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EMOÇÃO E PAIXÃO

Emoção é um sentimento abrupto, súbito, repentino, arrebatador, que toma de assalto a


pessoa, tal e qual um vendaval. Ao mesmo tempo, é fugaz, efêmero, passageiro,
esvaiando-se com a mesma rapidez. A paixão, ao contrário, é um sentimento lento, que
se vai cristalizando paulatinamente na alma humana até alojar-se de forma definitiva. A
primeira é rápida e passageira, ao passo que está ultima, insidiosa, lenta e duradoura. A
emoção é o vulcão que entra em erupção, a paixão, o sulco que vai sendo pouco a pouco
cavado na terra, por força das águas pluviais. A emoção é o gol marcado pelo seu time;
a paixão o amor que se sente pelo clube, ainda que ele não lhe traga nenhuma emoção.
A ira momentânea é a emoção; o ódio recalcado, a paixão. O ciúme excessivo,
deformado pelo egoístico sentimento de posse, é a paixão a sua forma mais perversa. A
irritação despertada pela cruzada de olhos da parceria com um terceiro é pura emoção.

Conseqüência: nem uma, nem outra excluem a imputabilidade, uma vez que o nosso
código penal adotou o sistema biopsicológico, sendo necessário que a causa dirimente
(excludente da culpabilidade) esteja prevista em lei, o que não é o caso nem da emoção,
nem da paixão.

A emoção como causa minoritante: pode funcionar como causa especifica de


diminuição de pena (privilégio) no homicídio doloso e nas lesões corporais dolosas, mas
para isso, exige quatro requisitos a) deve ser violenta; b) o agente deve estar sob o
domínio dessa emoção, e não mera influência;c) a emoção deve ter sido provocada por
um ato injusto da vítima; d) a reação do agente deve ser logo em seguida a essa
provocação.Nesse caso a pena será reduzida de 1/6 a 1/3. Se o agente estiver sob mera
influência, a emoção atuará apenas como circunstância atenuante genérica, com efeitos
bem mais acanhados na redução da pena, já que esta não poderá ser diminuída aquém
do mínimo legal. A paixão não funciona sequer como causa de diminuição de pena.

A paixão equiparada a doença mental: Galdino Siqueira acentua que “as paixões,
pertencendo ao domínio da vida fisiológica, apresentam, quando profundas,
perturbações físicas e psíquicas notáveis, das mesmas se ressentindo a consciência; isto,
porém, não pode implicar na irresponsabilidade, porquanto o direito penal não deve
deixar impunes os atos cometidos em um estado passional, pois esses atos constituem
frequentemente delitos graves O efeito perturbador da paixão no mecanismo psíquico
pode reduzir a capacidade de resistência psíquica, constituída por representações éticas
e jurídicas, a grau inferior ao estado normal...os atos passionais que devem ser
recomendados à indulgência do juiz são os devidos a um amor desgraçado(assassínio da
pessoa amada, com tentativa de suicídio), ao ciúme (assassínio por amor desprezado ou
enganado), à necessidade e ao desespero (assassínio de mulher e filhos, no extremo de
uma luta improfícua pela vida)”.

Entendemos que somente a paixão que transforme agente em um doente mental,


retirando-lhe a capacidade de compreensão, pode influir na culabilidade. Mesmo nas
hipóteses de ciúme doentio e desespero, se não há doença mental, não se há doença
mental, não se pode criar uma nova causa excludente da imputabilidade.

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