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ROTEIRO EPISÓDIO 5
A UNIVERSIDADE DO CRIME
GIL ALESSI LUIZ BOLOGNESI
Obs: O texto a seguir, a sugestão de entrevistados e proposta de perguntas servem para nortear a direção sobre a trilha
narrativa a seguir, sendo o exercício de montagem, respeitando o resultado das entrevistas com os especialistas, o eixo
principal a ser seguido.
SEQ 1
Porém, nem tudo era um mar de rosas. Uma grande parcela da população não recebeu a sua fatia do
bolo: milhares de brasileiros passavam fome e 25% eram analfabetos. As desigualdades sociais se
aprofundavam: os 10% mais ricos concentravam 51% da renda.
Mas reclamar desta situação não era uma boa ideia. O país viva uma ditadura militar sob o comando do
general João Figueiredo. Em 1979 o aparato de repressão do regime já havia exterminado os grupos
guerrilheiros que, de armas em punho e ideais socialistas na cabeça, haviam enfrentado o governo nas
décadas anteriores. Tudo ia bem para os militares.
Até que no dia 17 de setembro de 1979, uma rebelião dentro do presidio de segurança máxima da Ilha
Grande, conhecido como O Caldeirão do Diabo, mudaria a história do país. Atrás das grades tinha início
uma das maiores Guerras de todos os tempos no Brasil, que já dura quase 40 anos.
Uma Guerra que varre o país de Norte a Sul, das fronteiras com Bolívia, Colômbia, Paraguai e Peru até os
gabinetes do Congresso Nacional em Brasília. E que cobra seu preço em sangue nas periferias do Brasil.
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SEQ 2
O Caldeirão do Diabo, no Rio, abrigava alguns dos presos mais perigosos do Estado: assaltantes de
joalherias, casas lotéricas e assassinos. O tráfico de drogas, na época, era considerado pela bandidagem
como um crime "pé de chinelo". Atrás das grades vigorava a lei do mais forte. Violência, estupros e
assassinatos de presos eram comuns nas penitenciárias do país. Pequenos grupos de detentos
exploravam a massa carcerária, dominada com violência e terror.
Foi nesse caldeirão de violência que, ao longo das décadas de 1960 e 1970, os militares cometeram o erro
estratégico de misturar presos políticos com detentos comuns. Com este convívio, os ideais libertários
dos guerrilheiros Carlos Marighella e Ernesto Che Guevara passaram a fazer parte do vocabulário dos
presidiários.
Na tarde ensolarada daquele 17 de setembro de 1979, este caldeirão explodiu. Organizados sob o nome
de Falange Vermelha, um grupo de detentos se rebelou, exterminou as pequenas falanges rivais que
oprimiam os demais presos, e impôs o seu lema: Paz, Justiça e Liberdade.
Mais tarde, os integrantes da Falange fugiriam do Caldeirão e, escondidos nas favelas do Rio,
organizariam-se e sob o nome de Comando Vermelho. E a história do crime organizado do país nunca
mais seria a mesma.
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SEQ 3
Até a década de 1990 o Comando Vermelho reinou praticamente absoluto, controlando o tráfico de
drogas no Rio de Janeiro a partir das favelas e presídios do Estado. Mas à partir de 1994, com a criação
das facções Terceiro Comando e Amigos dos Amigos, o grupo surgido na Ilha Grande viu seu império
ameaçado. Foi o começo de uma década sangrenta, que deixou um rastro de morte principalmente nas
periferias do Estado. Entre 1983 e 1995, as taxas de homicídio na capital e na região metropolitana do Rio
crescerem 345%, um numero assustador comparado com o aumento de 73% na média nacional.
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SEQ 4
Enquanto o Rio mergulhava em sangue, no Estado de São Paulo reinava uma aparente calmaria. Até que
em 18 de fevereiro de 2001 as autoridades foram pegas de surpresa pela tempestade que varreu o
sistema penitenciário paulista. Naquele dia, o Primeiro Comando da Capital mostrou sua cara à
população, comandando a maior rebelião carcerária da história: a facção organizou motins simultâneos
em 19 presídios do Estado, mobilizando mais de 25 mil presos. No pátio do Carandiru, que pouco menos
de uma década antes havia sido palco de uma ação desastrada da Polícia que terminou com o massacre
de 111 detentos, o PCC recuperou o lema do Comando Vermelho, e escreveu em cal branca no chão de
terra: "Paz, Justiça e Liberdade".
(especialista fala da magnitude da ação + história do surgimento do PCC na Casa de Custódia de Taubaté
+ estatuto da facção + inspiração no CV)
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SEQ 5
Mas o pior ainda estava por vir. Nos dias 11 e 12 de maio de 2006 as autoridades paulistas transferiram
765 presos para a penitenciária de segurança máxima de Presidente Venceslau, no interior do Estado.
Entre eles estava o poderoso Marcos William Camacho, o Marcola, um dos maiores líderes da facção.
O PCC reagiu. No dia 12 o grupo organizou motins simultâneos em 74 presídios do Estado, e deu início à
maior e mais sangrenta série de atentados contra agentes das forças de segurança da história de São
Paulo. Carros, bases da polícia, delegacias e PMs foram atacados a bala. O pânico e o medo paralisaram a
maior cidade do país.
Em resposta aos ataques do PCC, grupos de extermínio revidaram nas periferias do Estado, e passaram a
executar jovens pobres aleatoriamente. Entre os dias 12 e 21 de maio, quando o ciclo de violência parou,
o saldo era de 505 civis 59 agentes de segurança mortos.
O banho de sangue só parou quando Governo e PCC entraram em acordo: as negociações, que teriam
envolvido delegados, advogados e o próprio Marcola, até hoje estão envoltas em mistério.
(Acho que após esse off o especialista pode abordar a questão da redução dos homicídios em SP dos anos
90 até os anos 2000, por obra do PCC. Deixei essa info de fora dos offs por questão de espaço, mas acho
fundamental até para diferenciar a carnificina que é o Rio de Janeiro comparado a SP, onde o PCC proibiu
assassinatos em presídios e favelas. A Camila e o Bruno Mando [indicados na lista de especialistas] falam
bem sobre os 'tribunais do crime)
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SEQ 6
As autoridades responderam ao problema das facções com mais prisões. Se em 1990 o país tinha 90.000
presos, em 2014 o número chegou a 622.000, um aumento de 267%. Hoje temos a quarta maior
população carcerária do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, China e Rússia. Por aqui, cada preso
custa em média 20.000 reais por ano.
O perfil destes presos é um retrato dramático do efeito que a guerra às drogas teve em uma parcela da
população. 60% dos detentos são negros, a maioria jovens. E 30% estão presos por tráfico.
Sem levar em conta o fato de que as duas maiores facções criminosas do país surgiram dentro dos
presídios, as autoridades se encarregaram de enche-los com potenciais recrutas. Não à toa se diz que
cadeia é a faculdade do crime.
(Especialista fala sobre a relação entre tráfico, encarceramento em massa e fortalecimento do crime
organizado)
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SEQ 7
Durante décadas a polícia foi a principal ferramenta dos Governos para combater o tráfico, e o maior
braço do Estado nas comunidades pobres. Com verdadeiras operações de guerra dentro de favelas
densamente povoadas, estas ações deixaram um saldo de centenas de traficantes e policiais mortos. E
colocaram a população das favelas na linha de tiro: as balas perdidas sempre têm endereço.
Até que em 2008 um secretário de Segurança Pública tentou fazer diferente: ao invés de entrar nas
comunidades apenas com a polícia, porque não levar também serviços públicos?
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SEQ 8
Os Governos adotaram uma estratégia de combate ao tráfico mais focada em repressão do que em
prevenção. Com isso as facções cresceram e se consolidaram. Hoje estima-se que o mercado das drogas
movimente mais de 15 bilhões de reais por ano no país. As facções contam com verdadeiros exércitos:
apenas o PCC tem quase
20.000 integrantes.
O Comando Vermelho e o PCC se espalharam por todo o país, e hoje estão também nos países vizinhos.
Com o passar dos anos, as autoridades viram surgir também outras facções como a Família do Norte, no
Amazonas, Okaida, na Paraíba, e o Primeiro Grupo Catarinense, em Santa Catarina. Hoje o Brasil conta
com ao menos 14 diferentes grupos criminosos, alguns aliados, outros rivais.
(especialista fala sobre crescimento das facções, ambição pelo domínio da rota para Europa, controlar as
rotas do Mato Grosso do Sul e do Norte, etc)
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SEQ 9
Os traficantes têm armas, dinheiro, pequenos exércitos e o controle sobre boa parte do território do país.
Mas ainda faltava algo para que consolidassem seu domínio: o poder político. Desde os anos 2000 as
facções tentam infiltrar seus representantes nas câmaras e assembleias municipais, e até mesmo em
prefeituras. Como os redutos eleitorais de muitos candidatos ficam em áreas dominadas pelo tráfico,
criou-se uma relação promíscua entre alguns políticos e os criminosos.
Até hoje as autoridades conseguiram identificar e prender a maioria destes candidatos do crime. Mas
agora, com uma nova lei que proíbe o financiamento de campanhas eleitorais por empresas, existe o
temor de que as facções irão fazer seu movimento mais ousado no pleito de 2018.
(especialista falando do risco do Brasil virar um "narco Estado" como o México, eleger políticos, etc)
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SEQ 10
De 1979, ano em que surgiu o Comando Vermelho, até os dias atuais, estima-se que mais de um milhão
de pessoas no país foram vítimas diretas e indiretas desta guerra. Mais brasileiros perderam a vida do que
a soma dos mortos nos conflitos do Iraque e Síria.
Enquanto países europeus e os Estados Unidos começam a rever sua política para drogas, flexibilizando
leis, legalizando a maconha e prendendo menos, o Brasil vai na contramão.
Por aqui, aumenta o investimento na construção de cadeias. Uma vez erguidas, precisam ser enchidas. E
os Governos continuam encarando a questão das drogas como problema de polícia.
Além de se meter na política, existem suspeitas de que as facções conseguiram também corromper juízes
e desembargadores, que facilitam a concessão de habeas corpus e regalias dentro dos presídios. Alguns
magistrados que não entraram no jogo do crime foram assassinados covardemente.
( ANOTAÇÕES )
História do Crime Organizado no Rio de Janeiro
(comentário – Joranlista Carlos Amorim)
- 1969 – Militares fizeram emendas a Constituição – reintrodução da pena de morte para
determinados crime, principalmente para oposição armada ou regime militar.
- Descobriu no presídio: armas e dinheiro emparedados pela ALN. (Roubo de banco)
- Todos os preços políticos foram despachados para Ilha Grande.
- Falagens por origem geográfica, apareceu depois do desembarque a falange vermelha.
- Havia pedágios nas galerias, roubos de comidas, remédios.
- Inciativas coletivizantes: farmácia feita de doações, adoção de presos abandonados pelas famílias.
- Gerando a criminalidade organizada.
(comentário José Mariano Beltrame, Ex- secretário de Segurança-RJ)
- Alguns anos depois a falange vermelha passa a ser chamada pela imprensa de Comando
Vermelho e eles assumem o nome.
- Nos anos 80 esse comando se tripartiu em: C.V. ( Comando Vermelho), A.D.A. ( Amigos dos
Amigos) e T.C.P. ( Terceiro Comando Puro).
- Esses grupos procuraram lugares para se intalarem, geralmente se instalam na periferia. No R. J,
a períferia está dentro das cidades que são os morros.
- Para proteger esse império eles começam a se armar. Não só para impedir a entrada da polícia,
mas para que os grupos rivais não viessem a tomar o seu mercado.