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RESUMO
O objectivo principal deste artigo passa por explorar as várias tecnologias disponíveis e aplicáveis à
microgeração, percebendo qual a sua dimensão no mundo e qual ou quais aquelas que podem ser mais
rentáveis em Portugal. Para cumprir este objectivo foi realizada uma pesquisa teórica sobre as
especificidades de cada sistema de microgeração analisando as vantagens e desvantagens de cada um, e
sobre a proporção que estas têm vindo a ter não só em Portugal como no mundo. Foram também
abordados alguns estudos encontrados na pesquisa bibliográfica importantes na aplicabilidade das
tecnologias de microgeração em Portugal. De um modo geral pretende-se sensibilizar a população para a
importância de se tornar microprodutor de energia, não só ao nível individual em termos de custos/lucros,
como também ao nível colectivo no contributo para a diminuição da degradação do ambiente. Através da
pesquisa realizada percebeu-se que as tecnologias de microgeração são economicamente rentáveis e
ambientalmente mais correctas, sendo que a rentabilidade varia consoante a tecnologia, o local de
instalação e a empresa à qual se compra a tecnologia e o serviço de instalação.
ABSTRACT
The main purpose of this article is explore the various technologies available and applicable to
microgeneration, realizing that its size in the world and which of those can be more profitable in Portugal. To
perform this objective has been developed a theoretical research on the specifics of each system of
microgeneration, analyzing the advantages and disadvantages of each one, and their proportion not only in
Portugal but also in the world. Had been also discussed some important articles found in bibliographic
research vital to the applicability of microgeneration technologies in Portugal. In generally, we want to
increase the importance of becoming an energy microproducer on the population, not only at the individual
level in terms of costs and profits, but also at the collective contribution to reducing environmental
degradation. Through the research, has been noticed that microgeneration technologies are economically
viable and environmentally correct, and their profitability is variable, acording the technology, the firm where
you buy the same one and installation service, as well the installation location.
1. INTRODUÇÃO
Principalmente nos países em desenvolvimento, o contínuo aumento da população verificado traduz-se num
aumento exponencial das exigências ao nível de energia e de matérias-primas. Estes bens são essenciais
(1)
para garantir a sobrevivência do homem e um desenvolvimento sustentável . As questões que se levantam
relativamente a este aspecto dizem respeito não só escassez e limitação de recursos, como também à
emissão de gases de efeito de estufa (ex. CO2) associada aos processos de produção de energia através
de fontes não renováveis, ao custo da energia com origem nestas mesmas fontes, às preocupações com a
(2)
segurança do abastecimento e às dificuldades na construção de infra-estruturas .
Segundo dados da Agência Internacional de Energia, a emissão de CO2 irá aumentar 53% até 2030,
alcançando um valor superior a 40 biliões de toneladas de CO2. Estes dados não são mais animadores
quanto às emissões associadas à produção de energia, pois prevê-se um aumento de 44% até ao mesmo
(3)
ano, atingindo os 18 biliões de toneladas de CO2 .
É principalmente devido a estas questões que surge a urgência de criar e adoptar estratégias adequadas
para colmatar todas as necessidades quanto a matérias-primas e energia, de uma forma mais eficiente e
ambientalmente correcta, não pondo em risco aquilo que é chamado de “herança para as gerações futuras".
Por isso deve perceber-se que a noção de sustentabilidade deve ser entendida como relativa e não
absoluta, pois não se pode afirmar efectivamente que há fontes de energias sustentáveis e que outras que
não o são, mas sim que existem fontes mais sustentáveis ou menos insustentáveis que outras (4).
Devido aos estudos realizados sobre o impacte ambiental causado pela exploração de combustíveis fósseis,
o possível esgotamento destes recursos e sobre o facto de muitos países terem de depender de outros para
a sua sobrevivência energética (como o caso de Portugal que em 2007 dependia 82,9%) impulsionou as
sociedades a adoptar formas alternativas de produção de energia eléctrica cada vez mais limpas e mais
eficientes, como por exemplo tecnologias de produção de energia descentralizada.
Foi por isso que para fazer face ao problema originado pelo aumento dos custos de gás a ser importado
para a Europa, a União Europeia (UE) concebeu um plano ambicioso que visa o aumento da produção de
energia a partir de fontes renováveis. Para o ano 2020 foi estabelecido que 20% do consumo de energia
seja proveniente de energias renováveis (5).
É aqui que entra o princípio da descentralização. Este está relacionado com a produção de energia
privilegiando a instalação de pequenos centros produtores o mais próximo possível dos locais de consumo
final, sendo dada aos consumidores a possibilidade técnica e económica de produzirem energia para a
satisfação das suas próprias necessidades e com a hipótese de executar uma ligação bidireccional à rede
pública de transporte de electricidade.
A microgeração vai permitir às empresas e às famílias venderem o excedente de energia à rede eléctrica,
evitando assim novos investimentos em grandes centrais de produção e em infra-estruturas de distribuição,
diminuindo assim a emissão de gases que aumentam o efeito de estufa. No entanto, os principais motivos
que levam à sua aceitação por parte das empresas e das famílias são principalmente as alterações das
condições económicas e ambientais. Cada vez mais as pessoas estão sensibilizadas para adoptarem aquilo
(6)
a que se chama de Responsabilidade Social .
O presente artigo visa explorar os tipos de energia renovável e as tecnologias possíveis no âmbito da
microgeração, tanto no mundo como especificamente em Portugal, percebendo qual ou quais as mais
viáveis economicamente.
2. A Energia e a Microgeração
Segundo dados da BP em “Statistical Review of World Energy 2009”, a produção mundial da energia ainda
é feita em grande parte através do uso do petróleo, sendo que a fatia menor está relacionada com as
energias renováveis. No entanto, verifica-se que a fatia da produção mundial de energia através de fontes
(1)
renováveis tem vindo a aumentar progressivamente .
Em média nos 27 países da UE, o maior consumo de energia é feito no sector dos transportes em que a
maior quantidade da energia usada advém do petróleo. Já o maior consumo de energias renováveis é feito
em média nas habitações familiares, o que leva a que se pondere a hipótese destas habitações poderem
estar a usar sistemas de microprodução de energia; apenas em países como a Bélgica, Irlanda, Eslovénia,
Finlândia, Portugal e Suécia é que a energia renovável é consumida em maioria no sector industrial
(segundo dados do Eurostat, 2006). De acordo com os dados lançados pela Comunidade Europeia em “The
Renewable Energy Progress Report”, esta
energia aumentou mais de 55% em 2006
comparativamente com o ano de 1997. Apesar
de não serem apresentados dados mais
recentes, espera-se actualmente que o
consumo de energia proveniente do petróleo
tenha diminuído substancialmente e em
contrapartida a energia produzida através de
fontes renováveis tenha aumentado ainda
mais.
Quanto às várias tecnologias de produção de
energia renovável é apresentado um gráfico
(gráfico 1) onde se verifica que é a energia
eólica é a mais desenvolvida tendo a produção
triplicado desde o ano 2000 até 2006. Já a
energia produzida através da biomassa e de Gráfico 1 - Evolução das tecnologias de produção (Fonte:
resíduos apenas aumentou cerca de 63 e 39% Pincante, 2007).
(7)
no mesmo período .
Como já referido as fontes de energia renováveis têm uma taxa inferior de emissão de gases que aumentam
o efeito de estufa, nomeadamente o CO2, variando entre si tal como pode ser observado no gráfico 2:
Gráfico 2 - Taxa de emissão de CO2 quanto às várias tecnologias de produção de electricidade (g/kWh) (Fonte: ERSE,
2000).
Acompanhar o desenvolvimento das tecnologias de microgeração torna-se um pouco difícil já que este é um
tema relativamente recente e em constante evolução pelo menos quanto a Portugal, pois noutros países da
Europa a microgeração já tem cerca de 16 anos de experiência. O interesse demonstrado nesta área por
muitos especialistas leva a que, a todo o momento, surjam novas tecnologias de microgeração ou novas
adaptações àquelas que já existem.
A disponibilidade de várias tecnologias em vez de uma standartizada permite ao produtor optar por uma ou
pela conjugação de várias, sendo essa escolha determinada pela eficiência da tecnologia no local a ser
instalada, pelo investimento/custo de manutenção necessário e pelo tempo de retorno desse investimento.
Dentro das soluções de produção de energia disponíveis no mercado mundial existem algumas diferenças
quanto à fonte usada na produção. As tecnologias mais conhecidas são de seguida apresentadas.
2.5. Mini-hídricas
Sem que seja causado um grande impacte em pequenos ribeiros de água, são criados pequenos sistemas
de produção de energia eléctrica através da construção de açudes ou pequenas barragens que desviam
uma parte do caudal do rio para depois lho devolver num local desnivelado, onde são instaladas as turbinas.
A limitação deste sistema esta relacionada com a dependência que tem da chuva, pois quanto maior a
precipitação mais electricidade é produzida.
Existem diferentes tipos de centrais mini-hídricas, nomeadamente quanto à potência instalada e quanto à
altura de queda. Uma outra classificação que existe, diz respeito à existência ou não de capacidade de
regularizar o caudal, dividindo-se em dois tipos: centrais a fio de água (não têm capacidade de regularizar o
caudal) e as centrais com regularização (possuem uma albufeira que lhe permite adaptar o caudal afluente).
As mais comuns são as centrais de fio de água.
Como nos outros sistemas já vistos, também estas podem ser ligadas à rede ou contribuir para sistemas
isolados como fonte de alimentação local.
Com um declive de 15 a 20 metros e um caudal de 5 litros por segundo é possível garantir um consumo
(8)
eléctrico de uma habitação .
2. 6. Pilhas de combustível
São equipamentos estáticos que convertem energia química contida no combustível directamente em
energia eléctrica. O seu funcionamento é similar ao de uma bateria e usam como combustível,
preferencialmente o hidrogénio.
A pilha é composta por um ânodo e um cátodo, sendo que cada um é revestido por uma camada
catalisadora de platina e separados por um electrólito. Durante o processo de conversão da energia química
em energia eléctrica gera-se calor, o que significa que a energia química não é toda transformada em
energia eléctrica, logo o processo não tem 100% de rendimento. O rendimento de uma pilha de combustível
varia de forma inversa à potência, mas para obter uma potência mais elevada podem-se associar várias
células em série, resultando naquilo que se chama pilha de combustível.
Mesmo tendo as pilhas o mesmo princípio de funcionamento, existem várias diferenças entre elas,
nomeadamente quanto à temperatura (8).
2.9.Sistemas híbridos
Um sistema híbrido é qualquer sistema de produção de electricidade que engloba mais do que um tipo de
tecnologia. O exemplo mais comum dentro desta categoria é o sistema eólico/fotovoltaico (8).
3. APLICABILIDADE EM PORTUGAL
Nos últimos anos o sector da energia alterou-se de forma considerável, não só no mundo mas também em
Portugal, surgindo assim um novo paradigma energético. As evidências deste novo paradigma são
facilmente visíveis: hoje a energia e o ambiente são dois temas indissociáveis, as preocupações com a
utilização racional de energia aumentaram e a sua produção passou a ser mais descentralizada. Assim, a
energia passou a ser um veículo para o desenvolvimento económico permitindo a cada economia adoptar o
seu “mix” sustentável.
Portugal é um país que muito depende das importações de combustíveis fósseis devido ao facto de não ter
poços de petróleo, nem minas de carvão e muito menos depósitos de gás natural viáveis. Por outro lado,
quanto a fontes de energia renováveis, o país tem um grande potencial que cada vez mais tem vindo a ser
explorado, não só com o intuito de reduzir a dependência energética do estrangeiro mas também para não
aumentar e reduzir o consumo de energias que envolvem emissões de gases com efeito de estufa,
contribuindo assim para o combate às alterações climáticas.
Portugal apresenta uma rede hidrográfica relativamente densa, uma elevada exposição solar média anual e
dispõe de uma vasta frente marítima onde os ventos são predominantes. Todos estes factores conferem a
possibilidade de se aproveitar o potencial energético da água, luz solar, das ondas e do vento. Como visto,
Portugal encontra-se numa posição privilegiada que lhe permite colocar-se na vanguarda da demanda de
(12)
um desenvolvimento sustentável . Apesar disso, é curioso observar como países que considerados frios e
aos quais associamos mais chuva e neve apresentem uma capacidade instalada de painéis solares muito
superior a Portugal, como é o caso da Alemanha e Dinamarca.
O Governo Português, a fim de conseguir que as energias renováveis representassem 60% da potência
instalada para a produção de energia eléctrica, definiu três metas energéticas e ambientais, onde uma delas
(10)
faz referência à instalação de 50 000 unidades de microprodução eléctrica e criou legislação nesse
sentido. Em Março de 2009 já podiam ser contabilizadas 4 000 centrais de microprodução sendo que os
mais optimistas esperam que se atinja as tais 50 mil instalações referidas até 2015, com uma potência total
de 165MW (21).
Em Portugal, a legislação actual que regulamenta a microprodução de energia é o Decreto-Lei nº 363/2007,
de 2 de Novembro, atribuindo-lhe o nome de Renováveis à Hora. Este caracteriza-se principalmente pela
existência de dois regimes bastantes diferentes, geral e bonificado, sendo que o primeiro possibilita a
ligação de sistemas até 5,75 kW enquanto o outro define os 3,68kW como potência máxima de ligação.
Para o regime geral, a tarifa de venda de electricidade é igual à que é aplicada pelo comercializador de
último recurso no fornecimento à rede (normalmente EDP) tendo como condição serem unidades de
produção de electricidade monofásica. Já para o regime bonificado existem outras condições a serem
respeitadas: 1) além da potência máxima de ligação já referida (que corresponde a 50% da potência
contratada) o produtor pode utilizar fontes de energia renovável como a solar, eólica, hídrica, cogeração a
biomassa ou pilhas de combustível, com base em hidrogénio proveniente de microprodução renovável; 2) A
limitação dos 50% não é válida para condomínios, sendo que estes necessitam de realizar uma auditoria
energética ao edifício; 3) os produtores que instalem unidades de micro-eólicas em locais de acesso público
têm de possuir um seguro de responsabilidade civil; 4) quando instaladas unidades de cogeração a
biomassa, estas deverão estar integradas no aquecimento do edifício; 5) as unidades de microprodução
renovável abrangidas por este regime, com a excepção das unidades de cogeração a biomassa, só poderão
ser instaladas desde que a entidade produtora disponha de colectores solares térmicos para aquecimento
2
de água na instalação de consumo, com um mínimo de 2m de área de colector; 6) cada produtor terá uma
tarifa única garantida nos primeiros cinco anos após a instalação, sendo a tarifa sucessivamente reduzida
nos 10 anos seguintes. Após este período é aplicada a tarifa do regime geral de remuneração; 7) a tarifa de
referência é de 650 €/MWh para os primeiros 10 MW de potência instalada, após a qual a tarifa decresce
5%, e varia segundo o tipo de tecnologia de produção, em que é 100% para a solar fotovoltaica, 70% para a
eólica, 30% para a hídrica e cogeração a biomassa, no caso pilhas de combustível com base em hidrogénio
a percentagem é igual àquela aplicada à fonte renovável utilizada para a produção de hidrogénio e para os
casos de sistemas mistos, esta tem uma fórmula especificada no DL; 8) a potência instalada tem um
máximo anual de 10 MW para o ano 2008 sendo que este valor aumenta anual e sucessivamente em 20%;
9) a venda de electricidade produzida através de tecnologia fotovoltaica é limitada a 2,4 MWh/ano, e a 4
MWh/ano, no caso das restantes fontes renováveis (6).
4. CONCLUSÕES
A microgeração é uma forma muito importante para reduzir a factura energética, contribuir para a redução
das emissões de gases que contribuem para o efeito de estufa, reduzir a dependência energética do país,
reduzir os gastos em novas infra-estruturas para a produção centralizada de energia e ainda tirar algum
lucro aquando da venda da energia à rede.
Como se pode constatar ao longo do artigo, a produção de energia a partir de fontes renováveis consegue
satisfazer grande parte das necessidades de consumo de uma forma mais eficiente e ambientalmente mais
aceitável. Resta a cada microprodutor escolher a ou as tecnologias que mais lhe convêm, tendo em conta
tudo o que aqui foi referido.
Através da análise feita das tarifas nos países referidos, conclui-se que em Portugal as tarifas no regime
bonificado são superiores aos restantes países. Apesar do investimento inicial que se verifica, é certo que a
microgeração é uma área com enorme potencial de crescimento, quer a nível nacional, quer a nível mundial,
devendo ser implementada em larga escala. Mas não é só o investimento que se deve ter em conta, pois
mesmo que este seja recuperado em 9 anos (aproximadamente) existe o risco de abrandamento do
interesse por parte dos potenciais microprodutores, não só devido à actual crise financeira como também
devido à revisão progressiva da tarifa (-5%) por cada pacote de 10MW de potência registada. A tendência
será para piorar esta situação se os custos dos equipamentos não acompanhar a evolução da tarifa de
referência. Isto também se verifica no último estudo apresentado, sobre a análise de rentabilidade dos
sistemas solares fotovoltaicos e eólicos, em que é premente que o valor o investimento baixe de modo a
oferecer menor risco e maior rentabilidade. Em ambos os sistemas analisados no estudo referido, os valores
obtidos para os períodos de retorno e para as taxas de rentabilidade não foram tão satisfatórios para
localidades em que os níveis de produção das variáveis energéticas são médios. Prova-se assim que para a
implementação de tecnologias de microgeração serem vantajosas como já referido, é necessário ainda
fazer alguns ajustes, nomeadamente quanto aos preços praticados pelo mercado de instalação destes
sistemas, face ao decréscimo proveniente da actualização das tarifas de remuneração, constituindo assim
uma barreira à adesão da microgeração. Este ajuste tem sido gradual mas espera-se que se intensifique
brevemente como aconteceu em Espanha, onde o menor custo na instalação de sistemas microprodutores
tem levado a uma adesão significativa.
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