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RESUMO FILOSOFIA DO DIREITO

Fontes: caderno e comentador G. Marmasse

A Filosofia do Direito não apresenta um modelo de como as coisas são, mas sim, uma análise
partindo do que é real na tentativa de tentar compreender os mecanismos, os movimentos
por trás da realidade histórica. Lembrar “O racional é efetivo e o efetivo é racional”

Eticidade: instancias de realização da vontade livre (família (burguesa), sociedade e Estado).


No conceito de eticidade temos o conceito de vontade livre.

A FE trata do espírito subjetivo, do desejo e da formação da consciência de si, da luta pelo


reconhecimento entre as consciências de si para que a consciência de si reconheça a outra
consciência de si em si mesma – o homem conhece sua essência não individualmente, mas na
relação com outro igual a si (homem).

Formada a consciência de si a Filosofia do Direito vai tratar da consciência de si objetivamente,


ou seja,do espírito objetivo. Aqui a consciência de si evolui do desejo para a vontade e essa
vontade vai se manifestar na relação familiar, no meio de outros e no meio social com a
constituição do Estado. A vontade vai evoluindo até se tornar a vontade livre, vontade essa em
que o homem ou consciência de si reconhece a outra (pressupõe a luta pelo reconhecimento)
até chegar à vontade livre em que o homem possui direitos e deveres com os demais. A
vontade livre se manifesta factualmente no direito (Hegel a tira da teoria e a leva para a
prática) e instancia a família (casamento, filho, propriedade), sociedade e Estado.

Mas qual é a relação do conceito de reconhecimento com a eticidade, o que é a eticidade e


porque a eticidade representa as instancias mais elevadas de realização da vontade livre¿

Hegel afirma que a vontade livre não deve ficar somente na teoria, ela deve ser prática. Isto
porque, após a dialética do reconhecimento o homem passa do mero querer de acordo com
seus desejos a refletir sobre este querer e levar em consideração o querer do outro. A partir
daí o desejo está na vontade, o desejo sendo algo interno, subjetivo, começa a adquirir
objetividade que manifesta seu ápice na vontade livre, no querer um bem universalmente.
Essa prática da vontade livre se começará no reconhecimento do direito de forma abstrata em
que o agente é uma pessoa jurídica com seus fins e todos com sua liberdade (pessoas com
direitos e deveres). A pessoa jurídica exerce a sua vontade através de contratos e das leis
respeito à vontade do próximo e tem o dever de respeitar, reconhecer, a vontade dos demais.
Vê-se aqui que Hegel não estabelece a vontade ou a relação entre os homens uns respeitando
a vontade dos outros não pelo acordo para cessar a violência. Esse reconhecimento que vai se
efetivar na liberdade da vontade se dá sob a ótica de uma liberdade positiva, ou seja, o espírito
objetivo não obedece às leis por mera coerção, um aprisionamento de seus desejos, mas passa
através da sua objetivação a raciocinar sobre seus desejos e a realiza-los respeitando o direito
dos demais. Isto quer dizer que a liberdade antes negativa (manifesta pelo desejo do bem,
uma “liberdade de”) aparece mais qualificada, objetiva (minha liberdade leva em consideração
a liberdade do outro ou uma “liberdade em”).

A vontade livre na prática vai se manifestar no direito abstrato em que a pessoa jurídica
(abstrata) tem posse de objetos e não tomam mais os objetos do outro de acordo com seu
desejo, mas procura fazer um contrato com o outro.

Essa forma de ver a liberdade, uma liberdade transformada de início dissolvida no “desejar
tudo” em uma vontade que passa pela razão e leva em consideração a vontade dos outros na
hora de se manifestar seria a verdadeira liberdade da vontade, expressa na eticidade.

A eticidade é a expressão da vontade individual (o sujeito não é um sujeito abstrato como será
visto no primeiro nível da vontade) e objetiva do indivíduo em suas constituições a começar
pela formação familiar, social e formação do Estado em que exercerão sua vontade livre.

Para se chegar ao nível da eticidade o sujeito vai gradativamente saindo do mero desejar para
exercer a vontade que vai se desenvolvendo até chegar à vontade livre:

Níveis da vontade:

Vontade universal: Temos determinações naturais, mas isso não nos impede de encontrar
outra alternativa, sendo que a nossa vontade, a vontade do entendimento, suspende nossas
determinações naturais. Por ex.: se estamos determinados a não respirar embaixo d’água nós
construirmos máscaras para mergulhar.

Vontade livre da moralidade: através da experiência do crime temos a negatividade que nos
obriga a reflexão nos fazendo refletir sobre as próprias regras, a razão de ser delas, ou seja,
porque preciso obedecer a uma regra sem que seja necessária a coação¿

O sujeito que reflete procura um bem estar, bem estar esse que deve ser coletivo, ou seja,
dentro de uma coletividade em que os indivíduos estão unidos para alcançar um bem comum,
o bem estar maximizado ou o “bem abstrato” – sem individualidade. Esse bem moral está
baseado nas ideias como humanidade, bem maior, deuses que tentam ser universalisantes. A
moral introduz a subjetividade dentro da objetividade: reflexão da vontade como o critério das
suas próprias ações (Intenção, propósito, bem). Como foi referido a introdução da moral
advindo do não-direito tem a finalidade de trazer um motivo mais forte do que “obedecer
regras por medo da punição”, vem para tornar mais forte o respeito com a vontade dos
demais superando as fragilidades das leis como erros de/impossibilidade de
julgamento/punição, para que o sujeito não deixe de obedecer as leis quando não é vigiado
pelas autoridades. Na moral a subjetividade não é mais aquela do fazer valer supremamente
os desejos, deixando de ser guiado meramente pelos desejos passando a refletir sobre eles
fazendo valer sua vontade com base no pensamento (reflexão racional), respeitando as
normas e levando em consideração a vontade dos demais (querer um bem que seja
universalizável). Ou seja, o sentimento moral faz com que respeitemos as leis não mais por
mera coerção e busquemos os mecanismos da justiça, das leis para exercer minha vontade. A
subjetividade aqui está transformada, não é mais aquela inicial, mas uma subjetividade
objetivada, o sujeito reflete sobre seus atos, escolhe entre as opções que se apresentam
levando em consideração o bem comum (bem esse que os demais também desejam). O
homem vai desenvolvendo esta vontade até chegar ao seu ápice, a vontade livre presente na
eticidade (família, sociedade e Estado).

Eticidade: A concepção universalisante da vontade moral (ou vontade do arbítrio) não


expressa na prática o bem, não permite que a individualidade das consciências de si. Para
tanto Hegel decide não abandonar o conceito de bem, mas vê-lo em sua particularidade, ou
seja, em seu momento histórico. Em cada período histórico as consciências de si possuíam
uma ideia de bem (política, sucesso profissional, casamento etc) e nessa particularidade (o
período histórico que define o que é um bem) Hegel mantém a ideia de bem universal que
agora possui em si o particular. (parag. 142). Na medida em que a verdade é histórica o bem
abstrato dá lugar ao bem que se traduz nos conceitos históricos do qual emerge. O “bem vivo”
são os padrões éticos (costumes) de tal época, como, o bem vivo até algum tempo atrás é o
sexo permitido somente dentro do casamento, hoje não é mais preciso casar para transar.
Esse “bem vivo” depende da consciência de si que vai localizá-lo no contexto e depois vai
querer modifica-lo para que ele se universalize. A consciência de si que pensa, reflete e age vai
questionar e querer modificar esse bem vivo que pode se desfazer com o tempo. O “bem vivo”
vai, dessa forma, vai possibilitar ao sujeito manifestar suas particularidades. Temos “noções de
bem” que se expressam nos costumes, como o “bem vivo” dos gregos eram os deuses.

Hegel se questiona quanto a essas ideias de bem que não se sustentam universalmente. Para
evitar a ideia de que da perspectiva do sujeito, o bem de sua época é o bem universal, Hegel
propõe que esse sujeito faça uso de seu pensamento, reflexão e ação (e sua capacidade crítica)
para por em perspectiva os demais “bens vivos” para enxergar de forma mais aprofundada o
seu próprio bem.

Dado o alcance da vontade livre, expressão máxima da vida ética é preciso analisar de que
forma ou sob que formas essa vontade vai se realizar. Para expressão dessa ética
desenvolvida, tais são os componentes para a realização da eticidade:

Família: casamento, riqueza, filhos. Traço fundamental é o sentimento. Há uma disposição da


vontade dos indivíduos em formar uma unidade. A relação se expressa em sentimentos (amor,
formas de amor). O casamento não deve ser pensado como um contrato (como pensava
Kant), porque como contrato temos ainda dois indivíduos. Hegel pensa o casamento como
uma união que vai formar um nós, um se reconhece no outro.
Sociedade: vai pensar a sociedade a partir da família e da aldeia (Aristóteles), mas atualizada
na relação de família e mercado em que há a fusão entre os interesses públicos e privados (os
interesses privados acabam se tornando públicos). O traço importante é o lucro, a
racionalidade instrumental (lembrando que aqui Hegel se baseia na sociedade civil burguesa.
(A) A sociedade é voltada na satisfação das carências que não tem fim, as pessoas nunca vão se
sentir satisfeitas porque elas criam novas carências. (B) Administração do direito: órgãos
reguladores de qualidade dos produtos, tribunal e a existência das corporações (interesse no
lucro e dependência dos demais). Valorização do trabalho do indivíduo através da corporação,
reconhecimento dos colegas, honra de exercer um ofício.

Estado: não é pensado na figura de um contrato. Não basta obediência e por ser um momento
sofisticado da vontade livre o sujeito tem que se reconhecer no Estado, reconhecer o Estado
como “seu Estado, o Estado no qual eu vivo”. Isso requer engajamento nas questões do
Estado, a manifestação das opiniões (opinião pública, manifestação pública).

O sujeito não deve se deixar manipular pelos interesses do Estado. A partir da minha reflexão e
crítica às opiniões tomo a iniciativa.

Relação do Estado com a sociedade civil burguesa (FD, parag,261): O fim do Estado é o fim
imanente da sociedade civil burguesa; não tem mais como separar a subjetividade do objetivo,
do âmbito público. O Estado reflete os interesses da sociedade civil burguesa, porém não é a
mera satisfação desses interesses, mas através de uma política institucional em que o Estado
vai possibilitar os meios para que se realizem leis e políticas de governos para que sejam
atendidos alguns direitos (não todos). É uma política basicamente institucional.

Dessa forma, do homem selvagem que passa pela luta pelo reconhecimento implantando sua
subjetividade na objetividade que se desenvolve do desejar um bem para a vontade livre. Essa
vontade vai se manifestar na eticidade. Nesta trajetória temos então:

-Individualidade (consciência de si – homem selvagem, luta por reconhecimento)

-Coletividade (vontade livre, direito abstrato, moralidade, eticidade: família, sociedade e


Estado)

-Historicidade (transformação dos âmbitos da eticidade ao longo da história)

Chegando a sua definição de Estado, último pilar da eticidade, Hegel é essencialmente um


pensador institucionalista: o Estado não se forma pela repressão, por um soberano
hobbesiano e o controle do Estado pela força coerciva. Hegel acredita que o sujeito faz parte
do Estado porque ele se reconhece nele, porque quer participar das decisões, não somente
pelo voto, mas também em se informar e participar das decisões e acontecimentos acerca do
Estado, do que é público.
VOCABULÁRIO:

Imanente: Que é relativo ao concreto, ao material ou ao domínio da experiência possível, por


oposição a transcendente.

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