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Escola de Engenharia
Departamento de Engenharia Civil
ESTRUTURAS DE BETÃO I
EXERCÍCIOS RESOLVIDOS
FOLHA 1
(DRAFT Nº1)
Setembro de 2009
Folhas de Apoio às Aulas Práticas
INDICE
1 Enunciado ........................................................................................................................................ 3
2 Exercício 1........................................................................................................................................ 6
2.1 Combinação para estado limite último de resistência em compressão ..................................... 6
2.2 Combinação para estado limite último de resistência em tracção............................................. 6
3 Exercício 2........................................................................................................................................ 7
3.1 Quantificação das acções .......................................................................................................... 7
3.1.1 Acções permanentes ......................................................................................................... 7
3.1.2 Acções variáveis ................................................................................................................ 7
3.2 Combinação de acções – Estados Limite Últimos ..................................................................... 7
3.3 Momento flector máximo no vão inermédio – Estados Limite de Utilização............................ 14
4 Exercício 3...................................................................................................................................... 16
4.1 Classe de resistência e propriedades aos 28 dias (a) ............................................................. 16
4.2 Variação de comprimento elástica e após fluência (b) ............................................................ 16
4.3 Extensão de retracção a tempo infinito (c)............................................................................... 17
4.4 Recobrimento necessário para a peça (d) ............................................................................... 18
1 ENUNCIADO
Exercício 1
Considere um pilar sujeito a três acções independentes que geram os esforços axiais com os valores
característicos indicados na Figura 1. Na resolução deste problema considere sinal positivo para as
compressões e negativo para as tracções.
Nota: Os esforços NG,k e NQ1,k são sempre de compressão, enquanto que NQ2,k pode ser de
compressão ou de tracção.
a) Determine o esforço axial de cálculo para verificação do estado limite último de resistência
em compressão.
b) Determine o esforço axial de cálculo para verificação do estado limite último de resistência
em tracção.
Exercício 2
Na Figura 2 representa-se uma viga que se repete a cada 6.25m, apoiando uma laje maciça com
20cm de espessura. O sistema estrutural descrito corresponde a uma laje de cobertura de uma
garagem que funciona como terraço para o edifício de habitação contíguo. A viga tem secção
30cm×70cm de acordo com o indicado na figura.
Para estimativa das acções sobre a viga, considere a solução construtiva para revestimento da
cobertura inclui: 3cm de camada de regularização em betão simples; emulsão betuminosa de
impermeabilização; ladrilho de 1cm de espessura.
b) Para o vão intermédio, calcule o momento flector positivo máximo para a combinação quase
permanente.
Exercício 3
Considere a peça em betão simples representada na Figura 3, em contacto com uma base rígida na
sua face inferior, de 40cm×40cm, e podendo sofrer carregamento na sua face superior (oposta).
Sabe-se que o betão que compõe a peça pertence a uma classe do EC2 cuja resistência
característica inferior à tracção (quantilho 5%) é de 2.2MPa. A peça encontra-se num ambiente com
temperatura de 20ºC e humidade relativa de 80%. A classe de exposição é XC3. Considere que o tipo
de cimento utilizado na mistura deste betão é CEM 42,5N.
a) Qual a classe de resistência do betão desta peça? Para essa mesma classe de betão,
indique as seguintes propriedades aos 28 dias de idade: resistência média à compressão em
cilindros; resistência característica à compressão em cilindros; resistência característica à
compressão em cubos; resistência média à tracção, módulo de elasticidade, coeficiente de
Poisson e coeficiente de dilatação térmica linear.
b) Supondo que a peça é carregada aos 28 dias de idade com uma força axial de compressão
com valor de 1600kN, indique a variação de comprimento aquando do carregamento, bem
como a variação de comprimento total esperada a tempo infinito. Nota: na resposta a esta
alínea ignore os efeitos da retracção.
c) Calcule a variação de comprimento que será de esperar devido à retracção nesta peça a
tempo infinito. Indique qual o valor da força que, aplicada aos 28 dias de idade, provocaria a
2 EXERCÍCIO 1
2.1 Combinação para estado limite último de resistência em compressão
Trata-se de uma verificação à rotura de um elemento estrutural, pelo que são usados os critérios
correspondentes à verificação STR definida no EC0 em 6.4.1(1). A forma genérica de combinação
para este caso está definida em EC0 (6.10), e representa-se abaixo devidamente adaptada ao caso
da existência de uma única acção permanente e duas acções variáveis independentes (omitindo a
parcela relativa ao pré-esforço, que não existe neste problema):
γ G Gk "+ " γ Q,1 Qk ,1 "+ " γ Q,2 ψ 0,Q 2 Qk ,2
Sendo que o efeito pretendido na combinação é a compressão máxima, qualquer esforço de tracção
é considerado uma acção favorável, pelo que a hipótese de NQ2,k ser de tracção não será
contemplada nesta alínea (γQ =0).
No que diz respeito ao coeficiente γG, dado que NG,k é um esforço de compressão (logo desfavorável,
visto que aumenta o efeito da compressão), fica γG =1.35 de acordo com a Nota 3 do Quadro EC0-
NA-A1.2(B). Quanto às acções variáveis, de acordo com o mesmo Quadro γQ =1.5. Há agora que
definir qual das duas acções variáveis é a acção de base, e qual é a acompanhante. Tendo em conta
que a acção acompanhante será afectada do coeficiente ψ0 (logo reduzida), e sabendo que se
pretende maximizar o valor final da compressão obtido pela combinação, opta-se por considerar que
a acção variável de base é NQ2,k (compressão) e a acção variável acompanhante é NQ1,k. Os esforços
podem então ser directamente combinados na forma:
NSd ,compressão = 1.35 × 620 + 1.5 × 600 + 1.5 × 0.8 × 500 = 2337 kN
3 EXERCÍCIO 2
3.1 Quantificação das acções
Tela líquida (0.05kN/m2 de acordo com Tabelas Técnicas) ............................. 0.05×6.25=0.3125 kN/ml
Ladrilho de 1.0 cm de espessura, incluindo cimento cola para assentamento (0.75 kN/m2 de acordo
com Tabelas Técnicas) ..................................................................................... 0.75×6.25=4.6875 kN/ml
De acordo com EC1-3.2(2): “o peso próprio total dos elementos estruturais e não estruturais deve ser
tido em conta nas combinações de acções como uma carga independente”.
Total de cargas permanentes aplicadas na viga...................................................................... 44.5 kN/ml
acções variáveis acompanhantes), a equação (6.10) que exprime a forma de combinar as acções
pode ser re-escrita como:
γ G Gk "+ " γ Q,1 Qk ,1
Sendo que os factores parciais para combinação destas acções podem ser encontrados na tabela
EC0-NA-A1.2(B).
O esquema estrutural a considerar para a definição das combinações de acções é o representado na
Figura 4.
Os valores das cargas permanentes e das acções variáveis actuantes nos três vãos foram já
apurados, tendo os valores:
Gk = 44.5kN / ml
Qk = 12.5kN / ml
Relativamente aos coeficientes parciais a adoptar, há que efectuar raciocínio separado para as
cargas permanentes e para as acções variáveis. De acordo com a Nota 3 do Quadro EC0-NA-
A1.2(B), “os valores característicos de todas as acções permanentes com a mesma origem são
multiplicados por γG,sup, caso o efeito total das acções resultante seja desfaforável, e por γG,inf, caso o
efeito total das acções resultante seja favorável.”. Aplicado ao caso em questão, isto significa que a
acção permanente deverá ter o mesmo coeficiente de segurança γG,sup =1.35 ou γG,inf =1.00
simultaneamente em todos os vãos. Dado que a aplicação do coeficiente de segurança mais elevado
conduz à partida a esforços mais condicionantes, opta-se pela adopção em todos os vãos e todas as
combinações de γG,sup =1.35.
Nota: Caso se tratasse de uma verificação EQU, seria admissível a utilização de diferentes valores de
γG para vãos adjacentes de acordo com EC0-6.4.3.1(4).
Independentemente da leitura que pode ser feita a partir das linhas de influência, é usual adoptar
como primeira combinação aquela que congrega todas as cargas em consideração assumidas como
desfavoráveis em todos os vãos. Surge então a combinação 1, representada na Figura 7.
Para maximização do efeito “momento flector a meio vão do primeiro vão”, pode observar-se de
acordo com a Figura 5 que a sobrecarga deverá ser aplicada nos 1º e 3º vãos. A aplicação de
sobrecarga no vão nº2 provocaria diminuição efeito pretendido, pelo que para este efeito a
sobrecarga no vão nº2 é considerada favorável; assim, de acordo com a o Quadro EC0-NA-A1.2(B),
dever-se-á adoptar para a sobrecarga neste vão o coeficiente parcial γQ=0 (i.e., a sobrecarga neste
vão não é considerada). Resulta assim a combinação nº2 representada na Figura 8 que maximiza o
“momento flector a meio vão do primeiro vão”. Por análise das linhas de influência do esforço
transverso (Figura 6), constata-se nesta combinação também que será maximizado o esforço
transverso no primeiro apoio.
A representação conjunta dos diversos diagramas de esforços transversos encontra-se na Figura 14,
onde estão também identificados os máximos locais e a combinação correspondente. Na Figura 15
está representada a contribuição das diversas combinações para a envolvente de esforços
transversos. Pode confirmar-se as tendências já identificadas pelas linhas de influência dos esforços
Figura 15 – Contribuição das diversas combinações para a envolvente dos diagramas de esforços transversos
No que diz respeito a momentos flectores, a sobreposição dos diversos diagramas está representada
na Figura 16, e a envolvente com discriminação das diversas combinações pode ser observada na
Figura 17. Assim como no caso dos esforços transversos, constata-se a confirmação das
expectativas criadas com o raciocínio baseado nas linhas de influência utilizado na escolha das
combinações: a combinação 2 causa momentos máximos positivos nos primeiro e terceiro vãos; a
combinação 3 causa momento máximo positivo no vão intermédio; a combinação 4 causa momento
máximo negativo no segundo apoio; a combinação 5 causa momento máximo positivo no terceiro
apoio. Constata-se também a relevância adicional das combinações 2 e 3 no lado negativo
envolvente dos momentos flectores, aumentando a extensão da mesma em todos os vãos. Apesar de
este comportamento não ter sido antecipado com o raciocínio baseado em linhas de influência, a
justificação do mesmo é relativamente simples: por exemplo, para a combinação 3, cujo objectivo
essencial era a maximização dos momentos positivos no vão intermédio, é compreensível que como
consequência os momentos positivos nos primeiro e terceiro vãos fiquem mais baixos e logicamente
o comprimento do troço em que existe momento negativo nesses vãos fique mais comprido (logo
contribuindo para a envolvente). Pelo motivo que acaba de ser enunciado é então compreensível a
plausibilidade de integrar na estratégia de elaboração de combinações a existência de combinações
que à partida se sabe que não contribuirão para os esforços máximos, mas que podem
eventualmente contribuir para a envolvente por efeito de “alargamento” dos diagramas. Este
“alargamento” foi constatado com as combinações 2 e 3, mas poderia ter sido também obtido caso
tivessem sido efectuadas combinações em que as acções permanentes fossem consideradas como
favoráveis (i.e. com γG,inf =1.00 em todos os vãos).
Uma constatação curiosa neste problema em particular é o facto da combinação 1, que é aquela em
que a viga está sujeita a maior carga, não ter tido qualquer contributo nem para a envolvente de
esforços transversos, nem para a envolvente de momentos flectores.
Figura 17 – Contribuição das diversas combinações para a envolvente dos diagramas de momentos flectores
∑G
j ≥1
k, j "+ " ψ 2,1 Qk ,1
O terraço é acessível, corresponde à categoria I do quadro 6.9 do EC1. Uma vez que este serve
habitações, a utilização específica equivale a actividades domésticas e residenciais (Categoria A –
Quadro NA-6.2), os valores ψ a adoptar serão os correspondentes à categoria A, definidos no Quadro
A1.1 do EC0: ψ0=0.7; ψ1=0.5; ψ2=0.3.
Dado que se pretende o momento máximo do vão intermédio, e tendo em conta as conclusões
obtidas na alínea anterior da resolução deste problema, será suficiente efectuar uma combinação
com posicionamento de sobrecargas análogo à Combinação 3 do estado limite último. Os valores de
Gk e Qk são os mesmos da alínea anterior: Gk = 44.5kN / ml ; Qk = 12.5kN / ml . A ilustração do
esquema de aplicação da carga correspondente à combinação encontra-se na Figura 18.
4 EXERCÍCIO 3
4.1 Classe de resistência e propriedades aos 28 dias (a)
De acordo com o quadro 3.1 do EC2, a classe de resistência à qual corresponde fctk,0.05=2.2MPa é a
C35/45. Segue-se uma tabela com as propriedades requeridas na alínea a):
Designação
Propriedade Cláusula EC2 Valor e Unidades
abreviada
Resistência média à compressão em
fcm Quadro 3.1 43 MPa
cilindros
Resistência característica à compressão
fck Quadro 3.1 35 MPa
em cilindros
Resistência característica à compressão
fck,cube Quadro 3.1 45 MPa
em cubos
Resistência média à tracção fctm Quadro 3.1 3.2 MPa
Módulo de elasticidade Ecm Quadro 3.1 34 GPa
Coeficiente de Poisson ν 3.1.3 (4) 0.2
Coeficiente de dilatação térmica linear α 3.1.3 (5) 10×10-6 K-1
1600 × 103
σ c = Ecm × ε ⇔ = 34 × 109 × ε ⇔ ε = 2.94118 × 10 −4
0.4 × 0.4
Tendo conhecimento do comprimento total da peça (80cm), obtém-se o encurtamento instantâneo
pela definição de ε:
ΔL ΔL
ε= ⇔ 2.94118 × 10−4 = ⇔ ΔL = 0.000235m = 0.235mm
L 0.8
Tendo concluído que o encurtamento instantâneo é de 0.235mm, há que calcular o encurtamento
adicional por fluência.
A tensão a que está sujeito o betão aquando da aplicação da carga (t=28 dias) é de
N 1600 × 103
σc = = = 10 × 106 Pa = 10 MPa
A 0.4 × 0.4
O cálculo de ϕ ( ∞,t0 ) pode ser feito com base na Figura 3.1 do EC2 e requer o conhecimento da
Pode agora ser calculada a extensão de fluência de acordo com equação (3.6) de ponto 3.1.4(3) do
EC2 já referida acima:
σc 10 × 106
ε cc ( ∞,28 ) = ϕ ( ∞,28 ) × = 1.6 × = 4.706 × 10 −4
Ec 34 × 109
A extensão total a tempo infinito corresponderá à soma da extensão elástica com a extensão de
fluência:
ε ∞ = ε t = 28d + ε cc ( ∞,28 ) = 2.94118 × 10 −4 + 4.706 × 10 −4 = 7.647 × 10 −4
Pelo que o encurtamento total da peça após fluência será de:
ΔL
7.647 × 10 −4 = ⇔ ΔL = 0.000612m = 0.612mm
0.8
Após um encurtamento inicial elástico de 0.235mm aos 28 dias, o betão sofreu encurtamento
adicional por fluência até um total de 0.612mm a tempo infinito.
do EC2). O valor de ε cd ,0 pode ser obtido de forma simplificada a partir do Quadro 3.2, uma vez que o
cimento utilizado é da classe N. Uma vez que a classe do betão em análise (C35/45) não está
contemplada no Quadro 3.2, efectua-se uma interpolação linear com base em fck, obtendo-se para
HR=80% um valor interpolado de ε cd ,0 = 0.255 1000 . Obtém-se então o valor de ε cd ,∞ :
0.255
ε cd ,∞ = 0.85 × = 216.75 × 10−6
1000
A retracção autogénea a tempo infinito pode ser obtida a partir da expressão (3.12) do EC2:
ε ca ( ∞ ) = 2.5 × ( fck − 10 ) × 10−6 = 2.5 × ( 35 − 10 ) × 10 −6 = 62.5 × 10 −6
Então, a retracção total a tempo infinito terá o valor:
ε cs,∞ = 216.75 × 10−6 + 62.5 × 10−6 = 279.25 × 10 −6
Pode-se então determinar o encurtamento da peça devido à retracção a tempo infinito
ΔL
279.25 × 10 −6 = ⇔ ΔL = 0.000223m = 0.223mm
0.8
A força que aplicada aos 28 dias causaria o mesmo encurtamento pode ser calculada pela lei de
Hooke:
N
σ c = Ecm × ε ⇔ = 34 × 109 × 279.25 × 10 −6 ⇔ N = 1519kN
0.4 × 0.4
Trata-se de uma força muito elevada, correspondendo a cerca de 152 toneladas força.
{
cmin = max cmin,b ; cmin,dur + Δcdur ,γ − Δcdur ,st − Δcdur ,add ;10mm }
Com cmin,b=20mm (utilização de varões longitudinais Ø20mm) – Quadro 4.2 – EC2
Presumindo tratar-se de uma estrutura de classe estrutural S4 com tempo de vida útil do projecto de
50 anos, obtém-se o cmin,dur a partir do Quadro NA.I do Anexo Nacional do EC2 (tendo em conta a
classe de exposição XC3): cmin,dur =25mm.
De acordo com as cláusulas 4.4.1.2 (6), 4.4.1.2 (7) e 4.4.1.2 (8) obtém-se:
Δcdur ,γ = Δcdur ,st = Δcdur ,add = 0mm
A representação da secção transversal da peça de betão pode ser vista na Figura 21.