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Curso de aperfeiçoamento em Licitação e Contratação Pública

MODULO I • SEMANA 2

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AGENTES PÚBLICOS

José Carlos de Oliveira


Professor de Direito Administrativo na graduação
e no Programa de Pós-Graduação da Faculdade de
Ciências Humanas e Sociais da Unesp/Franca

No desempenho de suas funções, o Estado certamente manterá


relações com seus administrados, desempenhando as atividades que
lhe são inerentes (ARAÚJO, 2012). O exercício da função pública, que
é cometida ao órgão ou à própria entidade, é realizado por pessoas
físicas: agentes públicos. Assim, considera-se agente público toda pessoa
física vinculada, definitiva ou transitoriamente, ao exercício de função
pública. Podem ser eles titulares de cargo (lugar a ser ocupado por
pessoa física e integrante do órgão) ou apenas exercentes da função
(função-atividade).

Os agentes públicos, segundo tradicional classificação, podem


ser: políticos, servidores públicos e os particulares em colaboração com a
Administração Pública:

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1. Políticos são titulares de cargos localizados na cúpula
governamental, investidos por eleição, nomeação ou
designação, para o exercício de funções descritas na
Constituição. São políticos eleitos pelo voto popular;

2. Servidores públicos são os vinculados à Administração por


relações de emprego, profissionais, normalmente nomeados
ou contratados, não exercendo atividades políticas ou
governamentais. Nessa categoria, em sentido amplo, também
se enquadram os empregados públicos, sujeitos ao regime
jurídico estabelecido a partir da Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT);

3. Particulares em colaboração com a Administração são os


destinatários de funções específicas, realizando-a em nome
próprio, tal como ocorre com os serventuários da Justiça em
serventias (cartórios) extrajudiciais (registro civil das pessoas
naturais, por exemplo).

Os agentes públicos ocupam cargos que integram os órgãos,
que, por sua vez, integram a entidade estatal, na qual desempenham
funções públicas. As funções têm a natureza de encargo (múnus público)
e sempre se destinam a satisfazer as necessidades da coletividade.
(ARAÚJO, 2012)

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Deveres dos Agentes Públicos

Os deveres, ou obrigações, dos agentes públicos estão expressos


no texto constitucional e nos diversos Estatutos dos Servidores Públicos.
A Lei n. 8.429/92 (BRASIL, 2012a) também expressa a possibilidade de
responsabilização da conduta do agente ímprobo, ou seja, autor de ato
de improbidade administrativa 1 (atos de improbidade que importam
enriquecimento ilícito do agente ao do particular beneficiado; atos que
importam dano ao Erário e atos que importam violação aos princípios
da Administração – art. 9°, 10º e 11º). São anotados os seguintes deveres:
a) dever de lealdade (para com a entidade estatal a que está vinculado);
b) dever de obediência (acatamento à lei e às ordens de superiores);
c) dever de conduta ética (de honestidade, moralidade, decoro, zelo,
eficiência e eficácia).

Responsabilidade do Agente

A prática de ato ilícito pelo agente público no exercício de suas


funções pode ensejar a responsabilização civil, criminal e administrativa.

A responsabilidade civil e a responsabilidade criminal são fixadas


pelo Judiciário, segundo as normas do direito civil e do direito penal.
A responsabilidade administrativa é apurada e fixada pela própria

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Administração Pública, em sede de procedimento próprio (processo
administrativo disciplinar ou sindicância). Em qualquer caso, porém,
há necessidade de observância do contraditório e da ampla defesa a
súmula vinculante n. 5 do STF (BRASIL, 2012b), estabeleceu que “a falta
de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar
não ofende a Constituição”. A sanção em razão do cometimento de ilícito
administrativo deve estar prevista em lei, e será fixada em conformidade
com a gravidade da infração. A extinção da pena disciplinar pode
decorrer do seu cumprimento, da prescrição ou do perdão. A prescrição
opera a extinção da punibilidade pelo decurso do tempo e o perdão
depende de lei ou ato normativo geral editado pelo próprio Poder que
aplicou a sanção (o Legislativo não pode impor o perdão aos servidores
do Executivo e vice-versa). A pena de demissão não é suscetível de
perdão. Assim, este somente pode ser concedido enquanto mantido
o vínculo com a Administração Pública.

O Procedimento Sancionatório disciplinado pela Lei nº 10.177/1998


(SÃO PAULO, 2012), dispõe em seus artigos 62 a 64, que nenhuma
sanção administrativa será aplicada a pessoa física ou jurídica pela
Administração Pública, sem que lhe seja assegurada ampla defesa, em
procedimento sancionatório. E que o procedimento sancionatório será

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sigiloso até decisão final, salvo em relação ao acusado, seu procurador
ou terceiro que demonstre legítimo interesse.

A responsabilidade civil pode ser apurada internamente e resultar


em acordo com o servidor sempre que se cuidar de dano causado
ao Estado. A Administração não pode, salvo com a concordância do
servidor, proceder por decisão própria aos descontos em folha de
pagamento. A decisão que imputa a obrigação de reparar o dano não
é dotada de auto-executoridade e apenas com a anuência do servidor
poderá ser efetuada a retenção compensatória. Se o dano tiver sido
praticado contra terceiro, porém, responderá o Estado (Constituição
Federal, art. 37, § 6° [BRASIL, 2012c]), restando-lhe a ação regressiva – o
servidor somente responde administrativa e civilmente perante a pessoa
jurídica a cujo quadro funcional se vincular, e não na ação movida pelo
administrado. Em qualquer caso, para que o agente seja responsabilizado
é indispensável a configuração do ilícito civil (ação, culpa ou dolo,
relação de causalidade e verificação do dano).

A responsabilidade criminal decorre da prática de crime é apurada


pelo juízo criminal. A decisão proferida no juízo criminal, (na ação
penal) somente repercute na Administração (comunicabilidade das
instâncias), inibindo o processamento do processo administrativo se:
a) negar a existência do fato; b) negar a autoria. Assim se determinado
agente é denunciado pela prática do crime de concussão e no juízo
criminal é absolvido porque o fato não ocorreu ou, tendo ocorrido, não

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é o seu autor, deverá ser absolvido na esfera administrativa também.
O mesmo se aplica à responsabilidade civil. O Código Penal (BRASIL,
2012d) determina a possibilidade de perda do cargo, função pública ou
mandato eletivo: a) quando aplicada pena privativa de liberdade por
tempo igual ou superior a um ano nos crimes praticados com abuso de
poder ou violação de dever para com a Administração Pública; b) nas
demais hipóteses quando a pena aplicada for superior a quatro anos.

Por fim, veja-se que perda da função pública, como também


a suspensão de direitos políticos, poderá decorrer de condenação
definitiva imposta em sede de ação de improbidade administrativa.

Demissão do Servidor Estável


A Constituição Federal (BRASIL, 2012c) dispõe em seu art. 41 que
são estáveis após três anos de efetivo exercício os servidores nomeados
para cargo de provimento efetivo em virtude de concurso público. O
servidor público estável só perderá o cargo 2 : em virtude de sentença
judicial transitada em julgado; mediante processo administrativo em que
lhe seja assegurada ampla defesa; mediante procedimento de avaliação
periódica de desempenho, na forma de lei complementar, assegurada
ampla defesa. Invalidada por sentença judicial a demissão do servidor
estável, será ele reintegrado, e o eventual ocupante da vaga, se estável,
reconduzido ao cargo de origem, sem direito a indenização, aproveitado

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em outro cargo ou posto em disponibilidade com remuneração
proporcional ao tempo de serviço. Extinto o cargo ou declarada a
sua desnecessidade, o servidor estável ficará em disponibilidade, com
remuneração proporcional ao tempo de serviço, até seu adequado
aproveitamento em outro cargo. Como condição para a aquisição da
estabilidade, é obrigatória a avaliação especial de desempenho por
comissão instituída para essa finalidade.

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REFERÊNCIAS

ARAÚJO, Edmir Netto. Curso de Direito Administrativo. São Paulo:


Saraiva, 2012.

BRASIL. Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992. Dispõe sobre as sanções


aplicáveis aos agentes públicos nos casos de enriquecimento ilícito no
exercício de mandato, cargo, emprego ou função na administração
pública direta, indireta ou fundacional e dá outras providências.
Diário Oficial, Brasília, DF, 03 jun. 1992. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8429.htm. Acesso em: 17 jul. 2012a.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula Vinculante nº 5. A falta


de defesa técnica por advogado no processo administrativo
disciplinar não ofende a Constituição. Disponível em: http://www.
dji.com.br/normas_inferiores/regimento_interno_e_sumula_
stf/0005vinculante.htm. Acesso em: 24 jul. 2012b.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do


Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Texto consolidado
até a Emenda Constitucional nº 70 de 29 de março de 2012.

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Disponível em: http://www.senado.gov.br/legislacao/const/con1988/
CON1988_29.03.2012/CON1988.shtm. Acesso em: 16 jul. 2012c.

BRASIL. Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal.


Diário Oficial da União, Brasília, DF, 31 dez. 1940. Disponível
em: http://www.stn.fazenda.gov.br/gfm/legislacao/Dec_
Lei2848_1940.pdf. Acesso em: 24 jul. 2012d.

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo.


25. ed. São Paulo: Atlas, 2012.

FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Curso de direito administrativo. São Paulo:


Malheiros, 2010.

MEDAUAR, Odete. O direito administrativo em evolução. São Paulo:


RT, 2011.

MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo.


São Paulo: Malheiros, 2012.

SÃO PAULO (Estado). Lei nº 10.177, 30 de dezembro de 1998. Regula


o Processo Administrativo no âmbito da Administração Pública
Estadual. Diário Oficial do Estado, São Paulo, 31 dez. 1998.
Disponível em: http://dobuscadireta.imprensaoficial.com.
br/default.aspx?DataPublicacao=19981231&Caderno=DOE-
I&NumeroPagina=3. Acesso em: 16 jul. 2012.

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