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A INFLUÊNCIA DE ABELHAS POLINIZADORAS NATIVAS NA PRODUÇÃO


DE UMBU NA REGIÃO DE CAATINGA EM XIQUE-XIQUE/BA-BRASIL

Hugo Aniceto Gomes


Renata Rodrigues dos Santos

INTRODUÇÃO

A caatinga é o único bioma totalmente brasileiro, ocupando aproximadamente 11% do território


do país, isto significa cerca de 845.000 km² e inclui todos os estados nordestinos além de Minas
Gerais. Apesar de ter sido visto como um lugar sem vida durante muito tempo, esse bioma
apresenta incrível biodiversidade com índices consideráveis de endemismo (LEAL, 2005).
Essas espécies que ocorrem apenas nessa região vêm sofrendo reduções cada vez mais
acentuadas devido a interferência humana. De acordo com Marco Antônio Drumond,
pesquisador da Embrapa Semi-Árido, as atividades que mais afetam a sobrevivência do bioma
caatinga são as que se utilizam dos seus recursos vegetais de maneira extrativista.
Tais atividades atingem também a apifauna que perde o seu abrigo e é obrigada a se deslocar o
que resulta na queda dos índices de polinização, e consequentemente, de reprodução floral.
O umbuzeiro (Spondias tuberosa) é uma espécie pertencente à família Anacardiaceae e que
possui uma reprodução por polinização cruzada o que torna a presença de polinizadores
indispensável.
O objetivo desse projeto é apresentar em dados estatísticos a importância da apifauna nativa na
qualidade do fruto e consequentemente na recuperação das populações de umbuzeiro na
caatinga.
A pesquisa sobre a polinização feita por abelhas nativas no umbuzeiro apresenta extrema
relevância devido a fatores como a inegável importância desses polinizadores para a reprodução
da espécie Spondias tuberosa que se encontra ameaçada de extinção, assim como a sua
importância ambiental na região de Xique-Xique.

ABELHAS E POLINIZAÇÃO

A polinização é o processo de reprodução das plantas e para que ela ocorra, é necessário a
presença de polinizadores como abelhas, vespas, borboletas, pássaros, pequenos mamíferos,
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morcegos ou até mesmo o vento e a chuva, responsáveis pela transferência do pólen entre os
órgãos masculinos e femininos da planta. Dentre todos estes indivíduos as abelhas são os que
melhor se adaptaram para esta tarefa, havendo assim uma relação de dependência entre o
polinizado e o seu polinizador. (SOUZA, 2007).
As abelhas compreendem uma gama diversa e numerosa, existem mais de 20 mil espécies no
mundo. No Brasil, existem cerca de 400 espécies catalogadas, no entanto, estima-se que existam
aproximadamente 3000 espécies no país. As espécies nativas do país são, em sua imensa
maioria, sem ferrão.
Segundo Couto (2002), a interação planta-abelha garantiu o sucesso da polinização cruzada,
conferindo às plantas maior resiliência e aumentando a produção de frutos e sementes.
Das espécies de plantas com flores conhecidas pelo homem, cerca de 88% dependem de animais
polinizadores em algum momento da sua vida. Mais de 75% das espécies que utilizamos para
a produção de alimentos dependem da polinização para uma produção de qualidade e em
quantidade (MORSE & CALDERONI, 2000).

O DESAPARECIMENTO DE ABELHAS NA CAATINGA

A vegetação da caatinga é bastante exigente quando o assunto é escolher um polinizador. Várias


espécies de plantas nativas são polinizadas por apenas uma espécie. Logo, se a população dessa
planta cai, a população do seu polinizador cai também e vice-versa.
Existem alguns fatores naturais que têm levado ao desaparecimento de abelhas no mundo
inteiro como fungos que prejudicam a digestão de pólen, ectoparasitas naturais e algumas
espécies de vírus como o DWV e o IAPV (MORSE & CALDERONI, 2000).
No entanto o fator que mais implica no desaparecimento das abelhas na caatinga é a ação
antrópica, tais como: A aplicação indiscriminada de pesticidas principalmente os
neonicotinoides que são os mais consumidos atualmente no Nordeste brasileiro e atingem o
sistema reprodutor da planta, que tem contato direto com o polinizador além de provocar
desorientação dos mesmos quando a dose não é letal; Desmatamento e queimadas para o
estabelecimento de áreas de agropecuária, que atingem os polinizadores em vários níveis,
destroem os ninhos e enxames de abelhas, reduz a oferta de alimento para os que sobrevivem e
a área de nidificação, o grande espaço entre as poucas áreas preservadas faz com que o fluxo
gênico decresça significativamente.
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METODOLOGIA

Área de estudo
O estudo será realizado em fazendas do município de Xique-Xique na Bahia, situado em área
de caatinga e próximo ao Rio São Francisco. Em um primeiro momento serão demarcadas 3
áreas do município abrangendo 500m² cada uma e as mesmas devem apresentar as seguintes
características: Área 1 – Região desmatada apresentando apenas o umbuzeiro como planta
nativa, essa característica é bastante comum na região, os fazendeiros removem toda a
vegetação nativa exceto o umbuzeiro e utilizam a mesma para cultivo e/ou criação de gado;
Área 2 – Região com presença de plantas nativas, porém próxima a plantações exóticas; Área
3 – Região isolada e preservada com alta densidade de espécies nativas.

Coleta de dados
A coleta dos dados se estenderá a partir do período de floração (setembro) até o final da
produção (janeiro). Na época de floração serão identificadas as espécies de abelha que estarão
efetuando a polinização em cada uma das áreas os espécimes serão coletados fazendo uso de
redes entomológicas em flores e em voo nos horários de maior atividade. Em seguida será
realizada a identificação e quantificação de colmeias das espécies polinizadoras em um raio de
500m a partir do centro da área. Na época de produção serão levantadas as médias de frutos por
metro cúbico de cada área essa média será estabelecida a partir da escolha de 2 espaços de 1m²
em cada umbuzeiro a soma dos frutos coletados em todos os umbuzeiros da área será dividida
pela quantidade da árvore multiplicado por 2 (já que são 2 coletas por árvore). Na oportunidade
será feita a quantificação de umbus defeituosos em cada uma das áreas.

Disposição dos dados coletados


Os dados levantados durante a pesquisa serão dispostos utilizando dos critérios sugeridos pela
Anova two way (dois fatores) e em forma de tabela conforme o exemplo a seguir:
MÉDIA DE FRUTOS DEFEITUOSOS (%)
ÁREA 1 X X
ÁREA 2 X X
ÁREA 3 X X
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RESULTADOS ESPERADOS

A julgar pelas características físicas das abelhas nativas e a fragilidade da flor do umbuzeiro,
espera-se que a área de mata virgem e provavelmente com maior número de polinizadores
nativos apresente mais quantidade e qualidade de frutos. A área mais próxima a vegetação
exótica deve apresentar um número de frutos um pouco menor, considerando que nessa área
haverá maior índice da espécie exótica Apis melífera como polinizadora, essa espécie pode
derrubar a flor do umbuzeiro durante o processo de polinização graças ao seu tamanho e peso,
além disso por não ser uma espécie específica para o umbu, espera-se que a porcentagem de
defeituosos seja um pouco maior nessa região. Na área desmatada a quantidade de frutos deve
cair bastante pois é provável que um menor número de polinizadores visite tal localidade, o
percentual de defeito nos frutos deve ser maior ou igual ao da segunda área.

REFERÊNCIAS

BARRETO, Lílian Santos et al. Tipos polínicos dos visitantes florais do umbuzeiro (Spondias
tuberosa, Anacardiaceae), no território indígena Pankararé, Raso da Catarina, Bahia, Brasil.
Revista Virtual Candombá, v. 2, p. 80-85, 2006.

CASTRO, M.S. A comunidade de abelhas (Hymenoptera; Apoidea) de uma área de


caatinga arbórea entre os “inselbergs” de Milagres (12º53’S; 39º51’W), Bahia. 2001. 191f.
Tese (Doutorado em Ecologia) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2001.

LEAL, Inara R. et al. Mudando o curso da conservação da biodiversidade na Caatinga do


Nordeste do Brasil. Megadiversidade, v. 1, n. 1, p. 139-146, 2005.

LOPES, ARIADNA VALENTINA. Polinização de Spondias tuberosaArruda (Anacardiaceae)


e análise da partilha de polinizadores com Ziziphus joazeiroMart.(Rhamnaceae), espécies
frutíferas e endêmicas da caatinga. Revista Brasil. Bot, v. 30, n. 1, p. 89-100, 2007.

MORSE, Roger A.; CALDERONE, Nicholas W. The value of honey bees as pollinators of
US crops in 2000. Bee culture, v. 128, n. 3, p. 1-15, 2000.
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SOUZA, Darklê Luiza; EVANGELISTA-RODRIGUES, Adriana; PINTO, MSC. As Abelhas


Como Agentes Polinizadores (The Bees Agents Pollinizer’s). REDVET. Revista electrónica
de Veterinaria, v. 1695, p. 7504, 2007.

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