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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E EDUCAÇÃO


BACHARELADO EM SECRETARIADO EXECUTIVO TRILÍNGUE

YURI OLIVEIRA

RESENHA SOBRE O LIVRO “AMOR LÍQUIDO” DE ZYGMUNT BAUMAN

BELÉM
2019
YURI OLIVEIRA

RESENHA SOBRE O LIVRO “AMOR LÍQUIDO” DE ZYGMUNT BAUMAN

Trabalho apresentado à disciplina Estágio


Supervisionado II, curso de Bacharelado em
Secretariado Executivo Trilíngue, Belém,
PA. Prof. Marcelo Corrêa

BELÉM
2019
O livro “O amor líquido” começa, logo no prefácio, com uma citação de um
grande romance: “O homem sem qualidades”, de Robert Musil. Ulrich, personagem
central desse livro, é um matemático, um homem sem uma filosofia central de vida ou
diretrizes morais para viver. Ele é indiferente à moralidade e à ética e, como tal, tornou-
se um homem sem qualidades. O modo como Ulrich age é fruto do desenvolvimento da
sociedade moderna: o indivíduo age por si mesmo, em seu próprio nome, sem o apoio da
tradição e sem os impasses da coletividade. Conecta-se, mas, sem o compromisso da
permanência, vemos o surgimento do de uma subjetividade moderna sem qualidade.

“O amor líquido” fala sobre a evolução da afetividade humana, e o principal


herói desse livro, segundo as palavras do próprio Bauman, é o relacionamento humano.
A interação, os encontros sem compromisso que desobedecem à lei da gravidade, a
ausência de peso. As relações amorosas, os vínculos familiares e até mesmo os
relacionamentos em “redes”, segundo Bauman, estão se tornando cada vez mais flexíveis
e volúveis. Neste contexto, a relação social, pautada em uma responsabilidade mútua
entre as partes que se relacionam, é trocada por um outro tipo de relação que o autor
chama de conexão. Ele tira esta palavra das análises de relacionamentos em sites de
encontros. Em suas pesquisas ele percebe que o grande agrado dos sites de encontros está
na facilidade de esquecer o outro, de se desconectar.

Sem pressão para estabelecer responsabilidade mútua entre seus participantes, o


relacionamento se torna frágil, uma mera conexão, nova forma vigente de se relacionar
na modernidade líquida. Todos podem, sem o menor remorso, trocar seus parceiros por
outros melhores. Desta forma, a maior utilidade do termo “conexão” é evidenciar a
facilidade de se desconectar. Quando as relações apresentam dificuldades, nos mantemos
distantes delas. E é nessa superficialidade que navegamos. As relações sólidas estão cada
vez mais raras e mais fracas. Quando aparece um problema, a relação simplesmente se
desfaz, simplesmente se quebra. Não há movimentos de resgate, não há recuperação. É
fácil assim. Talvez um bom exemplo seja, também, a quantidade de amigos que as pessoas
costumam ter em redes sociais. São números que ultrapassam 300, 500 amigos, algo que
seria irreal para uma convivência cotidiana de qualidade. O individualismo procura
apenas satisfazer as necessidades pontuais com um começo e um fim. Daí a ideia de "amor
líquido", emoções que não podemos recordar e que nos escapam rapidamente das mãos,
até desaparecer completamente.
Os seres humanos têm medo de sofrer e pensam que não mantendo uma relação
estável e duradoura, irão parar de sofrer ou diminuir a dor, trocando de parceiros, amigos,
namorados, noivos, amantes, etc. O sofrimento e a solidão é o principal problema para as
pessoas. Os seres humanos estão sendo ensinados a não se apegarem a nada, para não se
sentirem sozinhos. A nossa sociedade moderna, não pensa mais na qualidade, mas sim na
quantidade, quanto mais relacionamentos eu tiver, melhor, quanto mais dinheiro tiver,
melhor. O consumismo é muito grande e as pessoas compram não por desejo ou
necessidade, mas por impulso e isso ocorre também nas relações humanas.

Na sociedade consumista, globalizada, há sempre novos produtos modernos,


atraentes e estimulantes para serem consumidos. O livro ainda trata das consequências
provocadas por uma sociedade que sustenta a busca pela individualização, pela liberdade
em detrimento a uma vida afetiva e estável. Dentro da fragilidade o outro é visto como
um produto, um objeto disponível para consumo.

O autor diz que o amor-próprio é resultado de ser amado. Esta é uma relação
infinita e incessante: quando o sujeito percebe que sua voz é ouvida, que sua opinião é
importante ou que sua presença será sentida, ele entende que é único, especial e digno de
amor. Só o outro pode dizer que somos dignos e amor, o que fazemos é reconhecer esta
classificação. Nós nos amamos quando nosso ego se identifica com o outro e, desta forma,
amamos a nós, merecedores de amor, e amamos o outro identificado.

É nesta relação que Bauman diz ser “amar ao próximo como ama a ti mesmo” a
máxima que funda a moralidade. O instinto de preservação não é suficiente para a
sobrevivência. É necessário haver uma instância moral atuando nas definições do eu e do
outro para que haja uma relação humana que seja algo mais que uma relação puramente
animal.

Entretanto, em uma sociedade de pura incerteza em relação ao outro, o amor nos


é negado. É negado a dignidade de ser amado. Não há amor-próprio e não há injunções
sociais que prescrevem o amor ao próximo, fazendo dele algo fundamental na vida em
sociedade. Amar o próximo não é natural, é, na verdade, algo contra nossos instintos mais
básicos: por isso é o ato fundador da moralidade. Se nossas ferramentas de
relacionamento estão engajadas com nossa época fluida e se as injunções/prescrições para
amar ao próximo estão cada vez mais formais e estabelecidas por códigos penais, então o
caminho da sociedade é a autodestruição após um longo definhamento.

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