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Emoções, ensino e aprendizagem em NEE

segundo Asperger

Guia Prático para Professores


Definição da Síndrome de Asperger

Síndrome de Asperger é uma desordem pouco comum,


contudo importante na prevenção no processo psicológico
de crianças, que tardiamente é diagnosticado devido à falta
de conhecimento por parte dos profissionais,
nomeadamente dos professores e educadores. Muitas vezes
a síndrome de Asperger é confundido com uma perturbação
Obssessivo-Compulsiva, depressão, esquizofrenia, entre
outros.
Algumas
Características da síndrome

Aparecimento dos sintomas - “Dificilmente reconhecida antes dos 3 anos de idade, em


geral o diagnóstico ocorre por volta dos 5 ou 6 anos e muitas vezes com suspeita de
superdotação.” (Schwartzman, 1992)

Habilidades motoras - Desenvolvimento motor normal, mas com algumas inabilidades


psicomotoras, dando um aspecto de desajeitado. (Gillberd, 1993; Klin, 2003)

Desenvolvimento social – “Comunica-se socialmente de forma espontânea, mas decora”


as regras do jogo social (Klin, 2003; Schwartzman, 1992)

Fala/linguagem - Geralmente não há atraso no aparecimento da fala, que costuma ser


pedante e pouco usual à idade. Há fala estruturada gramaticalmente, mas com alterações
pragmáticas (Martin; Macdonald, 2003; Pastorello, 1996)

Desenvolvimento da leitura e da escrita - Desenvolvimento espontâneo e em idade


precoce (hiperlexia) em grande parte dos casos. (Schartzman, 1992)” (Lopes-Herrera,
S.A., 2005, p.24)
Avaliação/ Critérios de Diagnóstico
Os critérios para o diagnóstico da síndrome referem-se a déficits de
comportamento, interacção social e linguagem. Assim, os critérios propostos
pela Associação Americana de Psiquiatria, no seu sistemas classificativo DSM-
IV são:

1. Alteração qualitativa da interacção social manifestada por, pelo menos, dois dos itens
seguintes:

1.1. Alteração marcada de diversos comportamentos não verbais, como, por exemplo, o
contacto visual, a expressão facial, a postura corporal e os gestos que regulam a
interacção social.

1.2. Incapacidades no desenvolvimento de relações sociais com colegas do mesmo nível


de desenvolvimento.;

1.3. Menor procura da partilha do lazer, interesses ou aquisições com outras pessoas (não
mostrar, não apontar objectos de interesse a outras pessoas).

1.4. Reciprocidade social e emocional pobres.

2. Padrões de comportamento, interesses e actividades repetitivos, restritos e


estereotipados, manifestados por, pelo menos, um dos seguintes itens:
2.1. Preocupação absorvente com um ou mais padrões de interesses e actividades
restritos e estereotipados, que é anormal na intensidade e como foco de atenção.

2.2. Aderência inflexível a rotinas ou a rituais específicos não funcionais.

2.3. Maneirismos motores estereotipados e repetitivos (por exemplo, estalar ou rodar


os dedos, movimentos corporais complexos, etc...).

2.4. Persistente preocupação com partes de objectos.

3. Esta perturbação causa alterações importantes no relacionamento social,


ocupacional e outras áreas funcionais.

4. Não existe um atraso significativo da linguagem.

5. Não existe um atraso significativo no desenvolvimento cognitivo ou na aquisição


das funções adaptativas, da autonomia ou da curiosidade relativa ao ambiente.

6. Estas manifestações não se enquadram melhor nos critérios de diagnóstico de outra


perturbação pervasiva do desenvolvimento ou da esquizofrenia.
Papel do Professor

Segundo Cumine et al (2006), o professor de turma, o professor


de educação especial e o professor de apoio tem um papel
preponderante para a educação da criança com Síndrome de
Asperger.

O professor deve incentivar a criança na tomada de decisões,


orientar a mesma a nível individual indo contra a tendência de basear-
se só na instrução de dados a toda a turma. Sempre que possível,
deve estabelecer uma estreita relação com a rede de apoio disponível
de forma a haver um trabalho mais coeso e enriquecedor.
O papel do professor da turma é central para a educação da criança com
SA, pois ele que mantém a grupo a funcionar em sintonia. Cabe-lhe assegurar que
todas as crianças da turma são educadas a um nível que seja adequado às
necessidades de cada uma.

As áreas específicas sobre as quais o professor da turma deve debruçar são:

Criação de um ambiente de trabalho calmo;


Garantia de que a estrutura da sala de aula está perfeitamente definida;
Modificação das tarefas para tirar partido e consolidar as forças da criança;
Garantia de que a criança compreende o que se espera dela;
Introdução gradual da escolha, encorajando a tomada de decisões;
Estratificação das tarefas, aumentando gradualmente as exigências feitas à criança;
Orientação da atenção da criança a nível individual, em vez de se basear em instruções
dadas a toda a turma;
Acesso à formação disponível;
Planeamento de PEIs;
Registo e monitorização dos progressos;
Avaliação de estratégias de intervenção;
Trabalho em estreita relação com a rede de apoio disponível;
Estabelecimento e manutenção de ligações casa/escola Cumine & Lech & Stevenson,
2006).
O professor de educação especial é o indicado para levar a compreensão
especializada da SA para a sala do ensino regular, sendo que parte da sua
actuação consiste em aumentar a confiança de todos os que estão envolvidos na
educação da criança com SA.

O professor de educação especial eficaz possui:

Uma compreensão exaustiva da SA e das implicações pedagógicas inerentes;


Experiência de trabalho com crianças com síndrome de Asperger em vários ambientes diferentes;
A capacidade para “ver” o mundo do ponto de vista da criança e explicar essa visão a terceiros;
A sensibilidade para compreender a perspectiva do professor da turma e os factores que podem
constrangê-lo;
Capacidades para avaliar a criança no contexto que lhe é especifico;
A capacidade para a aconselhar as formas de manipulação do ambiente da sala de aula adequado ao
estilo de aprendizagem da criança;
Uma atitude positiva e aberta, e a capacidade para permanecer calmo;
Capacidades para ministrar cursos de Formação Especifica de Professores (INSET – In-Service Education
of Teachers);
Conhecimento da forma como o currículo pode ser diferenciado de forma eficaz;
A capacidade para estimular boas relações com os pais, os funcionários da escola e outros profissionais,
reconhecendo a necessidade de reafirmação (Idem).
Principais dicas para os professores de apoio

Segundo Cumine & Lech & Stevenson (2006), segue-se uma lista de ideias para uma
abordagem individualizada de crianças com SA:

Comunicação Comportamento
Simplifique a linguagem utilizada; Adopte uma abordagem com a máxima coerência;
Dê uma instrução de cada vez, em vez de uma série de Ajude a criança a compreender o que se espera dela,
instruções; através de rotinas explícitas e previsíveis;
Mantenha as expressões faciais e os gestos simples e Introduza a mais pequena alteração de forma gradual;
explícitos; Ajude a explicar as mudanças através de auxiliares
Dê tempo à criança para responder; visuais;
Utilize auxiliares visuais adicionais para ajudar a criança Se a criança ficar agitada, compreenda que as
a compreender; estratégias habituais para acalmar uma criança (por
Seja sensível às tentativas da criança para comunicar; exemplo, tentar senta-la no seu colo) podem ter o
Prepare situações que encorajem a criança a tentar efeito oposto e ela acabar por ficar ainda mais agitada;
comunicar. Se a criança tiver uma obsessão, não tente detê-la.
Com o tempo, talvez consiga limitá-la – entretanto,
utilize-a de forma positiva.
Interacção social
Compreenda que a criança pode sentir-se ameaçada
pela proximidade extrema de terceiros - sobretudo de Em geral:
outras crianças da mesma idade; Os resultados e os progressos podem ser lentos - não
Permita que a criança se isole; desista! (muitas vezes construir uma relação demora
muito tempo);
Acompanhe o ritmo da criança ao tentar desenvolver
uma interacção – talvez seja necessário “regredir” em Cada criança é única – o que resulta para uma pode
termos de desenvolvimento; não resultar para outra;
Identifique as preferências e as antipatias das crianças Cada criança é instável – por isso, se a criança estiver
a nível social – utilize este conhecimento ao planear as num “dia não”, não pense que a culpa é sua;
actividades; Se tudo o resto falhar, deixe-a sozinha. Amanhã é outro
É mais provável que a criança interaja com pessoas dia!
conhecidas, por isso dê-lhe tempo para ficar a conhecê-
lo e não a confunda com muitas mudanças de pessoal.
Actividades/Estratégias
Criar um ambiente de trabalho

O local onde a criança trabalha deve facilitar a concentração e a aprendizagem, com iluminação
adequada sem os factores extrínsecos:
visuais (brinquedos e televisão);
auditivos (o barulho de electrodomésticos ou dos irmãos,).

A superfície sobre a qual a criança trabalha deve ter apenas o material necessário para a tarefa;

Este local deve também ser escolhido tendo em conta as sensibilidades sensoriais excessivas da
criança.

Deve existir um consenso entre os pais e a criança sobre o local de trabalho onde irão ser feitas as
suas tarefas de aprendizagem ( como por exemplo deveres de casa), sem haver alterações do
mesmo;

Ter um computador disponível no local de trabalho poderá facilitar a escrita, pois ajuda no processo
de concentração uma vez que escrever à mão exige à criança grande concentração;

Se a criança tem dificuldade em aceitar a ideia de trabalhar em casa, procure recorrer a outros
locais tais como: bibliotecas ou casa de familiares (ex: a casa dos avós).
Modificação da Estrutura dos Trabalhos de
Casa
- Preparação do trabalho de casa pelo
- Pode ser útil usar um gravador áudio para
professor registar as instruções orais do professor e
- É essencial garantir que todas as normas
comentários ou lembretes da própria criança.
acerca dos trabalhos de casa foram registadas
de forma escrita, para que a criança não fique
confusa e seja capaz de recordar essa - Supervisão
informação na totalidade;

- O professor deve verificar os trabalhos de - É necessário supervisionar o começo da


casa que determinou, para decidir o que realização dos trabalhos de casa ;
realmente vai favorecer a criança e assinalar
os aspectos importantes, estabelecendo
- No decorrer da realização dos trabalhos de
prioridades nas actividades propostas;
casa é importante estar disponível e acessível
para a criança;
- As tarefas principais podem ser alteradas de
modo a serem mais apelativas para a criança.
- A supervisão também é necessária para
ajudar a criança a estabelecer prioridades;
- Estratégias para facilitar a
memorização dos trabalhos de - Ensinar uma criança com SA exige
casa competências especiais.

- Pode-se recorrer a uma agenda ou caderno


específico para registar diariamente os
trabalhos de casa, os livros ou o material
necessário para levar para casa ;

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