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Graduanda em Licenciatura em Letras na UCS. Bolsista BIC/Fapergs do projeto de pesquisa “Educação,
linguagem e práticas leitoras”. E-mail: nathalie.vneves@gmail.com
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Doutora em Letras pela PUCRS. Docente do Programa de Pós-graduação em Educação da UCS. E-mail:
ramos.fb@gmail.com
Abstract: The research “PNBE/2008 in Caxias do Sul: response and uses for literacy”, which
is part of the project “Education, language and reading habits”, intends to analyze the
presence of the PNBE (National Program Library at School) catalog in the initial years of
Elementary School, in the city of Caxias do Sul. In order to understand the reading habits that
take place with the use of PNBE’s books, an analysis of the physical and pedagogical
conditions of tree libraries in municipal schools of Caxias do Sul will be carried on. The
reference for this analysis relies on the studies of Waldeck Carneiro da Silva (1995), Carol
Kuhlthau (2002) and Renata Junqueira de Souza (2009), among others, all emphasizing
aspects that range from architectural features (such as room organization, lightning,
ventilation, acoustic, furniture, accessibility) to organizational procedures (i.e. opening hours,
books maintenance, arrangement and display, the catalog’s quality and diversity, etc.). The
initial results reveal the organization of these places to be somewhat inappropriate. The
analysis of these school libraries will enable us to think about the necessary conditions to
apply reading strategies that help ensure an effective literary literacy.
Key words: school library; reading mediation; children’s literature; literary education; PNBE.
Introdução
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POMBO, Olga. Museu e Biblioteca: a “alma” da Escola. Disponível em:
http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/cadernos/museubib/index.htm, acesso em 13-4-2009.
em Miséria da biblioteca escolar (1995, p. 24-25), expõe a realidade das escolas brasileiras:
quando existe biblioteca, esses espaços geralmente não passam de depósitos de livros e de
outros objetos, com horários de funcionamento breves e irregulares, ou ainda são convertidas
em espaços de punição (onde os alunos ficam de castigo para copiar trechos de enciclopédias
porque se comportaram de modo inadequado em outros espaços escolares), cujos atendentes
são professores aposentados ou readaptados, enfadados da sala de aula e de alunos. Essa
situação torna-se mais preocupante quando pensamos que para a maior parte das crianças
brasileiras o primeiro (ou único) contato com o livro ocorre na biblioteca escolar...
Assim, de acordo com Waldeck da Silva, as bibliotecas sofrem tanto de problemas
extrabibliotecários (como desvalorização social da leitura e escassez de políticas públicas)
quanto intrabibliotecários, quando apresenta falhas na própria estrutura. São exemplos de
problemas intrabibliotecários: inadequações no espaço, acervo sem diversidade nem
qualidade, sistema de classificação ininteligível, regulamentos muito rígidos, horários
inflexíveis, preocupação excessiva com silêncio, arrumação e disciplina, bibliotecários mal
preparados, entre outros.
Levantados os problemas da biblioteca escolar, vamos às suas possibilidades: Como a
biblioteca escolar poderia se tornar um ambiente privilegiado para a construção de práticas
pedagógicas mais relevantes e para mediação de leitura (especialmente, leitura literária)?
Como poderíamos caracterizar um espaço de biblioteca escolar adequado? Vejamos o que
dizem alguns autores:
2.1 Escola A
A escola A é uma escola municipal urbana, com aproximadamente 600 alunos (de pré-
escola a 9º ano e EJA), de classe média e baixa. A biblioteca situa-se no primeiro andar da
escola, em frente à escada, bem no início do corredor desse piso. Dessa forma, tem
visibilidade para os alunos que estudam no segundo piso, mas em contrapartida recebe muito
ruído nos intervalos. O espaço privado da biblioteca é composto por duas salas contíguas,
amplas e bem iluminadas (as janelas ficam na posição solar leste), separadas por uma abertura
larga. Por serem amplas e por porta e janelas ficarem quase sempre abertas, as salas são bem
ventiladas. Além disso, a cor clara
das cortinas persianas, do piso e das
paredes contribui para dar a
impressão de um ambiente mais
amplo e iluminado.
Na primeira sala estão
alocados os livros, jornais e
revistas. Ela possui uma mesa para
a bibliotecária, quatro mesas
circulares para quatro crianças cada,
2.2 Escola B
A escola B localiza-se na área
rural, aproximadamente 15 km da
sede do município, e conta com
aproximadamente 80 alunos (de pré-
escola a 9° ano), a maioria filhos de
pequenos agricultores. A biblioteca
situa-se no subsolo da escola, em
frente ao refeitório e à cozinha, num
espaço pequeno, apertado, com
Fig. 2 Biblioteca da Escola B colunas e declives. Há poucas janelas,
gerando pouca iluminação e ventilação (inclusive há cheiro de mofo no ambiente). As paredes
são na cor verde água. Há muitos barulhos externos, especialmente vindos da parte superior,
que coincide com o piso de madeira da sala de aula do andar acima. Apesar da presença dos
livros, não é um espaço confortável nem atrativo.
Há uma mesa para o atendente, três mesas circulares para quatro crianças cada, e
prateleiras de madeira para os materiais. Não há espaço lúdico para outras atividades. Devido
à falta de espaço na escola, num canto da biblioteca há armários de metal para guardar os
materiais de educação física, como bambolês, bolas e colchões empilhados. Temos, então,
uma biblioteca que cumpre o propósito de guardar – tanto livros como outros materiais.
As estantes são de madeira (havendo prateleiras muito baixas, próximas da poeira e da
umidade), algumas delas não polidas nem envernizadas, gerando uma textura áspera ao toque.
Além disso, os materiais audiovisuais estão expostos à luz solar, o que pode causar
deterioração.
Há muitos livros didáticos de todas as séries (muitos deles defasados, empilhados no
canto), gibis antigos doados pela comunidade (alguns encadernados), enciclopédias, revistas,
jornais, mapas, jogos e audiovisuais. O acervo literário é composto em sua maioria de livros
de pouca qualidade (graficamente pobres, literariamente fracos) e com pouca conservação. Os
livros do PNBE para os anos iniciais estavam localizados numa prateleira mais alta, fazendo
com que os alunos em geral apenas os alunos maiores retirassem essas obras.
Os livros didáticos estão organizados por série e disciplina e os literários segundo uma
classificação quase aleatória: contos infantis, poesias infantis, contos juvenis, poesias juvenis.
Cada categoria é simbolizada por um adesivo colorido na capa da obra. Os livros ficam
organizados lado a lado, com a lombada exposta (alguns livros pequenos ficam empilhados
dentro de caixinhas). Não há estante para novidades.
Não há murais e há apenas um pequeno cartaz, do tamanho de uma folha de oficio,
explicando aos alunos alguns cuidados com acervo e uma pequena frase sobre a leitura. Uma
das poucas atividades realizadas na biblioteca é o empréstimo de livros, não havendo hora do
conto. Não há bibliotecário. Quem atende aos alunos é a diretora, já que na escola não há
secretário, vice-diretor, monitor nem professor substituto. Dessa forma, não há horário de
funcionamento específico, já que a diretora abre a biblioteca quando os alunos ou professores
solicitam materiais. A diretora possui curso Normal e licenciatura em Pedagogia.
2.3 Escola C
A escola C, localizada na área urbana, tem cerca de 800 alunos (pré-escola a 9° ano e
EJA), a maioria pertence a classe média e baixa. A biblioteca está situada no térreo da escola,
no início do corredor, em frente a dois banheiros. No entanto, não há muito barulho externo.
A iluminação e a amplitude do espaço são prejudicadas pelas cores: cortinas azul escuro, piso
de madeira mogno e paredes azul claro com uma paisagem de floresta pintada. Como as
janelas e cortinas em geral ficam
fechadas, o ambiente é um pouco
abafado, sensação levemente
melhorada pelo ventilador de teto.
Apesar de possuir duas salas
amplas, separadas por uma porta
fechada e estreita, não há espaço
lúdico, já que a segunda é utilizada
para guardar livros e como sala para
reforço escolar. Na primeira sala, as
Fig. 3 Biblioteca da Escola C mesas e cadeiras são muito baixas,
inadequadas para adolescentes. Além
disso, o mobiliário no geral é velho e mal conservado. As estantes são de madeira, encostadas
na parede e no chão, facilitando a proliferação de mofo.
Há livros literários e didáticos, enciclopédias, revistas, jornais, mapas, jogos e
audiovisuais. Ao lado do balcão de atendimento há um computador, que parece não ser usado
nem por alunos nem por professores. Há muitos livros literários, no entanto muitos de pouca
qualidade e baixa conservação. O critério de classificação dos livros é um pouco confuso: ora
por idade (infantil ou juvenil) ora por autor ou gênero. As obras ficam expostas lado a lado,
com a lombada à mostra. Não há estante para novidades.
A biblioteca abre das 7h34min às 11h50min, no turno da manhã, fechando no recreio.
Há um cartaz dando as boas vindas aos alunos e na porta há uma folha de ofício indicando o
horário de funcionamento da biblioteca e um desenho pedindo silêncio.
Há uma professora atendente, licenciatura em Artes e pós-graduada em
Psicopedagogia, e uma auxiliar, licenciada em Matemática. Na época da observação,
contavam com dois anos de experiência na biblioteca. Essa docente não realiza hora do conto
(e sim as professoras regentes) e na biblioteca ocorrem hora de leitura, empréstimo de
materiais, pesquisa e aulas de reforço.
Considerações finais
Referências
ARENA, Dagoberto B. Leitura no espaço da biblioteca escolar. In: SOUZA, Renata Junqueira
(org.). Biblioteca escolar e práticas educativas: o mediador em formação. Campinas:
Mercado das Letras, 2009. (p.160-172)
COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2007.
LEAL, Leiva F. V. Biblioteca escolar como eixo estruturador do currículo escolar. In:
RÖSING, Tânia M. R.; BECKER, Paulo R. (orgs). Leitura e animação cultural: repensando a
escola e a biblioteca. Passo Fundo: UPF, 2005. (p. 168-182)
PETIT, Michèle. Os jovens e a leitura: uma nova perspectiva. Tradução de Celina Olga de
Souza. São Paulo: Editora 34, 2008.