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05 de junho de 2019

Universidade Estadual de Londrina


Auditório do Centro de Estudos Sociais Aplicados – CESA

AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DA CINZA DE CASCA DE ARROZ NA ADSORÇÃO DE


EFLUENTE DE LAVANDERIA TEXTIL
Gabriel Picheli Giacomini , Carolina Furtado Cossiolo1, Fernanda de Almeida Fin de Lima1, Tiago
1

Dutra Galvão2
1
Unopar Catuaí - Londrina-PR (fernanda.a.lima@kroton.com.br )
2
Universidade Estadual de Londrina – PR (tdggalvao@yahoo.com.br )

Resumo
No Brasil o setor agroindustrial acumula grande quantidade de resíduos oriundos de suas
atividades. No beneficiamento do arroz, ocorre grande geração de resíduos como farelo,
quirera, casca de arroz e cinza da casca queimada como subprodutos. As cinzas da
casca de arroz (CCA) possuem alto teor de silício, baixa condutividade térmica e a
elevada resistência ao choque térmico. Alguns estudos têm apresentado resultados
positivos com CCA na remoção de compostos orgânicos, inorgânicos e poluentes
presentes em soluções aquosas, demonstrando potencial adsorvente devido a sua
estrutura porosa e granular, baixo custo, facilidade de obtenção e insolubilidade em água.
O objetivo deste trabalho foi avaliar a viabilidade no uso da CCA como material
adsorvente na etapa de polimento do tratamento de efluente de lavanderia têxtil e
compará-lo com o uso do carvão ativado. Os resultados parciais sugerem que as cinzas
não possuem eficiência na adsorção de efluentes têxteis.
Palavras-chave: Reaproveitamento, Resíduos, Caracterização

Introdução e Objetivo
No Brasil o setor agroindustrial acumula grande quantidade de resíduos oriundos de suas
atividades. Graças à vasta biodiversidade encontrada em seu território, há uma variedade
de resíduos cujo bioprocessamento possui grande interesse econômico e social. Dentre
estes exemplos figuram os resíduos derivados de atividades tais como as indústrias de
papel e celulose (sepilho, maravalhas e cavacos desclassificados de eucalipto e pinus),
serrarias (serragem), usinas de açúcar e álcool (bagaço de cana) e, de um modo geral,
unidades de produção agrícola geradoras de resíduos de culturas como a palha de
cereais e de milho, sabugo de milho, cascas de arroz e de aveia, dentre outros. (Ramos,
2010)
No Paraná, existem 193 empresas de beneficiamento de arroz cadastradas com o código
CNAE deste setor, sendo este Estado um dos 5 maiores produtores deste grão no país.
No beneficiamento do arroz, ocorre grande geração de resíduos como farelo, quirera,
casca de arroz, e cinza da casca queimada como subprodutos (Amato, 2012). Segundo
este mesmo autor, estes resíduos podem ser reaproveitados de várias maneiras. O farelo,
por exemplo, pode ser transformado em óleo ou ração, os grãos quebrados podem servir
como matéria-prima para produção de farinhas e de amido pré-cozido, já a casca de arroz
pode ser usada na produção de papel ou como fonte energética.
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Realização:
05 de junho de 2019
Universidade Estadual de Londrina
Auditório do Centro de Estudos Sociais Aplicados – CESA

Conforme Aneel (2019), dentre as fontes renováveis de energia, o Brasil possui


investimentos nos seguintes tipos de combustível da classe biomassa: Carvão Vegetal,
Resíduos de Madeira, Bagaço de Cana de Açúcar, Casca de Arroz, Licor Negro, Biogás,
Capim Elefante e Óleo de Palmiste. A biomassa é responsável por 8,5% da energia
elétrica gerada no país, com 567 empreendimentos em operação. Há 13 usinas de
biomassa da casca de arroz, que juntas geram 53333 kW, representando 0,03% do total
da produção energética nacional. Os principais processos termoquímicos, que utilizam
biomassa em suas conversões, são a combustão direta, a gaseificação, a liquefação e a
pirólise.
A queima da casca de arroz (CA) em termoelétrica para geração de energia produz cinzas
(CCA) como resíduo secundário. As CCA possuem formas estruturais variáveis (amorfa
ou cristalina) que dependem do processo de combustão utilizado (processo artesanal a
céu aberto, grelhas, processo industrializado por leito fluidizado com ou sem controle da
temperatura), como do tempo e da temperatura. A sílica amorfa é um material de fácil
moagem e, quando moída é altamente reagente. Suas propriedades principais são a
baixa condutividade térmica e a elevada resistência ao choque térmico. (Souza, 1999). De
acordo com Chakraborty et al. (2011) a composição da casca de arroz corresponde,
aproximadamente, a 32 % de celulose, principal constituinte do material, 21 % de
hemicelulose, 21 % de lignina, 20 % de sílica e 3 % de proteínas, sendo que há variação
destes percentuais conforme a safra, condições climáticas, diversificação de solo e
localização.
Alguns estudos têm apresentado resultados positivos com CCA na remoção de
compostos orgânicos, inorgânicos e poluentes presentes em soluções aquosas,
demonstrando potencial adsorvente devido a sua estrutura porosa e granular, baixo custo,
facilidade de obtenção e insolubilidade em água. (Agrafioti et al., 2014; Rahman et al.,
2005). Com isto, há a necessidade de se enfatizar as pesquisas na área de tratamento de
efluentes, com a aplicação da CCA no processo de adsorção dos compostos (Buss et al ,
2015)
Os efluentes de lavanderia têxtil são geralmente alcalinos, altamente coloridos, contém
grandes quantidades de sabões e detergentes sintéticos, óleos e graxas, sujidades e
corantes, além disso apresentam uma DBO 2 a 5 vezes maior que a apresentada pelos
esgotos domésticos. O processo de lavagem desprende fibras de tecidos, de tamanhos
variados desde trapos até fibras visíveis somente ao microscópio (Wollner et al., 1954).
Desta forma, o efluente gerado apresenta carga orgânica, coloração, uma baixa tensão
superficial e uma quantidade significativa de sólidos suspensos.
As empresas que fazem o tratamento de seus efluentes têxteis, geralmente utilizam a
seguinte sequência de etapas: gradeamento – peneiramento estático – tanque de
equalização – tratamento biológico - processo físico-químico/coagulação/floculação –
filtração. Esta última etapa é uma complementação logo após o tratamento físico-químico
(coagulação/floculação) dos efluentes e é chamada de polimento através de adsorção
(geralmente como o uso de carvão ativado)(Braile & Cavalcanti, 1993).

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Realização:
05 de junho de 2019
Universidade Estadual de Londrina
Auditório do Centro de Estudos Sociais Aplicados – CESA

O objetivo deste trabalho foi avaliar a viabilidade no uso da CCA como material
adsorvente na etapa de polimento do tratamento de efluente de lavanderia têxtil e
compará-lo com o uso do carvão ativado.

Metodologia
O experimento foi conduzido no laboratório de Química da UNOPAR Catuaí na cidade de
Londrina/PR. A casca de arroz foi cedida pela Arrozeira São Lucas - Sertanópolis/PR.
Foram avaliados o teor de umidade e cinzas obtidos da casca in natura. Sua queima foi
realizada em mufla a 800°C por 3 horas. Em seguida, as cinzas da casca de arroz (CCA)
passaram pelo processo de moagem manual em almofariz de porcelana. Para a
caracterização química da CCA foi realizada a análise de EDXRF - Fluorescência de raio-
x por dispersão de energia na Universidade Estadual de Londrina. O efluente industrial foi
cedido pela empresa de confecções Cris Jeans Ltda situada em Cambé/PR, sendo
acondicionado à 5°C durante o período do experimento.
Os ensaios de adsorção por filtração simples foram realizados com o efluente pré-tratado
pelas etapas anteriores ao polimento, na temperatura ambiente.
Os filtros foram preparados em triplicata, em garrafas PET de 0,5L, preenchidas com as
camadas devidamente pesadas e iguais na seguinte ordem: pedras limpas (70,0g), CCA
ou carvão ativado (60,0g) e areia lavada (67,0g). Foi realizada uma percolação inicial de
água destilada em cada filtro, passando três porções de 200mL de água a fim de remover
qualquer resíduo do meio filtrante. Logo após, foram percoladas amostras de 200mL do
efluente têxtil pré-tratado em cada um dos seis filtros, sendo três de CCA e três de carvão
ativado.
A análise de cor do efluente foi realizada em espectrofotômetro a 590nm antes e depois
da filtração.

Resultados e Discussões
A casca de arroz in natura foi segregada em um conjunto de peneiras a fim de conhecer a
maior proporção de sua granulometria. A maior parte da casca, sendo 80%, possui entre
2,00 e 2,38mm. A casca também apresentou 6,4% de umidade e 7,8% de cinzas.
As cinzas da casca de arroz (CCA) foram
submetidas à analise de EDXRF (Fluorescência
de Raios X por Dispersão em Energia) para a
determinação dos elementos químicos
inorgânicos presentes na amostra de cinza de
arroz. A Figura 1 mostra o equipamento de
EDXRF da Shimadzu do laboratório multiusuario
da UEL (LARX) utilizado neste trabalho.

Figura 1 - EDXRF da Shimadzu (EDX-720)


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A composição da fase inorgânica da CCA possui principalmente 86,15% de Si, 7,4% de K,


2,7% de Ca, 1,4% de Mn, 1,2% de P, 0,5% de Fe, 0,5% de S e traços de Rb, Zn, Cu e Sr..
A análise de cor foi realizada a 590nm a fim de verificar a diminuição dos valores após a
filtração e os primeiros resultados estão na Tabela 1.
Tabela 1 – Absorbância do efluente têxtil antes e após o tratamento de polimento com
adsorvente
Filtro 1 Filtro 2 Filtro 3 Média
(Abs - 590nm) (Abs - 590nm) (Abs - 590nm)
Efluente têxtil antes da 0,979 0,979 0,979 0,979
filtração
Efluente têxtil após filtro CA 0,581 0,542 0,475 0,532
Efluente têxtil após filtro CCA 0,932 0,983 0,928 0,948

Os valores de absorbância obtidos após a filtração ainda necessitam de tratamento


estatístico, mas sugerem que o método de filtração com carvão ativado (CA) possui
grande eficiência na descoloração do efluente, entretanto, o uso da CCA como
adsorvente neste trabalho não apresentou eficiência aparente. Ainda são necessárias as
análises das demais variáveis, como pH, alcalinidade e dureza total.

Considerações Finais
Agradecemos à UNOPAR Catuaí pelo apoio com a estrutura, reagentes e fomento para o
desenvolvimento do projeto; à ESG Arroz Luquinha e Cris Jeans Ltda por nos conceder
os resíduos necessários para o desenvolvimento do trabalho e à Universidade Estadual
de Londrina pela análise de Fluorescência de raios x.

Referências
Agrafioti, E.; Kalderis, D.; Diamadopoulos, E. Arsenic and chromium removal from water
using biochars derived from rice husk, organic solid wastes and sewage sludge. Journal of
Environmental Management, v. 133, p. 309–14, 2014
Amato, G. W. Casca: agregando valor ao arroz. Instituto Rio Grandense de Arroz (IRGA).
Porto Alegre, RS, 2002. Disponível em: . Acesso em: 25 de jun. 2010.
ANEEL. Matriz de Energia Elétrica. 2018. Disponível em:
http://www2.aneel.gov.br/aplicacoes/capacidadebrasil/OperacaoCapacidadeBrasil.cfm.
Acesso em 21 de maio de 2019.
Braile, P.M.; Cavalcanti, J.E.W.A. (1993). Manual de Tratamento de Águas Residuárias.
São Paulo: CETESB. 764p.

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Auditório do Centro de Estudos Sociais Aplicados – CESA

Buss, M.V.; Ribeiro, E. F.; Schneider, I. A. H.; Menezes J. C. S. dos S. Tratamento dos
Efluentes de uma Lavanderia Industrial: Avaliação da Capacidade de Diferentes
Processos de Tratamento. Revista de Engenharia Civil IMED, 2(1): 2-10, 2015
Chakraborty, S.; Chowdhury, S.; Das Saha, P. Adsorption of Crystal Violet from aqueous
solution onto NaOH-modified rice husk. Carbohydrate Polymers. v. 86, n. 4, p. 1533-1541,
2011.
Della, V. P. - “Processamento e caracterização de sílica ativa obtida a partir da cinza de
casca de arroz”, Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Santa Catarina,
Brasil, (2001).
Souza, M. F.; Batista, P. S. & Liborio, J. B. L. - “Processo de Extração da Sílica Amorfa
Contida na Casca e na Planta do Arroz”, (1999), Patente: Privilégio de Inovação
n.PI9903208, 30 de Junho de 1999
Ferrarezi, J.D. (1996) Adsorção de Cu(II) em lignina alcalina de trigo modificada
quimicamente. Tese, Mestrado, Universidade Estadual de Maringá, Brasil. 111 p.
Mezzari, I. A. - "Utilização de carvões adsorventes para o tratamento de efluentes
contendo pesticidas", Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Santa Catarina,
Brasil, (2002).
Rahman, I.; Saad, B.; Shaidan, S.; Sya, R. E. S. Adsorption characteristics of malachite
green on activated carbon derived from rice husks produced by chemical– thermal
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Ramos, P. L. Aproveitamento integral de resíduos agrícolas e agroindustriais. 2010.
Disponível em: http://www.lamam.ufscar.br/files/2010/07/artigo_pretratamento.pdf. Acesso
em 21 de maio de 2019.
Souza, M. F.; Batista, P. S. & Liborio, J. B. L. - “Processo de Extração da Sílica Amorfa
Contida na Casca e na Planta do Arroz”, (1999), Patente: Privilégio de Inovação
n.PI9903208, 30 de Junho de 1999
Wollner, H. J. ; Kumin, V.M.; Kahn, P. A. (1954). Clarification by Flotation and Re-use of
Laundry Waste Water. Sewage and Industrial Wastes, New York, v. 26, n. 4, p. 509-519,
Nova York.

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