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XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
1. Introdução
A cada dia, sete pessoas, em média, perdem a vida em acidentes de trabalho no Brasil. De
acordo com o levantamento do Ministério da Previdência Social (2015), em 2013 foram
registrados 737.378 acidentes, que resultaram em 2.797 mortes. O Ministério do Trabalho e
Emprego (2010) define “acidente de trabalho” como a ocorrência geralmente não planejada
que resulta em dano à saúde ou integridade física de trabalhadores ou de indivíduos do
público. A NBR 14280 (ABNT, 2001) define um acidente de trabalho como uma ocorrência
imprevista e indesejável, instantânea ou não, relacionada com o exercício do trabalho, que
resulte ou possa resultar em uma lesão pessoal, sendo estes classificados entre: acidente do
trabalho grave, acidente do trabalho fatal, acidente típico, acidente de trajeto, acidente devido
à doença de trabalho.
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O impacto desses acidentes na vida pessoal dos funcionários e na própria empresa pode ser de
um simples incomodo, ou poucos dias de afastamento e recuperação, até incapacidades
permanentes e fatalidades. Diante disso, o presente estudo teve como objetivo identificar os
riscos de acidentes em marmorarias do município de Betim/MG e sugerir soluções
preventivas para os processos e instalações nessas empresas.
2. Metodologia
A partir desta experiência, o estudo de caso foi desenvolvido com a participação de todas as
microempresas assistidas pelo projeto de Fevereiro de 2014 a Março de 2015, empresas estas
com produção típica de origem artesanal e cultura familiar.
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Para a coleta de dados referentes às condições e recursos do sistema foram realizadas visitas
aos locais de trabalho, observações, entrevistas e questionários semi-estruturados e registros
de imagens. Foram levantados problemas sobre processo de produção, acidentes, uso de EPI's
e condições de trabalho, além da utilização de um check-list baseado no Manual de Referência
para Marmorarias (FUNDACENTRO, 2008) e nas recomendações das Normas
Regulamentadoras: NR 6 - Equipamento de Proteção Individual (BRASIL, 2011), NR 10 –
Segurança em instalações e Serviços em Eletricidade (BRASIL, 2004), Anexo I da NR 11 -
Transporte, Movimentação, Armazenagem e Manuseio de Materiais de Chapas de Mármore,
Granito e outras rochas (BRASIL, 2003) e NR 12 – Segurança no Trabalho em Máquinas e
Equipamentos (BRASIL, 2013).
Para análise das informações coletadas, identificação das medidas de controle e para
elaboração do plano de ação foi utilizada a Análise Preliminar de Risco (APR), uma
metodologia qualitativa estruturada para identificar os potenciais perigos decorrentes da
própria operação da planta, onde é avaliado cada um dos perigos identificados, as suas causas,
os métodos de detecção disponíveis e os efeitos sobre os trabalhadores, a população
circunvizinha e sobre o meio ambiente, para então, priorizar os riscos e determinar planos de
intervenção que minimizem ou eliminem tais riscos (CESARO, 2013).
Segundo Aguiar (2011) a medida qualitativa de riscos pode ser classificada a partir de duas
variáveis: frequência (probabilidade das causas) e severidade (efeito do perigo).
3. Resultados
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As marmorarias analisadas tinham entre 7 (sete) e 35 (trinta e cinco) anos de atuação no setor
de beneficiamento final de mármores e granitos, e possuíam uma linha de produtos bem
semelhantes, como pias, bancadas, lavatórios e soleiras, contando com mais de 20 tipos de
granitos e mármores, atendendo à construtoras e, principalmente, ao consumidor final.
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em cima do caminhão e 2 (dois) funcionários em baixo para segurá-la, onde os mesmos não
utilizavam luvas de proteção ou outros equipamentos de segurança, por não julgarem
necessário ou porque acreditavam dificultar o descarregamento, conforme relatado pelos
funcionários em entrevista.
Para início do processo de produção, ocorria uma preparação da chapa no estoque, realizada
por 2 (dois) funcionários do corte, um serrador e um ajudante, utilizando uma talhadeira e
uma marreta para quebrar o pedaço da chapa necessário. Conforme observado na execução
desta atividade, em 8 (oito) empresas, os funcionários não utilizavam óculos de proteção e
luvas de raspa, neste cenário, os mesmos poderiam ser atingidos no rosto por partículas
geradas durante a quebra, além de lesões nas mãos.
A peça retirada do estoque era então carregada até a máquina de corte, onde em 8 (oito)
empresas ocorria sem o auxilio de nenhum meio mecânico para o transporte e sem o uso de
equipamentos de segurança. O caminho percorrido do estoque até a máquina de corte,
normalmente era estreito e encontrava-se obstruído por refugos, produtos finalizados e
entulhos, além disso, as áreas de estoque possuíam solo exposto e desníveis, onde a junção de
todos estes fatores favorecia a ocorrência de acidentes. A ponte rolante era utilizada para o
transporte das chapas do estoque até a máquina de corte em somente 1 (uma) empresa, pois a
estrutura das outras duas que possuíam o equipamento não permitia que o mesmo alcançasse a
máquina de corte.
Para executar o corte da peça, nas especificações pedidas pelo cliente, o operador posicionava
a chapa na mesa de corte, realizava os ajustes da altura do disco de serragem, ligava a
máquina e então ligava uma válvula de acionamento da água. Em seguida, com sua mão
direita girava uma manivela que empurrava a chapa em direção ao disco de serragem, e com
sua mão esquerda apoiava e empurrava a chapa, chegando com a mão bem próxima ao disco
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Além disso, o equipamento geralmente era ligado em tomadas distantes das bancadas de
acabamento, fazendo com que toda a fiação ficasse espalhada pela área de produção das
marmorarias. Verificou-se também, que em 4 (quatro) empresas, os fios destes equipamentos
encontravam-se desprotegidos e em contato com as poças de água vindas da máquina de
corte, aumentando os riscos de acidentes elétricos.
A última etapa do processo de acabamento era a montagem e resinamento das peças, onde os
funcionários colavam as partes do produto utilizando normalmente silicone ou massa plástica
e finalizavam o processo aplicando uma resina sob o produto. Os perigos desta atividade
estavam no manuseio de peças pesadas de mármore, granito ou ardósia, que poderiam cair da
bancada de acabamento e provocar acidentes lesionando os membros inferiores do
funcionário, principalmente porque aproximadamente 83% deles não utilizavam sapatos de
segurança adequados para a atividade.
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Concluiu-se que, em média 33% dos acidentes aconteceram pela não utilização dos
equipamentos de proteção individual, mostrando a necessidade de realização de treinamentos
de uso correto destes equipamentos, e que a parte mais atingida na maioria dos acidentes são
as mãos, fortalecendo a ideia de que todos os equipamentos de corte e acabamento necessitam
de melhores dispositivos de proteção.
Após análise das informações coletadas a respeito dos acidentes sofridos pelos trabalhadores,
analisou-se os riscos provenientes dos 3 (três) processos de produção das marmorarias:
Descarregamento, corte e acabamento, e também os riscos provenientes das instalações e
organização das empresas. A Tabela 1 aborda, a partir da correlação entre as variáveis
frequência e severidade, o nível de risco e suas recomendações para cada risco de acidente
identificado.
Tabela 01 - Análise Preliminar dos Riscos nos processos de produção, instalações e organização das
marmorarias
APR 01 - Descarregamento e Transporte de chapas
Riscos Acidente
Causa Transporte manual de cargas pesadas e sem proteção.
Efeito - Lesões nos membros superiores e inferiores;
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Continuação
Causa Ausência de proteção no disco de corte da serra.
Efeito - Lesões nos membros superiores.
- Corte grave ou amputação dos dedos ou da mão.
Frequência E – frequente
Severidade III – Crítica
Nível de risco 5 – Crítico
Obs./ recomendações - Aquisição e uso de dispositivo de proteção para o disco
de corte da serra.
APR 03 - Acabamento
Riscos Acidente
Causa Ausência de dispositivo de proteção nas lixadeiras.
Efeito Corte grave nos membros superiores e tronco.
Frequência E – frequente
Severidade II – marginal
Nível de risco 4 – Sério
Obs./ recomendações Aquisição e uso de dispositivo de proteção para as
lixadeiras.
APR 04 - Acabamento
Riscos Acidente
Causa Ausência de EPI’s e/ou uso inadequado uso de EPI's
(avental, bota e óculos).
Efeito Lesões nos membros superiores, inferiores, tronco e olhos.
Frequência E – frequente
Severidade II – marginal
Nível de risco 4 – Sério
Obs./ recomendações - Aquisição e/ou utilização dos EPI's adequados, conforme
NR 6 – Equipamentos de Proteção Individual (MTE,
2011) e Manual de Referência para Marmorarias
(FUNDACENTRO, 2008);
- Definir procedimentos seguros para a utilização de
máquinas e de ferramentas manuais;
- Treinamentos sobre importância do uso adequado dos
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EPI’s;
- Placas de sinalização alertando sobre o uso constante dos
EPI’s.
APR 05 – Montagem das peças
Riscos Acidente
Causa Armazenamento e manuseio inadequados de materiais
inflamáveis.
Efeito Queimaduras nos membros superiores.
Frequência D – Provável
Severidade II – marginal
Nível de risco 3 – Moderado
Obs./ recomendações - Definir procedimentos seguros para o armazenamento e
o manuseio de materiais inflamáveis;
- Sinalização de produtos inflamáveis.
APR 06 - Instalações
Riscos Acidente
Causa Fiação desprotegida com presença de água empoçada no
solo.
Continua
Conclusão
Efeito Choques elétricos.
Frequência E - Frequente
Severidade IV - Catastrófica
Nível de risco 5 - Crítico
Obs./ recomendações - Construção e/ou manutenção de canaletas, evitando o
acúmulo de água no solo;
- Proteção da fiação elétrica;
- Instalação de pontos de tomada próximos as bancadas de
acabamento, evitando fios espalhados pelo chão;
- Adequação das instalações elétricas e do aterramento,
conforme NR 10;
- Adequação da máquina de corte e ferramentas manuais
para duplo isolamento elétrico.
- Instalação de extintores de incêndio e instrução para
utilização adequada dos mesmos;
APR 07 - Instalações
Riscos Acidente
Causa Solo irregular e não pavimentado.
Efeito Corte grave ou amputação da mão e dedos.
Frequência E – frequente
Severidade II – Marginal
Nível de risco 4 - Sério
Obs./ recomendações Pavimentação e nivelamento do solo.
APR 08 - Instalações
Riscos Acidente
Causa Obstrução das áreas de movimentação por estoques,
produtos finalizado, refugos e entulhos.
Efeito Queda e/ou fraturas;
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4. Considerações finais
Após a obtenção dos resultados da Análise Preliminar dos Riscos, foi possível identificar
quais os riscos de acidentes que os trabalhadores das nove microempresas do setor
marmoreiro, estavam expostos. Além disso, foi possível classificá-los conforme seu nível de
risco e prioridade de intervenção.
Ressaltando que todos os riscos encontrados poderiam ser eliminados ou reduzidos através de
treinamentos, conhecimento das normas de segurança do trabalho tanto pelo empregador
quanto pelos empregados e investimentos de baixo custo. Outro item importante a ser
considerado é a falta de fiscalização pelos empregadores quanto a segurança e saúde dos
funcionários, visto que os mesmos poderiam ter suas capacidades produtivas comprometidas
por um acidente de trabalho.
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REFERÊNCIAS
AGUIAR, LA de. Metodologias de Análise de Riscos-APP & Hazop. Rio de Janeiro, 2011.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14280: Cadastro de acidentes do trabalho –
Procedimento e classificação. Rio de Janeiro, 2001.
BRASIL. Ministério da Previdência Social. AEPS 2013 – Seção IV – Acidentes do Trabalho, Brasília, 2015.
Disponível em: < http://www.previdencia.gov.br/aeps-2013-secao-iv-acidentes-do-trabalho/>. Acesso em: 4 mai.
2015.
BRASIL. Ministério da Previdência Social. 18.1 – Quantidade de acidentes do trabalho, por situação do
registro e motivo, segundo a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), no estado de
Minas Gerais – 2010/2012. 2015. Disponível em: < http://www.previdencia.gov.br/estatisticas/aeat-
2012/estatisticas-de-acidentes-do-trabalho-2012/subsecao-a-acidentes-do-trabalho-registrados/tabelas-2012/>.
Acesso em: 4 mai. 2015.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. NR 6 – Equipamento de Proteção Individual. Brasília, 2011.
Disponível em: <http://portal.mte.gov.br/data/files/8A7C812D36A2800001388130953C1EFB/NR-
06%20%28atualizada%29%202011.pdf>. Acesso em: 4 mai. 2015.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. NR 10 – Segurança em instalações e Serviços em Eletricidade.
Brasília, 2004. Disponível em:
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