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Resumo
O objeto de estudo desta docente, contribuindo para
Carmesina Ribeiro Gurgel
pesquisa foi analisar as prá- o fortalecimento da sua fun-
Doutora em Educação com
ticas avaliativas na perspec- ção pesquisadora; (3) a ve-
área de concentração em
tiva do docente para buscar Avaliação Educacional. rificação da aprendizagem
referenciais que possam ins- Profa. Adjunta do Centro de dos discentes é instituciona-
trumentalizar a aquisição de Ciências da Educação e do lizada apenas em relação às
competências a fim de avali- Programa de Pós-Graduação normas para a realização das
ar aprendizagens. O campo em Educação, Universidade avaliações, ficando as me-
empírico de investigação foi Federal do Piauí/UFPI todologias avaliativas a cri-
a Universidade Federal do Coordenadora do Núcleo de tério dos docentes; (4) o do-
Piauí – Campus Teresina, Pesquisa em Gestão e Avaliação cente pós-graduado stricto
cujo universo envolveu 473 de Política Educacional//UFPI sensu não garante que se
docentes bacharéis doutores Avaliadora Institucional torne mais ou menos com-
e mestres. A amostra para a MEC/INEP/CONAES petente para docência supe-
realização da entrevista e apli- carmesina@ufpi.br rior; (5) a articulação entre o
cação do questionário foi de carmesinagurgel@yahoo.com.br ensino de graduação e a
40 docentes dos seis centros Raimundo Hélio Leite pesquisa ocorre a partir do
de ensino. O tempo de ma- Doutor em Educação, Universidade desenvolvimento de projetos
gistério de 80% desses docen- Federal do Ceará/UFC. de monitorias, de iniciação
tes varia entre 16 e 26 anos. Prof. Adjunto da Universidade à pesquisa, de cursos de ex-
Para tratamento dos dados Federal do Ceará/UFC e do tensão e da orientação de
utilizou-se a análise de con- Programa de Pós-Graduação Trabalho de Conclusão de
teúdo, conforme Laurence em Educação, UFC Curso – TCC; (6) 25% dos
Membro colaborador do
Bardin. Os resultados mos- mestres ou doutores concen-
NUPPED/CCE/UFPI
traram que: (1) a UFPI apre- tram suas atividades em pro-
rhleite@terra.com.br
senta uma estrutura organi- jetos de pesquisa, 60% se de-
zacional que retrata o mode- dicam mais ao ensino do que
lo das demais universidades brasileiras; (2) à pesquisa e 15% desenvolvem atividades de
adota uma política consistente de qualificação extensão; (7) os maiores obstáculos que os
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batório de uma etapa escolar percorrida ção curricular a partir da reflexão do perfil do
pelo aluno, reunindo e apresentando re- docente, do profissional a ser formado para
sultados e tecendo considerações de pos- atender às exigências da sociedade.
turas que, na maioria das vezes, servem
para explicar ou justificar o alcance desses Inúmeros referenciais pós-modernos re-
resultados em determinado tempo. Avaliar feridos na literatura provocam novas postu-
numa perspectiva tradicional é voltar-se ras ante o ensino-aprendizagem, tais como:
para o passado. As perguntas do docente discussão sobre a validade dos conteúdos
comprovam respostas que ele já antecipou. para estabelecer determinadas competênci-
Assim, o docente ensina como se faz e de- as, concepções de ensino e de aprendiza-
pois realiza tarefas para ver se a resposta gem, o que não é somente uma questão de
está de acordo com os ensinamentos. pensar e refletir, mas também de formação,
considerando que o ato de aprender não se
As normas de verificação da aprendiza- restringe à acumulação de conteúdos, mas
gem implantadas pela UFPI não enfatizam também ao modo de internalizá-los e apli-
aspectos referentes às formas de avaliar os cá-los em situações novas.
alunos, ficando sob a responsabilidade do
docente o papel decisório de adequar a me- A subcategoria metodologias contem-
todologia de avaliação da aprendizagem às porâneas foi assim denominada porque os
especificidades da disciplina. Por outro lado, docentes utilizam técnicas que caracterizam
o papel do aluno é o de realizar as diferentes tanto a abordagem tradicional, ou seja, a
formas de avaliações lhe sejam propostas, medição ou mensuração da aprendizagem,
podendo ou não favorecer o fortalecimento que buscam verificar a construção do co-
das práticas avaliativas tradicionais, depen- nhecimento, fornecendo subsídio para que
dendo da formação pedagógica do docente. o docente possa administrar o desempe-
nho do aluno e sua ação docente, confor-
Não podemos ignorar, entretanto, o fato me mostram os depoimentos a seguir:
de que avaliação é sinônimo de controle Quais são as outras formas de avaliação?
institucional, social e público. O que po- Adotamos uma metodologia de avalia-
demos fazer é questionar a natureza desse ção que os alunos percebam a conexão
controle, quais benefícios e prejuízos soci- entre os conteúdos numa perspectiva
ais poderão ocasionar. Isto porque o exer- teórico-prática [...]. Essa metodologia
cício classificatório e eliminatório continua consiste no desenvolvimento de traba-
sendo um dos maiores responsáveis pela lhos práticos [...]. Envolve esse traba-
exclusão educacional, concorrendo para a lho, a prova tradicional e o seminário.
manutenção das desigualdades sociais. Portanto, a nossa disciplina além destas
duas formas de avaliar, considera a par-
Neste sentido, Alvarez Mendez (2002) ticipação, o interesse e a freqüência dos
acredita que mudar o enfoque exige, neces- alunos durante as aulas.
sariamente, uma mudança no papel que as [...] Todas as questões de provas são dis-
instituições devem desempenhar na implemen- cursivas e elaboradas a partir de situações
tação do seu modelo de avaliação. Permutar contextualizadas. A parte prática é avaliada
as práticas avaliativas implica uma redefini- através de um projeto de pesquisa.
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É uma conversa dialogada com os alu- Enfim, utilizo esse conjunto de procedi-
nos ou grupos de alunos no final de mentos, além das práticas tradicionais.
cada aula prática no laboratório. Busco
ter o controle dessas aprendizagens dis- As metodologias contemporâneas de
cutidas em pequenos grupos. avaliação caracterizam-se como instrumen-
Além das práticas tradicionais (teste) tos que conduzem a modificações da idéia
solicito a realização de seminários e clássica de avaliação – a prova para fim
pesquisa de campo. Procuro desen- exclusivo de prestação de informações para
volver técnicas próprias para o estu- definir o grau de aprendizagem. Assim, foi
do das formas anatômicas conside- possível verificar a diversidade de metodo-
rando a especificidade da disciplina. logias inovadoras utilizadas. 55% dos do-
Neste sentido, procuro avaliar tam- centes, no entanto, não a utilizam, mas
bém as habilidades manuais, memó- demonstraram preocupação sobre a difícil
ria locativa, discriminação visual, ca- tarefa de ajuizar o desempenho do aluno.
pacidade de criatividade nas simula-
ções dos sistemas que compõem os Os docentes manifestaram opiniões bem
animais ao confeccionar quadros. definidas sobre seu papel na interação com
Essas produções, geralmente são o aluno, a partir do uso das palavras: medi-
apresentadas em congressos. ador ou facilitador da aprendizagem. Entre
No decorrer da disciplina desenvolvo as formas contemporâneas de avaliar, o se-
avaliação formativa (inclui trabalhos em minário e a pesquisa de campo, seguidas de
grupo, seminários) e, por último, faço a relatório, são as técnicas mais utilizadas. No
avaliação somativa: testes com ques- entanto, a prova escrita ou teste, porém, ain-
tões mistas: (objetivas e discursivas). da é permanente na prática desses docentes.
Realizo trabalhos de grupo em sala de Isto significa que eles buscam metodologias
aula, geralmente sem conotação de ava- inovadoras, mas não dispensam a prova
liação. Realizo as provas tradicionais como instrumento avaliativo. Para a maioria
com questões objetivas e discursivas, dos docentes, realizar a prova é essencial no
provas orais. Após a correção das pro- ensino-aprendizagem porque é um momen-
vas, comento as questões com os alu- to de aproximação com os alunos.
nos e discutimos principalmente os er-
ros para que o aluno descubra porque Conforme as manifestações dos docen-
errou ou, então, verifique se a pergunta tes, a prova é considerada apenas como mais
está mal formulada, induzindo, às ve- um instrumento avaliativo, constituindo um
zes, à dupla interpretação. momento privilegiado para verificação do
Avalio meus alunos de diferentes ma- conhecimento e não apenas um acerto de
neiras, tais como: discussão participa- contas. Contextualizar uma questão signifi-
ção em sala de aula. Faço provas, em ca que, para responder, o aluno deverá
determinadas disciplinas ou faço pro- buscar apoio no seu enunciado. Por isso,
vas utilizando outros instrumentos ava- alguns cuidados devem ser considerados na
liativos: resenhas, monografias, ficha- elaboração de uma questão dissertativa ou
mentos, elaboração de textos, experi- objetiva, pois a precisão na elaboração dos
ência de campo, relato de experiência. critérios de correção é fundamental.
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Em relação à qualidade dos itens das pro- Categoria II: Formação Continuada (FC)
vas os docentes ressaltaram que enfatizam as Essa categoria engloba os motivos in-
questões operatórias porque exigem mais dos dicados pelos docentes para continuarem
alunos, quando estabelecem relações signifi- sua formação. Com a análise desta cate-
cativas num universo de informações, e as goria, procuramos saber que “Relação exis-
transitórias são requisitadas porque as res- te entre os objetivos da UFPI e o interesse
postas dependem de uma simples transcri- do docente na continuidade de sua forma-
ção de informações, muitas vezes aprendi- ção”, a partir das perguntas:
das de cor e, normalmente, sem muito signi- • como você analisa a política de capa-
ficado, além de exigir menos habilidades. citação da UFPI e quais seus efeitos para
a qualidade do ensino?
Em resposta ao questionamento - • que motivos os levaram a dar conti-
“Qual a relação entre as metodologias de nuidade à sua formação?
avaliação com a titulação acadêmica dos
docentes e até que ponto essa formação Essa categoria originou as subcatego-
tem refletido sobre as formas de avaliar as rias: deficiência, crescimento, mudança e
aprendizagens dos alunos?” - embora os solução de problemas. 10% dos docentes,
docentes tenham uma formação básica ao relatarem os motivos que os levaram a
(inicial) em cursos de bacharelado, ao dar continuidade à sua formação, identifi-
avaliarem seus alunos, empregam meto- cam-se com o paradigma da ‘’deficiência”;
dologias inovadoras. Em alguns momen- 27,5% apontaram para o de ‘’crescimen-
tos utilizam instrumentos com característi- to”; a justificativa de 55% coincide com o
cas apenas de mensuração (testes de apro- de ‘’mudanças” e apenas 7,5% refletem o
veitamento) e outros utilizam formas que paradigma da solução de problemas.
permitem criar situações estimulantes ao
desenvolvimento de habilidades práticas Para saber a relação entre os paradig-
para a formação profissional. mas de formação continuada subjacente na
fala dos docentes, com a política de qualifi-
São interessantes algumas metodolo- cação docente adotada pela UFPI, os dados
gias de avaliação, porque mobilizam uma mostraram alguns aspectos interessantes.
articulação entre a tarefa individualizada
(observação, trabalho individual, testes) e a) Do ponto de vista da literatura
a realização de tarefas interativas que pro- A UFPI retrata os modelos das demais
movem o grupo e o indivíduo, simultane- universidades brasileiras, que surgiram a
amente, articulando sua atenção e tempo partir da junção de cursos isolados. Os
de trabalho nas duas direções. Após a mecanismos acadêmicos e administrativos,
análise da categoria metodologia de ava- integradores dos diversos setores e serviços,
liação foram verificados dois aspectos fun- são diretamente vinculados à Reitoria. Seu
damentais do processo avaliativo no âm- modelo teórico evidencia uma estrita rela-
bito da UFPI – o desenvolvimento de me- ção com a política educacional definida pelo
todologia diversificada e a sua implica- Ministério da Educação – MEC, adotando
ção em face da existência ou não de uma uma política consistente de qualificação
norma que as institucionalize. docente que desponta para o fortalecimento
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os docentes são envolvidos com a parti- Subcategoria: Mais pesquisa do que ex-
cipação direta e corresponsabilidade pelo tensão
processo formativo. De outra parte, a Uni- Esta categoria estuda o envolvimento
versidade e o Ministério da Educação as- dos docentes egressos do doutorado nas
sumem a responsabilidade política de de- atividades de ensino e pesquisa. Esta parti-
terminar os critérios e parâmetros para a cipação é relatada nas seguintes falas:
pós-graduação stricto sensu, as razões A minha atividade de pesquisa é muito
que os impulsionam a continuar sua for- intensa, vivo pesquisando, sou líder de
mação coincidem com os modelos teóri- grupo de pesquisa, participo de outros
cos existentes. grupos de pesquisa que interagem com
outras instituições [...].
Categoria III: Envolvimento dos docentes Na pesquisa na UFPI tenho tido maior
egressos da pós-graduação nas atividades envolvimento [...].
acadêmicas Tenho maior envolvimento com a pesqui-
Esta categoria trata das formas de en- sa. Foi implantado um grupo de pesquisa
volvimento dos docentes egressos da pós- na química, fazemos intercâmbio através
graduação nas atividades de ensino, pes- de convênio com outras instituições. Na
quisa e extensão. Contempla as falas dos extensão, quase não tenho atuado.
sujeitos que relatam seu envolvimento com Estou muito engajado nos trabalhos de
as atividades ao responderem ao seguinte pesquisa. Não consigo me ver como
questionamento: de que forma os docentes docente. Acho que é um erro sermos
egressos dos cursos de doutorado e mes- chamados apenas de docentes. Sou pes-
trado desenvolvem atividades de articula- quisador antes de qualquer coisa. Quan-
ção entre o ensino de graduação com a do somos contratados pela UFPI, um
pesquisa? Para obter desdobramento des- dos critérios desse concurso é a pes-
sa indagação perguntamos aos docentes: quisa que se realiza, deveríamos ser
• qual o seu envolvimento com as ativida- contratados pela pesquisa e não pelo
des de pesquisa e de extensão? magistério. Estou com vários projetos
• a partir da sua prática docente, qual o perfil no CNPq em desenvolvimento.
de aluno que você vislumbra formar? Nenhuma atividade de extensão. Faço
parte de um grupo de pesquisa no qual
Esta categoria originou três subcategorias desenvolvemos trabalhos de iniciação
denominadas: ensino, pesquisa e extensão. científica fazendo a conexão entre o
ensino de graduação e a pesquisa.
Os dados mostram que todos os do-
centes desenvolvem atividades de ensino. A partir do relato dos docentes, consta-
25% dos docentes, ao retornarem dos cur- tamos que uns têm maior envolvimento com
sos de mestrado e doutorado, concentram o ensino do que com a pesquisa e a exten-
suas atividades direcionadas mais para os são. Vejamos alguns:
projetos de pesquisas. 60% se dedicam mais Atualmente não estou realizando nem
ao ensino do que à pesquisa e à extensão. pesquisa e nem extensão. Apenas ensino.
15% desenvolvem mais atividades de ex- [...] tenho me envolvido menos com pes-
tensão do que pesquisa. quisa e muito pouco em extensão. Mas
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estimulo sempre os meus alunos a pen- tros. Percebemos que algumas ações estão
sar como cientistas e não somente como sendo conduzidas para essa formalização.
profissionais da saúde.
Na extensão tenho pouca participação em Torna-se necessário, no entanto, apro-
pesquisa e mais em extensão, através da fundar a investigação nesse sentido para
realização de cursos e palestras. Participo relacionar com as disposições que confi-
de projeto, apenas como colaborador. guram a relação entre a formação do do-
cente-pesquisador e o campo da produ-
Em relação ao envolvimento dos egres- ção de pesquisa científica no âmbito da
sos da Pós-graduação na UFPI, verifica- UFPI. Atualmente, podemos garantir que a
mos que há docentes que desenvolvem mais maioria dos docentes articula o ensino de
atividades de extensão e ensino do que de graduação e a pesquisa a partir do desen-
pesquisa. Vejamos os relatos: volvimento de projetos de monitoria, de ini-
Tenho maior envolvimento com a ex- ciação à pesquisa, cursos de extensão e as
tensão. Os trabalhos de pesquisa so- orientações dos trabalhos de conclusão de
mente na qualidade de orientador de curso – TCC. Constatamos também que,
monografias. em 2005, houve incremento considerável
Envolvimento maior com as atividades nos indicadores de pesquisa na UFPI.
de extensão. No entanto, os trabalhos
tanto de pesquisa quanto de extensão Os entrevistados revelaram algumas di-
não são divulgados como deveriam. ficuldades que os egressos da pós-gradua-
ção enfrentam ao retornarem à sala de aula:
De acordo com a análise dessa catego- Alguns docentes quando retornam do
ria, vimos que o envolvimento dos docentes curso de doutorado encontram dificul-
egressos da pós-graduação com as ativida- dades para se readaptar à atividade de
des de ensino, pesquisa e extensão da UFPI sala de aula [...].
se apresenta de forma diferenciada. Os re- [...] os alunos reclamam que o docente
latos evidenciam que todos os docentes, de doutor utiliza uma linguagem muita ele-
alguma forma, estão envolvidos com o en- vada para o entendimento do aluno. Os
sino de graduação e de pós-graduação. O alunos consideram que esses docentes
diferenciador neste processo é a ênfase no chegam com domínio acentuado de con-
desenvolvimento dos projetos de pesquisa teúdo, mas não sabem transpor.
ou de extensão, conforme as aptidões dos
docentes, e até mesmo, das condições insti- A auto-avaliação dos docentes durante
tucionais proporcionadas aos egressos. a entrevista permitiu o registro das mani-
festações mais significativas, no que se re-
Nessa perspectiva, o desenvolvimento das fere às dificuldades enfrentadas pelos egres-
atividades acadêmicas que têm na pesquisa sos da pós-graduação, ao desenvolverem
seu eixo dinamizador exige uma série de em- atividades de ensino na graduação:
preendimentos não restritos à titulação, mas • o despertar para desenvolver projetos de
outros, que visam à institucionalização de pesquisa; e
núcleos de pesquisa capazes de articular o • a dificuldade de transposição dos conteú-
maior número possível de projetos, entre ou- dos pelo uso de uma linguagem acima do
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nível de compreensão dos alunos, princi- do-os flexíveis, e que sejam centrados em
palmente da graduação. objetivos que atendam às necessidades da
sociedade atual. Em relação à lacuna na
Em decorrência das análises e como for- formação para a docência, os docentes ma-
ma de repensar ações para minimizar esta si- nifestaram- as seguintes opiniões:
tuação, os docentes sugeriram algumas ações: • O CCE deve ser o carro-chefe dessa ação
• reunir docentes bacharéis, mestres e porque é constituído de docentes pensan-
doutores e os recém-chegados para dis- tes e detentores do conhecimento da Pe-
cutir sobre as novas abordagens educa- dagogia;
cionais, inclusive avaliativas; • Viabilizar, no caso das licenciaturas, uma
• que os programas de mestrado de- reformulação curricular, porque as nos-
senvolvidos na UFPI contemplem uma sas licenciaturas estão totalmente ultra-
carga horária maior voltada para o es- passadas, currículos sem o perfil de uma
tágio-docência; mesmo que o mestran- licenciatura, mascarados para o bachare-
do seja docente. Isso caracterizaria uma lado. O aluno licenciado fica com vergo-
formação concomitante para a docên- nha de ser licenciado, não há mercado
cia e a pesquisa; para ele que estudou muito. É necessário
• independentemente de o aluno da pós- estruturar um currículo apropriado visan-
graduação ser bolsista, deverá realizar do realmente à formação do docente para
o estágio-docência; que a grande média tenha condições de
• reformular os critérios de admissão ser absorvida no mercado de trabalho,
ao serviço de monitoria, porque houve pelo desenvolvimento do Piauí. É impor-
expansão das vagas, porém sem se pre- tante ter a coragem de “enxugar” esses
ocupar com a qualidade dos alunos que currículos, acabar com essas disciplinas
ingressam no programa; “engessadas” que os alunos não enten-
• ampliar a articulação e a discussão dem, docentes que se preocupam com a
com a Coordenação de Assessoramen- carga horária totalmente prefixada com
to Pedagógico da Pró-Reitoria de Ensi- os módulos de ensino calculados, agem
no de Graduação e o Centro de Ciên- como robôs e com isso comprometem a
cias da Educação para definir uma polí- aprendizagem;
tica permanente de formação continua- • Propor aos diretores de centros, juntamente
da centrada nos saberes pedagógicos. com os seus pares, discussão sobre a via-
bilidade das licenciaturas; que sejam tam-
Os gestores (reitor, pró-reitores e dire- bém noturnas para que todos tenham opor-
tores) manifestaram-se, enfatizando a im- tunidade de cursá-las;
portância de uma política direcionada para • Estimular docentes a proporem cursos de
minimizar o problema de formação para capacitação por meio do núcleo de educa-
docência com um dos elementos-chave ção a distância. Temos uma estrutura de
para a melhoria da qualidade de ensino. qualidade com alta resolução para colo-
car cursos na rede. Nessa perspectiva, cer-
Para a Administração, o ponto emergente tamente teríamos, em pouco tempo, do-
é adequar o projeto pedagógico dos cursos centes qualificados e ministrando aulas
às diretrizes curriculares nacionais, tornan- numa abordagem mais contemporânea.
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ria. A maioria dos docentes expressa que, [...] geralmente procuro saber através
de alguma forma, a institucionalização do dos alunos se na prova é solicitada al-
Sistema Nacional de Avaliação da Educa- guma questão de disciplina que minis-
ção Superior - SINAES despertou a neces- tro. Eu, particularmente, ainda não senti
sidade de repensar as metodologias de ava- necessidade, até porque é a primeira
liação, as formas de abordar os conteú- vez que o curso foi avaliado. Mas me
dos, conforme os discursos da seqüência: despertou para ver a utilidade do ensi-
[...] hoje há engajamento dos docentes no a partir das respostas dos alunos.
em elaborar as questões de provas ten- Acho que o provão foi uma iniciativa
do como referência as diretrizes que de mau gosto com o ensino, pegou as
norteiam estes exames conforme o cur- Universidades despreparadas. Foi injus-
so, porque não adianta você querer dar ta a forma como foi implantado.
outro direcionamento [...].
O provão foi uma prática que contri- Os exames externos que avaliam o desem-
buiu para consolidar a avaliação de de- penho dos alunos dos cursos de graduação
sempenho dos alunos, cujos propósi- estimularam uma mudança na condução de
tos foram aprimorados com o ENADE algumas metodologias de avaliação, especial-
e, hoje absorvida pelos alunos e do- mente no que se refere à elaboração dos instru-
centes, evitando o que muitos chamam mentos, isto porque as questões dos referidos
de cursinhos para tentar suprir as defa- exames apresentam uma característica interdis-
sagens de aprendizagem. ciplinar, contribuindo para que o docente bus-
É redimensionado dentro de determi- que a inter-relação dos conteúdos ministrados
nada escala. Não se pode dizer que se na sua disciplina com outras afins; além desta
aboliu tudo em função do provão ou do característica, as questões enfatizam temas da
ENADE, que não mudou integralmente, atualidade com aplicabilidade prática em de-
simplesmente houve uma adequação. terminada área de conhecimento.
Proporcionou uma rediscussão das prá-
ticas acadêmicas. Categoria 5: Docência Superior (DS)
[...] os alunos são mais assistidos, são Compreende o conjunto de indicadores
preparados para realizar olimpíadas, que os docentes sugerem ser importante para
entre outras atividades do gênero. constituir a competência profissional para
Em relação ao Centro, houve mobilização docência. Neste contexto, procuramos saber
de alguns docentes em discutir essa prática “quais as características de um profissional
avaliativa. De qualquer forma, a obrigato- competente”, bem como elaborar, um rol de
riedade destes exames interferiram na re- competências essenciais que um docente deve
condução de algumas atividades. adquirir para administrar e avaliar aprendi-
zagens. As respostas que originaram esta
Subcategoria: Inalterada categoria procederam da seguinte pergunta:
Para 13% dos docentes entrevistados, a • o que é um docente competente?
implantação do “Provão/ENADE” não pro-
vocou a necessidade de mudanças na sua Na opinião de 50% dos docentes en-
prática docente, em relação à forma de trevistados, para que o docente tenha com-
avaliar seus alunos. petência para ensinar, é necessário ter do-
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mínio técnico e a capacidade de transmitir que o docente possa desenvolver sua prá-
o conhecimento. 15% expressam também tica educativa com a devida competência,
que a experiência profissional contribui para conforme os discursos a seguir:
constituir esta competência. 25% entendem Um docente competente é a aquele pro-
ser necessário que o docente seja capaz de fissional que mesmo nos limites do seu
interagir com os alunos e demais profissio- trabalho profissional possa contribuir
nais e 10% acrescentam, além destas ca- para modificar essa realidade que aí está.
racterísticas, “saber ser ético”. Desenvolver uma prática constitutiva
de uma nova cidadania, que trabalha
Subcategoria: Domínio Técnico e Transpo- na ampliação da cidadania, do direi-
sição Didática to, da justiça.
A maioria dos docentes entrevistados é
da opinião de que, para se tornar um do- Subcategoria: Ética
cente competente, é necessário ter domínio Esta subcategoria enfatiza a importân-
técnico e capacidade de transposição di- cia da ética na formação do docente. Veja-
dática. Essas concepções são evidenciadas mos alguns exemplos:
nas seguintes falas: A competência passa pelo fato de reali-
É ter domínio de atividades cognitivas zar-se como pessoa, tentar fazer o pos-
[...]. sível da melhor forma sem transcender
É ser capaz de transpor seus conheci- as normas vigentes.Ser ético.
mentos e promover realimentação da Ser profissional ético, isto é, que res-
aprendizagem. peite a si próprio, que tenha dignidade
Ter domínio daquilo que ensina, estar como cidadão.
“antenado” com os acontecimentos do
dia-a-dia. [...]. Foram entrevistados alunos dos docen-
É uma pessoa que tem conhecimento tes da amostra deste estudo com a finali-
teórico e que é capaz de transmitir de dade de saber sua opinião quanto às prá-
forma compreensível esse conhecimento ticas avaliativas. Eles se mostraram satis-
e aplicá-lo convenientemente. feitos com as metodologias de avaliação
de alguns docentes e disseram que outros
Subcategoria: Experiência precisam melhorar as formas de avaliar. Ao
A experiência profissional na opinião de procurar saber qual a concepção de avali-
15% dos docentes é um fator importante ação dos alunos, no entanto, verificamos
para o bom exercício do magistério: que a maioria demonstrou concebê-la como
É construída a partir da experiência, do um instrumento de medida para verifica-
fazer pedagógico todo dia, do pensar o ção e controle da aprendizagem.
por quê, para quê e a quem estamos
ensinando. Há entre os docentes interesses em re-
pensar sua ação pedagógica e discutir a
Subcategoria: Interativo prática avaliativa; a práxis docente. A arti-
Ser um docente capaz de relacionar-se culação entre o ensino de graduação e a
bem com os alunos e demais profissionais pesquisa ocorre a partir do desenvolvimento
é outra característica predominante para de projetos de monitoria, iniciação à pes-
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Ficou evidenciado que há uma teoria A UFPI tem uma política consistente de quali-
psicopedagógica subjacente à prática edu- ficação docente, que desponta para o fortaleci-
cativa de cada docente. Na fala da maioria mento da sua função pesquisadora em busca do
deles, ficou caracterizada uma abordagem conhecimento cientificamente produzido. Os mo-
que se aproxima dos pressupostos construti- tivos que estimularam os docentes a continuarem
vistas. Os docentes reconhecem a necessi- em sua formação se aproximam dos paradigmas
dade da capacitação na área pedagógica. de formação continuada pautados na “deficiên-
cia”, “solução de problemas” e na “mudança”.
Considerações finais
Os centros de ensino da UFPI desenvol- A política de formação do MEC/UFPI
vem atividades interdisciplinares, com o ob- mudou notadamente o quadro de docentes
jetivo de estimular os docentes a discutir as qualificados. 100% dos docentes estão envol-
questões relacionadas à racionalização dos vidos com atividades de ensino de graduação
conteúdos, metodologias de ensino e avali- e/ou de pós-graduação e/ou pesquisa, dos
ação. Estão mobilizados na elaboração de quais 15% desenvolvem ações extensionistas.
uma proposta de modernização dos proje-
tos curriculares dos cursos de graduação. A análise das categorias propiciou o co-
nhecimento do contexto empírico que eviden-
Os exames de desempenho dos estudantes ciou a necessidade de propormos opções para
(Provão/ENADE) estimularam o redimensiona- implantar e implementar ações voltadas para a
mento na condução das práticas de ensino em instrumentalização da ação pedagógica dos
alguns cursos, principalmente no que se refere docentes com formação em bacharelado e
à elaboração dos instrumentos avaliativos: egressos dos cursos de pós-graduação stricto
• 5% dos docentes já desenvolviam ativida- sensu, e, nesta perspectiva, explicitar um con-
des inovadoras para despertar o interes- junto de temáticas com o intuito de contribuir
se dos alunos pelas atividades de ensino, para compreensão dos saberes para instrumentar
antes dos exames; a formação a fim de avaliar a aprendizagem.
• 62,5% disseram que a implantação dos exa-
mes favoreceu a recondução em determina- Estes referenciais, além de pautados nas opini-
das formas de avaliar as aprendizagens; ões emitidas pelos docentes, também tiveram como
• 32,5% relataram que mantêm inalterada base a pesquisa realizada na literatura especializa-
sua forma de avaliar, mesmo depois da da e, assim, definir as seguintes temáticas para com-
implantação dos exames; por “as referências para avaliação da aprendiza-
• alunos e docentes entendem que, para de- gem na perspectiva de formação docente”: 1) Gestão
senvolver com a devida competência o ma- do trabalho pedagógico - administrando novos pa-
gistério superior é necessário que o profissi- radigmas educacionais; 2) Avaliação: instrumento
onal apresente as seguintes características: de gestão; 3) Planejamento do ensino-aprendiza-
- ter domínio de conteúdo e técnicas de gem; 4) Os saberes da avaliação da aprendiza-
ensino; gem; 5) Avaliar na perspectiva de construção do
- saber transpor didaticamente o conteúdo; conhecimento; 6) Aprendizagem: teoria e prática;
- saber relacionar-se com os alunos e de- 7)Tecnologia utilizada como recurso didático; 8)
mais profissionais; e Avaliação de desempenho docente; 9) Técnicas e
- saber avaliar os alunos com ética. Instrumentos: avaliação e medidas.
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