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Pesquisa em Síntese

Avaliar aprendizagem: uma


questão de formação docente
Carmesina Ribeiro Gurgel
Raimundo Hélio Leite

Resumo
O objeto de estudo desta docente, contribuindo para
Carmesina Ribeiro Gurgel
pesquisa foi analisar as prá- o fortalecimento da sua fun-
Doutora em Educação com
ticas avaliativas na perspec- ção pesquisadora; (3) a ve-
área de concentração em
tiva do docente para buscar Avaliação Educacional. rificação da aprendizagem
referenciais que possam ins- Profa. Adjunta do Centro de dos discentes é instituciona-
trumentalizar a aquisição de Ciências da Educação e do lizada apenas em relação às
competências a fim de avali- Programa de Pós-Graduação normas para a realização das
ar aprendizagens. O campo em Educação, Universidade avaliações, ficando as me-
empírico de investigação foi Federal do Piauí/UFPI todologias avaliativas a cri-
a Universidade Federal do Coordenadora do Núcleo de tério dos docentes; (4) o do-
Piauí – Campus Teresina, Pesquisa em Gestão e Avaliação cente pós-graduado stricto
cujo universo envolveu 473 de Política Educacional//UFPI sensu não garante que se
docentes bacharéis doutores Avaliadora Institucional torne mais ou menos com-
e mestres. A amostra para a MEC/INEP/CONAES petente para docência supe-
realização da entrevista e apli- carmesina@ufpi.br rior; (5) a articulação entre o
cação do questionário foi de carmesinagurgel@yahoo.com.br ensino de graduação e a
40 docentes dos seis centros Raimundo Hélio Leite pesquisa ocorre a partir do
de ensino. O tempo de ma- Doutor em Educação, Universidade desenvolvimento de projetos
gistério de 80% desses docen- Federal do Ceará/UFC. de monitorias, de iniciação
tes varia entre 16 e 26 anos. Prof. Adjunto da Universidade à pesquisa, de cursos de ex-
Para tratamento dos dados Federal do Ceará/UFC e do tensão e da orientação de
utilizou-se a análise de con- Programa de Pós-Graduação Trabalho de Conclusão de
teúdo, conforme Laurence em Educação, UFC Curso – TCC; (6) 25% dos
Membro colaborador do
Bardin. Os resultados mos- mestres ou doutores concen-
NUPPED/CCE/UFPI
traram que: (1) a UFPI apre- tram suas atividades em pro-
rhleite@terra.com.br
senta uma estrutura organi- jetos de pesquisa, 60% se de-
zacional que retrata o mode- dicam mais ao ensino do que
lo das demais universidades brasileiras; (2) à pesquisa e 15% desenvolvem atividades de
adota uma política consistente de qualificação extensão; (7) os maiores obstáculos que os

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egressos da pós-graduação enfrentam ao re- analysis assessment practices from the


tornarem à UFPI são referentes a realização de teacher’s point of view in an effort to find
projetos de pesquisa e dificuldades de trans- resources and references that would help
posição dos conteúdos para os alunos de gra- the teachers to become competent in
duação; (8) há o reconhecimento da necessi- learning assessment. The research was
dade de uma capacitação na área pedagógi- carried out in the Federal University of
ca; (9) 56% dos alunos dos docentes da amos- Piauí, specifically on the Teresina
tra consideram-se satisfeitos com as metodo- Campus. The universe was composed of
logias de avaliação desenvolvidas por eles e 473 docentes who were holders of
os demais sugerem um repensar na forma de masters or doctoral degrees. The sample
conduzir o processo avaliativo porque não re- for interviews and the application of a
trata uma metodologia contemporânea; (10) questionnaire was comprised of 40
os docentes validaram os seguintes temas para docentes belonging to six different
compor as referências a fim de avaliar apren- teaching centers. 80% of these docentes
dizagem numa perspectiva de formação do- had teaching experiences ranging from
cente: Gestão do Trabalho Pedagógico: Ad- 16 to 26 years. The data collected during
ministrando Novos Paradigmas Educacionais; the research was examined using the
Avaliação: Instrumento da Gestão do Traba- theoretic model for content analysis
lho Pedagógico; Planejamento de Ensino e suggested by Laurence Bardin. The
Aprendizagem; Os Saberes para Avaliar Apren- results showed that: (i) the Federal
dizagem; Avaliar numa Perspectiva de Cons- University of Piauí has an organizational
trução do Conhecimento; As Concepções de structure that resembles other brazilian
Aprendizagem que Fundamentam a Avalia- universities; (ii) it has adopted a policy
ção; Tecnologia Utilizada como Recurso Di- consistent with teaching qualifications
dático; Técnicas e Instrumentos: Avaliação e directed towards; (iii) the learning
Medida. Nas conclusões, buscou-se, a partir assessment of the students only demands
dos resultados, sugerir ações que viabilizem some institutional norms for the
ajustes na política de formação para o exercí- assessment to be carried out, the choice
cio da docência superior e, conseqüentemen- of assessment methods is left to the
te, para a melhoria da qualidade das apren- docentes; (iv) the docente who has
dizagens rumo ao estabelecimento de compe- obtained a masters or doctoral degree is
tências profissionais dos alunos. not necessarily competent to teach at
Palavras-chave: Avaliação. Aprendizagem. university level; (v) the articulation
Formação docente. Educação superior. Re- between teaching at graduate level and
ferenciais para avaliar. Docência superior. research occurs from the development of
projects elaborated by monitors, those
Abstract beginning research, extension courses
and orientation from the demanded for
Learning assessment: the the conclusion of the course; (vi) 20% of
docent formation in the docentes holding masters or doctoral
degrees have directed their activities
question more towards research, 65% are more
The subject of this research was to dedicated to teaching than research,

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while 15% elaborate extension courses; Resumen


(vii) the greatest obstacles felt by those
returning from post-graduation courses to Evaluar el aprendizaje:
the Federal University of Piauí was to una cuestión de
awaken students for research and make
research contents available in a formación docente
language that was not above the ability El objeto de estudio de esta investigación
of the students to understand; (viii) the era analizar y evaluar las prácticas
necessity for pedagogical training is educativas en la perspectiva del maestro
recognized; (ix) 56% of the students of con objectivo de obtener referenciales
the docentes interviewed showed that para la que enlata el instrumentalización
they were satisfied with the assessment y la adquisición de competências para
method used by the docente, the evaluar la aprendizajen de los
remainder suggested that the methods be estudiantes. El campo empírico de
reexamined as they were not investigación fué la Universidad Federal
contemporary models; (x) the docentes de Piauí - el Campus Teresina y el
regarded the following themes as valid as universo fué formado por 473 de
sources of reference for learning graduados, maestros y doctores. La
assessment and teaching formation: muestra para el logro de la entrevista y
administration of pedagogical work; aplicación de la encuesta fué de 40
administrating new educational docentes que actúan en seis centros de
paradigms; assessment – a policy instrucción. El tiempo de enseñar de 80%
instrument for pedagogical work; de esos maestros varía entre 16 y 26
teaching planning; knowledge for años. Para el tratamiento de los datos se
learning assessment; assessment from a hice uso del análisis de contenido . Los
knowledge construction perspective; resultados indicaran eso: (1) UFPI
learning conceptions as a basis for presenta un estructura organizacional de
assessment; the use of thechnology as a que retrata al modelo de las otras
didatic resourse; teaching assessment universidades brasileñas; (2) adopta una
from a student perspective; routine política consistente de calificación
statistics for a metric analysis of an educativa que contribuye al invigoration
examination. By way of conclusion we de sus maestros em su función
tried to elaborate from the results, pedagógica y politica; (3) la
obtained suggestions to make viable comprobación del aprendizaje de los
changes in formation policy for university estudiantes simplemente se
teaching and consequently for bettering institucionaliza em respecto a las normas
the quality of learning in an neffort to que regulan las evaluaciones, mientras
make the students more professionaly las metodologías en classe son escojidas
competent. por los maestros; (4) el maestro que el
Keywords: Assessment. Learning. possee el postgraduado stricto sensu no
Docent Formation. Superior Education. se pone por eso más competente para la
Evaluation references. University ensegñanza superior; (5) la articulación
teaching. entre la ensegñanza em la graduación y

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la investigación pasa por el desarrollo de Evaluación; El uso de La tecnología


proyectos de lãs monitorias, de la como el Recurso Didáctico; Las técnicas
iniciación a la investigación, de cursos e Instrumentos: La evaluación y la
de la extensión y de la orientación de Medida. En las conclusiones, se hice um
Trabajo de Conclusión de Cursos - TCC; delineamento, com base en los
(6) 25% de los maestros o doctores resultados y sugerencias de acciones,
ponderan sus actividades más em que haga posibles ajustes en la política
proyectos de la investigación, 60% son de la formación para el ejercicio de la
envolucrados más a la enseñanza que a ensegñanza superior y, por consiguiente,
la investigación y 15% desarrollan las para la mejora de la calidad de los
actividades de la extensión; (7) los aprendizajes que se dirigen hacia la
problemass más grandes que afectan a construcción de las competencias de los
los docentes que hacen studios de post profesionales del ensegñanza y de los
grado cuando regresan a la UFPI están estudiantes.
refiriéndose el logro de proyectos de la Palabras clave: La evaluación.
investigación, y dificultades de Aprendiendo. La formación educativa. La
transmissión de contenidos para los educación superior. Referenciales para
estudiantes de la graduación; (8) hay el evaluar. Ensegñaza universitaria.
reconocimiento de la necesidad de un
entrenamiento en el área pedagógica; Introdução
(9) 56% de los maestros de los
A pesquisa foi desenvolvida na Univer-
eesestudiantes de la muestra se dicieran
sidade Federal do Piauí – UFPI, em Teresi-
satisfechos con las metodologías de la
na. Os critérios utilizados para escolha da
evaluación desarrolladas por ellos y los
Instituição foram: o desenvolvimento de
otros ellos sugieren un volver a pensar
vários estudos avaliativos voltados para o
en las prácticas evaluativas actuales
desempenho do docente e alunos em sala
porque ellas no retratan una
de aula e por ser, entre as instituições de
metodología contemporánea; (10) los
ensino superior do Estado do Piauí, a mais
maestros validaron los temas siguientes
antiga, com 35 anos de existência, e por
para componer las referencias para
desenvolver uma política de qualificação
evaluar el aprendizaje en una
docente consolidada.
perspectiva de formación educativa de
los maestros: La administración del
Partindo do princípio de que a formação
Trabajo Pedagógico: La administración
docente tem como foco desenvolver a pro-
de Los Nuevos Paradigmas Educativos;
fissionalização em busca da qualidade de
La evaluación: El instrumento de la
ensino, e que, para isso, é preciso fazer um
Administración del Trabajo Pedagógico;
esforço de compreensão das práticas nas
Planeando la Enseñanza y Aprendiendo;
suas diversas configurações, consideramos
Las concepciones para Evaluar el
este estudo de grande relevância e, ao mes-
Aprendizaje; Para evaluar en una
mo tempo, oportuno. É relevante por ser um
Perspectiva de Construcción del
estudo que traz a reflexão sobre o objeto, a
Conocimiento; Las Concepciones de
natureza e a função das práticas avaliativas
Aprender que sirven de base la

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desenvolvidas atualmente no ensino superi- sitário em relação à sua política de forma-


or, especificamente nos cursos de gradua- ção continuada e sistemática de avaliação
ção. Neste sentido, a relevância também se da aprendizagem; análise das entrevistas dos
justifica porque o estudo é centrado em pres- docentes; exame dos questionários aplica-
supostos multirreferenciais que não apresen- dos aos docentes e alunos; definição das
tam justaposição de enfoque, mas que con- temáticas, a partir das opiniões dos docen-
vergem para a compreensão da heteroge- tes e da literatura especializada.
neidade da avaliação nas dimensões hu-
mana, filosófica, política, social, econômi- O referencial teórico-metodológico bus-
ca, administrativa e educacional. cou articular técnicas, métodos e bases epis-
temológicas contribuindo para a construção
A relevância científica provém de resul- dos instrumentos adequados ao objeto da
tados de pesquisas que validam a necessi- pesquisa e, a partir do referencial histórico –
dade de referenciar saberes essenciais para social da UFPI foram realizadas as entrevis-
aquisição de competências, a fim de avaliar tas e aplicados os questionários tornando
aprendizagens diante dos novos paradigmas possível interagir uma dinâmica entre ambos,
educacionais. Do ponto de vista sociopolíti- evidenciando o desvelamento dos questiona-
co e educacional, é um estudo que realiza- mentos que balizaram toda a investigação.
mos no momento em que o Brasil busca
melhorar a qualidade das aprendizagens em Foram entrevistados 10 docentes do Cen-
todos os níveis e modalidades de ensino. tro de Ciências da Saúde - CCS; 09 do Centro
de Ciências da Natureza - CCN; 04 do
Essas mudança de paradigma provoca Centro de Ciências da Educação - CCE; 05
efeitos extraordinários no cotidiano das ins- do Centro de Ciências Humanas e Letras -
tituições de educação superior, a partir das CCHL; 09 do Centro de Ciências Agrárias -
novas diretrizes curriculares, da expansão CCA e 03 do Centro de Tecnologia – CT,
do ensino e, conseqüentemente, dos cur- totalizando 40 docentes. Neste contexto, a
sos, ampliação de vagas, definição de co- UFPI oferece 42 cursos de graduação, in-
tas, interiorização da graduação, entre ou- cluindo as licenciaturas e bacharelados. Os
tros. Tudo isso reflete, segundo Castro cursos em que os docentes da amostra mi-
(1999) a “promoção da melhoria do perfil nistram aulas são: Engenharia Agronômi-
de escolaridade do magistério”. No mes- ca, Arquitetura, Biologia, Física, Matemáti-
mo sentido afirma Perrenoud (1999) as ca, Informática, Comunicação Social, Me-
competências profissionais são constituídas dicina Veterinária, Medicina, Nutrição,
de forma veloz na medida em que forem Odontologia, Farmácia, Serviço Social, En-
exigidas e experimentadas. fermagem e Engenharia Civil.

Investigar e explicitar quais temáticas são Analisamos os documentos oficiais - Pro-


fundamentais para instrumentalizar os do- grama de Qualificação Institucional, o Regi-
centes na elaboração de competências para mento Geral da UFPI e Resoluções do Conse-
avaliação da aprendizagem foi o objetivo lho de Ensino, Pesquisa e Extensão – CEPEX:
que se configurou a partir da realização das que estabelecem normas disciplinares sobre a
seguintes ações: análise do contexto univer- sistemática de avaliação do rendimento aca-

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dêmico do aluno, e a que define normas de Para manter a coerência entre os


afastamento de pessoal docente e técnico-ad- pressupostos teóricos e metodológicos
ministrativo para cursos de pós-graduação. dos conteúdos emergidos durante a re-
colha de indicadores, foi elaborado um
A aplicação do questionário validou a plano de análise e tratamento dos da-
importância das temáticas sugeridas pelos dos com o desmembramento dos tex-
docentes constituindo um instrumento baliza- tos em unidades, categorias e reagru-
dor da sua formação em avaliar aprendiza- pamentos analógicos. A análise dos te-
gens. Durante a elaboração das questões, le- mas tornou-se rápida e eficaz a partir
vamos em consideração dois grupos de per- dos discursos, conforme estrutura a
guntas, com questões fechadas e abertas, mas seguir: categorização - as categorias
que tivessem respostas relativamente estáveis e e subcategorias provêem dos dados
úteis ao estudo. Tornou-se um instrumento im- coletados junto aos sujeitos que per-
portante porque permitiu obter informações dos mitiram responder aos questionamen-
docentes e alunos, simultaneamente. tos, conforme tabela a seguir.

Tabela 1 – Formação das Categorias e Subcategorias


CATEGORIAS SUBCATEGORIAS
I- Metodologias de avaliação Tradicional
Contemporânea
II - Formação continuada Deficiência
Crescimento
Mudança
Solução de problemas
III- Envolvimento dos egressos da pós-graduação Ensino
Pesquisa
Extensão
IV- Inovações em avaliar aprendizagem Antes da implantação dos “Exames”
Com a implantação dos “Exames”
Inalterada
V- Docência Superior superior Domínio técnico e Transposição
Experiência
Interativo
Ética
Fonte: Entrevistas realizadas com os sujeitos da pesquisa (2006).

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Descrição das categorias as suas práticas avaliativas. Diante desta


realidade, tornou-se necessário saber quais
Categoria I: Metodologias de Avaliação (MA)
são as metodologias mais freqüentes para
Constituem dados para análise desta ca-
aferir a aprendizagem dos alunos e analisar
tegoria os relatos dos sujeitos a partir da situ-
as tendências e concepções subjacentes a
ação-problema investigada, que procurou
essas práticas. Ao analisar os discursos des-
saber: “se existe uma relação entre as meto-
ses docentes, constatamos algumas práticas
dologias de avaliação com a titulação aca-
de tendência tradicional na maneira de ava-
dêmica dos docentes e até que ponto essa
liar o aluno, conforme os discursos:
formação tem refletido sobre as formas de
Realizo a prova tradicional com ques-
avaliar a aprendizagem dos alunos”. Esta
tões subjetivas de análise e síntese.
categoria agrupa as seguintes subcategori-
as: metodologias tradicionais e contemporâ-
Faço avaliações através de testes conten-
neas. Foram analisadas as formas de avaliar
do questões objetivas e discursivas [...] Basi-
as aprendizagens na UFPI. Os sujeitos rela-
camente minha avaliação é o teste ou a pro-
taram como realizam suas práticas avaliati-
va. Não tenho condição de fazer, às vezes
vas no cotidiano da sala de aula demons-
até pela quantidade de alunos, uma avalia-
trando suas tendências. Para saber qual a
ção continuada para observar como esse alu-
metodologia de avaliação mais freqüente entre
no vai crescendo no decorrer da disciplina.
os sujeitos da pesquisa, foi perguntado:
Fazemos avaliações das aulas práticas
• Você conhece se há alguma normati-
e teóricas. As provas são: discursivas,
zação referente às práticas avaliativas
objetivas e teórico-práticas.
na UFPI, ou seja, há algum documento
[...] O instrumento que eu utilizo são
que oriente ou direcione de que forma
avaliações com questões objetivas e
o docente deve avaliar seus alunos?
subjetivas.
• Qual sua opinião sobre a interdisci-
[...] Só faço um tipo de avaliação: a prova.
plinaridade das atividades do currícu-
lo? O que isso poderia representar
As metodologias avaliativas tradicionais
para o processo avaliativo?
visam, predominantemente, à fidelidade re-
• Quais as práticas avaliativas desen-
produtiva do conteúdo comunicado em sala
volvidas no cotidiano da sala de aula?
de aula. O que importa é a quantidade de
• Qual a sua concepção de avaliação,
informações que o aluno consegue demons-
ou seja, como você avalia seu aluno
trar que foi capaz de armazenar. Por isso,
e para quê?
enfatiza a realização da provas como único
• Que concepção psicopedagógica ori-
instrumento avaliativo, buscando evidenci-
enta sua prática avaliativa?
ar a exatidão do desempenho do aluno. A
Subcategoria: metodologias tradicionais prova passa a ter um fim em si mesmo, e a
Na avaliação de 45% dos docentes pre- nota obtida pelo aluno funciona, na socie-
domina a metodologia tradicional. No de- dade, como se fosse uma aquisição do pa-
correr das entrevistas, os docentes respon- trimônio cultural, comenta Mizukami (1986).
deram que as metodologias de avaliação
não são normatizadas pela UFPI, isto é, cada Segundo Hoffmann (2000), as práticas
docente dispõe de autonomia para definir tradicionais privilegiam o caráter compro-

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batório de uma etapa escolar percorrida ção curricular a partir da reflexão do perfil do
pelo aluno, reunindo e apresentando re- docente, do profissional a ser formado para
sultados e tecendo considerações de pos- atender às exigências da sociedade.
turas que, na maioria das vezes, servem
para explicar ou justificar o alcance desses Inúmeros referenciais pós-modernos re-
resultados em determinado tempo. Avaliar feridos na literatura provocam novas postu-
numa perspectiva tradicional é voltar-se ras ante o ensino-aprendizagem, tais como:
para o passado. As perguntas do docente discussão sobre a validade dos conteúdos
comprovam respostas que ele já antecipou. para estabelecer determinadas competênci-
Assim, o docente ensina como se faz e de- as, concepções de ensino e de aprendiza-
pois realiza tarefas para ver se a resposta gem, o que não é somente uma questão de
está de acordo com os ensinamentos. pensar e refletir, mas também de formação,
considerando que o ato de aprender não se
As normas de verificação da aprendiza- restringe à acumulação de conteúdos, mas
gem implantadas pela UFPI não enfatizam também ao modo de internalizá-los e apli-
aspectos referentes às formas de avaliar os cá-los em situações novas.
alunos, ficando sob a responsabilidade do
docente o papel decisório de adequar a me- A subcategoria metodologias contem-
todologia de avaliação da aprendizagem às porâneas foi assim denominada porque os
especificidades da disciplina. Por outro lado, docentes utilizam técnicas que caracterizam
o papel do aluno é o de realizar as diferentes tanto a abordagem tradicional, ou seja, a
formas de avaliações lhe sejam propostas, medição ou mensuração da aprendizagem,
podendo ou não favorecer o fortalecimento que buscam verificar a construção do co-
das práticas avaliativas tradicionais, depen- nhecimento, fornecendo subsídio para que
dendo da formação pedagógica do docente. o docente possa administrar o desempe-
nho do aluno e sua ação docente, confor-
Não podemos ignorar, entretanto, o fato me mostram os depoimentos a seguir:
de que avaliação é sinônimo de controle Quais são as outras formas de avaliação?
institucional, social e público. O que po- Adotamos uma metodologia de avalia-
demos fazer é questionar a natureza desse ção que os alunos percebam a conexão
controle, quais benefícios e prejuízos soci- entre os conteúdos numa perspectiva
ais poderão ocasionar. Isto porque o exer- teórico-prática [...]. Essa metodologia
cício classificatório e eliminatório continua consiste no desenvolvimento de traba-
sendo um dos maiores responsáveis pela lhos práticos [...]. Envolve esse traba-
exclusão educacional, concorrendo para a lho, a prova tradicional e o seminário.
manutenção das desigualdades sociais. Portanto, a nossa disciplina além destas
duas formas de avaliar, considera a par-
Neste sentido, Alvarez Mendez (2002) ticipação, o interesse e a freqüência dos
acredita que mudar o enfoque exige, neces- alunos durante as aulas.
sariamente, uma mudança no papel que as [...] Todas as questões de provas são dis-
instituições devem desempenhar na implemen- cursivas e elaboradas a partir de situações
tação do seu modelo de avaliação. Permutar contextualizadas. A parte prática é avaliada
as práticas avaliativas implica uma redefini- através de um projeto de pesquisa.

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É uma conversa dialogada com os alu- Enfim, utilizo esse conjunto de procedi-
nos ou grupos de alunos no final de mentos, além das práticas tradicionais.
cada aula prática no laboratório. Busco
ter o controle dessas aprendizagens dis- As metodologias contemporâneas de
cutidas em pequenos grupos. avaliação caracterizam-se como instrumen-
Além das práticas tradicionais (teste) tos que conduzem a modificações da idéia
solicito a realização de seminários e clássica de avaliação – a prova para fim
pesquisa de campo. Procuro desen- exclusivo de prestação de informações para
volver técnicas próprias para o estu- definir o grau de aprendizagem. Assim, foi
do das formas anatômicas conside- possível verificar a diversidade de metodo-
rando a especificidade da disciplina. logias inovadoras utilizadas. 55% dos do-
Neste sentido, procuro avaliar tam- centes, no entanto, não a utilizam, mas
bém as habilidades manuais, memó- demonstraram preocupação sobre a difícil
ria locativa, discriminação visual, ca- tarefa de ajuizar o desempenho do aluno.
pacidade de criatividade nas simula-
ções dos sistemas que compõem os Os docentes manifestaram opiniões bem
animais ao confeccionar quadros. definidas sobre seu papel na interação com
Essas produções, geralmente são o aluno, a partir do uso das palavras: medi-
apresentadas em congressos. ador ou facilitador da aprendizagem. Entre
No decorrer da disciplina desenvolvo as formas contemporâneas de avaliar, o se-
avaliação formativa (inclui trabalhos em minário e a pesquisa de campo, seguidas de
grupo, seminários) e, por último, faço a relatório, são as técnicas mais utilizadas. No
avaliação somativa: testes com ques- entanto, a prova escrita ou teste, porém, ain-
tões mistas: (objetivas e discursivas). da é permanente na prática desses docentes.
Realizo trabalhos de grupo em sala de Isto significa que eles buscam metodologias
aula, geralmente sem conotação de ava- inovadoras, mas não dispensam a prova
liação. Realizo as provas tradicionais como instrumento avaliativo. Para a maioria
com questões objetivas e discursivas, dos docentes, realizar a prova é essencial no
provas orais. Após a correção das pro- ensino-aprendizagem porque é um momen-
vas, comento as questões com os alu- to de aproximação com os alunos.
nos e discutimos principalmente os er-
ros para que o aluno descubra porque Conforme as manifestações dos docen-
errou ou, então, verifique se a pergunta tes, a prova é considerada apenas como mais
está mal formulada, induzindo, às ve- um instrumento avaliativo, constituindo um
zes, à dupla interpretação. momento privilegiado para verificação do
Avalio meus alunos de diferentes ma- conhecimento e não apenas um acerto de
neiras, tais como: discussão participa- contas. Contextualizar uma questão signifi-
ção em sala de aula. Faço provas, em ca que, para responder, o aluno deverá
determinadas disciplinas ou faço pro- buscar apoio no seu enunciado. Por isso,
vas utilizando outros instrumentos ava- alguns cuidados devem ser considerados na
liativos: resenhas, monografias, ficha- elaboração de uma questão dissertativa ou
mentos, elaboração de textos, experi- objetiva, pois a precisão na elaboração dos
ência de campo, relato de experiência. critérios de correção é fundamental.

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Em relação à qualidade dos itens das pro- Categoria II: Formação Continuada (FC)
vas os docentes ressaltaram que enfatizam as Essa categoria engloba os motivos in-
questões operatórias porque exigem mais dos dicados pelos docentes para continuarem
alunos, quando estabelecem relações signifi- sua formação. Com a análise desta cate-
cativas num universo de informações, e as goria, procuramos saber que “Relação exis-
transitórias são requisitadas porque as res- te entre os objetivos da UFPI e o interesse
postas dependem de uma simples transcri- do docente na continuidade de sua forma-
ção de informações, muitas vezes aprendi- ção”, a partir das perguntas:
das de cor e, normalmente, sem muito signi- • como você analisa a política de capa-
ficado, além de exigir menos habilidades. citação da UFPI e quais seus efeitos para
a qualidade do ensino?
Em resposta ao questionamento - • que motivos os levaram a dar conti-
“Qual a relação entre as metodologias de nuidade à sua formação?
avaliação com a titulação acadêmica dos
docentes e até que ponto essa formação Essa categoria originou as subcatego-
tem refletido sobre as formas de avaliar as rias: deficiência, crescimento, mudança e
aprendizagens dos alunos?” - embora os solução de problemas. 10% dos docentes,
docentes tenham uma formação básica ao relatarem os motivos que os levaram a
(inicial) em cursos de bacharelado, ao dar continuidade à sua formação, identifi-
avaliarem seus alunos, empregam meto- cam-se com o paradigma da ‘’deficiência”;
dologias inovadoras. Em alguns momen- 27,5% apontaram para o de ‘’crescimen-
tos utilizam instrumentos com característi- to”; a justificativa de 55% coincide com o
cas apenas de mensuração (testes de apro- de ‘’mudanças” e apenas 7,5% refletem o
veitamento) e outros utilizam formas que paradigma da solução de problemas.
permitem criar situações estimulantes ao
desenvolvimento de habilidades práticas Para saber a relação entre os paradig-
para a formação profissional. mas de formação continuada subjacente na
fala dos docentes, com a política de qualifi-
São interessantes algumas metodolo- cação docente adotada pela UFPI, os dados
gias de avaliação, porque mobilizam uma mostraram alguns aspectos interessantes.
articulação entre a tarefa individualizada
(observação, trabalho individual, testes) e a) Do ponto de vista da literatura
a realização de tarefas interativas que pro- A UFPI retrata os modelos das demais
movem o grupo e o indivíduo, simultane- universidades brasileiras, que surgiram a
amente, articulando sua atenção e tempo partir da junção de cursos isolados. Os
de trabalho nas duas direções. Após a mecanismos acadêmicos e administrativos,
análise da categoria metodologia de ava- integradores dos diversos setores e serviços,
liação foram verificados dois aspectos fun- são diretamente vinculados à Reitoria. Seu
damentais do processo avaliativo no âm- modelo teórico evidencia uma estrita rela-
bito da UFPI – o desenvolvimento de me- ção com a política educacional definida pelo
todologia diversificada e a sua implica- Ministério da Educação – MEC, adotando
ção em face da existência ou não de uma uma política consistente de qualificação
norma que as institucionalize. docente que desponta para o fortalecimento

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Avaliar aprendizagem: uma questão de formação docente 155

da função pesquisadora em busca do co- cessidade de uma capacitação na área


nhecimento cientificamente produzido. pedagógica e apontam como avanço a
inclusão da disciplina “Estágio à Docên-
Neste sentido, a política de qualifica- cia”, na pós-graduação, para os que são
ção profissional tem diretrizes voltadas para docentes como alternativa eficaz para essa
a formação de mestres e doutores, cujo formação, considerando a oportunidade de
enfoque é centrado na pesquisa, isto é, uma refletir sua prática educativa.
formação que busca a melhoria da quali-
dade de ensino, mas com ênfase no de- - Em face da importância do enfoque
senvolvimento de habilidades voltadas para para a formação do docente pesquisador,
pesquisa científica. as falas indicam que:
[...] os docentes se qualificam para de-
b) Sob o prisma da política de quali- senvolver os projetos de pesquisa, de
ficação institucional extensão e, assim, contribuir para a
- Em face da necessidade de uma for- melhoria da qualidade de ensino.
mação para a docência, os docentes se
manifestaram de forma divergente em rela- Quantitativamente, essa importância fica
ção ao programa e à formação pedagógi- evidenciada ao verificarmos que, em 2002
ca para o exercício do magistério. – UFPI/Campus Teresina - havia 786 do-
A política de capacitação da UFPI por um centes, dos quais 473 são mestres ou dou-
lado é importante, a partir do momento tores. 134 docentes encontram-se em fase
em que ela vem intensificar a questão da de qualificação, sendo 48 em mestrado, 84
titulação, mas falta a capacitação peda- em doutorado e 02 em programas de pós-
gógica porque sentimos dificuldades para doutorado. Em 2005, constatamos que 200
trabalhar as práticas de ensino [...]. docentes concluíram a pós-graduação stric-
A política de qualificação atual apresenta- to sensu passando para 673 docentes titu-
se deficiente do ponto de vista do ensino lados no estádio de mestrado e doutorado.
em si porque é voltada exclusivamente
para treinar o docente para a pesquisa. - Em relação aos efeitos na melhoria das
Na minha formação de pós-graduação práticas avaliativas desenvolvidas após reali-
stricto sensu, não recebi nenhuma orien- zação da pós-graduação, na opinião destes
tação voltada para o pedagógico. docentes, os efeitos desta qualificação para a
Na conjuntura da UFPI, o ensino deveria melhoria do ensino, do ponto de vista do
estar em primeiro lugar. Esses progra- domínio do conteúdo, são inquestionáveis.
mas de Pós-graduação no Brasil inteiro As formas de transposição e de avaliação
não enfocam essa questão pedagógica, deste conteúdo, porém, para o docente que
alguns mestrados às vezes direcionam tem uma formação técnica (bacharéis), po-
um pouco, mas nos doutorados não exis- derá continuar apresentando carência de co-
tem disciplinas didático-pedagógicas. nhecimento sobre os saberes pedagógicos.
Reproduzimos algumas opiniões:
Os docentes são unânimes em confir- [...] Com o retorno desses docentes qua-
mar a importância do Programa de Quali- lificados, percebe-se uma melhoria qua-
ficação Docente, mas reconhecem a ne- litativa dos alunos que passaram a ques-

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156 Carmesina Ribeiro Gurgel e Raimundo Hélio Leite

tionar com argumentos bastante apro- Consoante os sujeitos da pesquisa, o fato


fundados, não ficando mais dependen- de a pós-graduação ser centrada na pesqui-
tes apenas dos conteúdos de sala de aula. sa não garante que um profissional se torne
[...] Da mesma forma que falta para a mais ou menos competente. São elementos
pesquisa uma política de desenvolvimen- anteriores a esta formação que, adicionados
to, falta uma sistematização de apoio a este aspecto, contribuem para o distancia-
ao docente bacharel, em relação aos mento do docente doutor da sala de aula de
conhecimentos pedagógicos indepen- cursos de graduação, porque o docente é
dente de sua titulação. cobrado a fazer ensino, pesquisa e extensão.
Atualmente há um incentivo direto à
pesquisa e à produção tecnológica. Vis- Outro aspecto que os sujeitos indicaram
lumbra-se, através das instituições de como referência para minimizar algumas
fomento à pesquisa essa preocupação questões da formação docente é a definição
com a formação pedagógica. O aluno das características do perfil para o docente
da pós-graduação para receber a bolsa universitário. Esta feição acadêmica deverá
auxílio (especificamente as bolsas de ser estabelecida a partir da perspectiva da
demanda social) da CAPES tem que ter Instituição, da idéia de educação, do ato de
estágio docência de no mínimo 60 ho- avaliar, enfim, das políticas propostas no
ras. Isso significa dizer que o docente Plano de Desenvolvimento Institucional – PDI
orientador vai colaborar com essa for- e do Projeto Pedagógico Institucional - PPI.
mação, orientando o aluno a ministrar
aulas, atuar nas outras atividades de Perguntar quais os motivos para dar con-
ensino, parte prática, bem como nas tinuidade à sua formação teve a finalidade
avaliações. de identificar que paradigmas estão subja-
Não vejo como separar a formação centes nas falas dos docentes e, ao mesmo
pedagógica da formação para pesqui- tempo, verificar se há coerência com o para-
sa. Acho que quem se qualifica indireta- digma que orienta o programa da Institui-
mente está agregando valores na parte ção. Teoricamente, os modelos de formação
também do ensino. O que não temos é continuada que impulsionaram os docentes
uma interação com o setor da Universi- para essa formação se aproximam dos para-
dade que trate dessas questões [...] Pelo digmas de deficiência, de solução de proble-
menos em termos de conteúdo, acredi- mas e da mudança. Sob o aspecto institucio-
to que tenha melhorado, agora, em se nal, constatamos que o Programa de Quali-
tratando das metodologias de ensino e ficação é centrado na formação do docente
da avaliação pode haver alguma defa- para o domínio da pesquisa e formulação do
sagem. Sugerimos ministrar cursos e conhecimento a partir da investigação de si-
palestras com bastante divulgação. Nós, tuações problematizadas e contextualizadas.
às vezes, não temos esse despertar.
A maioria dos docentes que chegam da Paradigma da deficiência
pós-graduação vem com a concepção Esse modelo caracteriza a importância
de dedicação apenas na pesquisa. [...] a da formação continuada do docente ca-
política de capacitação é também para racterizada por uma política institucional ou
a melhoria do ensino. necessidade de qualificação emergida pela

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Avaliar aprendizagem: uma questão de formação docente 157

necessidade de atualização do profissional, Primeiro porque o conhecimento só aju-


necessidade de atualização em busca da você a crescer, não tem que ter medo
de novos conhecimentos. Não fazer de buscar o novo. Você fica mais com-
uma pós-graduação é ficar isolado do petitivo, fica conhecendo o que se pas-
mundo acadêmico. sa no mundo até porque a ciência está
Quando ingressei na UFPI, já tinha o evoluindo muito rápido [...].
mestrado [...], 13 anos depois, senti a [...] sempre que for possível irei buscar
necessidade de atualização e comecei mais conhecimentos.
a participar de congressos, seminários [...] a necessidade e a sede de aprender
e percebi que estava desatualizado mais. Como docente é preciso estar
como profissional e resolvi fazer o dou- sempre auto-estimulado [...], então op-
torado[...] além de melhor o salário. tei pela qualificação para mediar junto
Esse conjunto melhora a auto-estima do ao aluno sua aprendizagem e também
docente e também melhora o padrão levar mais estímulo.
de eficiência da UFPI. Sempre tive vontade de fazer pesquisa,
Quando ingressei na UFPI, em 1978, ha- desde estudante de Física já vislumbra-
via uma determinação de que os docentes, va esse ideário.
ao completar dois anos de magistério teri- Sempre fui uma pessoa que procurei
am que fazer o mestrado. Era quase uma estar me aperfeiçoando, o fato de in-
imposição. Uma necessidade institucional. gressar na Universidade tem a ver com
esse meu ideal.
As manifestações desses docentes são
identificadas nas premissas que orientam o
paradigma de deficiência que se sustentam
Paradigma do crescimento
na idéia de que um docente apresenta lacu- O paradigma do crescimento situa-se
nas de formação em virtude da desatualiza- na formação contínua do docente numa
ção da formação inicial e da deficiência de lógica de experiência pessoal e desenvolvi-
competências práticas relativas ao seu desem- mento profissional.
penho. Dar continuidade à formação emer- A busca de conhecimentos, daquilo que
ge como uma ação de preenchimento de sa- é novo. Para mim é uma realização es-
beres e destrezas ou de respostas a necessi- tar numa sala de aula passando infor-
dades reconhecidas como prioritárias, mais mações importantes para a formação
pela instituição do que pelos docentes. dos alunos, incentivando-os a progre-
dir sempre. Gosto de atuar como do-
cente, como pesquisadora e de propa-
Paradigma da Mudança gar o conhecimento.
A formação é perspectivada como uma Necessidade pessoal de buscar o apri-
negociação e colaboração dentro de um moramento do conhecimento [...]
espaço aberto que é a instituição e em fun- Aprofundar conhecimentos [...]
ção da necessidade de relacionar os sabe-
res e competências do docente. As justifi- As análises apontam que a política de
cativas de alguns docentes para dar conti- qualificação nacional apresenta uma re-
nuidade à sua formação coincidem com lação de interdependência. De um lado,
esse paradigma:

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158 Carmesina Ribeiro Gurgel e Raimundo Hélio Leite

os docentes são envolvidos com a parti- Subcategoria: Mais pesquisa do que ex-
cipação direta e corresponsabilidade pelo tensão
processo formativo. De outra parte, a Uni- Esta categoria estuda o envolvimento
versidade e o Ministério da Educação as- dos docentes egressos do doutorado nas
sumem a responsabilidade política de de- atividades de ensino e pesquisa. Esta parti-
terminar os critérios e parâmetros para a cipação é relatada nas seguintes falas:
pós-graduação stricto sensu, as razões A minha atividade de pesquisa é muito
que os impulsionam a continuar sua for- intensa, vivo pesquisando, sou líder de
mação coincidem com os modelos teóri- grupo de pesquisa, participo de outros
cos existentes. grupos de pesquisa que interagem com
outras instituições [...].
Categoria III: Envolvimento dos docentes Na pesquisa na UFPI tenho tido maior
egressos da pós-graduação nas atividades envolvimento [...].
acadêmicas Tenho maior envolvimento com a pesqui-
Esta categoria trata das formas de en- sa. Foi implantado um grupo de pesquisa
volvimento dos docentes egressos da pós- na química, fazemos intercâmbio através
graduação nas atividades de ensino, pes- de convênio com outras instituições. Na
quisa e extensão. Contempla as falas dos extensão, quase não tenho atuado.
sujeitos que relatam seu envolvimento com Estou muito engajado nos trabalhos de
as atividades ao responderem ao seguinte pesquisa. Não consigo me ver como
questionamento: de que forma os docentes docente. Acho que é um erro sermos
egressos dos cursos de doutorado e mes- chamados apenas de docentes. Sou pes-
trado desenvolvem atividades de articula- quisador antes de qualquer coisa. Quan-
ção entre o ensino de graduação com a do somos contratados pela UFPI, um
pesquisa? Para obter desdobramento des- dos critérios desse concurso é a pes-
sa indagação perguntamos aos docentes: quisa que se realiza, deveríamos ser
• qual o seu envolvimento com as ativida- contratados pela pesquisa e não pelo
des de pesquisa e de extensão? magistério. Estou com vários projetos
• a partir da sua prática docente, qual o perfil no CNPq em desenvolvimento.
de aluno que você vislumbra formar? Nenhuma atividade de extensão. Faço
parte de um grupo de pesquisa no qual
Esta categoria originou três subcategorias desenvolvemos trabalhos de iniciação
denominadas: ensino, pesquisa e extensão. científica fazendo a conexão entre o
ensino de graduação e a pesquisa.
Os dados mostram que todos os do-
centes desenvolvem atividades de ensino. A partir do relato dos docentes, consta-
25% dos docentes, ao retornarem dos cur- tamos que uns têm maior envolvimento com
sos de mestrado e doutorado, concentram o ensino do que com a pesquisa e a exten-
suas atividades direcionadas mais para os são. Vejamos alguns:
projetos de pesquisas. 60% se dedicam mais Atualmente não estou realizando nem
ao ensino do que à pesquisa e à extensão. pesquisa e nem extensão. Apenas ensino.
15% desenvolvem mais atividades de ex- [...] tenho me envolvido menos com pes-
tensão do que pesquisa. quisa e muito pouco em extensão. Mas

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Avaliar aprendizagem: uma questão de formação docente 159

estimulo sempre os meus alunos a pen- tros. Percebemos que algumas ações estão
sar como cientistas e não somente como sendo conduzidas para essa formalização.
profissionais da saúde.
Na extensão tenho pouca participação em Torna-se necessário, no entanto, apro-
pesquisa e mais em extensão, através da fundar a investigação nesse sentido para
realização de cursos e palestras. Participo relacionar com as disposições que confi-
de projeto, apenas como colaborador. guram a relação entre a formação do do-
cente-pesquisador e o campo da produ-
Em relação ao envolvimento dos egres- ção de pesquisa científica no âmbito da
sos da Pós-graduação na UFPI, verifica- UFPI. Atualmente, podemos garantir que a
mos que há docentes que desenvolvem mais maioria dos docentes articula o ensino de
atividades de extensão e ensino do que de graduação e a pesquisa a partir do desen-
pesquisa. Vejamos os relatos: volvimento de projetos de monitoria, de ini-
Tenho maior envolvimento com a ex- ciação à pesquisa, cursos de extensão e as
tensão. Os trabalhos de pesquisa so- orientações dos trabalhos de conclusão de
mente na qualidade de orientador de curso – TCC. Constatamos também que,
monografias. em 2005, houve incremento considerável
Envolvimento maior com as atividades nos indicadores de pesquisa na UFPI.
de extensão. No entanto, os trabalhos
tanto de pesquisa quanto de extensão Os entrevistados revelaram algumas di-
não são divulgados como deveriam. ficuldades que os egressos da pós-gradua-
ção enfrentam ao retornarem à sala de aula:
De acordo com a análise dessa catego- Alguns docentes quando retornam do
ria, vimos que o envolvimento dos docentes curso de doutorado encontram dificul-
egressos da pós-graduação com as ativida- dades para se readaptar à atividade de
des de ensino, pesquisa e extensão da UFPI sala de aula [...].
se apresenta de forma diferenciada. Os re- [...] os alunos reclamam que o docente
latos evidenciam que todos os docentes, de doutor utiliza uma linguagem muita ele-
alguma forma, estão envolvidos com o en- vada para o entendimento do aluno. Os
sino de graduação e de pós-graduação. O alunos consideram que esses docentes
diferenciador neste processo é a ênfase no chegam com domínio acentuado de con-
desenvolvimento dos projetos de pesquisa teúdo, mas não sabem transpor.
ou de extensão, conforme as aptidões dos
docentes, e até mesmo, das condições insti- A auto-avaliação dos docentes durante
tucionais proporcionadas aos egressos. a entrevista permitiu o registro das mani-
festações mais significativas, no que se re-
Nessa perspectiva, o desenvolvimento das fere às dificuldades enfrentadas pelos egres-
atividades acadêmicas que têm na pesquisa sos da pós-graduação, ao desenvolverem
seu eixo dinamizador exige uma série de em- atividades de ensino na graduação:
preendimentos não restritos à titulação, mas • o despertar para desenvolver projetos de
outros, que visam à institucionalização de pesquisa; e
núcleos de pesquisa capazes de articular o • a dificuldade de transposição dos conteú-
maior número possível de projetos, entre ou- dos pelo uso de uma linguagem acima do

Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.15, n.54, p. 145-168, out./dez. 2006
160 Carmesina Ribeiro Gurgel e Raimundo Hélio Leite

nível de compreensão dos alunos, princi- do-os flexíveis, e que sejam centrados em
palmente da graduação. objetivos que atendam às necessidades da
sociedade atual. Em relação à lacuna na
Em decorrência das análises e como for- formação para a docência, os docentes ma-
ma de repensar ações para minimizar esta si- nifestaram- as seguintes opiniões:
tuação, os docentes sugeriram algumas ações: • O CCE deve ser o carro-chefe dessa ação
• reunir docentes bacharéis, mestres e porque é constituído de docentes pensan-
doutores e os recém-chegados para dis- tes e detentores do conhecimento da Pe-
cutir sobre as novas abordagens educa- dagogia;
cionais, inclusive avaliativas; • Viabilizar, no caso das licenciaturas, uma
• que os programas de mestrado de- reformulação curricular, porque as nos-
senvolvidos na UFPI contemplem uma sas licenciaturas estão totalmente ultra-
carga horária maior voltada para o es- passadas, currículos sem o perfil de uma
tágio-docência; mesmo que o mestran- licenciatura, mascarados para o bachare-
do seja docente. Isso caracterizaria uma lado. O aluno licenciado fica com vergo-
formação concomitante para a docên- nha de ser licenciado, não há mercado
cia e a pesquisa; para ele que estudou muito. É necessário
• independentemente de o aluno da pós- estruturar um currículo apropriado visan-
graduação ser bolsista, deverá realizar do realmente à formação do docente para
o estágio-docência; que a grande média tenha condições de
• reformular os critérios de admissão ser absorvida no mercado de trabalho,
ao serviço de monitoria, porque houve pelo desenvolvimento do Piauí. É impor-
expansão das vagas, porém sem se pre- tante ter a coragem de “enxugar” esses
ocupar com a qualidade dos alunos que currículos, acabar com essas disciplinas
ingressam no programa; “engessadas” que os alunos não enten-
• ampliar a articulação e a discussão dem, docentes que se preocupam com a
com a Coordenação de Assessoramen- carga horária totalmente prefixada com
to Pedagógico da Pró-Reitoria de Ensi- os módulos de ensino calculados, agem
no de Graduação e o Centro de Ciên- como robôs e com isso comprometem a
cias da Educação para definir uma polí- aprendizagem;
tica permanente de formação continua- • Propor aos diretores de centros, juntamente
da centrada nos saberes pedagógicos. com os seus pares, discussão sobre a via-
bilidade das licenciaturas; que sejam tam-
Os gestores (reitor, pró-reitores e dire- bém noturnas para que todos tenham opor-
tores) manifestaram-se, enfatizando a im- tunidade de cursá-las;
portância de uma política direcionada para • Estimular docentes a proporem cursos de
minimizar o problema de formação para capacitação por meio do núcleo de educa-
docência com um dos elementos-chave ção a distância. Temos uma estrutura de
para a melhoria da qualidade de ensino. qualidade com alta resolução para colo-
car cursos na rede. Nessa perspectiva, cer-
Para a Administração, o ponto emergente tamente teríamos, em pouco tempo, do-
é adequar o projeto pedagógico dos cursos centes qualificados e ministrando aulas
às diretrizes curriculares nacionais, tornan- numa abordagem mais contemporânea.

Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.15, n.54, p. 145-168, out./dez. 2006
Avaliar aprendizagem: uma questão de formação docente 161

De forma geral, percebemos que há implantação destes exames, houve recon-


conscientização dos demais segmentos em dução em algumas formas de avaliar as
relação a essa problemática. Verificamos, aprendizagens. 32,5% relataram que man-
ainda, que, algumas ações neste sentido têm inalterada sua forma de avaliar.
foram desenvolvidas no período compre-
endido entre 1998-2006, com vistas à ca- A implantação da sistemática de avali-
pacitação pedagógica. Por exemplo, nos ação externa, por meio do Exame Nacio-
editais para concurso de docente efetivo, a nal de Cursos (Provão) e atualmente pelo
partir de 2005, foi incluído um item de que Exame Nacional do Desempenho dos Es-
consta a obrigatoriedade de o docente ini- tudantes (ENADE), cujo objetivo é verificar
ciante participar do Curso de Iniciação à o desempenho cognitivo dos alunos, pro-
Docência Superior, com carga de 60(ses- vocou inovações nas práticas avaliativas.
senta) horas-aula. Este procedimento en-
contra-se em plena realização, sob a com- Subcategoria: Antes dos Exames
petência da Pró-Reitoria de Ensino de Gra- Eis um dos relatos dos docentes que
duação, em parceria com o Programa de afirmarem que, antes da implantação do
Pós-Graduação em Educação da UFPI. “Provão/ENADE”, já desenvolviam ativida-
des que eles consideram inovadoras, por-
Categoria IV: Inovações em Avaliar Apren- que facilitavam o aprendizado do aluno e
dizagem (IAP) a aplicação de instrumentos avaliativos:
Esta categoria compreende as respostas Na matemática, continuamos na mesma
referentes à questão que procura saber “se forma de antigamente. O Curso de Mate-
a implantação dos Exames Provão/ENADE mática desde seu primeiro provão vem
provocou algumas mudanças nas práticas mantendo conceito A. Talvez o que justifi-
avaliativas desenvolvidas em sala de aula”. ca é o fato que se repete desde quando eu
Desta análise, surgem três subcategorias: era aluno da UFPI. Os docentes pegavam
antes dos Exames, com os Exames e Inalte- os melhores alunos e formavam uma tur-
rada. A importância desta categoria reside ma para fazer seminários, aprofundamen-
no fato de o exame ser condição necessária to de atividades e essas práticas foram
para avaliar os cursos de graduação, bem usadas muito antes do provão. Hoje, na
como a Instituição como um todo. qualidade de docente, continuamos a fa-
zer a exemplo dos nossos docentes da
Com esta categoria de análise, procu- graduação. Essa ação vem fazendo com
ramos saber se com a inserção do Provão que os nossos alunos fiquem mais moti-
e, posteriormente, do ENADE como instru- vados. Hoje, temos uma atividade parale-
mentos de avaliação das Instituições de Edu- la às de ensino: as olimpíadas de mate-
cação Superior, houve necessidade de re- mática, onde alunos nossos já foram na-
dimensionar as metodologias de ensino e cionalmente, grandes destaques.
de avaliação da aprendizagem.Os dados
revelaram que apenas 5% dos docentes já Subcategoria: com os Exames
desenvolviam atividades inovadoras para Inovar as formas de avaliar em função
despertar o interesse dos alunos pelas ações do surgimento do “Provão/ENADE” é o
de ensino. 62,5% disseram que, com a pressuposto que fundamenta esta catego-

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ria. A maioria dos docentes expressa que, [...] geralmente procuro saber através
de alguma forma, a institucionalização do dos alunos se na prova é solicitada al-
Sistema Nacional de Avaliação da Educa- guma questão de disciplina que minis-
ção Superior - SINAES despertou a neces- tro. Eu, particularmente, ainda não senti
sidade de repensar as metodologias de ava- necessidade, até porque é a primeira
liação, as formas de abordar os conteú- vez que o curso foi avaliado. Mas me
dos, conforme os discursos da seqüência: despertou para ver a utilidade do ensi-
[...] hoje há engajamento dos docentes no a partir das respostas dos alunos.
em elaborar as questões de provas ten- Acho que o provão foi uma iniciativa
do como referência as diretrizes que de mau gosto com o ensino, pegou as
norteiam estes exames conforme o cur- Universidades despreparadas. Foi injus-
so, porque não adianta você querer dar ta a forma como foi implantado.
outro direcionamento [...].
O provão foi uma prática que contri- Os exames externos que avaliam o desem-
buiu para consolidar a avaliação de de- penho dos alunos dos cursos de graduação
sempenho dos alunos, cujos propósi- estimularam uma mudança na condução de
tos foram aprimorados com o ENADE algumas metodologias de avaliação, especial-
e, hoje absorvida pelos alunos e do- mente no que se refere à elaboração dos instru-
centes, evitando o que muitos chamam mentos, isto porque as questões dos referidos
de cursinhos para tentar suprir as defa- exames apresentam uma característica interdis-
sagens de aprendizagem. ciplinar, contribuindo para que o docente bus-
É redimensionado dentro de determi- que a inter-relação dos conteúdos ministrados
nada escala. Não se pode dizer que se na sua disciplina com outras afins; além desta
aboliu tudo em função do provão ou do característica, as questões enfatizam temas da
ENADE, que não mudou integralmente, atualidade com aplicabilidade prática em de-
simplesmente houve uma adequação. terminada área de conhecimento.
Proporcionou uma rediscussão das prá-
ticas acadêmicas. Categoria 5: Docência Superior (DS)
[...] os alunos são mais assistidos, são Compreende o conjunto de indicadores
preparados para realizar olimpíadas, que os docentes sugerem ser importante para
entre outras atividades do gênero. constituir a competência profissional para
Em relação ao Centro, houve mobilização docência. Neste contexto, procuramos saber
de alguns docentes em discutir essa prática “quais as características de um profissional
avaliativa. De qualquer forma, a obrigato- competente”, bem como elaborar, um rol de
riedade destes exames interferiram na re- competências essenciais que um docente deve
condução de algumas atividades. adquirir para administrar e avaliar aprendi-
zagens. As respostas que originaram esta
Subcategoria: Inalterada categoria procederam da seguinte pergunta:
Para 13% dos docentes entrevistados, a • o que é um docente competente?
implantação do “Provão/ENADE” não pro-
vocou a necessidade de mudanças na sua Na opinião de 50% dos docentes en-
prática docente, em relação à forma de trevistados, para que o docente tenha com-
avaliar seus alunos. petência para ensinar, é necessário ter do-

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Avaliar aprendizagem: uma questão de formação docente 163

mínio técnico e a capacidade de transmitir que o docente possa desenvolver sua prá-
o conhecimento. 15% expressam também tica educativa com a devida competência,
que a experiência profissional contribui para conforme os discursos a seguir:
constituir esta competência. 25% entendem Um docente competente é a aquele pro-
ser necessário que o docente seja capaz de fissional que mesmo nos limites do seu
interagir com os alunos e demais profissio- trabalho profissional possa contribuir
nais e 10% acrescentam, além destas ca- para modificar essa realidade que aí está.
racterísticas, “saber ser ético”. Desenvolver uma prática constitutiva
de uma nova cidadania, que trabalha
Subcategoria: Domínio Técnico e Transpo- na ampliação da cidadania, do direi-
sição Didática to, da justiça.
A maioria dos docentes entrevistados é
da opinião de que, para se tornar um do- Subcategoria: Ética
cente competente, é necessário ter domínio Esta subcategoria enfatiza a importân-
técnico e capacidade de transposição di- cia da ética na formação do docente. Veja-
dática. Essas concepções são evidenciadas mos alguns exemplos:
nas seguintes falas: A competência passa pelo fato de reali-
É ter domínio de atividades cognitivas zar-se como pessoa, tentar fazer o pos-
[...]. sível da melhor forma sem transcender
É ser capaz de transpor seus conheci- as normas vigentes.Ser ético.
mentos e promover realimentação da Ser profissional ético, isto é, que res-
aprendizagem. peite a si próprio, que tenha dignidade
Ter domínio daquilo que ensina, estar como cidadão.
“antenado” com os acontecimentos do
dia-a-dia. [...]. Foram entrevistados alunos dos docen-
É uma pessoa que tem conhecimento tes da amostra deste estudo com a finali-
teórico e que é capaz de transmitir de dade de saber sua opinião quanto às prá-
forma compreensível esse conhecimento ticas avaliativas. Eles se mostraram satis-
e aplicá-lo convenientemente. feitos com as metodologias de avaliação
de alguns docentes e disseram que outros
Subcategoria: Experiência precisam melhorar as formas de avaliar. Ao
A experiência profissional na opinião de procurar saber qual a concepção de avali-
15% dos docentes é um fator importante ação dos alunos, no entanto, verificamos
para o bom exercício do magistério: que a maioria demonstrou concebê-la como
É construída a partir da experiência, do um instrumento de medida para verifica-
fazer pedagógico todo dia, do pensar o ção e controle da aprendizagem.
por quê, para quê e a quem estamos
ensinando. Há entre os docentes interesses em re-
pensar sua ação pedagógica e discutir a
Subcategoria: Interativo prática avaliativa; a práxis docente. A arti-
Ser um docente capaz de relacionar-se culação entre o ensino de graduação e a
bem com os alunos e demais profissionais pesquisa ocorre a partir do desenvolvimento
é outra característica predominante para de projetos de monitoria, iniciação à pes-

Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.15, n.54, p. 145-168, out./dez. 2006
164 Carmesina Ribeiro Gurgel e Raimundo Hélio Leite

quisa, cursos de extensão e realização dos • utilizam vários instrumentos avaliativos


Trabalhos de Conclusão de Curso - TCC. em diferentes momentos, tais como gin-
cana, seminários, provas com questões
O Sistema de Verificação do Rendimen- dissertativas e objetivas; e
to Escolar da UFPI é regulamentado pela • proporcionam auto-avaliação, fazendo
Resolução nº 043, de 17 de maio de 1995, com que os alunos se achem também cor-
aprovada pelo Conselho de Ensino Pesquisa responsáveis pelo seu desempenho.
e Extensão – CEPEX; que destaca os se-
guintes aspectos: 8 44% dos alunos afirmaram que não
• define os princípios orientadores da sis- estão satisfeitos com as metodologias de
temática de avaliação, mas não se trata avaliação desenvolvidas pelos docentes e
de um modelo de avaliação; apontaram diversas razões:
• a modalidade, o número e a periodicida- • as metodologias adotadas não medem
de das verificações da aprendizagem são conhecimentos;
expressos no plano de ensino da discipli- • exagero de utilização da técnica “seminá-
na, de acordo com a especificidade de rio” como único instrumento de avaliação;
cada uma, não havendo nenhuma refe- • a prova não deveria ser utilizada como a
rência quanto às metodologias de avalia- única forma de avaliar; e
ção, ficando a critério do docente; • vários instrumentos avaliativos para uma
• a quantidade de avaliação deve ser pro- mesma nota tais como: gincana, seminá-
porcional à carga horária da disciplina; rios, provas com questões dissertativas e
• as metodologias de avaliação desenvolvi- objetivas, sobrecarregando os alunos.
das pelos docentes são reflexos de sua
formação profissional e pessoal, das ex- Observamos, também, que os alunos
periências do cotidiano da sala de aula, da concebem avaliação como um instrumen-
idéia de avaliação de cada um concebida to voltado para diagnosticar os conheci-
ao longo do tempo, considerando que 80% mentos de aprendizagem, medir o grau de
dos sujeitos da pesquisa têm entre 16 e aprendizagem, testar conhecimento e veri-
26 anos de tempo de magistério; e ficar resultados. Os alunos listaram alguns
• há uma relação harmoniosa entre a titula- exemplos de metodologias avaliativas de-
ção acadêmica e as práticas avaliativas. A senvolvidas pelos docentes, que contribu-
qualificação reflete satisfatoriamente so- em de forma eficaz para a constituir o co-
bre as formas de avaliar na maioria dos nhecimento: provas com questões disserta-
docentes entrevistados; tivas, nas quais os alunos expõem suas idéi-
as e formas de entendimento do assunto;
8 56% dos alunos disseram que estão desenvolvimento de trabalho de campo
satisfeitos com as metodologias de avalia- como maneira de consolidar teoria e práti-
ção desenvolvidas por alguns docentes e ca; provas com interpretação de texto; re-
apontaram as seguintes razões: senhas e monografias; seminários com o
• elaboram situações-problema que estimulam envolvimento do docente; grupos de deba-
os alunos à aquisição de posturas criticas; tes, discussão; análises de conjunturas; tra-
• durante as avaliações, há sincronia em relação balhos de iniciação à pesquisa; trabalhos
aos conteúdos desenvolvidos em sala de aula; extraclasses; gincanas e aula-passeio.

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Avaliar aprendizagem: uma questão de formação docente 165

Ficou evidenciado que há uma teoria A UFPI tem uma política consistente de quali-
psicopedagógica subjacente à prática edu- ficação docente, que desponta para o fortaleci-
cativa de cada docente. Na fala da maioria mento da sua função pesquisadora em busca do
deles, ficou caracterizada uma abordagem conhecimento cientificamente produzido. Os mo-
que se aproxima dos pressupostos construti- tivos que estimularam os docentes a continuarem
vistas. Os docentes reconhecem a necessi- em sua formação se aproximam dos paradigmas
dade da capacitação na área pedagógica. de formação continuada pautados na “deficiên-
cia”, “solução de problemas” e na “mudança”.
Considerações finais
Os centros de ensino da UFPI desenvol- A política de formação do MEC/UFPI
vem atividades interdisciplinares, com o ob- mudou notadamente o quadro de docentes
jetivo de estimular os docentes a discutir as qualificados. 100% dos docentes estão envol-
questões relacionadas à racionalização dos vidos com atividades de ensino de graduação
conteúdos, metodologias de ensino e avali- e/ou de pós-graduação e/ou pesquisa, dos
ação. Estão mobilizados na elaboração de quais 15% desenvolvem ações extensionistas.
uma proposta de modernização dos proje-
tos curriculares dos cursos de graduação. A análise das categorias propiciou o co-
nhecimento do contexto empírico que eviden-
Os exames de desempenho dos estudantes ciou a necessidade de propormos opções para
(Provão/ENADE) estimularam o redimensiona- implantar e implementar ações voltadas para a
mento na condução das práticas de ensino em instrumentalização da ação pedagógica dos
alguns cursos, principalmente no que se refere docentes com formação em bacharelado e
à elaboração dos instrumentos avaliativos: egressos dos cursos de pós-graduação stricto
• 5% dos docentes já desenvolviam ativida- sensu, e, nesta perspectiva, explicitar um con-
des inovadoras para despertar o interes- junto de temáticas com o intuito de contribuir
se dos alunos pelas atividades de ensino, para compreensão dos saberes para instrumentar
antes dos exames; a formação a fim de avaliar a aprendizagem.
• 62,5% disseram que a implantação dos exa-
mes favoreceu a recondução em determina- Estes referenciais, além de pautados nas opini-
das formas de avaliar as aprendizagens; ões emitidas pelos docentes, também tiveram como
• 32,5% relataram que mantêm inalterada base a pesquisa realizada na literatura especializa-
sua forma de avaliar, mesmo depois da da e, assim, definir as seguintes temáticas para com-
implantação dos exames; por “as referências para avaliação da aprendiza-
• alunos e docentes entendem que, para de- gem na perspectiva de formação docente”: 1) Gestão
senvolver com a devida competência o ma- do trabalho pedagógico - administrando novos pa-
gistério superior é necessário que o profissi- radigmas educacionais; 2) Avaliação: instrumento
onal apresente as seguintes características: de gestão; 3) Planejamento do ensino-aprendiza-
- ter domínio de conteúdo e técnicas de gem; 4) Os saberes da avaliação da aprendiza-
ensino; gem; 5) Avaliar na perspectiva de construção do
- saber transpor didaticamente o conteúdo; conhecimento; 6) Aprendizagem: teoria e prática;
- saber relacionar-se com os alunos e de- 7)Tecnologia utilizada como recurso didático; 8)
mais profissionais; e Avaliação de desempenho docente; 9) Técnicas e
- saber avaliar os alunos com ética. Instrumentos: avaliação e medidas.

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166 Carmesina Ribeiro Gurgel e Raimundo Hélio Leite

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Recebido em: 14/09/2006


Aceito para publicação em: 18/10/2006

Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.15, n.54, p. 145-168, out./dez. 2006

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