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A diferença do homicídio para o crime do §2º, do artigo 133, do Código Penal, está no
tem dolo na ação, mas em relação ao resultado só pode agir culposamente. Caso contrário,
agindo dolosamente na sobrevinda de uma lesão corporal ou morte, sendo a sua ação capaz
de alcançar esse resultado, a pessoa irá responder pelo crime mais gravoso, o crime de dano.
Portanto, o que diferencia os crimes do artigo 133 dos crimes de dano, como a lesão
a pessoa deve ter dolo de perigo em relação a ação e culpa em relação ao resultado
agravador. Além disso, o crime traz três hipóteses de causa de aumento de 1/3:
o risco do abandono é menor. O inciso seguinte menciona como causa de aumento as relações
pessoais de maior dever de assistência, por exemplo, entre pai e filho. Nessa hipótese, a
conduta de abandono é mais reprovável, porque a relação de cuidado é mais próxima e mais
intensa. Por fim, o inciso II se refere às vítimas maiores de 60 anos, as quais se atribuiu uma
maior fragilidade e incapacidade de se defender dos riscos decorrentes do abandono.
até mesmo uma punição menor para situações mais graves. A causa de aumento prevista no
Código Penal, para as situações envolvendo maiores de 60 anos, não se aplica na Lei
10.741/2003, porque esta já pressupõe que o crime é praticado contra pessoa idosa.
capacidade da pessoa prover a sua própria defesa. Por isso, é importante termos em mente
que nesses ambientes o abandono de idoso terá incidência no artigo 98, da Lei 10.741/2003.
abandono de incapazes há sempre uma relação especial, uma relação de dependência entre o
sujeito ativo e passivo. Se ausente essa relação podemos estar diante da hipótese do artigo
135, do Código Penal, a omissão de socorro. Por exemplo, uma pessoa necessitada de
cuidados e incapaz de se defender é abandonada por outro que poderia ter de lhe prestar
socorro.
desonra própria da mãe, resta configurado o crime do artigo 134, que veremos mais adiante.
Uma terceira hipótese é o caso do abandono moral (e não físico), que envolve um outro grupo
de crimes – os crimes contra a assistência familiar, previsto entre os artigos 244 e 245, do
Código Penal. Nesse caso, a pessoa não é deixada em um local sozinha ou levada a algum
local para ser abandonada, mas há um abandono das funções morais de educação,
assistência etc.
Esse crime tem uma enorme carga moral, especialmente atrelada a ideia da desonra
da mulher, o que pode gerar certa estranheza para aqueles que vivem no meio urbano.
Acontece que, no interior ou em locais mais ermos do país, ainda existem muitos hábitos e
daquelas moralmente aceitas. Portanto, a princípio, essa punição vem inserida nesse contexto
conceito de recém-nascido não é muito uniforme na doutrina. Guilherme Nucci diz que é
aquele que acabou de nascer; Edgard M. Noronha diz que é aquele que nasceu há poucos
dias; Damásio de Jesus e José F. Marques dizem que é aquele que nasceu há poucos dias até
que o cordão umbilical caia; Heleno Fragoso diz que é aquele que não ultrapassa um mês de
vida; por sua vez, Nelson Hungria adotava o critério de conhecimento do fato, ou seja,
enquanto não se tomou conhecimento do nascimento da criança ela pode ser considerada
recém-nascida.
Nelson Hungria faz essa análise a partir da concepção do tipo penal, em que a mulher
abandona uma criança para ocultar a sua própria desonra. Isso significa que a mulher não
quer comunicar ao meio social que engravidou e teve um neném. Dois exemplos clássicos são
das mulheres vítimas de estupro ou, eventualmente, daquelas que tiveram filho fruto de uma
O sujeito ativo é próprio, apenas a mãe pode praticar esse crime, desde que seja
“mulher honrada”. A doutrina adota a expressão destacada, embora refutada pela professora
Valéria Caldi, porque a rigor o conceito de mulher honrada é ultrapassado. Basta imaginarmos
uma situação na qual uma prostituta é estuprada e deseja abandonar o recém-nascido. Nesse
contexto a sua honra foi violada e, além disso, pode ser que em seu meio social ter um filho
que todos nós, mulheres e homens, temos um espectro de honra a ser protegido. No que
concerne ao pai como possível autor do crime há alguma controvérsia. Na visão de Damásio
de Jesus, Luiz Regis Prado, Nelson Hungria, Guilherme Nucci e Fernando Capez é possível sim,
em contrapartida, Rogério Greco e Cezar Roberto Bittencourt afirmam que não.
o pai ser o sujeito ativo do crime, porque muito embora não conste do tipo penal, este foi
concebido para essas hipóteses de violação da honra da mulher. Com base na literalidade do
artigo e sob o argumento de que a interpretação histórica não vincula o intérprete, Rogério
Greco e Cezar Roberto Bittencourt, afirmam que podemos ter o caso de um homem
praticar esse crime isoladamente, o que não impede a sua participação como partícipe ou
Atenção ao fato de que o dolo é de perigo e, além disso, existe um elemento subjetivo
específico do crime que é “para ocultar desonra própria”. Podemos dizer que esse tipo penal
representa uma figura privilegiada do artigo 133, do Código Penal, pois abandonar um recém-
nascido é abandonar um incapaz, mas devido a carga moral atrelada ao tipo do artigo 134,
ATENÇÃO: A justificativa para o abandono pode ser apenas uma, “para ocultar desonra
própria”. Caso o motivo ou finalidade for outra, por exemplo, pobreza, deficiência da criança,
circunstâncias de vigilância a distância. Uma hipótese seria a mãe dar à luz a uma criança,
colocá-la num saco e jogá-la no lixo, o que poderia configurar homicídio. Outra, distinta, é a
mãe abandonar a criança em um local em que ela fique exposta a perigo – na rua, esquinas;
evidenciando que a sua real intenção é de perigo e não matar. Há casos, ainda, em que a mãe
deixa a criança na porta de orfanatos e fica vigiando a distância até que ela seja recolhida, a
fim de prevenir o perigo e, nesse exemplo usado por Cezar Roberto Bittencourt, não falamos
em crime.
É certo que o ato de abando em si mesmo pode caracterizar o início de uma ação de
homicídio, o que depreendemos do dolo de agente. O dolo de perigo fica evidenciado pelas
evidente que a pessoa agiu, no mínimo com dolo eventual, pois os meios que empregou são
aptos a matar uma criança em curto período de tempo, seja por sufocamento ou até pelo
Devemos estar atentos ao entendimento comungado por toda doutrina, segundo o qual
central do tipo é ocultar a desonra própria da mãe. Aos olhos da lei, seria contraditório uma
mulher que fora estuprada e, mesmo assim, exibiu sua gravidez ao longo dos noves tentar
Vale mencionar que o limite desse sigilo não abrange aos familiares mais próximos. Um
exemplo desse sigilo é a mulher que disfarça os primeiros meses de gestação e, nos últimos
permanentes. O abandono mesmo que temporário, não desconfigura o crime, bastando que
ele dure tempo suficiente para gerar um risco à vítima. Assim, mesmo que o sujeito ativo se
esse lapso temporal foi suficiente para gerar o risco, o crime está consumado.
Como vemos da leitura do artigo 134 do Código Penal, desse abandono pode decorrer
lesão corporal ou morte e tanto um resultado, quanto o outro, são punidos a título de culpa.
Isso porque, os crimes também são preterdolosos nessa modalidade. Sabemos que na
presença do dolo de matar ou de lesionar incidirá a regra segundo a qual o crime de dano
O crime é de perigo individual e para cada pessoa que é vítima temos uma figura
típica. Então, se com a mesma conduta a mãe abandona dois filhos gêmeos, ela viola dois
bens jurídicos diferentes, incidindo a regra do concurso formal, descrita no artigo 70 do Código
Penal.
A mãe que, sob influência do estado puerperal, abandona recém-nascido para ocultar
minimamente razoável, sem o dolo de matar e, apenas, de ocultar a desonra própria, o crime
poderá ser esse. Ausente o dolo de matar, não é possível responder por infanticídio. A
professora destaca que é muito difícil defender a ideia de que a mãe que abandona um
recém-nascido em certas circunstâncias não tem o dolo de matar (p. ex. a criança descartada
no saco de lixo).
Se a mãe conta com a ajuda material do pai para abandonar o recém-nascido, para
Sim, esse crime admite participação e coautoria, desde que a pessoa tenha plena
O crime de omissão de socorro está previsto no artigo 135 do Código Penal. Este é um
crime interessante, porque mostra a obrigação de solidariedade que nós seres humanos
temos uns com os outros, ele se revela anti-individualista, voltado para o olhar do ser humano
para com o seu semelhante. Ele nos lembra que vivemos em sociedade e devemos nos
auxiliar, aquele que está ferido é alguém para quem devemos estender a mão, porque
Esse tipo penal revela, em sua essência, um dever social, o dever de prestarmos
assistência mútua aos nossos semelhantes. Em poucas palavras, se uma pessoa está
necessitada e outra pode lhe prestar socorro, ela deve fazê-lo, sob pena de incidir no crime de
Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco
pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao
desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro
da autoridade pública:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão
corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.
socorro”. Aos que já estudaram os crimes omissivos, devem se lembrar que eles se dividem
em omissivos próprios – aqueles que descrevem no próprio tipo penal a conduta omissiva, por
exemplo, o artigo 168-A, do Código Penal; e, omissivos impróprios – aqueles nos quais a
omissão é penalmente relevante. Isto é, uma conduta omissiva pode gerar um resultado
danoso, porque a pessoa que se omitiu tinha o dever de evitar aquele resultado, podia fazê-lo
e não o fez.
próprio. A redação do artigo é clara “deixar de prestar assistência”, o que significa que o
agente podia prestar assistência sem risco pessoal, mas deixou de fazê-lo. Esse tipo penal
pode ser cometido por qualquer pessoa e não exige a qualidade específica de garantidor.
majoritária da doutrina, esse crime não admitiria tentativa. Alguns autores, inclusive Rogério
Greco, que segue Fernando Galvão, dizem que quando a omissão se protrai no tempo seria
possível vislumbrar a tentativa nos crimes omissivos. Essa posição, contudo, é minoritária, em
delas, quando for possível fazê-lo sem risco pessoal, isto é, não se exige da pessoa que ela se
coloque em uma situação de risco para salvar a vida da outra. Na visão do legislador, trocar
um risco pelo outro não é razoável, mas se o sujeito não está em risco e, tampouco, se
Se nesse crime o sujeito ativo é comum, de outra parte, a vítima do crime é sempre
criança[2] abandonada (deixada a própria sorte) ou extraviada (perdida dos seus cuidadores);
pessoa inválida ou ferida (p. ex. pessoa com ferimentos que a impossibilitam de se mexer), ao
desamparo e, por último, em grave e iminente perigo, que representa uma fórmula genérica
ativo desse crime é qualquer pessoa, salvo quem causou o próprio perigo. É fundamental que
o agente não seja o causador do perigo, pois nesse caso poderá ser responsável por outros
crimes.
deixando o pedestre, vítima do acidente, gravemente ferido. O motorista não será punido por
omissão de socorro, mas sim pelo crime mais grave. A omissão de socorro servirá como causa
de aumento do crime de lesão corporal culposa de trânsito. No mais, em crimes mais graves
como o homicídio culposo, a omissão de socorro fica absorvida pela própria conduta.
O tipo penal do artigo 135 pressupõe, como regra, presença física, contato com a
Temos dois posicionamentos, o primeiro afirma que sim, desde que tenha consciência
do grave e iminente perigo. Por exemplo, um médico que deveria estar de plantão deixa o
hospital e recebe uma ligação dizendo que chegou um paciente, mas se recusa a voltar. É o
que entendem Damásio de Jesus e Heleno Fragoso, representando uma corrente forte. O
segundo, afirma que não, pois é indispensável que o sujeito esteja na presença da vítima. É o
que diz Edgard M. Noronha. Enfim, o entendimento majoritário é de que a ausência não exclui
a omissão de socorro.
pessoas inválidas ou aquelas sem vigor físico para se defenderem sozinhas (p. ex. seriamente
doentes, paralítica, etc.), pessoas feridas e aquela forma genérica das pessoas em grave e
Segundo a maior parte da doutrina, nesta última hipótese, temos um crime de perigo
concreto, ao passo que, nas demais é de perigo abstrato ou presumido. Assim, na hipótese de
grave e iminente perigo é preciso que haja provas do risco concreto e do iminente perigo
naquela situação. Nas demais, se o sujeito se depara com uma criança abandonada ou
extraviada não há que se perquirir o risco, a própria situação já se revela de risco ou perigo.
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[1] Art. 98. Abandonar o idoso em hospitais, casas de saúde, entidades de longa
permanência, ou congêneres, ou não prover suas necessidades básicas, quando obrigado por
lei ou mandado: