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Universidade Federal do Rio de Janeiro

Centro de Filosofia e Ciências Humanas – Escola de Comunicação


ECS514: Com. Glob. Sociedade Tecnol. I – Professor Márcio Tavares D’Amaral
Marcos Vinícius Lisboa da Silva – DRE: 116174119

Resenha do texto “Comunicação e diferença”, capítulos 3,4 e conclusão.

Subtítulo do livro, a grande temática abordada por Márcio Tavares D’Amaral nos
capítulos tratados na presente resenha é a da guerra. Uma guerra contra ao que se
estabeleceu na história da filosofia nas últimas décadas como fim da história. Lutaríamos,
portanto, a favor das multiplicidades que foram sendo progressivamente substituídas pela
lógica do Um e da eficácia. Essa guerra, entretanto, não é simplesmente abstrata ou
metafórica. Todos os dias, vemos as fotos e os nomes das vítimas do pensamento
unidimensional nas manchetes dos jornais. Quando não são nomes ou imagens, são
números nas estatísticas de mortos, desempregados, violentados, silenciados, excluídos e
desamparados.
A lógica da eficácia não compreende a multiplicidade, a ambiguidade ou o
paradoxal, características fundamentais da natureza humana. A guerra se estabelece aqui,
portanto, como uma necessidade e um dever ético. Devemos partir de um compromisso
com a grande parcela da população mundial que estaria, segundo os pós-modernos,
excluída do mundo e congelada no tempo porque não fazem parte da esfera do consumo
– uma “África de sofrimento”, como bem diz D’Amaral.
Segundo o autor, essa guerra se dá pensando e falando. Pensar, nesse sentido, é
um trabalho, logo, prática. Propõe-se, então, o que considero muito bonito no texto, o
surgimento de uma nova raça de poetas. Isso é, sujeitos comprometidos eticamente com
os excluídos que usam as palavras para propor novas linguagens e para inventar realidades
outras. Essa guerra, contudo, não tem vencedores uma vez que somos parte de ambos os
lados da batalha. Mantemos, portanto, o que há de bom em cada lado.
Uma questão que o texto me fez refletir foi a da relação dos sujeitos com as
multiplicidades. Ao meu ver, apesar de sermos múltiplos dentro de nós mesmos, não
sabemos conviver bem com isso. Para resolver essa questão, nos forçamos a submissão à
lei do Um. Prova disso, foi o surgimento, no decorrer do desenvolvimento da sociedade
ocidental, das identidades fixas, unidimensionais. Se hoje vivemos o que é chamado de
crise das identidades é porque esse modelo de aprisionamento dos sujeitos não serve mais
para experenciarmos o mundo.
A história do movimento feminista pode ser encarada, nesse sentido, como prova
da falência desses velhos modelos de subjetivação. O feminismo não é simplesmente o
questionamento do lugar das mulheres nas relações de poder que se estabelecem entre os
gêneros. O feminismo abre margem para o questionamento de todos os lugares
socialmente impostos aos indivíduos. Ele coloca em xeque todas as noções de identidade
que são estabelecidas a partir do Outro.
Contudo, parece-me que os sujeitos tem experimentado essa abertura às
multiplicidades com muita angústia. Não é à toa que vemos o surgimento de movimentos
reacionários que buscam um retorno à essas velhas hierarquias e lugares fixos. Segundo
o psicanalista Joel Birman, esses movimentos buscam, na verdade, fugir da posição de
desamparo que a liberdade de ser nos impõe.
Fico pensando, portanto, como podemos lidar com isso coletivamente. Algumas
noções de identidade são, ao meu ver, importantes na construção de estratégias políticas
para transformação da realidade. Como podemos então lidar com a angústia que derrotar
a lei do Um provoca sem perder, contudo, noções que podem nos servir como formas de
identificação necessária para a construção coletiva de um novo mundo?
Acredito que não exista resposta fácil nem conclusiva para essa questão. Porém,
é preciso continuar caminhando e pensando juntos. Afinal, em última instância, somos
todos humanos. Nesse sentido, o ideal de fraternidade, proclamado pela Revolução
Francesa mas completamente esquecido desde então, deve sair do plano das ideias e se
tornar realidade para os bilhões de seres humanos que vivem hoje conosco e não são
reconhecidos como nossos irmãos.

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