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Hobsbawm – Da Paz a Guerra (Fichamento)

Parte 1

1 – Sobre a quantidade de pessoas que viveram as duas guerras; sobre o espectro da guerra continuar
a assombra depois de seu fim; sobre o atual tempo de paz ser maturação do desejo bélico.

2 – Sobre a ausência do espectro da guerra entre as potências europeias anterior a 1914 (1815). As
vítimas destas eram sempre países mais fracos. O orienta era o maior genitor de guerras nessa época,
com o império otomano decaindo; os Bálcãs se destacam nessa belicosidade.

3 – A possibilidade de guerra generalizada era prevista na Europa; a partir de 1870, pode-se observar
suas especulações na literatura; Engels analisou sua probabilidade; Nietzsche a saudou. A partir de
1890 criam-se os conselhos para evitar a explosão da guerra: Congresso Mundial Para A Paz; As
Conferências Da Paz de Haia (1899); e várias reuniões internacionais. Contudo, a partir de 1900-10 a
guerra era vista como iminente.

4 – Quase ninguém acreditava que uma guerra mundial fosse realmente estourar, mesmo depois de
iniciados os primeiros passos da destruição bélicas no 28 de julho de 1914; nem os socialistas o criam
nem Guilherme II da Prússia.

5 – Sobre os exércitos: cumpriam função civil de 1871 a 1914. Mantinha-se o alistamento obrigatório;
para os recrutas comuns cumpria um papel de ritual de passagem para idade adulta, cheio de
sofrimentos compensados pela farda encantadora de mulheres; para os suboficiais, um prego; para os
oficiais, um jogo infantil para adultos, status social de superioridade aos civis e outros; para os generais
terreno de intriga política e mimos da carreira militar. Para os governos e classes dominantes: os
exércitos serviam para enfrentar os inimigos, externos e internos, e para garantir a lealdade dos
cidadãos arredios. Junto do ensino escolar, o serviço militar foi um meio de cultivar a identidade
nacional. Apesar de tudo, os exércitos eram mobilizados quando de desordens sociais, vitimando
numero significativos de civis. Os confrontes externos eram incomparavelmente mais mortais do que
os internos para esses exércitos, e muitos homens pereceram menos no combato do que vítimas de
doenças - ainda assim, os danos aos inimigos desses soldados na maioria das vezes muito maiores.

6 – Os civis e não os militares tinham vislumbrado os desastres da guerra: previsão: “o empate militar
da guerra de trincheiras, o que levaria a um conflito prolongado cujos custos econômicos e humanos
intoleráveis exauririam os beligerantes ou os fariam mergulhar na revolução social”. Desastre
alimentado pelos avanços nas tecnologias militares. De fins do XIX para o XX, a corrida armamentista
entre os estados se acirra, tornando a preparação para guerra cada vez mais cara, gastando-se cada
vez mais na produção de armas e tecnologias. Todos esses gastos levaram os estados a aumentarem
os impostos e a se endividarem com empréstimos.

7 – A morte se torna um subproduto da indústria de larga escala – a simbiose entre guerra (estado) e
produção de guerra (indústria), entre estado e indústria, a grande indústria acaba por transformar-se
numa necessidade política (do estado); por outro lado, a indústria bélica se torna dependente do
estado, este como o seu grande consumidor. Nessa retroalimentação, o estado impõe um
desenvolvimento à indústria, armas melhores que garantam superioridade bélica, assim como impõe
uma capacidade de produção perpétua, mesmo em tempos de paz, para o momento da guerra real.
Assim, os estados tinham que arcar com os gastos de manutenção e desenvolvimento da indústria
bélica, livrando esta das intempéries do capitalismo liberal – o seu desenvolvimento era regido não
pela concorrência de mercado mas pela concorrência entre os governos. Alguns estados, como o
britânico, fizeram contratos com empresas privadas para o fornecimento bélico – afirmando-se, assim,
o monopolismo incipiente pari-passo com a guerra. Essa indústria bélica também estava a empregar
um grande número de pessoas, cada vez maior desde fins do XIX.

8 – As estratégias propagandísticas das empresas de bens bélicos também exerceram papel


importante no desenvolvimento dessa indústria, dispersando gatilhos que fizeram os governos investir
mais na compra e produção de armamentos. Parte dessa torrente armamentista acabou tomando os
rumos de países do Oriente e da América, geralmente armamento obsoleto. A acumulação de
armamento se acelerou até o dia no qual estou a guerra, entretanto, na interpretação de Hobsbawm,
não foi o acumulo que levou à explosão da guerra, mas a situação internacional que o gerou a
competição armamentista.

Parte 2

1 – Sobre a profusão contínua e perpétua das tentativas de explicar a primeira guerra mundial: porque
a diplomacia internacional não conseguiu impedi-la; os documentos liberados pela revolução russa
levaram ao apontamento do imperialismo como culpado; os aliados vitoriosos criaram a teses da
“culpa da guerra”, que recaia sobre a Alemanha; com a segunda guerra a discussão é retomada; na
atualidade (1980), o próprio presente é utilizado pelos historiadores como paralelo mais semelhante
das circunstâncias que fizeram eclodir a guerra.

2 – O historiador não deve buscar um culpado ao fazer a história da primeira guerra mundial, isso não
significa negar a força causal das atitudes dos estados beligerantes. No século XIX, a guerra era vista
como uma possibilidade normal da política internacional, estavam prontos a fazê-la se achassem
necessário, não estranhamente estados possuíam um “ministério de guerras”. Apesar disso, as
potências europeias, de 1870 em diante, não queriam uma guerra mundial ou particular entre algumas
de si; para Hobsbawm, é prova disso os conflitos que essas nações encabeçavam nos mundos
ultramarinos acabarem resolvidos por acordos “pacíficos”. As guerras que deflagravam se davam
situações favoráveis e tinham proporção limitada. Nenhuma potência tinha objetivos só realizáveis
através da ameaça ou da guerra propriamente dita – como teria a Alemanha de Hitler.

3 – Ao passo que a guerra mundial parecia inevitável, os estados passaram a atentar ao momento ideal
para por em marchar os brinquedos assassinos. Assim, a partir de 1912, a Alemanha despertou para a
guerra, garantindo apoio à Áustria contra a Servia, depois de alguns sérvios eliminarem o arquiduque
austríaco. Em 1914 todos os países anulam a paz, acreditando que sucumbiriam se não deflagrassem
a guerra.

4 – A formação dos blocos beligerantes: os blocos entre as potências europeias começam a se formar
diante do Império Alemão unificado, especialmente contra a perdedora França; esses blocos só tornam
a guerra uma ameaça iminente conforme as alianças se tornam permanentes e as disputas
inadministráveis. Alemanha e França estavam em lados opostos devido a anexação que a primeira fez
dos territórios da Alsácia-Lorena. A aliança entre Alemanha e Áustria, longamente firmada por
Bismarck, se fazia anunciar devido a necessidade que o império Alemão tinha deste segundo império
para não se desintegrar, o que veio a acontecer. Desse primeiro bloco, as alianças que se fizeram durar
(1871-1914) foi a “Tríplice Aliança” entre Alemanha, Áustria-Hungria e Itália – até esta última mudar
de lado em 1915. Os conflitos da Áustria nos Bálcãs, e a anexação de alguns territórios nessa região,
opôs o Império Austro-húngaro à Rússia; acabando no desmanche dos laços entre alemães e russos, e
na união destes com os franceses. Até aí, as disputas entre os impérios não tornavam a guerra
inevitável.

5 – Segundo Hobsbawm: “Três problemas transformaram o sistema de aliança numa bomba-relógio:


a situação do fluxo internacional, desestabilizado por novos problemas e ambições mútuas entre as
nações, a lógica do planejamento militar conjunto que congelou os blocos que se confrontavam,
ornando-os permanentes, e a integração de uma quinta grande nação (inesperadamente), a Grã-
Bretanha (entre 1903-1907)”.

6 – A formação da “Tríplice Entente” (Inglaterra, Rússia, França): Rússia e Inglaterra haviam sido
antagonistas por longos anos, principalmente nas disputas nos Bálcãs, no Mediterrâneo e nos
territórios entre Rússia e Índia; os dois países se enfrentaram na única guerra oitocentista que a Grã-
Bretanha participou (Guerra da Criméia). Dada a diplomacia britânica, que buscava o equilíbrio do
poder entre as potências europeias, uma aliança sua com a França (velha inimiga) e a Rússia parecia
impensável – ainda mais para combater a Alemanha, império com o qual não possuíam atritos. Por
que a tríplice entente se tornou possível? Hobsbawm aposta no aparecimento de novas potência e na
mudança da diplomacia internacional. As disputas (rivalidade) não eram mais intra-europeias e
territórios adjacentes, eram globais e imperiais; Japão e EUA apareciam como novos competidores,
com o segundo reivindicando todo o território americano como sua zona de influência imperial, e o
primeiro, aliado britânico, abrindo os caminhos para a aliança entre Grã-Bretanha e Rússia – fazendo
pressão sobre esta última após derrotá-la uma vez. Assim, a rivalidade europeia passou a se deflagrar
em territórios africanos, principalmente, em território asiáticos e nos territórios dominados pelo
decadente Império Otomano. A Entente também foi fomentada pela perca de centralidade econômica
da Grã-Bretanha; possuidora da maior frota marinha do mundo e durante um bom tempo, até fins do
século XIX, a terra mais fértil do capitalismo industrial. O declínio industrial britânico, acompanhado
de sua ascensão financeirista, seguindo paralelamente com o desenvolvimento industrial de vários
países, mais a competição mundial – acabou formando um cenário de junção entre política e
economia, com sua expressão mais evidente no reaparecimento do protecionismo a partir da Grande
Depressão (1929). Os países de economia capitalista passam a depender do Estado para manter a
concorrência afastada e o Estado passa a forma sua imagem de poder (potência) a partir do
desenvolvimento econômico.

Para o historiador inglês, “No entanto, o desenvolvimento do capitalismo empurrou o mundo


inevitavelmente em direção a uma rivalidade entre os Estados, à expansão imperialista, ao conflito e
à guerra”. Entretanto, o autor asserta que esses movimentos não foram produzidos conscientemente
pelos capitalistas, estes, em sua maioria, queriam a permanência da paz, da estabilidade das relações
internacionais que permitiam o comércio.

7 – O perigo decorrente da identificação entre poder econômico e poder político: essa identificação já
havia levado a disputa por mercados internacionais e por recursos materiais, o que levou a afirmação
do imperialismo; a exemplo da “petro-diplomacia”, já instalada no Oriente Médio antes da Guerra. A
divisão pacífica do mundo, com anexação de território ou formação de zonas de influência, ia se
tornando insuficiente para o apetite desmedido do capitalismo. Uma solução diplomática datada
apresentada pelos estados, com excelência no caso de Bismarck, era a definição e limitação dos
objetivos de cada potência nos territórios a ser dominados – o que não excluía o uso da força militar
se se achasse necessário. Daí uma suavização das relações internas das potências europeias e a
compensação na agressão do restante do mundo, agressão que na guerra eclode entre si mesmas.
Guilherme II da Alemanha, colocando abaixo o espírito moderado de Bismarck, expressava os
resultados da “equação entre crescimento econômico ilimitado e poder político”, da tendência
expansionista intrínseca do capitalismo – “hoje a Alemanha, amanhã o mundo inteiro”.

A ascensão econômico-política da Alemanha passava pela construção de uma grande frota naval, uma
esquadra de guerra para essa nova nação, cujo oficialato representava predominantemente sua classe
média. Nesse momento, a Grã-Bretanha já era deste mundo, sua frota marítima tinha caído
proporcionalmente em relação aos demais países – já não conseguia alcançar a soma das frotas das
duas maiores potências navais depois de si, que era o objetivo britânico.

Formada sua esquadra de guerra, a Alemanha a posicionou de frente para as ilhas britânicas, no Mar
do Norte. Queriam o conflito, segundo Hobsbawm. Enquanto a domínio de territórios marítimos se
fazia essencial para os britânicos, para os alemães sua necessidade era mais marginal.

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