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O espaço da Biblioteca Escolar: análise das condições de mediação de leitura

School Library space: an analysis of the reading mediation conditions

Nathalie Vieira Neves 1


Flávia Brocchetto Ramos 2

Resumo: A pesquisa “PNBE/2008 em Caxias do Sul: recepção e usos para o letramento”,


pertencente ao projeto “Educação, linguagem e práticas leitoras”, pretende analisar a presença
do acervo do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), destinado aos anos iniciais do
Ensino Fundamental, no município de Caxias do Sul. A fim de compreender as práticas de
leitura realizadas a partir das obras pertencentes a esse acervo, serão analisadas as condições
físicas e pedagógicas das bibliotecas de três escolas municipais caxienses. Para a análise
desses ambientes, serão utilizados como referência estudos de Waldeck Carneiro da Silva
(1995), Carol Kuhlthau (2002) e Renata Junqueira de Souza (2009), entre outros, que
enfatizam desde características arquitetônicas (como organização do espaço, iluminação,
ventilação, acústica, mobiliário, acessibilidade), até aspectos biblioteconômicos (horário de
funcionamento, conservação e classificação dos livros, exposição das obras, qualidade e
diversidade do acervo etc.). Os resultados iniciais apontam para algumas inadequações no que
se refere à organização desses espaços. Espera-se, a partir da análise das referidas bibliotecas
escolares, refletir sobre as condições necessárias para a realização de práticas de leitura que
efetivamente contribuam para o letramento literário.

Palavras-chave: biblioteca escolar; mediação de leitura; literatura infantil; educação literária;


PNBE.

1
Graduanda em Licenciatura em Letras na UCS. Bolsista BIC/Fapergs do projeto de pesquisa “Educação,
linguagem e práticas leitoras”. E-mail: nathalie.vneves@gmail.com
2
Doutora em Letras pela PUCRS. Docente do Programa de Pós-graduação em Educação da UCS. E-mail:
ramos.fb@gmail.com
Abstract: The research “PNBE/2008 in Caxias do Sul: response and uses for literacy”, which
is part of the project “Education, language and reading habits”, intends to analyze the
presence of the PNBE (National Program Library at School) catalog in the initial years of
Elementary School, in the city of Caxias do Sul. In order to understand the reading habits that
take place with the use of PNBE’s books, an analysis of the physical and pedagogical
conditions of tree libraries in municipal schools of Caxias do Sul will be carried on. The
reference for this analysis relies on the studies of Waldeck Carneiro da Silva (1995), Carol
Kuhlthau (2002) and Renata Junqueira de Souza (2009), among others, all emphasizing
aspects that range from architectural features (such as room organization, lightning,
ventilation, acoustic, furniture, accessibility) to organizational procedures (i.e. opening hours,
books maintenance, arrangement and display, the catalog’s quality and diversity, etc.). The
initial results reveal the organization of these places to be somewhat inappropriate. The
analysis of these school libraries will enable us to think about the necessary conditions to
apply reading strategies that help ensure an effective literary literacy.

Key words: school library; reading mediation; children’s literature; literary education; PNBE.

O ESPAÇO DA BIBLIOTECA ESCOLAR: ANÁLISE DAS CONDIÇÕES DE


MEDIAÇÃO DE LEITURA

Introdução

A pesquisa Formação do leitor: o processo de mediação do docente foi desenvolvida


de março de 2006 a fevereiro de 2009, na Universidade de Caxias do Sul, e teve como
objetivo investigar os processos de leitura de textos contemporâneos de literatura infantil e os
modos de articulação entre sistemas de linguagem presentes nessas obras, a partir da
aproximação entre os campos da educação e da literatura, enfatizando o papel dos mediadores
de leitura no ambiente escolar – biblioteca e sala de aula, nas séries iniciais do ensino
fundamental.
Subsequente a essa pesquisa, visando a ampliar as discussões acerca da formação do
leitor, foi desenvolvido o projeto Educação, linguagem e práticas leitoras (ELP), iniciado em
março de 2009, na Universidade de Caxias do Sul. Esse projeto de pesquisa almeja estudar a
leitura de diferentes produtos culturais contemporâneos destinados à infância: livros de
literatura infantil, propagandas, desenhos animados, jornais, revistas infantis, internet, e os
seus processos e possibilidades de intervenção por parte de docentes.
Aponta-se ainda ligado à pesquisa ELP, o subprojeto “PNBE/2008 em Caxias do Sul:
recepção e usos para o letramento”, desenvolvido a partir de agosto de 2009. Esse subprojeto
pretende, a partir de dados coletados em escolas municipais de Caxias do Sul, analisar a
presença do acervo do Programa Nacional Biblioteca da Escola - PNBE - nessas instituições,
a fim de refletir sobre as práticas leitoras desenvolvidas com essas obras.

1. O que se espera de uma biblioteca escolar?

Em muitas escolas brasileiras, as bibliotecas escolares (quando existem) são espaços


desprezados, cumprindo mais a função de depósito de livros e materiais do que de ambiente
pedagógico para informação, letramento e fruição. Trata-se também de outro aspecto da
realidade brasileira os altos índices de analfabetismo funcional e o baixo índice de leitura
literária. Percebemos, então, uma atuação insatisfatória da escola. Mas que papel se espera da
biblioteca escolar nesse contexto?
Segundo Olga Pombo 3 , biblioteca e escola percorrem caminhos cruzados e, de certa
forma, dependentes: para ter acesso ao acervo da biblioteca, é preciso letramento (promovido
pela escola); para se ensinar algo, é preciso material (fornecido pela biblioteca). Ainda de
acordo com a filósofa portuguesa, a biblioteca sempre tem uma função educativa, ao mostrar
para o aluno a diversidade de saberes e de pontos de vista, além dos múltiplos esforços em
compreender o mundo. Dessa forma, a biblioteca pode se converter num mecanismo de
transformação das relações entre alunos e professores, já que o professor deixa de ser a fonte
única de saber, enquanto o aluno ganha autonomia e liberdade de pesquisa.
Leiva Leal, no artigo “Biblioteca escolar como eixo estruturador do currículo escolar”
(2005, p. 174), afirma que a biblioteca não tem uma função complementar: pelo contrário, sua
função é ser o centro do currículo e da escola, o eixo que garante e sustenta os processos de
ensino e aprendizagem. Leiva Leal ainda argumenta que, para que a biblioteca seja o eixo
estruturador do currículo, é preciso alterar o modo de ensinar, isto é, “despertar nos alunos
atitudes de busca, de investigação e de pergunta” (ibidem, p. 176).
Apesar da relevância pedagógica da biblioteca, esse ambiente escolar em geral tem
sido desprezado pelas políticas públicas e pelas práticas docentes. Waldeck Carneiro da Silva,

3
POMBO, Olga. Museu e Biblioteca: a “alma” da Escola. Disponível em:
http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/cadernos/museubib/index.htm, acesso em 13-4-2009.
em Miséria da biblioteca escolar (1995, p. 24-25), expõe a realidade das escolas brasileiras:
quando existe biblioteca, esses espaços geralmente não passam de depósitos de livros e de
outros objetos, com horários de funcionamento breves e irregulares, ou ainda são convertidas
em espaços de punição (onde os alunos ficam de castigo para copiar trechos de enciclopédias
porque se comportaram de modo inadequado em outros espaços escolares), cujos atendentes
são professores aposentados ou readaptados, enfadados da sala de aula e de alunos. Essa
situação torna-se mais preocupante quando pensamos que para a maior parte das crianças
brasileiras o primeiro (ou único) contato com o livro ocorre na biblioteca escolar...
Assim, de acordo com Waldeck da Silva, as bibliotecas sofrem tanto de problemas
extrabibliotecários (como desvalorização social da leitura e escassez de políticas públicas)
quanto intrabibliotecários, quando apresenta falhas na própria estrutura. São exemplos de
problemas intrabibliotecários: inadequações no espaço, acervo sem diversidade nem
qualidade, sistema de classificação ininteligível, regulamentos muito rígidos, horários
inflexíveis, preocupação excessiva com silêncio, arrumação e disciplina, bibliotecários mal
preparados, entre outros.
Levantados os problemas da biblioteca escolar, vamos às suas possibilidades: Como a
biblioteca escolar poderia se tornar um ambiente privilegiado para a construção de práticas
pedagógicas mais relevantes e para mediação de leitura (especialmente, leitura literária)?
Como poderíamos caracterizar um espaço de biblioteca escolar adequado? Vejamos o que
dizem alguns autores:

1.1 Características arquitetônicas


Como lembra Andréa Ferreira, “uma biblioteca bem organizada, especialmente
construída ou reformada para acolher livros e seus leitores é, com certeza, o primeiro estímulo
para a leitura” (PEREIRA, 2006, p. 9). Rovilson da Silva, no artigo “Biblioteca escolar:
organização e funcionamento” (2009, p. 115), propõe que a biblioteca seja um local
confortável, com iluminação e ventilação adequadas, área disponível de pelo menos 1,2 m²
por aluno e com o máximo de acessibilidade possível (rampas de acesso, piso antiderrapante
etc).
O mobiliário deve ter um tamanho adequado para as faixas etárias atendidas, além de
ser resistente, estável e flexível para poder ser trocado de lugar (no caso de exposições ou da
hora do conto, p.ex.). A mesa do bibliotecário deve ficar disposta num ponto estratégico, de
forma a poder visualizar todo espaço, e deve haver disponibilidade de mesas para pesquisa e
estudo. Ainda de acordo com Rovilson da Silva, a biblioteca deve ter, além de uma zona
formal (áreas de empréstimo/ devolução e exposição das obras), uma área informal, um
espaço lúdico em que a criança fique mais à vontade, com tapetes, cortinas, fantoches etc. Em
vez de estantes, baús e caixas, deixando os livros mais à mão; em vez de cadeiras, tapete e
almofadas, a fim de que os alunos se recostem ou se deitem como quiserem.
No que se refere à decoração do ambiente, Rovilson da Silva lembra que as cores do
interior de um ambiente são capazes de acalmar ou tirar a concentração, provocando conforto
ou desconforto visual. Sugere pintar as paredes de uma cor diferente do restante da escola,
criando um oásis, um espaço singular, capaz de promover lazer e conhecimento. Pode-se
escolher entre cores sóbrias (como branco, amarelo, verde-água) ou mais alegres (no entanto,
o branco tem a vantagem de dar a impressão de ampliar o ambiente). O autor lembra que é
preciso cuidado com o excesso de cores, para não causar poluição visual, pois as capas dos
livros já são bastante coloridas.
Para Andréa Pereira (2006, p. 9-11), o espaço da biblioteca deve ser basicamente seco,
arejado e bem iluminado, para evitar danificar as obras e facilitar a leitura, além de criar um
ambiente mais confortável. O material deve ficar exposto em estantes, longe de portas e de
janelas (para evitar chuva, sol, vento). Além disso, as estantes, que podem ser de madeira ou
alumínio, devem ser vazadas para ventilar e ficar a pelo menos 30 centímetros do chão para
evitar umidade e garantir a limpeza do piso. Em termos de acessiblidade, é importante que as
estantes sejam coerentes com a altura dos alunos e que os alunos conheçam os critérios de
organização do acervo e as regras da biblioteca. A sala de leitura (em oposição à sala onde
estão acondicionadas as obras) deve ter mesas, cadeiras, almofadas, bancos, para os leitores
ficarem melhor acomodados.

1.2 Aspectos biblioteconômicos


A qualidade e a diversidade dos materiais que compõem o acervo são as primeiras
características biblioteconômicas exigidas para uma biblioteca escolar. Andréa Pereira (2006,
p.13), sugere que o acervo seja constituído de pelo menos obras de referência (enciclopédias,
dicionários, gramáticas, atlas), periódicos (jornais e revistas), documentários (ensaios,
biografias, culinária, paradidáticos), outras coleções (mapas, reproduções de obras de arte,
fotos) e obras de ficção (contos, poesias, romances, teatro, narrativas por imagens). Além
disso, na sociedade de informação, a autora sugere que a biblioteca também conte com
materiais audiovisuais e digitais. Como lembra Rovilson da Silva (2009, p.138), é preciso
investir na ampliação do acervo pelo menos uma vez por ano.
A organização desse acervo é muito importante para o uso e a apreciação das obras.
Como lembra Rildo Cosson, o critério que se adota para classificar as obras (série, idade,
autor, gênero literário, editora) é um aspecto decisivo para a localização e a escolha de obras
(COSSON, 2007, p.32). Além disso, o fato de os livros estarem com a capa ou a lombada
expostas também interfere na seleção, pois como o primeiro contato com o livro é visual, é
relevante deixar um bom número de obras dispostas com a capa voltada para frente, de forma
a despertar a curiosidade dos leitores (PEREIRA, 2006, p. 10). Rovilson da Silva (2009, p.
140) ainda pondera que é importante incentivar a criança a buscar o material desejado, para
isso ensinando-as desde pequenas a compreender a forma de organização do acervo.
Segundo Rovilson da Silva (2009, p.139), o horário de funcionamento da biblioteca
deve ser organizado de forma a estar disponível para os alunos enquanto estiverem dentro ou
fora da escola. Pode-se estipular horários fixos (como para a hora do conto) e horários livres,
em que o alunos podem circular livremente pela biblioteca (na hora do recreio ou no turno
inverso ao das aulas, por exemplo).
Murais e cartazes também são importantes para informar ao leitor sobre o horário de
funcionamento, as atividades desenvolvidas e os materiais disponíveis na biblioteca. Além
disso, é relevante a presença de um “pequeno quadro de avisos (ou quadro negro) para que os
leitores deixem seus recados ou suas impressões sobre as obras” (PEREIRA, 2006, p. 12).
Dessa forma, faz-se da biblioteca um espaço de leituras compartilhadas.

1.3 Mediação pedagógica


Para auxiliar os alunos a adentrarem o mundo da biblioteca, é preciso um mediador, ou
seja, um profissional qualificado. Segundo Feuerstein (apud TURRA, 2007) o mediador é
alguém que avalia e seleciona estratégias, que organiza, interpreta e elabora as experiências.
Num ambiente de reciprocidade, o mediador provoca curiosidade, mostra envolvimento e
interesse, estimula a significação, a abstração e a reflexão, promove o compartilhamento e o
respeito aos diversos pontos de vista, incentiva a mudança e a participação ativa (p. 304-305).
Michèle Petit, no livro Os jovens e a leitura: uma nova perspectiva, afirma que, para
muitos jovens, o papel do mediador foi fundamental para despertar o gosto pela leitura. Dessa
forma, segundo a antropóloga, não é a biblioteca ou a escola que desperta o gosto por ler,
descobrir, imaginar, e sim “um professor, um bibliotecário que, levado por sua paixão, a
transmite através de uma relação individual” (PETIT, 2008, p. 166).
Posição semelhante é defendida por Dagoberto Arena (2009, p. 162-163), que afirma
que o que faz uma biblioteca não é apenas a presença de livros, e sim a existência das relações
entre alunos, livros, professores de biblioteca e professores de sala de aula. O autor lembra
que, em geral, as políticas públicas têm investido apenas no reunir (distribuir livros), mas
pouco no dispersar (compartilhar leituras). Contudo, a leitura do livro literário não preexiste
ao leitor e sim é criada por ele: os livros são acordados pelos leitores, com a mediação dos
educadores da biblioteca. Daí a importância do mediador.
No que se refere à mediação da leitura literária, Leiva Leal afirma que é necessário
valorizar a leitura de textos literários de diferentes épocas, já que nesses textos “há uma
memória e uma experiência que, juntando-se à memória e à experiência do aluno, abrem a
chave para a compreensão da vida” (2005, p.177). Percebemos assim, a importância da
literatura para a formação humana.
Tânia Rösing, no artigo “Dinamizando a biblioteca, ressignificando a escola” (2005, p.
216), afirma que o bibliotecário deve, em primeiro lugar, manusear os materiais disponíveis
para poder catalogá-los. Depois, examinar a obra, lê-la para pelo menos anunciá-la ou indicá-
la para os alunos. Ou seja, o bibliotecário “precisa dinamizar o processo de envolvimento dos
usuários da biblioteca com as mesmas” (ibidem, p. 217). Assim, cabe ao bibliotecário fazer a
publicidade, a divulgação da diversidade e da qualidade dos materiais existentes.
Preocupada com a atuação do bibliotecário enquanto mediador, a estadunidense Carol
Kuhlthau organizou a obra Como usar a biblioteca na escola: um programa de atividades
para a pré-escola e ensino fundamental. Baseada na teoria cognitiva de Piaget, a autora
organizou um programa de atividades em fases de acordo com as características psicológicas
das crianças e adolescentes e com as habilidades que se buscam desenvolver em cada idade.
As atividades visam a desenvolver desde o conhecimento da diversidade dos materiais que
compõe o acervo até a familiarização com o método de classificação das obras. Dessa forma,
espera-se que no ensino médio os alunos usem a biblioteca de maneira plenamente autônoma
e independente.

2. Análise dos espaços

Destaca-se que nas escolas da rede municipal de Caxias do Sul, há um professor


especifico que atua na biblioteca em cada turno de funcionamento da escola, o qual é
chamado pelos colegas de bibliotecário, embora não tenha formação em biblioteconomia. As
bibliotecas escolares estão sob a responsabilidade de um docente, o qual conhece
peculiaridades do processo educativo e submete-se a um processo eletivo para atuar nesse
espaço. No final do ano letivo, antes do processo de escolha de turmas, os professores
interessados em atuar na biblioteca organizam e apresentam um projeto de atuação para o ano
seguinte. Os projetos apresentados são apreciados e votados pelo corpo docente. Assume a
biblioteca, o professor cujo projeto foi mais votado pelo grupo. Com base em observações dos
espaços e entrevistas com as bibliotecárias, vamos descrever e analisar três bibliotecas
escolares.

2.1 Escola A

A escola A é uma escola municipal urbana, com aproximadamente 600 alunos (de pré-
escola a 9º ano e EJA), de classe média e baixa. A biblioteca situa-se no primeiro andar da
escola, em frente à escada, bem no início do corredor desse piso. Dessa forma, tem
visibilidade para os alunos que estudam no segundo piso, mas em contrapartida recebe muito
ruído nos intervalos. O espaço privado da biblioteca é composto por duas salas contíguas,
amplas e bem iluminadas (as janelas ficam na posição solar leste), separadas por uma abertura
larga. Por serem amplas e por porta e janelas ficarem quase sempre abertas, as salas são bem
ventiladas. Além disso, a cor clara
das cortinas persianas, do piso e das
paredes contribui para dar a
impressão de um ambiente mais
amplo e iluminado.
Na primeira sala estão
alocados os livros, jornais e
revistas. Ela possui uma mesa para
a bibliotecária, quatro mesas
circulares para quatro crianças cada,

Fig.1 Biblioteca da Escola A


uma mesa retangular para seis
crianças. As mesas e cadeiras são
de madeira bege, de altura adequada tanto para crianças quanto para adolescentes. As estantes
são de madeira marfim (as destinadas aos livros literários infantis) e de alumínio cinza
(demais livros). No entanto, a estante com livros infantis está baixa (adequada à altura das
crianças), mas uma das prateleiras está muito próxima do chão, o que pode facilitar o acúmulo
de poeira. Além disso, essa mesma estante está bem abaixo da janela, podendo ficar exposta à
chuva, vento e radiação solar, que deterioram os materiais.
A segunda sala é destinada para ouvir histórias, assistir a filmes e a brincar com jogos.
Há um sofá e aproximadamente vinte almofadas. Portanto, o espaço é amplo (apesar de não
muito arejado, pois não a janela e as cortinas não costumam ficar abertas nessa sala).
O acervo é composto de livros didáticos e literários, enciclopédias, revistas, jornais,
mapas, jogos, audiovisuais. Os livros literários no geral são de pouca qualidade, mas também
há algumas obras com qualidade artística e gráfica. Os livros estão bem conservados, a
maioria deles encapados com plástico. Os livros literários, que estão organizados lado a lado
(com a lombada exposta), estão divididos por séries (no caso dos anos iniciais, havendo
também as seções Monteiro Lobato, Poesia e Folclore) e por temática (aventura, suspense)
para as demais séries. Após a visita da observadora, a bibliotecária criou uma estante para
exposição de novidades, expondo, principalmente, as obras recém recebidas do PNBE. Parece
que a presença da pesquisadora lançou luz aos acervos do PNBE.
Na biblioteca, há cartazes de E.V.A incentivando a leitura “Biblioteca: descubra neste
espaço, a imagem, a palavra, a fantasia e viva as emoções” e “leitura é: informação,
imaginação, divertimento...”. Há um mural de isopor e pano azul, utilizado pela bibliotecária.
No entanto, nem nos cartazes nem no mural há trabalhos expostos ou opiniões dos alunos
sobre livros. A biblioteca (no turno da manhã, atendendo aos anos iniciais) abre das 7h30min
às 11h45min, fechando no recreio, horário em que as crianças poderiam frequentá-la com
mais liberdade.
A bibliotecária tem curso Normal e licenciatura em História. Na época da observação,
era seu primeiro ano como bibliotecária, já que havia pedido para se afastar da sala de aula
devido a calos nas cordas vocais. Há ainda um auxiliar, que organiza os livros e atende os
alunos quando a bibliotecária não está.
Na biblioteca são desenvolvidas atividades como: hora do conto, hora da leitura,
assistir a filmes e brincar com jogos, empréstimo de materiais e pesquisas. A hora do conto é
realizada semanalmente com cada turma, mas apenas quinzenalmente pela bibliotecária (nas
outras semanas é realizada pela professora regente, que pode optar ou não por realizá-la na
biblioteca).

2.2 Escola B
A escola B localiza-se na área
rural, aproximadamente 15 km da
sede do município, e conta com
aproximadamente 80 alunos (de pré-
escola a 9° ano), a maioria filhos de
pequenos agricultores. A biblioteca
situa-se no subsolo da escola, em
frente ao refeitório e à cozinha, num
espaço pequeno, apertado, com
Fig. 2 Biblioteca da Escola B colunas e declives. Há poucas janelas,
gerando pouca iluminação e ventilação (inclusive há cheiro de mofo no ambiente). As paredes
são na cor verde água. Há muitos barulhos externos, especialmente vindos da parte superior,
que coincide com o piso de madeira da sala de aula do andar acima. Apesar da presença dos
livros, não é um espaço confortável nem atrativo.
Há uma mesa para o atendente, três mesas circulares para quatro crianças cada, e
prateleiras de madeira para os materiais. Não há espaço lúdico para outras atividades. Devido
à falta de espaço na escola, num canto da biblioteca há armários de metal para guardar os
materiais de educação física, como bambolês, bolas e colchões empilhados. Temos, então,
uma biblioteca que cumpre o propósito de guardar – tanto livros como outros materiais.
As estantes são de madeira (havendo prateleiras muito baixas, próximas da poeira e da
umidade), algumas delas não polidas nem envernizadas, gerando uma textura áspera ao toque.
Além disso, os materiais audiovisuais estão expostos à luz solar, o que pode causar
deterioração.
Há muitos livros didáticos de todas as séries (muitos deles defasados, empilhados no
canto), gibis antigos doados pela comunidade (alguns encadernados), enciclopédias, revistas,
jornais, mapas, jogos e audiovisuais. O acervo literário é composto em sua maioria de livros
de pouca qualidade (graficamente pobres, literariamente fracos) e com pouca conservação. Os
livros do PNBE para os anos iniciais estavam localizados numa prateleira mais alta, fazendo
com que os alunos em geral apenas os alunos maiores retirassem essas obras.
Os livros didáticos estão organizados por série e disciplina e os literários segundo uma
classificação quase aleatória: contos infantis, poesias infantis, contos juvenis, poesias juvenis.
Cada categoria é simbolizada por um adesivo colorido na capa da obra. Os livros ficam
organizados lado a lado, com a lombada exposta (alguns livros pequenos ficam empilhados
dentro de caixinhas). Não há estante para novidades.
Não há murais e há apenas um pequeno cartaz, do tamanho de uma folha de oficio,
explicando aos alunos alguns cuidados com acervo e uma pequena frase sobre a leitura. Uma
das poucas atividades realizadas na biblioteca é o empréstimo de livros, não havendo hora do
conto. Não há bibliotecário. Quem atende aos alunos é a diretora, já que na escola não há
secretário, vice-diretor, monitor nem professor substituto. Dessa forma, não há horário de
funcionamento específico, já que a diretora abre a biblioteca quando os alunos ou professores
solicitam materiais. A diretora possui curso Normal e licenciatura em Pedagogia.

2.3 Escola C

A escola C, localizada na área urbana, tem cerca de 800 alunos (pré-escola a 9° ano e
EJA), a maioria pertence a classe média e baixa. A biblioteca está situada no térreo da escola,
no início do corredor, em frente a dois banheiros. No entanto, não há muito barulho externo.
A iluminação e a amplitude do espaço são prejudicadas pelas cores: cortinas azul escuro, piso
de madeira mogno e paredes azul claro com uma paisagem de floresta pintada. Como as
janelas e cortinas em geral ficam
fechadas, o ambiente é um pouco
abafado, sensação levemente
melhorada pelo ventilador de teto.
Apesar de possuir duas salas
amplas, separadas por uma porta
fechada e estreita, não há espaço
lúdico, já que a segunda é utilizada
para guardar livros e como sala para
reforço escolar. Na primeira sala, as
Fig. 3 Biblioteca da Escola C mesas e cadeiras são muito baixas,
inadequadas para adolescentes. Além
disso, o mobiliário no geral é velho e mal conservado. As estantes são de madeira, encostadas
na parede e no chão, facilitando a proliferação de mofo.
Há livros literários e didáticos, enciclopédias, revistas, jornais, mapas, jogos e
audiovisuais. Ao lado do balcão de atendimento há um computador, que parece não ser usado
nem por alunos nem por professores. Há muitos livros literários, no entanto muitos de pouca
qualidade e baixa conservação. O critério de classificação dos livros é um pouco confuso: ora
por idade (infantil ou juvenil) ora por autor ou gênero. As obras ficam expostas lado a lado,
com a lombada à mostra. Não há estante para novidades.
A biblioteca abre das 7h34min às 11h50min, no turno da manhã, fechando no recreio.
Há um cartaz dando as boas vindas aos alunos e na porta há uma folha de ofício indicando o
horário de funcionamento da biblioteca e um desenho pedindo silêncio.
Há uma professora atendente, licenciatura em Artes e pós-graduada em
Psicopedagogia, e uma auxiliar, licenciada em Matemática. Na época da observação,
contavam com dois anos de experiência na biblioteca. Essa docente não realiza hora do conto
(e sim as professoras regentes) e na biblioteca ocorrem hora de leitura, empréstimo de
materiais, pesquisa e aulas de reforço.

Considerações finais

A partir dos referenciais estudados, podemos perceber a importância da organização


do espaço e do acervo para a criação de um ambiente acolhedor para os educandos. Aspectos
relativamente simples, como a cor das paredes ou a presença de murais, podem ser
fundamentais para o bem-estar e a sensação de acolhimento dentro da biblioteca. Dessa
forma, podemos perceber a extrema importância de um mediador comprometido em adequar
o espaço ao público alvo, em criar estratégias para desenvolver as habilidades de pesquisa e
leitura e em mediar práticas de leitura literária relevantes para os estudantes.
Como podemos notar, as bibliotecas analisadas apresentam adequações e
inadequações, especialmente no que se refere a alguns aspectos arquitetônicos e
principalmente, à atuação do mediador. Talvez tais inadequações expliquem a falta de
interesse dos alunos pela biblioteca e a pouca proficiência na leitura.
Percebemos na escola A, por exemplo, uma organização arquitetônica favorável e uma
mediadora preocupada com sua atuação. Na escola B, a falta de espaço e de recursos humanos
fez da biblioteca um ambiente secundário, sem exploração de suas potencialidades. Já a
biblioteca da escola C parece desprezada pela mediadora, cumprindo meras obrigações
formais, sem preocupação com a criação de um ambiente confortável ou de uma atuação
efetiva para a fruição da leitura literária.
Esperamos que as perspectivas abordadas nessa análise sejam úteis para promover
reflexões e mudanças nas bibliotecas escolares, a fim de que a biblioteca se torne um
ambiente confortável e propício para a fruição da leitura. Assim, a professor que atua na
biblioteca poderá cumprir seu papel pedagógico, que é muito mais do que ser um mero
depósito de livros e de outros materiais.

Referências

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