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XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO

Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção

Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

ANÁLISE PRELIMINAR DE RISCOS DE


ACIDENTES EM MARMORARIAS DO
MUNICÍPIO DE BETIM

Thais D Eleuterio Costa (PUC)


artigoleanpuc@gmail.com
SAMUEL LARA RESENDE ALVES PINTO (PUC)
SAMUCAIN@HOTMAIL.COM
Helio Henrique de Matos (PUC)
helio.hmatos@hotmail.com
Marcia Colamarco Ferreira Resende (PUC)
mcolamarco@pucminas.br
luiz carlos do nascimento (PUC)
lnascimento@pucminas.br

No ramo marmoreiro os trabalhadores estão submetidos a diversos tipos de


riscos de acidentes provenientes principalmente da precariedade e
improvisação de suas instalações. O presente estudo teve como objetivo
identificar os riscos de acidentes em marmorarias do município de Betim/MG
e sugerir soluções preventivas para os processos e instalações nessas
empresas. Foram avaliadas as 09 marmorarias do município de Betim, que
participavam do Projeto de Extensão “Produtividade e Cultura Lean em
Arranjos Produtivos Locais”, do curso de Engenharia de Produção da PUC
Minas Betim, durante o período de fevereiro/2014 a março/2015. Para a
análise de riscos nas microempresas foram realizadas 04 etapas de
procedimento: coleta de dados, análise das informações, identificação das
medidas de controle e plano de ação. Foram realizadas observações dos
locais de trabalho, check lists das Normas Regulamentadoras e a análise dos
dados coletados foi feita mediante a Análise Preliminar de Risco (APR). A
partir das análises foram identificadas 03 situações críticas no processo das
marmorarias: transporte manual de cargas pesadas e sem proteção;
ausência de proteção no disco de corte da serra; fiação desprotegida com
presença de água empoçada no solo. Nenhuma das situações avaliadas teve
uma classificação de risco menor que moderado. Todos os riscos
encontrados poderiam ser eliminados ou reduzidos através de treinamentos,
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conhecimento das normas de segurança do trabalho tanto pelo empregador


quanto pelos empregados e investimentos de baixo custo.

Palavras-chave: Segurança no trabalho, marmoraria, análise preliminar de


riscos

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1. Introdução

A cada dia, sete pessoas, em média, perdem a vida em acidentes de trabalho no Brasil. De
acordo com o levantamento do Ministério da Previdência Social (2015), em 2013 foram
registrados 737.378 acidentes, que resultaram em 2.797 mortes. O Ministério do Trabalho e
Emprego (2010) define “acidente de trabalho” como a ocorrência geralmente não planejada
que resulta em dano à saúde ou integridade física de trabalhadores ou de indivíduos do
público. A NBR 14280 (ABNT, 2001) define um acidente de trabalho como uma ocorrência
imprevista e indesejável, instantânea ou não, relacionada com o exercício do trabalho, que
resulte ou possa resultar em uma lesão pessoal, sendo estes classificados entre: acidente do
trabalho grave, acidente do trabalho fatal, acidente típico, acidente de trajeto, acidente devido
à doença de trabalho.

Segundo o Ministério da Previdência Social (2015), no ramo de trabalho com pedras, em


2012, foram registrados 178 acidentes típicos, no estado de Minas Gerais. Neste ambiente de
produção, os operadores estão sujeitos a todos os tipos de risco: químico, físico, ergonômico,
ambiental e risco de acidentes (FUNDACENTRO, 2008). Chrizóstomo (2014) define como
marmorarias as empresas que trabalham no beneficiamento final de pedras ornamentais,
principalmente granitos, mármores e ardósia. Relata também, que é comum deparar-se com
empresas deste ramo que apresentam ambientes rústicos e pouco salubres, normalmente
instaladas com baixo investimento, e que possuem um número de funcionários geralmente
com baixa qualificação profissional. Todas essas características somadas às robustas
atividades executadas na produção dos artefatos levam a riscos ocupacionais que colocam em
perigo a saúde dos trabalhadores deste setor (CHIRZÓSTOMO, 2014; DUARTE, 1997).

Os riscos de acidentes nestas empresas são provenientes principalmente da precariedade e


improvisação de suas instalações, que podem incluir: máquinas e equipamentos defeituosos,
sem manutenção e proteção, fiação desprotegida, ferramentas espalhadas no chão, eletricidade
e iluminação inadequadas, falta de sinalização, além da não utilização dos equipamentos de
proteção individual adequados (MORONI, 2005; BURGESS, 1997). Contemplando esta
ideia, a Fundacentro (2008) destaca como demais causas de acidentes os problemas

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relacionados ao tipo de construção, arranjo físico e organização do local, além da desatenção


no manuseio de ferramentas e falta de treinamento sobre saúde e segurança do trabalho.

O impacto desses acidentes na vida pessoal dos funcionários e na própria empresa pode ser de
um simples incomodo, ou poucos dias de afastamento e recuperação, até incapacidades
permanentes e fatalidades. Diante disso, o presente estudo teve como objetivo identificar os
riscos de acidentes em marmorarias do município de Betim/MG e sugerir soluções
preventivas para os processos e instalações nessas empresas.

2. Metodologia

O curso de Engenharia de Produção da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e a


Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico de Betim, em parceria com 9 (nove)
empresários locais do setor de marmoraria, iniciaram em Fevereiro de 2014 um Projeto de
Extensão intitulado "Produtividade e Cultura Lean em Arranjos Produtivos Locais", cujo
objetivo geral era promover a disseminação da Cultura Lean, através da redução de perdas,
melhorias na produtividade e nas condições de trabalho, bem como a organização de arranjos
colaborativos destas organizações. Neste contexto, dentre um dos objetivos específicos estava
o estudo e melhorias nas condições de trabalho, envolvendo os riscos de acidentes.

A partir desta experiência, o estudo de caso foi desenvolvido com a participação de todas as
microempresas assistidas pelo projeto de Fevereiro de 2014 a Março de 2015, empresas estas
com produção típica de origem artesanal e cultura familiar.

Para a realização da análise de riscos de acidentes, todos os processos de produção das


marmorarias e suas instalações foram estudados, uma vez que, foram relatados em entrevista a
ocorrência de acidentes provenientes destes fatores.

2.1 Procedimentos e instrumentos

Para a análise de riscos nas microempresas foram realizadas 04 etapas de procedimento:


coleta de dados, análise das informações, identificação das medidas de controle e plano de
ação.

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Para a coleta de dados referentes às condições e recursos do sistema foram realizadas visitas
aos locais de trabalho, observações, entrevistas e questionários semi-estruturados e registros
de imagens. Foram levantados problemas sobre processo de produção, acidentes, uso de EPI's
e condições de trabalho, além da utilização de um check-list baseado no Manual de Referência
para Marmorarias (FUNDACENTRO, 2008) e nas recomendações das Normas
Regulamentadoras: NR 6 - Equipamento de Proteção Individual (BRASIL, 2011), NR 10 –
Segurança em instalações e Serviços em Eletricidade (BRASIL, 2004), Anexo I da NR 11 -
Transporte, Movimentação, Armazenagem e Manuseio de Materiais de Chapas de Mármore,
Granito e outras rochas (BRASIL, 2003) e NR 12 – Segurança no Trabalho em Máquinas e
Equipamentos (BRASIL, 2013).

Para análise das informações coletadas, identificação das medidas de controle e para
elaboração do plano de ação foi utilizada a Análise Preliminar de Risco (APR), uma
metodologia qualitativa estruturada para identificar os potenciais perigos decorrentes da
própria operação da planta, onde é avaliado cada um dos perigos identificados, as suas causas,
os métodos de detecção disponíveis e os efeitos sobre os trabalhadores, a população
circunvizinha e sobre o meio ambiente, para então, priorizar os riscos e determinar planos de
intervenção que minimizem ou eliminem tais riscos (CESARO, 2013).

Segundo Aguiar (2011) a medida qualitativa de riscos pode ser classificada a partir de duas
variáveis: frequência (probabilidade das causas) e severidade (efeito do perigo).

A frequência se classifica nas seguintes categorias: A – extremamente remota; B – Remota; C


– Pouco provável; D – Provável e E – Frequente, enquanto que a severidade se classifica
como: I – Desprezível e não ocorrendo nenhuma lesão; II – Marginal, onde há ocorrência de
lesões leves com no máximo 15 dias de afastamento; III – Crítico, com lesões de gravidade
moderada e IV – Catastrófico, com lesões graves ou mortes.

A partir da correlação entre frequência e severidade promove-se uma matriz de classificação


de riscos, sendo eles: 1 – Desprezível, 2 – Menor; 3 – Moderado; 4 – Sério e 5 – Crítico.

3. Resultados

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Todas as empresas participantes do Projeto de Extensão "Produtividade e Cultura Lean em


Arranjos Produtivos Locais" foram analisadas, obtendo um total de 60 (sessenta) homens,
divididos entre as 9 (nove) marmorarias, e todos trabalhadores da área de produção,
abrangendo as seguintes funções: encarregados de produção, serradores, acabadores e
auxiliares de limpeza.

As marmorarias analisadas tinham entre 7 (sete) e 35 (trinta e cinco) anos de atuação no setor
de beneficiamento final de mármores e granitos, e possuíam uma linha de produtos bem
semelhantes, como pias, bancadas, lavatórios e soleiras, contando com mais de 20 tipos de
granitos e mármores, atendendo à construtoras e, principalmente, ao consumidor final.

A maior parte das marmorarias visitadas possuíam características semelhantes em relação a


suas instalações: as áreas de produção eram galpões ou barracões de alvenaria, paredes de
blocos, cobertos por telhas de fibro-cimento, onde 5 (cinco) eram pavimentadas e o restante
apresentava solo exposto (terra), com a presença de desníveis. Em relação a organização e
limpeza do local, observou-se muitas ferramentas, materiais, refugos de chapas e fiação
desprotegida espalhadas pelo chão, além do acúmulo de água no chão proveniente das
máquinas de corte à úmido e ausência ou mau funcionamento das canaletas, o que facilitava a
ocorrência de acidentes elétricos.

Em relação a área de estoque, somente em duas empresas os estoques encontravam-se em


galpões cobertos e pavimentados, nas outras 7 (sete), os estoques estavam dispostos em áreas
externas, sem cobertura e com solo exposto. Eram estocados lá, diferentes tipos de chapas,
produtos acabados, refugos, entulhos e diversos outros obstáculos que dificultavam a
movimentação no local.

Figura 1 – Macroprocesso de produção de marmoraria

O processo se iniciava no descarregamento das chapas do caminhão de entrega, processo este


realizado manualmente em 6 (seis) marmorarias e através de ponte rolante em 3 (três)
marmorarias. O processo manual de descarregamento de chapas de mármores e granitos com
peso especifico médio de 60 kg/m², dimensões de 3,0 x 2,0 metros e espessura variando de 2 a
3 cm, envolvia em média 3 (três) funcionários, sendo 1 (um) funcionário manuseando a chapa

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em cima do caminhão e 2 (dois) funcionários em baixo para segurá-la, onde os mesmos não
utilizavam luvas de proteção ou outros equipamentos de segurança, por não julgarem
necessário ou porque acreditavam dificultar o descarregamento, conforme relatado pelos
funcionários em entrevista.

Após o descarregamento, era necessário transportar as chapas até o estoque, utilizando um


dispositivo de transporte manual improvisado, de duas rodas e aproximadamente 20 (vinte)
centímetros de altura, onde 2 (dois) funcionários empurravam a chapa apoiada no dispositivo
em um solo irregular e não pavimentado, e ao mesmo tempo precisavam segurá-la para evitar
quedas. Neste cenário, os funcionários estavam sujeitos a acidentes ao executarem tal
atividade, por manusearem um material pesado, grande e com bordas cortantes.

Para início do processo de produção, ocorria uma preparação da chapa no estoque, realizada
por 2 (dois) funcionários do corte, um serrador e um ajudante, utilizando uma talhadeira e
uma marreta para quebrar o pedaço da chapa necessário. Conforme observado na execução
desta atividade, em 8 (oito) empresas, os funcionários não utilizavam óculos de proteção e
luvas de raspa, neste cenário, os mesmos poderiam ser atingidos no rosto por partículas
geradas durante a quebra, além de lesões nas mãos.

A peça retirada do estoque era então carregada até a máquina de corte, onde em 8 (oito)
empresas ocorria sem o auxilio de nenhum meio mecânico para o transporte e sem o uso de
equipamentos de segurança. O caminho percorrido do estoque até a máquina de corte,
normalmente era estreito e encontrava-se obstruído por refugos, produtos finalizados e
entulhos, além disso, as áreas de estoque possuíam solo exposto e desníveis, onde a junção de
todos estes fatores favorecia a ocorrência de acidentes. A ponte rolante era utilizada para o
transporte das chapas do estoque até a máquina de corte em somente 1 (uma) empresa, pois a
estrutura das outras duas que possuíam o equipamento não permitia que o mesmo alcançasse a
máquina de corte.

Para executar o corte da peça, nas especificações pedidas pelo cliente, o operador posicionava
a chapa na mesa de corte, realizava os ajustes da altura do disco de serragem, ligava a
máquina e então ligava uma válvula de acionamento da água. Em seguida, com sua mão
direita girava uma manivela que empurrava a chapa em direção ao disco de serragem, e com
sua mão esquerda apoiava e empurrava a chapa, chegando com a mão bem próxima ao disco

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de serragem, que se encontrava desprotegido em todas as empresas, ou seja, qualquer


descuido ou desatenção do funcionário acarretaria em uma grave lesão. Neste cenário,
observou-se que 3 (três) marmorarias possuíam canaletas de água nas máquinas de corte, mas
apenas 2 (duas) funcionavam adequadamente. No restante das empresas, a água respingada do
processo de corte era acumulada e formava imensas poças de água em toda área de produção.
Vale ressaltar que nenhuma das empresas analisadas possuíam isolamento elétrico em suas
máquinas e equipamentos.

A próxima etapa consistia no acabamento final da peça, constituído pelos subprocessos de


lixamento, polimento e montagem final. No lixamento, o operador utilizava uma lixadeira
angular com cerca de 5 kg, e pelo menos 3 (três) discos de desbaste para retirar as quinas e
dar forma as bordas dos produtos. Notou-se que nenhum dos equipamentos de nenhuma das
empresas avaliadas continha dispositivos de proteção, deixando o disco da lixadeira
totalmente exposto e aumentando a probabilidade de ocorrerem acidentes.

Além disso, o equipamento geralmente era ligado em tomadas distantes das bancadas de
acabamento, fazendo com que toda a fiação ficasse espalhada pela área de produção das
marmorarias. Verificou-se também, que em 4 (quatro) empresas, os fios destes equipamentos
encontravam-se desprotegidos e em contato com as poças de água vindas da máquina de
corte, aumentando os riscos de acidentes elétricos.

No polimento, a atividade era executada utilizando politrizes e em média 6 (seis) lixas de


diferentes granulometrias, objetivando um produto com superfície lisa e brilhosa. Nestas
operações, os funcionários estavam expostos aos mesmos riscos presentes no lixamento, pois
as máquinas não possuíam dispositivos de segurança no disco, e os fios também se
encontravam desprotegidos e espalhados pelo chão.

A última etapa do processo de acabamento era a montagem e resinamento das peças, onde os
funcionários colavam as partes do produto utilizando normalmente silicone ou massa plástica
e finalizavam o processo aplicando uma resina sob o produto. Os perigos desta atividade
estavam no manuseio de peças pesadas de mármore, granito ou ardósia, que poderiam cair da
bancada de acabamento e provocar acidentes lesionando os membros inferiores do
funcionário, principalmente porque aproximadamente 83% deles não utilizavam sapatos de
segurança adequados para a atividade.

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Observou-se que em 7 (sete) empresas, o lixamento, o polimento e a montagem final dos


produtos ocorriam na mesma bancada, o que ocasionava desorganização das ferramentas e
materiais, além de grande quantidade de fiação vinda dos equipamentos elétricos distribuídos
pelas bancadas de acabamento final.

Através de entrevistas, foi relatado pelos funcionários a ocorrência de 33 (trinta e três)


acidentes de trabalho nos últimos 24 meses, destes: 19 (dezenove) envolvendo as mãos; 7
(sete) envolvendo os braços; 5 (cinco) envolvendo os pés; 1 (um) envolvendo a barriga; e 1
(um) um acidente fatal envolvendo o esmagamento de várias partes do corpo. Destes,
dezesseis (16) acidentes ocorreram no transporte das chapas, 13 (treze) no acabamento e 4
(quatro) na serragem das chapas.

Os mesmos relataram, que os acidentes estavam relacionados as seguintes causas: 12 (doze)


por desatenção do funcionário; 11 (onze) pela não utilização de EPI; 4 (quatro) por pedras
trincadas, três (3) por falhas do equipamento e três (3) por outras causas diversas.

Concluiu-se que, em média 33% dos acidentes aconteceram pela não utilização dos
equipamentos de proteção individual, mostrando a necessidade de realização de treinamentos
de uso correto destes equipamentos, e que a parte mais atingida na maioria dos acidentes são
as mãos, fortalecendo a ideia de que todos os equipamentos de corte e acabamento necessitam
de melhores dispositivos de proteção.

Após análise das informações coletadas a respeito dos acidentes sofridos pelos trabalhadores,
analisou-se os riscos provenientes dos 3 (três) processos de produção das marmorarias:
Descarregamento, corte e acabamento, e também os riscos provenientes das instalações e
organização das empresas. A Tabela 1 aborda, a partir da correlação entre as variáveis
frequência e severidade, o nível de risco e suas recomendações para cada risco de acidente
identificado.

Tabela 01 - Análise Preliminar dos Riscos nos processos de produção, instalações e organização das
marmorarias
APR 01 - Descarregamento e Transporte de chapas
Riscos Acidente
Causa Transporte manual de cargas pesadas e sem proteção.
Efeito - Lesões nos membros superiores e inferiores;

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- Há riscos de acidentes fatais.


Frequência E - Frequente
Severidade IV - Catastrófico
Nível de risco 5 - Crítico
Obs./ recomendações - Utilização de EPI's adequados como bota com bico de
aço e luvas de raspa, conforme estabelecido pela NR 6 –
Equipamentos de Proteção Individual (MTE, 2011).
- Utilização de meios mecânicos como o carro
transportador de chapas automatizado ou ponte rolante
para a realização de descarregamento e transporte até o
estoque.
APR 02 - Serragem
Riscos Acidente
Continua

Continuação
Causa Ausência de proteção no disco de corte da serra.
Efeito - Lesões nos membros superiores.
- Corte grave ou amputação dos dedos ou da mão.
Frequência E – frequente
Severidade III – Crítica
Nível de risco 5 – Crítico
Obs./ recomendações - Aquisição e uso de dispositivo de proteção para o disco
de corte da serra.
APR 03 - Acabamento
Riscos Acidente
Causa Ausência de dispositivo de proteção nas lixadeiras.
Efeito Corte grave nos membros superiores e tronco.
Frequência E – frequente
Severidade II – marginal
Nível de risco 4 – Sério
Obs./ recomendações Aquisição e uso de dispositivo de proteção para as
lixadeiras.
APR 04 - Acabamento
Riscos Acidente
Causa Ausência de EPI’s e/ou uso inadequado uso de EPI's
(avental, bota e óculos).
Efeito Lesões nos membros superiores, inferiores, tronco e olhos.
Frequência E – frequente
Severidade II – marginal
Nível de risco 4 – Sério
Obs./ recomendações - Aquisição e/ou utilização dos EPI's adequados, conforme
NR 6 – Equipamentos de Proteção Individual (MTE,
2011) e Manual de Referência para Marmorarias
(FUNDACENTRO, 2008);
- Definir procedimentos seguros para a utilização de
máquinas e de ferramentas manuais;
- Treinamentos sobre importância do uso adequado dos

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EPI’s;
- Placas de sinalização alertando sobre o uso constante dos
EPI’s.
APR 05 – Montagem das peças
Riscos Acidente
Causa Armazenamento e manuseio inadequados de materiais
inflamáveis.
Efeito Queimaduras nos membros superiores.
Frequência D – Provável
Severidade II – marginal
Nível de risco 3 – Moderado
Obs./ recomendações - Definir procedimentos seguros para o armazenamento e
o manuseio de materiais inflamáveis;
- Sinalização de produtos inflamáveis.
APR 06 - Instalações
Riscos Acidente
Causa Fiação desprotegida com presença de água empoçada no
solo.
Continua

Conclusão
Efeito Choques elétricos.
Frequência E - Frequente
Severidade IV - Catastrófica
Nível de risco 5 - Crítico
Obs./ recomendações - Construção e/ou manutenção de canaletas, evitando o
acúmulo de água no solo;
- Proteção da fiação elétrica;
- Instalação de pontos de tomada próximos as bancadas de
acabamento, evitando fios espalhados pelo chão;
- Adequação das instalações elétricas e do aterramento,
conforme NR 10;
- Adequação da máquina de corte e ferramentas manuais
para duplo isolamento elétrico.
- Instalação de extintores de incêndio e instrução para
utilização adequada dos mesmos;
APR 07 - Instalações
Riscos Acidente
Causa Solo irregular e não pavimentado.
Efeito Corte grave ou amputação da mão e dedos.
Frequência E – frequente
Severidade II – Marginal
Nível de risco 4 - Sério
Obs./ recomendações Pavimentação e nivelamento do solo.
APR 08 - Instalações
Riscos Acidente
Causa Obstrução das áreas de movimentação por estoques,
produtos finalizado, refugos e entulhos.
Efeito Queda e/ou fraturas;

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Corte nos membros superiores.


Frequência E – frequente
Severidade II – marginal
Nível de risco 4 – Sério
Obs./ recomendações - Adequação do arranjo físico da marmoraria e
desobstrução das áreas de trabalho;
- Definir área exclusiva para estocagem de matéria prima e
área de estoque de produto acabado;
- Demarcar área de circulação, conforme orientação da NR
11 – Transporte, movimentação, armazenagem e manuseio
de materiais, respeitando as distâncias estabelecidas para
áreas de circulação;
- Destinar adequadamente refugos e entulhos;

Identificou-se 3 (três) riscos de acidentes classificados como “críticos” e 4 (quatro) riscos de


acidentes como “sério”, evidenciando que os processos de produção atuais colocam o
trabalhador diante de riscos de acidentes, devido ao manuseio de materiais de grande peso,
máquinas e equipamentos sem proteção, precariedade das instalações, do arranjo físico e da
organização do local. Outro fator relevante diz respeito ao não fornecimento de todos os
equipamentos de proteção individual aos funcionários e a fiscalização quanto ao uso dos
mesmos, fatores estes que exigem intervenções de caráter imediato por parte das empresas.

4. Considerações finais

Após a obtenção dos resultados da Análise Preliminar dos Riscos, foi possível identificar
quais os riscos de acidentes que os trabalhadores das nove microempresas do setor
marmoreiro, estavam expostos. Além disso, foi possível classificá-los conforme seu nível de
risco e prioridade de intervenção.

Ressaltando que todos os riscos encontrados poderiam ser eliminados ou reduzidos através de
treinamentos, conhecimento das normas de segurança do trabalho tanto pelo empregador
quanto pelos empregados e investimentos de baixo custo. Outro item importante a ser
considerado é a falta de fiscalização pelos empregadores quanto a segurança e saúde dos
funcionários, visto que os mesmos poderiam ter suas capacidades produtivas comprometidas
por um acidente de trabalho.

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A carência de estudos e dados relacionados a saúde e segurança dos trabalhadores de


marmorarias, oculta as condições de trabalho e os riscos que estes estão submetidos. Neste
sentido, faz-se necessário o desenvolvimento de novas pesquisas objetivando um ambiente de
trabalho mais seguro.

REFERÊNCIAS

AGUIAR, LA de. Metodologias de Análise de Riscos-APP & Hazop. Rio de Janeiro, 2011.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14280: Cadastro de acidentes do trabalho –
Procedimento e classificação. Rio de Janeiro, 2001.
BRASIL. Ministério da Previdência Social. AEPS 2013 – Seção IV – Acidentes do Trabalho, Brasília, 2015.
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2015.
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Acesso em: 4 mai. 2015.
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2015.
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