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Tendências no Estudo dos Novos

Movimentos Religiosos na América:


Os Últimos 20 Anos*

M aría Julia Carozzi

Nos últimos vinte anos, o estudo dos da religião era a teoria das relações entre
novos movimentos religiosos esteve no auge, igrejas e seitas. A bibliografia revela, no en­
na América. Tanto nas investigações empíri­ tanto, que a utilização desses conceitos pelos
cas como na discussão teórica destacaram-se sociólogos resultou apenas num conjunto de
quatro orientações temáticas, em torno das tipologias idiossincrásicas que não contribuí­
quais organizamos este trabalho: a redefini­ ram significativamente para a explicação dos
ção dos conceitos de igreja e seita; a análise fenômenos religiosos (Stark, 1985).
do processo de conversão aos novos movi­ Nas últimas décadas, a maior parte dos
mentos religiosos; o estabelecimento de rela­ pesquisadores preferiu abandonar completa­
ções entre as mudanças produzidas na socie­ mente esses conceitos, adotando a expressão
dade e o surgimento e desenvolvimento des­ “novos movimentos religiosos”, mais genéri­
ses movimentos; a determinação de relações ca e menos carregada valorativamente. A pe­
entre os novos movimentos religiosos e as si­ sar disso, muitos autores se dedicaram à re­
tuações de pobreza, particularm ente na definição dos termos “igreja” e “seita”, bem
América Latina. como à exploração de suas possibilidades
Realizaremos prim eiram ente uma revi­ teóricas.
são sintética dos achados teóricos e m etodo­ Por volta de 1930, foi proposta a teoria
lógicos efetuados segundo cada uma dessas de um processo invariável, de acordo com o
orientações temáticas, para depois discutir­ qual as seitas separavam-se das igrejas para
mos suas conseqüências para o avanço da posteriormente se transformarem em novas
compreensão dos novos movimentos religio­ igrejas. O proponente dessa teoria (Niebuhr,
sos, seu surgimento e expansão. 1929) tratou de explicar a grande diversi­
dade de grupos cristãos nas sociedades
Redefinição dos contem porâneas, postulando um processo
Conceitos de Igreja e Seita no qual as organizações religiosas seriam
sucessivamente capturadas pelas classes m é­
Por mais de cinqüenta anos imaginou- dias e altas e acomodadas ao mundo, per­
se que um dos maiores triunfos da sociologia dendo, desse modo, sua capacidade “do ou-

* A primeira parte deste trabalho foi realizada graças a uma bolsa do CONICET. A última parte rece­
beu subsídio da Fundación Antorchas. Devo agradecer especialmente o assessoramento bibliográfico
do Dr. Alejandro Frigerio, generosam ente prestado durante os cinco anos que dediquei à investiga­
ção desses temas. A tradução do original espanhol, “Tendencias en el Estúdio de los Nuevos Movi-
mientos Religiosos en America: Los Últim os 20 A nos”, é de Júlio Assis Simões.

BIB, Rio de Janeiro, n. 37, 1.° sem estre 1994, pp. 61-78 61
tro m undo” de satisfazer os sonhos e desejos também trouxe à luz fenômenos até então
das populações carentes. Seu modelo postu­ não considerados, como o fato de que assim
lava um ciclo contínuo de nascimento, trans­ como se produziam cismas em grupos sectá­
formação e renascim ento dos grupos sectá­ rios que se encaminhavam para um grau
rios. Essa idéia, porém, não foi investigada maior de tensão com o meio, às vezes tam ­
em profundidade pelos sociólogos que o su­ bém ocorria o contrário, isto é, grupos que
cederam, os quais optaram por prosseguir a se cindiam para se encaminhar a um estado
tarefa de classificação dos agrupam entos re­ de tensão menor com o meio (Stark, 1985).
ligiosos. A definição dos conceitos freqüente­ A partir da reformulação dos conceitos de
mente incluía conjuntos de características igreja e seita, operacionalizou-se também o
que estavam associadas som ente em alguns conceito de “tensão com o meio” para sub­
movimentos. O s sociólogos afirmavam, por metê-lo à indagação empírica. Alguns auto­
exemplo, que as seitas tendiam a ser grupos res definiram a tensão como um “desvio sub­
menores de m embros convertidos, caracteri­ cultural” medido pelo grau de diferença, an­
zados pela austeridade e pelo desenvolvi­ tagonismo e separação entre um grupo reli­
mento de estilos de culto muito emocionais gioso e seu ambiente sócio-cultural (Stark e
(Dynes, 1957; 0 ’Dea, 1966). Porém, muitos Bainbridge, 1980).
grupos eram tratados como seitas embora Outro subproduto da reformulação dos
apresentassem apenas algumas dessas carac­ conceitos de igreja e seita foi a diferenciação
terísticas. O resultado inevitável foi um acú­ entre classes de grupos de alta tensão, com
mulo de tipos mistos. base em suas origens. De acordo com os t u ­
Somente na década de 60 seria reaviva­ tores, nem todos os grupos que apresentam
do o interesse teórico pelo tema. Em primei­ graus elevados de tensão com seu meio am ­
biente sócio-cultural provêm da cisão de
ro lugar, tentou-se definir os conceitos de
igrejas convencionais. U m a sociedade fre­
igreja e seita de acordo com um único atri­
qüentem ente importa novas religiões e às ve­
buto. Assim, foi proposto que igrejas e seitas
zes alguém descobre ou inventa novas pers­
seriam nomes aplicáveis a grupos religiosos
pectivas religiosas e estabelece um a nova
situados nas extremidades de um continuum
crença. Alguns autores propuseram aplicar o
definido exclusivamente pelo grau de tensão
termo “culto” às novas religiões e o termo
entre o grupo e o am biente sócio-cultural.
“seita” aos movimentos originados nas cisões
As igrejas seriam corpos religiosos em estado
de uma tradição religiosa convencional
de baixa tensão, ao passo que as seitas cons­
(Stark, 1985).
tituiriam corpos religiosos com elevado grau
de tensão em relação ao seus respectivos
O Processo de Conversão
meios sociais (Johnson, 1963). A vantagem
de usar uma única característica para dife­ A questão de como os indivíduos en­
renciar seitas e igrejas residia na pos­ tram em contato com novas religiões, acei­
sibilidade de ordenar os grupos religiosos de tam sua cosmovisão e se mantêm dentro de
forma não ambígua e verificar se qualquer seu sistema de crenças revestiu-se de parti­
grupo dado se encaminhava para um grau de cular importância para a sociologia da reli­
tensão maior ou m enor com o ambiente. gião nos últimos vinte anos (Robbins e An­
Essa reform ulação deu origem a algu­ thony, 1979; Beckford, 1985; Robbins, 1988;
mas proposições de caráter teórico; afirmou- Snow e Machalek, 1984). Robbins (1991)
se, por exemplo, que, quando num movi­ afirmou que esse florescimento dos estudos
mento religioso a quantidade de membros sobre conversão deve-se principalmente a
socializados dentro do próprio grupo passa a dois fatores. Em primeiro lugar, a preocupa­
ser maior do que a de membros convertidos, ção dos meios de comunicação de massa e
é provável que diminua sua tensão com o da imprensa não científica com a suposta uti­
meio ambiente sócio-cultural. A formulação lização de métodos de “lavagem cerebral”

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pelos novos movimentos religiosos, para for­ víduo e a transformação psicológica através
çar a conversão. E m segundo lugar, o fato de da qual os pressupostos básicos do converti­
que numa sociedade secularizada, onde a re­ do são reconstruídos. De acordo com a auto­
ligião passou a ser algo marginal ou rotineiro ra, a conversão inclui uma transformação
na vida dos indivíduos, costuma-se imaginar aceitável do eu e um a demonstração social­
que as pessoas que efetivamente experimen­ mente reconhecida das mudanças. A conver­
tam a religião como algo central em suas vi­ são é, portanto, de acordo com Jules-Roset-
das teriam sofrido “uma estranha m etam or­ te, uma transformação interior e subjetiva,
fose”, especialmente se não pertencem a tanto quanto exterior. Esse conceito é
grupos tradicionais. compartilhado por M eredith Mc Guire, que
em seu estudo sobre os católicos pentecos-
O Que Muda no tais (Mc Guire, 1982) define a conversão co­
Processo de Conversão mo uma transformação do próprio eu conco­
mitante a uma transformação do próprio sis­
Não há unanimidade entre os estudio­
tema principal de significados. Ambas as au­
sos em relação ao “grau de transformação
toras (Jules-Rosette, 1975; Mc Guire, 1982)
suficiente para constituir uma verdadeira
afirmam que a natureza das teorias sobre a
conversão” (Snow e Machalek, 1984), nem
conversão expressadas em cada religião influí
ao que se transform a durante o processo.
nos relatos dos convertidos. As doutrinas re­
Foi proposto que no processo de conversão
ligiosas influem na explicitação da conversão
podem mudar: as crenças, os valores, o com ­
como uma experiência livre ou forçada, dra­
portamento, a identidade e as lealdades
mática ou parcial, repentina ou gradual. As­
interpessoais. Em bora se costume explicar a
sim, as religiões que se propõem a reivindi­
conversão em term os das mudanças de cren­
car os “verdadeiros princípios” contidos em
ça e “visão de m undo”, parece lógico supor
alguma tradição anterior darão ênfase à con­
que tais mudanças necessariamente impli­
tinuidade em relação a essas tradições.
cam transformações no repertório de identi­
R obert Balch (1980) observou que mui­
dades sociais que o indivíduo atribui a si pró­
tos autores incorrem no erro de supor que
prio e, conseqüentem ente, no seu com porta­
mento, pelo menos em certos contextos de uma mudança nas crenças do indivíduo é o
interação. Por outra parte, dada a im portân­ passo inicial da conversão. O autor afirma
cia atribuída aos “outros significativos” (Ber- que as pessoas que se juntam a um culto re­
ger e Luckmann, 1973: 175ss.) no processo ligioso mudam primeiro seu com portamen­
de socialização, um a mudança na visão de to, adotando um novo papel. As mudanças
mundo implica tam bém mudanças nas leal­ podem ser dramáticas, mas não estão neces­
dades interpessoais e no elenco de pessoas sariamente baseadas na convicção. D e acor­
com as quais se dá a interação habitual. do com esse autor, a fé ilimitada do verda­
G rande parte da discussão em torno do deiro crente em geral se desenvolve somente
que constitui uma “verdadeira conversão” depois de uma prolongada participação nas
provém de uma confusão entre conversão, atividades cotidianas do culto. Essa afirma­
recrutam ento e com prom etim ento (Rob- ção, todavia, não parece ser aplicável univer­
bins, 1991: 64). Nem toda pessoa recrutada salmente. As pessoas podem desenvolver
a um grupo religioso converte-se às crenças uma “fé ilimitada” em algumas crenças que
desse grupo, e nem todos os convertidos as­ supõem ser compartilhadas pelos demais
sumem o mesmo tipo de com prom etim ento membros do movimento religioso desde o
com o grupo que lhes ofereceu um a nova início de seu processo de conversão, antes de
cosmovisão e um a nova visão de si próprios. conhecerem amplamente as “verdadeiras
Jules-Rosette (1975), que passou por crenças” do grupo.1 Balch assinala — cor­
uma experiência pessoal de conversão, enfa­ retamente, a nosso ver — que para a com­
tizou a mudança da visão de m undo do indi­ preensão adequada do processo de conver-

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são é necessário observar as rotinas da vida ções que lhe são apresentadas como verda­
cotidiana nos cultos; e, sob esse aspecto, po­ deiras. Tornar-se um praticante Z en é um
de ser vantajoso em pregar a distinção de Er- processo que implica o desenvolvimento de
vin Goffman entre o com portam ento “em estados fisiológico-mentais mediante uma
cena” (front-stage) e “fora de cena” (back- técnica determinada e requer a interação
stage). Os membros do culto estão em cena com outros praticantes, a fim de aprender o
quando se defrontam com as pessoas de fo­ significado das conseqüências de tais estados.
ra, e seu com portam ento nessas ocasiões
não deixa dúvidas a respeito de sua convic­ Interação e Identificação Afetiva
ção; quando estão sozinhos, porém, voltam a com a Comunidade Religiosa
agir como pessoas reais. O autor recomenda
a observação participante como instrumento Berger e Luckmann (1973) afirmaram
para descobrir o que fazem os membros do que a conversão religiosa constitui o protóti­
culto quando estão entre seus pares, fora de po histórico dos processos de ressocializaçâo
cena. que, invariavelmente, supõem a transforma­
Balch e Taylor (1977) e Lynch (1977) ção quase completa da realidade subjetiva de
criticaram a idéia de que os novos movimen­ um indivíduo. A conversão requer processos
de ressocializaçâo que se assemelham à so­
tos religiosos necessariamente envolvem
cialização primária realizada no seio da famí­
uma visão de m undo estranha às predom i­
lia, pois implica voltar a atribuir tons de reali­
nantes na sociedade e afirmaram a prece­
dade a um novo mundo de conhecimento.
dência do meio social, onde os pressupostos
Em conseqüência, o grupo religioso deve re­
do movimento adquirem sentido. Espera-se
produzir em grande parte a forte identifica­
que o indivíduo, pelo menos nas primeiras
ção afetiva com os elencos socializadores, ca­
etapas da conversão, possa interpretar o no­
racterística da infância. Além disso, a conver­
vo conhecimento a partir dos paradigmas
são deve enfrentar um problema de desman­
preexistentes em seu universo cognoscitivo
telamento, ao desintegrar a estrutura prece­
(Carozzi e Frigerio, 1992). Do contrário, seu
dente da realidade subjetiva.
próprio etnocentrismo o levaria a afastar-se De acordo com os autores, a condição
de imediata. É provável que quanto mais mais importante para a conversão é dispor
afastada a nova cosmovisâo estiver das visões de “uma base social que sirva de ‘laborató­
de mundo preexistentes na sociedade, mais rio’ da transformação” (p. 208). Essa base
lenta e gradual será a conversão, pois a ap re­ social será constituída por outros indivíduos,
sentação dos fatos e interpretações mais ra­ com os quais o convertido potencial estabe­
dicalmente diferentes dos conhecidos de iní­ lecerá uma relação afetiva forte. Sem essa
cio tende a ser postergada até que o indiví­ espécie de identificação, não é possível pro­
duo esteja suficientemente integrado ao no­ duzir-se uma transformação radical da reali­
vo grupo, de modo a assegurar sua perm a­ dade subjetiva. A identificação inevitavel­
nência (Frigerio, 1989; Carozzi, 1992). m ente reproduz as experiências infantis de
David Preston (1981), em seu estudo dependência emocional com relação aos ou­
sobre o aprendizado das práticas Zen, intro­ tros significativos, que mediatizam o novo
duz um conceito que passou despercebido mundo de conhecimento para o indivíduo. O
por outros estudiosos da conversão, mas que centro do mundo cognoscitivo e afetivo do
parece im portante no caso do pentecostalis- indivíduo passa a ser o novo grupo, o que su­
mo, das religiões orientais e das religiões põe uma concentração de toda a interação
afro-americanas, que envolvem estados alte­ significativa dentro do grupo, particularmen­
rados de consciência. Preston observa que te no subgrupo encarregado da tarefa de res-
tornar-se um praticante Zen parece ser um socialização. Os autores afirmam, portanto,
aprendizado gradual, onde o indivíduo expe­ que somente dentro da comunidade religiosa
rimenta e confirma a realidade de proposi­ a conversão pode ser mantida com eficácia.

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A conversão pode anteceder a filiação ao ria mais para resolver os problemas que se
grupo religioso; no entanto, para continuar lhe apresentam. O autor afirma que a hete­
levando-a a sério e conservar o sentido de rogeneidade e as mudanças velozes do meio
sua possibilidade, é preciso participar da co­ social são condições que favorecem a con­
munidade religiosa, que confere à nova reali­ versão religiosa. Além disso, Greil afirma
dade a indispensável estrutura de m anuten­ que a presença de certas características pes­
ção (Frigerio, 1989). Para que a conversão soais predispõem alguns indivíduos à conver­
se concretize, essa estrutura de manutenção são, especialmente a presença de um modo
deve se tornar “o m undo” do indivíduo. O peculiar — não especificado pelo autor — de
convertido desfilia-se, às vezes corporalm en­ aceitar e validar novas proposições.
te e às vezes mentalmente, de seu mundo ante­
rior e da estrutura social que o mantinha. M udança da D efinição
A conversão, de acordo com os autores, da Realidade Subjetiva
comporta uma reorganização do aparelho
conversacional. M udam os interlocutores A diferença entre uma conversão (ou
que participam no diálogo significativo, o ressocializaçâo) e uma simples socialização
principal m antenedor da realidade subjetiva; secundária, como o aprendizado de uma
profissão, uma nova habilidade ou uma nova
e o diálogo com os novos outros significati­
disciplina intelectual, é expressada por Ber-
vos instaura a nova realidade, que se m an­
ger e Luckmann (1973: 215) da seguinte for­
tém mediante o contínuo diálogo com eles
ma: “Na ressocializaçâo [uma de cujas for­
ou na comunidade que representam . A alter­
mas é a conversão religiosa] o passado é
nação e, portanto, a conversão religiosa su­
reinterpretado para se harmonizar com a re­
põem mecanismos que legitimam não so­
alidade presente, havendo a tendência a re-
mente a nova realidade, mas também as eta­
trojetar no passado vários elementos que
pas através das quais esta é assumida e m an­
não eram acessíveis naquela época. Na socia­
tida, bem como o abandono ou repúdio de
lização secundária o presente é interpretado
todas as realidades alternativas. A velha re­
de modo a manter-se numa relação contínua
alidade deve ser reinterpretada nos termos com o passado, existindo a tendência a mini­
da nova realidade. Essa reinterpretação pro­ mizar as transformações realmente ocor­
voca uma ruptura na biografia subjetiva do ridas. Dito de outra maneira, a realidade bá­
indivíduo, o que freqüentem ente implica sica para a ressocializaçâo é o presente, para
uma nova interpretação da biografia anterior a socialização secundária é o passado.”
à conversão, conforme os termos da nova re­ Em outras palavras, enquanto na socia­
alidade subjetiva. As pessoas, os outros signi­ lização secundária o indivíduo fixa novas
ficativos, também são reinterpretadas de for­ identidades sociais ao mesmo fio condutor,
ma semelhante. sem modificar a definição de sua identidade
Arthur Greil (1977), seguindo as p re­ pessoal subjetiva, na conversão o indivíduo
missas do interacionismo simbólico, desen­ altera a interpretação de sua biografia, muda
volveu hipóteses sobre a conversão religiosa o fio condutor que mantém a continuidade
muito próximas do modelo de Berger e de sua experiência; modifica, em suma, a d e­
Luckmann. D e acordo com o autor, a con­ finição subjetiva de sua identidade pessoal.
versão dependeria da existência de algumas Por que um indivíduo se dispõe a modi­
destas circunstâncias: a aceitação de um gru­ ficar sua rede de relações sociais e sua reali­
po de referência cuja perspectiva é diferente dade subjetiva, inclusive a definição de sua
da do próprio indivíduo; uma mudança na própria identidade? A resposta de Berger e
perspectiva de seu próprio grupo de referên­ Luckmann faz referência à socialização pri­
cia; o desaparecimento do grupo de referên­ mária deficiente, isto é, a que resulta numa
cia que mantinha sua perspectiva ou a cons­ assimetria entre realidade objetiva e subjeti­
tatação de que a velha perspectiva não servi­ va. Uma socialização primária deficiente

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propõe ao indivíduo uma escolha entre per­ riência paulina”, isto é, uma mudança dra­
fis de identidades que ele apreende como mática e intempestiva das crenças religiosas
possibilidades biográficas genuínas e faz sur­ do indivíduo, capaz de alterar radicalmente
gir a pergunta: “Q uem sou eu?” — isto é, sua vida (Richardson, 1985). Essa visão da
permite opções para a própria identidade. conversão baseia-se nas teorias tradicionais
Surge aqui a possibilidade de uma identida­ que vêem os convertidos como sujeitos pas­
de oculta, que não é fácil de reconhecer, por­ sivos, presas de suas características psicológi­
que não concorda com as tipificações objeti­ cas e seu meio social (Heinrich, 1977). Mais
vamente disponíveis. Aparece uma as­ recentemente, afirmou-se que a conversão
simetria, socialmente dissimulada, entre a constituiria um processo envolvendo modifi­
biografia pública e a “privada”. Essa sociali­ cações gradativas no repertório de identida­
zação primária deficiente está ancorada em des sociais ou papéis que o indivíduo exerce
uma complexa distribuição social do co­ em contextos determinados. O indivíduo as­
nhecimento que institucionaliza diversas “reali­ sumiria as novas identidades fornecidas pela
dades” possíveis, canalizadas à criança através religião em situações específicas, à medida
da heterogeneidade dos elencos socializadores que lhe fossem concedidas algumas vanta­
ou da mediação entre mundos agudamente gens diferenciais. A conversão se completa­
discrepantes realizada por outros significativos ria quando o indivíduo construísse sua iden­
(Berger e Luckmann, 1973:220ss.) tidade pessoal primordialmente nos termos
Bankston, Forsyth e Floyd (1981), em dessas novas identidades sociais adquiridas
sua análise da conversão radical, retom am a
dentro do grupo religioso.
idéia de uma mudança da definição da iden­ O modelo de conversão de Lofland e
tidade pessoal subjetiva. Os autores afirmam
Stark (1965) foi um dos primeiros a conside­
que certas condições da estrutura social es­
rar que as causas da conversão não incluem
tão associadas a sérias perturbações nas
apenas fatores “de predisposição”, próprios
identidades e promovem a tendência para a
do indivíduo, mas também elementos situa-
construção de identidades alternativas e
cionais, próprios do contexto em que o indi­
comprometimentos que significam afasta­
víduo se insere. Esse modelo também deu
mentos radicais de estados anteriores.
ênfase ao caráter processual e interacional
Os autores sustentam que a definição
da conversão. Inúmeros estudos basearam-
do eu não é um processo mecânico, mas dia­
se no “modelo” de Lofland e Stark, visto co­
lético, que envolve criatividade e reflexão. Às
mo uma tentativa de estabelecer as condi­
vezes, as pessoas vêem sua identidade real
ções causais necessárias para produzir a con­
como “inadequada” e se engajam em novas
versão; parece conveniente, portanto, resu­
formas de interação, à procura de novos sig­
mi-lo aqui. D e acordo com o modelo, para se
nificados para a própria existência. Para si­
converter o indivíduo deveria: (1) experi­
tuarem a si próprios, buscam novos pontos
m entar tensões (frustração, carências, esfor­
de referência, que podem assinalar m udan­
ças dramáticas em relação às identidades ços) de forma aguda e duradoura, (2) dentro
passadas. Para os autores, a conversão radi­ de uma perspectiva religiosa de resolução de
cal implica um a transformação mantida, problemas (em oposição a uma perspectiva
abrupta e extensa da identidade, que se reali­ política, psiquiátrica, fisiológica etc.), (3) que
za na ausência de um a mudança de statiis o levaria a se definir como um “buscador”
institucionalmente prescrita. religioso (religious seeker); (4) encontrar o
culto num momento crítico de sua vida,
quando não mais pudesse seguir as antigas
Desenvolvimento do
orientações, (5) momento esse em que esta­
Processo de Conversão
belece (ou recompõe) uma ligação afetiva
Tradicionalmente, a conversão foi vi­ com os adeptos, (6) os laços externos ao cul­
sualizada como o que se chamou de “expe­ to afrouxam-se ou neutralizam-se (7) e o in­

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divíduo se expõe à interação intensa com os empíricos. Conseqüentemente, às vezes se
membros do grupo. considera um processo social e o seu contrá­
Gerlach e H ine (1970) elaboraram um rio como fatores que influenciam de forma
modelo mais explicitamente cronológico que positiva a expansão dos novos movimentos
o de Lofland e Stark, identificando sete eta­ religiosos.
pas no que cham am de “processo de com­
prom etim ento”. Seu modelo deriva de um Novos Movimentos Religiosos
extenso estudo sobre os movimentos neo- e Secularização
pentecostais e o poder negro. O modelo ex­
clui as características de “predisposição”, co­ Existem pelo menos quatro posições a
meçando com o “contato inicial”, mas consi­ respeito da relação entre processos de secu­
dera que a m udança da identidade é central larização e expansão dos novos movimentos
no processo de conversão. As etapas incluí­ religiosos. O ponto de vista mais comum é o
das no modelo são: (1) contato inicial com de que, no mundo moderno, as “novas reli­
um participante; (2) redefinição das neces­ giões” fazem parte do próprio processo de
sidades do convertido potencial; 3) reeduca­ secularização. Assim, argumentou-se (Wil­
ção mediante interação grupai intensa; 4) son, 1975: 80) que o mundo moderno pro­
substituição repentina ou gradual da velha duz “um supermercado de crenças”, que
identidade; (5) um evento que marca o com ­ coexistem porque são artigos de consumo
prometimento e rom pe as pontes com o pas­ pouco importantes. Essa avaliação dos novos
sado; (6) testem unho público da experiência; movimentos religiosos como superficiais e
(7) apoio contínuo do grupo para a conserva­ inautênticos, repetida por muitos autores, foi
ção das novas crenças e padrões de conduta. criticada por se basear mais em preconceitos
Diversos estudos (Strauss, 1979; Down- que na observação empírica. Q ualquer um
ton, 1980) apresentam modelos alternativos que passe algum tempo observando os mór-
do processo de conversão, seja formulando mons, por exemplo, seu comprometimento
os aspectos mencionados em termos de deci­ com a religião e a influência onipresente des­
sões do convertido, seja modificando a or­ ta em suas vidas cotidianas, perceberá que
dem dos fatores. Os estudos mais recentes eles não a consideram um “artigo de consu­
avaliam esses paradigmas e enfatizam a im ­ mo pouco im portante”. Equiparar os novos
portância da interação intensa e dos vínculos movimentos religiosos a trivialidades, con­
afetivos com os m em bros dos grupos religio­ vertendo-os em meros sintomas do processo
sos (Snow e Philips, 1980; Greil e Rudy, de secularização, significa “perder a oportu­
1984), a natureza gradual da conversão nidade de investigar os laços entre a seculari­
(Downton, 1980) e o papel ativo do conver­ zação e a inovação religiosa”, conforme
tido potencial, ao decidir se irá ou não inte­ expressam alguns críticos (Stark e Bainbrid-
grar-se ao grupo religioso (Ríchardson, ge, 1986: 437).
1985). Vários autores assinalaram o caráter Dentre os críticos da visão de que a ex­
permanente da conversão e sua necessidade pansão dos novos movimentos religiosos é
de uma revalidação contínua (Jules-Rosette, um sintoma da secularização, estão alguns
1975). que propõem perspectivas opostas. Segundo
Stark e Bainbridge (1986), a expansão do
pensamento científico representou o recuo
Novos Movimentos Religiosos
e Mudança Social das religiões que, originárias de épocas pré-
científicas, continham elementos mágicos
Inúm eras teorias foram elaboradas para significativos. Essas religiões foram reduzin­
explicar o florescimento dos novos movimen­ do progressivamente suas afirmações sobre a
tos religiosos desde o início da década de 70, força e a ação do sobrenatural no mundo
especialmente nos EUA. Muitas não foram empírico. A ciência teria gerado o ceticismo
suficientemente confrontadas com os dados para com a religião, e os cientistas, enquanto

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clilc, seriam recompensados por esse ceticis­ dade que, a julgar pelo que transmitem os
mo, que se estenderia a todas as elites inte­ meios de comunicação, parece indiferente a
lectuais. Segundo os autores, as religiões tra­ esse ponto de vista.
dicionais foram deixando pouco a pouco Alguns estudos assinalaram, por fim,
suas posições doutrinárias a fim de manter que o surgimento e expansão dos novos mo­
em níveis baixos sua tensão com o ambiente vimentos religiosos nas últimas décadas põe
social. A bandonando todo com ponente m á­ em questão a associação implícita entre mo­
gico, essas tradições religiosas atualm ente dernidade e secularizaçâo. Segundo os auto­
ofereceriam apenas compensações débeis e res, a teoria da secularizaçâo progressiva e
genéricas. Sua concepção do sobrenatural li- inexorável, que os sociólogos da religião as­
mitar-se-ia a um a divindade remota, inativa, sumiram como um dogma até meados deste
quase inexistente, e ofereceria pouco consolo século, atualm ente não encontra apoio nos
aos aflitos, aos moribundos, aos pobres e aos dados empíricos, pois as novas religiões dão
que buscam entender os enigmas da existên­ sinais de um reencantamento do mundo (Ri­
cia (Kelley, 1972). chardson, 1985b; Carozzi, 1991).
Segundo esses autores, o fato de que as
sociedades contam com recursos científicos e Novos Movimentos Religiosos
tecnológicos não significa que os indivíduos e Sociedade de Massas
que as consituem não sofram mais as angús­
Existem inúmeras teorias que postulam
tias da existência ou não sintam desejo por
uma relação direta entre o surgimento dos
recompensas inalcançáveis. Se as igrejas dei­
novos movimentos religiosos e as transfor­
xaram de satisfazer a necessidade de tais
mações ocorridas na sociedade e na cultura
compensações, os movimentos religiosos que
ocidental moderna (Robbins, 1991: 27).
as oferecem estariam num a situação particu­
Alguns autores (Richardson, Stewart e
larmente favorável para se expandirem. Na
Simmonds, 1978 e Bradfield, 1976) afirmam
medida em que são possíveis a inovação ou a
que a sociedade de massas, dominada por
divergência, essas crenças triunfariam, dando
estruturas burocráticas e impessoais, cria a
origem a novos movimentos religiosos, como necessidade de relações interpessoais gratifi-
resultado da secularizaçâo das organizações cantes, oferecidas nas comunidades consti­
religiosas tradicionais (Stark e Bainbridge, tuídas pelos novos movimentos religiosos.
1986: 437-439). De forma complementar, afirma-se (Brad­
Uma terceira posição afirma que a se­ field, 1975) que a fragmentação da vida em
cularizaçâo, em bora não tenha levado ao d e­ âmbitos diversos e desconectados entre si,
saparecimento da religião, como haviam su­ própria da sociedade moderna, resulta na
gerido os antigos sociólogos, confinou-a ao desagregação da identidade pessoal. Isso au­
âmbito da prática e da crença privadas. Se­ mentaria o encanto que os grupos religiosos
gundo Berger (1967), a ausência de uma exercem junto aos indivíduos descontentes
cosmovisão religiosa na cultura pública faz com a identidade desagregada, propiciando-
os indivíduos que conservam uma visão reli­ lhes as bases para concepções totalizadoras
giosa da vida se sentirem como um minoria da própria identidade (Anthony et a i, 1978;
cognoscitiva — e uma minoria cognoscitiva Beckford, 1984).
precisa de uma intensa interação interna pa­ Em outros estudos (Hunter, 1981;
ra manter a plausibilidade de sua cosmovi­ Prandi, 1992), os novos movimentos religio­
são. Segundo esse autor, parte do sucesso sos são interpretados como respostas ao di­
dos novos movimentos religiosos deve-se à vórcio entre as esferas pública e privada da
constituição de pequenas comunidades nas existência humana na sociedade moderna.
quais uma freqüente interação face a face D e acordo com H unter, na sociedade mo­
permite a manutenção de um a visão religio­ derna ampliar-se-ia a lacuna entre um domí­
sa do mundo e da própria vida, num a socie­ nio público altamente institucionalizado e

68
um domínio privado desinstitucionalizado. de intermediação entre os indivíduos e as fa­
Os novos movimentos religiosos, com sua re­ mílias, por um lado, e a sociedade mais am ­
gulamentação minuciosa da esfera privada, pla, por outro2 — que anteriormente pro­
constituiriam uma resposta ao vazio norm a­ viam apoio e serviços às famílias nucleares —
tivo que nela se produziu. Prandi (1992) encontram-se enfraquecidas. As famílias iso­
analisa os diversos contextos de expressão lam-se cada vez mais das outras instituições
pública oferecidos pelos novos movimentos sociais e tornam-se, portanto, mais frágeis
religiosos no Brasil. (Keniston, 1977). O isolamento estrutural da
Outros autores (Mauss e Petersen, família, afirmam alguns autores, pode envol­
1974; Evans, 1973) afirmam que os novos ver uma descontinuidade radical entre a
movimentos religiosos surgem como respos­ qualidade afetiva dos papéis familiares e a
ta a uma sociedade caracterizada pela diver­ qualidade impessoal dos papéis adultos. Essa
gência entre normas e valores. A grande va­ descontinuidade estaria na base de uma ten­
riedade e diversidade de normas e valores dência, verificada especialmente entre os jo ­
transmitidos pelas distintas instituições so­ vens, para procurar alternativas para a famí­
ciais e meios de comunicação de massa dei­ lia nas relações extrafamiliares (Anthony e
xariam um campo aberto para a formação Robbins, 1974; Gordon, 1980).
dos novos movimentos religiosos. Cada um De acordo com alguns trabalhos, os no­
desses movimentos proporcionaria a seus vos movimentos religiosos proporcionariam
adeptos um a cosmovisão coerente e unifica­ sistemas familiares alternativos ao adulto ou
da que, diferentem ente do bombardeio de ao adolescente, oferecendo-lhes aceitação in­
normas e valores diversos da sociedade m o­ condicional, calor, uma estrutura normativa
derna, pareceria propiciar respostas, mais e uma sólida autoridade. A linguagem familiar
que formulá-las. (irmãos, irmãs, pai, mãe) seria empregada nos
Afirmou-se, por fim, que o surgimento
novos movimentos religiosos de forma mais
e florescimento dos novos movimentos reli­
freqüente e significativa do que nas igrejas ins­
giosos na década de 70 deve-se ao fato de
titucionalizadas (Doress e Porter, 1981).
que nessa época a visão favorável ao m ate­
Assinalou-se também que os novos mo­
rialismo e ao progresso econômico indefini­
vimentos religiosos proporcionariam serviços
do provara ser ilusória. O antropólogo Mar-
e apoio às famílias dos devotos, incluindo
vin Harris argum enta que os novos movi­
trabalhos, cuidado às crianças, assistência
mentos religiosos procuraram enfrentar esse
médica, am paro social e compromissos de
fracasso através de um retorno aos meios
valores compartilhados.3 Esse auxílio, no en­
mágicos para obter fms materiais, seja en ­
tanto, somente seria viável se toda a família
toando mantras, confiando em Jesus ou pro­
passasse a integrar o movimento. Se isso não
porcionando treinam ento psíquico (Harris,
acontece, costuma-se afirmar que o efeito do
1981: 141-165). Oro, por sua vez, vincula a
expansão das novas religiões populares no grupo religioso sobre a família é desagrega-
Brasil às decepções do processo de m oder­ dor, especialmente se o movimento for mili­
nização, que não cumpriu as promessas de tante e autoritário (Beckford, 1982; Brom­
favorecer o bem -estar geral (Oro, 1992). ley, Shupe e Ventimiglia, 1983).
De acordo com alguns estudos (R ob­
bins, 1991: 46; Coleman, 1970: Forni, 1992)
Novos Movimentos Religiosos a importância dos novos movimentos religio­
e Organizações de Interm ediação
sos, enquanto organizações de intermedia­
Alguns autores assinalam que o surgi­ ção, provém de sua capacidade de criar valo­
mento e expansão de novos movimentos reli­ res universais e simbolos que legitimam no­
giosos estão relacionados com a decadência vas formas de relação interpessoal e intera­
das organizações tradicionais de intermedia­ ção comunitária. Os convertidos acredita­
ção. Na sociedade moderna, as organizações riam desfrutar um companheirismo comuni-

69
tário especial nos novos movimentos religio­ vos movimentos religiosos ofereceriam aos
sos, onde as relações de am or entre parentes pobres maior acesso a recursos materiais.
espirituais são consideradas como derivadas Por um lado, esse acesso seria obtido m e­
da relação íntima de cada devoto com Jesus, diante a constituição de grupos que intera­
o Espírito Santo, um mestre espiritual ou gem intensamente entre si. Esses movimen­
uma força mística. As relações satisfatórias tos possibilitariam o acréscimo de uma nova
entre os devotos de um mesmo grupo consti­ rede de ajuda m útua às previamente existen­
tuiriam um a estrutura de manutenção para tes (Mariz, 1990; Galliano, 1992).
o sistema de significados do movimento. E s­ Por outro lado, assinalou-se que os no­
se sistema de significados, por sua vez, pro­ vos movimentos religiosos, ao ocuparem a
porcionaria uma mística simbólica que au ­ maior parte do tempo livre em atividades re­
mentaria a satisfação proveniente do com pa­ ligiosas, proporcionariam uma estratégia pa­
nheirismo espiritual afetuoso. ra a redução das despesas das famílias po­
bres. Isso fica especialmente claro no caso do
Novos M ovimentos R eligiosos pentecostalismo, que fornece uma legitima­
e Situações de Pobreza ção religiosa à estratégia de “apertar os cin­
tos” (Mariz, 1990). Com relação a esse movi­
Na América Latina, a expansão dos no­ mento, afirmou-se que a resistência ao alcoolis­
vos movimentos religiosos, particularm ente mo e ao tabagismo teve como efeito a m e­
do pentecostalismo e das religiões afro-brasi­ lhoria da situação familiar e econômica dos
leiras, fora de seu país de origem, foi explica­ convertidos (Mariz, 1990; Tarducci, 1992).
da freqüentem ente como um a resposta às si­ Os novos movimentos religiosos propi­
tuações de pobreza (Pi H ugarte, 1992; Ca­ ciariam, por fim, o fortalecimento da auto-
margo, 1961; Ameigeiras, 1991: 24; Mariz, estima dos pobres. No caso do pentecostalis­
1990). Afirmou-se que esses movimentos re­ mo, isso se produziria mediante a valoriza­
ligiosos proporcionam diversas estratégias de ção dos dons espirituais, em oposição às van­
sobrevivência às famílias pobres. tagens materiais, e pela obtenção de uma
Alguns autores assinalaram que os no­ consciência e uma aparência de “pessoa de
vos movimentos religiosos oferecem respos­ bem ”. A segurança de estar entre os que se­
tas sobrenaturais às necessidades cotidianas rão salvos num mundo caótico e imoral, a
nas situações em que a mobilização política abstenção do álcool e do tabaco e o uso de
foi reprimida ou perdeu vigor como estraté­ roupas simples diferenciariam claramente a
gia de melhoria sócio-econômica. A solução mulher pobre da prostituta e o homem po­
dos problemas existentes mobilizaria a filia­ bre do ladrão, formando a base de uma valo­
ção àqueles movimentos e o cumprimento rização da identidade pessoal, diante das al­
de seus rituais (Pi H ugarte, 1992: 32-33). ternativas da miséria e da marginalidade
Afirmou-se tam bém que os movimentos reli­ (Mariz, 1990). Nas religiões afro-americanas,
giosos não som ente ofereceriam um a inter­ a valorização da identidade pessoal seria al­
venção sobrenatural para a solução de pro­ cançada mediante a crença na aquisição de
blemas, especialmente de saúde, mas também um poder mágico e na relação direta do indi­
dariam um sentido às dificuldades, apresentan­ víduo, sua personalidade e as dificuldades de
do-as como parte de um plano divino e ensi­ sua vida com uma divindade venerada pelo
nando as pessoas a conviverem com os proble­ grupo religioso (Carozzi, 1992).
mas. A sensação de “sentido” para os proble­
mas cotidianos contribuiria para a sobrevivên­ Discussão
cia ao propor a inexistência de destinos ilogica-
mente ruins e ao fornecer razões para o sofri­ Quais são as conseqüências dessas
mento da perspectiva de um destino global po­ orientações temáticas para a compreensão
sitivo para os homens (Mariz, 1990). dos novos movimentos religiosos, seu surgi­
Afirmou-se com freqüência que os no­ mento e expansão?

70
Redefinição dos C onceitos possui a palavra “seita” na cultura popular.
de Igreja e Seita Ninguém parece disposto a aceitar que o
Em primeiro lugar, devemos considerar movimento religioso do qual participa consti­
que a redefinição dos conceitos de igreja e tui uma seita. Na cultura popular, “seita” as-
seita, nos term os da tensão com o meio am ­ socia-se invariavelmente a termos como in­
biente sócio-cultural, baseia-se no pres­ vasão, destruição, cultos satânicos, fanatis­
suposto — no mínimo, discutível — de uma mo, risco, perigo, perversidade, lavagem ce­
cultura compartilhada onde o elem ento sub- rebral etc. A estigmatização é suficiente para
cultural definir-se-ia como um “desvio”. Se, legitimar, em relação aos sectários, um com­
pelo contrário, considerarmos que toda so­ portamento que não seria admitido em ou­
ciedade possui um alto grau de diversidade tros seres humanos. Em conseqüência, a
cultural interna, surge um a questão básica: compreensão do uso do conceito de seita nas
em relação a qual “am biente sócio-cultural”, disciplinas sociais de forma não-valorativa,
dentre os vários em que os indivíduos partici­ baseada em critérios empíricos, invariavel­
pam, deveríamos estabelecer o grau de ten­ mente encontrará um obstáculo na forma de
compreensão do leigo.
são, a fim de determ inar se um certo movi­
mento religioso é mais ou menos sectário?
Um tema relevante a esse respeito, por Análise do Processo
sua repercussão, é o da relação de certos de Conversão
movimentos religiosos com a cultura pública,
Os estudos que analisam o processo de
particularmente a que é transmitida pelos
conversão aos novos movimentos religiosos
meios de comunicação de massa.4 O repúdio
fizeram muitas contribuições para a descri­
da mídia por certos movimentos religiosos, ção e compreensão do fenômeno. Dentre
porém, raram ente se baseia nas característi­ elas se destacam: a diferenciação entre re­
cas próprias dos movimentos e parece estar crutamento, conversão e comprometimento
mais freqüentem ente relacionado com o religioso; a distinção entre adotar o compor­
grau de identificação dos que produzem a tamento de um grupo religioso e convicção
cultura pública com os movimentos religio­ religiosa; o estabelecimento de continuida-
sos tradicionais e com a dose de pluralismo des entre as crenças precedentes do indiví­
cultural que estão dispostos a aceitar. Essas duo e as novas crenças adotadas; o papel dos
características constituem atributos da cultu­ estados alterados de consciência e da identi­
ra pública e da economia religiosa vigente, ficação afetiva com o grupo religioso no
mais do que dos novos movimentos religio­ processo de conversão; a determinação de
sos em si. A parentem ente, a única caracterís­ uma série de fatores próprios do indivíduo e
tica comum dentre os diversos movimentos de sua situação, freqüentemente presentes
que a cultura pública repudia é o seu caráter nas experiências de conversão (tais como
de “novidade” para aqueles que produzem frustrações, momentos de crise pessoal, bus­
tal cultura. Como “religião” está conotativa- ca religiosa, afrouxamento dos laços externos
mente associada a “tradição”, qualquer mo­ ao grupo religioso, interação intensa com os
vimento religioso percebido como “novo” é membros do grupo, comprometimento com
automaticamente posto sob suspeita. Essa o grupo, reinterpretação da biografia etc.) e
característica de novidade é, porém, muito o caráter perm anente da conversão que, pa­
melhor descrita pela expressão “novos movi­ ra se manter, requer a revalidação contínua
mentos religiosos” do que pelo termo “seitas”. através da interação com o grupo.
Por fim, uma consideração, que até cer­ De um ponto de vista metodológico, os
to ponto escapa dos limites da reflexão teóri- achados ressaltam, em primeiro lugar, a im­
co-metodológica e se relaciona com o diálo­ portância da observação participante para
go entre as ciências sociais e os membros da estabelecer o comportamento “fora de cena”
sociedade, é a carga valorativa negativa que nos novos movimentos religiosos. Por outra
parte, os estudos assinalam a reinterpretação ção com a definição de sua identidade pes­
das histórias de conversão conforme os te r­ soal subjetiva. A adoção de um a “perspecti­
mos do movimento, recomendando o acom ­ va religiosa” para a resolução d e problemas,
panhamento m ediante entrevistas e a obser­ converter-se num “buscador religioso” em
vação dos convertidos potenciais, quando se vez de efetuar mudanças em outros aspectos
quiser evitar tal reinterpretação. da vida — como casar-se, m udar de residên­
Talvez a contribuição mais importante cia ou de trabalho etc. — tam bém parece re-
dos estudos de conversão religiosa em preen­ lacionar-se com o fato de que a conversão
didos nos últimos anos seja a de que deles se religiosa é uma das únicas alterações capazes
desprende a visão do convertido como um de produzir mudanças na totalidade da reali­
sujeito ativo, que aprende novos significados dade, tal como esta é definida subjetivamen­
a partir de sua interação com os m embros do te, possibilitando um a redefinição da própria
grupo e decide o curso de ação a tom ar de identidade. Redefinir a própria identidade
acordo coi^i seus objetivos e suas neces­ implica também cortar os laços — em ter­
sidades. Esse fato, no entanto, questiona a mos físicos e mentais — com os que ajuda­
possibilidade de se estabelecer modelos fixos vam a manter a identidade antiga, em favor
e universais do processo de conversão. Esses da interação com os que tornaram possível a
modelos, em bora tenham chamado a aten ­ identidade nova. Os momentos de crise, on­
ção tanto para as predisposições como para de os antigos métodos de resolução de pro­
os fatores situacionais freqüentem ente pre­ blemas parecem não mais funcionar, consti­
sentes na conversão, parecem ser redefinidos tuem oportunidades particularmente ade­
continuamente, conforme o movimento reli­ quadas para se decidir uma redefinição do
gioso e os indivíduos em questão. Pode ser eu com base em um novo universo de signifi­
cados. Nesse sentido, os estados alterados de
mais frutífero perguntar por que determ ina­
consciência, que freqüentem ente parecem
dos “fatores” ou circunstâncias acham-se as­
desempenhar um papel na conversão, pro­
sociados de forma tão extensa às experiên­
porcionam um a evidência experimental de
cias de conversão a diversos movimentos re­
que “ser outro” é possível.
ligiosos, em vez de supor que tal associação
A possibilidade de transcender os mo­
provenha de uma forma universal do processo
delos mecânicos da conversão e estabelecer
de conversão, que seria mister “descobrir”.
as motivações e as modificações nos signifi­
A conceituação da conversão religiosa
cados que nela se produzem parece depen­
como uma mudança da identidade pessoal
der da realização de estudos onde a observa­
subjetiva, que é sim ultaneam ente desejada
ção participante e, particularmente, o acom­
pelo convertido e construída em sua intera­
panhamento mediante entrevistas não estru­
ção com os membros do novo grupo, parece
turadas ou semi-estruturadas junto aos con­
particularmente útil para explicar a reiterada vertidos potenciais complementam a infor­
presença de certos fatores e circunstâncias mação obtida por meio de questionários.
nas experiências de conversão. Por exemplo,
a redefinição da própria biografia, que Ber-
ger e Luckmann apontam como constitutiva Novos Movimentos Religiosos
e Mudança Social
do processo de conversão, seria a conse­
qüência de um a redefinição da própria iden­ Os estudos macrossociológicos dos no­
tidade. As “tensões largamente sentidas”, vos movimentos religiosos chamaram a aten­
que os convertidos parecem experimentar ção para a vinculação de algumas caracterís­
em relação a problemas objetivamente cate­ ticas desses movimentos com processos re­
gorizáveis como ordinários, parecem indicar gistrados na sociedade moderna, tais como a
— como afirmaram Bankston, Forsyth e secularização das igrejas tradicionais e da
Ford (1981) — certa desconformidade bási­ cultura pública, a fragmentação dos papéis e
ca que poderia ter sua raiz em um a insatisfa­ identidades sociais, a diversidade valorativa e

72
normativa, a decadência da idéia de progres­ Novos Movimentos
so indefinido e o enfraquecim ento das orga­ R eligiosos e Pobreza
nizações de intermediação. Os estudos sobre os novos movimentos
A nosso ver, a discussão dessas relações religiosos na América Latina enfatizam co­
entre os novos movimentos religiosos e as mo estes freqüentemente constituem estra­
transformações na sociedade m oderna seria tégias de sobrevivência para as famílias po­
favorecida por um diálogo mais intenso com bres, ao lhes proporcionarem: meios mágicos
os estudos sobre conversão; por definições para o acesso a maiores recursos, nos momen­
mais precisas dos term os da relação; por tos em que a mobilização política perde vigor
uma perspectiva histórica e por investigações ou credibilidade como instrumento de me­
empíricas das teorias, freqüentem ente sus­ lhoria social; um sentido sobrenatural para as
tentadas ex-post facto. dificuldades da vida; redes de ajuda mútua; e a
De nosso ponto de vista, os estudos so­ base para uma elevação da auto-estima.
bre conversão, se realizados sob a orientação Com algumas exceções, no entanto,
das hipóteses referentes às relações entre chama a atenção o fato de que as razões de
mudança social e expansão dos novos movi­ caráter econômico ocupam um lugar quase
mentos religiosos, podem responder à ques­ exclusivo na explicação do aparecimento e
tão central de se as relações macrossocio- desenvolvimento de novos movimentos reli­
lógicas postuladas têm sentido do ponto de vis­ giosos na América do Sul. O fato de serem
ta das decisões dos convertidas. Até o momen­ os pobres que majoritariamente aderem a
to, no entanto, constata-se um divórcio entre esses movimentos não parece implicar neces­
os estudos microssociais sobre conversão e as sariamente que as estratégias para sobrevi­
teorias macrossociais que relacionam mudança ver na pobreza sejam a causa universal de
social e novos movimentos religiosos. seu florescimento (Frigerio e Carozzi, 1992).
A definição mais precisa de conceitos A nosso entender, os estudos seriam favore­
polissêmicos, como “secularização”, ou mui­ cidos por um maior diálogo com as teorias
to genéricos, como “divórcio entre as esferas sustentadas em outras áreas geográficas.
pública e privada”, “enfraquecim ento da fa­ Não é preciso destacar a necesssidade
mília”, “divergência valorativa e normativa” etc., de estudos empíricos para confrontar as teo­
facilitaria a investigação empírica dessas teorias rias; grande parte dos estudos que postulam
macrossociológicas para a explicação do flores­ relações diretas entre pobreza e filiação reli­
cimento dos novos movimentos religiosos. giosa não apresentam dados sobre a compo­
Uma perspectiva histórica, freqüente­ sição sócio-econômica dos fiéis dos movi­
mente ausente nos estudos sobre novos mo­ mentos religiosos considerados, nem sobre
vimentos religiosos, que costumam conside­ os mecanismos concretos que ligam ambos
rar inédito o fenômeno, permitiria a com pa­ os termos da relação.
ração com as efervescências religiosas do
passado e, por conseguinte, a elaboração e o
confronto de teorias em relação a um maior (Recebido para publicação
acúmulo de dados empíricos. em outubro de 1993)

Notas

1. Um estudo empírico sobre o processo de conversão às religiões afro-americanas (Caroz­


zi, 1992) parece apoiar essa hipótese.

2. Tais como os bairros homogêneos, as famílias extensas e os pequenos locais de trabalho


com relações face a face entre seus membros.

73
3. Conforme veremos mais adiante, essa hipótese é freqüentem ente sustentada por aqueles
que realizam estudos sobre os novos movimentos religiosos na América Latina, onde, se­
gundo se afirma geralmente, as redes de solidariedade oferecidas por esses movimentos
constituem um a resposta às situações de pobreza.
4. Pode-se consultar a respeito Beckford (1985) e, para um exemplo local, Frigerio (1991a,
1991b).

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