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A memória, a história, o esquecimento

Paul Ricoeur.indb 1 22/12/2009 15:56:28


universidade estadual de campinas

Reitor
Fernando Ferreira Costa

Coordenador Geral da Universidade


Edgar Salvadori De Decca

Conselho Editorial
Presidente
Paulo Franchetti
Alcir Pécora – Christiano Lyra Filho
José A. R. Gontijo – José Roberto Zan
Marcelo Knobel – Marco Antonio Zago
Sedi Hirano – Silvia Hunold Lara

Comissão Editorial da Coleção Espaços da Memória


Márcio Seligmann-Silva – Cristina Meneguello
Maria Stella Martins Bresciani
Jeanne Marie Gagnebin – Alcir Pécora

Conselho Consultivo da Coleção Espaços da Memória


João Adolfo Hansen – Edgar de Decca
Ulpiano Bezerra de Meneses – Francisco Foot Hardman

00 Memoria Historia Esquecimento2 2 26/01/2012 15:19:24


Paul Ricœur

A M EMÓR I A, A H I STÓR I A,
O E S Q U E C I M E N T O

00 Memoria Historia Esquecimento3 3 15/12/2011 11:45:55


ficha catalográfica elaborada pelo
sistema de bibliotecas da unicamp
diretoria de tratamento da informação

R426m Ricœur, Paul, 1913


A memória, a história, o esquecimento / Paul Ricœur – tradução:
Alain François [et al.]. – Campinas, sp: Editora da Unicamp, 2007.

Tradução de: La mémoire, l’ histoire, l’oubli.

1. Memória (Filosofia). 2. História – Filosofia. 1. Título.

cdd 153.1
isbn 978-85-268-0777-8 901

Índices para catálogo sistemático:

1. Memória (Filosofia) 153.1


2. História – Filosofia 901

Título original: La mémoire, l’histoire, l’oubli


Copyright © by Éditions du Seuil, 2000

Imagem da capa gentilmente cedida por


Staatliche Schlösser und Gärten
Baden-Württemberg
Kloster Wiblingen
Schloßstraße 38, 89079 Ulm

Copyright da tradução © 2007 by Editora da Unicamp

5a reimpressão, 2012

Nenhuma parte desta publicação pode ser gravada, armazenada em


sistema eletrônico, fotocopiada, reproduzida por meios mecânicos
ou outros quaisquer sem autorização prévia do editor.

Editora da Unicamp
Rua Caio Graco prado, 50 – Campus Unicamp
cep 13083-892 – Campinas – sp – Brasil
Tel./Fax: (19) 3521-7718/7728
www.editora.unicamp.br  –  vendas@editora.unicamp.br

00-INICIAIS.indd 4 29/10/2012 10:15:45


Espaços da Memória

E sta coleção reúne obras que são referência nos estudos da memória. Visando di-
vulgar e aprofundar esse campo de pesquisa, a coleção tem um caráter interdis-
ciplinar e circula entre a teoria literária, a história e o estudo das diferentes artes. Suas
obras abrem a perspectiva de uma visada singular sobre a cultura como um diálogo e
um embate entre diversos discursos mnemônicos e registros da linguagem.

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Sumário

Advertência ........................................................................................................................................17

I
DA M EMÓR I A E DA R EM I N I SCÊNCI A
1 Memória e Imaginação ........................................................................................................... 25
Nota de orientação ..................................................................................................................... 25
I. A herança grega ...................................................................................................................... 27
1. Platão: a representação presente de uma coisa ausente ...................................... 27
2. Aristóteles: “A memória é do passado” ..................................................................... 34
II. Esboço fenomenológico da memória ......................................................................... 40
III. A lembrança e a imagem ................................................................................................. 61

2 A Memória Exercitada: Uso e Abuso ............................................................................ 71


Nota de orientação ..................................................................................................................... 71
I. Os abusos da memória artificial: as proezas da memorização .................... 73
II. Os abusos da memória natural: memória impedida, memória
manipulada, memória comandada de modo abusivo ..................................... 82
1. Nível patológico-terapêutico: a memória impedida ............................................. 83
2. Nível prático: a memória manipulada ....................................................................... 93
3. Nível ético-político: a memória obrigada .................................................................. 99

3 Memória Pessoal, Memória Coletiva ........................................................................... 105


Nota de orientação ................................................................................................................... 105

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I. A tradição do olhar interior 107
...........................................................................................
1. Santo Agostinho ............................................................................................................... 107
2. John Locke .......................................................................................................................... 113
3. Husserl ................................................................................................................................. 119
II. O olhar exterior: Maurice Halbwachs .................................................................... 130
III. Três sujeitos de atribuição da lembrança: eu, os coletivos,
os próximos .......................................................................................................................... 134

II
H I STÓR I A / EPI ST EMOLO GI A
Prelúdio ............................................................................................................................................. 151
A história: remédio ou veneno? ....................................................................................... 151

1 Fase Documental: a Memória Arquivada .................................................................. 155


Nota de orientação ................................................................................................................... 155
I. O espaço habitado ................................................................................................................ 156
II. O tempo histórico ............................................................................................................... 162
III. O testemunho ..................................................................................................................... 170
IV. O arquivo .............................................................................................................................. 176
V. A prova documental ......................................................................................................... 188

2 Explicação/Compreensão .................................................................................................... 193


Nota de orientação ................................................................................................................... 193
I. A promoção da história das mentalidades ............................................................ 198
II. Sobre alguns mestres de rigor: Michel Foucault,
Michel de Certeau, Norbert Elias .............................................................................. 210
III. Variações de escalas ........................................................................................................ 220
IV. Da idéia de mentalidade à de representação ..................................................... 227
1. Escala de eficácia ou de coerção ................................................................................. 230
2. Escala dos graus de legitimação ................................................................................. 232
3. Escala dos aspectos não-quantitativos dos tempos sociais .............................. 235
V. A dialética da representação ........................................................................................ 238

3 A Representação Historiadora ......................................................................................... 247


Nota de orientação ................................................................................................................... 247

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I. Representação e narração ................................................................................................ 250
II. Representação e retórica ................................................................................................. 261
III. A representação historiadora e os prestígios da imagem .......................... 274
IV. Representância ................................................................................................................... 288

III
A CON DIÇÃO H I STÓR ICA
Prelúdio ............................................................................................................................................. 303
O fardo da história e o não-histórico ............................................................................ 303

1 A Filosofia Crítica da História ......................................................................................... 309


Nota de orientação ................................................................................................................... 309
I. “Die Geschichte selber”, “a própria história” ....................................................... 311
II. “Nossa” modernidade ..................................................................................................... 320
III. O historiador e o juiz ...................................................................................................... 330
IV. A interpretação em história ........................................................................................ 347

2 História e Tempo ...................................................................................................................... 357


Nota de orientação ................................................................................................................... 357
I. Temporalidade ....................................................................................................................... 364
1. O ser-para-a-morte .......................................................................................................... 364
2. A morte em história ........................................................................................................ 373
II. Historicidade ......................................................................................................................... 380
1. A trajetória do termo Geschichtlichkeit ...................................................................... 381
2. Historicidade e historiografia ..................................................................................... 388
III. Ser-“no”-tempo ................................................................................................................... 394
1. No caminho do inautêntico .......................................................................................... 394
2. O ser-no-tempo e a dialética da memória e da história ..................................... 395
IV. A inquietante estranheza da história .................................................................... 404
1. Maurice Halbwachs: a memória fraturada pela história .................................. 404
2. Yerushalmi: “mal-estar na historiografia” ............................................................. 408
3. Pierre Nora: insólitos lugares de memória ............................................................ 412

3 O Esquecimento.......................................................................................................................... 423
Nota de orientação ..................................................................................................................... 423

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I. O esquecimento e o apagamento dos rastros ......................................................... 428
II. O esquecimento e a persistência dos rastros......................................................... 436
III. O esquecimento de recordação: usos e abusos .................................................. 451
1. O esquecimento e a memória impedida .................................................................... 452
2. O esquecimento e a memória manipulada............................................................... 455
3. O esquecimento comandado: a anistia .............................................................. 459

EPÍLOGO
O PERDÃO DI F ÍCI L

I. A equação do perdão 467


.........................................................................................................
1. Profundidade: a falta ...................................................................................................... 467
2. Altura: o perdão ............................................................................................................... 472
II. A odisséia do espírito de perdão: a travessia das instituições ................. 476
1. A culpabilidade criminal e o imprescritível .......................................................... 477
2. A culpabilidade política ................................................................................................ 481
3. A culpabilidade moral ................................................................................................... 482
III. A odisséia do espírito de perdão: a escala da troca ...................................... 484
1. A economia do dom ........................................................................................................ 486
2. Dom e perdão .................................................................................................................... 488
IV. O retorno sobre si .............................................................................................................. 492
1. O perdão e a promessa ................................................................................................... 492
2. Desligar o agente de seu ato ........................................................................................ 497
V. Retorno sobre um itinerário: recapitulação ......................................................... 501
1. A memória feliz ................................................................................................................ 502
2. História infeliz? ................................................................................................................ 504
3. O perdão e o esquecimento .......................................................................................... 507

Í N DICE S
Índice temático .............................................................................................................................. 517
Índice dos nomes e das obras citadas ................................................................................ 523

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Em memória de Simone Ricœur

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Aquele que foi já não pode mais não ter sido: doravante, esse fato mis-
terioso, profundamente obscuro de ter sido é o seu viático para a eter-
nidade.
VLADIMIR JANKELEVICH

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Num lugar escolhido da biblioteca do mosteiro ergue-se magnífica es-
cultura barroca. É a figura dupla da história. Na frente, Cronos, o deus
alado. É um ancião com a fronte cingida; a mão esquerda segura um
imenso livro do qual a direita tenta arrancar uma folha. Atrás, e em
desaprumo, a própria história. O olhar é sério e perscrutador; um pé
derruba uma cornucópia de onde escorre uma chuva de ouro e prata,
sinal de instabilidade; a mão esquerda detém o gesto do deus, enquanto
a direita exibe os instrumentos da história: o livro, o tinteiro e o estilo.

Mosteiro de Wiblingen, Ulm.

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Advertência

E
sta pesquisa tem origem em diversas preocupações, umas pessoais, outras pro-
fissionais e outras, finalmente, que eu chamaria de públicas.
Preocupação pessoal: para nada dizer do olhar dirigido agora a uma longa
vida — Réflexion faite —, trata-se aqui de uma volta a uma lacuna na problemática
de Tempo e Narrativa e em Si mesmo como um outro, em que a experiência temporal e a
operação narrativa se enfrentam diretamente, ao preço de um impasse sobre a me-
mória e, pior ainda, sobre o esquecimento, esses níveis intermediários entre tempo e
narrativa.
Consideração profissional: esta pesquisa reflete uma convivência com trabalhos,
seminários e colóquios organizados por historiadores profissionais confrontados com
os mesmos problemas relativos aos vínculos entre a memória e a história. Este livro
prolonga, assim, um colóquio ininterrupto.
Preocupação pública: perturba-me o inquietante espetáculo que apresentam o ex-
cesso de memória aqui, o excesso de esquecimento acolá, sem falar da influência das
comemorações e dos erros de memória — e de esquecimento. A idéia de uma política
da justa memória é, sob esse aspecto, um de meus temas cívicos confessos.

Esta obra comporta três partes nitidamente delimitadas pelo tema e pelo méto-
do. A primeira, que enfoca a memória e os fenômenos mnemônicos, está sob a égide
da fenomenologia, no sentido husserliano do termo. A segunda, dedicada à história,
procede de uma epistemologia das ciências históricas. A terceira, que culmina numa
meditação sobre o esquecimento, enquadra-se numa hermenêutica da condição histó-
rica dos seres humanos que somos.
Cada uma dessas partes se desenvolve segundo um percurso orientado, que as-
sume, a cada vez, um ritmo ternário. Assim, a fenomenologia da memória inicia de-
liberadamente por uma análise voltada para o objeto de memória, a lembrança que
temos diante do espírito; depois, ela atravessa o estágio da busca da lembrança, da

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A MEMÓRIA , A HISTÓRIA , O ESQUECIMENTO

anamnésia, da recordação; passa-se, finalmente, da memória dada e exercida à memó-


ria refletida, à memória de si mesmo.
O percurso epistemológico abrange as três fases da operação historiográfica; do
estágio do testemunho e dos arquivos, passa pelos usos do “porquê” nas figuras da
explicação e da compreensão, terminando no plano da escrita da representação histo-
riadora do passado.
A hermenêutica da condição histórica também conhece três estágios; o primeiro
é o de uma filosofia crítica da história, de uma hermenêutica crítica, atenta aos li-
mites do conhecimento histórico, que certa hubris do saber transgride de múltiplas
maneiras; o segundo é o de uma hermenêutica ontológica que se dedica a explorar
as modalidades de temporalização que, juntas, constituem a condição existencial do
conhecimento histórico; escavado sob os passos da memória e da história, abre-se
então o império do esquecimento, império dividido contra si mesmo, entre a ameaça
do apagamento definitivo dos rastros e a garantia de que os recursos da anamnésia
são postos em reserva.
Mas essas três partes não constituem três livros. Embora os três mastros susten-
tem velames entrelaçados, mas distintos, eles pertencem à mesma embarcação, des-
tinada a uma só e única navegação. De fato, uma problemática comum corre através
da fenomenologia da memória, da epistemologia da história e da hermenêutica da
condição histórica: a da representação do passado. A pergunta é colocada em sua
radicalidade, desde a investigação da face objetal da memória: o que é feito do enigma
de uma imagem, de uma eikōn — para falar grego com Platão e Aristóteles —, que
se mostra como presença de uma coisa ausente, marcada pelo selo da anterioridade?
Essa mesma pergunta atravessa a epistemologia do testemunho, depois, a das repre-
sentações sociais consideradas objeto privilegiado da explicação/compreensão, para
se desdobrar no plano da representação escriturária dos acontecimentos, conjunturas
e estruturas que pontuam o passado histórico. O enigma inicial da eikōn não pára
de se reforçar de capítulo em capítulo. Transferido da esfera da memória para a da
história, ele alcança seu apogeu com a hermenêutica da condição histórica, em que
a representação do passado se descobre exposta às ameaças do esquecimento, mas
também confiada à sua guarda.

Algumas observações dirigidas ao leitor.


Neste livro, experimento uma forma de apresentação que nunca utilizei: para
aliviar o texto das considerações didáticas mais pesadas — introdução de um tema,
evocação dos vínculos com a argumentação anterior, antecipação dos desenvolvi-
mentos posteriores —, situei, nos principais pontos estratégicos do trabalho, notas
de orientação que dirão ao leitor em que ponto da minha investigação me encontro.
Espero que essa forma de negociação com a paciência do leitor seja bem acolhida
por ele.

 18 

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ADVERTÊNCIA

Outra observação: evoco e cito, muitas vezes, autores que pertencem a épocas dife-
rentes, mas não faço uma história do problema. Convoco um autor ou outro de acordo
com a necessidade do argumento, sem atentar para a época. Este me parece ser o di-
reito de todo leitor diante do qual todos os livros estão abertos ao mesmo tempo.
Finalmente, devo admitir que não tenho uma regra fixa para o uso do “eu” e do
“nós”, com exceção do “nós” de autoridade e majestático? Digo de preferência “eu”
quando assumo um argumento e “nós” quando espero arrastar comigo meu leitor.
Que navegue, pois, nosso veleiro de três mastros!

Terminado o trabalho, seja-me permitido apresentar a expressão de minha grati-


dão àqueles que, dentre os meus amigos e parentes, acompanharam e, se ouso dizê-lo,
aprovaram meu empreendimento. Não vou mencioná-los aqui.
Excetuarei os nomes daqueles que me permitiram partilhar, além de sua amizade,
sua competência: François Dosse, que me aconselhou na exploração do canteiro do
historiador, Thérèse Duflot que, graças à sua força de persuasão, se tornou minha
primeira leitora, atenta e, às vezes, impiedosa e, por fim, Emmanuel Macron, a quem
devo uma crítica pertinente da escrita e da organização das notas críticas deste tra-
balho. Mais uma palavra para agradecer ao diretor-presidente das Éditions du Seuil
e aos diretores da coleção “L’ordre philosophique”, mais uma vez, pela sua paciência
e confiança em mim.

PAUL RICŒUR

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