Você está na página 1de 2

Terceirização disfarçada

Por Mauro Cassano1

Recentemente a Câmara aprovou a PL 4330/2004, a chamada PL da terceirização que


regulamenta essa prática para qualquer atividade nas empresas. Não demorou para as
entidades trabalhistas botarem a “boca no trombone” alegando que a PL precariza as relações
de trabalho. Vamos trazer a brasa para nossa tainha. As agências de publicidade que há anos
contratam estagiários de tempo integral. Por óbvio, a concorrência que se acirra ano após ano
em decorrência da enxurrada de novos profissionais recém formados sedentos por seu lugar
ao sol, é o fator preponderante. Este açodamento dos jovens publicitários em obter sucesso,
somado a inexperiência e a falta de capacidade de argumentação, resultam em preços e prazos
absurdos comprometendo a qualidade do produto final. Por certo, quem se importa com a
qualidade? Nesse contexto entram os estagiários. Profissionais, com formação incompleta,
trabalhando em tempo integral, ganhando 30% do salário. É a terceirização disfarçada.
A pressão pelo lucro começa nos balancetes do cliente. Este é o nascedouro da “bola
de neve”. A busca por resultados leva o cliente a achar que a publicidade é a panaceia
universal para suas quedas de receita. A partir daí, as agências, que também tem uma grande
parcela de culpa nesse processo, seguem a inércia, pressionando toda a cadeia produtiva.
Estas, não conseguem desenvolver uma relação de confiança com seus clientes baseada na
austeridade e na seriedade. As agências comportam-se como “prostitutas” que, quando bem
pagas, realizam todos os desejos do cliente. Incapazes de dizer não, atulham seus escritórios
de estagiários de tempo integral para poder cumprir seus compromissos. Ao invés de se
organizarem como segmento, preferem ceder à pressão do cliente. Nessa louca bola de neve
que passa correndo por todos, como criar algo diferente? Como é possível ser criativo se não
dispomos de tempo para criar e executar? Como realizar trabalhos de qualidade se
sucumbimos ao medo de perder o job?
Tudo possui um tempo factível para ser realizado e na publicidade não é diferente.
Para gerar uma criança perfeitamente saudável são necessários nove meses. Esse tempo é
imutável. Duas mulheres nunca gerarão uma criança em quatro meses e meio, nem três
mulheres gerarão um filho em três meses. Para produzir um trabalho publicitário de qualidade

1
Estudante do 8º semestre de Comunicação Social com ênfase em Publicidade e Propaganda na Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
(perfeitamente saudável), são necessários profissionais com formação adequada e contratados
via CLT (isso custa caro), equipamentos de primeira linha (isso também custa caro) e tempo.
Olhando para esse cenário percebe-se que a prática da terceirização já acontece
também na atividade fim das agências disfarçada de bolsa auxilio.
Sou totalmente favorável a reserva de mercado na publicidade. Acho que uma classe
forte, unida, que não se submete a pressão e ao medo é o início do caminho para mudar o caos
que se tornou a produção publicitária brasileira.

Você também pode gostar