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Grandes

Construcoes
construção, infraestrutura, concessões e sustentabilidade

Nº 0 - Novembro/2009 - www.grandesconstrucoes.com.br

INFRAESTRUTURA

um salto para o
desenvolvimento Os desafios da Engenharia brasileira para atender as
demandas da Copa 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016,
deixando um legado positivo para a sociedade
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Editorial

Uma nova revista para os novos tempos


O Brasil está entrando em um novo ciclo de desenvolvi- metropolitanas do País registrou, em setembro último, alta
mento, que, esperamos, seja sustentável e duradouro. Para de 16,2% em relação ao mesmo mês de 2008. Isso repre-
investidores do mundo inteiro, somos a “bola da vez”, o sentou a criação de 155 mil postos de trabalho, quase três
mais promissor entre os países emergentes. Com o know vezes mais que as vagas criadas pelo setor de serviços no
how de quem sobreviveu a múltiplas turbulências econô- mesmo período.
micas, nas últimas décadas, o País se recupera com rapidez Por todos esses fatores, os setores da Construção e En-
dos efeitos da crise econômica iniciada nos Estados Unidos, genharia no Brasil estavam, há muito tempo, precisando de
que contaminou o sistema financeiro mundial. Mantivemos um veículo de informação que retratasse com fidelidade a
a inflação sob controle, os juros e o desemprego em trajetó- dimensão alcançada e que reconhecesse a sua importância
ria de queda, a concessão de crédito e as reservas interna- no contexto da economia do País, com uma linha editorial
cionais em níveis satisfatórios. ancorada nos fundamentos básicos do bom jornalismo:
Coube ao setor da Construção, como grande gerador isenção, imparcialidade, compromisso com a verdade, atu-
de emprego e renda, importante participação nesse pro- alidade das informações, profundidades nas análises e es-
cesso, ao lado da indústria automobilística e de bens de pírito crítico.
consumo -- amparadas pela série de medidas de estímulo A revista Grandes Construções nasce com a missão
editadas pelo governo federal. Para a Construção, esse pa- de suprir esta lacuna, tornando-se leitura obrigatória da
pel foi assegurado, em grande parte, pela manutenção dos elite econômica do Brasil -- empresários e executivos das
investimentos em infraestrutura, habitação e saneamento, grandes empresas de construção, engenharia, concessioná-
previstos no âmbito do Programa de Aceleração do Cresci- rias de infraestrutura; investidores, formadores de opinião,
mento (PAC). tomadores de decisão, responsáveis por compra de equipa-
Hoje a indústria da Construção congrega mais de 205 mentos e contratação de serviços; líderes setoriais, repre-
mil empresas em todo o País, desde grandes expoentes da sentantes dos segmentos da indústria e políticos que atuam
engenharia mundial até pequenas empresas que promo- no setor, entre outros.
vem a interiorização do desenvolvimento. De acordo com Sempre atenta às novidades e fatos relevantes do mer-
o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em cado, Grandes Construções informará aos seus leitores,
seu levantamento preliminar do desempenho da economia de forma simples e direta, sobre grandes projetos em de-
em 2008, o setor obteve incremento notável, naquele ano, senvolvimento no mundo, novos métodos, as novas tendên-
crescendo 8%, muito acima do aumento de 5,1% do Pro- cias, novas tecnologias e novos equipamentos, estreitando
duto Interno Bruto (PIB). Já na estimativa do Sindicato da vínculo entre engenheiros, técnicos e compradores em
Construção Civil de Grandes Estruturas no Estado de São potencial com as modernas tecnologias e seus principais
Paulo (Sinduscon-SP), esse percentual pode chegar a 10%, fornecedores.
considerando outros indicadores além da produção física O Brasil está emergindo da crise mundial mais forte,
dos materiais de construção. mais confiante e mais respeitado entre as nações, num
Segundo o IBGE, a Construção também teve uma par- cenário onde informação e conhecimento são importantes
ticipação relevante na Formação Bruta de Capital Fixo, que diferenciais. Neste contexto, é imperativo que empresas e
cresceu 13,8% em 2008 e representou 19% do PIB, a mais profissionais estejam atualizados, acompanhando as mu-
alta taxa de investimentos desde o início da série histórica danças, deixando o velho para trás e encarando os novos
do instituto, em 2000. Em 2008, os investimentos em cons- tempos municiados com informação de qualidade.
trução foram estimados em R$ 206,8 bilhões pelo IBGE, o Grandes Construções é fruto desta revolução tec-
que significou um aumento de 8,9% em relação a 2007. nológica que estaremos vivendo num futuro próximo e ao
A força de impulsão dessa indústria também pode ser mesmo tempo, agente número 1 na veiculação das informa-
medida pela sua capacidade de geração de empregos. Con- ções sobre essas mudanças.
forme a última Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), Conte conosco e boa leitura!
realizada pela Fundação Sistema Estadual de Análise de
Dados (Seade-SP) e pelo Departamento Intersindical de
Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o núme- Afonso Celso Mamede
ro de empregados do setor, em seis das principais regiões Presidente da Sobratema

Novembro 2009 / A
Índice

Editorial 3
Uma nova revista para os novos
tempos

6
Associação Brasileira de Tecnologia
para Equipamentos e Manutenção
Jogo Rápido
Diretoria Executiva e
Endereço para correspondência:
Av. Francisco Matarazzo, 404
cj. 401 – Água Branca

10
São Paulo (SP) – CEP 05001-000
Tel.: (55 11) 3662-4159 – Fax: (55 11) 3662-2192 Jogos Olímpicos e
Comitê Executivo
Presidente: Afonso Celso Legaspe Mamede
Copa 2014
Vice-Presidente: Carlos Fugazzola Pimenta
Vice-Presidente: Eurimilson João Daniel
Entraemcampoumnovociclode
Vice-Presidente: Ivan Montenegro de Menezes desenvolvimento para o Brasil
Vice-Presidente: Jader Fraga dos Santos
Vice-Presidente: Jonny Altstadt
Vice-Presidente: Mário Sussumo Hamaoka
Vice-Presidente: Múcio Aurélio Pereira de Mattos
14
Vice-Presidente: Octávio Carvalho Lacombe Artigo de José Roberto
Vice-Presidente: Paulo Oscar Auler Neto
Vice-Presidente: Silvimar Fernandes Reis Bernasconi: Seremos
Diretor Executivo: Paulo Lancerotti
vitrines ou vidraças
Diretoria Técnica
Álvaro Marques Júnior (Atlas Copco) - André G. Freire (Terex) - Augusto
Paes de Azevedo (Caterpillar) - Benito Francisco Bottino (Odebrecht) - Carlos 18
Arasanz (Eurobrás - ALEC) - Cláudio Afonso Schmidt (Odebrecht) - Dionísio
Covolo Jr (Metso) - Edson R. Del Moro (Yamana Mineração) - Eduardo M. Entrevista com Luiz
Oliveira (Santiago & Cintra) - João Miguel Capussi (Scania) - Felipe Sica
Soares Cavalieri (Brasil Máquinas de Construção - Hyundai) - Gilberto
Fernando Pires
Leal Costa (Odebrecht) - Gino Raniero Cucchiari (New Holland) - João
Lázaro (CCCC) - José Germano Silveira (Sotreq - Caterpillar) - Ledio
Augusto Vidotti (GTM Máquinas e Equipamentos) - Luis Afonso Pasquotto 20
(Cummins) - Luiz Carlos Furtado (CR Almeida) - Luiz Gustavo Pereira (Tracbel
- Volvo) - Marcos Bardella (Brasif - Case) - Mario Humberto Marques Estádios brasileiros
(AG) - Nathanael P. Ribeiro Jr (Auxter - JCB) - Permínio A. Maia de Amorim
Neto (Getefer) - Ramon Nunes Vazquez (Mills) - Ricardo Pagliarini Zurita
reprovados para a Copa
(Liebherr) - Rissaldo Laurenti Júnior (Carraro S.A.) - Roberto Mazzutti
(Auxter - JCB) - Sérgio Barreto da Silva (GDK) - Valdemar Shinhiti Suguri
2014
(Komatsu) - Yoshio Kawakami (Volvo)

Diretor Regional
24
Petrônio de Freitas Fenelon (MG) Medo do apagão dos
VPS Engenharia e Estudos
Wilson de A. Meister (PR) transportes
Ivaí Engenharia de Obras S/A
José Luiz P. Vicentini (BA/CE)

28
Terrabrás Terraplanagens do Brasil S/A
Laércio de F. Aguiar (PE/AL/PB/RN)
Construtora Queiroz Galvão S/A Construção Imobiliária
Antonio Almeida Pinto (CE/PI/MA) Déficit habitacional é desafio
Construtora Queiroz Galvão S/A
para governantes e para
Grandes Engenharia brasileira

Construcoes
Diretor Executivo: Hugo Ribas
Editor: Paulo Espírito Santo
Energia
30
Pré-Sal desafia a indústria
mundial
Revisão: Luci Kasai
Publicidade: Carlos Giovanetti (gerente comercial),
Maria de Lourdes e José Roberto R. Santos
Projeto Gráfico
Diagrama Marketing Editorial

“Grandes Construções” é uma publicação mensal, de circulação


nacional, sobre obras de Infraestrutura (Transporte, Energia,
Saneamento, Habitação Social, Rodovias e Ferrovias); Construção
Industrial (Petróleo, Papel e Celulose, Indústria Automobilística,
Mineração e Siderurgia); Telecomunicações; Tecnologia da
Informação; Construção Imobiliária (Sistemas Construtivos, www.grandesconstrucoes.com.br
Programas de Habitação Popular); Reciclagem de Materiais e
Sustentabilidade, entre outros.
Tiragem nº 0: 2 mil exemplares. Tiragem normal: 12 mil exemplares
Periodicidade: mensal.
Impressão: Parma
Membro da Anatec
Capa: criação de Felipe Escosteguy

4 / Grandes Construções
Jogo Rápido

Hidrelétrica de Santo
Gasoduto Urucu-Coari-Manaus Antônio tem licença
entra em operação experimental confirmada
A Advocacia-Geral da União
(AGU) conseguiu manter, na Justi-
ça Federal, em Rondônia, a licença
de instalação da Usina Hidrelétrica
de Santo Antônio, no Rio Madeira.
As organizações não governamen-
tais de defesa do meio ambiente
tinham ajuizado uma ação civil
pública contra o Instituto Brasi-
leiro de Meio Ambiente (Ibama),
a Agência Nacional de Energia
Elétrica (Aneel), a Agência Na-
O gasoduto Urucu-Coari- indústrias, o comércio e o transporte.
cional de Águas (Ana), a União e
Manaus começou a operar, em Com 661 km de extensão, o gaso-
a empresa Madeira Energia S.A.,
caráter experimental, no dia 3 duto Urucu-Coari-Manaus permitirá
pedindo a suspensão imediata da
de outubro. Inicialmente, a Petrobras levar ao mercado o gás natural
licença emitida para a usina, ale-
fornecerá os 5,5 milhões de m3 do produzido na Bacia do Solimões, no
gando irregularidades ambientais.
combustível à Companhia de Gás do Amazonas. Com 52,8 bilhões de m³,
Na decisão, a Justiça Federal
Estado do Amazonas (Cigás). Cinco o Amazonas detém a segunda maior
acatou a argumentação da AGU
milhões serão destinados às terme- reserva de gás natural do país, atrás
de que a suspensão da licença am-
létricas da capital e aos sete muni- apenas do Rio de Janeiro. Os investi-
biental não poderia ocorrer porque
cípios que estão no trecho da obra. mentos exigidos pelo empreendimen-
todas as recomendações emitidas
O restante servirá para abastecer as to são da ordem de R$ 3,5 bilhões.
no parecer técnico do Ibama fo-
ram cumpridas pelo empreendedor
INVESTIMENTO responsável pela obra.
Foto: Agência Brasil

R$ 1 bilhão para obras em


rodovias
O governo federal pu- na manutenção da BR-232, rodovia
blicou decreto no Diário que liga o Recife a Salgueiro, no
Oficial da União, de 23 de sertão pernambucano, passando
outubro, criando um adicional de por Caruaru.
R$ 1 bilhão para obras na área Segundo a assessoria de imprensa
de transportes (incluindo rodo- do Ministério dos Transportes, a
vias federais). O decreto também iniciativa foi apenas um remane-
cancelou R$ 1 bilhão de obras que jamento dos recursos de obras
estavam sendo feitas pelo Ministé- que não estavam andando num
rio dos Transportes, em sua maior ritmo considerado satisfatório pelo
parte no Nordeste. Em Pernambu- governo federal. O decreto também
co, por exemplo, o decreto retirou retirou R$ 201 milhões que seriam
R$ 5,2 milhões que seriam usados empregados em obras de manuten-

www.grandesconstrucoes.com.br

6 / Grandes Construções
Há 75 anos
Há 75 resultados.
construindo anos
construindo resultados.
ThyssenKrupp CSA - RJ

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www.mascarenhas.com.br

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Jogo Rápido

Sai licença ambiental para o


Porto Sudeste

Petrobras e UFRJ Maquete eletrônica do Porto Sudeste

inauguram laboratório A LLX Logística S.A., integrante da holding EBX,


do empresário Eike Batista, obteve a licença am-
biental prévia para a construção do Porto Sudeste,
O Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da
com capacidade para movimentar 50 milhões de
Petrobras (Cenpes) e a Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ) inauguraram, no dia 27 de toneladas de minério de ferro por ano. Localizado
outubro, na Ilha do Fundão, a fase I do Laborató- no município de Itaguaí, a 80 km da cidade do Rio
rio de Engenharia, Aplicação e Desenvolvimento de Janeiro, o porto será a principal via de expor-
em Instrumentação, Automação, Controle, Otimi- tação do minério de ferro produzido nas minas do
zação e Redes de Campo (LEAD). Em um prédio Sistema Sudeste da MMX, braço de mineração da
de 150 m², o LEAD terá como principal atribuição
holding, em Minas Gerais. O projeto já foi enqua-
identificar e explorar rotas tecnológicas, desenvol-
ver conhecimentos e avaliar tecnologias. Em área drado pelo BNDES para fins de financiamento de
disponibilizada pela UFRJ, a Petrobras investiu em longo prazo.
infraestrutura e na aquisição de equipamentos.
O Programa de Engenharia Elétrica (PEE) da Mais rendimento e assepsia
COPPE/UFRJ foi escolhido pela Petrobras como
parceiro na construção do laboratório por ser um
na lubrificação em campo
programa de pós-graduação avaliado com nota
máxima pela Coordenação de Aperfeiçoamento de A Gascom, uma das maiores fabricantes
Pessoal de Nível Superior – CAPES. brasileiras de equipamentos e apoio logísti-
A fase II do LEAD, atualmente em pré-licitação co operacional, apresentou ao mercado, em
para construção, ocupará uma área de 1.800 m²  outubro, o ProLub Press, um comboio pressu-
no Parque Tecnológico da UFRJ, onde já existe, rizado, desenvolvido para abastecer e lubri-
desde 2003, o LabOceano, resultado de parceria
ficar máquinas que operam no campo ou na
bem-sucedida entre a Petrobras e a COPPE/UFRJ.
A inauguração do laboratório reforça a estraté- obra. O equipamento é constituído por vasos
gia de desenvolvimento em conjunto de novas pressurizados que garantem alto rendimento,
tecnologias, o que traz benefícios tanto para as segurança e assepsia necessária para evitar a
universidades, que realizam suas pesquisas aca- contaminação. Uma novidade em tecnologia
dêmicas em laboratórios de ponta, quanto para a incorporada ao equipamento são os carretéis
Petrobras, que ao compartilhar conhecimentos cria
retráteis com retração por mola, que evitam
competências para superar seus desafios tecnoló-
gicos e empresariais. que as mangueiras, medindo 15 metros, se

8 / Grandes Construções
Março 2009 / A
Jogos Olímpicos
Jogos OlímpicoseeCopa
Copa2014
2014

Entra em campo um novo ciclo de


desenvolvimento
para o Brasil

O s anos de 2014 e 2016 tornaram-se no-


vos marcos na história recente e para o
futuro do Brasil. Nessas datas o País se-
diará dois dos mais importantes torneios desporti-
vos do planeta – a Copa do Mundo de Futebol e os
economia mundial. Todos os planos de obras que
estão sendo elaborados, todas as expectativas, todos
os projetos de investimentos, têm como horizonte
essas duas datas.
Para José Roberto Bernasconi, presidente do Sin-
Jogos Olímpicos e Paraolímpicos, respectivamente dicato da Arquitetura e da Engenharia (Sinaenco),
– o que representa uma oportunidade de mostrar à entidade, que congrega mais de 10 mil empresas, os
comunidade internacional sua capacidade de orga- riscos são grandes, mas as oportunidades são maio-
nização e planejamento, maturidade da Engenharia, res ainda (leia artigo nesta edição). Ele lembra que
força econômica para captar investimentos e garra podemos nos espelhar no modelo bem-sucedido de
para superar dificuldades e vencer desafios. Barcelona, na Espanha, que ao sediar as Olimpíadas
Mas basta um olhar mais atento pra perceber que de 1992, usou a oportunidade para dar uma virada
essas datas representam muito mais: são uma opor- em sua história, recuperando sua infraestrutura ur-
tunidade única para que finalmente seja elaborado bana, revitalizando áreas degradadas, construindo
um projeto de Nação para o Brasil, deixando de lado instalações permanentes que se integraram ao cená-
o estigma de país de terceiro mundo, consolidando rio da cidade. A elevação da qualidade de vida pra
sua posição ao lado das nações que mais crescem na a sociedade foi notável, levando Barcelona a figurar

10 / Grandes Construções
Estádio Olímpico de Atenas, na Grécia,
palco de competições e das cerimônias
de abertura e encerramento dos Jogos
Olímpicos de 2004

entre as mais bonitas e prósperas ci- se revelou equivocada e não se re- rismo. Para a realização da Copa de
dades do mundo e um dos principais verteu em benefícios permanentes 2014, ainda não há um orçamento
destinos turísticos. para a população, depois do evento. definido, mas a estimativa é de apro-
Mas há também o exemplo de ximadamente R$ 100 bilhões segun-
Atenas, na Grécia, que sediou os Oportunidades de negócio do o Sinaenco.
Jogos de 2004, sob denúncias de Para os setores da Engenharia e a São cifras sem precedentes na
desvio de dinheiro e superfatura- indústria da Construção no Brasil, história do esporte nacional, que
mentos. As estimativas iniciais do que já demonstraram sua força como incluem investimentos públicos e
governo grego apontavam para um principais indutores da recupera- privados em infraestrutura de trans-
custo de 4,6 bilhões de euros para ção da economia brasileira pós-crise porte, saneamento, recuperação do
organizar os Jogos, mas, ao final financeira mundial, o momento é meio ambiente, segurança, amplia-
do programa de obras, os números especialmente oportuno e encerra ção da rede hoteleira, além da refor-
oficiais deram conta de que o custo grandes possibilidades de crescimen- ma e construção de estádios e arenas
total foi de 7 bilhões de euros – o to. Somente para os Jogos Olímpicos, desportivas, por exemplo. Só para a
equivalente a 4% do Produto Inter- a estimativa dos investimentos ne- reforma de 14 estádios e a constru-
no Bruto (PIB) do país. Para piorar cessários é de cerca de R$ 30 bilhões ção de outros quatro, o orçamento
o quadro, a aplicação dos recursos de acordo com o Ministério do Tu- chega a R$ 2 bilhões, segundo estudo

Novembro 2009 / 11
Jogos Olímpicos e Copa 2014

entregue pela Confederação Brasileira tura foi o evento com maior audiência competição. O mundo estará de olho
de Futebol (CBF) à Fifa. televisiva até hoje. não só nos lances dos jogos, mas em
A expectativa é de que os impactos Durante os jogos, circularam em cada ponto da organização, seja no to-
desses eventos sobre a economia bra- Pequim cerca de 300 mil pessoas cre- cante às instalações dos estádios, seja
sileira sejam duradouros, do ponto denciadas, incluindo atletas, técnicos, na infraestrutura de transporte, na se-
de vista de geração de trabalho e ren- membros do COI e das federações, gurança e no conforto oferecido aos
da. Estudo elaborado pela Fundação mais de 70 mil voluntários e 50 mil visitantes pela rede hoteleira.
Instituto de Administração (FIA), da profissionais de segurança. Foi a maior “É fundamental discutir as necessi-
Universidade de São Paulo (USP), pro- cobertura de mídia até hoje, com cer- dades de investimentos e o cronograma
jeta um impacto econômico dos inves- ca de 30 mil jornalistas e profissionais das obras para o mundial. É essencial
timentos nos Jogos Olímpicos acima de da imprensa produzindo mais de 5.000 destacar também a importância do pla-
R$ 100 bilhões, com repercussões até horas de transmissão em alta definição nejamento e da contratação de projetos
2027. Estima-se que, só com os Jogos, para cerca de 200 países em 16 dias de executivos para a realização de obras de
serão cerca de 100 mil empregos dire- competição. Aproximadamente 400 qualidade, que são imprescindíveis ao
tos, não apenas no Rio, uma vez que os mil espectadores por dia assistiram às evento e que devem constituir um lega-
fornecedores da cadeia da Construção, diversas competições em Pequim. Nos do para a sociedade, alerta José Rober-
a serem contratados, estão espalhados 37 locais de competição e 87 locais de to Bernasconi. “Não podemos perder
por vários outros estados. Na verdade, treinamento foram realizados um total esta chance. Os eventos podem ser uma
mais da metade da massa salarial e dos de 302 eventos. excelente vitrine ou uma frágil vidraça.
empregos serão gerados fora do Rio. Os números dão a dimensão da res- Devemos decidir que Brasil queremos
O retorno dos investimentos será co- ponsabilidade do Brasil em sediar a em 2017”, ressalta.
berto, basicamente, pelo aumento da
atividade econômica antes, durante e,
principalmente, depois dos Jogos, com
o consequente aumento no volume de
impostos arrecadados.

Visibilidade absoluta
Entre 1 milhão e 3 milhões de visi-
tantes, somando atletas, comissões téc-
nicas, torcedores e jornalistas dos mais
diversos recantos do planeta. Essa é a
estimativa de público para a Copa de
2014, no Brasil, segunda a Fifa. Mas a
exposição que o evento alcançará será Projeto de reforma do
infinitamente maior, se forem consi- estádio Mineirão, em
deradas as transmissão dos jogos pelos Belo Horizonte (MG)
meios de comunicação. Só para se ter
uma ideia, durante a Copa de 2006, a
Alemanha recebeu cerca de 3 milhões
de visitantes, nos 30 dias do evento.
Mas a avaliação da Fifa é de que cada
jogo foi assistido pela TV por cerca de
260 milhões de pessoas, em 240 países.
No acumulado, aproximadamente 30
bilhões de telespectadores acompanha-
ram os jogos.
Os números de audiência dos Jogos
Olímpicos de Beijing, em 2008, tam-
bém não ficaram atrás. Segundo o Co-
mitê Olímpico Internacional (COI),
esse foi o evento com maior audiência Maquete eletrônica
acumulativa de todos os tempos. Duas do Estádio do
Maracanã, reformado
em cada três pessoas no planeta assisti-
e com a cobertura das
ram a pelo menos algum tipo de cober- arquibancadas
tura do torneio. A cerimônia de aber-

12 / Grandes Construções
Jogos Olímpicos e Copa 2014

Seremosvitrinesouvidraças
José Roberto Bernasconi*
Exemplodosproblemasoriginadosdessafaltadeplanejamentoforamasobrasdos
JogosPan-americanosde2007noRiodeJaneiro.Acapitalcariocapraticamentenão
se beneficiou dos investimentos realizados

“O
RiodeJaneirofoiescolhidopeloCo-
mitê Olímpico Internacional (COI),
nodia2deoutubro,emCopenhague,
Dinamarca,comosededosJogosOlímpicosde2016.
Essaconquista,énecessáriodizer,deve-seemgrande
parteaotrabalhoprofissionalderelaçõespúblicas
desenvolvidohámaisdedoisanospelasautoridades
brasileiras,especialmenteaquelasligadasaoesporte
(MinistériodoEsporte,ComitêOlímpicoBrasileiroe
Itamaraty),comopresidenteLulaàfrente,juntamen-
tecomogovernodoestadoedacapital.Àsjustas
comemoraçõespelaconquistadaprimeiraOlimpíada
aserrealizadanaAméricadoSul,porém,somam-se
asnecessáriasaçõesqueprecisamserrealizadasafim
dequeoeventomarqueumaviradanacapitalcarioca
edeixeumlegadopositivo,paraseushabitantes,para
o incremento do turismo e ao País.
Entreessasações,oplanejamentoéofatoressencial
paraarealizaçãobem-sucedidadosJogosOlímpicos
2016,aexemplodoqueaconteceuemBarcelona1992e
vemacontecendoemLondres,emsuapreparaçãopara
sediarasOlimpíadas2012.Nocasobrasileiro,háafeliz
coincidênciadeoRiodeJaneiroserumadassedesda
Copa2014emuitasdasobrasqueserãorealizadasparao
CampeonatoMundialdeFuteboldevemnecessariamen-
teserpensadasparaaproveitamentonosJogosOlímpicos,
especialmenteaquelasligadasàinfraestruturaurbana
–demobilidadeurbana(metrô,corredoresdeônibus,
estacionamentos,entreoutras),aeroviária,deportos,de
ampliação da rede hoteleira e também esportiva.
Outraquestãofundamentalaserresolvidanainfra-
estruturarefere-seaosaneamento,emtodasassuas
vertentes:água,esgoto,drenagemdaságuaspluviais
eresíduossólidos,ouseja,coletaedestinaçãodolixo.
Paraisso,éabsolutamenteurgentequeasautorida-
desfederais,estaduaisemunicipaisseunampara
aproveitarasinergiaentreosdoiseventos–Copa
2014eOlimpíadas2016–paraeliminar,deumavez
portodas,apoluiçãodabaíadaGuanabara,programa
quejáduraquaseduasdécadas,consumiumaisde
1bilhãodedólaresenãoresolveuoproblema.Para

14 / Grandes Construções
isso,alémdosnecessáriosinvestimentosem 2007noRiodeJaneiro.Acapitalcariocaprati- ras.Algunspoderãosertentadosacontratar,
coletaetratamentodoesgotourbanoena camentenãosebeneficioudosinvestimentos semlicitação,escritóriosestrangeiros,soba
implantaçãodeinterceptoresoceânicos,é realizados.AsobrasparaaCopa2014easOlim- alegaçãodequeestesjátêmexperiênciano
precisofazer,principalmente,arealizaçãode píadas2016sãoaoportunidadedeaproveitara projetodeestádios,padrãoFifaoupadrão
campanhasdeesclarecimentoqueatinjam intensasinergiaentreosdoiseventos,miraros COI.Ajustificativaseráadesempre:“Comojá
apopulaçãocomoumtodoeimpeçamque ensinamentosdahistóriarecenteereverteresse
estamosatrasados,nãohátempoaperdercom
muitos,comoaconteceatualmente,joguem quadro.Senão,osquase30bilhõesdereaisque
demoradaslicitações”.Nãopodemosdesperdi-
lixonarua,noscórregoserios,provocan- são previstoscomoinvestimentonapreparação
paraasOlimpíadaspodemnãosersuficientes çaressasrarasoportunidadesparadesenvolver
doenchentesetodaasortedeproblemas
sanitários.Somentecomacolaboraçãodos ou,piorainda,nãodeixarnenhumaconsequên- acompetênciadasempresasbrasileiras,com-
cidadãos a questão do lixo e da limpeza cia positiva para a sociedade. petênciaessaquepoderáserexportadanos
urbana,comconsequênciasnaprevençãode E,paraseterumbomprojeto,énecessário megaeventosesportivosmundiais,nofuturo.
enchentes, poderá ser resolvida. planejar,quesignificapensarantesparafa- Organizar a Copa e as Olimpíadas é um
Estaéaúnicaformadesuperaradeficiência zermelhor.Tambéménecessáriorespeitaro desafioparatodososbrasileiros.Oprincipal
crônicadoBrasilemplanejamento,nassuas tempoparaasuaelaboração,enfimrespeitar problemaestánainfraestrutura.Nãopode-
diversasesferasdepoder(federal,estaduale aengenharia.Istoporque,comopreconiza moscorreroriscodefazeraCopa2014eas
municipal).Oplanejamentovemfalhando oSinaenco,“antesdeumaboaobra,existe Olimpíadas2016enãodeixarnenhumresul-
seguidamente,comoscustosdecorrentes:obras sempre um bom projeto”. tadoimportanteparaascidadesenvolvidas.
executadasàspressas,semprojetosdetalhados Éprecisotrabalharapartirdeagora,ainda
O melhor resultado da Copa 2014 e das
quedefinamtécnicasconstrutivas,especifica- commaisafincoparadesenvolverrápidae
Olimpíadas2016éoBrasil2017,olegado
çõesdosserviçosemateriais,cronogramade eficientementeosprojetosdecadaestádio,
execuçãoeorçamentorigorosos.Exemplodos praça,rodoviaouaeroportoqueprecisaremos positivodesseseventosparanossopaís.”
problemasoriginadosdessafaltadeplanejamen- para2014e2016.Háaquigraveriscoparaa (*)JoséRobertoBernasconiépresidentedoSindicato
toforamasobrasdosJogosPan-americanosde arquiteturaeengenhariadeprojetosbrasilei- da Arquitetua e da Engenharia (Sinaenco)

Novembro 2009 / 15
Jogos Olímpicos e Copa 2014

Parcerias, mas com


planejamentoetransparência
LuizFernandoPires*

A
iniciativaprivadatemgran- estudoprofundodaengenharia,antes
deinteresseemparticipar de se iniciar as obras.
dosinvestimentosemin- Grandes Construções – O que
fraestruturaparaosjogosdaCopade fazerparaincentivaraparticipaçãoda
2014edasOlimpíadasde2016.Mas iniciativaprivadanosinvestimentos,por
sentefaltadeumarcabouçojurídico meiodeconcessões,emespecialnoque
quegarantaequilíbrioeconômico- dizrespeitoàconstruçãooumoder-
financeiroaosinvestimentos.Exigem nizaçãodosistemaviárioedasarenas
aindainstrumentosqueassegurem desportivas,deacordocomasexigências
a transparência da aplicação dos daFederaçãoInternacionaldeFutebol
recursoseoplanejamentoadequado (Fifa)edoComitêOlímpicoInternacio-
doprogramadeobras.Quemafirma nal, para a realização dos jogos?
issoéLuizFernandoPires,presidente Luiz Fernando Pires – O gover-
do Sinduscon – MG. noprecisaestimularessaparticipação
Com a experiência de quem pormeiodeeditaiscujasexigências
ajudou a escrever a história da sejamcabíveis.Nãoadiantacolocarem
Engenharia do Brasil, atuando em napraçaeditaiscomoutorgasaltíssi-
empreendimentosdossetorespúbli- masouquesejaminviáveiseconomi-
coseprivados,emsegmentoscomo camente.Aparticipaçãodainiciativa
siderurgia,metalurgia,saneamento, privadanessetipodeinvestimentoé
mineração,químico/farmacêutico, comprovadamenteumsucessoem
saneamentoeobras-de-arteespeciais, todosospaísesdesenvolvidosecon-
Piresalertaqueadefiniçãodasprio- tribui em muito para a construção e
ridadesnãopodesersubordinadaa modernizaçãodainfraestruturadesses
interessespolíticos,masacritérios países.Cabeaogovernobrasileiroado-
estritamentetécnicos.Sobacoordenaçãodeprofissionais tarmodelos-bemsucedidosnoexterioreadequá-losànossa
qualificados. realidade.
Sãoposiçõesquetraduzemaspreocupaçõesdoempre- GrandesConstruções–Comoasempresasconsegui-
sariadodosetor,nessemomentotãoimportanteparaa rãofinanciarsuasparticipaçõesnessesempreendimentos?
história do Brasil. Com a palavra, Luiz Fernando Pires. Existem hoje instrumentos eficazes para isso?
Revista Grandes Construções – O que a indústria LuizFernandoPires– Após o ápice da crise,osbancos
daconstruçãoesperadesseciclodecrescimentoquese nacionaiseinternacionaisvoltaramaofertarcréditoparaesse
aproxima?Oquefazerparaquenãosejaumsurtopassa- tipodenegócio,noentantooBNDEScontinuasendo,noBra-
geiro,masumprocessodedesenvolvimentoeconômicoe sil,aprincipalreferênciaparaessestiposdeprojetos.Osinstru-
tecnológico permanente? mentosdisponíveisnosmercadoshojesãoadequados;omaior
Luiz Fernando Pires – Esperamos que o ciclo de problemaestánaformataçãodosprojetosenãonosinstrumen-
crescimentosejaretomado,masdemaneirasustentávele tos de financiamento.
commaisplanejamento.Nãonoritmodesenfreadoque Grandes Construções – O Brasil dispõe de um arca-
vivíamosnoperíodoanterioràcriseeconômicamundial. bouçojurídico,quedêsegurançaaoinvestidorprivadoega-
Paraissoéfundamentalqueasempresaseosórgãospúbli- rantaoequilíbrioeconômico-financeirodosinvestimentos?
cosinvistamemumplanejamentoadequadoparaosseus Luiz Fernando Pires – Não, infelizmente o nosso país
empreendimentos,reforçandosempreaimportânciado aindaconvivecomumacertainsegurançajurídica.Ogoverno

18 / Grandes Construções
aindatemgrandeinfluêncianasdecisõesdoJudiciário–Supremo
TribunalFederal(STF)eSuperiorTribunaldeJustiça(STJ),oque
muitasvezespodeprejudicaroequilíbrioeconômico-financeiro
dosinvestimentos.Éimportantedestacarquehouveumaevolução
nosúltimosanos,masasombradainsegurançaaindaéforte.
GrandesConstruções–Comogarantirqueasinstalações
permanentes,aseremconstruídas,nãosetornem“elefantesbran-
cos”equeosinvestimentosnãosepercam, construindoequipa-
mentos não integrados à vida das cidades?
LuizFernandoPires–Éfundamentalqueexistaumplane-
jamentovoltadoparalongoprazo,ouseja,queestasconstruções
tragambenefíciosparaascomunidadesnofuturo,enãosomente
durante a Copa ou os Jogos Olímpicos.
Grandes Construções – Existe o receio de que a mo-
vimentaçãodetãograndesrecursosemtãocurtoespaçode
tempocrieoportunidadesparadesviosdeverbas,corrupção,
superfaturamentoseoutrasaçõesdessetipo.Queinstrumen-
tosdefiscalizaçãoasociedadepodecriarparacontrolaraapli-
cação real dos recursos, e de forma correta?
Luiz Fernando Pires – Hoje em dia já existe uma grande
fiscalizaçãofeitapeloTribunaldeContasdaUnião(TCU)epelo
MinistérioPúblico,queconseguemacompanharcomrigoro
andamentodasprincipaisobrasdopaís,portantonãovejoane-
cessidadedecriaçãodemaisinstrumentos.Éimportantedestacar
queaatuaçãodafiscalizaçãodeveterfocoeisençãoenãoterum
caráter pirotécnico em busca de exposição na mídia.
Grandes Construções – Uma das críticas ao Programa
deAceleraçãodoCrescimento(PAC),dogovernofederal,éque
nãoháumplanejamentoefetivodas obras,oquecontribuipara
alentidãodoandamentodoprograma.Falou-seaténacriaçãode
umórgãocomesseobjetivo,formadopelasempresasdeEnge-
nhariaeConstrução.Nãoháoriscodissoserepetirnasobrasdos
JogosOlímpicosedaCopa?Seriaviávelacriaçãode comitêsde
planejamentoenvolvendoosgovernos(federal,estaduaisemuni-
cipais) e representantes da iniciativa privada?
Luiz Fernando Pires – Como disse, o planejamento é o
principalpilarparaobomandamentodequalquerprojeto,seja
ele o PAC ou as obras da Copa e das Olimpíadas. A criação de
órgãocomesseintuitoéimportante,masdevesegarantirque
serãocolocadaspessoasqualificadastecnicamenteparaplane-
jar as obras e não sob critérios políticos.
Grandes Construções – No caso do Pré-Sal, como garan-
tirqueboapartedasencomendasaseremfeitasnaindústriade
insumoseequipamentosfiqueaquinoBrasil?Comoaproveitar
paraaumentaracapacidadedeproduçãodanossaindústrianaval
efazercomqueoBrasilpasseacontarcomumaindústriacom
tecnologiadepontaemsondas,sistemadesubmarino,devasos
flexíveis, válvula etc.?  
Luiz Fernando Pires – Em primeiro lugar, é importante
queogovernocrieestímulosparaaindústria,mediantebenefí-
ciosfiscaiselinhasdecréditoparainvestimento.Oempresariado
brasileiroéempreendedoreperfeitamentecapazdeabsorveressa
demanda,masénecessárioquetenhamoestímuloparapoderde-
senvolver a indústria das tecnologias citadas.
(*) Luiz Fernando Pires é presidente do Sinduscon – MG

Uma nova revista para os novos tempos!


www.grandesconstrucoes.com.br
Novembro 2009 / 19
Jogos Olímpicos e Copa 2014

Estádios brasileiros
reprovados para a Copa

P
raticamente nenhum estádio bra- investimentos. Isso sem falar na corrida Rio. Outros dificilmente conseguirão ser
sileiro atende a todas as exigên- contra o tempo. adaptados, por estarem encravados em
cias da Federação Internacional De acordo com o levantamento, os es- áreas densamente povoadas, onde não
de Futebol (Fifa), para a realização dos jo- tádios brasileiros são muito velhos e fo- há espaço suficiente para a instalação de
gos da Copa 2014. De forma geral, são pra- ram projetados para receber tanto com- infraestrutura de apoio, como estaciona-
ças esportivas ultrapassadas e antigas, que petições de atletismo quanto de futebol, mentos. Para um estádio com capacidade
padecem de um longo processo de falta num mesmo espaço. De acordo com as de 60 mil lugares, por exemplo, prevê-se
de manutenção e atualização tecnológica. exigências da Fifa, a preferência é por um estacionamento para 10 mil veículos,
Tampouco foram dimensionadas, em sua estádios sem pista de atletismo. São os o que demandaria uma área de cerca de
maior parte, para o público esperado nas chamados estádios-arena, que colocam 250 mil m².
competições internacionais, ou possuem, as arquibancadas a até seis metros do
em seu entorno, áreas para estacionamen- campo de jogo. Diferentemente dos está- Tratamento diferenciado
to de veículos, acessibilidade e infraestru- dios olímpicos que, por serem dotados de Para dar celeridade nos projetos, sem
tura de transporte. pista, mantêm a torcida a uma distância correr o risco da perda dos prazos por
Isso foi o que constataram os estudos mínima de 15 ou 20 metros. causa da lentidão na tramitação dos pro-
realizados pelo escritório Castro Mello – A federação exige ainda que os estádios cessos, nas reformas dos estádios, ou
Arquitetura Esportiva, do arquiteto Edu- tenham cobertura em toda a área da arqui- construção de novas instalações, terão
ardo de Castro Mello, e pelo Sindicato bancada. A instalação dessas estruturas que ser adotados procedimentos diferen-
Nacional das Empresas de Arquitetura e deverá encarecer os custos de adaptação ciados para o licenciamento das obras da
Engenharia Consultiva (Sinaenco). Ade- dos estádios existentes, adicionando mais Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016.
quar os estádios aos padrões necessários peso às edificações. Quem defende essa tese é o presidente da
para o campeonato mundial, ou construir Entre os estádios disponíveis, vários Câmara Brasileira da Indústria da Cons-
novas instalações, exigirá um grande es- têm potencial para serem adaptados, trução (CBIC), Paulo Safady Simão. Ele
forço de Engenharia, seguido de pesados como Mineirão, Mané Garrincha e Beira apresentou ao presidente da República,

20 / Grandes Construções
Maquete virtual do complexo
desportivo Beira Rio, em
Porto Alegre (RS)

Luiz Inácio Lula da Silva, ao presidente Estudos preliminares para os projetos dos Jornalista Mário Filho, mais conhecido
do Banco Nacional de Desenvolvimento estádios já foram preparados e visam mos- como Maracanã, templo mundial do fu-
Econômico e Social (BNDES), Luciano trar para a Fifa a viabilidade de realização das tebol. Inaugurado em 1950, o estádio se-
Coutinho, e à ministra-chefe da Casa Ci- obras. Veja a seguir, as principais característi- diou a Copa do Mundo daquele ano.
vil, Dilma Rousseff, a sugestão de criação cas do estádios existentes, de acordo com o • Para 2014, entre outras adaptações, será
de um Manual de Licenciamento das estudo do Sinaenco. construída uma nova cobertura para o es-
obras desses dois eventos esportivos. tádio. O projeto prevê ainda a construção
“Construir todas as estruturas de que Morumbi, em São Paulo de um prédio para estacionamento, acima
precisamos para os dois megaeventos • O estádio Cícero Pompeu de Toledo (o das linhas das concessionárias de trens
com os processos que temos hoje será Morumbi), propriedade do São Paulo Fu- metropolitanos Supervia e do Metrô-
impossível. É preciso que haja uma linha tebol Clube, é o mais indicado para sede -RJ, com cerca de 3.500 vagas. O custo
de licenciamento para a Copa e para as dos jogos da Copa 2014. Pode abrigar previsto da reforma é de mais de R$ 400
Olimpíadas, sem que haja perda de qua- com facilidade mais de 60 mil torcedores milhões.
lidade na fiscalização e no controle”, disse dentro dos padrões de conforto da Fifa. • O Maracanã precisaria corrigir a visibi-
o presidente da CBIC. • Os maiores problemas estão do lado de lidade prejudicada nas primeiras fileiras
Paulo Simão falou também sobre a fora do estádio, nas dificuldades de aces- atrás das cabines; refazer o acesso para
necessidade de o setor participar de um so e estacionamento que hoje afetam a portadores de necessidades especiais;
grande debate sobre os gargalos do país, cidade de São Paulo. Para atender às ne- e reformar os sanitários. A reforma do
sobretudo com relação aos excessos co- cessidades da Copa, o projeto de reforma Maracanã será resultado de Parceria Pú-
metidos por órgãos de fiscalização. “Quem do Morumbi prevê a construção de um blico Privada (PPP).
tem irregularidade, que pague por ela. Mas edifício para 4.800 carros. • O Rio de Janeiro tem ainda o Engenhão,
temos de conter os excessos da fiscalização Estádio Olímpico João Havelange, con-
dos órgãos públicos. Temos de repensar Maracanã, no Rio de Janeiro cluído em 2007 para os Jogos Pan-
muitas coisas”, afirmou. • O Rio de Janeiro, conta com o Estádio -Americanos. Ele tem capacidade para

Novembro 2009 / 21
Jogos Olímpicos e Copa 2014

para shows e sistema de segurança, com


mais de 200 câmeras.
• O estádio está passando por reformas
que permitirão a instalação de cinco mil
novos assentos em seu anel inferior, ele-
vando o número de lugares para 31 mil.
Em 2012 espera-se que a capacidade
seja elevada para 41 mil pessoas.
• Também estão sendo feitas melhorias
na área VIP, salas de imprensa e esta-
cionamentos. Todas as reformas e am-
pliações serão realizadas com investi-
mentos privados e terão sustentação
econômica em função dos jogos dos
campeonatos estaduais e nacionais.

Mané Garrincha, em Brasília


• Construído em 1974, o Mané Garrin-
cha conta com complexo esportivo com
vestiários, sala de fisioterapia, aloja-
mento, restaurante e academias.
Paulo Safady Simão, • Pode acolher 45 mil pessoas, mas uma
presidente da CBIC reforma já programada vai aumentar
sua capacidade para 70 mil lugares.
• Além de alterações no gramado e nas
45 mil pessoas e servirá como centro arquibancadas, o estádio ganhará uma
de treinamento para a Copa. Porém, cobertura, um setor para lojas e empre-
construído em uma região distante e endimentos comerciais e 12 rampas de
deteriorada da cidade, precisa ter sua acesso.
acessibilidade equacionada. • O investimento previsto para o estádio
é de R$ 400 milhões.
Mineirão, em Belo Horizonte
• Batizado oficialmente de Estádio Go- Verdão, em Cuiabá
vernador Magalhães Pinto, o Mineirão, • O Estádio Governador José Fragelli, o
inaugurado em 1965, tem capacidade Verdão, está passando por um programa
para 81 mil pessoas. Uma vez reforma- de reforma, orçado em R$ 350 milhões,
do, ele poderá atender às condições da com previsão de conclusão em dezem-
Fifa. A maior parte das intervenções de bro de 2012. Com a reforma, a nova are-
que ele necessita está relacionada aos na terá capacidade para 48 mil torcedo-
problemas de visibilidade e segurança. res e uma área com camarotes, tribuna
• Os placares sobre a arquibancada e gra- de honra e gabinetes de imprensa.
des na separação das torcidas compro- • A reforma pretende ainda transformar
metem a visibilidade em vários pontos o Verdão em uma arena multiuso, que
do estádio. também possa acolher shows e outros
• Os pilares e as molas que dão reforço à eventos de grande público.
sustentação da arquibancada superior • O plano estadual para a Copa 2014
atrapalham a visão da arquibancada prevê ainda a implantação de quatro
inferior para o campo. Centros de Treinamento, que seriam
instalados nas cidades de Chapada dos
Arena da Baixada, em Curitiba Guimarães, Barão de Melgaço, Lago
• Curitiba conta com o Estádio Joaquim do Manso e Várzea Grande.
Américo Guimarães, o Arena da Baixa-
da, do Clube Atlético Paranaense, que Castelão, em Fortaleza
tem características multiuso, equipado • O estádio do Castelão, ou Plácido Cas-
com vestiários, camarotes, camarins telo, é o mais moderno do Ceará, com
58 mil lugares numerados. Conta com

22 / Grandes Construções
vestiários, camarins-suítes, camarotes camarotes.
climatizados, e bares panorâmicos. Para • Algumas reformas já foram concluídas,
adequar-se às exigências da Fifa, o estádio como é o caso do novo setor administra-
precisaria aumentar seu número de vagas tivo e da nova loja do clube. O museu está
de estacionamento interno e externo e
em obras, com inauguração prevista para
também melhorar a oferta de cabines para
breve. Todas as reformas devem ser fina-
a imprensa.
• Graças a investimentos privados da ordem de lizadas entre o final de 2012 e o primeiro
R$ 400 milhões, o Castelão está sendo refor- semestre de 2013.
mado de forma a se tornar um espaço mul-
tiuso, com utilização comercial de suas áreas, Cidade da Copa, em Recife
onde acontecerão shows. A receita dará retor- • Recife quer construir a Cidade da Copa,
no aos investidores. uma nova infraestrutura esportiva e urba-
Estrutura da arquibancada do na para receber a competição. O estádio
estádio da Fonte Nova, em Vivaldão, de Manaus terá lugar para 45.500 mil pessoas, e, em-
Salvador, que cedeu, causando • Para a Copa de 2014, está prevista a demoli-
a morte de sete torcedores bora as obras ainda não tenham sido ini-
ção do Estádio Vivaldo Lima, o Vivaldão, e a
ciadas, a conclusão está revista para 2011.
construção de uma nova arena multiuso. A ca-
pacidade será de cerca de 48 mil assentos e terá • Para que o projeto seja iniciado, é neces-
11 mil vagas de estacionamento, no estádio e sário convencer os principais times da
imediações. região, Sport e Náutico , a passarem seus
• O projeto é orçado em cerca de R$ 580 mi- jogos no local, de forma a viabilizar o em-
lhões e as obras deverão ser concluídas até preendimento economicamente.
o primeiro semestre de 2013. • Em favor dessa alternativa há uma regra
• A expectativa é de que a obra se pague em gestação na CBF que, se for aprovada,
pelo aumento do turismo na região, que é obrigará a realização dos jogos do Brasilei-
o grande objetivo de Manaus com a Copa.
rão e da Copa do Brasil em estádios padrão
O mais provável é que o governo do estado
Fifa, após 2014.
aloque recursos públicos para o empreen-
dimento.
Fonte Nova, em Salvador
Estádio das Dunas, em Natal • O governo da Bahia pretende reformar o
• O Estádio das Dunas, planejado no mo- estádio da Fonte Nova com investimentos
Estádio da Arena da Baixada,
reformado, em imagem virtual delo de parceria público-privada, prevê in- públicos e privados. Com conclusão pre-
vestimento de R$ 300 milhões. Será con- vista para 2011, o estádio contaria com
cluído até o primeiro semestre de 2013. 44.100 lugares.
• Para não se tornar um “elefante branco”, • O problema da proposta é a sustentação
o principal desafio do estádio é obter sua
econômica do estádio após o fim da Copa,
sustentação econômica, que não pode de-
já que a receita não poderá depender apenas
pender apenas da receita de jogos de fute-
bol, mas sim de outras fontes de renda. do esporte em função do baixo valor dos in-
gressos. A arena deverá ser multiuso, com
Gigante da Beira-Rio, em Porto Ale- estrutura para receber outros eventos.
gre
• Conhecido como o Gigante da Beira-Rio,
o estádio José Pinheiro Borda, perten-
cente ao Sport Club Internacional, já está
passando por reforma. Sua adaptação aos
padrões da Fifa deverá custar cerca de R$
120 milhões.
• Foram iniciadas as obras da arquibancada e
da cobertura. O cálculo estrutural está em
estágio avançado. Hoje, o Beira Rio con-
Maquete eletrônica do estádio
ta com 56 mil lugares e a meta é passar a
Mané Garrincha, em Brasília oferecer 60 mil assentos, contando com a
Estádio Castelão, em Fortaleza, CE
ampliação da arquibancada inferior e novos

Novembro 2009 / 23
Jogos Olímpicos e Copa 2014

Medo do apagão
dos transportes

T
ransporte e acessibilidade são itens que se encontram no topo
da lista dos desafios e dos investimentos, tanto para a Copa
2014 quanto para os Jogos Olímpicos. É preciso garantir que
não haverá um colapso no trânsito das cidades, oferecendo
transporte seguro e confortável para a população e para os vi-
sitantes. Os Jogos Olímpicos de Atlanta (EUA), em 1996, por exemplo, foram
marcados por problemas no transporte, que deixaram milhares de torcedores
esperando nos pontos de ônibus, e atletas chegando atrasados para as compe-
tições.
No Brasil, esse é um nicho na qual a iniciativa privada poderá ter grande
participação, em parceria com o poder público. “Infelizmente, o Brasil não tem
uma infraestrutura para transportes organizada e capaz de suportar um cresci-
mento mais acelerado da economia. Por isso, se mostra cada vez mais necessá-
rio abrir o leque para a participação da iniciativa privada no setor, não somente
por necessidade, mas também pela convicção de que esta é uma alternativa
conveniente, com ganhos sociais e econômicos.” Quem afirma isso é Moacyr
Servilha Duarte, presidente da Associação Brasileira de Concessionárias de
Rodovias (ABCR).
Para ele, a legislação em vigor já permite soluções criativas na definição de
parcerias entre empresas privadas e o poder público. “É importante destacar
que o cenário positivo para a iniciativa privada foi construído a partir de mea-
dos da década de 1990. Mudanças significativas na condução da economia e a
estabilidade política registradas nestes período garantiram esses avanços. No
âmbito político, o respeito aos contratos firmados pelo poder público com a
iniciativa privada contribuiu para maior estabilidade do ambiente regulatório,
viabilizando o investimento privado em infraestrutura, que vem ganhando cada
vez mais força”, diz Servilha Duarte.
Com um sistema de metrô limitado (37 km) que não alcança a região da
Barra da Tijuca, onde se concentrará a maior parte das arenas esportivas para as
Olimpíadas, o Rio de Janeiro tem no transporte um possível gargalo. Para evitar
isso, as autoridades prometem tirar do papel projetos para o uso de ônibus em
corredores exclusivos como parte de um investimento total em transportes de
US$ 5 bilhões.
Os sistemas de BRTs, ou Bus Rapid Transit, que utilizam ônibus de alta
capacidade, capazes de atender a demandas muito próximas das indicadas para
sistemas de metrôs, quando bem operados, são as alternativas. As vantagens
sobre os metrôs estão, sobretudo, na rapidez da implantação e construção dos
projetos, e nos seus custos, já que a construção de um quilômetro de BRT
exige, em média, US$ 10 milhões em investimentos, contra US$ 100 milhões
por quilômetro construído de um sistema de metrô.
Para o arquiteto e urbanista Jaime Lerner, ex-prefeito de Curitiba e respon-
sável pela implantação do modelo de transporte da capital paranaense, copiado
em todo o mundo, os sistemas de ônibus de alta capacidade são a solução
para a mobilidade em pelo menos 40 cidades brasileiras com mais de 500 mil
habitantes. Lerner crê que os ônibus são mais flexíveis para atender demandas a
específicas, como é o caso da Copa do Mundo de 2014.
Veja na tabela as prioridades para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, na
área de transporte e acessibilidade, e os principais problemas das 12 cidades-

24 / Grandes Construções
-sedes dos jogos da Copa, na área de minante nos eixos norte e oeste, reforçam
transporte e mobilidade. a concentração e as deficiências na arti-
culação espacial da região metropolitana,
São Paulo abrindo diversas frentes para investimen-
• O sistema de transporte público conta tos em transporte coletivo.
com uma grande estrutura de linhas de • A acessibilidade ao estádio deverá ser ga-
ônibus com mais de 14 mil veículos, rantida por um sistema de transporte de
além de metrô e trens, conectados pelo massa, próximo e ligado aos principais
sistema de interligação EMTU. polos geradores de viagens da cidade. Nos
• A rede de trens e metrô ainda está longe de municípios maiores da RMBH, o sistema
atender adequadamente a população. Por deverá ser de alta capacidade, como o me-
isso, o governo implantou um ambicioso troviário ou de trens metropolitanos.
programa de expansão da rede existente, • O Plano de Mobilidade Urbana para a
e de modernização do sistema de trens Copa 2014, apresentado pelo Ministé-
urbanos, com o objetivo de constituir-se rio do Turismo, prevê para Belo Hori-
uma única malha de transportes integra- zonte apenas R$ 211,7 milhões para 5,5
dos que terá o padrão de qualidade de Moacyr Servilha Duarte, presidente da ABCR km de corredores de ônibus.
metrô. Sistemas de BRTs e Veículos Leves
sobre Trilhos (VLTs), ciclovias e ônibus como as obras do Arco Metropolitano, Curitiba
comuns complementariam a rede. com 145 km, que integra os eixos rodovi- • Curitiba planeja muitas melhorias para
ários; a Via Light, que interligará o subúr- seu sistema viário, que já é considerado
Rio de Janeiro bio do Rio com a região metropolitana de modelo. A cidade programa investimentos
• Para sediar a Copa 2014, o Rio de Janeiro Nova Iguaçu; os corredores expressos de na ordem de R$ 400 milhões para o Nú-
terá como maior desafio a melhoria da in- ônibus; e a expansão e modernização do cleo Urbano Central. Está prevista, ainda,
fraestrutura para acessibilidade às áreas de metrô. a construção de 53,6 km de vias para um
expansão urbana, como a Barra de Tijuca; corredor metropolitano de ônibus.
contar com transporte de alta capacidade Belo Horizonte • A prefeitura municipal planeja ainda a im-
e investir na qualidade do transporte. • Entre os desafios que Belo Horizonte deve plantação de um metrô elevado, que em
• As exigências da Fifa em relação aos siste- enfrentar está o transporte. O traçado do sua primeira fase ocuparia 13 km da BR-
mas de transportes coincidem com algu- metrô e a macroestrutura viária e de trans- 116 e atenderia a 183 mil pessoas/dia.
mas ações iniciadas pelo governo do Rio, portes da capital mineira, dispostos predo- • Veículos biarticulados expressos conec-

Sistema de trens de subúrbio do Rio de Janeiro, passa ao lado do Maracanã, mas precisa de mais trens para atender à demanda atual

Novembro 2009 / 25
Jogos Olímpicos e Copa 2014
RIO DE JANEIRO: AÇÕES PRIORITÁRIAS
AÇÃO OBJETIVO / DESCRIÇÃO tam terminais integrados em diferentes
SISTEMA FERROVIÁRIO regiões do município por trajetos des-
Melhoria operacional do sistema. Adequação às necessidades da Re- providos de paradas intermediárias e vias
PRÓ 21 gião Metropolitana e às exigências do COI. Aumento da freqüência e exclusivas que facilitam a circulação. A
Aquisição de novos trens oferta de lugares nos trens para atender à demanda da população e cidade também é dotada de ciclovias que
dos Jogos.
interligam seus parques e logradouros.
PRÓ 21 Reforma da Estação São Cristóvão, com previsão da integração trem –
Reforma da Estação São Cristóvão
metrô – ônibus. Readequação da Estação Maracanã, que passa a inte- Brasília
e construção da nova Estação grar trem e metrô e servir a todos os ramais ferroviários. Ambas servem • Nesse momento, o poder público estu-
Maracanã - Mangueira ao Estádio do Maracanã.
da a implantação de um sistema de BRT
PRÓ 21 Reformas das estações Deodoro, Vila Militar, Magalhães Bastos, Enge- ou VLT, que completará o atendimento
nho de Dentro e D. Pedro II, para possibilitar o acesso universal. Refor-
Reformas de estações ferroviárias
ma das estações ferroviárias Mercadão e Penha, para integração com o
à população feito pelo metrô, que con-
que atenderão as instalações
olímpicas BRT do Corredor T5. ta com 42,38 km de linhas em funcio-
SISTEMA METROVIÁRIO namento, 23 estações, uma frota de 20
Dotar as estações de equipamentos para atendimento a portadores de trens, e transporta uma média de  150
Acessibilidade às estações
deficiência; oferecer acessibilidade às estações. mil passageiros/dia.
Extensão de 2,5 km da Linha 2, interligando-a à Linha 1, criando uma • O governo do Distrito Federal planeja in-
Ligação Linhas 1 e 2 e construção nova possibilidade de traçado, sem transferência entre a Estação de centivar o transporte por bicicleta, e criou
Estação Cidade Nova Pavuna e General Osório. Eliminação do desconforto na integração das
duas linhas na Estação Estácio.
o maior programa cicloviário do país (Pe-
dala-DF), que terá 600 km até 2010.
Implantação da Linha 4 Possibilidade alternativa ao BRT Zona Sul – Barra.
SISTEMA RODOVIÁRIO Cuiabá
Atendimento de demanda elevada de transportes em eixo transversal • A capital mato-grossense tem um dos me-
Norte-Sul (Penha-Barra), integrando aos eixos radiais, minimizando a
lhores sistemas de transporte público de
necessidade de deslocamentos em direção ao centro da cidade e, por-
Implantação do Corredor T5 com
tanto, contribuindo para a redução de congestionamentos. Racionaliza- ônibus do país. Hoje, todo ponto de ôni-
BRT
ção do uso do Corredor T5, operando um sistema tronco-alimentador bus é um terminal de integração. O trans-
em via segregada do tráfego geral, reduzindo tempo de viagem e porte público é feito por ônibus coletivo e
integrando com o trem e o Metrô.
táxis, além de micro-ônibus e moto-táxi, já
Atendimento de demanda elevada de transportes no eixo Zona Sul-
Barra. Sistema tronco-alimentador a ser operado em via segregada,
regulamentados pela Câmara Municipal.
Implantação do BRT Zona Sul – do Terminal Alvorada (Barra) à Estação de Metrô General Osório Todos os ônibus são monitorados por sa-
Barra (Ipanema). Constituído por duas linhas troncais (paradora e expressa) télite por meio de GPS, além de 89% dos
alimentadas por sistema de ônibus. Possibilidade de “up-grade” para a veículos possuírem ar-condicionado e cer-
Linha 4 do Metrô.
ca de 67%, rampa elevatória para cadeiran-
Incremento da acessibilidade da população de Realengo, Magalhães
Bastos, Deodoro, Boiúna, Guerenguê, e Curicica à Baixada de Jacarepa- tes e deficientes físicos.
guá, Av. Brasil e Linha Amarela. O projeto prevê sistema tronco-alimen- • O maior projeto a ser desenvolvido na ci-
tador, em via segregada, de Deodoro à Barra da Tijuca, integrando-se dade para o transporte público é a constru-
Implantação da Ligação C com
ao trem na região de Deodoro. A elevada demanda será atendida por
BRT
duas linhas troncais (paradora e expressa), a serem operadas por ôni-
ção do VLT de Cuiabá e Várzea Grande,
bus articulados, definido a partir da racionalização do atual sistema de inteiramente elevado. Há também a inten-
ônibus. Vias para tráfego particular com caráter expresso, com possibili- ção de se criar linhas executivas intermu-
dade de cobrança de pedágio nicipais para os 10 municípios da futura
Racionalização do uso do corredor Av. Brasil, Av. Francisco Bicalho, Av. Região Metropolitana de Cuiabá.
Pres. Vargas e Av. Rio Branco, reduzindo número de ônibus, emissão
Implantação do BRT do Corredor de poluentes e tempo de viagem. Pelo projeto, as viagens intermu-
da Av. Brasil nicipais são interrompidas no Trevo das Margaridas e os passageiros
Fortaleza
com destino ao centro da cidade, transferidos para veículos expressos • Fortaleza tem sistema interligado de trans-
articulados. porte coletivo, com sete terminais integra-
SISTEMA VIÁRIO dos de ônibus urbano, dois terminais não
Maior fluidez de tráfego no corredor Radial Oeste - Av. 24 de Maio integrados e duas estações rodoviárias.
(entre Maracanã e Engenhão), facilitando o deslocamento entre a Área
Desobstrução e alargamento do Para receber a Copa, o governo do Ceará
Central e a Zona Norte da Cidade, reduzindo tempo de viagem e po-
Corredor Maracanã – Engenhão pretende ampliar a rede viária estruturante
luição do ar. O projeto compreende a duplicação da Av. 24 de Maio e a
retirada da ocupação irregular sobre a Av. Radial Oeste. da região metropolitana da capital, benefi-
Aumento da capacidade da via, melhorando a fluidez dos veículos ciando 13 municípios.
que se deslocam entre Linha Amarela/ Jacarepaguá/ Deodoro e Barra/ • A estimativa de investimentos para 2009 é
Duplicação da Av. Salvador Allende Recreio. O projeto inclui a implantação de duas pistas centrais com três
faixas e duas pistas laterais com duas faixas. E, ainda, ciclovia ao longo de R$ 128 milhões em obras e R$ 45 mi-
do trecho, conectada às ciclovias existentes na redondeza. lhões em desapropriações.
Aumento da capacidade das vias, melhorando a fluidez dos veículos
Duplicação do trecho final da Av.
que se deslocam entre a Baixada de Jacarepaguá e as Zona Norte, Manaus
Abelardo Bueno e da Av. Ayrton
Senna
Suburbana e Oeste da Cidade, através da Linha Amarela, Corredor T5 • A Copa é vista como oportunidade para
e Ligação C. viabilizar os estudos e projetos para a rápi-

26 / Grandes Construções
da implantação de sistemas de transpor- e pela av. Castelo Branco. As opções de rios de pico. Somado a isso está a situação
tes coletivos de média capacidade, como transporte público são as 330 linhas ur- precária do sistema coletivo.
BRT ou VLT. A cidade tem 1.252 ônibus banas e as 1.882 linhas intermunicipais, • Para atender ao fluxo de pessoas em dire-
e está elaborando um programa de rees- além do sistema de trens metropolita- ção ao estádio, o Governo da Bahia pre-
truturação operacional, para melhorar o nos, cuja ampliação deve custar em tor- vê um plano de investimentos da ordem
atendimento à população. no de R$ 3,7 milhões. de R$ 1,3 bilhão. A linha 1 do metrô, já
• O planejamento da mobilidade urbana existente, será ampliada e deverá atingir
Natal
da região tem estratégias de implantação a capacidade de 250 mil passageiros/dia,
• No quesito mobilidade urbana, Natal so-
da Rede Estrutural Multimodal, com com intervalos de três minutos entre os
fre algumas limitações, com um sistema
de trem urbano de qualidade insatisfató- horizontes temporais para os anos de trens. A linha 2 do metrô vai interligar o
ria, com 38 km de extensão, 11 estações 2013, 2023 e 2033. A cidade planeja ain- aeroporto, o polo hoteleiro e o centro da
e capacidade para transportar 4 mil pas- da um metrô com extensão de 37,4 km cidade, e, quando finalizada, deve aliviar
sageiros/ dia. e capacidade para 80 mil passageiros por o tráfego das rodovias BA-093 e BR-324.
• O sistema de transporte coletivo por ôni- hora. Entretanto, apenas a primeira fase • Também está prevista a reestruturação
bus tornou-se obsoleto e não atende às do projeto (com 13,2 km de extensão) da rede atual de percursos do Sistema de
necessidades atuais. Encontra-se em es- deverá ser executada para a Copa. Transporte Público de Salvador e a realoca-
tudo uma licitação para a reestruturação ção de estacionamento públicos e privados.
Salvador
completa do sistema.
• A principal carência na infraestrutura Recife
Porto Alegre urbana está na mobilidade. O sistema vi- • A capital pernambucana tem uma frota
• A região metropolitana de Porto Alegre ário estrutural promoveu a ocupação de de aproximadamente 4.600 ônibus, que
abrange mais de 30 municípios, que se áreas adjacentes, o que acaba levando os serve diariamente a 1,7 milhão de pessoas,
ligam à capital pelas rodovias BR-116 e veículos para as vias principais, gerando além do metrô do Recife (Metrorec), que
BR-290 (conhecida como a Freeway), enormes congestionamentos nos horá- transporta 180 mil passageiros por dia.

Novembro 2009 / 27
Construção imobiliária

Déficit
habitacional
é desafio para governantes e
para Engenharia brasileira

O s números variam de acordo com o órgão responsável pela pesquisa e com a metodologia
empregada. Mas são dramáticos, qualquer que seja a estatística considerada. De acordo
com o Ministério das Cidades (MCidades), com base na Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios (PNAD/IBGE) de 2007, o déficit habitacional brasileiro é de 6,273 milhões de domi-
cílios, o que significa dizer que aproximadamente 25 milhões de pessoas - considerando uma média de
quatro pessoas por núcleo familiar - vivem hoje em condições de extrema pobreza, sem um teto ou em
moradias inadequadas, em locais de risco, sem saneamento básico, energia elétrica ou água encanada.
A pesquisa, realizada em parceria com a Fundação João Pinheiro (FJP), órgão oficial de estatística
de Minas Gerais, vinculado à Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão, constatou que a falta de
moradias aflige principalmente as famílias que recebem até três salários mínimos. Mais de 90% dos
núcleos familiares que demandam moradia fazem parte desse grupo, um padrão se repete em todas as
regiões do País.
Com a proposta de diminuir esse déficit, o governo federal lançou, em março deste ano, o Plano Nacio-
nal de Habitação, batizado politicamente de “Minha casa, minha vida”. O programa conta com recursos da
ordem de R$ 34 bilhões e tem como principal meta a construção de 1 milhão de novas moradias até 2010.
Para as famílias que recebem até três salários mínimos por mês, está prevista a construção de 400
mil unidades. Para aquelas cuja renda é de três a quatro salários mínimos, serão construídas 200 mil
moradias e, para as que ganham entre quatro e cinco salários mínimos, 100 mil habitações. O mesmo
número está previsto para as que recebem de cinco a seis salários mínimos. Já para as famílias com ren-
da entre seis e dez salários mínimos, o objetivo é construir 200 mil unidades. A Região Sudeste deverá
ser a mais beneficiada, com a construção de 36,4% das unidades. Em seguida, vêm o Nordeste (34,3%),
Sul (12%), Norte (10,3%) e Centro-Oeste (7%).
Para Roberto Kauffmann, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Rio de

28 / Grandes Construções
setembro, no 81º Encontro Nacional

Crédito: Manoel Virgílio/PMSC


Arquivo Ministério das Cidades
da Indústria da Construção, promo-
vido pela Câmara Brasileira da In-
dústria da Construção (CBIC), no
Rio de Janeiro, Kauffmann defendeu
a destinação de 2% do orçamento fe-
deral e 1% dos respectivos orçamen-
tos regionais (estados e municípios)
para subsidiar e financiar o programa.
O líder empresarial revelou que estão
Primeiras casas construídas em São Carlos, pela
sendo colhidas 1 milhão de assinatu- Rodobens
ras para sensibilizar os parlamentares
e aprovar, ainda este ano, o Projeto de
Emenda Constitucional. “Assim, em construtora deve entregar 300 casas
um prazo de até 15 anos, será redu- até agosto. Serão moradias térreas
zido drasticamente o nosso enorme de dois dormitórios ou sobrados de
déficit habitacional, através de cons- três quartos. Na segunda etapa, mais
truções formais feitas por empresas 400 unidades devem ser finalizadas
construtoras de todos os portes (pe- até dezembro, entre prédios e novas
quenas, médias e grandes).” casas.
Também inspirada no modelo me-
Tecnologia trazida do México xicano, a construtora Rodobens está
O programa “Minha Casa, Minha utilizando moldes preenchidos com
Vida” despertou o interesse de uma concreto para a construção de 1.198
das maiores construtoras de habita- casas com áreas entre 41m2 e 51 m²,
ções populares do México, a Homex, em São Carlos, município a 230 km
que vai erguer cerca de 700 unidades de São Paulo (SP).
residenciais em São José dos Cam- As formas são construídos com
pos, no interior de São Paulo, até o espaços para janelas, portas, fiação,
final deste ano. Este é o primeiro in- encanamento e demais estruturas da
vestimento da empresa no Brasil, que casa. Eduardo Baccarin, engenheiro
vai construir imóveis para famílias civil da Rodobens responsável pela
com renda mensal entre seis e dez obra, explica que em seguida é apli-
salários mínimos. As habitações cus- cado um concreto especial, desenvol-
tarão a partir de R$ 80 mil e poderão vido de acordo com as especificações
Palafitas da favela do ser financiados pela Caixa Econômica técnicas brasileiras. A massa recebe
Coelho, em Recife (PE)
Federal. aditivos químicos e outros produtos
O déficit habitacional do México é para manter a temperatura da casa e
de 6,5 milhões de casas, mas somen- garantir a secagem mais rápida. “O
Janeiro (Sinduscon-Rio), o “Mi- te no ano passado foram construídas conforto térmico é três vezes maior
nha casa, minha vida” é o primeiro 680 mil moradias contra 120 mil no do que as tradicionais casas de alve-
programa de política nacional de Brasil. A meta dos mexicanos é ain- naria”, afirma o engenheiro.
habitação realmente de interesse da mais ambiciosa do que a brasilei- “As paredes são de três a quatro ve-
social, realizado no Brasil. “E para ra: construir 1 milhão de casas/ano, zes mais resistentes do que uma mo-
que ele tenha longa duração, o se- utilizando método construtivo que radia de tijolo comum”, ressalta Bac-
tor da Construção e os movimentos oferece redução de custos, rapidez de carin. A estrutura da cobertura recebe
sociais deverão apoiar um Proje- execução e casas resistentes. Os me- ainda aço galvanizado no lugar da ma-
to de Emenda Constitucional que xicanos querem acabar com o proble- deira, garantindo maior durabilidade.
está em tramitação no Congresso, ma nos próximos cinco anos. Baccarin explica ainda que todo o
que prevê a destinação de recursos O método de construção consiste processo foi homologado pela Cai-
permanentes para a Habitação de em erguer paredes de concreto utili- xa Econômica Federal, financiadora
Interesse Social, a exemplo do que zando formas metálicas. A construto- das moradias. A empresa já cons-
acontece com a Educação e a Saú- ra já fechou parceria com a Engemix truiu 220 casas e começa outras 220
de”, declarou. e a Votoraço para viabilizar o projeto. para outros programas financiados
Em discurso proferido no dia 1 de Na primeira fase de investimento, a pela Caixa.

Novembro 2009 / 29
Energia

Pré-Sal
6.900 caracteres

desafia a
indústria mundial
“N ossa demanda está levando a capacidade da indústria mundial ao seu limite.
Nosso plano de investimentos – que é o maior do mundo – é um programa es-
tratégico e fundamental, que viabiliza o crescimento da Petrobras, da cadeia de
fornecedores e do Brasil. E isso, no futuro, será ainda maior.” A declaração, feita pelo presidente
da Petrobras, José Sergio Gabrielli, em palestra realizada no Clube Militar, no Rio de Janeiro, no
final de outubro, dá a exata dimensão do impacto que a expansão da capacidade de produção
da empresa causará junto a toda a cadeia de suprimento para a produção de petróleo e gás, nos
próximos anos, não só no Brasil, mas em escala internacional.
A afirmação do presidente da Petrobras se respalda no programa de investimentos da estatal,
que prevê, segundo sua assessoria de imprensa, a aplicação de recursos da ordem de US$ 174,4
bilhões, nos próximos cinco anos. Só para cobrir as despesas com fornecedores nacionais estão
sendo investidos US$ 100,9 bilhões, o que equivale a uma média anual de US$ 20 bilhões. Para
atividades de Exploração e Produção, serão destinados US$ 92 bilhões entre 2009 e 2013, sendo
US$ 28,9 bilhões para desenvolvimento do Pré-Sal – região que receberá, até 2020, investimen-
tos de US$ 111,4 bilhões.
O plano de negócios da empresa prevê a construção de cinco novas refinarias nos próximos
11 anos, praticamente dobrando a atual capacidade de refino no Brasil. São elas a refinaria
Abreu e Lima (Pernambuco), Clara Camarão (Rio Grande do Norte), Premium I (Maranhão)
e Premium II (Ceará), e o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), que juntas
exigirão um volume de recursos de aproximadamente US$ 47,8 bilhões.
As refinarias Premium I e II terão capacidade para produzir 600 mil e 300 mil barris/dia, respec-
tivamente. A Abreu e Lima, que está sendo construída em parceira com a estatal venezuelana PDV-
SA, adicionará 200 mil barris diários à capacidade de refino da Petrobras. A Clara Camarão, por sua

30 / Grandes Construções
Banco de Imagens: Agência Petrobras
vez, contribuirá com 30 mil barris/dia, estatal. Para superar essas limita- enfrentar os desafios de produção
enquanto o Comperj terá capacidade ções, a Petrobras poderá recorrer a dos próximos anos.
para refinar 150 mil barris/dia. algumas vantagens competitivas já
Está prevista ainda a contratação identificadas, com o objetivo de fo- Recursos humanos
de 156 embarcações (navios-sondas e mentar o desenvolvimento da cadeia O presidente da Petrobras desta-
plataformas), no período entre 2009 de suprimentos. Graças à sua capaci- cou ainda a necessidade de investi-
e 2013, além da compra de 28 sondas dade de alavancagem e ao volume de mentos em recursos humanos. “É
novas, sete das quais tiveram seus edi- compras envolvido, a empresa pode- possível que, no futuro, tenhamos
tais para compra publicados no dia 16 rá, por exemplo, firmar contratos de algumas limitações de mão de obra,
de outubro. Outras 19 sondas serão longo prazo com os fornecedores, o porque o volume de demanda por
fretadas, desde que sejam construídas que se traduz em garantia para capta- técnicos especializados vai crescer.
no Brasil. ção de investimentos. É necessário investir em treinamen-
O programa, no entanto, tem um Poderá, ainda, antecipar contratos, to, em novas indústrias e densificar a
grande desafio a ser superado: a ca- dar suporte a fornecedores estraté- cadeia produtiva, para que o pré-sal
pacidade instalada da indústria de gicos, captar recursos e atrair novos possa se desenvolver com a rapidez
bens e serviços, insuficiente para parceiros. Tudo isso alicerçado num adequada”, afirmou Gabrielli. Ele
atender às demandas previstas pela programa agressivo de licitações para ressaltou o papel do Programa de

Novembro 2009 / 31
Energia

Construção de plataformas no estaleiro


São Roque do Paraguaçu, na Bahia

Mobilização da Indústria Nacional de setor que mais cresce, com projetos de


Divulgação

Petróleo e Gás Natural (Prominp l). De longo prazo e expectativas criadas prin-
acordo com estimativas da Petrobras, cipalmente a partir da descoberta das re-
pelo menos 247 mil pessoas terão que servas na linha do pré-sal. Para o presi-
ser treinadas até 2013, para atender ao dente da Abemi, o profissional brasileiro
programa de crescimento da empresa. tem boa formação e flexibilidade, o que
Carlos Maurício de Paula Barros, é fundamental em um mercado onde
presidente da Associação Brasileira de operam empresas multinacionais. Mas
Engenharia Industrial (Abemi), reco- ainda temos grande carência de pessoas
nhece que a carência por profissionais com experiência profissional elevada.
qualificados neste setor, principalmente “A formação técnica ainda está cen-
para cargos de alto escalão e média ge- tralizada na Petrobras. Por isso, a atu-
rência, já está sendo sentida no Brasil, ação de contratações, principalmente
tanto para atividades conhecidas como para média e alta gerência, se estende a
upstream (exploração, perfuração e pro- profissionais brasileiros que vivem em
dução) quanto para downstream (trans- outros países e também a executivos de
porte, distribuição e comercialização), outras nacionalidades. Acredito que o
equipamentos e construção. número de brasileiros preparados para
“Trata-se de uma área muito aquecida as funções demandadas pelo setor só
nas várias regiões produtoras do mundo, tende a crescer. Essa é uma tendência
e agora ainda mais no Brasil”, afirma. mundial. Vinte anos atrás, o mercado
Ele lembra que a indústria de petró- internacional era dominado por enge-
leo e gás, no Brasil, passou ao largo da nheiros britânicos e americanos. Hoje a
crise e das oscilações de preço no mer- aposta das empresas é na força de traba- Carlos Maurício de Paula Barros,
cado internacional, e continua sendo o lho local”, garante. presidente da Abemi

32 / Grandes Construções
Fotos: Banco de Imagem Agência Petrobras

Navio-plataforma, FPSO São Vicente, operando nos


testes de longa duração, no Campo de Tupi

“Trata-se de uma área muito aquecida


nas várias regiões produtoras do mun-
do, e agora ainda mais no Brasil.”

De acordo com pesquisa realizada dades interpessoais são necessárias”,


pela Abemi, até 2012, 130 mil pesso- aconselha dirigente.
as serão capacitadas na área, das quais
90% somente no Estado do Rio de Ja- Desenvolvimento
neiro. “Ainda assim, mesmo com uma tecnológico
ampla oferta de profissionais em cada Outro grande desafio a ser trans-
um dos mercados domésticos, é preciso posto, para a consolidação do plano
ter em mente que é da própria natureza de negócios da Petrobras, é o de-
do negócio intercambiar pessoal quali- senvolvimento tecnológico. Sergio
ficado nas diversas regiões do mundo. Gabrielli destaca a importância do
Nenhum país é capaz de atender a todas investimento em tecnologia: “É fun-
as suas necessidades apenas com talen- damental que nossa área trabalhe na
tos domésticos e, nesse setor, é funda- fronteira tecnológica. Nesta frontei-
mental a disponibilidade para trabalhar ra mundial, trabalhamos com o nos-
em operações internacionais. Para isso so Centro de Pesquisas, mas criamos
o domínio do idioma Inglês e habili- 38 redes temáticas envolvendo mais

Novembro 2009 / 33
Energia

70 instituições de pesquisa no Bra- Sergio Gabrielli, presidente da Petrobras


sil inteiro, com cerca de 422 convê-
nios para pesquisas. Mais do que dar
condições para os pesquisadores,
estamos montando laboratórios de
primeiro mundo nas universidades”.
Ele voltou a fazer uma veemente
defesa da adoção da política de con-
teúdo nacional aplicada pela estatal e
afirmou que a companhia apenas ga-
rante empregos no Brasil em setores
da indústria que terão uma "curva de
aprendizado" até atingir padrões inter-
nacionais de competitividade.

Testes prosseguem em Tupi

A Petrobras retomou, no dia 5 de setem- Vicente, de extração, armazenamento e instalação de uma plataforma permanente,
bro, a produção de petróleo e gás natural transporte de petróleo, fabricado na Cinga- o que deve ocorrer entre 2011 e 2012.
do Teste de Longa Duração (TLD) da área pura, que tem capacidade de produção de Nos últimos dois anos, foram perfurados
de Tupi, no pré-sal da Bacia de Santos. O até 40 mil barris/dia. A expectativa da Pe- dez poços exploratórios na província petro-
poço 3-RJS-646 foi fechado no início de trobras é de que o teste dê a dimensão exa- lífera. Todos indicaram a presença de petró-
julho de 2009 para a troca da Árvore de ta do tamanho da reserva, calculada entre leo e gás. Outros nove poços ainda serão
Natal Molhada (equipamento submarino 5 e 8 bilhões de barris, permitindo conhecer perfurados no pré-sal da Bacia de Santos
de controle de fluxo de poços) e voltou a melhor o mecanismo natural de produção ainda este ano.
produzir normalmente. A substituição do da jazida e outras informações sobre a ati- Apenas Tupi tem metade das reservas
equipamento foi realizada com sucesso no vidade de exploração no pré-sal, que vão comprovadas do País, que são de 13,920 bi-
prazo de dois meses, inferior ao previsto subsidiar os projetos definitivos da área. lhões de barris de petróleo e gás, levando
inicialmente de até quatro meses, e aten- Em princípio, o óleo de Tupi apresenta em conta critérios adotados pela Agência
deu à rigorosa política de Segurança, Meio características semelhantes ao árabe, de Nacional do Petróleo (ANP).
Ambiente e Saúde da Companhia. tipo leve, de melhor qualidade e preço. É Para os especialistas da Petrobrás, a
Com a retomada do TLD, a Petrobras preciso saber se esse padrão permanece maior dificuldade a ser enfrentada no pré-
continuará a coleta de dados importantes nesta etapa. Também é necessário conhecer sal não será o tecnológico, mas o logístico.
para conhecer o comportamento de longo qual o comportamento do reservatório du- O campo de Tupi fica a uma distância de até
prazo dos reservatórios em produção, a mo- rante o processo de extração, uma vez que 300 km da costa. Nenhum helicóptero hoje
vimentação e drenagem de fluidos durante a camada de sal apresenta instabilidades apresenta autonomia para percorrer a dis-
a produção e o escoamento submarino, que podem dificultar os trabalhos. tância do litoral até o campo.
que serão fundamentais para a elaboração Na fase seguinte dos testes, a Petrobras Para se ter idéia da dificuldade, as ati-
do plano de desenvolvimento do pré-sal da instalará uma plataforma-piloto, com ca- vidades da Bacia de Campos demandam
Bacia de Santos. pacidade para 100 mil barris/dia. Essa uni- o transporte diário por helicóptero de até
A área de Tupi é operada pela Petrobras dade deverá entrar em operação no final 50 mil trabalhadores. Por volta de 2015,
(65%) em parceria com BG Group (25%) e de 2009 ou início de 2010 e deve operar quando a Petrobras pretende produzir
Galp Energia (10%). No local encontra-se durante dois anos. Só depois dessa etapa é 500 mil barris/dia em Tupi, o fluxo de fun-
em operação o navio-plataforma FPSO São que a Petrobras começará o trabalho para cionários será semelhante.

Canteiro de obras do Complexo Petroquímico


do Rio de Janeiro (Comperj)

34 / Grandes Construções

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