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4.2.

2 (Processos de reformulação) Correção

Nas falas iniciais o discurso é mais planejado e menos espontâneo. Isso faz com que
tenha menor número de correções. Algo semelhante também acontece com algumas
perguntas preparadas previamente. Já outras perguntas são mais espontâneas, pois
surgem de alguma conjuntura particular do diálogo.
Observamos nessa transcrição grande número de autocorreções. Quase todas
mantendo o sentido do que estava sendo dito. Grande parte das correções visava
principalmente a adequação do que se refere á concordância. Por exemplo: “...o
responsável pelo/pela propina...”. Outras correções faziam mudanças semânticas por
exemplo: “no supremo/ no superior tribunal de justiça”. “...o senhor foi o primeiro
prefeito/ o primeiro candidato à reeleição da história...”.

Temos um caso de hétero correção quando Willam Bonner corrige Renata


Vasconcelos que acabara de se autocorrigir. E depois volta a se autocorrigir
novamente:

“RV: … ok...pra entrevista então render mais vamos continuar é/Na eleição/Para
eleição de 2010 o presidente Lula indicou a então candidata a presidente da república
Dilma Rousseff exatamente como fez com o senhor em 2012 pra prefeitura de São
Paulo e agora com a sua candidatura à presidência da república... mas ao sair do
governo ter que deixar o governo a presidente Dilma deixou o Brasil na crise em que
todos nós brasileiros estamos mergulhados hoje e... quase 11 milhões de
desempregados hoje nesse momento já são TREze mais de 11 milhões...

WB: [

não... mais de 11

RV: ...mais de 11 milhões de empregados hoje são 13 milhões… por que que os
eleitores devem acreditar que com o senhor o partido que deixou mais de 11 milhões
de desempregados não vai agravar a crise?

4.4 Marcadores discursivos

De acordo com Castilho (2010), quando escrevemos um texto, precisamos de


recursos que articulam as ideias, as sentenças: conjunções (porque, mas, porém,
contudo etc.), advérbios (certamente, praticamente, justamente etc.), locuções (no
entanto, no que respeita a, com relação a, quanto a etc.) etc.
Na conversação, as unidades devem obedecer a princípios comunicativos e não
(exclusivamente) sintáticos, para sua organização. Para tanto, usamos articulares
discursivos, chamados de Marcadores Discursivos (MD). Os critérios de definição e
classificação variam bastante na literatura e em geral têm as seguintes características:

• São sintaticamente independentes do verbo.


• São compostos por um ou mais itens lexicais ou ainda itens não lexicais.
• Funcionam no monitoramento da conversação e na organização do texto.
• Podem ocorrer no início, no meio ou no fim de unidades que estamos analisando
(turnos, pares adjacentes, tópico etc.).
• Ainda que não tenham um sentido que afete o todo do tópico discursivo em
desenvolvimento, são essenciais na interação. Sem eles, um texto oral fica monótono,
incoerente e desarticulado. Ou seja, sem eles ninguém fala (em nenhuma língua).

Nessa transcrição observamos os seguintes usos dos MDs.


Uma das características mais conhecidas desse entrevistado é o isso do “éh” como
marcador discursivo prosódico. Uma forma de hesitação para composição do discurso.
Recurso esse usado em menor medida pelos entrevistadores. Esse foi o MD mais
utilizado por todos. O segundo MD mais utilizado foi o “então”
Nos entrevistadores observamos o uso de marcadores discursivos sequenciadores e
introdutórios por exemplo: “bom”, “mas”, “muito bem”.
Vamos também o uso de MDs como: “vamos” e “agora”, indicando a intenção de
prosseguir a entrevista mudando de assunto.
Os MD de maior importância foram usados pelo entrevistado para tentar impedir o
assalto de turno por parte dos entrevistadores. Por exemplo: “calma”, “dá licença?”,
“detalhe”, “perdão”
O entrevistado usou três vezes o MD “pois não” para demonstrar sua prontidão para
responder à próxima pergunta. Garantindo o turno de fala ao entrevistador.
CAVALCANTE, D. A. (2008) Diga-me com quem tu andas, então direi quem tu és: o
processo de gramaticalização do então. Diss. de ME, João Pessoa, UFPB.
CASTILHO, Ataliba T. de (2010) Nova Gramática do Português Brasileiro. São Paulo:
Contexto. CASTILHO, Ataliba T. de; MORAES DE CASTILHO, Célia M. (2002)
Advérbios modalizadores. In Ilari (Org.) Gramática do Português Falado. Vol. II: níveis
de análise linguística. Campinas: Ed. da Unicamp, p.199-247. FARIA, Ernesto (1975)
Dicionário de Latim-Português. Rio de Janeiro: MEC/Fename. MARCUSCHI, L.A.
(1991) Análise da Conversação. São Paulo: Ática, 2ª ed. MORAES DE CASTILHO,
Célia Maria (1991) Os delimitadores no Português falado no Brasil. Dissertação de
Mestrado, IEL/UNICAMP. RISSO, Mercedes; SILVA, Gisele de O.; URBANO, H.
(2006) Traços definidores dos marcadores discursivos. In Jubran; Koch (Orgs. 2006)
Gramática do português culto falado no Brasil: construção do texto falado. Vol. I.
Campinas: Ed. da Unicamp, p. 403425. RISSO, Mercedes (2006) Marcadores
basicamente sequenciadores. In Jubran; Koch (Orgs. 2006) Gramática do português
culto falado no Brasil: construção do texto falado. Vol. I. Campinas: Ed. da Unicamp,
p.427-496. URBANO, Hudinilson (2006) Marcadores basicamente interativos. In
Jubran; Koch (Orgs. 2006) Gramática do português culto falado no Brasil: construção
do texto falado. Vol. I. Campinas: Ed. da Unicamp, p. 497-527.

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