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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE – FURG

INSTITUTO DE LETRAS E ARTES – ILA


DISCIPLINA DE ELEMENTOS SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO
PROF. RODRIGO MARQUES LEISTNER

Arabela Araújo Ferreira1 e Gisele Ramos2

UMA ANÁLISE SOBRE AS PRINCIPAIS IDEIAS E CONCEITOS


DO SOCIÓLOGO PIERRE BOURDIEU

Pierre Felix Bourdieu nasceu na cidade de Denguim, no interior da França, em


01/08/1930. Filho de uma família humilde do campo e possuidor de uma inteligência
notável, Bourdieu, através de bolsas de estudo, ingressou na Faculdade de Letras de
Paris e formou-se em Filosofia atingindo uma alta posição na sua carreira acadêmica.
Enviado como soldado para a Argélia, Bourdieu iniciou os seus primeiros estudos sobre a
sociedade argelina e, em particular, a primitiva sociedade cabília. Essa experiência
etnográfica marca a sua mudança da filosofia para a sociologia.

Destacou-se por renovar a ideias de pesquisadores renomados como Karl Marx,


Durkheim, Weber, Lévi-Strauss e Mauss, e criou um verdadeiro sistema teórico para
interpretar a sociedade. Os seus questionamentos básicos eram: por que algumas
pessoas são consideradas mais importantes do que outras e em quê está baseado esse
julgamento? Bourdieu demonstrou o modo como as estruturas sociais se conectam com a
vida prática de cada indivíduo. Em suas teorias ele discute como os gostos e os
comportamentos individuais revelam a posição que as pessoas ocupam na estrutura
social. Trata-se de uma sociologia estruturalista que revela o que está oculto na
sociedade.

Os principais conceitos e aspectos de Bourdieu são o “habitus”, o “campo” e o


“capital”, além de outros não menos importantes como a “produção do gosto”, “violência
simbólica” e “educação”. Entende-se o “habitus” como uma estrutura que define nosso
comportamento de acordo com o que aprendemos e reproduzimos durante nosso
crescimento dentro de uma sociedade. Esse aprendizado, que é um hábito mental, nos

1 Matrícula: 131188 – Curso: Letras / Português


2 Matrícula: 131173 – Curso: Letras / Português
faz perceber o mundo e nos ensina como atuar nele. O conceito foi concebido como
princípio mediador, de correspondência entre as práticas individuais e pelas condições
sociais de existência, mas foi no seu desajustamento que ele se tornou explícito. Segundo
o sociólogo, a sociedade é composta por vários campos, vários espaços de relativa
autonomia, mas conduzido por regras próprias.

O habitus não é destino, como se vê às vezes. Sendo produto de história,


é um sistema de disposição aberto, que é incessantemente confrontado
por experiências novas e, assim, incessantemente afetado por elas.
(BOURDIEU, Pierre. Pierre Bourdieu avec Löic Wacquant: réponses.
Paris. Seuil, 1992.)

. Para Bourdieu, “campo” é um lugar de luta onde os agentes que o integram


buscam alcançar e manter determinadas posições, obtidas pelas disputas de capitais
específicos e valorizados conforme as características de cada campo. Cada campo tem
suas próprias regras, princípios e hierarquias. De acordo com o sociólogo, todo campo “é
um campo de forças e um campo de lutas para conservar ou transformar esse campo de
forças” (BOURDIEU, 2004)3. A forma de entendermos como o campo onde estamos
inseridos funciona, está contida no conceito de “habitus”.

Os conceitos de “capital”, “campo” e “habitus” conectam-se entre si. O “capital” é o


motivo da disputa e o que é valorizado dentro de cada campo social. Ele representa
aquilo que é herdado ou adquirido pelos indivíduos que tanto pode ser um capital
econômico, como cultural ou social. Foi ao analisar a escola que Bourdieu descobriu o
capital cultural que diz respeito àquilo que se adquire nas instituições escolares como
linguagem culta, domínio da retórica, ampliação de conhecimentos, etc. Foi a partir dessa
análise que ele posicionou a educação como um dos temas centrais da sua obra.

Na Teoria Sociológica da Educação de Bourdieu, os alunos não competem em


iguais condições nas escolas. Eles trazem uma bagagem social e cultural diferente e o
grau de sucesso alcançado ao longo de trajetória escolar não depende apenas de dons
pessoais, mas sim de sua origem. A escola exerce um papel legitimando essa
desigualdade, dissimulando as bases sociais e transformando em diferenças acadêmicas
os méritos e dons de cada um. Segundo Bourdieu as classes populares investem pouco
em educação por priorizarem o retorno econômico a curto prazo. A permanência desses
indivíduos nas escolas é, portanto, reduzida. Já as classes imediatamente acima, por
terem mais condições econômicas, priorizam a educação. Para ele as escolas deveriam

3BOURDIEU, Pierre. Os usos sociais da ciência: por uma sociologia clínica do campo científico. São Paulo:
UNESP, 2004.
ignorar as desigualdades culturais entre crianças das diferentes classes sociais no âmbito
dos conteúdos, técnicas educacionais e critérios de avaliação. Se todos fossem tratados
apenas como educandos, em iguais direitos e deveres, o sistema escolar eliminaria de
vez as desigualdades.

Apesar dos indivíduos possuírem uma bagagem com predisposição ou não ao


sucesso escolar e social, esse fator não deve ser visto como uma fatalidade. Existe a
possibilidade de formação com conhecimentos diferentes daqueles que foram adquiridos
pelo “habitus”, desde que se leve em conta as aspirações profissionais ou acadêmicas
individuais e não se permitindo que as diferenças de capitais e de quereres, exerçam
qualquer tipo de influência nas realizações dos sonhos de cada um. Tratar a população
menos favorecida como igual em acesso e conteúdo, pode não ser a solução. O que nos
cabe dizer é que a sociedade capitalista ainda não está em condições de compreender
que os indivíduos das classes populares não são meros expectadores da sociedade.

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