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IGOR ARMBRUST
São Paulo
2011
UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU
MESTRADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA
IGOR ARMBRUST
São Paulo
2011
Armbrust, Igor
Os esportes radicais como potenciais geradores de saberes interdisciplinares /
Igor Armbrust. - São Paulo, 2011.
152 f. : tab. ; 30 cm
Quando um rio corta, corta-se de vez o discurso-rio de água que ele fazia;
cortado, a água se quebra em pedaços, em poços de água, em água paralítica.
Em situação de poço, a água equivale a uma palavra em situação dicionária:
isolada, estanque no poço dela mesma, e porque assim estanque, estancada;
e mais: porque assim estancada, muda, e muda porque com nenhuma comunica,
porque cortou-se a sintaxe desse rio, o fio de água por que ele discorria.
O curso de um rio, seu discurso-rio, chega raramente a se reatar de vez;
um rio precisa de muito fio de água para refazer o fio antigo que o fez.
Salvo a grandiloquência de uma cheia lhe impondo interina outra linguagem,
um rio precisa de muita água em fios para que todos os poços se enfrasem:
se reatando, de um para outro poço, em frases curtas, então frase e frase,
até a sentença-rio do discurso único em que se tem voz a seca ele combate.
Heráclito
Descartes
RESUMO
Os esportes radicais são objetos recentes de atenção do meio acadêmico, tendo sido
relatados seus benefícios e possibilidades para a promoção do desenvolvimento humano. No
entanto, há pouca produção no Brasil quando o universo de estudo é o meio escolar. Os
esportes radicais, quando colocados como tema de estudo, podem ser vistos como meios
educativos ao constarem de propostas que compreendam a complexidade humana visando à
promoção da educação integral do ser humano. A temática inserida no contexto escolar pode
contribuir para o desenvolvimento de estratégias de ensino e de estudos interdisciplinares.
Nesse contexto, a pesquisa pretendeu, por meio de pesquisa-ação, construir estratégias de
ensino com professores do Ensino Fundamental I, de várias disciplinas, e discutir o papel da
Educação Física como componente curricular no fomento do trato pedagógico da temática. A
partir da intenção manifesta pela direção da escola e do compromisso conjunto dos
professores, foram utilizados instrumentos de pesquisa como: diário de campo, gravações de
reuniões pedagógicas, entrevistas individuais que permitiram gerar o relatório da pesquisa
identificando resultados profícuos descritos de forma cíclica. Inicialmente, descrevemos o
encontro do pesquisador com o conhecimento peculiar da escola, a apresentação da proposta
interdisciplinar e a observação das dificuldades de tentar fazer algo que expandisse os salões
de estudo. Após essa fase, no segundo ciclo trouxemos à tona o conhecimento profundo e
vivencial da escola, sua rotina, seus princípios geradores de diálogos e o respeito e as
aproximações com o bairro-educador. Passada essa etapa, realizamos a construção dos
círculos de cultura como formação dialógica para possibilitar a capacidade de adquirir e
transmitir conhecimentos sobre os Esportes Radicais (ER), identificando e expondo suas
limitações. Em seguida, colocamos os professores para experimentarem estratégias reflexivas
como intuito de poder ofertar melhores entendimentos sobre os ER. No quinto ciclo
construímos, em conjunto, um roteiro de estudo como desencadeador interdisciplinar no ciclo
fundamental I e detectamos anseios por parte de alguns professores quanto a trabalhar com
diversas estratégias de comunicação tendo por finalidade romper com o saber expositivo
supervalorizado, partindo para os procedimentos reflexivos. Fechando os ciclos, foi feita a
aplicação da fase inicial do roteiro de estudos em todas as séries do ciclo fundamental I,
conjecturando aceitação à mudança propositiva de ensino com lideranças entre os grupos de
professores. Consideramos, a partir dos resultados da pesquisa-ação aplicada na escola, que
os processos educativos permitem mostrar o universo complexo e vivo de um organismo
estruturado por pessoas com pensamentos próximos, almejando transformar ou modificar as
realidades de seus discentes para que enxerguem na educação, e através da educação,
possibilidades qualitativas de se reconhecerem enquanto indivíduos participantes e
interventores de sua comunidade. Os ER, colocados no roteiro de estudo potencializando
saberes interdisciplinares, conseguiram, a nosso ver, provocar a atenção através do desafio
causando desequilíbrios e conexões no processo de aprendizado possibilitando a ocorrência de
avanços educativos.
The radical sports are receiving more attention in the academic world recently, they
have been mentioning about benefits and possibilities of them to promote the human
development. However, there are few productions in Brazil in the academic world. The
radical sports (RS), reported as a study subject, can be seen as educational methods that
provide the comprehension of the human complexity and they aim the promotion of the whole
education of the human being. This theme inserted in the scholar context can contribute with
the development of strategies of teaching and studing. In this context, the research has the
purpose to make teaching strategies with teachers of Elementary School, from different
subjects, and to discuss the Physical Education role as a curricular compound to foment the
pedagogic treat on this theme. As soon as the school organization intended to do it and the
group of teachers compromised with it, we used research tools such as a daily record,
recordings of pedagogic meetings, individual interviews that allowed to create a research
report to identify the profitable results described in a cyclic way. In the beginning we
described the meeting of the researcher with the unique school knowledgement, the
presentation of the interdisciplinary proposition and the observation of the difficulties in an
attempt of expanding the studies rooms. After this phase, in the second cycle, we brought a
deep knowledgement and living from the school, its routine, its principles producers of
dialogue and the respect, besides the proximities with the neighbor-educator. Over this step,
we put in practice the building of culture circles as a dialogical structure to make possible the
capacity of acquiring and transmiting knowledge about RS then we identified and exposed the
limitations. After that we led the teachers to try on reflexive strategies in the intuit to offering
better understandings about RS. In the fifth cycle we built together a study guide to provoke
the interdisciplinary in the elementary cycle I. So, we detected desire in some teachers to
work with several communication strategies to break the overvalued exhibited knowledge,
then going to the reflexive procedures; and closing the cycles, the initial phase of the study
guide was applied in all the grades of the elementary cycle I presuming the leaders among the
group of teachers will accept the educational changing proposed. We considered, with the
results from the action-research applied at the school, that the educational processes allow to
show the complex universe organized structure constituted by people with similar thoughts.
They desire to transform and change the realities of the teachers in order of them to see in the
education a few possibilities to recognize themselves as an active and transforming individual
from their communities. The RS put in the study guide powered the interdisciplinary
knowledgement, in fact they could, in our opinion, grab the attention through the challenging
and cause unbalancing and connection in the learning process; so that, can bring educational
advances.
1 INTRODUÇÃO...............................................................................................................12
1.1 O caminho para a pesquisa.......................................................................................17
2 METODOLOGIA..............................................................................................................20
3 OS CICLOS DA PESQUISA-AÇÃO...............................................................................28
3.1 Ciclo 1 – O projeto.....................................................................................................28
3.1.1 Conversa com a direção e a coordenação.........................................................28
3.1.2 A essência dos Esportes Radicais na busca de transcendência e imanência do
ser humano...............................................................................................................................31
3.1.3 Aproximações da educação: mas que educação?...........................................36
3.1.4 Reunião pedagógica...........................................................................................40
3.1.5 Aceitação.............................................................................................................42
3.1.6 Conclusões...........................................................................................................42
3.2 Ciclo 2 – A escola........................................................................................................43
3.2.1 Conhecendo o espaço.........................................................................................43
3.2.1.1 O espaço educativo - Heliópolis..............................................................44
3.2.1.2 A EMEF Presidente Campos Salles.......................................................46
3.2.2 Princípios educacionais......................................................................................51
3.2.3 Conclusões..........................................................................................................54
3.3 Ciclo 3 – Encontros...................................................................................................55
3.3.1 Interdisciplinaridade e radicalidade: essência do saber complexo...............57
3.3.2 Entendimentos e dificuldades na interdisciplinaridade..................................61
3.3.2.1 Obstáculos................................................................................................64
3.3.3 Reflexões.............................................................................................................66
3.3.4 Os Esportes Radicais..........................................................................................67
3.3.5 Partilhando ideias – Transversalidade.............................................................73
3.3.5.1 Expectativas de ensino aprendizagem para o ciclo fundamental
I.................................................................................................................................................78
3.3.6 Desfecho dos assuntos........................................................................................83
3.3.7 Conclusões...........................................................................................................84
3.4 Ciclo 4 – Experimentações........................................................................................85
3.4.1 O encontro nos desencontros............................................................................86
3.4.2 O olhar para o movimento enquanto linguagem expressiva..........................90
3.4.3 Articulação entre as áreas do saber..................................................................91
3.4.4 As atividades.......................................................................................................93
3.4.5 Conclusões..........................................................................................................95
3.5 Ciclo 5 – Roteiros de estudo......................................................................................96
3.5.1 Resolver Problemas...........................................................................................98
3.5.2 Fechamento........................................................................................................99
3.5.3 Conclusões.........................................................................................................121
3.6 Ciclo 6 – Aplicação do roteiro.................................................................................122
3.6.1 Conclusões.........................................................................................................123
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................................125
Referências.............................................................................................................................131
APÊNDICE A - TCLE: Professores e coordenador pedagógico......................................139
APÊNDICE B - Termo de autorização e responsabilidade da escola para execução da
pesquisa..................................................................................................................................141
APÊNDICE C - TCLE: Pais/responsáveis pelo aluno.......................................................143
APÊNDICE D - TCLE: Diretor..........................................................................................145
APÊNDICE E - Roteiro de entrevista para o diretor e coordenador pedagógico..........147
APÊNDICE F - Roteiro de entrevista para os professores...............................................148
APÊNDICE G – Aspectos éticos da pesquisa.....................................................................149
12
1 INTRODUÇÃO
e, ao mesmo tempo, permitindo que se sintam vivos, recompensados, ao praticar esse tipo de
atividade. Apontamos que o risco não precisa ser enxergado como algo negativo nas situações
do dia-a-dia, essa dinâmica representa valores positivos, como o enfrentamento do medo, a
superação de seus limites, a compreensão e aproximação da natureza, o respeito pelos outros
em suas expressividades, entre outros (PEREIRA; ARMBRUST, 2010).
No ambiente educacional, a introdução desses temas não visa apenas à melhora de
habilidades motoras. Pensar no planejamento de ER na escola requer um conhecimento de
competências e habilidades desenvolvidas pelo sujeito que interage com o meio e, ainda,
saber o quanto esse meio pode influenciar no indivíduo, buscando, assim, um enfoque amplo
sobre educação.
Morin (2002b) apresenta apontamentos interdisciplinares de propostas pedagógicas
pós-modernas que precisam seguir o entendimento complexo de educar por meio de
diferentes vias de acesso ao aluno e em diferentes cenários. Morin (2007) ainda explica que a
complexidade surge onde o pensamento simplificador e reducionista falha, pois o pensamento
complexo se propõe a integrar em si tudo o que põe ordem, clareza, distinção e precisão no
conhecimento. Sua finalidade é ligar os entendimentos e aspirar ao conhecimento
multidimensional. Mas é importante comentar que a totalidade não é verdade absoluta, sendo
assim, o princípio do pensamento parte da incompletude e da incerteza. É fundamental
distinguir os saberes, mas não isolá-los.
A interdisciplinaridade é um tema bastante discutido na área educacional, pois trata,
justamente, de desvelar as comunicações e convivências das pessoas e dos saberes. É uma
relação de reciprocidade, de mutualidade, que pressupõe uma atitude diferente a ser assumida
frente ao problema do conhecimento, ou seja, é a substituição de uma concepção fragmentária
para uma concepção unitária do ser humano (FAZENDA, 1993). Pensar de forma
interdisciplinar é instaurar uma pedagogia da incerteza, é observar as possibilidades e acasos a
partir do contexto concreto (JAPIASSÚ, 1983).
Os ER, colocados numa perspectiva educacional ampla, conforme acreditamos e
defendemos, devem abranger diferentes tipos de conhecimentos. Há saberes pautados nas
compreensões ecológicas, nos enfrentamentos dos riscos, nas dinâmicas interpretativas de
natureza e urbanismo, nas expressões de linguagens, artes entre outras concepções que
corroboram para a ligação dos saberes, além do incentivo a diversidade cultural (PEREIRA;
ARMBRUST, 2010).
Dentre os diversos objetivos educacionais assumidos em várias propostas pedagógicas,
entendemos que a pluralidade dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), destaca-se para
14
Ao procurar uma escola que estivesse aberta para o diálogo sobre diferentes formas de
enxergar os processos de ensino aprendizagem e as possíveis relações entre as áreas de
conhecimento, notamos uma dificuldade inicial em estabelecer esse vínculo com as
linguagens e comunicações emergentes, além de não se conseguir um espaço nos currículos,
cada vez mais estruturados, comprometidos e, arriscamo-nos a dizer, porque não, inflexíveis,
concordando com Japiassú (1976).
O nosso primeiro contato foi com uma escola particular, em agosto de 2010, através de
professores colaboradores que acompanhavam e compartilhavam a ideia de tentar estruturar
algo em conjunto, relacionando professores e saberes. Visitamos esta escola durante dois
meses, aproximadamente, realizando cerca de seis encontros envolvendo direção, equipe
pedagógica e professores. Na fase das assinaturas do termo de autorização da escola, a
coordenação vetou o projeto afirmando que um tema como esse, trazido por nós, seria algo
que chocaria os pais. Mesmo concordando com a importância de apresentar diversidades
culturais e acreditar que somente o trabalho interdisciplinar teria sentido para as relações e
18
conhecimentos para transformação social propostos no projeto, alegaram que teriam certos
riscos, que os pais não compreenderiam. Diante disso, tentamos dialogar sobre a possibilidade
de um esclarecimento aos pais a fim de verificar o que achavam sobre a proposta, mas
também foi negado.
Um trabalho de dois meses, dispondo tempo, investimento para deslocamentos e
materiais de apresentação da proposta, foi em vão. Isso poderia criar certo desânimo e
desespero devido ao tempo de pesquisa num programa de pós-graduação, mas perseveramos e
partimos para outro lugar. Desta vez analisando o que poderia ser trabalhado de forma
diferente ou desenvolvido para criar uma relação de aproximação e compreensão adequada
sobre o tema. Mais uma tentativa que durou dois encontros e foi vetada, pois o tema
despertava más interpretações, discriminando sua adesão no meio educacional, não sendo
possível discuti-lo, porque estávamos usando o nome Esportes Radicais.
Percebemos que os estereótipos rotulam, indiscriminadamente, através da mídia, assim
como pontuam (LE BRETON, 2009; NEIRA, 2007; BETTI, 1998). Algumas pessoas aceitam
informações sem avaliar o conteúdo, o compromisso, a qualidade e o benefício que uma
pesquisa pode trazer para o meio educacional. Se a escola pertence à comunidade, ao povo,
como colocada por Freire (2004), suas propostas deveriam ser, pelo menos, ouvidas e
discutidas entre as pessoas que representam os interesses educacionais.
Pensamos, algumas vezes, em alterar o nome que apoiaria o tema para maquiá-lo,
nesse primeiro momento, abrindo um acesso para explanar melhor o assunto. Mas
acreditávamos, também, que seria contra o que estamos lendo, assumindo, compartilhando e
convivendo durante vários anos de experiência e contato com o assunto.
Durante um determinado tempo, nos policiamos em pesquisar sobre escolas que
estivessem desenvolvendo ou tentando trabalhar, de formas diferenciadas, com propostas
alternativas aos modelos tradicionais. Foi neste tempo de pesquisa, que levou
aproximadamente um mês, que estabelecemos contato com um colaborador que realizara um
projeto em uma determinada escola que teria perfil para compreender a proposta de pesquisa.
Esta escola referida é a Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Presidente Campos
Salles (CS), atual parceira que adotou nossa ideia para fazer parte dos roteiros de estudo1 no
ano de 2011, relacionando os ER com os temas propositivos da escola, acordados em reunião
que envolvem o ‘meio ambiente’ e o ‘movimento’. Podemos dizer que a chance de tudo isso
1
Roteiros de Estudo – Sinteticamente esse nome é dado para um determinado assunto descrito em forma de um
caderno de estudos que os alunos recebem na escola. Abaixo explicaremos com detalhes o funcionamento de um
roteiro de estudo.
19
se acertar, de encontrar uma escola que estaria desenvolvendo algo próximo ao assunto que
pretendíamos tratar na pesquisa, foi “pura sorte” e até falta de conhecimento apropriado, de
nossa parte, sobre as complexidades de um organismo vivo que é a escola. Mesmo assim, o
contato e as conversas iniciais serviram para conspirar a favor das trocas possíveis entre o
tema e a perspectiva escolar desencadeando uma Pesquisa-ação.
20
2 METODOLOGIA
de informações para nortear o caminho que percorreríamos neste contexto complexo, vivo e
mutável.
Pesquisando a vasta literatura no assunto, pode-se perceber que existem correntes
ideológicas e estruturais, também, neste tipo de pesquisa. Thiollent (2000); Tripp (2005);
Miranda e Resende (2006), Engel (2000), Franco (2005), explicam que a PA é uma
modalidade na qual, tanto o pesquisador quanto o grupo pesquisado interage, desenvolvendo
as idéias propostas no plano de pesquisa.
Franco (2005) aponta que, dentro da PA há um mosaico de abordagens metodológicas,
deixando de lado muitas vezes a aproximação teórica e metodológica dos acontecimentos e
descrições da práxis. A autora afirma que, pesquisa e ação devem caminhar juntas para uma
transformação intencional, apontando três conceituações distintas no Brasil:
a) Quando a busca de transformação é solicitada pelo grupo entende-se como PA
colaborativa, na qual o pesquisador tem a função de fazer parte e cientifizar um processo de
mudanças previamente desencadeadas pelos sujeitos do grupo;
b) Quando a transformação é percebida como necessária a partir dos trabalhos iniciais do
pesquisador com o grupo visando uma construção cognitiva, com vistas à emancipação e
condições opressivas dos sujeitos, denominada como PA crítica;
c) Quando a transformação é previamente planejada pelo pesquisador, sem a participação
dos sujeitos, cuja denominação é PA estratégica.
Todas essas modalidades, de acordo com Tripp (2005), podem mudar conforme o
momento da pesquisa e do projeto. É possível acontecer no mesmo processo, várias
abordagens.
Podemos perceber que há discussões importantes na literatura investigada (ANDRÉ,
2001; ENGEL, 2000; FRANCO, 2005; MIRANDA; RESENDE, 2006; PIMENTA, 2005;
TRIPP, 2005, BARBIER, 1985; 2007), apontando que a PA não se limita a um único padrão
estruturado para retratação de uma pesquisa. Existem entendimentos positivistas, militantes,
críticos, filosóficos, epistemológicos, contudo, os estudos, indicam as concepções cíclicas de
investigação-ação, procurando compreender o fenômeno social investigado com a
prerrogativa de intervir para uma mudança, ou pelo menos, para uma reflexão sobre as
possibilidades de mudança das situações problemáticas, identificadas pelos sujeitos da
pesquisa e pesquisador.
É notório destacar, que “o problema da PA não é uma nova lógica de pesquisa a
conquistar, mas a de uma nova estratégia que se distancia da pesquisa experimental porque
contém, intrinsecamente, uma lógica artificial quanto à realidade dotada de vida” (BARBIER,
2007, p. 33). O cerne do problema, situa-se, na questão da mudança, termo que não é sempre
fácil de precisar.
Um estado de não-mudança não faz parte da natureza do ser vivo. Toda problemática
científica que, desde então, não a leva em consideração, não pode estudar a criatura viva em
toda complexidade. A mudança implica a existência de conflitos abertos entre as instâncias
internas e externas, no âmago dos indivíduos e dos grupos (BARBIER, 2007).
24
Uma mudança pode ser interpretada, por alguém que considera ter saído de um
entendimento e enxergar outro. Algo que emerge da experiência do sujeito, mas também
compartilhada, e que considera suas perspectivas, seus modos e sua estrutura. Mudar pode ser
à saída da repetição, ou uma transgressão.
Se por muito tempo o papel da Ciência foi descrever, explicar e prever os
fenômenos, impondo ao pesquisador ser um observador neutro e objetivo, a PA adota um
encaminhamento oposto pela sua finalidade: servir de mudança social. Esta ainda pode
compreender a mudança de atitudes, de práticas, de situações, de condições, de produtos, de
discursos, entre outros em função de um projeto que exprime um sistema de valores, uma
filosofia de vida, individual ou coletiva.
Barbier (2007) explica que, a PA pode ser delineada sob perspectivas diferentes e,
muitas vezes, o contexto se encarrega de apontar para qual direção encaminhará a pesquisa.
Interessante o pensamento de expressar na PA, uma condição de autoformação e de
interculturalidade, colocando o ponto central de uma abordagem transversal, na qual se
desenvolve coletivamente, com o objetivo de uma adaptação relativa de si ao mundo.
A construção coletiva desperta um sentido amplo, em que nada se pode conhecer do
que nos interessa, sem que sejamos parte integrante, atuantes na pesquisa, e sem que
estejamos envolvidos pessoalmente pela experiência, na integralidade de nossa vida
emocional, sensorial, imaginativa e racional.
Do ponto de vista metodológico, a melhor maneira para se captar a realidade é aquela
que possibilita ao pesquisador colocar-se no papel do outro, vendo o mundo pela visão dos
participantes, ou pesquisados numa tentativa de compreensão (GODOY, 1995).
Barbier (2007), ainda, pontua que podemos usar noções entrecruzadas na PA como
noções-chave suscetíveis de serem utilizadas na perspectiva de uma nova PA que ligue pontos
comuns ou importantes para o desfecho da pesquisa. A ideia entrecruzada é uma maneira mais
filosófica de existir e de fazer pesquisa interdisciplinar para um pesquisador implicado. Neste
sentido, pode ser agregado, o entendimento complexo posto por Morin (2007; 1996), cujo
paradigma constitui um sistema de relações, visando desconstruir a ideia de totalidade em
unidades isoladas. O ser humano precisa ser compreendido nas dinâmicas biológica,
psicológica, social, cultural, cósmica e indissociável.
Na PA, que pretende compreender a complexidade, é preciso aceitar uma visão
sistêmica aberta. O pesquisador deve combinar a organização, a informação, a energia, a
retroação, as fontes, os produtos e os fluxos, sem fechar-se numa clausura para onde o leva,
geralmente, seu espírito teórico.
25
Para que isso possa ser visto, é necessária uma escuta sensível, que se apóia na
empatia. Devemos compreender as pessoas de acordo com os contextos e histórias de vidas, é
preciso se conhecer, para poder conhecer os outros.
Ainda que, a PA venha sendo aplicada em diversas áreas de conhecimento, os
autores mencionados apontam que há um crescimento importante no âmbito educacional, por
possuir um caráter de aproximação e valorização dos sujeitos pesquisados, respeitando e
procurando compreender cada contexto social.
Diante do cenário de possibilidades, assume-se a posição de noções entrecruzadas
(BARBIER, 2007), pois a pesquisa que pretendemos na escola combina a participação dos
sujeitos e do pesquisador e procura realizar intervenções colaborativas (FRANCO, 2005).
Mas, também, nota-se aproximação de interesses do pesquisador em abordar um tema
potencial, no caso os ER, devido à experiência em trabalhar com eles e perceber sua
amplitude, e fundamentalmente, percebe-se vinculado aos interesses da escola, por tentar
fazer situações de aproximações de conteúdos e saberes por meio das linguagens.
Efetivamente, isso ainda, não acontecia neste contexto, por outro lado, havia um projeto
articulado e tentativas para essas mudanças.
Com isso, a PA que concebemos, procurou compreender o contexto escolar,
identificando as associações, tema/problema/situação geradora, e tanto o pesquisador quanto
os sujeitos pesquisados, buscaram instrumentos e procedimentos para descrever, analisar,
compreender e intervir na realidade, visando à solução dos problemas identificados.
Fundamentalmente, o pesquisador e os pesquisados, assumiram papéis distintos e
complementares, nos quais exerciam influências recíprocas, que resultaram aprendizado
mútuo.
Para que esse tipo de metodologia trouxesse resultados, num produto que pudesse ser
identificado como relatório de pesquisa, não foi suficiente que ocorresse somente à reflexão
conjunta entre um grupo de pessoas, em que aquele que se coloca na condição de pesquisador
conduz o processo reflexivo dos envolvidos. Caso assim fosse, poder-se-ia falar de uma
intervenção social, mas não, necessariamente, de uma pesquisa.
Durante todo o processo da pesquisa, foi estimado atender dois objetivos centrais da
PA descritos por Thiollent (2000):
1. Objetivo prático (ou de resolução de problemas): atingido quando a interação
entre pesquisador e pesquisado contribui para o equacionamento do problema central,
colocado como problema de pesquisa. Isso acontece quando são identificadas possíveis
26
soluções e propostas de ação com potencial para auxiliar os agentes (no caso específico deste
projeto de pesquisa, os professores) na sua atividade transformadora da situação;
2. Objetivo de conhecimento (ou de tomada de consciência): atingido quando a
interação entre pesquisador e pesquisado propicia a obtenção de informações que costumam
ser de difícil acesso na dinâmica comum do cotidiano, mas que, por meio de outros
procedimentos como o diálogo, a reflexão e propostas de ação que foram implementadas em
conjunto, atendendo as demandas do próprio grupo, colaboraram para ampliar o
conhecimento das situações identificadas como problemáticas.
A relação entre esses dois objetivos ocorreu de modo participativo e o resultado deste
tipo de pesquisa costuma levar as pessoas nela envolvidas a níveis mais amplos de
consciência social, quando comparados aos níveis em que se encontravam ao início da
pesquisa, o que contribui para que compreendam melhor a realidade na qual se encontram e
consigam identificar meios de transpor barreiras e limites em busca de melhores condições de
trabalho e de vida.
Por se tratar de um trabalho colaborativo, conforme explicitado, o pesquisador foi a
campo com algumas concepções prévias a respeito da situação a pesquisar, no entanto não
pode, de antemão, delinear detalhadamente cada passo da pesquisa, já que boa parte dela foi
construída em conjunto com o grupo pesquisado. Isso era esperado uma vez que, durante um
determinado estudo, podem ocorrer ajustes progressivos nos planejamentos da investigação,
se assim for necessário, fortalecendo a proposta inicial da pesquisa (FRANCO, 2005).
Em relação a esse procedimento de ajuste gradativo da proposta inicial de pesquisa,
já nos alerta Tripp (2005) para o risco de que a PA pode sofrer de más interpretações e
julgamentos apressados, pois nesse tipo de pesquisa, diferentemente das abordagens
metodológicas clássicas, não é possível especificar de antemão, qual conhecimento será
obtido, nem quais resultados práticos serão alcançados. Não se pode especificar rigidamente
os tópicos sobre quais se trabalhará, pois esses surgirão da análise da situação e serão
selecionados pelos participantes em comum acordo com o pesquisador, sendo bastante
comum que se utilize o termo ‘declaração de intenções’ do que, propriamente, ‘projeto de
pesquisa’.
Mesmo sabendo disso, decidimos respaldar a proposta na PA, por ter clareza do
caminho construtivo, colaborativo, e que fecundasse intervenções propositivas na educação,
para olhares que se relacionassem ideias, conteúdos e linguagens. Por essas características
descritas da PA, resolvemos adotá-la com a finalidade de compreender o fenômeno dos ER,
como potencializador de saberes interdisciplinares no contexto escolar. Lembrando que, os
27
acordos se relacionaram, pois existiu a aproximação do tema com a proposta escolar vigente
no ano de 2011, na qual se propuseram a discutir os temas, ‘meio ambiente’ e ‘movimento’,
como agente de transformação para aprendizagens significativas.
Por se tratar de uma situação de pesquisa que pode ser classificada como complexa,
entendendo o termo ‘complexo’ no sentido de algo que é composto por diferentes variáveis e
típicas dos fenômenos sociais, a PA permite identificar muitas delas que, para melhor
compreensão, exigiu do pesquisador e do grupo pesquisado muita leitura, estudo e
experimentação.
O rigor científico pretendido na realização desta PA foi retratado, de acordo com
Tripp (2005), por um ciclo que ilustra o aprimoramento do conhecimento sobre a realidade,
pela presença de uma oscilação sistemática entre agir no campo da prática e investigar a
respeito dela. O ciclo de investigação inclui os critérios de planejamento, implementação,
descrição e avaliação, não sendo necessário utilizar as mesmas nomenclaturas. Corroborando,
nesse sentido, os estudos de Franco (2005) e de Barbier (2007), que também, utilizam os
entendimentos do ciclo de investigação, adotados para detalhar nossos resultados.
AVALIAR os
resultados da ação
INVESTIGAÇÃO
3 OS CICLOS DA PESQUISA-AÇÃO
Tem uma coisa nisso tudo. Você terá que ganhar a aprovação das
pessoas na reunião pedagógica (P1).
2
Inicialmente – coloquei assim, pois foi a primeira impressão e a cultura que tinha sobre reuniões,
principalmente com a direção de uma escola. Mas logo depois que conhecia o propósito da escola, nada poderia
ser, feito à portas fechadas, por valorizarem uma educação sem muros.
31
Tudo passa pelas reuniões e pela equipe técnica deste espaço (P2).
Achei ótima a ideia de ouvir outras pessoas falarem da proposta e pude perceber que
aquele formato fugia dos moldes que eu estava acostumado a ver e ler sobre instituição
educativa.
A reunião aconteceria após quinze dias e era preciso preparar-me adequadamente.
Tomei a liberdade de solicitar uma autorização para visitar a escola mais algumas vezes
dentro desse período e também que gostaria de conhecer um pouco mais sobre a escola e ter
acesso a algum material disponível. A Coordenadora levou-me até outra coordenadora
pedagógica que me apresentou alguns documentos postos na rede da CS e prontamente me
entregou uma cópia de documentos centrais, resumidos, sobre a filosofia da escola e sua
forma de organizar as tarefas e o corpo docente.
Relato que, neste ponto, é fundamental apresentar alguns pensamentos que
absorvemos durante a fase de aulas no mestrado e nas discussões sob orientação da professora
Sheila Aparecida Pereira dos Santos Silva. Destacamos essa fase como exploratória, ponto
consensual em todos os escritos de PA lidos e citados neste trabalho.
A palavra radical, utilizada na pesquisa sobre ER na escola, gera o risco de ser mal
compreendida ou, num primeiro momento, ser vítima de pré-conceitos e de juízos de valor
equivocados. Diante disso, sentimos a necessidade de explicar alguns significados e mostrar
em que sentido está sendo utilizada nesta pesquisa.
A palavra radical pode aparecer no contexto político, para designar um ato extremo
contra as ideias de outro partido, sem a ocorrência de discussão ou verificação do que se está
propondo em prol da sociedade. Outro contexto em que aparece a palavra radical é quando a
mídia refere-se a algumas práticas religiosas. Além disso, também verificamos essa palavra
sendo utilizada no esporte e com distintas conotações: Retratando algo extremo:
Estou constantemente em busca do contato extremo com o ambiente
selvagem e radical [...], sei também que muitas das façanhas envolvem
consequências que podem ser fatais, mas me preparo muito, e me questiono
sobre o momento certo de agir. Tenho que me controlar para deixar uma
ideia amadurecer naturalmente, sem precipitações. Então direciono todo o
meu treinamento para aquilo, e penso em todas as possibilidades para
diminuir ao máximo as chances de algo dar errado (DEAN POTTER3).
O cara sai voando muito alto, bate o skate na borda da pista, pá, a pista já
tem três metros e trinta (referindo-se ao half-pipe4) e o cara sai mais três
metros e trinta, quer dizer, o cara ta então seis e sessenta do chão, entendeu?
É radical, transmite emoção, o coração bate mais forte. (Chileno5).
3
Dean Potter anda pela highline (uma corda presa de um penhasco a outro) de 70 metros de comprimento,
montada a mais de 300 metros de altura – Revista Go Outside, julho de 2009.
4
Half-pipe é uma pista em formato de “U”, onde o skatista ganha muita velocidade, o que possibilita uma fase
aérea, perdendo momentaneamente o contato com o chão podendo realizar, no ar, várias manobras.
5
Chileno foi entrevistado por Uvinha e esta fala aparece no livro: Juventude, lazer e esportes radicais, 2001, p.
22.
33
qualquer outra ocorrência que possa custar até a vida. Ainda apresenta algumas imprecisões
quanto aos termos “esportes radicais” que se confundem com esportes de aventura, com
turismo de aventura, esportes extremos, entre outros. Parece haver uma tentativa de fugir do
termo radical buscando uma conotação que expresse o sentimento e pensamento do verde, da
natureza, sob a pena de perder um público não familiarizado com o risco (UVINHA, 2005).
Outro olhar para o fenômeno do risco, conforme explica Spink (2001), são as opções
de diferentes sentidos que o risco pode conter. Ele pode ser entendido como conjunto de
práticas que recuperam a aventura como divisão positiva dos riscos associados à sociedade
contemporânea e, ainda, realizando uma conexão entre o risco e a aventura, valorizada pela
ousadia passível de levar a outras descobertas.
A autora explica que o risco deve ser entendido como algo que tenha probabilidade de
ocorrência de um evento indesejável, como os acidentes. A aventura refere-se à busca de
desafios relacionados com situações imprevisíveis, ou que não se pode avaliar
antecipadamente.
Bruhns (2009) mostra que o termo aventura pode ser compreendido como a
modulação contemporânea do desejo por outro lugar, que remete ao fugir, ou às coisas sem
preço, sem sentido para outros. A autora faz um contraponto às ideias de Spink, pois acredita
que a aventura não está relacionada à questão de ganhar ou perder, mas a uma forma de
experimentar que perpassará toda a vivência naquele momento, como se a vida não tivesse
outro objetivo senão sua realização.
Ainda é difícil apontar para o entendimento da expressão radical, principalmente no
esporte, pois apresenta uma gama de variedades e termos que alargam mais as ideias centrais
deste tema. Podemos refletir sobre a subjetividade com que o risco é experimentado por
diferentes pessoas, pois, quanto mais se conhece um determinado evento, prática ou
movimento, mais ousado se torna o praticante, o que leva a diferentes avaliações a respeito de
uma manobra (ARMBRUST; LAURO, 2010).
Tudo isso pode confundir as pessoas e influenciar na formação de tendências negativas
para aceitação de práticas de ER. Com isso, analisando os estudos sobre entendimentos do
termo radical em seu sentido filosófico, encontrou-se em Japiassú e Marcondes (2001), como
algo que diz respeito à raiz ou essência das coisas, à sua natureza mais profunda.
Na contemporaneidade, a essência não define nem revela a natureza do
homem. Porque o homem, ao vir a ser, não possui essência, apenas unia
condição, a uma situação: "a essência do ser-aí (Dasein) consiste apenas em
sua existência" (Heidegger); é o homem mesmo quem produz aquilo que ele
é, por sua liberdade: ele é projeto, isto é, aquilo que ele é capaz de fazer de si
34
Essas interpretações de interioridade também podem ser retratadas nas sensações dos
praticantes de ER. É muito difícil que o praticante, após realizar sua atividade, consiga relatar
o que aconteceu. Às vezes, as palavras diminuem os significados que as pessoas tentam dar
àquele momento. Merleau-Ponty (1999) elucida esses entendimentos que são corpóreos e
6
Teísmo - Doutrina que afirma a existência de um Deus único, onipotente, onipresente e onisciente, criador do
universo, tal como na tradição judaico-cristã.
35
afirma que talvez não haja palavras para significar a vivência, somente o corpo sente, percebe
e vive aquilo. Em toda percepção, tem-se o paradoxo da imanência (o imediatamente dado) e
da transcendência (o além do imediatamente dado). Imanência e transcendência podem ser
interpretados como dois elementos principais, estruturais de qualquer ato perceptivo. Assim, o
objeto percebido não é de todo estranho ao sujeito que o percebe (imanência). Por sua vez,
toda percepção de alguma coisa significa uma não-percepção de algo que está para além do
imediatamente dado (transcendência). Segundo o filósofo, os dois elementos não são
mutuamente contraditórios, eles dialogam, pois toda vez que se tem consciência de alguma
coisa, está aberta a possibilidade da não-consciência de aspectos relacionados àquele objeto
percebido. Assim, nos ER, são percebidos alguns aspectos enquanto outros permanecem
subliminares.
Para refletirmos sobre as aproximações do adjetivo radical nas discussões de
entendimento sobre transcendência e imanência, nota-se que, na prática dos ER, o ser humano
é movido por algo que está por alcançar, por superar e, nessa superação, o ser evolui. Nesse
processo de desenvolvimento humano verificam-se aproximações e relações do ser com o
mundo, com os outros e consigo mesmo (HEIDEGGER, 1993). Assim como radical pode ser
entendido como raiz que fundamenta uma essência, a prática dos ER pode ser compreendida
como uma busca daquilo que é imanente no ser, mas que se volta para o mundo como
transcendência, como superação do seu estado atual. Essas vivências se manifestam em
atividades com a natureza, com os outros e com o mundo também (BRUHNS, 2009;
MARINHO; BRUHNS, 2006).
Essas aproximações se manifestam no entendimento de que os aspectos ontológicos,
ou seja, de compreensões do próprio ser, são voltadas à identificação das necessidades
humanas e que, ainda não estando atendidas, configuram um caminho a trilhar (SILVA,
2007). Tais trilhas abrem portas para a liberdade que mostra o homem livre, pronto para
expressar-se e desejar os desafios. Logo, esse ser humano é a expressão do vivido, agente de
cultura. “O homem é corpo-alma-natureza-sociedade, num desejo imparável de
transcendência” (CUNHA, 2001).
A este referencial, a complexidade humana deve ser colocada sob um olhar reflexivo,
pois ainda imperam os pensamentos de homem, corpo, alma, mente, entre outros, de modo
fragmentado, separado, isolado na tentativa de justificar as explicações científicas a fim de
juntar e apresentar conceitos de desenvolvimento.
contemporânea, que entende os alunos enquanto transmissores de cultura, atendendo aos seus
interesses considerados como conteúdos culturais emergentes e estes discutidos nos espaços
pedagógicos entre o corpo docente, discente e quem mais fizer parte do contexto.
A teoria científica não é o reflexo real. As teorias são produções do espírito, são
percepções do real, são sociais, emergem de uma cultura. Elas carregam incerteza, o
inesperado. Essas ideias nos põem frente a uma prática pedagógica nada prescritiva, nada
disciplinar. Nada é absolutamente científico, seguro, precisamos dialogar com a dúvida, com
o inesperado e com o imprevisto (MORIN; LE MOIGNE, 2000).
O pensamento se produz por e na ordem e desordem dos acontecimentos. Devemos
olhar o ser humano de maneira aberta, tanto no aspecto biológico, quanto cultural, espiritual,
pois este ser está em constante mutação. No processo de conhecimento, o indivíduo precisa se
assumir como responsável por suas condutas, e identificar o quanto elas influenciam o meio e
são influenciadas por ele. A inclusão dos ER como possibilidade para discussão de saberes
pode criar a possibilidade de estimular, conforme coloca Morin (2007), o desenvolvimento do
ser auto-eco-organizador, que organiza a si mesmo com a ajuda do meio ambiente.
As propostas pedagógicas precisam dar e fazer sentindo para o aluno que cultivará os
saberes para a vida, isso equivale a dizer que, mesmo os saberes sobre o ambiente que
tradicionalmente são entendidos como desenvolvidos, retirando os alunos do contexto urbano,
devem ter diferentes entendimentos.
Entendemos que os ER permitem que os saberes ambientais possam ser explorados na
área urbana, pois meio ambiente pode ser retratado como o próprio ambiente em que nos
situamos (PEREIRA; ARMBRUST, 2010). Quando o pensamento complexo coloca a
necessidade da reaproximação do ser humano ao ambiente natural, entendemos que o
ambiente natural para quem nasceu numa cidade é a área urbana, ainda que não neguemos o
quanto é agradável e importante ter momentos em que se sai da cidade para outros lugares
como as praias, o campo, as montanhas.
Os PCN, assim como o caderno de orientações curriculares e proposição de
expectativas de aprendizagem do município de São Paulo, destacam a cultura expressiva de
movimentos quando explicitam a intenção de trabalhar na escola com práticas como os jogos,
as lutas, as atividades rítmicas e danças, os esportes e as ginásticas enquanto produções
culturais visando ao ensino e à aprendizagem (BRASIL, 1998; SÃO PAULO, 2007). Essa
cultura que procura analisar todo o contexto sob a ótica das práticas corporais, deve-se
renovar constantemente, pois a ação de movimentos novos e determinadas práticas culturais
39
novas propostas para o ano seguinte. Foi este espaço de propostas que nos propiciou uma hora
de exposição sobre o tema.
A apresentação estruturou-se com a finalidade de discutir o conhecimento sobre os
ER, as visões estereotipadas do termo ‘radical’ e a intenção do projeto no meio educativo.
Também abordamos a importância de aproximação e relacionamento dos conteúdos e saberes
educacionais, a partir de um tema como esse.
Após breve apresentação, o diretor respaldou sobre a importância de olhar com
carinho para um projeto que está relacionado aos princípios norteadores da escola e do bairro
e ainda comentou sobre a fundamental relevância de abrir espaços de diálogos sobre a
interação de saberes e conteúdos, uma vez que os temas escolhidos para a campanha escolar
em 2011 foram meio ambiente e movimento.
Durante a reunião percebi o envolvimento de toda comunidade presente, os espaços e
falas respeitados, além dos diálogos pautados nos princípios construídos por todos. Isso
causou curiosidades sobre esses conhecimentos e tratei de procurar posteriormente as pessoas
que têm acesso aos materiais norteadores da escola para detalhar esse assunto. A reunião me
fez refletir que, para conseguir viabilizar qualquer tarefa em grupo de construção, seria
necessário conhecer ao máximo o contexto daquela escola, do bairro e das pessoas que
estavam inseridas nesse espaço o qual chamavam popularmente de ‘espaço de convivência’ e
por este motivo descreverei, posteriormente, todo esse percurso narrativo e histórico sobre os
espaços.
Após explanação do tema e fala do diretor, começamos a dialogar sobre as dúvidas
que ficaram e demais curiosidades sobre o assunto. É notório destacar que os alunos tiveram
participação ativa, posicionando algumas falas sobre o que compreenderam. Também pude
observar que os professores estavam abertos a receber propostas, uma vez que fossem
respeitados e permitido que discutissem melhor o que poderia ser feito sobre o assunto,
afirmaram que os alunos adorariam essas ideias, só não sabiam muito bem como fundamentar
os conteúdos dentro de um assunto do qual não possuíam conhecimento específico. Achei
formidável o espaço de diálogo por permitir que se colocassem as inquietações sobre
conhecimento específico. Como a proposta é justamente inserida numa metodologia de PA
colaborativa, a pesquisa e a estruturação se dão pelas potencialidades e realidades contextuais
em cada grupo (BARBIER, 2007).
Diante disso, ficou acordado que iríamos estabelecer alguns encontros para aprofundar
a ideia do projeto cujo tema definido foi “Esportes Radicais”, como potencial gerador de
saberes interdisciplinares.
42
3.1.5 Aceitação
Percebi a aceitação do projeto por parte da equipe técnica, dos professores e dos
alunos que estavam presentes através das conversas posteriores à reunião. Muitos professores,
crianças e lideranças se aproximaram para continuar a conversa sobre a aproximação do tema
com a educação. Nas semanas seguintes em que visitei a escola, sempre apareciam alunos
perguntando se eu trabalharia na escola com ER e procurei esclarecer, ao máximo, para os
alunos, que seriam os professores da escola que fariam isso acontecer, eu estaria presente para
acompanhar essas ações.
Foi necessário passar de sala em sala para explicar aos alunos como se desenvolveria o
projeto de ER no ciclo fundamental I devido à ansiedade e euforia nos salões. Isso foi
solicitado pelos professores e atendido prontamente.
3.1.6 Conclusões
Neste ciclo exploratório o envolvimento dos professores foi mais questionador para
saber como os ER poderiam ser incluídos na escola, como seria inserir algo em conjunto, de
forma que relacionasse as disciplinas curriculares. Percebi que os professores tinham certa
dificuldade para ousar conteúdos que abordassem o tema com ênfase procedimental,
fundamentalmente na dinâmica de movimentos.
A experimentação de diferentes formas de aprendizagem é notada nas disciplinas que
estão fora do contexto da sala de aula: como a Educação Física, Artes e Robótica. Contudo, o
contrário ainda enfrenta barreiras internas e até questionamentos por parte de alguns
professores, que indagam se isso é importante no processo de ensino aprendizagem.
Mesmo sendo fundamental relacionar as disciplinas e experimentar diferentes formas
de comunicação e linguagem, como provocar mudanças em rotinas de aulas? Como traçar
estratégias diversificadas que explorem outros ambientes, outros recursos para significar o
aprendizado? Essas implicações fizeram com que buscássemos na literatura o máximo de
compreensão sobre as vias interdisciplinares e estratégias de ensino para dialogar com o grupo
de professores nos encontros posteriores.
43
Durante alguns anos, mais precisamente a partir de 1995, a escola CS tenta construir
um currículo mais humanizador, com interações entre a escola e o bairro. Nesse contexto
incluí-se todo um complexo sistema de professores, equipe pedagógica, direção, assistentes,
alunos, comunidade, além dos funcionários que pertencem à escola e que impulsionam seu
funcionamento. A escola pode ser compreendida como um organismo vivo, cheio de
interações, conflitos, estruturações, projetos e demais atividades que são subsidiados por um
sistema educativo. Contudo, não podemos falar somente da escola enquanto suporte educativo
sem olhar o bairro em que esta se encontra e suas ações vinculadas à comunidade. É preciso
enxergar além das paredes, se é que elas existem nessa escola em que desenvolvemos a
pesquisa, para observar, captar e aprender sobre os tipos de educação que são transmitidos
nesse espaço.
tanto por parte do professor como por parte dos alunos. Aprender com o
outro, é ao mesmo tempo, ser educador e ser educando (P1).
O Espaço a que nos referimos não é somente a escola, mas todos os equipamentos
constituídos na comunidade com fins propositivos e educativos. Além da própria escola, que
está num destes equipamentos educativos, chamado Pólo Educacional Cultural (PEC),
concentram-se ainda: três Centros de Educação Infantil (CEI), uma Escola Municipal de
Ensino Fundamental (EMEF), uma Escola Técnica (ETEC), um teatro fechado e um ao ar
livre, uma biblioteca, além de uma área arborizada as conexões entre esses locais constitui um
espaço educativo aberto a todos. Existem, também, dezenas de equipamentos sendo utilizados
pela comunidade que compartilha dos mesmos princípios educacionais criados na CS.
É notório chamar a atenção da política que ocorre em todo o bairro para o
acontecimento e concretização de pólos educadores, com a incumbência e o cumprimento de
metas estabelecidas na Secretaria de Educação em situar um bairro educador chamado
Heliópolis.
Também conhecida como cidade do Sol, nasceu nos anos de 1970 e hoje é a maior
área urbana de adensamento populacional do Estado de São Paulo. Segundo fontes do IBGE,
o complexo Heliópolis/São João Clímaco, atualmente, tem uma população estimada de
125.000 mil habitantes, tendo 52% de sua população composta de crianças e adolescentes
entre 0 a 25 anos de idade, sendo a maior favela de São Paulo e a segunda maior favela do
Brasil e da América Latina. Esta população se caracteriza ainda por ser e estar em região cujo
metro quadrado é um dos mais caros da cidade de São Paulo.
Durante o processo histórico do bairro percebe-se várias lutas sociais defendidas por
lideranças comunitárias propositivas que entendem como um direito do cidadão defender-se e
defender seu povo. Dentre as lutas mais promovidas pela comunidade estão as
movimentações por moradias adequadas e, aquela que nos chamou a atenção durante a
pesquisa, o envolvimento da comunidade com a educação.
A comunidade de Heliópolis quer mais vida, não uma vida qualquer, e sim
uma vida plena, uma vida generosa, uma vida boa. Quer que sua gente possa
desenvolver o máximo de suas potencialidades em sociedade, com um
45
Entre 1971 e 1972 a Prefeitura de São Paulo retira 153 famílias de áreas
ocupadas na favela da Vila Prudente e Vergueiro, com a intenção de fazer
vias públicas e as acomoda em alojamentos provisórios no terreno do
Instituto de Administração Financeira da Previdência e Assistência Social
(IAPAS), alojamentos estes que se tornaram permanentes (PERSOLI, 2009,
p. 3).
7
Alexandre Schneider – Secretário da Educação do Município de São Paulo
46
Com o passar dos anos, mais precisamente a partir de 2006, e com a intensificação das
lutas sociais perceberam a força que tem a educação para transformar cidadãos que um dia
saberão reivindicar seus direitos. Também poderão ter melhores oportunidades, de empregos
ou, pelo menos, concorrer igualitariamente por vagas em serviços e nas universidades
públicas, mesmo sabendo que isso é um processo longo e que demanda persistência de todos.
Situada à Rua Cavalheiro Frontini, 87, no Largo de São João Clímaco, uma travessa
da Estrada das Lágrimas, a CS, criada em 1956, surgiu como Escolas Mistas de São João
Clímaco. Em 1957, constroem-se dois galpões, um com duas salas e outro com três salas,
como Escolas Agrupadas de São João Clímaco. Em 1967 é inaugurado o prédio de alvenaria
com doze salas e mil alunos. Atualmente, possui três salas de orientação de roteiros e quatro
salões de estudos, uma sala de leitura, um laboratório de informática, uma sala de vídeo, uma
sala de apoio pedagógico e quadra. A escola abarca os três períodos e conta com mil e
quatrocentos alunos. Esta Escola é um patrimônio/histórico e teve como fundador o Prof. João
Bernardo9.
O diretor relata, em sua entrevista, os três momentos ou, como ele prefere chamar, os
três períodos da história da escola. O primeiro período vai de 1956 até o inicio da década de
8
João Miranda Neto – Presidente da UNIÃO DE NÚCLEOS DE ASSOCIAÇÕES E SOCIEDADE DE
MORADORES DE HELIÓPOLIS E SÃO JOÃO CLÍMACO – UNAS.
9
Histórico – extraído do Projeto Político Pedagógico.
47
1970. Quando a escola começou a funcionar, durante esse período, havia muitas chácaras,
olarias, sítios. Os estudantes, geralmente, eram filhos de imigrantes portugueses, filhos de
espanhóis; foi um período tranquilo da escola.
O segundo período, a partir da década de 1970, foi o momento em que começa o
processo de favelização de Heliópolis e todas as consequências de disputas territoriais. Braz
relata que isso começou no governo de Paulo Maluf devido à obra que passaria na Vila
Prudente, quando cento e cinquenta e três famílias foram colocadas provisoriamente num
alojamento instalado na região.
Chego e encontro uma escola muito complicada, uma situação em que havia
uma diretora que estava no cargo há um ano e outra há oito anos de uma
linha autoritária paternalista, que pega pela alma, pelo coração e segundo a
diretora regional da época, a delegada de ensino da época disse que a
escola era uma maravilha e eu questiono dizendo. Como em um ano de
direção a coisa degringola tudo. Ela falou que o que leva oito, dez anos pra
construir, as vezes leva meses para acabar e essa é uma preocupação que eu
tenho também. Porque eu não estou aposentado. (P1).
Presenciando a situação da escola, o diretor se assume como uma liderança
comunitária e começa sua peregrinação para restabelecer uma escola digna de estudos e que
fosse um núcleo para a comunidade. Diante desse ponto, ele carrega duas ideias que se tornam
os primeiros princípios implantados e mantidos no Projeto Político Pedagógico que situam o
atual panorama educativo do bairro de Heliópolis/São João Clímaco10.
O diretor relata que chegou com essas duas ideias na CS, não disposto a negociar
nenhuma delas, mas disposto a encontrar parceiros, alunos, pais, professores, lideranças
comunitárias que encampassem as proposições educativas, pois, quando chegara à escola, esta
estava numa desorganização geral. Uma escola em que haviam brigas diárias durante as trocas
de períodos letivos.
[...] ali, em frente ao CS, parecia uma praça de guerra e na época, brigas
tinham verdadeiros grupos, né? Nesses grupos tinha gente de fora da escola,
10
Princípios educacionais – tudo passa pela educação e Escola como liderança comunitária (serão descritos
posteriormente no campo referido).
48
eles colocavam pessoas fora da escola, pessoas que não tinham a ver com a
escola, mas com a vida deles na comunidade (P1).
A quadra também sofria com o pessoal que invadia a escola para jogar futebol.
O diretor, ainda, relata que uma das maiores transformações educacionais na CS foi à
questão pedagógica da formação e a relação do professor aluno a partir dos cursos de
educação e cidadania. Vale ressaltar as formações das comissões estabelecidas entre
professores, alunos e lideranças comunitárias. A escola, no ano de 1999, foi considerada, por
varias pessoas, como uma das mais integradas de São Paulo.
Não vamos ficar justificando porque o outro não faz. Vamos fazer! (P1).
49
[...] nós vamos tirar as ‘paredes invisíveis’ não essas de concreto. É a que
separa as áreas do conhecimento, separa as disciplinas, fica todo mundo
isolado e fica aquela fragmentação. Então o que ficou acordado na proposta
foi a comunicação, tanto por parte do professor como por parte dos alunos.
Aprender com o outro, é ao mesmo tempo, ser educador e ser educando (P1,
grifo nosso).
[...] a gente senta na sala com o trabalho coletivo, toma decisões e discute e
aí cada um ia pra sua sala e fazia o seu trabalho. Quem era bom,
continuava fazendo um bom trabalho e que era ruim, continuava fazendo um
trabalho ruim. Foram dois anos assim [2006 e 2007].
[...] foi tanta luta, tanta discussão e tanto tempo, mas a coisa não caminhou.
O que predominou foi a ‘pedagogia da maçaneta’. O cara discute, toma a
decisão e depois fecha a porta e faz tudo de outro jeito (P1).
A insatisfação e o incomodo com a situação fizeram com que o diretor e mais quinze
professores que apoiavam seriamente a proposta, tomassem uma atitude e a escola não
poderia voltar atrás.
11
Escola da Ponte - Escola da Ponte – conhecida popularmente por sua filosofia transformadora de um trabalho
voltado aos alunos com centro da formação com valores na autonomia, responsabilidade e solidariedade,
também conhecida por não existirem divisões de paredes, sem seriação, entre outras ideias que subsidiam
diferentes perspectivas de ensino aprendizagem. O nome original da escola é São Tomé de Negrelos, situada em
Portugal. Para saber mais sobre o projeto da Escola da Ponte ver Pacheco, 2008.
12
Autonomia, Responsabilidade e solidariedade (descritos na seção referida – princípios).
50
grupo. Ele tá ali junto com o seu colega. Então o aluno não está mais sobre
a influência de um único professor e sim de três ou quatro professores. Têm
acontecido coisas muito bonitas, né? (P1).
A escola, que tinha doze salas com três, ou quatro turmas em cada ano/série, foi
colocada em grandes salões, dividido por ano, e os professores precisaram aprender a
trabalhar em grupo. Os quatro salões, geralmente operam com três professores e a turma
trabalha em grupos de produção dispostos em quatro alunos por mesa, são promovidas
discussões em grupo para resolver problemas encontrados em roteiros de estudos ou nos
livros de expectativas. Cada salão tem em média noventa crianças. Tudo isso culminou na
reestruturação física da escola para suprir a necessidade de se trabalhar em grupo, pois havia
várias queixas de evasão escolar e abandono de aulas por parte de professores.
Pacheco (2008) aponta para os dispositivos que falharam na educação, talvez porque
se descuidou da necessidade de se criarem dispositivos de autoformação cooperativa, que
rompessem com a cultura do isolamento e auto-suficiência. A essência está em buscar ou
resgatar o que identifica suas fragilidades e compreender que as situações ocorrem de acordo
com o contexto educativo. Para isso, deve-se efetivar uma diversificação de aprendizagens,
garantindo as mesmas oportunidades educacionais para todos; promovendo a autonomia e a
solidariedade e operando transformações nas estruturas comunicativas.
O que mais desperta a atenção é a tentativa de mudança de pensamento sobre a
educação para promoção do dialogo e do trabalho interligado. Isso reflete diretamente na
estruturação das possibilidades e nas relações com o projeto de Esportes Radicais, mostrando
que esse, pode influenciar e ser influenciado a partir das estruturas interdisciplinares.
13
Princípios Educacionais – Textos extraídos do Projeto Político Pedagógico cedido pela escola, com ajustes
para a pesquisa. Triangulação com as entrevistas do diretor e da coordenadora pedagógica, fontes pertinentes ao
assunto.
52
3. Autonomia
Aquilo que o homem procura está dentro dele mesmo. Deixar-se guiar pelas máximas
alheias é perder o eu em si mesmo, ou seja, é abdicar do processo de constituição do sujeito.
Ninguém se constitui como sujeito na solidão, este se constitui pelo contato entre os seres
humanos, pois as ações individuais no cumprimento dos deveres devem salvaguardar a
liberdade própria e a do outro.
53
4. Responsabilidade
O termo responsabilidade originou-se da palavra latina responsabilitas, de respondere,
que significa: responder, estar em condições de responder pelos atos praticados, de justificar
as razões das próprias ações.
É responsável o indivíduo que aceita e repara as inevitáveis consequências de seu
comportamento. Antes de agir, reflete, pois responde por seus atos e não quer provocar danos
que não possa reparar no outro ou em si mesmo.
A responsabilidade pessoal possui várias definições. Podemos encontrar nelas um
ponto em comum, ou seja, é dever do indivíduo assumir as consequências de seus atos e
decisões. E o argumento da ignorância não isenta o indivíduo das consequências de suas
decisões.
Não podemos limitar o espaço da responsabilidade ao domínio das ações individuais.
Com o advento da sociedade pós-tradicional, a complexa dinâmica de transformações exige
também uma modificação de nossa competência pessoal de sermos responsáveis.
Com o avanço do desenvolvimento tecnológico, a responsabilidade do homem para
consigo mesmo e para com os outros homens foi ampliada também para a natureza. A relação
de responsabilidade que o homem passou a manter com a natureza decorrem do fato de que
ela se encontra sobre o seu poder e a destruição dela significa a destruição dele também.
54
5. Solidariedade
Para Boeira (acesso out. 2010) solidariedade é a arte da conquista de uma relação
social autêntica. Ela se refere ao indivíduo e ao coletivo. Ela não se confunde com bondade,
com envolvimento romântico e com popularidade. A solidariedade deve ser entendida como
um movimento social nascente, que pode incluir duas ou mais pessoas. Preserva-se na
solidariedade a individualidade do outro e a nossa própria liberdade e discernimento. O ser
solidário precisa refletir sobre suas ações e julgamentos ao outro, é necessário reciprocidade.
Sem reciprocidade não há como desenvolver-se a solidariedade. Uma quantidade de pessoas
que conhece alguém pode fazê-lo popular, mas não necessariamente solidário.
O autor propõe que precisamos estimular o autoconhecimento e isso pode ser coletivo,
não é qualidade que se tem ou não se tem, mas que se aprende e se ensina partindo das mais
variadas condições sociais, dos mais variados ambientes ou ecossistemas.
3.2.3 Conclusões
O projeto educacional não tem dúvidas de que, somente a vivência dos princípios
supracitados por toda a comunidade escolar da CS, poderá contribuir para a transformação
social com base na justiça, na democracia, na autonomia, na responsabilidade e na
solidariedade.
O Projeto Político Pedagógico enfatiza que os princípios descritos acima serão
vivenciados nas atividades desenvolvidas no cotidiano escolar por todos os alunos e, também,
pelos profissionais que trabalham na escola. Todos serão aprendizes nesse processo.
A intenção do projeto mostra-se clara quando ressalta que, com o passar do tempo,
esses princípios perpassarão por toda a comunidade de Heliópolis através dos alunos, dos seus
pais, da ação dos profissionais da escola e das lideranças que já estão envolvidas com o
projeto.
Em síntese, o projeto clarifica que esses princípios só farão sentido se articulados com
a comunidade, exemplificando que: uma pessoa autônoma é uma pessoa livre, mas uma
pessoa livre só pode fazer aquilo pelo qual possa responsabilizar-se, e o que ela faz não pode
prejudicar o outro. Viver de acordo com esses princípios deve ser visto como uma
aprendizagem lenta e gradual. A CS tenta criar condições apropriadas para que todos os
envolvidos adquiram sentidos de acordo com a vivência de cada um.
55
14
Sensível – no livro relata os entendimentos corporais.
15
Inteligível – entendimentos cognitivos.
58
O homem também enfrenta um ambiente que reproduz velhos conceitos, e ele próprio
é educado nos moldes duais, interpretando o mundo em termos polares e reducionistas. Ao
articular os opostos, nos permitimos olhar para o nível da realidade integrada, isto é, razão e
emoção; indivíduo e sociedade; saúde e doença; subjetivo e objetivo; bem e mal. Impõe-se
colocar a conjunção ‘e’ para significar a junção, a associação e a articulação desses pares.
A ordem leva à repetição, à constância, significando segurança. Por outro lado, a
desordem leva ao aleatório, ao desvio, ao imprevisível, ao acaso que regenera a vida. Essa
Constância leva à nova ordem como um permanente processo de revigoramento por meio da
construção de novas organizações e maneiras de situar-se neste mundo. Ordem e desordem,
separadamente, levam, ambas, à degradação e à degeneração (MORIN, 2008a).
2) recursão organizacional, processo recursivo, é um processo onde os produtos e os
efeitos são, ao mesmo tempo, causas e produtores do que os produz. A ideia recursiva é uma
ideia de ruptura com a ideia linear de causa/efeito, já que tudo o que é produzido volta-se
sobre o que produz num ciclo autoconstitutivo, auto-organizador e autoprodutor.
3) hologramático, não apenas a parte está no todo, mas o todo está na parte. O que
aprendemos sobre as qualidades do todo, tudo que não existe sem organização, volta-se sobre
as partes. Então pode-se enriquecer o conhecimento das partes pelo todo e do todo pelas
partes, num mesmo movimento produtor de conhecimentos. Não se pode conceber o todo sem
as partes e não posso conceber as partes sem o todo (MORIN, 2007).
Deveríamos, portanto, ser animados pelo princípio do pensamento que nos permitisse
ligar as coisas que nos parecem separadas umas em relação às outras. O sistema educativo,
muitas vezes, privilegia a separação em vez de praticar a ligação (MORIN, 2002 a).
Santos (2008) descreve que a escola mantém-se pelas repetições de normas, valores e
sanções sociais fazendo jus à certeza. A avaliação é prevista no calendário letivo sem um
planejamento participativo. Em geral, se faz a avaliação por meio de instrumentos que aferem
a reprodução do que foi ministrado em determinado período. Tal tipo de instrumento está
suficientemente padronizado e, tanto os alunos como os professores, sabem suas regras. Dos
alunos exige-se a memorização e a reprodução de teorias e práticas vigentes. O professor
normal é aquele que segue à risca as regras instituídas, e cujo comportamento é previsível, por
estar dentro das normas. A repetição não provoca entusiasmo, o encanto está na novidade, na
imprevisibilidade e no desafio.
Os ER, numa perspectiva educacional, devem abranger diferentes tipos de
conhecimentos. Há saberes pautados nas compreensões ecológicas, nos enfrentamentos dos
riscos, nas dinâmicas interpretativas de natureza e urbanismo, nas expressões de linguagens,
60
artes entre outras concepções que corroboram para a ligação dos saberes (PEREIRA;
ARMBRUST, 2010).
A interdisciplinaridade é um tema bastante discutido na área educacional, pois trata
justamente de desvelar as comunicações e convivências das pessoas e dos saberes. É uma
relação de reciprocidade, de mutualidade, que pressupõe uma atitude diferente a ser assumida
frente ao problema do conhecimento, ou seja, é a substituição de uma concepção fragmentária
para uma concepção unitária do ser humano (FAZENDA, 1993).
Neste sentido, a importância metodológica é indiscutível, porém é necessário não
fazer-se dela um fim, pois a interdisciplinaridade não se ensina nem se aprende, apenas vive-
se, instaura-se a partir de uma pedagogia de comunicação. A responsabilidade individual é
marca do projeto interdisciplinar e este precisa estar imbuído de envolvimento, que diz
respeito ao próprio projeto, às pessoas e às instituições a ele pertencentes (FAZENDA, 2001;
1993).
É na própria origem do ato de conhecer que se faz necessário um plano concreto, de
atitude das pessoas envolvidas no contexto estruturante, na sua formalização, e assim sendo,
pode-se dizer que é necessária a integração das disciplinas para sua efetivação.
16
Representante do Centre pour La Recherche et I’Innovation dans I’Enseignement – Que tem por finalidade,
entre outras, as de encorajar e desenvolver a cooperação entre os países membros da OCDE (Organization de
Cooperation et de Développement Economique) no campo da pesquisa e da inovação no ensino (FAZENDA,
1993, p. 26).
63
3.3.2.1 Obstáculos
3.3.3 Reflexões
Num primeiro olhar, os ER podem parecer atividades novas na cultura esportiva, pois
se difundiram e ganharam muitos adeptos apenas a partir da década de 1980, com a
divulgação pela mídia, a oferta como atividade de lazer e turismo na natureza e a expansão
globalizada do comércio em torno deles (LE BRETON 2009; BRHUNS, 2009; MARINHO,
68
2008, UVINHA, 2001). Porém, alguns estudos indicam que essas atividades eram praticadas
há muito tempo. Escaladas às montanhas geladas começaram a ser praticadas na Europa no
início do século XIX. Os Inuits, povo que vivia no Círculo Polar Ártico, remavam seus
caiaques muito antes disso. Leonardo da Vinci, já criava protótipos de asas para voar no
século XVIII. Alexandre o Grande utilizava mergulhadores em suas guerras na Mesopotâmia.
E o Surfe já era praticado na Polinésia há mais de 2000 anos (STEINMAN, 2003;
DANUCALOV, 2002).
Percebe-se que o desejo de desafiar a natureza e os próprios limites humanos é anterior
a nossa sociedade e que os heróis da mitologia grega com poderes especiais, hoje são
reinventados na forma de praticantes de ER numa versão contemporânea como o homem
aranha francês que escala prédios pelo mundo, ou o mergulhador cubano que desce a 180
metros de profundidade sem usar oxigênio suplementar como se fosse o homem do fundo do
mar, ou ainda o americano que voa em sua asa saltando de um avião ao outro sem usar pára-
quedas.
Sobre esses novos heróis, Zuckerman (1994) comenta que, em nosso tempo, ao
contrário de obter seu poder dos deuses, como na antiguidade, têm eles uma mutação genética
que os faz vencer os medos e buscar na superação a vitória: é a mitologia da ciência em
ação. Outros estudos apontam para as características socioculturais que formam os grupos de
pessoas praticantes de um determinado esporte que contenha o risco em sua essência (LE
BRETON, 2009). O autor interpreta o risco nos ER como um simulacro, experimentando
muito mais sua ideia do que sua concretização. Mas acreditamos que não há apenas a ideia de
uma eventualidade interpretativa, se o praticante não conseguir resolver determinados
problemas adequadamente ou realizar um planejamento inadequado sem conscientização
poderá machucar-se. Para que isso não ocorra é necessário estratégias, vivências e tomada de
decisão (PEREIRA; ARMBRUST, 2010).
Le Breton (2009) pontua que há uma intensificação da sensação da presença individual
no mundo, fazendo do confronto consigo mesmo uma prova de autenticidade. O indivíduo
passa a conhecer uma relação que vai do risco à segurança, oportunizando todas as dimensões
de sua relação potencial com o mundo.
O risco nessas atividades é inerente à condição humana, é o resgate feliz pago pela
liberdade, cuja sorte se confronta, a todo instante, com a possibilidade de perder e de ganhar.
Então, o gosto de viver torna-se uma medida desses movimentos contraditórios de confiança
em relação ao mundo e de capacidade de questionar e assumir riscos, pois dessa forma, a
exposição em situações difíceis é uma maneira de intensificar o sentimento de existir. (LE
BRETON, 2007).
É importante deixar explicito que existem outros entendimentos contidos neste esporte
que pontuamos como é o caso da ‘ação’ que envolve os praticantes aos movimentos expressos
nas diversas modalidades; a atitude ou comportamento desses praticantes em detrimento do
movimento e das atitudes de relacionamento; as manifestações de força e energia despendidas
na tentativa de realizar uma manobra e; capacidade de fazer algo significativo para sua
existência/prática. Numa análise sintética vemos que o símbolo dessas atividades está num
70
movimento importante a ser executado, um gesto técnico e complexo que traduza a sua
emoção, a chamada manobra (PEREIRA; ARMBRUST; RICARDO, 2008; PEREIRA;
ARMBRUST, 2010).
Outra característica fundamental e relacional nos ER é a ‘Aventura’ contida em seus
planejamentos e execuções. A palavra deriva do latim adventura: que traduz o sentido do que
está por vir; o sentido do desconhecido e imprevisível a cada atitude ou decisão tomada. A
aventura aproxima-se do sentimento de buscar algo que não é tangível num primeiro
momento, mas que é muito comum aos praticantes de modalidades na natureza,
principalmente aquelas onde a distância, o clima, o esforço físico, a privação e a incerteza
estão presentes (PEREIRA; ARMBRUST; RICARDO, 2008; PEREIRA; ARMBRUST,
2010).
As expressões têm, em comum, a característica de estarem enraizadas na busca por
uma existência significativa e o risco como agente fundamental para se viver experiências
emocionais.
Ainda é profícuo destacar que os ER são caracterizados pelos seus elementos naturais,
em que ocorrem as manifestações. Apresentamos um quadro geral construído objetivamente
para facilitar as compreensões daqueles que queiram conhecer melhor suas respectivas
modalidades, deixando claro que tais manifestações se (re) configuram e se (re) criam a todo
momento devido à característica inventiva de seus praticantes.
71
ESPORTES RADICAIS
Observamos que essas modalidades podem surgir variações, sendo esse quadro aberto
a ampliações e alterações. Serve este quadro, como fonte de entendimento para compreensão
de alguns tipos de ER mais conhecidos.
Também é notório envolver os conhecimentos característicos dos ER para clarificar as
iniciativas que podem ser tomadas para construir atividades que se aproximem de seus
elementos essenciais e, ainda incorporar conceitos e atitudes de certas modalidades. O quadro
seguinte se constitui numa tentativa de aproximar conhecimentos para professores que
pretendem construir atividades que relacionem esses esportes.
Nas reuniões deste ciclo com os professores da escola CS foi fundamental explanar
exemplificação devido aos interesses internos e disciplinares como história, geografia, língua
portuguesa e outros. Assumimos uma idéia de englobar nos ER tanto as atividades que
denominamos de ‘Ação’ como as que consideramos de ‘Aventura’ procurando identificar as
diferenças entre as mesmas, com o intuito de reconhecê-las melhor e não de separá-las.
Essas características foram apresentadas em função dos dados obtidos em: Uvinha
(2001), Steimann (2003), Pimentel (2006), Pereira (2007), Marinho (2005), Freire; Schwartz
(2005), Costa; Tubino (1999), Costa (2000), Betran (2003) e das experiências profissionais,
acadêmicas e práticas em relação aos ER.
72
Capacidade física
A velocidade das manobras A estratégia e a escolha ganham
exige força e velocidade importância
Objetivo
As competições geram
eventos de grande Usado como educação
importância
Mídia
Relaciona-se com público Relaciona-se com o público alvo na
alvo na: atitude, vestimenta, ecologia, qualidade de vida e meio
comportamento e linguagem ambiente
18
Equidade – diferenças étnicas, culturais, regionais, de gênero, etárias, religiosas, entre outras).
75
19
Existem mais temas elaborados na proposta, mas destacamos esses três por se aproximarem das discussões
dos ER no contexto educacional.
76
20
Por ambiente entende-se não apenas o entorno físico, mas também os aspectos sociais, culturais, econômicos
e políticos interrelacionados.
77
A vida se desenvolve e cresce no planeta Terra como uma trama, uma grande rede de
seres interligados, interdependentes. Essa rede se entrelaça de modo intenso e envolve
conjuntos de seres vivos e elementos físicos.
Para cada ser vivo que habita o planeta existe um espaço ao seu redor com
todos os outros elementos e seres vivos que com ele interagem, por meio de
relações de troca de energia. Esse conjunto de elementos, seres e relações
constitui o seu meio ambiente [...]. O ser humano faz parte do meio ambiente
e as relações que são estabelecidas — relações sociais, econômicas e
culturais — também fazem parte desse meio e, portanto, são objetos da área
ambiental (BRASIL, 1997, p.27).
Neste momento, torna-se profícuo deixar claro, nas discussões pedagógicas que
realizamos em reuniões semanais, os objetivos do ensino fundamental fundamentado nos
PCN que apontam para a necessidade dos alunos se tornarem capazes de eleger critérios de
ação pautados na justiça, detectando e rejeitando a injustiça quando ela se fizer presente,
assim como criar formas não-violentas de atuação nas diferentes situações da vida.
A articulação das práticas escolares tende a trabalhar com questões sociais que exigem
preparo dos educadores para lidar com as ocorrências inesperadas do cotidiano. “Existem
situações escolares não programáveis, emergentes, às quais devem responder, e, para tanto,
necessitam ter clareza e articular sua ação pontual ao que é sistematicamente desenvolvido
com os alunos” (BRASIL, 2000a, p.39).
Pensando numa proposta de formação da cidadania, os Temas Transversais, assim
como a interdisciplinaridade discutida e aprofundada têm um papel diferenciado por tratar de
assuntos diretamente vinculados à realidade e seus problemas, pois pode possibilitar aos
professores uma abordagem mais dinâmica e menos formalista dentro do currículo escolar.
Cabe destacar que a EMEF CS está vinculada ao município e tenta fazer suas relações
entre o Projeto Político Pedagógico renovado, com diálogos e mudanças sociais apoiados nas
contribuições que a proposta municipal apresenta sobre as expectativas de aprendizagem e
significatividade das aproximações das linguagens no cotidiano escolar, a fim de valorizar o
79
indivíduo, a escola e o meio em que se encontra para melhoria educacional e, ainda, oferecer
base de entendimento da escola municipal para compreendermos suas estruturas, pois o
trabalho de campo se constitui nesse universo.
O objetivo da proposta municipal é contribuir para a reflexão e discussão sobre o que
os estudantes precisam aprender, relativamente a cada uma das áreas de conhecimento e
subsidiar as escolas para o processo de seleção e organização de conteúdos (SÃO PAULO,
2007).
O documento foi organizado por especialistas de diferentes áreas e submetido a uma
primeira leitura realizada por um grupo de professores. Na sequência, foi encaminhado às
escolas para ser discutido e avaliado pelo conjunto de profissionais da rede. Sendo assim,
constata-se o amplo processo de construção coletiva entre pesquisadores especialistas,
coordenadores pedagógicos e professores da rede municipal.
As concepções de educação partem da premissa em entender o que se sabe sobre
educação de qualidade? O que é necessário oferecer aos estudantes para a garantia dessa
qualidade?
Para entender esse contexto complexo e atual da educação, o programa apresentou
uma breve trajetória da escola pública em que constatou-se uma visão dominante da escola,
um espaço que promovia a emancipação dos indivíduos por meio da aquisição de
conhecimentos e os conteúdos a serem transmitidos eram o grande enfoque, assim como a
organização seriada e separada em grupos dos que sabiam e dos que não sabiam; e aqueles
que não atingiam metas estabelecidas eram retidos.
Introduzindo a ideia de ciclo e organizando os tempos e espaços escolares de modo a
permitir maior tempo para os estudantes desenvolverem os conhecimentos necessários,
promoveram-se mudanças no conceito de reprovação nas ultimas décadas do século XX.
Atualmente, as escolas seguem o programa cíclico com o propósito de criar um
“espaço educativo de vivências sociais, de convivência democrática e [...] de apropriação,
construção e divulgação de conhecimentos, como também de transformações de condições de
vida das crianças que a frequentam” (SÃO PAULO, 2007, p.11).
A articulação do programa procura orientar que cada escola deve analisar o contexto
histórico, sua trajetória, dados sobre a comunidade em que está inserida fazendo avaliações
diagnósticas dos resultados de anos anteriores para uma construção dinâmica e contínua da
realidade inserida.
Em destaque, a proposta incentiva o trabalho coletivo da equipe escolar para que haja
efetividade nas ações, projetos e participações responsáveis às necessidades concretas da
80
sociedade em que se situa com amplitude para a sociedade em que vivemos. Ainda neste
contexto pedagógico, o trabalho interdisciplinar poderá combater “as possíveis fragmentações
dos conhecimentos, que uma dada organização curricular pode provocar, quando apenas
justapõe conteúdos das diferentes áreas sem promover a articulação entre eles” (IBID, p.18).
A proposta faz menção à preparação do indivíduo para a cidadania, cabendo à escola
formar o aprendiz em conhecimentos, habilidades, valores, atitudes, formas de pensar e atuar
na sociedade por meio de uma aprendizagem que seja significativa; e lança-se o desafio de
que os conteúdos escolares explorados devem servir para que o estudante desenvolva novas
formas de compreender e interpretar a realidade, questionar, discordar, propor soluções, ser
um leitor crítico do mundo que o cerca. Para isso acontecer, o professor precisará orientar
suas ações no sentido de que o estudante participe de tarefas e atividades desafiadoras e
estimulantes. É preciso compreender que a aprendizagem não ocorre da mesma forma e no
mesmo momento para todos, por isso deve-se aprender por múltiplos caminhos, permitindo, a
eles, que usem diversos meios e modos de expressão.
Mais uma vez a proposta destaca a integração dos conteúdos para que o estudante se
aproprie das relações e estratégias de aprendizagem, tornando a própria interdisciplinaridade
um conteúdo de aprendizagem que se faz por meio de uma relação histórico-cultural. Nesse
sentido, ressalta que
Essas investigações e trocas de ideias, ocorriam nas reuniões que fazíamos todas as
terças e quintas-feiras, em dois períodos de uma hora e quarenta e cinco minutos para
conseguir comunicar o projeto a todos os professores participantes (alguns faziam parte das
reuniões da manhã e outros das reuniões da noite). A mesma dinâmica acontecia nos dois
períodos, mas também havia professores que frequentavam mais de uma vez essas reuniões.
Essa foi à melhor estratégia encontrada para conversar com todos e para que não houvesse
distanciamento entre pesquisador e sujeito.
Percebi que nossos diálogos sobre interdisciplinaridade se acertaram à medida que
discutíamos em conjunto. Os professores e a equipe pedagógica procuraram dentro de suas
possibilidades articular projetos para que as relações de conteúdos acontecessem. Mas notei
que isso sobrecarregava um ou outro professor, pois demandam tempo para articular, ensinar,
propor e aliar conteúdos que não se ajustavam. Algumas vezes, o que acontecia era
justamente cada um colocando ideias para um professor centralizar tudo. Este professor,
84
geralmente, lançava uma sugestão de ideia ou assunto para estruturar um roteiro de estudo,
cujos conteúdos eram lançados a partir de um assunto. Os alunos escolhiam quais disciplinas
estudariam no outro dia, dentro do roteiro de estudos. Adiante explicarei com detalhes os
roteiros de estudo e seu funcionamento na escola.
Vi que as tarefas escolares são muitas, os professores necessitam de muito tempo para
correções de trabalhos, leituras e ainda para estruturar novos roteiros. Por conta disso, todos
afirmam que na CS os professores que estão envolvidos no projeto, acreditam que isso é
diferente e atende realmente aos princípios, contudo é muito trabalhoso e cansativo para
alguns.
O tema ER adentrou justamente pelo viés de um roteiro de estudo, que será explicado
posteriormente no ciclo cinco, cuja apresentação textual foi elaborada a partir das conversas
com os professores nas reuniões e nas entrevistas individuais, além de uma parte apreendida
do documento cedido pela equipe pedagógica.
3.3.7 Conclusões
Em outras palavras, incluir o estudo dos ER como conteúdo escolar não tem em vista
suprir ou suprimir outros conteúdos abordados, mas entra como um saber a mais e que possui
suas qualidades para melhor enriquecimento do acervo cultural dos alunos (PEREIRA;
ARMBRUST, 2010), uma nova energia a animar a vida na escola.
O diferencial dos ER se encontra, primeiramente, no enfrentamento do risco, pois
envolve atividades nas quais os indivíduos se colocam em reais situações de risco e precisam
saber o que fazer para sair delas. Isso implica em aprendizado para o gerenciamento e para
uma convivência consciente e assumida a respeito desse enfrentamento. De certo modo, tais
experiências modificam a relação da pessoa com as sensações e com o sentimento do medo
em diferentes situações cotidianas, vividas individualmente ou nas relações sociais. Aprender
a lidar com o medo diminui o isolamento e a fuga do ser humano que se abriga sob atitudes
cautelosas e protecionismos em demasia. Pensamos que os riscos estão presentes a todo
momento na vida humana e que é inevitável camuflá-los na tentativa de nos proteger.
Outro ponto a considerar em relação aos ER é que tipo de atitude em relação à
competição e à vitória ele permite aprender.
Na maioria das práticas de ER, a identificação clara de perdedores e ganhadores, tão
presente nos esportes coletivos é dissolvida. Nos ER, a vitória ou derrota está intrinsecamente
ligada ao indivíduo que desafia suas habilidades e se coloca em confronto consigo mesmo.
Tomemos como exemplo uma escalada em que num determinado ponto da via, a
pessoa não consegue seguir em frente, suas mãos não suportam o seu corpo, os lugares nos
quais se agarram são pequenos e ela se encontra a certa altura que já lhe causa apreensão e
desconforto. A decisão do enfrentamento da dificuldade é intrínseca e pode acontecer de o
indivíduo se dar por derrotado naquele movimento. Essa “derrota”, no entanto, ao invés de
eliminar-lhe o desejo pelo desafio e pela superação pode, na verdade, estimulá-lo a voltar
numa outra ocasião para tentar novamente. Mesmo que sua decisão tenha sido a de retroceder
por ter esgotado suas possibilidades e vontade de enfrentar essa via, isso não o impede de ter
novamente o desejo de enfrentar a mesma dificuldade.
Pensando nessa situação, fica difícil afirmar se o indivíduo foi derrotado ou não, já que
seu recuo pode ter sido momentâneo, muitas vezes em busca de melhores condições para
enfrentar o desafio em outra ocasião. Nesse exemplo fica claro que o indivíduo coloca-se à
prova diante de condições para as quais, inicialmente, sente-se preparado, mas que, diante de
uma dificuldade que julga insuperável no momento, retrocede e se prepara melhor para
empreender uma nova tentativa. Pode-se, então, definir se o praticante se sagrou perdedor ou
vencedor? O que significa vencer numa situação como essa? O mais importante, portanto, é a
89
oportunidade de cada indivíduo viver aquele momento, fazer sua auto-análise e extrair lições
próprias e significativas dessas experiências.
Entre tantas lições possíveis, situam-se o aprender a ser responsável por si mesmo e a
ser responsável pelos outros e pela natureza, entendida como o lugar de convívio.
Os ER, mesmo aqueles entendidos como individuais, geralmente são praticados em
companhia de alguém. Podemos ver pessoas sozinhas em cima de um skate, mas, dificilmente
se encontra desacompanhado de outros skatistas. Os ER costumam promover um convívio
interpessoal visto como fundamental já que aumenta a motivação do grupo e confere a
agradável sensação de pertencer a algo que tem significados compartilhados.
É bastante interessante observar que, comumente, existe a preocupação dos mais
experientes com aqueles que estão tentando aprender certo movimento ou manobra e essa
solidariedade vai além, podendo-se observar que sempre existe alguém para emprestar um
skate quando uma pessoa se aproxima do grupo com o desejo de praticar, mas que não possui
o equipamento.
Os ER promovem o desenvolvimento de verdadeiras comunidades que, além de se
ocuparem do auxílio entre seus membros, também se ocupam em conseguir recursos e
trabalham recuperando espaços urbanos ou outros espaços de prática quando, por exemplo,
uma parte da pista se quebra.
Esse ‘novo esporte’ contém características do esporte tradicional, como o jogar com os
outros e as vitórias, porém, os praticantes buscam os ER por estes ou até, muito mais, por
outros motivos, como a inventividade de uma manobra, o aproveitamento do momento para
tentativa de algo inusitado, ou ainda, a mudança de determinados códigos no jogo ou nos
desafios, encontrando um sentido mais individualizado e, ao mesmo tempo, coletivo para a
prática (PEREIRA; ARMBRUST; RICARDO, 2008).
A aventura de sentir conscientemente seus recursos pessoais ou de esforçar-se diante
de uma situação difícil e, ao tentar desenvolver-se com os outros, sua criatividade e coragem,
constituem importante esfera nessas práticas (LE BRETON, 2009).
Diante de tantas situações com as quais já nos deparamos e que envolvem os ER,
constatando a expansão de suas modalidades, do número de praticantes e dos locais que
passaram a aceitar sua prática, nos perguntamos pelas razões que ainda os impedem de
compor o universo escolar.
Se pensarmos que a escola pode ser um lugar estimulador de saberes culturais
diferenciados utilizados para a formação de um cidadão crítico das atuais condições em que
90
vive e que seja ativo no cuidado com o planeta, entendemos essas práticas emergentes como
passíveis de serem contempladas no âmbito escolar.
Se visualizarmos o currículo escolar como uma entidade complexa, e se entendermos
que complexo significa tecido, trama de componentes que atuam em conjunto, pensamos que
os ER podem ser significativos para promover a riqueza da convivência humana, constituindo
uma via para expansão de saberes.
Podemos, então, pensar nas possibilidades de integrar os ER ao currículo escolar como
uma das ferramentas de promoção da causa do bem estar do ser humano num planeta
sustentável?
Toda mudança de lugar é também mudança de ambiente, de referenciais, de
interlocutores; logo, convém tomar uma distância propícia com seu meio ambiente; subverter
provisoriamente sua visão de mundo; abrir-se a uma nova dimensão da existência (LE
BRETON, 2009).
O mundo está em constante transformação, o que exige uma releitura das práticas
tradicionalmente aceitas e a análise da possibilidade do surgimento e da aceitação de novas
atividades pela sociedade. Toda atividade que envolve os elementos e sensações de risco
requer toda a consistência da relação com o mundo e exige que se assuma o confronto com a
queda, necessita a confiança em si mesmo e nos outros, produz efeitos sobre a segurança
básica de quem ousa aventurar-se e, fundamentalmente, alimenta o senso de responsabilidade.
lutas. Essas manifestações são expressas no contexto escolar com ênfase na convivência e
atitude lúdica.
Pontuamos que o objetivo central do movimento expressivo na escola precisa ser
estimulado para que os alunos desenvolvam suas potencialidades de forma democrática e
permita que aprendam além das técnicas de execução, descobrindo o que são possíveis de
entendimento: suas regras, suas adaptações, suas reconstruções, e que apreciem e critiquem as
práticas, além de (re) significá-los a partir de suas experimentações. Por isso, é fundamental
que todos os participantes do grupo vivenciem este universo tão desvalorizado na área formal
e desconectado dos demais ensinamentos.
A concepção cultural expressiva através do movimento na escola que prepara o aluno
para o pleno exercício da cidadania deve ajudar o aluno no desenvolvimento da autonomia, da
cooperação e participação social, além da afirmação de valores e princípios democráticos.
Tanto a Educação Física quanto os demais saberes contemplados na escola, podem abordar a
complexidade das relações entre as disciplinas num contexto sociocultural, valorizando os
princípios de igualdade de oportunidades para todos considerando a estimulação das várias
dimensões de aprendizagem.
Contudo, o desporto não é somente técnica. Sérgio (2001) nos faz refletir que, acima
de tudo, há um processo cultural, pois trata-se de uma transformação histórica, situada no
tempo e no espaço. No desporto e em todas as formas de exercícios, os processos culturais
fazem parte e são expressões da preocupação sem fim de fazer o corpo, de criar, adaptar,
transformar e melhorar, acrescentando, ainda, de compreender esse corpo.
Explicita Sérgio (2001) que, neste espaço desportivo, o corpo é um interlocutor de
expressões. É no momento oportuno que o corpo representa, a partir de suas possibilidades e
de seus limites, ele dialoga e relaciona-se com a natureza interior e exterior, com a vida e com
o mundo. Pode-se dizer que ele se manifesta, nesses momentos, até como necessidade de
viver.
Toda a qualidade expressa nesses momentos são interrelações que solicitam a
construção cultural, mas não se esquece o valor com que mostramos o nosso ser no mundo
(MERLEAU-PONTY, 1999). Há uma forte tendência à multiplicidade desportiva
experimentada pelas culturas indicando que o corpo parece estar regressando de um
esquecimento, ultrapassando sistemas de distanciação e repressão, retomando o lugar de
suporte da identidade que lhe pertencia em sociedades mais simples (BENTO, 2006, p. 173).
Essas ligações e conscientizações de si próprio, essa pulsão e essa vontade de
redescobrir o corpo, de o sentir, experimentar e testar por dentro e por fora, tudo isso estimula
e perfaz a inclinação para novas formas de prática mais ativa, sentida, arriscada, desafiante,
radical, intensiva e extensiva como os ER, que ligam essas estimulações com o conhecimento
significativo do evento, com a interação, com o eu pessoal, com o outro e com a natureza
93
3.4.4 As atividades
O grupo foi brilhante, todos se ajudaram para montar a barraca, pois não
havia instruções (P4).
Eu não achava que era simples, agora já posso montar uma com meus filhos
(P6).
No desafio de verificar o diâmetro da maior árvore da escola.
Sempre passo por este caminho e não havia reparado nesta árvore tão
grande (P13).
A dimensão quando abraçamos a árvore é impressionante. Precisou de doze
professores (P14).
Na travessia de uma árvore a outra sobre uma fita tencionada:
Não imaginava que conseguiria passar por uma fita, morro de medo disso
[...] a ajuda do grupo e o incentivo foi fundamental (P6).
A sensação que tive foi de uma tensão em todo meu corpo ao pisar na fita e
quando terminei veio um relaxamento impressionante. Esqueci de tudo e me
concentrei apenas no desafio (P14).
O grupo se posicionou apontando que havia conhecimentos importantes que poderiam
se relacionar. Os cálculos matemáticos para saber quantos passos percorreram num
determinado percurso ou de um lugar a outro, as noções de geografia para compreender os
direcionamentos do corpo no espaço a partir da rosa dos ventos que fora desenhada em
conjunto. Além disso, os professores colocaram que há uma carência em atividades desse
tipo, que reflita e valorize o ambiente de convivência, a coleta de lixo e também atividades
que estimulem a resolução de problemas. Perceberam, nessas atividades, que os caminhos ou
as respostas precisam ser buscados e que não há uma via única.
Isso reforça o incentivo para a construção coletiva pontuada nos esportes educacionais.
Professores e alunos devem discutir juntos a respeito da construção dos espaços de
aprendizagem e de seus objetivos (BURGOS, 2011).
95
3.4.5 Conclusões
Após quatro semanas de experimentações, o grupo achou que não havia mais
necessidade de outras atividades por compreender as situações em que o movimento pode ser
21
Shape – tábua de madeira na qual a pessoa apoia os pés. Há variações nas formas, mas geralmente as duas
extremidades são arredondadas e com uma pequena elevação.
22
Folha de São Paulo – Pesquisa Data folha, 15/06/2003
96
um estimulador de outros saberes, mesmo o grupo pontuando que existem dificuldades para
se ensinar dessa forma e reafirmaram que o problema maior seria controlar as crianças, mas
aceitaram o desafio.
Diante da satisfação do grupo e prontos para avançar em nossa pesquisa, com ressalva
para que eu acompanhasse todas as saídas possíveis como auxiliador nas atividades iniciais,
lancei a tarefa de começarmos a discutir quais conteúdos, atividades, e estratégias poderiam,
em conjunto, articular com as expectativas de ensino em cada ano escolar. Segue, no outro
ciclo, a premissa e a construção coletiva do roteiro de estudos para as séries iniciais do ciclo
fundamental I.
23
Ollie - Tirar o skate do chão por um momento, não perdendo o contato do skate com seus pés.
99
um problema para o qual deve se buscar uma resposta e, para isso, é preciso significatividade.
As curiosidades serão pontos de partida para a conscientização de procurar respostas para suas
próprias dúvidas.
Não basta o impulso interno para se auto-realizar. É ainda indispensável um ambiente
que propicie liberdade de escolha e de ação, com reconhecimento e estimulação do potencial
para criar de cada indivíduo (ALENCAR; FLEITH, 2003). Conforme explica
Csikszentmihalyi (1996), a criatividade não ocorre, somente de modo intrínseco nos
indivíduos, mas é resultado da interação entre os pensamentos do indivíduo e o contexto
sócio-cultural.
3.5.2 Fechamento
EXPECTATIVA DE APRENDIZAGEM:
DESENHE QUAIS ESPORTES VOCÊ CONHECE QUE SÃO PRATICADOS NA ÁGUA?
DESENHE QUAIS ESPORTES VOCÊ CONHECE QUE SÃO PRATICADOS NA
NATUREZA?
DESENHE QUAIS ESPORTES VOCÊ CONHECE QUE SÃO PRATICADOS NA
CIDADE?
QUAIS ESPORTES VOCÊ CONHECE QUE SÃO PRATICADOS NO AR?
QUAIS ESPORTES VOCÊ CONSIDERA RADICAL? (PARA PINTAR)
FUTEBOL
SKATE SURFE
BIKE
102
ENCONTRE O CAMINHO DA
ESCOLA
CAÇA-PALAVRAS
PLASTICO - PAPEL - NATUREZA - METAIS - PRESERVAÇÃO
X U L N A L I S M I O
T G A A S I P E T E L
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104
CONHEÇA MAIS:
SKATE – O SKATE CHEGOU AO BRASIL A PARTIR
DE UMA REVISTA DE SURFE E CONTAM-SE NAS
HISTÓRIAS QUE OS SURFISTAS PENSARAM EM
TRANSFORMAR UMA PRANCHA DE SURFE EM ALGO
ADAPTADO PARA AS RUAS, POIS CONTINUARIAM
SURFANDO NO ASFALTO NOS DIAS QUE NÃO TIVESSE
ONDAS NA PRAIA.
A PARTIR DISSO, COMEÇOU O CRESCIMENTO E INVENTARAM
MANOBRAS E MODALIDADES.
GERALMENTE OS SKATISTAS GOSTAM DE GÊNEROS MUSICAIS COMO O
RAP, O RIP ROP E O HARDCORE. ADORAM FAZER GRAFITE PARA EXPRESSAR
105
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
SKATES PATINS BIKE
DE ACORDO COM O GRÁFICO, RESPONDA:
1. QUANTOS ALUNOS POSSUEM SKATES? ________________________
2. QUANTOS ALUNOS POSSUEM PATINS? ________________________
3. QUANTOS ALUNOS POSSUEM BIKES? _________________________
4. O QUE TEM MAIS, SKATE, PATINS OU BI_______________________
_____________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
_____________________________
___________________________________________________________________________
_
Terra Água
Água Água
RODA DE CONVERSA
DURANTE NOSSA VIDA, TEMOS QUE NOS COMUNICAR PARA TROCAR
INFORMAÇÕES, APRENDER, ENSINAR E OUTRAS FUNÇÕES. EXISTE UMA
PRÁTICA DE ESPORTE AQUÁTICO CHAMADO MERGULHO QUE NECESSITA
MUITO DA COMUNICAÇÃO.
VOCÊ SABE QUAL A COMUNICAÇÃO MAIS USADA NO MUNDO?
VOCÊ CONHECE OUTRO TIPO DE COMUNICAÇÃO?
CONHECENDO O CORPO – RESPIRAÇÃO
A VIDA MARINHA
CUIDANDO DA ÁGUA PARA NÃO ACABAR
Durante a história dos povos, percebe-se que sempre existiu o desejo de desafiar a
natureza e os próprios limites. Vejam os heróis da mitologia grega com seus poderes
especiais, eles tinham habilidades para voar, percorriam longos caminhos em terras
desconhecidas no meio de matas fechadas, podiam ficar no fundo do mar, pois controlavam e
respeitavam os elementos naturais: Fogo; Ar; Terra e Água.
Ainda hoje, esses heróis são reinventados na forma de praticantes de Esportes Radicais
como o homem aranha francês que escala prédios pelo mundo, ou o mergulhador cubano que
desce a 180 metros de profundidade com o próprio fôlego como se fosse o homem do fundo
do mar, ou ainda o americano que voa em sua asa que parece o homem morcego saltando de
um avião.
Expectativa de aprendizagem:
Quais Esportes você conhece que são praticados na Água?
___________________________________________________________________________
_________________________________________________________
Quais Esportes você conhece que são praticados na Natureza?
111
___________________________________________________________________________
_________________________________________________________
Quais Esportes você conhece que são praticados na Cidade?
___________________________________________________________________________
_________________________________________________________
Quais Esportes você conhece que são praticados no Ar?
___________________________________________________________________________
_________________________________________________________
Quais Esportes você considera Radical?
( ) Futebol ( ) Ginástica ( )Atletismo
( ) Skate ( ) Escalada ( ) Judô
( ) Surfe ( ) Natação ( )Parkour
( ) Voleibol ( ) Paraquedismo ( ) Bike
Expectativa de aprendizagem:
O que você pode observar sobre a natureza em nossa escola?
___________________________________________________________________________
_________________________________________________________
O que pode observar sobre a natureza no caminho da sua casa até a escola?
112
___________________________________________________________________________
_________________________________________________________
E na casa em que você mora?
___________________________________________________________________________
_________________________________________________________
Qual outro lugar você já foi que tem natureza? O que você observou lá de diferente e de igual
comparado a sua escola?
___________________________________________________________________________
_________________________________________________________
Durante as caminhadas, seja na natureza ou em qualquer outro lugar é preciso saber se
orientar para encontrar os destinos que quer chegar e depois saber voltar. Por exemplo:
quando você pede a professora para sair da sala de aula para ir ao banheiro é preciso observar
o caminho de ida para saber retornar. Esses caminhos podem ser cada vez mais difíceis, com
percursos mais longos. Sendo assim, é bom aprender cada vez mais sobre como não se perder
na escola, no caminho de casa, num parque, nas ruas perto de casa ou em qualquer outro
lugar.
Em qual direção nasce o Sol?
__________________________________________________________________
Em qual direção nasce o Sol em nossa escola?
__________________________________________________________________
Você sabia que o lado oposto que nasce o Sol é chamado de poente, que significa onde
o Sol se põe. Quando acaba o dia e chega à noite. Para facilitar esse entendimento podemos
construir e pintar a Rosa dos Ventos que serve para indiciar as direções ou pontos Cardeais:
Norte, Sul, Leste e Oeste
Sol
O que podemos conhecer na escola a partir da Rosa dos Ventos? Escrevam o que
encontraram:
LESTE____________________________________________________________
NORTE___________________________________________________________
OESTE___________________________________________________________
SUL______________________________________________________________
113
Agora, escolha dois lugares que lhe agradam na escola e tente medir a distância.
Conhecendo a natureza: Durante uma trilha podemos observar diversas coisas.
O que você conhece da natureza?
__________________________________________________________________
CAÇA-PALAVRAS
RECICLAGEM - PLASTICO - PAPEL - PAPELÃO - METAIS - ALUMÍNIO - VIDRO - TETRA-
PAK - GARRAFAS-PET - JORNAL - REVISTA - LATA - NATUREZA - PRESERVAÇÃO -
RECURSOS - ÓLEO - LIXO SACOS - EMBALAGENS
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Desafios: Toda excursão nos leva a conhecer e respeitar nossos limites. Embarque nas trilhas
dessa aventura.
Jogo das Trilhas – Desenhos com giz coloridos para demarcar os trajetos.
114
Andar pelas trilhas demarcadas e fugir da ‘onça’ que será um pegador. Após ser pego, a
pessoa se transforma em uma árvore e quando alguém tocá-la poderá fugir pelas trilhas
novamente.
Variação – O aluno que foi pego se transforma em onça e o outro foge ou ajuda a outra onça.
Fotografias – Conduzir um aluno (este estará de olhos vendados) até um local que ache legal e
que tenha algo da natureza. Quando chegar ao destino, tirar a venda do amigo para ele
contemplar o local que quisera levá-lo. Quando todos retornarem, poderão contar o que
observaram e formar uma história a partir das observações.
Contação de história – todos sentados numa cadeira (pode-se fazer um círculo com giz no
chão). Um aluno que estará fora dos círculos demarcados começará uma história envolvendo
os animais da natureza. Toda vez que disser um tipo de pássaro (algo que voe), todos devem
dar uma volta no próprio círculo e quando o contador de história disser qualquer outro animal
que não voe todos devem trocar de círculo.
Neste momento o contador poderá entrar em um dos círculos e quem ficar de fora continuará
a história.
Travessias – Desafio de chegar ao outro lado sobre uma fita tensionada em árvores ou colunas
(também pode ser feita uma falsa-baiana que consiste em colocar uma corda em baixo para os
pés e outra em cima para as mãos). Nestes desafios pode ser explorada as passagens de frente;
de costas; de lado; um de cada lado e ao encontrarem-se terão que resolver como continuar;
de olhos fechados; com auxílio ou sem auxílio. Importante propiciar desafios para todos,
respeitando os limites e inseguranças de cada um.
A corda não deve ultrapassar 1 metro de altura do chão para evitar risco de quedas bruscas.
outras atividades radicais que ocorrem na cidade. Essas atividades são conhecidas pelo uso do
espaço público como as quadras, as ruas, as praças para execução de manobras interagindo
com os elementos que constituem um determinado espaço como os bancos, as escadas, as
guias e tantos outros obstáculos que tornam essas atividades um espetáculo a parte,
modificando as formas de olhar para esses lugares.
Para saber mais sobre esses Esportes Radicais é preciso entender que necessitamos de
equilíbrio e coragem para os desafios. Além disso, podemos conhecer os praticantes pela
cultura que eles transmitem. Cada um dos Esportes possuem gostos por determinados ritmos
musicais, roupas, gírias e outros.
Conheça mais:
Skate – O Skate chegou ao Brasil a partir de uma revista de
surfe e contam-se nas histórias que os surfistas pensaram em
transformar uma prancha de surfe em algo adaptado para as ruas,
pois continuariam surfando no asfalto nos dias que não tivesse
ondas na praia. A partir disso, começou o crescimento e
inventaram manobras e modalidades.
Geralmente os Skatistas gostam de gêneros musicais como o Rap, o Rip Rop e o
hardcore. Adoram fazer grafite para expressar seus sentimentos, seja eles nos próprios Skates
ou nas pistas e ainda em locais públicos autorizados.
Qual gênero musical você gosta? Conhece algum desses gêneros que os Skatistas gostam?
__________________________________________________________________
Você sabe o que é grafite? Já viu algum desses? Observe o caminho da sua casa até a escola e
procure identificar os grafites.
116
Conhecendo o Skate:
Terra Água
Água Água
salgada e não serve para nosso consumo, mas ela equilibra todo o sistema da Terra,
ajudando nos processos das chuvas e no controle da temperatura.
Expectativas de aprendizagem:
Existem várias atividades esportivas que são praticadas na água. Quais você conhece?
Quais Esportes Radicais são praticados na água?
Durante nossa vida, temos que nos comunicar para trocar informações,
aprender, ensinar e outras funções. Existe uma prática de esporte aquático chamado
mergulho que necessita muito da comunicação.
Você sabe qual a comunicação mais usada no mundo?
A vida marinha
Sinais do mergulho
Venha aqui
Descer/descendo
Olhe pra mim
Chame a atenção dos
mergulhadores para transmitir-
lhes alguma mensagem.
Dupla
Forme dupla, ou em
Algo está errado dupla.
Subir subindo
Acabou o mergulho ou precisa
conversar com o outro
mergulhador.
Perigo à frente
Afaste-se lentamente do
Espere um momento local indicado.
Mantenha a
profundidade
Qual a direção?
Sinal que pergunta ao
outro mergulhador qual
Estou sem ar direção a seguir
Preciso de ajuda
(emergência)
Você lidera
Passa o comando do
Siga nesta direção mergulho para outro
mergulhador.
120
Será que outros alunos conseguem entender o que você quis dizer? Atividade de
expressão e representação dos sinais do mergulho.
Você já sentiu vertigem ou tontura alguma vez? Você estava fazendo o que?
Experimentando as vertigens:
Olhos vendados – Deslocamentos pelos espaços com auxílio dos colegas; com auxílios
sonoros; sem auxílios.
João bobo – formar grupos com um aluno ao centro do círculo composto por outros alunos. O
aluno que estiver no centro tentará permanecer os pés parados e os demais provocarão
impulsos de lados aleatórios para causar a sensação de diferentes mudanças de direções
corporais.
Suspensão pelos amigos – Em grupos, experimentar elevações de alguns alunos de modos
diferentes: sentados, deitados em decúbito ventral e dorsal. Criar formas parecidas com os
pára-quedistas.
Pêndulo – Deslocamentos suspensos por cordas simulando as propulsões de pára-quedistas.
121
3.5.3 Conclusões
Após o retorno das férias escolares de julho de 2011, estabeleci contato com todos os
professores e marcamos um encontro formal para traçar o plano de ação e suas possíveis
intervenções semanais para desencadear os saberes relacionados ao meio ambiente na mostra
cultural do mês de setembro. Procurei realizar uma rotina de duas visitas semanais durante o
período de aulas para me aproximar da dinâmica de cada salão e dos alunos. Às terças-feiras
ficava de 13h40h às 15h40 no salão do segundo ano e das 15h50 às 17h10 no salão do terceiro
ano; durante as quintas-feiras acompanhava o salão do primeiro ano das 13h40 às 15h40 e das
15h50 às 17h10 acompanhava o salão do quarto ano. Essa rotina manteve-me em
comunicação direta com os alunos e professores realizando suas atividades diárias.
Foi nesses espaços, concedidos pelos professores, que iniciamos algumas atividades
dos roteiros cuja efetivação se realizou somente com a minha presença. A maioria relatou que
torna-se difícil oferecer um conteúdo dinâmico, com intervenções de experimentações
procedimentais. As atividades listadas em sala de aula são mais fáceis, contudo, os alunos
ficam ansiosos para realizar as atividades.
Após estas análises, o plano de ação constituiu em levar os alunos para realização
prática de algumas atividades planejadas. Separamos o período em três, dividindo os
professores acompanhados de uma média de 25 a 30 alunos, lembrando que nos salões os
professores trabalham em três com uma média de 90 alunos por ano escolar.
As atividades propostas procuraram fazer conexões com os assuntos do roteiro
trabalhados nos salões, além de contemplar os princípios vividos na escola (solidariedade,
responsabilidade e autonomia).
No primeiro ano, foi importante ver a iniciativa dos professores que se dispuseram a
ousar colocar um roteiro de estudo, pois isso acontece somente a partir do segundo ano de
ensino, devido à consolidação da alfabetização. Foram realizados, nos momentos de roda de
conversa com os alunos alguns comentários e questionamentos sobre os ER, depois cumpriam
atividades de pintura e brincavam com os elementos dispostos por cordas tensionadas nas
árvores do Pólo Educacional.
Assim também foram transmitidos os saberes do roteiro no segundo ano de ensino, por
conter dinâmicas próximas à faixa etária e por percebermos que muitos alunos não haviam
experimentado atividades de suspensão em cordas e travessias de desequilíbrios sobre fitas.
Ainda foi possível fazer uma escalada num morro que liga uma escola a outra, sinalizando as
123
3.6.1 Conclusões
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
d) Como um tema que apresenta novidades, por exemplo, os ER, pode ser gerador de
práticas e saberes interdisciplinares?
Este foi o ponto alto da pesquisa, pois mostrou que a EF tem seu espaço de
reconhecimento e diálogo com as áreas do saber, sendo bem respeitada quando planejada e
127
pesquisados, como o saber transmitido por um comunicador. Para essa alteração, foi preciso
começar com explicações sucintas sobre os assuntos relacionados ao risco, ao esporte, entre
outros, para, só então, passar a uma postura de ofertar textos, revistas e vídeos para pesquisas
e leituras com debates. Essa sistematização no grupo propiciou um envolvimento maior de
todos; e a troca de experiências foi perceptiva e positiva para desencadear situações vivenciais
de estratégias de ensino.
que queriam estudar no determinado dia do roteiro. É importante destacar que conseguimos
organizar um roteiro baseado nas expectativas de ensino de cada série proposta no caderno de
orientações curriculares e proposição de expectativas de aprendizagem para o Ensino
Fundamental, foi a primeira vez que isso ocorreu efetivamente na escola.
pode ignorar fatos como os problemas emergentes do meio ambiente, da diversidade cultural,
da indisciplina, entre outros que configuram os problemas locais e que são também globais.
Os conteúdos do roteiro de estudo foram distribuídos ao longo do semestre por
demandas de tarefas administrativas e para cumprir com as formações descritas nas
expectativas de ensino municipal e, portanto, ainda estão sendo abordados em algumas turmas
por considerar sua importância. Um próximo passo poderá ser a efetivação desse saber
diretamente com a Secretaria Municipal de Educação para utilizar, como exemplo, um roteiro
interdisciplinar que procurou contemplar diferentes linguagens comunicativas.
Pensando no funcionamento de uma pesquisa-ação, tal metodologia se configura cada
vez mais no espaço educativo, contudo, deve-se atentar para o tempo determinado para uma
pesquisa desse perfil. É notório dizer que este estudo se concretizou devido a algumas
lideranças encontradas no grupo e nos subgrupos estruturados nos salões de ensino.
Por fim, mas não terminado, estamos conquistando um espaço de comunicação entre
as disciplinas, os professores, os alunos e os saberes de modo geral para que permitam
valorizações temáticas e aprendizagens por diferentes vias de comunicação e incentivo às
linguagens como estratégia. É possível valorizar os saberes em um complexo interligado de
áreas comunicativas, desde que toda estrutura escolar e fundamentalmente as pessoas que as
gerenciam tenham intencionalidades propositivas neste sentido.
A interdisciplinaridade ainda enfrenta muitos obstáculos administrativos e estruturais,
mas já existem algumas experiências mostrando que é possível sua abordagem. Acreditamos
que esta pesquisa possibilitou-nos apresentar mais uma dessas realidades de busca por
conexões de saberes.
131
Referências
BETTI, M. A janela de vidro: esporte, televisão e educação física. Campinas, SP: Papirus,
1998.
BRUHNS, H. T. A busca pela natureza: turismo e aventura. Barueri, SP: Manole, 2009.
__________. Educação física brasileira: autores e atores da década de 1980. Campinas, SP:
Papirus, 1998.
DIAS, C. A. G. Notas e definições sobre esporte, lazer e natureza. Revista Licere, Belo
Horizonte, v.10, n.3, p. dez. 2007.
FREIRE, J. B. Educação de corpo inteiro: teoria e prática da Educação Física. 4. ed. São
Paulo: Scipione, 2001.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 30. ed. São
Paulo: Paz e Terra, 2004.
GARDNER, H. Cinco mentes para o futuro. Porto Alegre, RS: Artmed, 2007.
__________. Estruturas da mente: a teoria das inteligências múltiplas. Porto Alegre, RS:
Artes Médicas Sul, 1994.
KUHN, T. S. A estrutura das revoluções científicas. 6. ed. São Paulo: Perspectiva, 2001.
LE BRETON, D. Condutas de risco: dos jogos de morte ao jogo de viver. Campinas, SP:
Autores Associados, 2009.
___________. Aqueles que vão para o mar: o risco e o mar. Revista Brasileira de Ciência e
Esporte, Campinas, SP, v. 28, n. 3, p. 9-19, maio 2007.
MARINHO, A.; BRUHNS, H. T. Viagens, lazer e esporte: o espaço na natureza. São Paulo:
Manole, 2006.
MIRANDA NETO, J. O resultado de uma boa mobilização comunitária. In: SÃO PAULO.
Heliópolis bairro educador: a construção de um pólo de educação e cultura. São Paulo:
Fundação Padre Anchieta, 2008, p. 60-67.
_________. Introdução ao pensamento complexo. 3. ed. Porto Alegre, RS: Sulina, 2007.
_________. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 6. ed. São Paulo: Cortez,
2002 a.
_________. A cabeça bem feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. 6. ed. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2002 b.
SCHNEIDER, A. A. Um bairro que ensina e aprende. In: SÃO PAULO. Heliópolis bairro
educador: a construção de um pólo de educação e cultura. São Paulo: Fundação Padre
Anchieta, 2008, p. 8-17.
137
_________. Esportes radicais nas aulas de Educação Física no ensino fundamental. In:
MOREIRA, E. C. (Org.) Educação Física Escolar: desafios e propostas. Jundiaí, SP:
Fontoura, 2004. p. 99-111.
138
1) Farei parte da equipe de professores que atuam no Ensino Fundamental I que participará da
pesquisa cujo objetivo será analisar a construção e aplicação de estratégias de ensino sobre os
esportes radicais como potencial tema gerador de saberes interdisciplinares, bem como
aplicarei as atividades planejadas e dialogarei sobre dificuldades e facilidades encontradas
durante a elaboração e aplicação do planejamento;
2) Durante o estudo serão feitas gravações de reuniões e deverei elaborar relatórios com a
finalidade de refletir sobre as estratégias de ensino que eu vier a aplicar;
4) Haverá riscos psicológicos mínimos para mim ou meus alunos pela novidade das
atividades vivenciadas durante a participação na pesquisa, mas serei devidamente capacitado
pelo pesquisador para prevenir e lidar com os riscos inerentes ao ensino e aprendizagem dos
esportes radicais;
7) Sofrerei prejuízo de tempo para participar de reuniões com o pesquisador e para construir
novas estratégias de ensino, além de elaborar relatórios reflexivos sobre os processos de
aprendizagem sentidos nas aulas. Contudo estou disposto a dialogar sobre novos saberes da
cultura de movimento pensando em dinamizar, ainda mais, minhas aulas;
140
8) Estou livre para interromper a qualquer momento minha participação na pesquisa sem
sofrer, por isso, qualquer dano ou prejuízo;
9) Meus dados pessoais serão mantidos em sigilo e os resultados gerais obtidos através da
pesquisa serão utilizados apenas para alcançar os objetivos do trabalho, expostos no item 1
deste termo, incluída sua publicação na literatura científica especializada;
10) Este projeto foi examinado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
São Judas Tadeu e que poderei contatá-lo para apresentar recursos ou reclamações em relação
à pesquisa através do telefone (11) 2799-1944;
11) Poderei entrar em contato com o responsável pelo estudo, Prof. Igor Armbrust, sempre
que julgar necessário pelo telefone (11) 7171-3335 ou, Profa. Sheila Aparecida Pereira dos
Santos Silva (orientadora) pelo telefone (11) 2799-1637;
12) Obtive todas as informações necessárias para poder decidir conscientemente sobre a
minha participação na referida pesquisa;
13) Este Termo de Consentimento é feito em duas vias, sendo que uma permanecerá em meu
poder e outra com o pesquisador responsável.
_________________________________________
Assinatura do Voluntário
141
1) Concederei ao pesquisador acesso livre à escola para que desenvolva sua pesquisa com os
professores do Ensino Fundamental I e com o coordenador pedagógico cujo objetivo será
analisar a construção e aplicação de estratégias de ensino sobre os esportes radicais como
potencial tema gerador de saberes interdisciplinares;
2) A escola que dirijo estará isenta de custos para o acontecimento da pesquisa, ficando sob
responsabilidade do pesquisador a oferta de atividades adaptadas ao contexto real da escola,
negociando com os professores suas possibilidades, materiais existentes ou adaptados e
espaço físico;
4) Haverá riscos psicológicos mínimos para os professores e alunos devido à novidade das
experiências didáticas e de movimentos, mas que todos os cuidados serão tomados para
minimizar os riscos físicos inerentes às atividades.
8) O nome da escola poderá ser divulgado no relatório da pesquisa e em todo e qualquer tipo
de material e veículo de comunicação no qual os resultados da pesquisa venham a ser
publicados;
9) Este projeto foi examinado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
São Judas Tadeu e que poderei contatá-lo para apresentar recursos ou reclamações em relação
à pesquisa através do telefone (11) 2799-1944;
10) Poderei entrar em contato com o responsável pelo estudo, Prof. Igor Armbrust, sempre
que julgar necessário pelo telefone (11) 7171-3335 ou, Profa. Sheila Aparecida Pereira dos
Santos Silva (orientadora) pelo telefone (11) 2799-1637;
11) Obtive todas as informações necessárias para poder decidir conscientemente sobre a
autorização da referida pesquisa nesta escola;
12) Este Termo de Autorização é feito em duas vias, sendo que uma permanecerá em meu
poder e outra com o pesquisador responsável.
_________________________________________
Assinatura do Diretor escolar
143
1) Meu (minha) filho (a) participará da pesquisa na escola cujo objetivo será analisar a
construção e aplicação de estratégias de ensino sobre os esportes radicais, acompanhados por
seus professores;
3) Estou ciente que, caso eu não concorde que meu (minha) filho (a) participe da pesquisa, ele
(a) não sofrerá qualquer prejuízo em seu local de aula ou de qualquer natureza;
4) A participação de meu (minha) filho (a) nas atividades será orientada e supervisionada pelo
pesquisador e pelos professores e que o risco que ele correrá é do mesmo nível de qualquer
outra atividade comumente praticadas nas aulas de Educação Física;
5) Haverá riscos psicológicos mínimos para meu (minha) filho (a) devido à novidade das
experiências didáticas e de movimentos, mas que todos os cuidados serão tomados para
minimizar os riscos físicos inerentes às atividades.
6) Meu (minha) filho (a) estará livre para interromper a qualquer momento sua participação
na pesquisa sem sofrer, por isso, qualquer dano ou prejuízo;
7) Meu (minha) filho (a) será beneficiado (a) com o aprimoramento do trabalho dos
professores esperado como resultado da pesquisa;
8) Meus dados pessoais e de meu filho serão mantidos em sigilo e os resultados gerais obtidos
através da pesquisa serão utilizados apenas para alcançar os objetivos do trabalho, expostos
no item 1 deste termo, incluída sua publicação na literatura científica especializada;
144
9) Este projeto foi examinado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
São Judas Tadeu e que poderei contatá-lo para apresentar recursos ou reclamações em relação
à pesquisa através do telefone (11) 2799-1944;
10) Poderei entrar em contato com o responsável pelo estudo, Prof. Igor Armbrust, sempre
que julgar necessário pelo telefone (11) 7171-3335 ou, Profa. Sheila Aparecida Pereira dos
Santos Silva pelo telefone (11) 2799-1637;
11) Obtive todas as informações necessárias para poder decidir conscientemente sobre a
participação de meu(minha) filho(a) na referida pesquisa;
12) Este Termo de Consentimento é feito em duas vias, sendo que uma permanecerá em meu
poder e outra com o pesquisador responsável.
_________________________________________
Assinatura do Responsável
145
1) Farei parte da pesquisa cujo objetivo será analisar a construção e aplicação de estratégias
de ensino sobre os esportes radicais enquanto tema gerador de saberes interdisciplinares;
4) Sofrerei prejuízo de tempo para participar de uma entrevista com o pesquisador. Contudo
estou disposto a dialogar sobre novos saberes da cultura de movimento para dinamizar, ainda
mais, as minhas percepções sobre ensino e aprendizagem;
5) Estou livre para interromper a qualquer momento minha participação na pesquisa sem
sofrer, por isso, qualquer dano ou prejuízo;
6) Meus dados pessoais serão mantidos em sigilo e os resultados gerais obtidos através da
pesquisa serão utilizados apenas para alcançar os objetivos do trabalho, expostos no item 1
deste termo, incluída sua publicação na literatura científica especializada;
7) Este projeto foi examinado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
São Judas Tadeu e que poderei contatá-lo para apresentar recursos ou reclamações em relação
à pesquisa através do telefone (11) 2799-1944;
8) Poderei entrar em contato com o responsável pelo estudo, Prof. Igor Armbrust, sempre
que julgar necessário pelo telefone (11) 7171-3335 ou, Profa. Sheila Aparecida Pereira dos
Santos Silva (orientadora) pelo telefone (11) 2799-1637;
146
9) Obtive todas as informações necessárias para poder decidir conscientemente sobre a minha
participação na referida pesquisa;
10) Este Termo de Consentimento é feito em duas vias, sendo que uma permanecerá em meu
poder e outra com o pesquisador responsável.
_________________________________________
Assinatura do Diretor escolar
147
Critérios de inclusão:
- Professores que ministram aulas para o Ensino Fundamental I na escola selecionada;
- Coordenadores pedagógicos do Ensino Fundamental I que trabalhem na escola
selecionada;
- Alunos matriculados no Ensino Fundamental I da EMEF Presidente Campos Salles
nas séries atendidas pelos professores participantes.
Critérios de exclusão:
- Professores desligados da instituição no período em que a pesquisa será realizada;
- Coordenadores desligados da instituição no período em que a pesquisa será realizada;
- Professores que deixarem de participar de, pelo menos, três reuniões de discussão;
- Professores que deixem de entregar, por escrito seus relatórios, conteúdos, ideias e
reflexões no diário de campo e, dessa forma, possam prejudicar os resultados da pesquisa;
- Professores que passem a trabalhar na escola após concluída a fase exploratória por
não terem participado das discussões e construções em conjunto do roteiro de estudo.
Dos riscos
Os professores poderão ficar inseguros nas aplicações das atividades por se tratar de
um tema diferente do cotidiano apresentado na escola. Para isso, serão devidamente
orientados e capacitados para intervir nas aulas com seus alunos passando por experiências
prévias, caso haja necessidades relativas às condutas de aulas com estímulos motores,
minimização de riscos no ambiente das atividades. Esses e outros cuidados serão conversados
no processo de construção das atividades no decorrer da pesquisa de campo.
Os alunos poderão se sentir inseguros ou com medo em algumas situações de desafio
durante a prática. Para que isso seja minimizado, destacamos que os professores serão
capacitados para conduzir as situações de medo que porventura causem algum desconforto
aos alunos, as orientações do professor servirão para evitar eventuais desequilíbrios com
instruções sobre rolamentos e aterrissagens no processo das aplicações de aulas na pesquisa
de campo. Essas situações não fogem da realidade e do nível habitual das exigências de aulas
de EF e da vida escolar, dos momentos de intervalo, das atividades em salas de aula. Mesmo
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assim, será dada atenção especial por se tratar de atividades, que muitas vezes, os alunos
tiveram contato mínimo ou nenhum contato.
Dos prejuízos
Dos benefícios
diversidade cultural, a partir do acesso a outros conteúdos influenciados pelos ER, pensando
em uma estrutura interdisciplinar.
Os temas abordados durante as atividades de ER poderão desenvolver as habilidades e
capacidades psicofísicas nos alunos por se tratar de situações que propiciam a busca de
estabilidade, e exigem locomoção e manipulação. Além disso, o contato com atividades que
se aproximam de aspectos de conscientização para o uso dos recursos naturais poderão fazer
com que os alunos reflitam sobre suas ações no ambiente escolar e no seu cotidiano de vida,
alertando para os conceitos de minimização dos impactos que o ser humano produz durante as
práticas na natureza, os cuidados com os espaços comuns e, ainda, o cuidado com os materiais
comuns. As situações desafiadoras propostas, construídas no decorrer da pesquisa, poderão
provocar no aluno, um despertar para as atitudes de perseverança diante das atividades e o
respeito aos seus próprios limites. A valorização e incentivo à diversidade cultural favorecem
o contato do aluno com idéias diferentes das suas no que se refere ao se movimentar e pode
instigar a reflexão sobre suas ações.