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Flexão Composta Normal

1. ARMADURAS ASSIMÉTRICAS

1.1 Introdução
O dimensionamento direto à flexão composta normal com grande
excentricidade, considerando os esforços solicitantes não no centro de gravidade da
seção transversal, mas sim no centro de gravidade da armadura tracionada é muito
simples, pois torna o problema semelhante ao da flexão simples. Entretanto, ele
resolve apenas uma parte dos problemas da flexão composta normal. É importante
que se tenha uma formulação geral que resolva todos os casos possíveis.
Jayme Ferreira da Silva Jr. desenvolveu um processo que permite com
antecedência, conhecidos os esforços, as propriedades da seção e dos materiais,
determinar qual a necessidade de armadura da seção.
Vai-se considerar neste capítulo o dimensionamento de seções retangulares
submetidas à flexo-compressão ou à flexo-tração com armaduras assimétricas em
duas bordas.
Trabalhando com os valores reduzidos dos esforços solicitantes (νd, μd), o
semi-plano formado pelos pontos (νd, μd) pode ser dividido em 6 regiões ou zonas de
solicitação.

Nd
νd = (eq. 1)
0,85 ⋅ f cd ⋅ b ⋅ d
Md
μd = (eq. 2)
0,85 ⋅ f cd ⋅ b ⋅ d 2

1
d

C
D B
E A
O
h d

(Fig. 1)
Zona A: as duas armaduras (As1 e As2) são comprimidas (flexo-compressão com
pequena excentricidade);
Zona B: equilíbrio alcançado só com As1, sendo As2 = 0;
Zona C: As2 é tracionada e As1 comprimida (flexo-tração e flexo-compressão com
grande excentricidade);
Zona D: equilíbrio conseguido com As2 tracionada e o concreto comprimido, sendo
As1 = 0;
Zona E: As2 e As1 são tracionadas (flexo-tração com pequena excentricidade);
Zona O: seção super-dimensionada, nenhuma armadura é teoricamente necessária.

A seguir serão desenvolvidas as fórmulas para as várias zonas de solicitação.

A notação que será utilizada é a que segue:

b
As1 → armadura comprimida pela ação do
As1 momento fletor.
As2 → armadura tracionada pela ação do
Md
momento fletor.
h Nd
Nd > 0 → compressão
Nd < 0 → tração
As2
(fig. 2)

2
1.2 Zona A

Na zona A as duas armaduras estão comprimidas, o que ocorre se ξ > 1 (ou x


> d). Está-se no domínio 4a ou 5. São três as incógnitas: As1 (ω1), As2 (ω2) e x (ξ).
As equações que resolvem o problema são as duas de equilíbrio. Portanto,
são infinitas as soluções. A solução que torna a resposta mais econômica é aquela
em que ξ → ∞, a seção está inteiramente comprimida a 2‰.

0,85.f cd
d'
As1 As1. s1d
e Md
Nd
e
As2 As2. s2d

d'
(fig. 3)
e = d – h/2 (eq. 3)

σs1d = σs2d = σsd (εsd = 2‰) (eq. 4)


κh = h/d (eq. 5)

Nd = 0,85 ⋅ f cd ⋅ b ⋅ h + As1 ⋅ σ sd + As 2 ⋅ σ sd (eq. 6)

Md = As1 ⋅ σ sd ⋅ (d − 0,5 ⋅ h ) − As 2 ⋅ σ sd ⋅ (d − 0,5 ⋅ h ) (eq. 7)

Dividindo a (eq. 6) por 0,85 ⋅ f cd ⋅ b ⋅ d e a (eq. 7) por 0,85 ⋅ f cd ⋅ b ⋅ d 2 , vem:

σ sd σ sd
ν d = κ h + ω1 ⋅ + ω2 ⋅ (eq. 8)
f yd f yd

σ sd σ sd
μ d = ω1 ⋅ (1 − 0,5κ h ) − ω 2 ⋅ (1 − 0,5κ h )
f yd f yd

3
σ sd
μ d = (ω1 − ω 2 ) ⋅ ⋅ (1 − 0,5 ⋅ κ h ) (eq. 9)
f yd

Resolvendo-se o sistema chega-se a:

f yd ⎛ μd ⎞
ω1 = ⋅ ⎜⎜ν d + − κ h ⎟⎟ (eq. 10)
2 ⋅ σ sd ⎝ (1 − 0,5 ⋅ κ h ) ⎠

f yd ⎛ μd ⎞
ω2 = ⋅ ⎜⎜ν d − − κ h ⎟⎟ (eq. 11)
2 ⋅ σ sd ⎝ (1 − 0,5 ⋅ κ h ) ⎠

Para o aço CA-50A:

σ sd Es ⋅ ε sd 210000 ⋅ 2
= = = 0,966 (eq. 12)
f yd f yd ⎛ 500 ⎞
⎜ ⋅ 1000 ⎟
⎝ 1,15 ⎠

No caso particular da compressão simples, onde Md = 0 (μd = 0)


f yd
ω1 = ω 2 = ⋅ (ν d − κ h ) (eq. 13)
2 ⋅ σ sd

Na expressão anterior nota-se que se νd < Kh a taxa de armadura fica


negativa. Isso quer dizer que só a seção de concreto resiste ao esforço de
compressão, sem necessidade das armaduras.

1.2.1 Limite com a Zona B


Como na zona B As2 = 0, basta fazer ω2 = 0 na expressão que permite
determiná-la, chegando-se a:
f yd ⎛ μd ⎞
0= ⋅ ⎜⎜ν d − − κ h ⎟⎟
2 ⋅ σ sd ⎝ (1 − 0,5 ⋅ κ h ) ⎠

μd A− B
= (ν d − κ h ) ⋅ (1 − 0,5 ⋅ κ h ) (eq. 14)

4
d

B
A

h d
tração compressão

(fig. 4)

1.3 Zona B
Na zona B, sendo As2 = 0, o problema fica com 2 equações e 2 incógnitas (ξ e
ω1), tendo solução única.

s1d 0,85.f cd
d'
As1 As1. s1d
e h/2 Md y
x
Nd

h/2

(fig. 5)
Nd = 0,85 ⋅ f cd ⋅ b ⋅ 0,80 x + As1 ⋅ σ s1d (eq. 15)

Md = 0,85 ⋅ f cd ⋅ b ⋅ 0,80 x(0,5 ⋅ h − 0,5 ⋅ y ) + As1 ⋅ σ s1d ⋅ (d − 0,5 ⋅ h ) (eq. 16)

Dividindo a (eq. 15) por 0,85 ⋅ f cd ⋅ b ⋅ d e a (eq. 16) por 0,85 ⋅ f cd ⋅ b ⋅ d 2 , fica-se

com:
σ s1d
ν d = 0,8 ⋅ ξ + ω1 ⋅ (eq. 17)
f yd

5
σ s1d
μ d = 0,8 ⋅ ξ ⋅ (0,5 ⋅ κ h − 0,4 ⋅ ξ ) + ω1 ⋅ ⋅ (1 − 0,5 ⋅ κ h ) (eq. 18)
f yd

Da (eq. 17):
σ s1d
ω1 ⋅ = ν d − 0,8 ⋅ ξ
f yd

Levando na (eq. 18) e desenvolvendo chega-se a:

ν d − 0,5 ⋅ν d ⋅ κ h − μ d
ξ = 1,25 ⋅ (κ h − 1) + 1,5625 ⋅ (1 − κ h )2 + (eq. 19)
0,32

Se μ d = (ν d − κ h ) ⋅ (1 − 0,5 ⋅ κ h ) (limite com a zona A), resulta ξ = 1,25 κh. Isso

quer dizer que nesse caso y = 0,80; x = h e a seção estará inteiramente comprimida,
valendo a formulação desenvolvida. Se resultasse ξ > 1,25 κh, não se poderia adotar
y = 0,80.x, pois desse modo estar-se-ia computando uma área inexistente de
concreto comprimido.
Uma vez obtido o valor de ξ, a primeira equação de equilíbrio fornece a taxa
de armadura:
ν d − 0,8 ⋅ ξ
ω1 = (eq. 20)
σ s1d
f yd

Para determinar σs1d é preciso determinar εs1d em função de ξ e do domínio.


No domínio 4 (ξ ≤ κ h ).

ε s1d x − d'
d' 3,5‰ =
3,5 x
s1d

x Sendo d ' = h − d

ε s1d =
(x − h + d ) ⋅ 3,5‰
x
(ξ − κ h + 1)
ε s1d = ⋅ 3,5‰ (eq. 21)
ξ

(fig. 6)

6
No domínio 5 (ξ > κ h ).

d' cd

s1d
3h/7 ε cd ε cd − 2
=
x 3
h h
7
x 3
ε cd ⋅ h = ε cd ⋅ x − 2 x
7
14 x
ε cd =
7 x − 3h
14ξ
ε cd =
2‰ 7ξ − 3κ h
(fig. 7)

ε s1d
=
ε cd
→ ε s1d =
( x − d ') ⋅ ε
x − d'
cd
x x
Sendo d ' = h − d , vem:

ε s1d =
(x − h + d ) ⋅ ε
cd
x
(ξ − κ h + 1)
ε s1d = ⋅ ε cd
ξ
14 ⋅ (ξ − κ h + 1)
ε s1d = (eq. 22)
7 ⋅ξ − 3⋅κh

1.3.1 Limite com a Zona O

Na zona O, por definição, As1 = As2 = 0.


Sendo ω2 = 0, a (eq. 17) de equilíbrio fornece:
νd
ν d = 0,8 ⋅ ξ → ξ =
0,8
Levando na (eq. 18) de equilíbrio:

7
⎛ 0,4 ⋅ν d ⎞
μ d = ν d ⋅ ⎜ 0,5 ⋅ κ h − ⎟
⎝ 0,8 ⎠

νd2
μ d = 0,5 ⋅ κ h ⋅ν d − (eq. 23)
0
2
Equação de uma parábola do 2º grau com raízes νd = 0 e νd = Kh.

B
A
O
h d

(fig. 8)
1.4 Zona C
Na zona C As1 está comprimida e As2, tracionada. São três incógnitas:
As1(ω1), As2(ω2) e x (ξ). As equações de equilíbrio sendo duas, o problema
apresenta infinitas soluções. A melhor solução é a que minimiza a soma (As1 + As2).
Lauro Modesto dos Santos em sua obra: Cálculo de Concreto Armado, Vol. 1,
apresenta os resultados de investigação de qual valor de ξ torna a solução mais
econômica. Para o aço CA-50A a solução mais econômica corresponde a ξ = ξlim.

s1d 0,85.f cd
d'
As1 As1. s1d
e Md xlim y
Nd
h/2
As2 As2.f yd
s2d

(fig. 9)
Equações de equilíbrio:

Nd = 0,85 ⋅ f cd ⋅ b ⋅ 0,80 x + As1 ⋅ σ s1d − As 2 ⋅ f yd (eq. 24)

8
Md = 0,85 ⋅ f cd ⋅ b ⋅ 0,80 x(0,5 ⋅ h − 0,5 ⋅ y ) + As1 ⋅ σ s1d ⋅ (d − 0,5 ⋅ h ) + As 2 ⋅ f yd ⋅ (d − 0,5 ⋅ h )

(eq. 25)

Dividindo a (eq. 24) por 0,85 ⋅ f cd ⋅ b ⋅ d e a (eq. 25) por 0,85 ⋅ f cd ⋅ b ⋅ d 2 e

fazendo ξ = ξlim, fica:


σ s1d
ν d = 0,8 ⋅ ξ lim + ω1 ⋅ − ω2 (eq. 26)
f yd

σ s1d
μ d = 0,8 ⋅ ξ lim ⋅ (0,5 ⋅ κ h − 0,4 ⋅ ξ lim ) + ω1 ⋅ ⋅ (1 − 0,5 ⋅ κ h ) + ω 2 ⋅ (1 − 0,5 ⋅ κ h )
f yd

(eq. 27)

Da (eq.26) tem-se:
σ s1d
ω1 ⋅ = ν d − 0,8 ⋅ ξ lim + ω 2 (eq. 28)
f yd

Substituindo na (eq. 27) e desenvolvendo chega-se a:

μ d − 0,8 ⋅ ξ lim ⋅ (κ h − 1 − 0,4 ⋅ ξ lim ) − ν d ⋅ (1 − 0,5 ⋅ κ h )


ω2 = (eq. 29)
(2 − κ h )

Obtido o valor de ω2, facilmente se chega ao valor ω1, através de:

ν d − 0,8 ⋅ ξ lim + ω 2
ω1 = (eq. 30)
σ s1d
f yd

A relação σs1d/fyd vai depender do valor de ξs1d e do tipo de aço.


Em função de κ h :

(ξ lim − κ h + 1)
ε s1d = ⋅ 3,5‰ (eq. 21)
ξ lim
1.4.1 Limite com a Zona B
Na zona B tem-se As2 = 0 (ω2 = 0).

9
Fazendo ω2 = 0 na expressão que permite o seu cálculo fica:

μd C−B
= ν d ⋅ (1 − 0,5 ⋅ κ h ) + 0,8 ⋅ ξ lim ⋅ (κ h − 1 − 0,4 ⋅ ξ lim ) (eq. 31)

1.4.2 Limite com a Zona D


Na zona D tem-se As1 = 0.
Fazendo ω1 = 0 na expressão que permite seu cálculo fica:
ν d − 0,8 ⋅ ξ lim + ω 2 = 0
Substituindo o valor de ω2 dado pela expressão que permite o seu cálculo e
desenvolvendo, tem-se:
μd C−D
= ν d ⋅ (0,5 ⋅ κ h − 1) + 0,8 ⋅ ξ lim ⋅ (1 − 0,4 ⋅ ξ lim )

Como já foi visto:


μd lim
= 0,8 ⋅ ξ lim (1 − 0,4 ⋅ ξ lim )

Assim, a reta de separação das zonas C e D fica:

μd C−D
= ν d ⋅ (0,5 ⋅ κ h − 1) + μ d lim (eq. 32)

1.4.3 Limite com a Zona O


Sendo na zona O ω1 = ω2 = 0, a (eq.26) de equilíbrio fica:
ν d = 0,8 ⋅ ξ lim (eq. 33)

Levando esse valor na (eq. 27) de equilíbrio:


⎛ νd ⎞
μ d = ν d ⋅ ⎜ 0,5 ⋅ κ h − ⎟
⎝ 2 ⎠
O

νd2
μ d = 0,5 ⋅ κ h ⋅ν d − (eq. 23)
O
2

Nota-se que é a mesma equação obtida através da formulação da zona B.

1.4.4 Caso particular de flexão simples com armadura dupla

10
No caso da flexão simples, Nd = 0 (νd = 0) e as armaduras ω1 e ω2 são
determinadas pelas expressões:
μ d − 0,8 ⋅ ξ lim ⋅ (κ h − 1 − 0,4 ⋅ ξ lim )
ω2 =
(2 − κ h )
(μ − μ d lim )
ω2 = + 0,8 ⋅ ξ lim
d
(eq. 34)
(2 − κ h )
(μ − μ d lim )
ω1 =
d
(eq. 35)
(2 − κ h ) ⋅ σ s1d f yd

1.5 Zona D
Na zona D, sendo As1 = 0 e As2 tracionada, o problema fica com 2 equações
e 2 incógnitas (ξ e ω2), tendo solução única.

cd 0,85.f cd

h/2 Md y
xlim
d Nd

e
As2 As2.f yd
d' s2d

(fig. 10)
Equações de equilíbrio
Nd = 0,85 ⋅ f cd ⋅ b ⋅ 0,8 x − As 2 ⋅ σ s 2 d (eq. 36)

Md = 0,85 ⋅ f cd ⋅ b ⋅ 0,8 x ⋅ (0,5h + 0,4 x ) + As 2 ⋅ σ s 2 d ⋅ (d − 0,5 ⋅ h ) (eq. 37)

Dividindo a (eq. 37) por 0,85 ⋅ f cd ⋅ b ⋅ d e a (eq. 38) por 0,85 ⋅ f cd ⋅ b ⋅ d 2 , fica:

σ s 2d
ν d = 0,8 ⋅ ξ − ω 2 ⋅ (eq. 38)
f yd

σ s 2d
μ d = 0,8 ⋅ ξ ⋅ (0,5 ⋅ κ h − 0,4 ⋅ ξ ) + ω 2 ⋅ ⋅ (1 − 0,5 ⋅ κ h ) (eq. 39)
f yd

Da (eq. 36) tem-se:

11
σ s 2d
ω2 ⋅ = 0,8 ⋅ ξ − ν d (eq. 40)
f yd

Substituindo na (eq. 36) e desenvolvendo chega-se a:

ν d ⋅ (1 − 0,5 ⋅ κ h ) + μ d
ξ = 1,25 − 1,5625 − (eq. 41)
0,32

Obtido o valor de ξ, a armadura ω2 é facilmente obtida através da (eq. 38) de


equilíbrio.
(0,8 ⋅ ξ − ν d )
ω2 = (eq. 42)
σ s 2d
f yd

A relação σs2d/fyd vai depender do valor de εs2d. Se ξ ≥ ξlim está-se no domínio


4 onde vale a relação.

ε s 2d =
(1 − ξ ) ⋅ 3,5‰
ξ
Obtido o valor de εs2d e conhecido o tipo de aço determina-se o valor de
σs2d/fyd.

1.5.1 Caso particular de flexão simples com armadura simples


No caso da flexão simples νd = 0. Além disso, como está-se no caso de
armadura simples, onde ξ ≤ ξlim, tem-se que σs2d = fyd.
Fazendo νd = 0 na expressão de ξ, tem-se:
μd
ξ = 1,25 − 1,5625 − (eq. 43)
0,32
A taxa de armadura ω2 fica:
ω 2 = 0,8 ⋅ ξ
⎛ μ d ⎞⎟
ω 2 = 0,8 ⋅ ⎜⎜1,25 − 1,5625 −
⎝ 0,32 ⎟⎠

ω2 = 1 − 1 − 2 ⋅ μ d (eq. 44)

1.5.2 Limite com a Zona O


Na zona O sendo ω1 = ω2 = 0, a (eq. 38) de equilíbrio fica:
ν d = 0,8 ⋅ ξ (eq. 45)

Levando esse valor na (eq. 39) de equilíbrio:

12
⎛ νd ⎞
μ do = ν d ⋅ ⎜ 0,5 ⋅ κ h − ⎟
⎝ 2 ⎠

νd2
μ do = 0,5 ⋅ κ h ⋅ν d − (eq. 23)
2

1.6 Zona E
Na zona E As1 e As2 são tracionadas. São três as incógnitas: As1 (ω1), As2
(ω2) e x (ξ) e apenas duas equações de equilíbrio. São infinitas as soluções. A
solução mais econômica é aquela em que σs1d = σs2d = fyd (as duas armaduras
escoando). Como na zona E o concreto não trabalha, pode-se determinar ω1 e
ω2 diretamente das equações de equilíbrio, sem determinar o valor de ξ.

As1 s1d As1. s1d


h/2 Md
d Nd

e
As2 s2d As2. s2d

d'
10‰

(fig. 11)
Na zona E está-se no domínio 1.
Basta impor x de tal ordem que εs1d ≥ εyd.
Com isso, garante-se σs1d = σs2d = fyd.
Equações de equilíbrio:
Nd = −( As1 + As 2 ) ⋅ f yd (eq. 46)

Md = As 2 ⋅ f yd ⋅ (d − 0,5 ⋅ h ) − As1 ⋅ f yd ⋅ (d − 0,5 ⋅ h ) (eq. 47)

Dividindo a (eq. 46) por 0,85 ⋅ f cd ⋅ b ⋅ d e a (eq. 47) por 0,85 ⋅ f cd ⋅ b ⋅ d 2 , fica:

ν d = −ω1 − ω 2 (eq. 48)

μ d = ω 2 ⋅ (1 − 0,5 ⋅ κ h ) − ω1 ⋅ (1 − 0,5 ⋅ κ h ) (eq. 49)

Resolvendo o sistema, vem:

13
− μ d − ν d ⋅ (1 − 0,5 ⋅ κ h )
ω1 = (eq. 50)
(2 − κ h )
μ d − ν d ⋅ (1 − 0,5 ⋅ κ h )
ω2 = (eq. 51)
(2 − κ h )
Deve-se observar que, por convenção, quando a força normal é de tração, νd
resulta negativo.
No caso particular da tração simples, onde μd = 0, resulta:
− ν d ⋅ (1 − 0,5 ⋅ κ h )
ω1 = ω 2 =
(2 − κ h )
−ν d
ω1 = ω 2 = (eq. 52)
2

1.6.1 Limite com a Zona D


Como na zona D tem-se ω1 = 0, basta fazer ω1 = 0 na equação que permite
seu cálculo, chegando-se a :
μd D−E
= −ν d ⋅ (1 − 0,5 ⋅ κ h ) (eq. 53)

1.7 Limite entre a 6 Zonas

Para determinar as armaduras, uma vez dados os valores de νd, μd e Kh, o


primeiro passo consiste em determinar em que zona se encontra a solicitação.

Reunindo os resultados encontrados, tem-se:

14
d

dC
-D

-C
dB
dD
-E
C dA
-B

D B
E A
O
0,8. lim d
h

(fig. 12)
μd A− B
= (ν d − κ h ) ⋅ (1 − 0,5 ⋅ κ h ) (eq. 14)

μd B −C
= ν d ⋅ (1 − 0,5 ⋅ κ h ) + μ d lim − 0,8 ⋅ ξ lim ⋅ (2 − κ h ) (eq. 31)

μd C−D
= ν d ⋅ (0,5 ⋅ κ h − 1) + μ d lim (eq. 32)

μd D−E
= −ν d ⋅ (1 − 0,5 ⋅ κ h ) (eq. 53)

νd2
μ do = 0,5 ⋅ κ h ⋅ν d − (eq. 23)
2

1.8 Exemplos

Para uma seção de concreto com b = 20cm, h = 60cm, d’ = 3cm, fck = 20 MPa e
aço CA-50A, dimensionar as armaduras para os seguintes pares de esforços:
• Nk = 1400 kN, Mk = 90 kN.m
• Nk = 790 kN, Mk = 140 kN.m
• Nk = 790 kN, Mk = 200 kN.m
• Nk = 300 kN, Mk = 112 kN.m
• Nk = -490 kN, Mk = 395 kN.m
• Nk = -490 kN, Mk = 279 kN.m

15
• Nk = -490 kN, Mk = 100 kN.m
G.1) Nk = 1400 kN e Mk = 90 kN.m
1,4 ⋅ 1400
νd = = 1,416
2
0,85 ⋅ ⋅ 20 ⋅ 57
1,4
1,4 ⋅ 9000
μd = = 0,160
2
0,85 ⋅ ⋅ 20 ⋅ 57 2

1,4
Pesquisa da zona de solicitação
60
κh = = 1,053
57
Como ν d > κ h só pode ser zona A, B ou C.

Teste no limite entre as zonas A e B:


μd A− B
= (ν d − κ h ) ⋅ (1 − 0,5 ⋅ κ h )

μd A− B
= (1,416 − 1,053) ⋅ (1 − 0,5 ⋅ 1,053) = 0,172

Como μ d = 0,160 < μ d A− B → zona A

Fórmulas:
f yd ⎛ μd ⎞
ω2 = ⋅ ⎜⎜ν d − − κ h ⎟⎟
2 ⋅ σ sd ⎝ (1 − 0,5 ⋅ κ h ) ⎠
σ sd
= 0,966
f yd

1 ⎛ 0,160 ⎞
ω2 = ⋅ ⎜⎜1,416 − − 1,053 ⎟⎟ = 0,0132
2 ⋅ 0,966 ⎝ (1 − 0,5 ⋅ 1,053) ⎠
1 ⎛ 0,160 ⎞
ω1 = ⋅ ⎜⎜1,416 + − 1,053 ⎟⎟ = 0,3629
2 ⋅ 0,966 ⎝ (1 − 0,5 ⋅ 1,053) ⎠
As1 = 11,55cm 2

As 2 = 0,42cm 2

G.2) Nk = 790 kN e Mk = 140 kN.m

16
1,4 ⋅ 790
νd = = 0,799
2
0,85 ⋅ ⋅ 20 ⋅ 57
1,4
1,4 ⋅ 14000
μd = = 0,248
2
0,85 ⋅ ⋅ 20 ⋅ 57 2

1,4
ξ lim = 0,6284
0,8 ⋅ ξ lim = 0,5027

Como 0,8 ⋅ ξ lim < ν d < κ h → Zona O, B ou C.

Teste no limite da zona O:


νd2
μ do = 0,5 ⋅ κ h ⋅ν d −
2
0,799 2
μ do = 0,5 ⋅ 1,053 ⋅ 0,799 − = 0,101
2
Como μ d > μ d O → zonas B ou C.

Teste no limite entre as zonas B e C:


μd B −C
= 0,799 ⋅ (1 − 0,5 ⋅ 1,053) + 0,376 − 0,8 ⋅ 0,6284 ⋅ (2 − 1,053)

μd B −C
= 0,278

Como μ d < μ d B − C → zona B.

0,799 − 0,5 ⋅ 0,799 ⋅ 1,053 − 0,248


ξ = 1,25 ⋅ (1,053 − 1) + 1,5625 ⋅ (1 − 1,053)2 +
0,32
ξ = 0,708 → domínio 4.
Deformação na armadura 1:
(ξ − κ h + 1)
ε s1d = ⋅ 3,5‰
ξ

ε s1d =
(0,708 − 1,053 + 1) ⋅ 3,5‰ = 3,24‰ > ε = 2,07‰
yd
0,708
σ s1d
= 1,0
f yd

Taxa de armadura:
ω1 = ν d − 0,8 ⋅ ξ
ω1 = 0,799 − 0,8 ⋅ 0,708 = 0,2326
As1 = 7,41cm 2

17
G.3) Nk = 790 kN e Mk = 200 kN.m
1,4 ⋅ 790
νd = = 0,799
2
0,85 ⋅ ⋅ 20 ⋅ 57
1,4
1,4 ⋅ 10000
μd = = 0,355
2
0,85 ⋅ ⋅ 20 ⋅ 57 2

1,4
Pesquisa da zona de solicitação.
Sendo νd igual ao problema anterior, aproveitam-se os resultados.
Sendo μ d > μ d B − C → zona C.

Determinação das armaduras:


μ d − 0,8 ⋅ ξ lim ⋅ (κ h − 1 − 0,4 ⋅ ξ lim ) − ν d ⋅ (1 − 0,5 ⋅ κ h )
ω2 =
(2 − κ h )
0,355 − 0,8 ⋅ 0,6284 ⋅ (1,053 − 1 − 0,4 ⋅ 0,6284 ) − 0,799 ⋅ (1 − 0,5 ⋅ 1,053)
ω2 =
(2 − 1,053)
ω 2 = 0,0807
Para determinar ω1 é preciso conhecer a relação σ s1d f yd que depende de εs1d.

(ξ lim − κ h + 1)
ε s1d = ⋅ 3,5‰
ξ lim

ε s1d =
(0,6284 − 1,053 + 1) ⋅ 3,5‰ = 3,207‰ > ε = 2,07‰
yd
0,6284
Logo, σ s1d f yd = 1,0

ν d − 0,8 ⋅ ξ lim + ω 2
ω1 =
σ s1d
f yd

0,799 − 0,8 ⋅ 0,6284 + 0,0807


ω1 =
1,0
ω1 = 0,377
As1 = 12,00cm 2

18
As 2 = 2,57cm 2

G.4) Nk = 300 kN e Mk = 112 kN.m


1,4 ⋅ 300
νd = = 0,303
2
0,85 ⋅ ⋅ 20 ⋅ 57
1,4
1,4 ⋅ 11200
μd = = 0,199
2
0,85 ⋅ ⋅ 20 ⋅ 57 2
1,4
Pesquisa da zona de solicitação.
Sendo ν d < 0,8 ⋅ ξ lim = 0,5027 → Zona O, D ou C.

Limite com a zona O:


νd2
μ do = 0,5 ⋅ κ h ⋅ν d −
2
0,303 2
μ do = 0,5 ⋅ 1,053 ⋅ 0,303 − = 0,114
2
Como μ d > μ d O → zonas D ou C.

Limite entre as zonas C e D:


μd C−D
= ν d ⋅ (0,5 ⋅ κ h − 1) + μ d lim

μd C−D
= 0,303 ⋅ (0,5 ⋅ 1,053 − 1) + 0,376

μd C−D
= 0,232

Como μ d < μ d C − D → zona D.

Posição da linha neutra.


ν d ⋅ (1 − 0,5 ⋅ κ h ) + μ d
ξ = 1,25 − 1,5625 −
0,32

0,303 ⋅ (1 − 0,5 ⋅ 1,053) + 0,199


ξ = 1,25 − 1,5625 −
0,32
ξ = 0,5485
Sendo ξ < ξ lim → σ s 2 d = f yd

19
Armadura tracionada:
ω 2 = 0,8 ⋅ ξ −ν d
ω 2 = 0,8 ⋅ 0,5485 − 0,303 = 0,1358
As 2 = 4,32cm 2

G.5) Nk = -490 kN e Mk = 395 kN.m


1,4 ⋅ (− 490 )
νd = = −0,496
2
0,85 ⋅ ⋅ 20 ⋅ 57
1,4
1,4 ⋅ 39500
μd = = 0,701
2
0,85 ⋅ ⋅ 20 ⋅ 57 2

1,4
Pesquisa da zona de solicitação.
Por se tratar de flexo-tração, as zonas possíveis são C, D e E.
Limite entre as zonas C e D.
μd C−D
= ν d ⋅ (0,5 ⋅ κ h − 1) + μ d lim

μd C−D
= (− 0,496) ⋅ (0,5 ⋅ 1,053 − 1) + 0,376

μd C−D
= 0,611

Sendo μ d > μ d C − D → zona C.

Determinação das armaduras:


μ d − 0,8 ⋅ ξ lim ⋅ (κ h − 1 − 0,4 ⋅ ξ lim ) − ν d ⋅ (1 − 0,5 ⋅ κ h )
ω2 =
(2 − κ h )
0,701 − 0,8 ⋅ 0,6284 ⋅ (1,053 − 1 − 0,4 ⋅ 0,6284) − (− 0,496) ⋅ (1 − 0,5 ⋅ 1,053)
ω2 =
(2 − 1,053)
ω 2 = 1,0934
Para determinar ω1 necessita-se da relação σ s 2 d f yd .

ε s1d =
(0,6284 − 1,053 + 1) ⋅ 3,5‰ = 3,207‰ > ε = 2,07‰
yd
0,6284
Logo, σ s1d f yd = 1,0

ν d − 0,8 ⋅ ξ lim + ω 2
ω1 =
σ s1d
f yd

20
− 0,496 − 0,8 ⋅ 0,6284 + 1,0934
ω1 =
1,0
ω1 = 0,0947
As1 = 3,02cm 2

As 2 = 34,81cm 2

G.6) Nk = -490 kN e Mk = 279 kN.m


1,4 ⋅ (− 490 )
νd = = −0,496
2
0,85 ⋅ ⋅ 20 ⋅ 57
1,4
1,4 ⋅ 27900
μd = = 0,495
2
0,85 ⋅ ⋅ 20 ⋅ 57 2

1,4
Como μ d < μ dC − D = 0,611 (exemplo anterior), as zonas possíveis são D e E.

Limite entre as zonas D e E.


μd D−E
= −ν d ⋅ (1 − 0,5 ⋅ κ h )

μd D−E
= −(− 0,496) ⋅ (1 − 0,5 ⋅ 1,053) = 0,235

Sendo μ d > μ d D − E → zona D.

Determinação de ξ.
ν d ⋅ (1 − 0,5 ⋅ κ h ) + μ d
ξ = 1,25 − 1,5625 −
0,32

ξ = 1,25 − 1,5625 −
(− 0,496) ⋅ (1 − 0,5 ⋅ 1,053) + 0,496
0,32

ξ = 0,386 < ξ lim → σ s 2 d = f yd


Armadura tracionada:
ω 2 = 0,8 ⋅ ξ −ν d
ω 2 = 0,8 ⋅ 0,386 − (− 0,496 ) = 0,8048
As 2 = 25,62cm 2

G.7) Nk = -490 kN e Mk = 100 kN.m

21
1,4 ⋅ (− 490 )
νd = = −0,496
2
0,85 ⋅ ⋅ 20 ⋅ 57
1,4
1,4 ⋅ 10000
μd = = 0,1774
2
0,85 ⋅ ⋅ 20 ⋅ 57 2

1,4
Pesquisa da zona de solicitação
De acordo com exemplo anterior:
μd < μd D−E
→ zona E.

Determinação das armaduras:


μ d − ν d ⋅ (1 − 0,5 ⋅ κ h )
ω2 =
(2 − κ h )
0,1774 − (− 0,496) ⋅ (1 − 0,5 ⋅ 1,053)
ω2 =
(2 − 1,053)
ω 2 = 0,435
− μ d − ν d ⋅ (1 − 0,5 ⋅ κ h )
ω1 =
(2 − κ h )
− 0,1774 − (− 0,496) ⋅ (1 − 0,5 ⋅ 1,053)
ω1 =
(2 − 1,053)
ω1 = 0,0607
As1 = 1,93cm 2

As 2 = 13,85cm 2

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