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Por que se estudar os esqueletos humanos?

Por Ana Luísa

Aula dialogada da professora convidada

Lucas Brito Santana Da Silva

A aula foi iniciada com uma pergunta aberta ao público, esta pergunta que dá
título à aula, ao que se seguiram algumas respostas que não são necessárias ser
expostas aqui. O segundo momento da exposição da profa. Ana Luísa partiu de uma
pergunta aberta sobre qual seria a área de estudos dos esqueletos humanos. Ao que
se seguiu a apresentação da Antropologia Biológica, sua área de atuação, sendo
expostas as possibilidades de estudos sobre os homens a partir da sua estrutura
óssea. De forma sintética, podemos dizer que o estudo dos esqueletos humanos pode
elucidar questões a respeitos dos modos de vida das sociedades e das ocupações
dos seus indivíduos, pode nos revelar, a partir de especificidades nesses esqueletos,
toda uma série acontecimentos culturais, naturais e acidentais que tenham recaído
sobre o exemplar analisado.

Segue-se a apresentação do percurso histórico da antropologia biológica e do


de Departamento de Ciências Da Vida da universidade portuguesa onde a professora
convidada exerce seu ofício. As origens da antropologia biológica, em Portugal, datam
do século XIX, ainda sem esse nome e delimitações atuais, no enredo do
desenvolvimento da antropologia física.

A parte seguinte da aula é designada à exploração da escavação antropológica


e interpretação dos esqueletos humanos, com foco nas interpretações que podem ser
conduzidas a olho nú, sem a necessidade de muitas tecnologias que a área dispõe
para proceder a sua investigação, mas cujo custos as tornam inacessíveis para muitos
pesquisadores e instituições. São apontados alguns conceitos básicos como os de
“artefato” e “estrutura”, e destacadas as relações interdisciplinares entre antropologia
e arqueologia.

A aula continua com a apresentação de alguns estudos conduzidos em


Portugal, com a exploração dos primeiros vestígios humanos encontrados nesse país.
Esses primeiros vestígios datam do paleolítico superior, cerca de 400.000 mil anos
antes do presente, são bastante escassos; foram destacados crânios, algumas
ferramentas líticas e outras evidências que apontam para a manipulação do fogo. Já
no período mesolítico, por volta de 25.000 a.p., a professora destacou um dos
exemplares mais importantes descobertos para essa fase; trata-se dos restos de uma
criança neandertal, que teve a face reconstituída pelos pesquisadores. A partir dessa
datação, os achados no “registro arqueológico” se multiplicam, especialmente no
neolítico português, por volta de 6.000 a.p.; onde a professora destaca várias
estruturas funerárias e enterramentos, com destaque para os “concheiros”.

Dando um salto temporal, a professora parte para a análise de estruturas


funerárias romanas na ibéria, onde pode-se observar uma grande variação nos tipos
de estruturas e enterramentos, presentes num mesmo território; reflexo, por exemplo,
de uma diferenciação cultural, independentemente das causas.

O tópico seguinte da aula é destinado à apresentação da paleopatologia, área


de estudo de doenças a partir dos esqueletos humanos; novamente a professora
destaca o poder da observação à olho nú. Além de doenças que causam alguma
deformação nos ossos, outras doenças podem ser identificadas quando da
calcificação de tecidos moles, para ambos os casos foram apresentados exemplos
pela professa Ana, assim como as possibilidade de interpretação dos comportamentos
que poderiam estar por trás de algumas dessas doenças; entre estas foram citadas
uma doença que causa o crescimento de ossos no ouvido, mais comum em indivíduos
que exerceram ocupações aquáticas, como mergulho e pesca, com agravante de
variáveis temporais; a lepra seria outra doença que deixaria marcas muito particulares
nos ossos, como deformações em mãos e pés; para exemplo de calcificação, foi
apresentado o achado de um ovário com câncer. Para a professora, os pesquisadores
devem ter atenção redobrada para observar tecidos moles calcificados, que muitas
vezes podem ser confundidos com outros materiais sólidos descartáveis. Alguns
desgastes em dentes foram particularmente enfatizados pela professora, pois podem
ser indicativos das ocupações dos indivíduos ou de alguns rituais específicos; como o
caso apresentado de uma arcada dentária encontrada em Portugal, cujos dentes
foram intencionalmente modificados, modificações observados em indivíduos de
origem africana – o que permite interpretar, pela datação conseguida, que se tratava
de um dos primeiros escravos levados ao reino português.

Dando outro salto temporal, Ana Luísa passa à exploração de alguns achados
relativos à Idade Média, sempre em Portugal, onde a professora destaca os
enterramentos. Como o desenvolvimento histórico da região ibérica aponta, aí podem
ser encontrados enterramentos de diferentes povos; os explorados por Ana Luísa são
os enterramentos de povos mulçumanos, para a época em que os árabes dominaram
a região, de cristãos e judeus, cada tipo com suas especificidades, ainda resguardem
algumas semelhanças, como no casos dos judeus e cristãos. Para este período outros
fatores podem contribuir para a identificação e diferenciação dos enterramentos, como
relíquias enterradas com os corpos, broches, moedas, instrumentos bélicos e etc.

Por fim, a professora passa à Idade Moderna, até o marco temporal de 200
anos antes do presente. As análises apresentadas para esse período servem-se do
que foi anteriormente exposto. Com ressalva à cronologia relativa, um dos episódios
interessantes abordados por Ana Luísa é respeitante à identificação de esqueletos de
pessoas mortas durante a Inquisição, onde, no exemplo apresentado, as análises
revelam enterramentos não-rituais ou explicitamente punitivos. E neste ponto o
historiador pode se propor um diálogo frutífero com a antropologia biológico e a
arqueologia, seja de forma complementar à pesquisa histórica, seja por uma
espirituosidade macabra do historiador, que queira revelar questões relacionados às
“vítimas” da inquisição e às formas que morreram.

Igualmente interessante foi o relato do enterramento de uma freira, cujo


esqueleto foi encontrado completamente arqueado, o que não corresponde a
enterramentos cristãos. Neste caso, a documentação escrita foi essencial para a
elucidação do porquê desse enterramento. A carta de um clérigo o respondeu; a freira
foi acometida de várias doenças que acabaram deformando a sua estrutura física, até
o momento em que ela “entregou o espírito a deus”.

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