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Revista Brasileira

ISSN 1982-3541 de Terapia Comportamental


Volume XVIII no 2, 130 - 136 e Cognitiva

Resenha do Livro “Terapias comportamentais


de terceira geração: Guia para profissionais”,
organizado por Gouveia, J.P., Santos, L.P.
& Oliveira, M.S. Novo Hamburgo: Editora
Sinopsys (2015).

Book Review “Terapias comportamentais de terceira geração: Guia para


profissionais”. Edited by Gouveia, J.P., Santos, L.P. & Oliveira, M.S.
Novo Hamburgo: Editora Sinopsys (2015).

Reseña del libro “ Terapias comportamentais de terceira geração:


Guia para profissionais “, organizado por Gouveia, J.P., Santos, L.P. &
Oliveira, M.S. Novo Hamburgo: Editora Sinopsys (2015).

Alisson Ferreria Lepienski - FACEL


Ana Paula Gumiela - FACEL
Antoniela Yara Marques da Silva - FACEL
Gabriele Spenst Ott Lederer - UFPR *
Katia Daniele Biscouto - UP
Mônica Laís Camoleze - UFPR
Rodrigo Henrique Puppi – UFPR

Inicialmente, Steven Hayes e Jacqueline Pistorello fases no Brasil e no restante do mundo. Ademais é ci-
pontuam que o livro retrata a terceira geração da tera- tada a importância da psicologia baseada em evidên-
pia cognitiva e comportamental no Brasil e nos demais cias no decorrer desse desenvolvimento e quais foram
países de língua portuguesa, descrevendo brevemen- as contribuições dessa longa tradição de ciência com-
te o desenvolvimento histórico da terapia cognitiva e portamental e psicológica dos países de língua portu-
comportamental e fazendo um paralelo entre as suas guesa no cenário atual das terapias da terceira geração.

* gabinhaott@gmail.com

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Steven Hayes e Jacqueline Pistorello, autores do pre- operacionalização precisa do termo mindfulness
fácio deste livro, foram também personagens impor- (atenção), esclarecendo a origem do termo e des-
tantes na história da Terceira Geração de Terapias vinculando-o das práticas comumente associadas ao
Comportamentais. Ele foi o precursor da Terapia budismo ou às práticas de meditação. Mais do que
de Aceitação e Compromisso (ACT) e permanece isso, apresenta-se o conceito de mindlessness (desa-
com participação importante no desenvolvimento de tenção) e como ele pode ser reduzido pela prática de
pesquisas relacionadas à ACT e aspectos da cogni- métodos específicas para o treino de atenção plena.
ção humana que levam ao sofrimento. Enquanto ela, As técnicas de mindfulness passaram a ser estudadas
além de escritora, produz pesquisas envolvendo as- academicamente e empregadas com resultados sóli-
pectos da ACT e da Terapia Comportamental Dialéti- dos em diferentes intervenções psicoterápicas, como
ca (DBT) no trabalho com estudantes universitários. em protocolos de medicina comportamental, Terapia
de Aceitação e Compromisso (ACT), Psicoterapia
No capítulo um é apresentado um histórico das três Analítico-Funcional (FAP) e Terapia Comportamen-
ondas de terapias comportamentais. Baseando-se tal Dialética (DBT). O que se mostra é um cenário
principalmente na narrativa e nos conceitos de Ste- de estudo e aplicação ainda incipiente no Brasil, mas
ve C. Hayes, destaca-se a terapia comportamental que vem sendo ampliado com a difusão de estudos e
como um movimento que busca embasar cientifica- grupos de trabalho.
mente a prática psicoterápica, principalmente pelos
princípios psicológicos básicos, e que se caracteriza No capítulo três, por sua vez, a Terapia Cognitiva
por ser ativa, focada em aspectos do presente e de é outra abordagem que se beneficia das práticas de
aprendizagem, ideográfica, progressiva e breve. Ten- mindfulness. Terapia Cognitiva Baseada em Mindful-
do em vista que diferentes estratégias tiveram esses ness foi inicialmente desenvolvida para trabalhar es-
mesmos objetivos e características, Lucena-Santos, pecificamente na prevenção de recaídas de pacientes
Pinto-Gouveia e Oliveira (2015) descrevem a divi- depressivos em remissão, num modelo bem estrutu-
são das Terapias Comportamentais em três ondas. Os rado com oito semanas de duração. Conforme deta-
autores apresentam um panorama histórico das moti- lham Rangé e Souza, essa modalidade de intervenção
vações que levaram a mudanças na prática clínica do foi aplicada a outras demandas clínicas com o passar
terapeuta comportamental e cognitivo, levando em do tempo, tendo sempre o foco sobre o trabalho de
conta aspectos filosóficos, científicos, pragmáticos experiências pessoais livre de julgamentos. A prática
e até mesmo geográficos que influenciaram a diver- de mindfulness permite que o paciente se torne mais
sidade de práticas consideradas comportamentais e hábil em se desengajar de comportamentos automá-
que culminam no que denominam Primeira, Segunda ticos, podendo se expor aos testes de realidade, o que
e Terceira Onda de Terapias Comportamentais. Além agiliza o processo de reestruturação cognitiva e per-
disso, os autores discutem as limitações e divergên- mite um ganho de autonomia para o próprio paciente.
cias da utilização dessa terminologia.
No capítulo quatro, o Programa de Redução de Estres-
No capítulo dois, ao abordar seu papel nas terapias se Baseado em Mindfulness é apresentado por Kozasa,
cognitivo-comportamentais, Ramos parte de uma Little e Souza. Esse programa estruturado tem como

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objetivo principal ensinar ao paciente formas de lidar No capítulo seis, a Teoria das Molduras Relacionais
com processos dolorosos e períodos de crise em sua (Relational Frame Theory – RFT) é apresentada
vida, fortalecendo seu repertório de enfrentamento e como um conjunto de explicações e reflexões deriva-
eventualmente conseguindo uma prevenção de recaí- das da pesquisa empírica que se dedica a explicar os
das diante de eventos estressores. As técnicas são en- fenômenos da linguagem e cognição. Particularmen-
sinadas e suas práticas formais e informais, aplicadas te Boavista (2015) esclarece que RFT são metáforas
no dia a dia do paciente. Durante oito sessões, os pa- utilizadas como recurso didático para tornar gráfica
cientes recebem o treinamento formal acompanhado a explicação do responder relacional derivado. Con-
pelo terapeuta, seguido de instruções para treinarem forme o autor, emoldurar relacionalmente é compor-
mindfulness diariamente entre cada sessão. Esse pro- tar-se de modo a responder a um estímulo em termos
grama tem demonstrado eficácia para uma relação de de outro a partir de suas propriedades arbitrárias.
condições médicas e psicológicas, embora nem to- Ou seja, se comportar diante de símbolos (palavras
dos os estudos tenham uma elaboração metodológica - acidente) como se comportassem diante dos seus
igualmente rigorosa. Esse é um dos grandes desafios referentes (o acidente em si). Boavista (2015) não se
dentro da pesquisa clínica indicados pelos autores, propõe a exaurir ou elucidar todas as questões sobre
sendo necessário um maior número de estudos clíni- o tema neste capítulo, sobretudo sugere que o leitor
cos controlados e randomizados. Ainda assim, isso consulte às obras nele referenciadas, com o intuito de
parece não invalidar a adoção desse programa como tornar o caminho da RFT menos árido e desconhe-
componente complementar ao tratamento tradicional cido. Mesmo assim, o autor elucida vários aspectos
de problemas crônicos de saúde. que são pré-requisitos para um bom entendimento
sobre o tema, como: Comportamento Verbalmente
No capítulo cinco, Demarzo, Barros e Oliveira Governado, Relações Derivadas, Treino de Múltiplos
(2015) apresentam o protocolo da Mindfulness Based Exemplares (TME), além do próprio Responder Re-
Cognitive Therapy (Terapia Cognitiva Baseada em lacional Arbitrariamente Aplicável (RRAA).
Mindfulness, MBCT), uma abordagem terapêutica
utilizada na prevenção de recaídas e de recorrências Dentre as contribuições da RFT cabe pontuar que para
nos casos de depressão maior. Além de discutirem o os terapeutas comportamentais de terceira onda, prin-
embasamento da estratégia, os mecanismos que pres- cipalmente os clínicos de ACT, o surgimento da RFT
supõem serem inerentes à depressão (como descritos possibilitou que compreendessem e interviessem nos
pela teoria dos Sistemas Cognitivos Interagindo) e contextos verbais, ou seja, nas relações e funções deri-
os princípios ativos do tratamento, os autores conse- vadas dos estímulos que geram sofrimento ou em que
guem, de maneira didática, diferenciar a estratégia do o sofrimento estivesse vinculado ao seguimento de
capítulo de outras psicoterapias que utilizam mind- regras danosas (Boavista, 2015). No entanto, a juven-
fulness e aceitação. Apesar de possuir enfoque predo- tude da RFT ainda provoca desconfiança e ceticismo
minantemente cognitivo, o capítulo é importante por na comunidade científica. Todavia, Boavista (2015)
apresentar ao leitor lusófono uma abordagem criada assinala que as pesquisas sobre o tema estão se avo-
fora dos EUA, com pouca discussão em português e lumando, inclusive no que tange à aplicabilidade dos
que tem aplicação em grupo. postulados de Hayes et al. (2001).

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O capítulo sete apresenta a Terapia de Aceitação e técnica utilizada pelas abordagens das Terapias Cog-
Compromisso (Acceptance and Commitment The- nitivo Comportamentais.
rapy - ACT), desenvolvida por Steven C. Hayes, no
final dos anos 1980. Inicialmente a autora explica Por último realiza um panorama dos contextos nos
o Contextualismo Funcional, que é a base filosófi- quais a ACT vem sendo aplicada, como na clínica, no
ca dessa abordagem e, a inflexibilidade psicológica ambiente organizacional e comunitário, assim como
(restrição de repertório) como sendo a forma de in- no ambiente hospitalar.
terpretação do sofrimento.
No capítulo nove, é apresentado o modelo Matriz de
Em seguida, descreve alguns contextos e práticas cul- flexibilidade psicológica. A Matriz é um diagrama
turais que propiciam essa restrição no repertório, por que se fundamente na ACT, a qual tem como base
diminuírem as ações que solucionam as situações e epistemológica o Contextualismo Funcional. Nela,
aumentarem o repertório de fuga e esquiva dos even- apresenta-se de forma simplificada os seguintes pro-
tos privado. São eles, a fusão cognitiva, evitar, dar cessos da ACT: Aceitação, Desfusão cognitiva, Eu
razão e avaliar. como contexto, Valores, Contato com o presente e
Ação de compromisso. Seu uso favorece a flexibili-
Para finalizar, apresenta as etapas da intervenção, dade psicológica, a observação das diferenças entre
como a aceitação, desfusão, valores, ações com com- experiências sensoriais e mentais, e das diferenças
promisso e self como contexto (modelo do Hexágo- entre afastar-se de experiências desagradáveis e apro-
no de Flexibilidade Psicológica) e outras estratégias ximar-se do que é importante. As experiências men-
envolvendo metáforas e exercícios. tais são divididas em Ideias Importantes ou Valores, e
em Experiências Mentais Indesejadas ou Sofrimento.
O capítulo oito é dedicado para falar sobre a apli- As ações são classificadas em Comportamentos de
cabilidade da ACT. Assim, primeiramente o autor Manejo do sofrimento e Comportamentos de Apro-
apresenta brevemente seus fundamentos e menciona ximação dos valores. Assim, o uso da Matriz objetiva
algumas áreas da psicologia clínica nas quais ela vem tornar a pessoa mais sob controle dos seus valores
sendo aplicada. ao invés do sofrimento, caracterizando o controle por
reforçadores positivos ao invés de negativos.
Na sequencia expõe o entendimento e a aplicação
da ACT para o tratamento da depressão e da ansie- O capítulo dez apresenta as escalas que avaliam cons-
dade, apresentando o acrônimo FEAR (fusão com trutos da terapia de aceitação e compromisso e sua
pensamentos, evitação da experiência, avaliação da disponibilidade para uso no brasil: O Acceptance and
experiência e racionalização) como uma fórmula útil Action Questionnaire (AAQ); Inventário de Supres-
para o desenvolvimento de uma conceitualização de são do Urso Branco (WBSI); Questionário de Acei-
casos clínicos envolvendo diferentes transtornos psi- tação e Ação do Craving por Comida (FAAQ); Ques-
quiátricos. Além disso, relata as diferenças existentes tionário de Aceitação e Ação para Dificuldades Rela-
entre a técnica da exposição que a ACT utiliza para cionados ao Peso (AAQ-W); Questionário de Aceita-
o tratamento dos transtornos de ansiedade e a mesma ção e Ação para Exercício (AAQ-Ex); Questionário

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de Aceitação e Ação da Imagem Corporal (BI-AAQ); A autora encerra o capítulo ressaltando que muitas
Escala de Mindfulness (MAAS); Inventário de Min- pesquisas sistemáticas em FAP vêm sendo realizadas,
dfulness de Freiburg (FMI); Inventário de Kentucky entretanto, investigações com o objetivo de validação
de Habilidades de Mindfulness (KMIS); Escala Min- empírica ainda são necessárias.
dfulness de Cognições e Afetos (CAMS-R); Ques-
tionário de Mindfulness (MQ); Escala Filadélfia de No capítulo doze, Olaz (2015) descreve em seu ca-
Mindfulness (PHLMS); Questionário das Cinco Fa- pítulo uma abordagem integracionista entre FAP e
cetas de Mindfulness (FFMQ); Questionário de Co- ACT, denominada “FACT”, que pressupõe que as-
mer Mindful (MEQ); Escala de Desfusão de Drexel pectos do modelo de flexibilidade psicológica da
(DDS); Questionário de Fusão Cognitiva (CFQ); ACT podem ser evocados e consequenciados na re-
Questionário de Descentração (EQ); Questionário lação terapêutica. O autor afirma que a junção entre
de Acreditabilidade em Pensamentos e Sentimentos as propostas aumenta o poder da psicoterapia e tem
Ansiosos (BAFT); Questionário de Pensamentos Au- sido utilizada de diversas maneiras, embora não apre-
tomáticos – Acreditabilidade (ATQ-B); Questionário sente dados que embasem tais afirmações. A FACT é
de Fusão Cognitiva relacionada à Imagem Corporal apresentada ao longo do capítulo em seus aspectos
(CFQ-BI); Questionário de Valores de Vida (VLQ); filosóficos (contextualismo funcional), científicos e
Questionário dos Valores (VQ); Escala de Vida Com- práticos, sendo que o autor provê diversos exemplos
prometida (ELS); Questionário de Ação Comprome- de atuação e vinhetas clínicas que clarificam os pon-
tida (CAQ); Escala do Eu Contextual (SACS); Reno tos abordados. Uma grande contribuição do capítulo
Inventory os Self-Perspective (RISP). é a apresentação da Matriz, um modelo integrativo de
fácil compreensão para terapeutas e clientes, que aju-
No capítulo onze Del Prette (2015) apresenta a Psico- da a avaliar tanto os comportamentos inadequados,
terapia Analítico-Funcional (FAP), suas origens e prin- quanto adequados do cliente dentro e fora da sessão.
cípios provenientes da ciência da Análise do Compor-
tamento e da filosofia do Behaviorismo Radical, seus No capítulo treze, a Terapia Focada na Compaixão
precursores Kohlenberg e Tsai, o momento histórico (CFT), criada por Paul Gilbert há 25 anos, tem como
de pesquisas realizadas no âmbito da relação terapêu- objetivo tornar o cliente menos hostil consigo mesmo
tica e seu foco de intervenção que se trata justamente cultivando a motivação compassiva no processo de
da relação terapeuta/cliente. Em seguida são explicita- mudança, para isso utiliza uma série de processos e
dos os principais conceitos da FAP, a saber, os Com- intervenções padrão de outras terapias (Gilbert, 2009;
portamentos Clinicamente Relevantes do cliente (do Vogel & Matsumoto, 2015). Para o desenvolvimento
inglês Clinically Relevant Behavior, CRBs), as cinco da compaixão Vogel e Matsumoto (2015) explicam
regras da FAP, baseadas nos conceitos de consciência, que são apresentados aos clientes a uma variedade
coragem, amor e behaviorismo, além de serem men- de exercícios de imagens compassivas, relacionados
cionadas as habilidades necessárias ao terapeuta para ao conceito e à ideia da compaixão como um fluxo:
a aplicação destas regras e a importância do profissio- a compaixão dos outros para mim, a compaixão de
nal conhecer seus próprios comportamentos, os quais mim para os outros e a compaixão de mim para mim
são parte essencial da análise da relação terapêutica. (Gilbert, 2013). Ressaltam que é imprescindível que

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o terapeuta construa uma relação terapêutica segu- (DBT) traçando um breve histórico e trazendo as
ra e continente, buscando validar o círculo da com- principais influências aos fundamentos do tratamen-
paixão de uma forma atenta e focada, com um olhar to (como a TCC padrão e o Zen Budismo). Ainda
cuidadoso para o papel da vergonha (Gilbert, 2009). ao apresentar tais aspectos, os autores descrevem as
Vogel e Matsumoto (2015) salientam que os clientes mais importantes diferenças entre a DBT e a TCC
só obterão benefícios com a CFT se “as intervenções padrão, e citam evidências empíricas do uso da DBT.
terapêuticas forem experienciadas com verdadeiras, Com o objetivo de introduzir os princípios e bases
legítimas e encorajadoras”. Contudo, a CFT ainda é do tratamento, Dornelles e Sayago (2015) enfatizam
uma terapia muito recente e necessita de estudos clí- durante todo o capitulo a sua organização focada em
nicos randomizados para comprovar sua eficácia. princípios – não em protocolos – e o principal dilema
dialético que conduz o processo terapêutico: ênfase
No capítulo quatorze, Abreu e Abreu (2015) apre- na mudança versus ênfase na aceitação. Além disso,
sentam um protocolo integrador de Ativação Com- por ter sido inicialmente pensada para pessoas com
portamental (Behavioral Activation – BA) adotado Transtorno de Personalidade Borderline (TPB), o ca-
na clínica-escola do Instituto de Análise do Com- pítulo aborda algumas características importantes do
portamento de Curitiba (IACC), juntamente com a transtorno e os dilemas dialéticos que permeiam as
contextualização de alguns tipos de depressão, as decisões do terapeuta durante o curso do tratamento.
quais têm sido apontadas como resultantes de al-
terações na interação do indivíduo e seu ambiente No capítulo dezesseis, sobre a estrutura e as estraté-
(Ferster, 1973). Além destes aspectos Abreu e Abreu gias de tratamento da DBT, Sayago e Dornelles (2015)
(2015) ressaltam a importância da Análise Funcio- descrevem de maneira clara e bastante didática cada
nal dos Comportamentos Depressivos, enfatizando um dos módulos de tratamento. Ao apresentarem cada
contextos onde vigoram a punição, a apresentação módulo, os fundamentos teóricos, as técnicas e estra-
de estimulação aversiva não contingente e a extin- tégias correspondentes e algumas vinhetas clínicas são
ção operante. Consequentemente, preconizam que acrescentadas com o objetivo de mostrar ao leitor o
os terapeutas precisam atentar ao fato de que estes processo terapêutico em cada fase e justificar as esco-
contextos não ocorrem separadamente, sugerindo lhas do terapeuta em relação a cada alvo de tratamento.
criatividade ao clínico na adaptação das estratégias O capítulo também traz o que há de mais recente em
de tratamento. Com vistas as limitações ou na não termos de técnicas e estratégias para instrumentalizar
adaptação de alguns clientes aos protocolos de BA, o terapeuta. E ao finalizar o texto, os autores incen-
os autores, defendem algumas possibilidades de in- tivam os leitores à prática da DBT, porém ressaltam
tervenção com interfaces na integração com outras que, para a formação de um terapeuta DBT, faz-se ne-
abordagens de terceira onda, como a FAP e a ACT, cessário um aprofundamento teórico e prático que vai
no intuito de facilitar a adesão ao tratamento ou para muito além da leitura deste capítulo.
potencializar seus possíveis resultados.
No capítulo dezessete, Vandenberghe (2015) inicia
No capítulo quinze, Dornelles e Sayago (2015) es- abordando a origem e a história da terapia comporta-
crevem sobre a Terapia Comportamental Dialética mental de casais, culminando na Terapia Comporta-

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mental Tradicional de Casais (TCTC). O autor expõe que contextualiza a mudança das práticas terapêuticas
a explicação para a transição da TCTC para a Tera- ditas comportamentais, facilitando ao leitor o enten-
pia Comportamental Integrativa de Casais (TCIC) e dimento daquelas que caracterizam cada geração, e
ressalta que, diferentemente de algumas terapias da fornece – tanto aos terapeutas analítico-comportamen-
terceira geração, a TCIC não foi uma revisão radical tais e cognitivos iniciantes como aqueles com maior
que se opôs a outras práticas clínicas, mas sim uma tempo de experiência – uma explanação detalhada de
tentativa de se fazer uma terapia com melhores re- cada uma das terapias que caracterizam a chamada ter-
sultados clínicos. Em seguida, Vandenberghe (2015) ceira geração e que constituem o momento atual das
apresenta as semelhanças e diferenças entre as duas terapias comportamentais. Ademais, essa explanação
práticas clínicas concluindo que a TCIC passou a é suficientemente detalhada para fornecer aos terapeu-
apresentar uma visão contextualista da interação do tas analítico-comportamentais e cognitivos o conheci-
casal, passando assim, a ter as características neces- mento mínimo necessário para compreender e praticar
sárias para ser incluída entre as terapias da terceira cada terapia apresentada, o que o torna um guia útil
geração. Vandenberghe (2015) encerra o capítulo para os interessados em atualização e aperfeiçoamento
apresentando as estratégias da TCIC (aceitação e mu- profissional na prática em saúde mental.
dança), como são formuladas as metas terapêuticas
e destacando o apoio empírico que suporta a TCIC. Referências

Todas as terapias apresentadas até este ponto consti- Gouveia, J.P., Santos, L.P. & Oliveira, M.S. (2015). Terapias
tuem a terceira geração das terapias comportamentais. comportamentais de terceira geração: guia
O livro contribui fornecendo um panorama histórico para profissionais. Novo Hamburgo: Sinopsys.

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