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Profª Neusa
Contexto histórico
(...) Sem Medo ficou sem fala. Agora ele terá de resolver o caso, que é
complicado, pois deverá tomar medidas contra os kimbundos, nesta
fase em que o conflito tribal é forte. Na Base ele recuou: por medo
desse conflito, foi clemente, sabendo perfeitamente que em Dolisie o
Ingratidão fugiria. Vamos rir, muito vamos rir. Fez tudo para me
apanhar o lugar, (...). Tens agora o meu lugar, vais ver quais os
espinhos que o assento camufla, primo meu.
Mayombe
Espaço: Floresta (personificação / personagem
protagonista)
Sem Medo
Reflexões
A moral da sociedade em relação à
mulher:
– Nem imaginas! Foi preciso levá-la a reviver os
momentos de separação do marido, (...), pô-la a chorar,
para depois as carícias a aquecerem até ser capaz de
perder a cabeça. (...). Depois do amor pôs-se a chorar, a
dizer que já não merecia o marido, que era uma puta, etc.
A submissão tinha moldado completamente o seu
espírito. (...).
– Isso vem do papel social da mulher – disse o
Comissário. – Numa sociedade em que o homem controla
os meios de produção, (...), é natural que a mulher se
submeta à supremacia masculina. A sua defesa social é a
submissão familiar.
Sem Medo e Comissário Político
Reflexões
– Tu és um homem, podes ser muito mais livre. Se queres
uma mulher, nada te retém.
– Como tu, é igual.
– Não, a sociedade é muito mais severa para uma mulher.
(...)
– É o que diria a minha mãe e a minha tia, e a tia da minha
tia... Não estou tão certo como tu. Raciocinamos em
função da nossa sociedade, sociedade assimilada à
cultura judaico cristã europeia, em que o homem tem de
ser ciumento, porque é o bode do rebanho e a mulher é a
sua propriedade. (...) A mulher é uma propriedade
especial. Temos uma geração de atraso. (...).
EPÍLOGO
O NARRADOR SOU EU, O COMISSÁRIO POLÍTICO.
A morte de Sem Medo constituiu para mim a mudança de pele dos
vinte e cinco anos, a metamorfose. Dolorosa, como toda
metamorfose. Só me apercebi do que perdera (talvez o meu reflexo
dez anos projetado à frente), quando o inevitável se deu.
Sem Medo resolveu o seu problema fundamental: para se manter ele
próprio, teria de ficar ali, no Mayombe. Terá nascido demasiado cedo
ou demasiado tarde? Em todo o caso, fora do seu tempo, como
qualquer herói de tragédia.
(...)
Penso, como ele, que a fronteira entre a verdade e a mentira é um
caminho no deserto. Os homens dividem-se dos dois lados da
fronteira. Quantos há que sabem onde se encontra esse caminho de
areia no meio da areia? Existem, no entanto, e eu sou um deles. Sem
Medo também o sabia. Mas insistia em que era um caminho no
deserto. (...).
(...)
Tal é o destino de Ogun, o Prometeu africano.
Documentário :Luanda (Angola) | O Mundo Segundo os Brasileiros
https://www.youtube.com/watch?v=lbr5JxXEQvM
https://www.youtube.com/watch?v=SgSsuOBU7ZQ