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XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro.

MODELAGEM NO ENSINO DE QUÍMICA: A QUÍMICA ORGÂNICA


ABORDADA COM BASE NO TEMA LIXO
Daniela Kelly dos Santos1, João Roberto Ratis Tenório da Silva2

Introdução
É comum no ensino de Química, por sua natureza abstrata, que professores lancem mão do uso de analogias e
modelos de ensino. Porém, o que não se considera é que, muitas vezes, os modelos e analogias utilizados podem
conflitar com os próprios modelos que os alunos possuem. Estes modelos mentais são representações, criadas pelos
próprios alunos, acerca de diversos fenômenos, configurando-se modelos explicativos, que tem como base as
concepções alternativas (MILAGRES; JUSTI, 2001).
Segundo Milagres e Justi (2001) um dos aspectos relevantes na criação de um modelo são as ideias que emergem
na mente de uma pessoa. Para as autoras, um modelo surge inicialmente na imaginação de uma pessoa na forma de um
modelo mental, o qual pode ser planejado por um indivíduo só ou em grupo. O modelo mental, após ser representado
pelo modelo expresso. O modelo expresso passa a ser consensual, a partir da validação por uma comunidade –
científica, por exemplo. (GILBERT; BOULTER, 1995; MILAGRES; JUSTI, 2001). Consideramos que uma das
estratégias para o ensino de conceitos abstratos, é partir dos modelos mentais que os alunos já possuem, tornando-os em
modelos expressos e confrontando com os modelos consensuais da Ciência.
Neste trabalho, que faz parte de um projeto maior, executado no âmbito do PIBID, utilizamos como base teórica a
modelagem, discutida por Milagres e Justi (2001), para analisar a aprendizagem dos alunos de conceitos de Química
Orgânica com base no tema “Lixo”. Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (BRASIL,1999)
propõem que a contextualização dos conteúdos é importante, para que os alunos não sejam passivos no processo de
ensino-aprendizagem, sendo ela significativa. Além disso, acredita-se que dessa forma pode-se contribuir para
aprendizagem conceitual, procedimental e atitudinal, como aponta Carvalho et al. (2004).
Diante disso, o objetivo deste trabalho foi analisar a aprendizagem de alunos com base no processo de modelagem,
observando como os alunos constroem modelos e comparam com os modelos consensuais propagados pela Ciência.

Material e métodos
Esse trabalho foi desenvolvido em uma escola de referência de Pernambuco, situada na cidade de Serra Talhada,
Sertão de Pernambuco. Os sujeitos participantes da pesquisa foram alunos do 3° ano do Ensino Médio. Para coleta de
dados, foram feitas anotação de campo, fotografias e aplicação de um questionário. As análises foram realizadas por
meio das respostas do questionário referente à intervenção realizada em sala de aula. No nosso trabalho agrupamos
essas respostas referentes ao questionário em quatro categorias: Reposta Satisfatória (RS), Reposta Pouco Satisfatória
(RPS), Resposta Insatisfatória (RI) e Sem Resposta (SR) - tipologia semelhante à utilizada por Lacerda (2008).
A intervenção foi realizada em duas aulas de 50 minutos com a participação de 20 alunos. Inicialmente foi proposto
aos alunos a elaborar e expressar seus modelos em relação aos “compostos orgânicos e não orgânicos”, com o objetivo
de observar os modelos mentais dos alunos, representados pelo conhecimento prévio (MILAGRES; JUSTI, 2001). Para
isso foi fornecido folhas de papel A4 e giz de cera. Em seguida foi realizada uma aula de forma contextualizada
envolvendo o tema “Lixo” onde foram abordados conceitos como substancias simples, substancias compostas, mistura,
compostos orgânicos e compostos inorgânicos presentes no lixo. Além de promover uma conscientização em relação ao
descarte indevido do lixo.
Logo após foi proposto à construção de modelos com o auxilio de bolas médias e pequenas de isopor e palito de
dente. As estruturas sugeridas durante a intervenção: Trimetilbenzeno, Clorobenzeno, Benzeno, Tricloroetano, NH3;
CO2; CH4; SO2; H2S; H2O e O2. Para isso a turma foi dividida em 04 grupos onde cada grupo ficou responsável pela
construção de dois modelos um orgânico e outro inorgânico. No final da intervenção foi aplicado um questionário para
avaliação dos mesmos em relação ao uso de modelos e acompanhamento da aprendizagem.
A análise tomou como base as respostas do questionário referente à intervenção realizada em sala de aula fazendo um
levantamento da aprendizagem dos alunos em relação ao uso de modelos. O questionário foi estruturado com 09
questões sendo as duas ultimas para comparar com os modelos expressos dos alunos e poder acompanhar a evolução
dos mesmos. A figura 01 mostra os critérios usados algumas perguntas selecionadas referentes ao questionário de
acordo com as categorias propostas por Lacerda (2008). Essas questões foram classificadas como satisfatória (RS);
pouco satisfatória (RPS); insatisfatória (RI) e sem resposta (SR) as mesmas usadas por Lacerda (2008).

1
Primeira Autora é Estudante de Graduação de Licenciatura em Química, Universidade Federal Rural de Pernambuco ¬ Unidade Acadêmica de
Serra Talhada. Fazenda Saco, s/n, Caixa Postal 063, Serra Talhada, PE, CEP 56900-000. E-mail: dannykelly20@hotmail.com
2
Segundo Autor é Autor é Professor Assistente, Universidade Federal Rural de Pernambuco ¬Unidade Acadêmica de Serra Talhada. Fazenda
Saco, s/n, Caixa Postal 063, Serra Talhada PE, CEP 56900-000.
XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro.

Resultados e Discussão
A partir dos dados obtidos foi possível observar que a maioria das respostas dos alunos foi satisfatórias. Das 09
questões estruturadas da 1 a 7 foram analisadas e categorizadas e a questão 8 e 9 foi observada a evolução dos modelos
dos alunos, a partir da comparação do modelo mental expresso inicialmente pelos alunos e os modelos propostos ao
final da intervenção. Podendo observar que dos 18 alunos participantes 57% obtiveram uma resposta satisfatória (RS);
21% obtiveram uma resposta pouco satisfatória (RPS); 19% obtiveram uma resposta insatisfatória (RI) e 2% deixaram
as respostas em branco (SR) (figura 3).
Em relação às questões 8 e 9 do questionário foi possível observar que dos 18 alunos participantes 76% não
conseguiram representar os modelos corretamente, próximos ao modelo consensual. No restante dos alunos, observou-
se uma pequena evolução.
Já nos modelos construídos com bolinhas de isopor e palitos de dente observou-se uma certa dificuldade em
representar as moléculas tridimensionalmente. Os mesmos construíram seus modelos de uma forma plana sendo
semelhante aos modelos expressos inicialmente de acordo com a figura 4. Mostrando que não houve uma evolução
significativa na construção dos modelos. Dessa forma, pode-se observar que os mesmo tem dificuldade em imaginar a
molécula tridimensionalmente se distanciando assim do modelo consensual.
Pôde-se perceber que a maioria dos alunos representou ter construído um conhecimento importante acerca dos
conteúdos abordados, visto que 57% das respostas foram satisfatórias. Porém, tal resultado contrasta com o fato de que
76% dos alunos não souberam representar as moléculas através de modelos consensuais. Esse resultado demonstra que
mesmo que o aluno saiba responder questões a nível teórico, pontos relativos à problemas representacionais ainda
representam dificuldades, visto que os modelos expressos, mesmo quando solicitado, não se aproximam do consensual,
que é abordado dentro do contexto de sala de aula. Dessa forma, pode-se considerar que o uso de modelos moleculares,
como modelos de ensino, pode contribuir para que o aluno tenha uma visão tridimensional das moléculas.

Agradecimentos
A escola de referência que nos forneceu o espaço para a pesquisa e seus professores e alunos pelo apoio. À Unidade
Acadêmica de Serra Talhada - UFRPE/UAST. A CAPES, pela concessão da bolsa do PIBID. NiDi – Núcleo de
Instrumentação Didática.

Referências
GILBERT, J.K. e BOULTER, C.J. Stretching models too far. Artigo apresentado na Reunião Anual da Associação
Americana de Pesquisa Educacional (“American Educational Research Association”). São Francisco (EUA), 22-26
abril, 1995.

MILAGRES, V. S. O.; JUSTI, R. S. Modelos de Ensino de Equilíbrio Químico –


Algumas Considerações Sobre o que Tem Sido Apresentado em Livros Didáticos do
Ensino Médio. Química Nova na Escola, n. 13, maio 2011.

LACERDA, C. C. A Contribuição de uma Situação-problema na Construção dos Conceitos de Misturas e Substâncias.


Recife, 2008. 137 p. Dissertação (Mestrado em Ensino das Ciências). Departamento de Educação, Universidade
Federal Rural de Pernambuco, 2008.
XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro.

Quadro 1. Classificação das categorias referentes a algumas perguntas selecionadas do questionário.

QUESTÃO CLASSIFICAÇÃO
Questão 2. A metodologia utilizada, com o uso dos A resposta Sim foi considerada satisfatória (RS). Se a resposta for
modelos, facilitou a aprendizagem dos conteúdos química? Não será satisfatória (RI).
Questão 3. O que você entende como substancias simples e A resposta foi considera satisfatória (SR) quando conseguiu
compostas? Represente através de modelos especificando-os. diferenciar uma substancia simples de uma composta
exemplificando na forma de modelos. Caso não exemplifique ou
faça estruturas incoerentes a resposta será considerada pouco
satisfatória (RPS). Caso não consiga diferenciar um composto
orgânico de um inorgânico a resposta será considerada
insatisfatória (RI).

Questão 5. Você considera o chorume uma substancia A resposta foi considerada satisfatória (RS) ao afirmar que era uma
simples, uma substancia composta ou uma mistura? mistura com o argumento coerente. Caso o argumento seja não
Justifique. coerentes será considerada pouco satisfatória (RPS)

Questão 7. O que você entende como compostos orgânicos e A resposta foi considera satisfatória (RS) quando conseguiu
inorgânicos? Defina-os. diferenciar um composto orgânico de um inorgânico Caso
especifique apenas um deles a resposta será considerada pouco
satisfatória (RPS). Caso não consiga diferenciar um composto
orgânico de um inorgânico a resposta será considerada
insatisfatória (RI).

Quadro 2. Exemplos das respostas referentes a 3 questão do questionário.

CATEGORIAS EXEMPLOS
Resposta satisfatória (RS) “Simples apresenta apenas um elemento Composta apresenta
mais de um elemento. Ex. Simples O2, composta CO2.”
Resposta pouco satisfatória (RPS) “A simples possui um só elemento, o composto varios outros Ex.
simples H2O, C6Cl.”
Resposta insatisfatória (RI) “Substancias simples são aquelas que possui apenas uma
ligação e compostos 2 ou mais.”

Figura 3. Respostas dos alunos referentes às questões de 1 a 7 do questionário.

3 Respostas dos alunos


24 RS
RPS
27 72
RI
SR

Figura 4. Comparação de modelos antes e depois da intervenção.

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