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Insónia

O sono preenche aproximadamente um terço das nossas vidas e é fundamental

para a recuperação física e psíquica do indivíduo. Vários estudos apontam para uma
diminuição do tempo médio de sono, da ordem de hora e meia, relativamente ao início
do século passado.

Por outro lado, nos países europeus o aumento dos gastos com os «medicamentos para
dormir» é uma realidade e constitui uma preocupação crescente.

As perturbações do sono constituem, portanto, um problema de saúde pública que


requer uma intervenção quer a nível individual, quer num âmbito mais vasto.

Em Portugal, de acordo com os resultados obtidos em alguns estudos, 28,1% da


população com mais 18 anos de idade sofre de sintomas de insónia, pelo menos três
noites por semana.

A insónia é o distúrbio do sono mais frequente no adulto e associa-se a importantes


consequências, como o aumento da mortalidade causada por doenças
cardiovasculares, distúrbios psiquiátricos, acidentes e o absentismo laboral.

A insónia pode afectar cerca 69% dos doentes de uma consulta de Clínica Geral e,
apesar de afectar milhões de pessoas em todo o mundo, esta doença continua a ser
sub-diagnosticada, razão pela qual muitos doentes não recebem o tratamento
adequado.

A insónia é definida como uma experiência subjectiva de sono inadequado ou de


qualidade limitada, apesar de existir uma oportunidade e condições adequadas para
dormir, com prejuízo para o funcionamento social, ocupacional e de outras actividades
diurnas.

Pode ainda ser definida como uma dificuldade em iniciar o sono (insónia inicial),
dificuldade em manter o sono (insónia intermédia), acordar muito cedo (insónia terminal)
ou, embora com menor frequência, por uma queixa de sono não restaurador ou de má
qualidade.
Quanto à duração, a insónia pode ser aguda (duração inferior a quatro semanas) ou
crónica (duração superior a quatro semanas) com os sintomas ocorrendo pelo menos
em três noites por semana.

O que causa as insónias?


As causas mais frequentes de insónia aguda são o stress situacional (laboral,
interpessoal, financeiro, ou outro), stress ambiental (por exemplo, ruído no quarto de
dormir) e morte ou doença de uma pessoa próxima.

No que se refere às causas, a insónia pode ser dividida em insónia primária (não é
causada por condição física ou mental conhecida) ou secundária (causada por outra
doença médica ou psiquiátrica, medicamentos, etc.). A prevalência da insónia
secundária é muito superior à da insónia primária, e parece estar a aumentar.

Os distúrbios do humor e ansiedade estão presentes em 30% a 50% dos doentes com
insónia; as doenças médicas (mais frequentemente a dor) são encontradas em 10 %
dos doentes, o abuso de substâncias é encontrado noutros 10% e apenas 10% parece
resultar de distúrbios primários do sono.

As doenças psiquiátricas que mais frequentemente se apresentam com insónia, incluem


depressão major e a ansiedade.

Estão descritos como factores de risco para a insónia crónica o aumento da idade,
género feminino, presença de outras doenças (doença médica, psiquiátrica, abuso de
substâncias), escassas relações sociais, baixo nível socioeconómico, separação
matrimonial ou de um parceiro, o desemprego e o trabalho por turnos.

A doença de Alzheimer e a doença de Parkinson podem também causar insónia, bem


como as doenças que causam dor, dificuldade em respirar, problemas da tiróide ou
digestivos, um acidente vascular cerebral ou a menopausa.

Como se manifestam as insónias?


A insónia define-se normalmente pela presença de um padrão do sono alterado,
caracterizado pela dificuldade em adormecer, pela duração do sono insuficiente, com
um despertar matinal demasiado cedo, por despertares frequentes ou prolongados e por
variabilidade do padrão de noite para noite; pela qualidade do sono, caracterizada pela
ocorrência de ansiedade ou agitação antes ou durante o sono, sensação de cansaço ao
acordar e experiências de sono desagradáveis, nomeadamente pesadelos; pelas
sequelas diurnas, caracterizadas por sonolência, fadiga e dificuldade de concentração.
A insónia transitória (duração de uma a várias noites) é uma situação comum e sem
consequências graves. A insónia persistente ou crónica (duração de meses/anos) pode
corresponder a uma situação de doença e deve ser avaliada pelo médico.

A insónia também se associa a sonolência diurna, falta de energia, ansiedade,


depressão ou irritabilidade. Ocorre dificuldade de concentração e de atenção, problemas
de aprendizagem e de memória, que afectam o rendimento no trabalho e na escola.

Por outro lado, a insónia pode ser a causa de acidentes graves, quando a sonolência
ocorre durante a condução automóvel ou de outros veículos.

Como se diagnosticam as insónias?


É fundamental uma correcta história clínica, com uma detalhada história do sono e com
o registo de um diário de sono, bem como informação complementar sobre o/a
parceiro(a) para saber como ele (a) dorme.

O exame objectivo e o pedido de exames complementares de diagnóstico deve ser


direccionado para a suspeita da causa secundária da insónia.

Como se tratam as insónias?


No caso da insónia secundária, o tratamento deve ser direccionado para a sua causa
específica.

A combinação do tratamento farmacológico específico (benzodiazepinas) com o não


farmacológico (terapia comportamental) pode ser útil na insónia secundária, como
complemento do tratamento da doença de base.

As intervenções farmacológicas têm uma mais rápida resposta, mas a eficácia é melhor
mantida com a terapia combinada.

O recurso a medicamentos deve ser considerado quando a insónia é aguda e é


necessária uma redução imediata dos sintomas.

Os medicamentos utilizados no tratamento das insónias podem ter importantes efeitos


secundários e, por isso, a sua utilização deve ser prescrita e acompanhada por um
médico.
Por exemplo, é importante não tomar esse tipo de medicamentos juntamente com álcool
ou outros fármacos psicoactivos.

O tratamento deve ser iniciado com a menor dose eficaz, no menor tempo possível, e
ser descontinuado gradualmente. Se houver necessidade de administrações durante um
longo período de tempo, a sua utilização deve ser intermitente, (por exemplo, três noites
por semana), ou conforme necessário.

Como se previnem as insónias?


É útil evitar substâncias que agravam as insónias como a cafeína, o tabaco e outros
estimulantes. Os efeitos dessas substâncias duram até 8 horas.

Alguns medicamentos para a gripe ou para as alergias podem afectar o sono.

Uma bebida alcoólica antes de deitar facilita o início do sono mas tende a torná-lo mais
leve, com maior probabilidade de se acordar durante a noite.

É igualmente útil adoptar hábitos que facilitem o sono, como ler um livro, ouvir música
ou tomar um banho quente.

O exercício físico deve ser realizado pelo menos 5 a 6 horas antes da hora de deitar e
devem ser evitadas refeições muito pesadas.

O quarto de dormir deve ter um ambiente confortável no que se refere a temperatura e


iluminação e silêncio.

Vale a pena tentar criar um ritmo, indo dormir e acordando às mesmas horas todos os
dias, incluindo os fins-de-semana.

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