas
Acordo assinado entre Castela e Portugal
mais prósperas. Para incentivar o desenvolvi-
determinava que o trono lusitano caberia ao filho
mento agrícola, o rei instituiu a Lei de Sesma-
que viesse nascer do enlace entre Beatriz e Dom
rias. De acordo com esta lei, qualquer território
João. Enquanto isso não ocorresse, a regência
que não estivesse sendo cultivado por seu dono
seria exercida por Leonor Telles, cujas ligações
ou que não fosse concedido para que outra pes-
com os castelhanos eram do agrado da nobre-
soa o cultivasse, seria confiscado. Porém, mes-
za. Entretanto, como já dissemos, para a bur-
mo esta medida não conseguiu impulsionar a
guesia comercial, ciosa da autonomia nacional,
agricultura ou evitar o êxodo rural. e também para as massas populares – a “arraia
miúda” – o domínio espanhol era intolerável.
A REVOLUÇÃO DE AVIS Logo após a morte de Dom Fernando, Ál-
A eclosão e, fundamentalmente, o êxito de um varo Paes, intelectual burguês com grande in-
processo revolucionário dependem dos seguin- fluência sobre as camadas mais humildes de
tes fatores: Lisboa, conclamou as massas à rebelião. O pri-
meiro passo foi a eliminação do Conde de An-
1. A existência de uma contradição social - em deiro, líder dos setores hispanófilos. Logo após
Portugal, os conflitos de interesses entre a bur- a morte do amante, Leonor Telles, destituída da
guesia mercantil litorânea e a nobreza feudal do regência, fugiu para a cidade de Santarém, onde
interior. entrou em acordo com seu genro castelhano vi-
2. Um agente revolucionário - em Portugal, a sando retomar o poder. Tinha início a Revolução
burguesia mercantil – já economicamente prós- dos Avis, cuja denominação decorre do fato de
pera e dotada de um projeto político nacionalista Nuno Álvares Pereira, porta-voz do grupo mer-
– conseguiu mobilizar as empobrecidas e insa- cantil, ter indicado Dom João, Mestre de Avis,
tisfeitas camadas populares (a “arraia miúda”). meio irmão de Dom Fernando, para assumir o
governo.
3. Condições revolucionárias - a crise do sécu-
lo XIV, pois Portugal foi vítima da Peste Negra, da Foram dois anos de luta. De um lado, a bur-
crise cerealífera e da queda das exportações do guesia mercantil e a “arraia miúda”, cujos pro-
sal extraído da região de Setúbal. jetos de democratização foram encampados
pelos mercadores de Lisboa e do Porto; de ou-
4. Um estopim - a crise dinástica.
tro, a nobreza militarmente apoiada pelos cas-
telhanos. A aliança entre o grupo mercantil e as
A CRISE DINÁSTICA
camadas populares esvaziou o caráter demo-
A dinastia dos Borgonhas sempre amparara as crático do processo revolucionário, agora, única
aspirações econômicas da burguesia portuária e exclusivamente, destinado a impor o domínio
lusitana, que, por seu turno, apoiava a centrali- burguês sobre o país. Em 1385, sob o comando
zação monárquica, pois temia as tendências his- de Nuno Álvares Pereira, as forças revolucioná-
panófilas da nobreza do interior. Em 1383, morria rias derrotaram os castelhanos na Batalha de Al-
o último dos Borgonhas, Dom Fernando I, o For- jubarrota. Ainda no mesmo ano, nas Cortes de

9
HISTÓRIA
Coimbra, o hábil jurista João das Regras defendeu, com êxito, a coroação do Mestre de Avis como
Rei de Portugal, sob a denominação de Dom João I. Estavam definitivamente consolidadas a indepen-
dência nacional lusitana, a dominação burguesa e a centralização monárquica.
Finalmente, após um longo período de instabilidade, encerrava-se a Idade Média para o povo
lusitano. A nação, agora sob a liderança burguesa, iria traçar novos rumos para seus destinos. Com
os Avis no trono, a pátria portuguesa, um Estado livre e coeso, atingia sua maioridade política. O pri-
meiro grande objetivo era superar as mazelas da crise do século XIV. Isso impunha a Portugal uma
gigantesca tarefa: a expansão marítima.

AS GRANDES NAVEGAÇÕES

A expansão ultramarina dos Tempos Modernos, iniciada no século XV, foi uma gigantesca tarefa que,
pela sua magnitude, exigiu a mobilização de recursos financeiros, tecnológicos e humanos numa es-
cala nacional. Essa arregimentação e canalização de esforços só puderam ser levadas a cabo por um
sofisticado, autoritário e centralizador aparato de poder: o Estado Nacional de Regime Absolutista,
cuja política econômica era de cunho mercantilista.
O processo das “grandes navegações” – outra denominação para a expansão ultramarina mo-
derna – conheceu duas fases: a primeira, típica do século XV e do início do XVI, foi estritamente
circulatória. Nesse período, a burguesia mercantil europeia, notadamente a ibérica, apoiada pelo

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HISTÓRIA
Estado, não investiu capitais na produção de 3. Política econômica – mercantilismo;
bens nas áreas extraeuropeias, limitando-se a
4. Processo de aceleração da acumulação
comprar produtos nativos, a preços baixos, re-
primitiva de capital – expansão ultramarina e
vendendo-os com alta lucratividade no Velho
montagem do sistema colonial.
Mundo. Nessa fase, não houve colonização pro-
priamente dita, pois os comerciantes europeus As crises que atingiram o continente euro-
simplesmente instalavam feitorias – fortes des- peu no século XIV incentivaram comerciantes e
tinados ao comércio – nas zonas litorâneas da mercadores a buscar outros mercados para ven-
África, do subcontinente indiano e da América. der e comprar bens de consumo. Somente as
Os portugueses não desejavam ocupar a África: “Grandes Navegações” gerariam empregos, re-
eles queriam estabelecer relações comerciais aqueceriam a economia pela conquista de mer-
com os líderes africanos para que pudessem cados, obtenção de metais preciosos e fontes
obter ouro, marfim e, principalmente escravos, de matérias-primas, possibilitando a retomada e
que eram levados para trabalhar em Portugal. aceleração do processo de acumulação primi-
tiva que viria a implantar o modo de produção
Com o desenvolvimento da expansão ul-
capitalista. A superação da crise do século XIV
tramarina, navegantes europeus, a serviço dos
só seria possível pela expansão ultramarina dos
interesses mercantis, foram encontrando terras
Tempos Modernos. No dizer poético de Fernan-
onde não havia produtos, ou esses eram em
do Pessoa, verso musicado por Caetano Veloso:
número insignificante, que contribuíssem para a
“navegar é preciso, viver não é preciso”.
acumulação de capital nas mãos da burguesia
comercial. Como sabemos, a lógica que presi- Na Europa, moedas feitas de metais precio-
diu o processo de expansão marítima dos tem- sos eram usadas como moeda corrente. A es-
pos modernos foi mercantilista e seu propósito cassez destes metais resultou no congelamento
era a obtenção de lucros. Ora, territórios impro- do comércio e na queda das atividades comer-
dutivos, onde não havia gêneros excedentes, ciais. Sem ouro, as trocas eram impossíveis e
contrariavam essa lógica, pois não contribuíam toda estrutura comercial europeia estava em
para a acumulação primitiva de capital. Assim, risco. Isso serviu como um motivo extra que le-
tornou-se necessária a aplicação de investimen- vou os europeus a procurarem outros territórios
tos para montar sistemas produtores nas áreas onde pudessem encontrar ouro e prata.
periféricas. A instalação de equipamentos de A Europa Ocidental, apesar de desprovida
produção e o consequente povoamento das de meios de pagamentos, tinha necessidade de
regiões extraeuropeias trouxeram consigo a co- goma e de tintas, reclamadas pela florescente
lonização. Em síntese: a montagem do sistema indústria têxtil. Isso forçava as camadas proprie-
colonial foi fruto da expansão ultramarina, mas tárias de Flandres, da Inglaterra e de Portugal a
não se confunde com ela, sendo, antes de tudo, efetuar vastas compras de substâncias tinturei-
um desdobramento, uma decorrência, dela. ras e de gomas nos mercados da orla mediter-
Em resumo, levando em conta tudo que rânea. Obviamente tais transações provocaram
aprendemos até aqui, podemos dizer que o uma transferência, cada vez maior, de metal pre-
mundo moderno, período compreendido entre cioso para os cofres italianos e árabes.
os séculos XV e XVIII, teve como elementos fun- A camada mercantil e os Estados Nacionais
damentais: não podiam assistir de braços cruzados à tragé-
1. Base econômica – capitalismo mercantil ou dia econômica que se abatera sobre a Europa
comercial (fase da acumulação primitiva de ca- Ocidental. A superação da grande crise era a
pital); meta de todos. A Igreja Católica, por exemplo,
via na expansão ultramarina um prolongamento
2. Estrutura política – estado nacional sob regi-
da luta contra o Islã e, também, uma forma de
me absolutista;

11
HISTÓRIA
cristianização de populações. Para a nobreza, cro resultante da importação desses produtos
arruinada pelo enfraquecimento das estruturas era altíssimo. Porém, os turco-otomanos impu-
feudais, a aventura marítima seria uma maneira seram barreiras a esse tipo de intercâmbio, for-
de recuperar o prestígio e o poder perdidos. çando então a burguesia comercial europeia a
buscar um caminho marítimo para as Índias.
O povo, principal vítima da guerra, das pes-
tes e da carestia, ansiava por novas oportunida- Os mercadores das cidades italianas de
des de emprego e meios de enriquecimento. A Gênova e Veneza viajavam para o Egito, Síria e
realeza, por sua vez, encarava o empreendimen- Constantinopla para importarem para a Europa
to marítimo como a fonte dos recursos essen- os produtos trazidos pelas caravanas orientais.
ciais à centralização da estrutura administrativa Estes mercadores italianos monopolizavam este
estatal. Todos, pois, mostravam-se interessados lucrativo negócio, o que estimulou outros países
na conquista do ultramar. Assim, a Europa Oci- europeus, especialmente Portugal e Espanha, a
dental, por inteiro, atirou-se decidida em direção tentarem quebrar este monopólio ao encontrar
ao Oceano Atlântico. um caminho marítimo para as Índias.
Além dos problemas econômicos, outros fa- Outro fenômeno contribuiu para a expansão
tores também levaram à expansão marítima do marítima. A burguesia comercial precisava do
século XV e XVI; um deles foi o progresso tec- apoio de um poder centralizador forte que aju-
nológico. A acumulação de capital dos comer- dasse a financiar suas viagens de exploração e
ciantes permitiu o desenvolvimento tecnológico que concedesse apoio político e militar para ga-
que possibilitou a expansão marítima. Mapas rantir suas conquistas coloniais. A formação de
das costas europeias tornaram-se mais precisos monarquias racionais permitiu que os objetivos
e foi criada a caravela, um barco leve e veloz da burguesia comercial fossem realizáveis.
que permitia a navegação em alto mar. Vários
instrumentos náuticos, como a bússola e o as- O PIONEIRISMO PORTUGUÊS
trolábio, foram inventados ou adaptados. A pól-
Portugal foi a primeira nação a dar início às gran-
vora também foi importante, pois os navegado-
des viagens de exploração. Diversos fatores aju-
res precisavam de armas de fogo para enfrentar
daram o país a tornar-se, na época, a grande
os perigos do desconhecido.
potência da expansão marítima.
Somado ao progresso tecnológico, os eu-
1. Portugal beneficiou-se de sua posição geo-
ropeus foram inspirados por lendas sobre as
gráfica: a região era um ponto de escala comer-
exóticas terras do Oriente. As narrativas do ex-
cial e tinha caminho aberto pelo Atlântico. A loca-
plorador italiano Marco Polo sobre a sua viagem
lização oceânica do reino português possibilitou
à China descreviam o Oriente como sendo uma
que os navios que operavam comercialmente no
rica fonte de ouro, seda e especiarias.
Mar do Norte, no Mediterrâneo e no Mar Báltico,
Muitos europeus sonhavam em explorar es- frequentassem regularmente seus portos. Por
tas fascinantes terras, que eram descritas com esse motivo, as transações mercantis de longa
grande entusiasmo pelos navegantes nos por- distância adquiriram enorme amplitude, fazendo
tos europeus. Além das lendas, havia motivos com que mercadores portugueses comercias-
econômicos reais que incentivavam a busca por sem em entrepostos da Inglaterra, de Castela,
novos mercados. Caravanas árabes transporta- de Marrocos e de Flandres.
vam por terra as mercadorias orientais até os en-
2. Portugal tinha uma burguesia que estava ávi-
trepostos nas costas do Mediterrâneo. Lá, essas
da por grandes lucros e que era financeiramen-
mercadorias trazidas do Oriente eram vendidas
te apoiada por bancos flamengos e italianos, e
aos comerciantes por preços muito altos. O lu-
pela Coroa portuguesa.

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HISTÓRIA
3. O país vivenciava um período de paz enquan-
to boa parte da Europa estava envolvida na
Guerra dos Cem Anos.
4. Tradição Pesqueira: desde os primórdios da
velha Lusitânia romana, o homem português ti-
nha no mar sua grande morada, já que vivia ba-
sicamente das atividades pesqueiras.
5. Madeira para as embarcações: o rei Dom Di-
niz, o “Pai da Pátria” ainda na época dos Bor-
gonhas, mandara plantar na região de Leiria, pi-
nhais que forneciam madeira de alta qualidade
e bastante adequada para a construção naval.
6. Aprimoramento das técnicas de navegação:
os portugueses haviam se transformado em
grandes navegadores e tinham aperfeiçoado
alguns instrumentos de navegação que haviam
sido inventados em outros países. Tudo isto 3. Setores sociais envolvidos: burguesia mer-
ocorreu graças a D. Henrique, que fundou a Es- cantil (interessada em lucros); burocracia estatal
cola de Sagres. D. Henrique era o terceiro filho (preocupada em arrecadar tributos e fortalecer
de D. João I, da Dinastia de Avis, e fundou a Es- o Estado centralizado); camadas populares (de-
cola ao reunir peritos em cartografia, astronomia sejosas de oportunidades econômicas) e a Igre-
e navegação, impulsionando assim expedições ja Católica (para a qual, a expansão ultramarina
marítimas para a costa ocidental africana. seria a continuação do cruzadismo, pois levaria
7. Devido à Revolução de Avis, Portugal, dife- a cruz cristã para as “terras dos infiéis”).
rentemente da maioria dos países europeus, A navegação atlântica portuguesa exigia a
possuía um governo central que apoiava os inte- eliminação da marinha muçulmana que então in-
resses comerciais e mercantis. Em suma, a ex- festava as águas próximas ao Estreito de Gibral-
pansão ultramarina interessava a praticamente tar. A principal base naval islâmica era Ceuta, no
todos em Portugal: a burguesia buscava lucros, Marrocos. Em consequência, a busca das fontes
a nobreza desejava a glória e conquistas territo- das especiarias – gêneros de reduzido volume
riais e a monarquia almejava mais poder. e alto valor unitário – do ouro, do marfim e de
A expansão marítima portuguesa obedeceu ao outros gêneros orientais exigia um primeiro pas-
seguinte plano: so: a conquista de Ceuta, cuja importância, além
de militar, era o fato de ser uma área de con-
1. Objetivos da expansão ultramarina por-
vergência de comércio e riqueza. Ceuta era um
tuguesa: romper com o monopólio comercial
importante centro de comércio de mercadorias
ítalo-muçulmano no Mediterrâneo por meio da
orientais de luxo e de produtos africanos (ouro
descoberta de rotas alternativas para o Oriente;
e marfim, por exemplo) que tinham grande valor
acelerar a acumulação de capital nas mãos da
para o comércio europeu. A conquista de Ceuta
burguesia mercantil portuguesa, o que fortale-
significaria a obtenção de grandes lucros para o
ceria o aparelho de Estado; superar a crise que
rei, para a nobreza e para os comerciantes por-
ainda assolava Portugal.
tugueses. Esses grupos, portanto, se juntaram
2. Rota escolhida: o périplo africano (contor- e levantar recursos para financiar a viagem e a
nar o continente africano rumo ao subcontinente guerra contra os mouros.
indiano).

13
HISTÓRIA
A rica e poderosa Igreja Católica também entender da aristocrata, seria a última cruzada, a
desejava a conquista de Ceuta, que era habitada maior e mais frutífera das quantas até então se
por muçulmanos. Conquistar Ceuta significaria tinham realizado para esmagar o infiel muçulma-
destruir os “infiéis” – aqueles que não seguiam a no e propagar o dogma católico. Possuir Ceuta,
fé católica. Derrotar os mouros de Ceuta signifi- portanto, significava, acima de tudo, fazer recuar
caria glória para a Igreja. o Islã.
Em 1415, ainda durante o reinado de Dom Além do fervor religioso, outro fator da entu-
João I de Avis, uma operação militar, levada a siástica adesão da nobreza ao saque de Ceuta
efeito com rapidez e extrema habilidade, tomou foi sua difícil situação financeira. Na realidade,
a bela cidade muçulmana, dando início à expan- boa parte dos fidalgos era pensionista da Coroa.
são ultramarina portuguesa. Vendo os proventos da terra diminuírem cada
vez mais em virtude da desvalorização mone-
LEITURA COMPLEMENTAR: tária, a aristocracia portuguesa achava-se num
A TOMADA DE CEUTA impasse econômico, não sabendo qual o me-
lhor caminho a seguir. Para impedir a constante
Em 1415, data inicial da aventura marítima portu- diminuição de seus já parcos recursos, ela só
guesa, Ceuta foi conquistada pelos navegadores tinha um remédio: alargar por meio da conquista
e soldados do rei D. João I. Inúmeras razões leva- a sua magra bolsa. Atacar Castela, hegemônica
ram Portugal à tomada da importante cidade. Im- na Península Ibérica, seria uma imprudência que
perativos de toda ordem – políticos, religiosos e não interessava à casa de Avis, ainda imatura no
econômicos – atuaram como elementos motores trono. Restava, pois, uma saída: desviar a impe-
do empreendimento. Cada razão, cada estímulo, tuosa, porém necessitada nobreza lusitana para
agiria mais fortemente neste ou naquele setor da o Marrocos.
sociedade lusa. Os motivos eram diversos, mas Paralelamente aos já citados, outro fator,
ninguém se mostrava insensível às aspirações este estritamente militar, levaria o pequeno rei-
de natureza econômica ou religiosa. Realmente, no ibérico à conquista do porto muçulmano de
a conquista de Ceuta foi uma empresa nacional Ceuta. A navegação do estreito de Gibraltar vivia
e cosmopolita, englobando os mais díspares in- em sobressaltos. Os navios que faziam a rota de
teresses. A aventura convinha ao Rei, à nobreza, Flandres corriam o risco permanente de serem
à burguesia dos portos, ao “povo miúdo”, enfim, pilhados pela pirataria mourisca, que tinha por
à nação. A necessidade comum de superar os base de operações o logradouro de Ceuta. As
males decorrentes das crises do século XV aglu- embarcações ocidentais eram obrigadas a na-
tinava todos os ânimos em torno do objetivo de vegar em comboios fortemente armados, o que
levar avante a temerária expedição. Ceuta, con- elevava de maneira assustadora os fretes marí-
quistada em função de um complexo de motivos, timos. Por conseguinte, a posse de Ceuta acar-
arremessaria os Avis para o Atlântico. retaria o controle político-militar de Gibraltar e a
O assalto a Ceuta agradava ao rei e aos fi- segurança da navegação mercantil entre o Medi-
dalgos, servos da fé católica. A ocupação da terrâneo e o Atlântico.
cidade moura estava profundamente ligada ao Também os mercadores portugueses esta-
velho impulso medieval da Reconquista. O espí- vam interessados nos assaltos a Ceuta. Esta rica
rito cruzadista animava a realeza e a aristocracia. cidade marroquina era um abundante empório
A fidalguia, fiel aos seus votos, sacrificou a vida de metais preciosos e de escravos africanos.
com o nobre propósito de “servir a Deus”. Com Além disso, a região norte do “Continente negro”
efeito, para a nobreza, toda expansão ultramarina tornou-se extremamente importante quando as
seria um esforço sagrado para a dilatação dos frotas mercantis italianas passaram a buscar o
preceitos católicos. A conquista oceânica, no Atlântico. Os percalços das rotas terrestres tran-

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HISTÓRIA
salpinas davam à via marítima veneziana de Flandres um grande vigor econômico. As naus italianas
chegavam aos portos napolitanos e sicilianos abarrotadas de vinhos, frutas, azeite, especiarias, lãs e
algodão.
Professor Luiz César Barretto Rodrigues

A aventura ultramarina portuguesa foi chamada de périplo africano porque tinha como objetivo che-
gar às Índias contornando a África. Isso ocorreu durante o século XV. Quando os portugueses chega-
vam às novas regiões, eles criavam feitorias. As feitorias eram pontos do litoral onde eram construídos
fortes, nos quais ficavam alguns homens para trocar mercadorias europeias por produtos nativos.
Estas feitorias tinham um único objetivo: obter lucros negociando os bens da região conquistada. Os
portugueses não tinham intenção de colonizar as regiões onde haviam estabelecido feitorias.
A vitória em Ceuta incentivou os portugueses a prosseguir a expansão por outros pontos na Áfri-
ca. No início do século XV, Portugal ocupou as Ilhas Atlânticas dos arquipélagos dos Açores, Madeira
e Cabo Verde. Nestas ilhas, os portugueses adquiriram experiência colonizadora que foi de grande
valor para eles em sua posterior colonização na América. Utilizando o trabalho escravo dos habitantes
das ilhas e os investimentos financeiros de Gênova, os portugueses fundaram ali uma lucrativa pro-
dução açucareira. Os lucros obtidos nesse empreendimento financiaram a continuação da expansão
africana.
Em 1434, os portugueses chegaram ao Cabo Bojador. Gil Eanes, o líder da expedição, descobriu
um oceano de fácil navegação ao sul.
Em 1488, navegantes portugueses, comandados por Bartolomeu Dias atravessaram o Cabo da
Boa Esperança, cruzaram o extremo sul africano e chegaram ao oceano Índico.

Em 1498, Vasco da Gama realizou o grande objetivo ultramarino português ao chegar em Cali-
cute, nas Índias. Calicute era um importante ponto do comércio de especiarias e era controlado por
muçulmanos. Quando a tentativa de estabelecer relações comerciais com o chefe de Calicute fracas-
sou, Vasco da Gama utilizou-se de violência para adquirir uma grande quantidade de especiarias e
produtos orientais que foi, por ele, trazido para Lisboa. Estava aberta, portanto, uma nova rota para
as Índias, que era mais rápida e barata que a anterior. O resultado disso foi uma maior prosperidade e

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HISTÓRIA
mais poder para Portugal e uma simultânea de- O CONTROLE GEOPOLÍTICO E
cadência para as cidades italianas e para o norte GEOESTRATÉGICO DO ATLÂNTICO
da Europa.
Com a abertura da rota atlântica para o Oriente,
AS CONSEQUÊNCIAS DA EXPANSÃO causada pela expansão ultramarina portuguesa,
ULTRAMARINA PORTUGUESA o Mediterrâneo perdeu sua tradicional importân-
cia como via comercial. A cosmopolita Lisboa,
Ao longo dos séculos XV e XVI, o reino de Por- capital lusitana, tornou-se o empório da Europa,
tugal dedicou-se totalmente a expansão ul- a ponte entre mundos econômicos diversos. O
tramarina, presidida pela lógica econômica “Mar Oceano” (o Atlântico) tornou-se a formidá-
mercantilista: comprar, a baixos preços, gêne- vel moldura geográfica. Com efeito, a conquista
ros produzidos pelos nativos das áreas extra- e a integração do Atlântico ao complexo mo-
europeias e revendê-los a alto preço no Velho saico da civilização ocidental inauguraram um
Continente. Dominando o comércio ultramarino novo tempo: a era capitalista e, com ela, a euro-
europeu, Portugal obteve imensos lucros, tor- peização do mundo. Noutros termos, o Ociden-
nando-se o mais rico país europeu durante a pri- te, cujas raízes são o pensamento grego, as ins-
meira metade do século XVI. tituições romanas e a ética judaica cristianizada,
Esta riqueza, contudo, era mais aparente do só se consolidou pelo europocentrismo. Ser
que real, pois quase toda ela era transferida para ocidental implica a aceitação dos parâmetros,
o exterior. A primeira razão dessa drenagem de arquétipos e moldes da cultura europeia.
capitais era o fato de que Portugal, país de agri-
cultura pobre e destituído de um parque manu- LEITURA COMPLEMENTAR:
fatureiro, era obrigado a importar praticamente O SIGNIFICADO DA EXPANSÃO
tudo o que consumia, pagando com os lucros ULTRAMARINA IBÉRICA
duramente obtidos no ultramar. Além disso, a
conquista e a manutenção do seu império ultra- Essa revolução europeizante e capitalista seria
marino absorviam uma porção considerável dos completada com o estabelecimento das rotas do
lucros auferidos pelo Reino. Finalmente, os cus- Atlântico americano, abaixo e acima da linha do
tos necessários para o sustento da Corte, con- equador. A montagem do grande império ultra-
troladora das atividades ultramarinas, eram de marino da dinastia de Avis, proporcionalmente
grande monta, pois o Trono, além de sustentar o gigantesco, foi um processo lento, cheio de ris-
luxo de uma ineficiente burocracia de Estado, fa- cos e dispendioso. Nesse extraordinário painel,
zia enormes doações à nobreza e ao clero, dois devemos situar a descoberta do Brasil. Não se-
grupos sociais parasitários que nada produziam ria inútil, portanto, a experiência adquirida pelos
e viviam às custas das rendas estatais. Foi um nautas e comerciantes lusitanos na construção
exemplo clássico da transferência de renda de uma majestosa civilização atlântica. O Atlân-
dos setores produtivos – burguesia e camadas tico, caminho duramente percorrido pelo des-
populares – para os totalmente improdutivos. bravador português, estava, no início do século
Pouco a pouco, o enfraquecimento econômico XVI, aberto a novas aventuras. Ao monopolizar
e, como consequência, político da camada mer- o tráfico de especiarias asiáticas, Portugal atin-
cantil deixou o empreendimento ultramarino ex- giu o ponto crítico da expansão marítima, que
clusivamente nas mãos da nobreza, totalmente abriria ao reino novas rotas, inclusive a do Bra-
despreparada para dirigi-lo. sil. Os marinheiros portugueses certamente não
Na segunda metade do século XVI, Portugal ignoravam a existência de terras nos mares do
já se encontrava em total decadência: seu apo- ocidente. A descoberta dos Açores pelas naus
geu – o “capitalismo manuelino” (em homena- henriquianas era o primeiro sinal de que Portugal
gem ao Rei D. Manuel) - foi bastante efêmero.

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HISTÓRIA
deveria navegar em mar largo para oeste. Com
efeito, o arquipélago açoriano, em virtude de sua
privilegiada localização, tornar-se-ia, em breve, o
nó dramático da expansão-base de operações
da investida portuguesa no Atlântico ocidental.
Entretanto, os eventuais descobrimentos lusita-
nos de territórios ocidentais, possivelmente reali-
zados no final do século XV, achavam-se envoltos
em mistério. Podemos dizer que fazem parte da
mitologia geográfica. Se efetivamente acontece-
ram, ficaram circunscritos ao norte do equador,
à costa setentrional da América do Sul ou ao mar
das Antilhas. Não obstante, podermos afirmar
com certeza que o marinheiro português conhe-
cia razoavelmente os caminhos atlânticos, ainda
no período pré-colombiano.
Professor Luis César Barretto Rodrigues

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