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Inovar na comunicação e
sociedade da informação
Nos últimos dois anos tem vindo a intensificar-se em nos media. Quando a SIC apareceu no
Portugal o debate em torno da inovação. O motivo é óbvio: mercado, em 1992, foi inovadora e rapi-
temos que alterar o nosso modelo de desenvolvimento pa- damente se tornou num estudo de caso a
ra melhorar as condições económicas e sociais do País. nível europeu porque nunca nenhum
Necessitamos de inovação como de pão para a boca. canal privado europeu tinha rivalizado
Contúdo, a inovação não acontece unicamente quando se tão rapidamente com um canal público.
introduz uma nova tecnologia. Convém, antes de mais, Mais recentemente, a reestruturação da
desfazer alguns preconceitos: i) inovação está só relaciona- RTP também tem vindo a constituir um
do com tecnologia; ii) inovar é só para pessoas da área de digno exemplo de inovação: com menos
investigação e desenvolvimento; iii) a inovação não pode custos, obteve mais audiências. | Paulo Faustino * |
ser gerida. Por outro lado, as inovações não necessitam de O aumento da concorrência no sector da
ser técnicas; poucas inovações técnicas podem concorrer, comunicação obrigou as televisões públicas a reestruturarem
em termos de impacto, com as inovações sociais, como, a sua organização interna, a sua política de programação e de
por exemplo, a criação de um jornal, uma revista ou uma investimento. Durante muitos anos faltou um modelo inova-
televisão. A inovação é, portanto, um termo mais económi- dor de gestão do serviço público de televisão em Portugal.
co ou social, do que técnico. Numa conjuntura em que as organizações se vêem confron-
O sector da comunicação está a mudar de uma forma verti- tadas com restrições financeiras, com a emergência de novos
ginosa. A origem das mudanças é múltipla, destacando-se problemas sociais e com novas necessidades dos particulares e
transformações nos gostos dos clientes, no aumento da das empresas, o sector público terá forçosamente de melhorar
concorrência e no aparecimento das novas tecnologias de o seu desempenho e inovar nos processos. O caso da RTP é
informação e comunicação (TIC). As TIC estão a transfor- um bom exemplo do que se pode fazer na administração pú-
mar todas as esferas das organizações, os processos produ- blica em Portugal. Está à vista de todos que o país não pode
tivos, a comercialização dos produtos, novas formas de continuar a suportar mais ineficiências no sector público, sob
concorrência, aumento do nível de exigência dos clientes, pena de nos tornarmos a Albânia da Europa.
etc. A matéria prima e o produto final destas empresas é a É importartante para o desenvolvimento económico e social
informação, e é precisamente o tratamento da informação do país termos uma indústria de comunicação pública e pri-
que está a sofrer maiores transformações. A renovação e vada inovadora e competitiva.. A inovação e mudança decorre
convergência tecnológica para o digital, as mudanças nos também da capacidade de antecipação das tendências e neces-
gostos e hábitos dos consumidores, o aparecimento de no- sidades dos consumidores. Nesta edição, Denis McQuail,
vos suportes, novos concorrentes e novos processos estraté- aponta algumas das tendências e desafios que se colocam ao
gicos de alianças e fusões entre empresas, são algumas das sector. De entre outros artigos de grande intetesse no contex-
principais mudanças observadas. to, apresentamos nesta edição, por um lado, uma síntese do
Na indústria da comunicação, o tema da inovação também é que fizeram alguns dos principais candidatos a presidente da
recorrente. Os media hoje em dia estão confrontados com república – enquanto governantes e deputados – e, por outro,
pressões de mercado que não se verificavam até há pouco o que pretendem fazer no futuro na área da comunicação e
tempo. Neste contexto, o que os media hoje necessitam é de sociedade da informação. A convergência entre a Presidência
aumentar as suas vendas e as quotas de mercado sem cresci- da República e o Governo, em matéria de políticas para a área
mento dos custos. Necessitam de aumentar as receitas de pu- da comunicação e sociedade da informação, pode ser, por si
blicidade e reduzir os custos de produção e distribuição. A in- só, também um elemento inovador na sociedade portuguesa.
dústria da comunicação necessita também de desenvolver
produtos novos com sucesso, inovar em tecnologia e gestão.
Em Portugal, temos tido alguns bons exmplos de inovação * Director
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| Sociedade Bit |
Palavroterapia?
Das letras miudinhas onde se podia ler que o governo ad- adequado à saúde?
verte que o uso do tabaco faz mal à saúde (e cujas palavras Por outro lado, já muita gente
tantas vezes eram lidas ao contrário...) até às letras garrafais identifica o significado de TNC.
dizendo aquilo que todos sabemos – FUMAR MATA, entre Tu Não Comeces, slogan duma
outras frases – os maços de tabaco continuam iguais e as campanha de prevenção taba- | Reginaldo R. de Almeida* |
vendas até aumentaram. Ou seja, a violência da forma co- gista. Ora, se tivermos em
municativa não produz efeitos registando-se até substancial conta que os problemas de saúde pública se tratam no pro-
crescimento do vício especialmente entre as mulheres. cesso de prevenção e não em adiantadas fases de cresci-
Ouve-se falar da futura inclusão de fotos de doentes termi- mento do problema, facilmente se conclui que andamos
nais com cancro no pulmão como forma de incutir o hábi- atrasados, para não dizer às avessas. A prevenção implica
to de deixar de fumar.Vamos esperar pelos resultados... um marketing lateral e social em saúde onde a promoção
A comunicação institucional e publicitária em áreas ligadas de comportamentos saudáveis ocupa um lugar de destaque
à saúde nunca foi de grandes efeitos visuais e sempre se com a ajuda empenhada da intervenção e do recurso a
pautou por uma discrição contida e pouco ou nada apelati- meios de comunicação de massas, tal como um qualquer
va. Com as devidas excepções a algumas campanhas sobre a produto que se quer vender, mas com a diferença que este
sida, mas totalmente desastrosa em matéria de prevenção é de compra obrigatória, de uso forçoso, de aquisição in-
rodoviária, por exemplo. Porém, na perspectiva da infor- dispensável! Ou, pelo menos, assim devia ser...
mação, vejamos um exemplo banal com o qual nos con- Quem entre nos centros médicos e se dê ao trabalho de ler
frontamos todos assiduamente, a leitura duma bula dum os cartazes que propalam informação sobre as mais varia-
qualquer medicamento: das doenças e comportamentos a respeitar naqueles locais,
Dado que a fluoxetina tem o potencial de inibir o isoenzi- verifica uma falta de sincronia entre a mensagem que se
ma citocrómio P450IID6, a terapêutica com medicamentos quer passar e a leitura que dele fazem... quando fazem,
que são predominantemente metabolizados pelo sistema pois a letra miúda ou o excesso de informação no mesmo
P450IID6, e que possuem uma pequena janela for terapêu- cartaz dificulta a percepção dos utentes. A seguir entramos
tica, deverá ser iniciada na dose mais baixa do intervalo te- no consultório e, desde a (famosa) letra de médico, que
rapêutico, se o doente estiver a tomar fluoxetina concomi- pode até ser vista como um símbolo do insucesso da co-
tantemente ou se a tiver tomado 5 semanas antes. Se a municação, em forma de marca representativa da classe, até
fluoxetina adicionada ao regime terapêutico de um doente à forma como os profissionais de saúde tantas vezes falam
que esteja a tomar um desses fármacos, deve considerar-se com o utente, parecendo preferir o salicilato de sódio à as-
a necessidade de diminuir a dose da medicação original”. pirina, quase tudo devia ser revisto. Campanhas como a da
Se por um lado se compreende a necessidade de contemplar recolha de medicamentos fora de prazo ou de radiografias
os medicamentos com a respectiva bula e se aceita que é di- antigas têm que ter plataformas de visibilidade maiores e
fícil ou impossível descrever as acções e interacções dos quí- em consonância com as actuais formas de comunicação.
micos de forma clara e compreensível, por outro lado, Fruto da dinâmica das TIC o resultado da actividade cientí-
questionamos a eficácia e eficiência do processo comunica- fica está cada vez mais perto do cidadão anónimo que en-
tivo do parágrafo anterior. Se aquela informação viesse em contra, em fóruns e blogues por exemplo, identificação
código de barras, a leitura seria pouco diferente... Contudo, com desconhecidos com iguais problemas. O grande ob-
uma das formas mais universais e eficazes de informação e jectivo é a procura duma visão conjunta, de comunidade,
comunicação encontra-se nos panfletos que estão nas cadei- que propicie um projecto amplo no campo da saúde públi-
ras dos aviões, fazendo fé da conhecida expressão: uma ca. Tendo em conta que a pobreza é a pior das doenças, a
imagem vale mais que mil palavras.Tendo em conta a multi- Comunicação tem que ser uma terapêutica preventiva.
plicidade de línguas faladas (e até alfabetos) pelos diferentes
utilizadores dos aviões, são já universais as imagens explica-
tivas dos mais distintos procedimentos a ter em conta quan- * Professor Universitário
do se viaja de avião. Porque não utilizar um sistema similar, sociedadebit@sociedadebit.com
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Novas tendências
A comunicação de saúde promete animar-se nos próximos meses, à medida
que os agentes do sector se posicionam para enfrentar a concorrência próxima
| Por Marisa Torres da Silva e Vanda Ferreira |
Em Março de 2005, jornalistas, cientis- que falam sobre saúde, mas também tica, uma vez que a quase totalidade dos
tas, investigadores em jornalismo e pro- não poupou críticas aos próprios médi- anunciantes deste tipo de publicações é
fissionais de saúde reuniram-se para fa- cos, ao utilizarem uma linguagem de- proveniente das farmacêuticas.
lar sobre o papel mediador do masiado estereotipada e técnica e comu- Todo este debate em torno da comuni-
jornalismo no campo da saúde. Na nicarem mal com os jornalistas. cação de saúde permanece actual e pro-
Universidade Fernando Pessoa, os cerca Tanto José Antunes, então director do mete dar que falar ainda mais nos pró-
de 300 inscritos no II Congresso Luso- jornal “Tempo Medicina”, como Rafael ximos tempos. Colocam-se novos
-Brasileiro de Estudos Jornalísticos e IV Reis, editor do “Notícias Médicas”, aler- desafios e levantam-se novas questões
Congresso Luso-Brasileiro de Estudos taram para uma das maiores limitações em torno de uma área em pleno cresci-
Jornalísticos, subordinado ao tema da imprensa médica, ou seja, a depen- mento como é a saúde.
“Jornalismo, Ciências e Saúde”, debate- dência em relação à indústria farmacêu-
ram a relação entre jornalismo, medicina
e saúde, as oportunidades e os desafios da
comunicação social médica, bem como as
relações entre a indústria farmacêutica, a
informação e o jornalismo.
Dada a amplitude e complexidade da te-
mática, as intervenções dos congressistas
foram muito diversas. Pedro Alcântara
Silva, do Instituto de Ciências Sociais da
Universidade de Lisboa, reflectiu sobre a
cobertura da saúde por parte da comu-
nicação social, enquanto Nelson Traquina,
professor catedrático da Universidade
Nova de Lisboa, constatou, através de um
estudo feito em vários jornais, num perí-
odo temporal de vinte anos, que as notí-
cias sobre a Sida são determinadas pelas
fontes oficiais, à medida que a problemá-
tica se torna universal.
Já Helena Mendonça, do Instituto
Superior de Ciências do Trabalho e da
Empresa, sublinhou que a maior parte
dos estudos sociológicos que analisam a
relação entre os media e a ciência não
são desenvolvidos no interior da relação
entre o cientista e o jornalista, incidindo
apenas no modo como os media co-
Casa da Imagem
brem os riscos.
Miguel Leão, representante da Ordem
dos Médicos, criticou, por outro lado, a
falta de especialização dos jornalistas
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Comunicar saúde
Do jornalismo especializado, às campanhas de comunicação públicas, passando
pela publicidade de instituições privadas, a Media XXI foi conhecer as estratégias
e as práticas da comunicação de saúde | Por Marisa Torres da Silva e Vanda Ferreira |
Em Portugal, actualmente, existem vá- Segundo o Bareme Imprensa, da
rios meios de comunicação centrados Marktest, do trimestre Abril/Junho
em questões de saúde. No caso da im- de 2005, o leitor-tipo das publica-
prensa escrita, os jornais e as revistas são ções que tratam questões relaciona-
vários e têm periodicidades diferentes, das com a saúde e a educação é do
como por exemplo, “Tempo Medicina” sexo feminino (52,3 por cento), tem
(bi-semanal), “Saber Viver”, mais de 64 anos (19,6 por cento),
“Anamnesis”, “Sinais Vitais”, “Medicina pertence a uma classe social
e Saúde” e “Teste Saúde” (mensais), en- média/baixa (31 por cento) e à re-
tre muitos outros títulos. Na televisão, a gião do interior norte (22,2 por
“Tv Saúde”, dirigida ao público em ge- cento). Por outro lado, e de acordo
ral, e a “Tv Medicina”, orientada para os com os resultados do Estudo de
profissionais de saúde, foram dos canais Audiência da Imprensa Médica, da
temáticos mais antigos da Tv Cabo, mas Novadir, 95 por cento dos clínicos
cessaram a sua emissão em Junho de gerais têm o hábito de ler ou fol-
2004.Também na Internet, existem vários hear títulos de imprensa médica
sites que se dedicam em exclusivo ao te- bi-semanais, semanais, quinzenais
ma da saúde, como o Viva Saudável ou mensais.
(www.vivasaudavel.pt) ou o Saúde na Para melhor conhecer a relação en-
Internet (www.saudenainternet.pt). tre o jornalismo e a saúde, a Media
XXI contactou vários responsá-
veis editoriais de alguns jornais ou re- penham, especificamente, um impor-
vistas especializadas em saúde, entre tante papel didáctico, sobretudo quando
os quais a “Anamnesis”, “Saber dão conselhos sobre, por exemplo, co-
Viver”, “Notícias Médicas”, “Tempo mo deixar de fumar ou fazer mais exer-
Medicina”, “Sinais Vitais”, “Medicina cício. Aos jornalistas, cabe informar as
e Saúde”, “Teste Saúde” e o site “Viva pessoas e responder às suas dúvidas.
Saudável”, bem como dois professo- “Se podemos, através de dados concre-
res universitários, um português e tos, estudos comparativos exaustivos e
outro estrangeiro. Até à data de fecho opiniões de especialistas, ajudá-las a vi-
desta edição, apenas obtivemos res- ver melhor, seria irresponsabilidade não
postas de três responsáveis editoriais o fazer”, diz Teresa Ornellas, directora
e dos dois docentes contactados. da revista “Saber Viver”, ex-“SOS
Saúde”. Fátima Ramos, coordenadora da
| Promover saúde | revista “Teste Saúde”, da Deco, partilha
Os mass media podem constituir uma uma opinião similar. “Estou consciente
força de pressão fundamental para de que a informação, só por si, não é
chamar a atenção para os cuidados de suficiente para mudar comportamentos,
saúde, se reforçarem a informação so- mas acredito que, nós jornalistas, somos
bre comportamentos saudáveis. Os um elo fundamental na cadeia da pro-
meios especializados na saúde desem- moção da saúde. A comunicação social
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nhas sobre antibióticos e saúde sexual, o na área da sexualidade, entre elas a | Anunciantes e campanhas de prevenção |
sítio da Pfizer, disponibiliza ainda infor- Linha SOS Dificuldades Sexuais, além Além do problema da linguagem, as pu-
mação sobre os sistemas nervoso central, de cursos e ciclos de cinema sobre a se- blicações dedicadas à saúde encaram
cardiovascular e doenças reumáticas, além xualidade e a sua comunicação e con- ainda uma dificuldade que pode com-
de, em 2005, ter participado em cam- hecimento públicos. prometer a sua independência. Verifica-
panhas públicas de apoio à construção Nesta mesma área de saúde e com o -se, nesta área, uma grande pressão dos
de centros de acolhimento temporário mesmo tipo de estratégias de comuni- anunciantes, dada a dependência em rela-
e de sensibilização para a violência do- cação e parcerias, encontra-se a cam- ção à publicidade farmacêutica por parte
méstica. panha da Associação Portuguesa para o dos meios de comunicação social que se
Em parceria com os Laboratórios Planeamento Familiar (APF), sobre centram em temas de saúde. Nesse senti-
Pfizer, a Sociedade Portuguesa de contracepção masculina, desenvolvida do, o jornalista deve tomar algumas pre-
Andrologia (SPA), desenvolveu tam- em conjunto com as linhas de atendi- cauções, por forma a manter o rigor éti-
bém um conjunto de serviços de apoio mento público Sexualidade em Linha e co no seu trabalho. Para Teresa Ornellas,
a pessoas com dúvidas e perturbações SOS Dificuldades Sexuais. não deve existir uma promiscuidade en-
tre o departamento editorial e o comer-
cial, porque são áreas distintas.
Tanto Francisco Amaral como
Diamantino Cabanas desdramatizam a
alegada pressão da publicidade nesta
área. “O jornalista deve agir, perante es-
sas pressões, da mesma forma que os
jornalistas de política, economia ou de
sociedade”, diz o responsável do
“Tempo Medicina”. “No que respeita à
saúde, muitas vezes a divulgação de des-
cobertas, novos tratamentos, etc, pode
confundir-se facilmente com publicida-
de disfarçada. A verdade é que muitos
dos avanços da Medicina é garantida pe-
lo investimento da indústria farmacêuti-
ca. Cabe ao jornalista avaliar cada situa-
ção”, sublinha o docente universitário.
Uma outra situação que pode colocar
alguns problemas aos jornalistas é a ade-
são a campanhas preventivas e sanitárias.
Foi, pelo menos, essa a opinião expressa
por Estrela Serrano, docente universitá-
ria e ex-provedora do leitor do Diário
de Notícias, no congresso “Jornalismo,
Ciências e Saúde”, na Universidade
Fernando Pessoa, em Março de 2005.
“Não acredito que o jornalista, enquan-
to jornalista, deva participar em cam-
panhas de prevenção anunciadas como
campanhas. Existem muitos instrumen-
tos para fazer campanhas, desde logo a
publicidade paga e programas específi-
cos que possam ter essa componente
anunciada como tal”, afirmou ao
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Mini – Inquérito
Definir a Comunicação
da Saúde
1) Que cenário traça da comunicação e jornalismo realizados para os
profissionais de saúde?
2) De que forma devem os consumidores ser informados sobre os
medicamentos ( de venda livre e sujeitos a receita médica )?
3) Considera que o modelo actual de promoção de medicamentos é o
melhor do ponto de vista ético e deontológico?
| António Gentil Martins | Farmacêutico, como se tem promovido | Pedro Pita Barros |
Médico a vários níveis e até em documentos Professor na UNL
oficiais...), a dar as necessárias orienta-
1) Nem sempre tem a isenção e objec- ções, e a alertar as pessoas para o uso 1) Conheço pouco da qualidade do
tividade necessárias. Além disso omite- devido (e indevido), dos medicamen- jornalismo “médico” per se, uma vez
se frequentemente o nome do “produ- tos. Não podemos esquecer que mes- que não tenho formação clínica.
to base” para só se referir a designação mo os medicamentos de venda livre Baseando-me apenas no que é possível
comercial. Frequentemente o anúncio é também podem ter contra-indicações ser observado, a comunicação dirigida
escasso na apresentação, quase se limi- concretas (e mesmo graves), para cer- aos profissionais oscila entre o que se
tando ao nome, quando deveria fazer tos doentes. poderá denominar de “comunicação
uma súmula das principais indicações e informativa” e “comunicação persuasi-
contra-indicações, dosagens, etc. Assim 3) Depende. Não é desejável que se fa- va”. Por comunicação “persuasiva” en-
se aumentaria a cultura geral do ça a apresentação de um dado medica- tendo comunicação destinada a con-
Médico, que procuraria depois numa mento sem que se este seja posto em vencer o médico/decisor alvo a
bula mais detalhada tudo o respeitante confronto com os anteriormente utili- escolher certa opção. Por comunicação
aos medicamentos que pensaria ir usar. zados ou que na mesma ocasião estão “informativa” entendo a passagem de
Por outro lado parece manifestamente disponíveis. Embora difícil, é impor- informação, de modo neutro, sem ob-
inútil e mesmo despropositado, publi- tante que a divulgação de novas tera- jectivo de influenciar a escolha num
car à exaustão (aliás sem falar em com- pêuticas seja sempre feita por profissio- sentido ou noutro. E há situações de
parações, ou em alternativas, para a nais (verdadeiramente e com- fronteira, em que a comunicação apa-
mesma patologia) páginas inteiras de provadamente) independentes daque- rente ser “informativa”, mas é real-
jornais ou revistas (em letra compacta, les que nisso têm interesses comerciais. mente “persuasiva”.
minúscula e praticamente ilegível ) De qualquer modo, se considero im-
aquilo que ninguém lerá. portante a acção da imprensa escrita, 2) Um primeiro canal deveria ser um
também considero importante a acção profissional de saúde (médico ou far-
2) Em qualquer dos casos (venda livre dos Delegados de Informação Médica, macêutico), que alertasse o doente pa-
ou sujeitos a receita), deve ser o quando devidamente treinados. ra as propriedades (o que o medica-
Médico Assistente do Doente (e não o mento faz, o que não faz e que efeitos
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adversos lhe poderão estar associados). formação que também identifica locais credibilização destes meios, de um
No caso do médico, pensaria no médi- de venda, preços e comparação com maior profissionalismo por parte dos
co assistente como fonte de informa- alternativas. seus colaboradores e mesmo de um
ção isenta. No caso do medicamentos maior apuro gráfico das publicações. O
sujeitos a receita médica, essa será 3) O modelo actual foca no decisor futuro e o sucesso deste segmento de-
sempre a primeira fonte de informa- crucial, que é na maioria dos casos o penderão, a meu ver, de um maior in-
ção, uma vez que a comunicação se médico. Na medida em que o doente vestimento nestas três áreas que acabei
pode adaptar às condições específicas não tem capacidade de decidir, e delega de referir.
de cada doente. Não descarto porém a essa decisão no médico, é natural que a
possibilidade de cada vez maior volu- promoção de medicamentos incida so- 2) O decreto-lei 100/94 regulara ambas
me de informação ser disponibilizado bre o médico. Com o aumento da in- as situações. Apesar de poder ser feita
publicamente, via Internet, que permi- formação à disposição do doente, e publicidade directamente ao consumi-
ta aos consumidores obterem conheci- com este a tomar cada vez mais cons- dor no caso dos medicamentos não su-
mento sobre os medicamentos. No ca- ciência dessa delegação de decisão, é jeitos a receita médica, esta tem várias
so dos medicamentos de venda livre, o provável que surjam canais que colo- limitações expressas na lei. Quanto aos
aconselhamento no momento da com- quem informação directamente à dis- medicamentos sujeitos a receita médica,
pra assumirá maior preponderância posição do doente (por exemplo, via a lei não permite qualquer tipo de in-
que no caso dos medicamentos sujei- Internet), que terá, em geral, uma na- formação directa ao consumidor. Assim,
tos a receita médica. O farmacêutico tureza diferente da informação coloca- neste caso, os transmissores mais idóne-
poderá desempenhar aqui um papel da à disposição do médico (por conta os são o médico e o farmacêutico, em
mais importante que no caso dos me- dos conhecimentos técnicos de cada aspectos que tenham a ver com posolo-
dicamentos sujeitos a receita médica. uma das partes). gias, dosagens, etc. A Comissão Europeia
No caso dos medicamentos de venda tem promovido um amplo debate no
livre, será provável que se a observar sentido de criar condições para alguma
uma maior publicidade directamente | Dina Matos Ferreira | abertura da informação aos doentes nal-
ao (potencial) doente, que já observa- Directora de Comunicação da Apifarma gumas áreas terapêuticas. Foi criado um
mos (por exemplo, em spots publicitá- grupo de trabalho sob a sua égide que
rios na rádio) e que tenderá a intensi- 1) A imprensa especializada em Saúde deverá apresentar as suas conclusões
ficar-se. A grande questão é em que (e que se dirige exclusivamente a profis- dentro de um ano.
medida a comunicação sobre medica- sionais de saúde) tem ganho um espaço
mentes passará da identificação de sin- muito significativo em Portugal. Penso 3) É o que a lei prevê e aquele que vi-
tomas que devem levar ao consumo de que, nos últimos tempos, tem havido gora em toda a Europa.
determinado medicamentos, para in- um esforço no sentido de uma maior
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| Olhares |
Aposta na evolução
tecnológica
O presidente do 15º Congresso das Comunicações faz um balanço do evento e
analisa alguma da actualidade do sector | Por Dulce Mourato |
Personagem impar da inovação, da relação de
Sociedade da Informação e do confiança
Conhecimento quer em Portugal quer com a em-
na União Europeia, Pedro de Sampaio presa forne-
Nunes foi o presidente do 15º cedora, que
Congresso das Comunicações da privilegia o
Associação Portuguesa para o melhor ser-
Desenvolvimento das Comunicações viço possível
(APDC). Após aquele evento procurá- ao seu clien-
mos recolher, em poucas palavras, as te pelo pre-
suas impressões sobre as apresentações e ços mais
os debates estabelecidos, auscultando de competiti-
que modo as suas convicções em termos vos, e que
de Tecnologias de Informações e não se en-
Telecomunicação saíram reforçadas. contra a ten-
Sampaio Nunes referiu que, num próxi- tar extorquir
mo congresso, para além de outros te- o máximo D.R.
mas que revelassem novas estratégias de de receita
expansão de negócio ao nível dos conte- possível através muitas vezes de estrata- Asiático; preparar a migração para a plata-
údos, dos clientes e da estrutura empre- gemas comerciais que são, a prazo, de- forma IP fazendo os investimentos neces-
sarial gostaria que “as questões da regu- vastadores para a imagem da empresa. sários ao upgrade e adequação das redes e
lação e da concorrência, à luz da Aconselharia também a uma grande finalmente cuidar da interface com os de-
evolução tecnológica e regulatória, ti- atenção aos conteúdos e à oferta de pa- cisores europeus, por onde cada vez mais
vessem uma passagem à prática das res- cotes de serviços atraentes e inovadores, irão passar as condicionantes deste sector.
pectivas conclusões”. indo ao encontro das reais necessidades
Porque razão no âmbito do tema
A sua experiência na área permite-lhe OS PAINÉIS DESENVOLVERAM-SE DE FORMA “Cidadania”, no decorrer do Congresso,
ver, com maior clareza, quais os não foram focadas as necessidades
INDEPENDENTE E ESPONTÂNEA
desafios e as debilidades do sector. especiais em particular, mas somente a in-
Aponte-me, em traços largos, quais as foexclusão (como objectivo a atingir) de
medidas que aconselharia às empresas em dos consumidores. Melhor serviço, sem- uma forma geral?
geral? pre melhor serviço. Em termos de estra- Os painéis desenvolveram-se de forma
Em termos do relacionamento com os tégia global de desenvolvimento do ne- independente e espontânea. Talvez não
clientes aconselharia uma enorme aten- gócio, três sugestões: preparar a tenha havido tempo para entrar nas
ção à evolução tecnológica e uma res- consolidação que se irá verificar no sec- questões mais concretas, mas julgo ha-
posta muito rápida oferecendo os novos tor através de uma política de crescimento ver um grande consenso hoje na socie-
serviços à respectiva base de clientes de assente em oportunidades abertas nos dade portuguesa no caminho a seguir
modo a evitar perdê-los de forma defi- mercados de grande crescimento poten- para o combate à infoexclusão; julgo, no
nitiva. Por outro lado, dando a esses cial como o Leste Europeu, os países lusó- entanto, que outros aspectos que reputo
mesmos clientes a noção que existe uma fonos e a possível entrada no Sudoeste importantes foram menos tratados nesse
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| Reportagem/ Comunicação |
O que os candidatos pensam sobre os media e sociedade de informação
Visões presidenciais
O que fizeram os candidatos às eleições de Janeiro e o que podem vir a fazer
caso sejam sejam os eleitos | Por Mário Guerreiro |
António Garcia Pereira, Cavaco Silva, da “esfera mediática”, relembra a do- municações nas mãos do Estado”, ain-
Francisco Louçã, Jerónimo de Sousa, cente. Verificou-se então uma pressão da para mais quando tal fenómeno tin-
Manuel Alegre e Mário Soares. São seis para abrir “o mercado a novos acto- ha tido a sua origem “num contexto
os nomes que irão com certeza granje- res”. Portugal não foi excepção. pós-revolucionário”, explica Helena
ar a fatia visível de votos nas eleições Entre os governos conservadores então Sousa.
presidenciais de 22 de Janeiro. dominantes na Europa não havia a von- Neste contexto, o então primeiro-mi-
Entre estes seis candidatos, apenas tade de aumentar as taxas de televisão e nistro social-democrata propõe-se a
Cavaco Silva, Manuel Alegre e Mário de rádio, e “os serviços públicos come- “liberalizar o sector radiofónico, priva-
Soares ocuparam até ao momento car- çavam a sentir dificuldades de financia- tizar a Rádio Comercial e abrir a televi-
gos governativos. Cavaco Silva foi eleito mento cada vez maiores”. Helena Sousa são à iniciativa privada”. A rádio foi o
primeiro-ministro em 1985, conseguiu destaca também a transformação tec- primeiro sector onde se fizeram sentir
duas maiorias absolutas e abandonou o nológica que se operava então na as pretensões do Governo de Cavaco
cargo em 1995. Para trás ficavam dez Europa, com o “desenvolvimento das Silva, ao enveredar por uma reestrutu-
anos de governação, com várias medidas tecnologias do cabo e do satélite”. A ração que veio por um ponto final no
tomadas em relação ao sector dos me- tecnologia tornou obsoletas as usuais regime de duopólio que até aí se verifi-
dia. Para Helena Sousa, docente univer- justificações do governos para explica- cava, já que o éter nacional estava divi-
sitária da Universidade do Minho, “os rem os poucos canais existentes. dido entre a Radiodifusão Portuguesa e
programas dos dois governos maioritá- Este panorama europeu influencia o a Rádio Renascença. No ano de 1989,
rios de Cavaco Silva apresentavam as que viria a suceder em Portugal no fi- o Governo atribui mais
profundas mudanças que os media e as nal da década de 80 e início da de de trezentas frequên-
comunicações em Portugal deveriam so- 90. A este factor, Helena Sousa cias nacionais e
frer.” Entres essas mudanças contam-se a junta também “as condições duas regionais.
alteração das legislações respeitantes à indispensáveis à mudança”, Helena Sousa
televisão e rádio. Com Cavaco como pri- como o primeiro Governo de critica o facto
meiro-ministro foram reguladas as rá- maioria desde a Revolução de da atribuição
dios piratas que proliferaram na década Abril. Esta “estabilidade políti- de licenças
de 80, e abriu-se o mercado da televisão ca favoreceu o crescimento não ter sido
a operadores privados. Sobre as mudan- económico, o que contribuiu “precedida de
ças preconizadas pelo Governo de para a expansão do mercado
Cavaco Silva, Helena Sousa fala mesmo publicitário”, que se reflectiu
de uma “percepção da inevitabilidade no aparecimento de jornais
das reformas”, que derivava de “factores como o “Público” ou
externos e internos”. “O Independente”.
Na década de 80, era a própria Europa É um período
que passava por mudanças que iriam onde se torna
influenciar o que sucederia em “cada vez
Portugal. “A televisão e a rádio esta- mais difícil
vam, até então, concentradas nas mãos justificar a
dos Estados”, ilustra Helena Sousa. Era forte con-
uma “tradição europeia bem distinta centração
da norte-americana”, e que defendia o dos media e D.R.
serviço público como parte essencial das teleco-
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| Reportagem/ Comunicação |
a possibilidade da existência de “um do aberto aos operadores privados”. controlo e intervencionistas, numa
projecto de inspiração cristã ter pesado perspectiva de agendamento das suas
na estratégia de aparente preparação da | Mário Soares e as presidências abertas | iniciativas e do seu pensamento, tendo
televisão pública para a privatização, Já se sabe que entre os candidatos às por objectivo final o reforço da sua no-
com a alienação da rede de emissores, eleições presidenciais de 22 de Janeiro, toriedade e das suas ideias junto da opi-
fim da taxa de televisão, etc”. apenas Mário Soares soma a experiên- nião pública”. Para o docente, este foi
Helena Sousa situa o início das “sérias cia de já ter ocupado o cargo de mesmo o aspecto mais marcante das
dificuldades da RTP imediatamente Presidente da República. O primeiro presidências abertas de Soares, e não he-
após a entrada dos novos operadores cargo governativo de Soares foi o de sita em classificá-lo de “negativo”.
no mercado”. Em 1995, o então presi- primeiro-ministro, no I Governo O docente da Universidade Nova de
dente do Conselho de Administração Constitucional, em 1976. Numa socie- Lisboa não deixa ainda assim de vis-
da RTP anunciava que o “deficit acu- dade a tentar ultrapassar os severos lumbrar aspectos positivos nas presi-
mulado da empresa, no fecho das con- atrasos estruturais, o sector da comuni- dências abertas de Soares, pelo facto de
tas de 1994, se elevou a 25 milhões de cação social não era excepção. A liber- “terem lançado o debate sobre muitas
contos”. dade recente cria uma série de publica- matérias de interesse público – escola,
A docente da Universidade do Minho ções claramente políticas, onde a ambiente, cultura, etc – e de terem
refere também que a reestruturação do propaganda e o discurso político assu- descido ao país real, quantas e quantas
sector “não trouxe novidades quanto à miam particular relevância. Nos anos vezes arredados dos próprios media”.
independência política da estação de em que ocupou o cargo de primeiro- Neste aspecto, Francisco Rui Cádima
Serviço Público”. “A RTP continuou a ministro, Soares (de 1976 a 1978 e de recorda o que diz o site da Presidência
ser vista como uma estação dependente 1983 a 1985) pugnou por uma reestru- da República sobre as presidências
dos interesses dos governos do dia e turação da comunicação social que abertas: “O Presidente Soares, desenca-
incapaz de garantir um tratamento criasse uma maior liberdade jornalística. deia a iniciativa inovadora das
equilibrado dos diversos actores políti- Já em Belém, como Presidente da ‘Presidências Abertas’, transferindo
cos”, completa Helena Sousa. República (de 1986 a 1996) cria as simbolicamente o poder presidencial
Para Helena Sousa, embora “o segundo presidências abertas, onde os media as- para capitais de distrito de norte a sul,
Governo maioritário de Cavaco Silva ti- sumem particular relevância, até pela com enorme sucesso mediático e po-
vesse tentado regulamentar” alguns dos proximidade com o chefe de Estado. pular e em que se destaca a sua empa-
aspectos negativos que resultaram para No entanto, Francisco Rui Cádima con- tia com as populações e os media, o
a RTP da abertura do mercado aos pri- sidera que “apesar das presidências que leva alguns a criticá-las como sen-
vados, “fê-lo de forma inepta e sem abertas, o facto é do uma espécie de campanha eleitoral
qualquer resultado positivo através que Mário contínua”.
da celebração do Contrato de Soares se- Adoptando uma reflexão mais global,
Concessão de Serviço Público de cundar izou Francisco Rui Cádima afirma que “de
Televisão, em 17 de Março de uma relação Soares a Cavaco, inclusive até aos dias
1993”. Assim, a docente conside- aberta e de de hoje, ao longo dos últimos 20 anos,
ra que “o Governo de Cavaco Silva debate sobre nenhum dos grandes líderes políticos
considerou que uma televisão se- os telhados portugueses atacou seriamente um dos
ria de Serviço Público enquanto de vidro dos problemas fundamentais da jovem de-
cumprisse um determinado nú- media, pre- mocracia portuguesa; a debilidade do
mero de tarefas”. A actuação do ferindo as sistema de comunicação social e a ne-
Governo de maioria absoluta de práticas de gatividade dos seus conteúdos, com
Cavaco Silva resultou que impactos muito negativos na história
“sem recursos financeiros recente portuguesa e na perca de credi-
e insegura quanto aos bilidade do regime e de auto-
seus objectivos, a estima dos cidadãos”.
RTP não foi capaz O docente universitário
de conquistar o seu D.R. é da opinião que “faltou
espaço num merca- à comunicação social,
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| Reportagem/ Comunicação |
sobretudo à televisão, aquilo que era líticas rivais, no caso o PCP e o MRPP. cepção para os serviços públicos de co-
indispensável para que o sistema políti- Francisco Louçã e Jerónimo de Sousa municação social” estatais.
co-partidário sofresse a pressão de uma nunca assumiram qualquer cargo gover- Sobre temas relativos à sociedade de
opinião pública mais esclarecida pelo nativo, mas enquanto deputados e líde- informação, Francisco Louçã adoptou
próprio sistema de media: uma discri- res dos seus partidos têm posições mar- também uma posição de protesto con-
minação positiva das grandes categorias cados sobre os media. tra as patentes, que se traduziu inclusi-
que poderiam trazer algum sentido à Ainda dirigente do Partido Socialista ve na presença do BE numa manifesta-
história recente de Portugal; a aposta de- Revolucionário, Louçã pronunciou-se ção promovida pela Associação
terminada na ideia de Europa, no desen- publicamente contra os critérios que Nacional de Software Livre. No
volvimento do País e da cidadania”. ditaram as políticas de privatizações Parlamento, aquando da declaração de
para o sector, levadas a cargo pelos apoio a um projecto-lei sobre o tema
| Alegre e a secretaria de Estado para a Governos de Cavaco Silva. Já no Bloco apresentado pelo PCP, Louça referia:
Comunicação Social | de Esquerda mostrou-se sempre contra “Não há matemática aplicada sem algo-
Entre os demais candidatos, apenas a privatização do canal do Estado, mas ritmos, e pensar que esse conhecimen-
Manuel Alegre desempenhou igualmente a favor de uma reformulação da RTP to, com todos os efeitos que tem na
funções de governação, curiosamente que significasse um recuo na ingerên- construção, dos efeitos da programação
num Governo onde Mário Soares era o cia do Governo nos seus destinos. linear até antes, às pirâmides do Egipto,
primeiro-ministro.Alegre foi secretário de Em diferentes ocasiões Francisco Louça deve desejavelmente ser patenteável, é
Estado para a Comunicação Social, de também tem criticado a concentração introduzir no domínio do conhecimen-
1976 a 1977. Neste curto espaço de tem- dos media nacionais. Em 2005, por to uma restrição comercial que é inope-
po, ficou ligado ao final do jornal “O exemplo, o partido de Francisco Louça racional, inaplicável e constitui um li-
Século”, dado ter anunciado em directo apresentou na Comisso de Assuntos mite absurdo ao conhecimento”.
a suspensão por três meses da publica- Constitucionais, Direitos, Liberdades e Também enquanto deputado e líder de
ção. Esta suspensão acabaria por não ser Garantias um projecto-lei sobre a con- partido, Jerónimo de Sousa tem veicula-
terminada, e abriu as portas à venda do centração dos media. No documento, o das várias posições sobre os media, mani-
título onde, à semelhança do que suce- Bloco propôs limites à concentração ho- festando contra a privatização do sector,
dia com outros jornais da época, se veri- rizontal, vertical, e diagonal ou multi- os critérios de programação da televisão
ficava uma luta interna entre facções po- média, e pretendia, entre outros objecti- estatal ou a regulação dos media.
vos, “impedir Recentemente, durante a discussão par-
uma posição lamentar sobre a proposta de lei que
dominante no visava criar a nova Entidade Reguladora
mercado das rá- da Comunicação, o PCP afirmou a sua
dios de âmbito oposição à proposta governamental.
nacional, impe- Para o PCP “a subdimensão da composi-
dir posição do- ção e a sobredimensão das atribuições e
minante no competências corre o sério risco de
mercado de jor- conduzir a uma situação em que a enti-
nais nacionais dade reguladora, mesmo abstraindo de
generalistas e na juízos de valor sobre a sua composição
imprensa espe- concreta, fique remetida à paralisia, à
cializada mais morosidade ou à incapacidade prática
relevante (eco- para exercer muitas das suas competên-
nomia e despor- cias, o que, a acontecer, é mais de meio
to), aumentar a caminho andado para o descrédito total
independência de uma entidade reguladora”.
da imprensa es-
pecializada” e | Sampaio sensível às questões dos media e
D.R.
assegurar “um sociedade de informação |
regime de ex- Em dez anos de Presidência da
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República, e ainda que não desempen- não se compadece com a ironia”, dado ção e difusão de experiências exempla-
hando um cargo executivo, Jorge que hoje ainda se verifica a mesma res de e-learning e e-teaching”.
Sampaio demonstrou várias vezes uma questão de há vinte anos: “ainda não Também recentemente, em Macau, du-
postura de encorajamento a uma gene- saímos da era dos aparelhos ideológi- rante o Congresso da Associação
ralização da sociedade de informação cos de Estado”. Portuguesa de Imprensa, Sampaio refe-
mas também de sensibilidade perante os No último Congresso das Comunica- riu-se aos media: “Estamos na era da
desafios do sector dos media. ções da Associação Portuguesa das sociedade em rede, da chamada socie-
Segundo Francisco Rui Cádima, Comunicações, Sampaio defendeu o dade informacional, em que as mudan-
Sampaio “por variadíssimas vezes dei- “open source” como uma “exigência ças introduzidas vieram alterar muitos
xou reparos e críticas ao agendamento indeclinável”, afirmando que o acesso aspectos da nossa vida, incluindo a dis-
dos media, chegando por vezes a ironi- à educação, informação e redes digitais seminação do conhecimento, uma
zar sobre se as suas próprias iniciativas é fundamental. Naquele que foi o seu maior interacção social e também os
iriam ter acolhimento nos jornais tele- último discurso como chefe de Estado novos papéis e as novas responsabilida-
visivos da noite”. Para o docente, “a no Congresso das Comunicações, des dos meios de comunicação social”.
qualidade dos media e do seu discurso Sampaio defendeu também “a promo-
Entre as seis candidaturas contactadas, do desemprego. Portugal pode vencer se de tecnologia wap. Um portal com mil-
algumas preferiram responder a um se transformar numa Sociedade do hares de contribuitos, das mais diversas
conjunto de três perguntas-tipo elabora- Conhecimento. Uma sociedade na qual proveniências (profissionais, culturais,
das pela Media XXI: a) Quais os princi- a generalidade dos portugueses, do inte- geracionais, geográficas, etc), criado
pais problemas que atingem actualmen- rior e do litoral, de todas as idades e com preocupações de acessibilidade pa-
te o sector dos media e da sociedade de condições, tenha acesso à internet e sai- ra todos. E em todas as sedes da candi-
informação em Portugal?; b) Não ocu- ba tirar partido das tecnologias da infor- datura, foi também criando um Espaço
pando um cargo executivo, qual deve mação e comunicação. Uma sociedade Digital, com banda larga wireless, aber-
ser a postura do Presidente da República na qual seja assumido o gosto pela to a todos. Decidi ainda ter um
relativamente a todas as questões rela- aprendizagem permanente. Uma socie- Mandatário Digital justamente para me
cionadas com o sector dos media e so- dade na qual a administração pública ajudar na mobilização de todas as forças
ciedade de informação?; c) Relativa- simplifique os seus procedimentos, pela relevantes para a afirmação de Portugal
mente à presidência de Jorge Sampaio, oportunidades de desmaterização trazi- neste novo mundo global. Na minha
quais considera terem sido as medidas das pelo mundo digital. Uma sociedade Comissão de Honra estão empreende-
ou posições mais relevantes tomadas pe- na qual as empresas, se tornem mais dores com provas dadas nesta área. E
lo mesmo, relativamente à comunicação competitivas, afirmando-se, pelo seu ca- um dos primeiros momentos da pré-
social? Outras optaram por elaborar de- rácter inovador num mercado mundial. campanha foi o precisamento um en-
poimentos únicos ou preferir analisar o Como candidato, desde o início que fi- contro com centenas de PMEs inovado-
comportamento dos media na cobertura cou claro para mim que é por aqui que ras. A disseminação desta atitude de
da pré-campanha. Portugal pode finalmente descolar, vol- permanente inovação é uma das tarefas
tando a acreditar que é possível. O por- mais nobres de um Presidente da
| Aníbal Cavaco Silva | tal da minha candidatura é uma porta República. É esta a sociedade que eu
“Um País que fique à margem do movi- permanente de interacção com o mun- quero para Portugal. E acho que é possí-
mento da globalização arrisca-se a uma do, acessível não só atrávés do canal de vel. Como? Com o envolvimento de to-
estagnação prolongada e a um aumento internet tradicional, mas também através dos. Com a mobilização do que há de
| Reportagem/ Comunicação |
melhor em cada um de nós - inteligên- sejam, grandes concentrações dos grupos Apresentei, por duas vezes, uma proposta
cia, ousadia, arrojo. Outros fizeram-no. empresariais, ou a nomeação das no Parlamento para limitar a concentração
Nós também seremos capazes de o fazer. Administrações e principais responsáveis da comunicação social. O objectivo era
É Portugal que o exige.” de estações ou jornais públicos) ou quais- equipar a legislação portuguesa às melho-
quer práticas (como a do ostensivo in- res práticas europeias e dos E.U.A. Das
| António Garcia Pereira | cumprimento dos serviços públicos, ou duas vezes sem efeito. Primeiro chumba-
a) “Os principais problemas que atingem das “encomendas” ou operações de “re- do pela direita, quando esta estava no po-
a chamada “sociedade de informação” cuperação de imagem” ou de assassinato der, agora com a sua discussão sucessiva-
prendem-se no essencial com questões cívico e/ou político de cidadãos, ou ainda mente adiada pelo Partido Socialista.
estruturais do nosso país – baixo nível de a da violação da livre expressão das dife- O problema da concentração não se colo-
instrução e de qualificações, fraco investi- rentes correntes de opinião e da igualdade ca apenas na comunicação social, afectan-
mento tecnológico e na investigação e in- de oportunidade das diferentes correntes do igualmente sectores contíguos como o
ovação, diminuta capacidade económica de opinião) violentem ou ponham em das telecomunicações: Internet de banda
da maioria dos cidadãos e das famílias pa- causa aqueles mesmos preceitos e princí- larga, a televisão por cabo, a distribuição
ra poder aceder à informação por via das pios democráticos essenciais.” de direitos e conteúdos informativos e te-
novas tecnologias e, “the last but not the levisivos. Assistimos, neste sector, a uma
least”, pouco espírito crítico por parte dos c) “Relativamente à postura do Dr. Jorge simulação de competição entre diversas
receptores de informação. Sampaio nesta questão da Comunicação empresas do grupo Portugal Telecom que
Já os problemas do sector dos media Social, como infelizmente nas mais im- limita a concorrência, atrasa a inovação e
prendem-se, por um lado, com a cada vez portantes questões sociais e políticas do prejudica os cidadãos.
maior concentração da sua propriedade País, ela caracterizou-se por aquilo que foi Ao Presidente não compete apresentar
na mão de um pequeno número de gi- todo o seu mandato – a liquidação do uma proposta que estipule entraves à
gantes económicos, aliás cada vez mais es- cargo, ou seja, a completa ausência de fir- concentração da propriedade dos meios
trangeiros, e com a morte do Jornalismo meza na defesa dos princípios, e a vacila- de comunicação, mas Jorge Sampaio
sério e independente. O qual deixou pra- ção lacrimejante sempre que aquilo que pronunciou-se clara e publicamente so-
ticamente de existir e foi substituído por se impunha era a tomada de uma atitude. bre a urgência de se observar esse prin-
todo um conjunto de autênticos “agen- Como sucedeu quando, depois de ver co- cípio. O Presidente não extravasou os
tes” dos grandes poderes (dos financeiros mo um processo judicial estava a ser utili- seus poderes, mas exerceu-os como de-
aos políticos, das polícias e do Ministério zado para destruir o principal líder da via, como o fez, também, quando vetou
Público às grandes multinacionais), e de oposição, em vez de logo demitir o a Central de Comunicações proposta pe-
que o actual sistema de “vasos comuni- Procurador-Geral da República, nada fez. lo Governo Santana Lopes.
cantes” entre órgãos da imprensa, assesso- E como aliás tem já sucedido ao longo Esta Central de Comunicações demons-
res de governantes e agências ou gabine- desta pré-campanha presidencial, onde te- tra, também, como é indispensável um
tes de comunicação, por um lado, e a ve o supremo desaforo de referir que para processo de desgovernamentalização das
autêntica miséria moral das campanhas de a marcação da data das eleições só ouvira empresas públicas de comunicação so-
assassinato cívico e político a que todos os os cinco candidatos do Poder porque … cial (RTP, RDP e LUSA), mantendo o
dias assistimos, por outro, são um tão tris- só conhecia a existência desses !?...” controlo público sobre as mesmas.
te quanto significativo exemplo.” Perante o processo de concentração da
| Francisco Louçã | propriedade dos meios de comunicação
b) “O Presidente da República não é, “A comunicação social no nosso país es- social seria, aliás, completamente irres-
em geral, um cargo executivo, mas se- tá nas mãos de quarto grandes grupos ponsável o desmembramento do serviço
guramente é, ou deve ser, o principal privados: Cofina, Impresa, Media Capital, público garantido pelo Estado. “
garante (e responsável) do respeito pela Olivedesportos, mais o sector do Estado. A
Constituição e pelos seus princípios, criação de oligopólios neste sector funda- | Jerónimo de Sousa |
que aliás, no início das suas funções, ju- mental para a liberdade de expressão, plu- a) “Deixando de lado muita coisa impor-
ra cumprir e fazer cumprir. Significa isso ralismo e debate democrático cria um tante, evocaria sobretudo o problema e os
que ele não só tem o direito como, mais ambiente de promiscuidade entre o poder perigos da concentração dos media em
do que isso, tem o dever de intervir político e económico, condicionando a poucos grupos (e os seus reflexos sobre
sempre que quaisquer operações (como circulação e diversidade de ideias. um efectivo pluralismo e uma real inde-
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pendência e liberdade dos profissionais da Pedrosa refere que a candidatura tem sen- alógicas globais normalizadoras de natu-
informação), os problemas da precarieda- tido uma “desigualdade de tratamentos” reza ideológica.
de nos vínculos laborais de muitos desses nos media, que relaciona com o facto de Por outro lado, as minhas preocupações
profissionais, da deriva mercantilista da ser uma candidatura onde não impera respeitam igualmente ao serviço público,
informação e da erosão de valores, crité- “uma lógica de atenção partidária”. quer aquele que se liga aos órgãos pro-
rios e sentido da função social dos jorna- Segundo a jornalista, “como somos uma priedade do Estado quer aos privados de-
listas. Acrescentaria ainda que, lamentavel- candidatura pequena não apoiada por um tentores de licenças para a utilização de
mente, a nova entidade reguladora que partido, somos prejudicados”. um bem que é público. Essas preocupaçõ-
vai substituir a AACS, foi deliberadamente Para Inês Pedrosa, Manuel Alegre tem es têm a ver com a necessidade de o servi-
formatada para ser uma coutada do PS e “trazido à baila assuntos que interessam ço público estar aberto a novas ideias e
do PSD. No campo muito complexo da ao povo português”, mas que ainda assim novos temas, respeitando a isenção jorna-
chamada «sociedade da informação», “não são noticiados”. A jornalista consi- lística e rejeitando qualquer tipo de discri-
considero que o principal e mais premen- dera “desprestigiante para o exercício da minações. Sem prejuízo das opções edito-
te desafio é o da real e audaciosa demo- política” as preferências dos media “pela riais dos vários órgãos, o serviço público
cratização do acesso às novas tecnologias clivagem e sangue dos candidatos”. deverá garantir a abertura a opiniões e co-
da informação, matéria em que muitas Sobre a postura de um Presidente da mentários dos diversos quadrantes, numa
autarquias de maioria da CDU estão mui- República relativamente aos media, preocupação que deve ser comum a todos
to empenhadas. “ Pedrosa defende que este deve saber escu- quantos utilizam um bem que é de todos,
tar a nação e as suas necessidades, sendo independentemente da natureza da pro-
b) “Deve sobretudo ser a postura activa de “capaz de alertar para consensos, derivas priedade de cada órgão.”
quem tem consciência de que estas são autoritárias” e pautando-se ainda por um
áreas decisivas para a vida democrática do incentivo a “uma eficaz fiscalização das li- b)” Terei também aqui, como noutros
país (até porque abrangem direitos que berdades dos media”. Inês Pedrosa defen- campos de actividade, um papel de mo-
podemos chamar de nucleares em relação de também a importância do Presidente derador, procurando assegurar, pela sua
a outros). Para além dos poderes de veto e da República nesta questão, até porque magistratura de influência, que as preocu-
outros, é sobretudo muito importante não pode ser “apenas uma figura”. pações essenciais atrás indicadas quanto à
que o PR exerça um magistério de ideias A jornalista não dissocia estas qualidades isenção e pluralismo sejam garantidas.
favoráveis ao pluralismo, aos direitos dos do comportamento de Jorge Sampaio em Serei também um ouvidor, procurando
jornalistas e dos cidadãos e de estímulo ao dez anos de Belém. Inês Pedrosa relem- sentir o pulso da sociedade e da generali-
desenvolvimento de um forte espírito crí- bra, que já por várias vezes, Manuel dade dos operadores e profissionais do
tico face aos media. “ Alegre se pronunciou favoravelmente so- sector, quanto a estas matérias. Estarei par-
bre o trabalho de Jorge Sampaio. Assim, a ticularmente interessado em tudo quanto
c) “Se bem me lembro, e provavelmente “impressão é claramente positiva”, em diga respeito à futura entidade reguladora
estarei a esquecer outros aspectos, por al- particular “porque diversas vezes se expri- do sector, para que ela possa ter condições
gumas vezes fez importantes chamadas de miu a favor da liberdade de imprensa” para assegurar a isenção e pluralismo da
atenção sobre a questão da concentração informação, reflectindo a óptica do utili-
da propriedade dos media, embora em | Mário Soares | zador - destinatário final das mensagens -
termos práticos não tenha havido qual- a) “O fundamental é ver permanente- sobrepondo sempre essa preocupação a
quer sequência legislativa pois tanto o PS mente assegurada a isenção e o pluralis- quaisquer outros interesses, por muito
como o PSD consideram espantosamente mo da informação, garantindo sempre o louváveis que sejam.”
que, nesse domínio, em Portugal ainda princípio do contraditório.
não se chegou a um patamar que justifi- No momento em que vivemos e que é c) “Ao longo do seu mandato, o
que qualquer preocupação.” marcado, no que respeita à propriedade Presidente da República tem procurado
dos media, pela concentração - a qual não acompanhar as mutações verificadas no
| Manuel Alegre | é fenómeno específico do sector e que, sector e tem pautado a sua acção pela de-
A jornalista Inês Pedrosa pertence à em si mesma, não é negativa - deve pre- fesa dos princípios relativos à
Comissão Política Nacional de Manuel venir-se que ela não possa atingir a auto- Comunicação Social consagrados na
Alegre. Dando a cara pelo ex-secretário de nomia e a liberdade editorial dos diferen- Constituição.”
Estado para a Comunicação Social, tes órgãos, evitando que eles obedeçam
Media XXI [ 29 ]
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| Actualidade/ TV |
Televisão por cabo
| Actualidade/ Rádio |
Em tempo de campanha, MCR lança rádio presidenciais
Rádio Presidenciais
O canal online acompanha ao longo das 24 horas do dia a campanha e
disponibiliza espaço para cada candidato ter uma rádio | Por Paula dos Santos Cordeiro |
O serviço conjunto do Rádio Clube Especial de duas horas diárias para fa- nas relativas às candidaturas menos
Português (RCP), Rádio Comercial e zer o ponto da situação. Nuno Rogeiro mediáticas, como sejam as de Manuel
Cotonete, do grupo Media Capital opina sobre os acontecimentos mais João Vieira, José Maria Martins, Botelho
Rádios (MCR), constitui-se como um relevantes, falando ao telefone com Ribeiro, Gonçalo da Câmara Pereira ou
«serviço inovador e alternativo de in- Luís Osório. Por seu turno, Luís Osório Manuela Magno. Há também um canal
formação sobre as Presidenciais», indi- opina diariamente sobre as presiden- de rádio dos candidatos Cavaco Silva,
ca-nos a apresentação do canal, acres- ciais, num momento em que, tal como Francisco Louçã, Garcia Pereira,
centando que fornece «notícias, é indicado na página inicial deste ca- Jerónimo de Sousa, Manuel Alegre e
comentários, especiais, entrevistas, de- nal, a «descodificação do discurso polí- Mário Soares.
bates, directos e Fórum» ao longo da tico será a base para este espaço de opi- O canal presidenciais tem igualmente
corrida a Belém. nião». O leque de comentadores inclui um arquivo audio dos vários conteú-
ainda Jaime Mourão Ferreira, Luís dos da rádio presidenciais e um siste-
| Principais Características | Claro e Nuno Domingues. Este canal ma de podcast, disponibilizando o
A rádio está disponível 24 horas por tem também um Jornal de Campanha download dos conteúdos para audição
dia e os espaços mortos são animados que se traduz num noticiário com o re- ou subscrição.
com música variada, correspondendo a sumo do dia e um espaço de humor ao
cerca de 30% da emissão. Nas páginas início de cada hora da responsabilidade | A Interactividade na Rádio Presidenciais |
web do RCP, Rádio Comercial e de Luís Filipe Borges. Na página de en- A rádio presidenciais apresenta-se como
Cotonete encontramos a ligação para trada há ainda hiperligações para os uma iniciativa que pode complementar
este projecto que inclui uma Edição blogues sobre as presidenciais e pági- a cobertura e a informação dos restantes
media, explorando algumas das caracte-
rísticas multimédia que a Internet ofere-
ce. Neste sentido, o canal rádio presi-
denciais não descurou este aspecto,
tendo criado um Fórum aberto à parti-
cipação geral via telefone. O Fórum de-
corre ao longo de toda a emissão, visto
que as opiniões dos ouvintes são grava-
das telefonicamente e integradas na pro-
gramação. A rádio presidenciais não tem
ainda um espaço para a participação es-
crita, mas revela-se, nas palavras dos res-
ponsáveis do canal ao Diário de
Notícias, como uma iniciativa que pre-
tende fazer serviço público, assumin-
do-se como um projecto de nicho,
com um tempo de vida determinado.
Um modelo que poderá, no futuro, ser
retomado para acompanhar outros fac-
tos da actualidade.
| Actualidade/ Imprensa |
Processo de internacionalização
Editada desde 1938 pela Mondadori, em Em comunicado de imprensa, Ian Levy da Exame, directora adjunta da
Itália, a revista Grazia chega agora ao pú- Media Capital Edições, refere o lançamen- revista Activa, directora da
blico português, sendo considerada uma to surge devido aos “resultados bastante Cosmopolitan, 20 Anos, Icon
das principais revistas de moda da Europa. positivos dos diversos títulos da Media e do Jornal Correio do Brasil.
Esta edição vai ter uma publicação sema- Capital Edições associados à oportunidade Confirmadas estão também
nal, dirigida a mulheres urbanas, trabalha- de mercado que este título representa”. as colaborações de Isabel
doras, com idades compreendidas entre “Trata-se de um projecto inovador que Branco (como editora de moda), Anette
os 25-40 anos.Terá uma informação clara fará crescer a operação de imprensa do Bohme (na beleza), e os colunistas Ana
e concisa, que tratará a actualidade sobre grupo Media Capital. Para o sucesso des- Sousa Dias, Emídio Rangel, Filipa Garnel e
as verdadeiras celebridades que fazem no- te lançamento, contamos com uma Domingos Amaral. Este lançamento em
tícia, as últimas novidades da moda, cos- equipa que possui já uma larga expe- Portugal está inserido no processo de in-
mética, saúde, bem-estar, cinema, música, riência no lançamento de títulos de ternacionalização da Revista Grazia, que
electrónica e artes em geral. O preço de grande consumo”, acrescenta. será editada também em Espanha,
capa vai ser de 1,5 e vai estar nas bancas A equipa vai ser dirigida por Paula Croácia, China, Emiratos Árabes Unidos.
todas as quintas-feiras a partir de Janeiro. Ribeiro, que foi editora da revista
“O Mirante” atinge a
maioridade
Com três edições diferenciadas, a publicação “nunca teve um ano mau”,
segundo o seu director e fundador | Por Mário Guerreiro |
A passagem d “O Mirante” à maioridade em 1987, na Chamusca. Hoje, tem três ma”, contou então o director-geral.
foi assinalada a rigor, no dia 25 de edições diferenciadas (Lezíria do Tejo, A receita para o sucesso do jornal tam-
Novembro, com um jantar que reuniu Vale do Tejo e Médio Tejo) que chegam bém parece ser simples, e passou por
400 pessoas em Almeirim, entre assinan- a oito cidades: Abrantes, Entronca- “construir uma empresa com pessoas
tes, autarcas e leitores do jornal. No dis- mento, Almeirim, Torres Novas, lá dentro, que sejam igualmente em-
curso proferido no evento, Joaquim Santarém, Cartaxo,Vila Franca de Xira e preendedoras, líderes e também um
Emídio, director-geral da empresa e fun- Tomar. pouco poetas, ou aventureiras, para
dador do título destacou a evolução posi- Para Joaquim Emídio, vários têm sido usar um termo mais completo que de-
tiva do seu jornal. “Em 18 anos de activi- os obstáculos presentes na vida do jor- fine um homem de muitos olhares e
dade nunca tivemos um ano mau”, nal, como fez questão de enumerar. “Já ofícios”.
partilhou com os presentes. Em 2005, o nos cortaram a publicidade muitas ve- Sobre o futuro do jornal que lidera,
jornal cresceu cerca de 10 por cento na zes. Já nos boicotaram a informação Joaquim Emídio fez questão de assegu-
facturação, afiançou Joaquim Emídio. vezes sem conta. Já nos tentaram chan- rar que este ainda tem “muito mais pa-
Aquele que é tido como o maior jornal tagear por dá cá aquela palha e, até ho- ra dar à região”, não pretendendo
regional, com uma circulação média a je, sempre conseguimos, com trabalho “dormir à sombra da bananeira”.
rondar o 32 mil exemplares, foi criado e muita persistência, dar a volta por ci-
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| Reportagem/ Tecnologia |
Sistemas de pagamentos on-line aceleram transacções
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| Reportagem/ Tecnologia |
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te do montante acumulado na nossa que, apesar de toda a variedade de opera- sem dúvida, um sério avanço nas trocas
conta é feito em barras de ouro através ções disponíveis na Internet, não existem internacionais.
do correio. Assim, se desejar investir ainda contas bancárias que permitam pa- Em síntese, para fazer trocas on-line os
em ouro, abra uma conta, “ateste” o sistemas de pagamento recomen-
saldo e resgate os fundos. UMA CONTA BANCÁRIA A FUNCIONAR COMO dados são o Paypal e o e-gold pe-
Para além do e-gold, outros sistemas la sua credibilidade e generaliza-
de pagamento vêm utilizando a divisa SISTEMA DE PAGAMENTOS ON-LINE (OU EM ção de uso, tendo o primeiro a
ouro, beneficiando das vantagens fi- vantagem de estar vinculado ao
nanceiras que apresenta, como é o ca- SINCRONIZAÇÃO COM ALGUM EXISTENTE) maior leilão virtual do mundo –
so do IntGold. o e-bay. Os concorrentes que
SERIA, SEM DÚVIDA, UM SÉRIO AVANÇO NAS surgem todos os dias são mais
| Os serviços on-line dos nossos bancos | recomendados para gerar peque-
TROCAS INTERNACIONAIS
Como os utilizadores mais intensivos nas quantias de divisa electrónica
de tecnologia já devem ter notado, os caso não possua cartão de credito
bancos nacionais já permitem que todas gamentos directos do tipo PayPal. Torna- ou ainda esteja reticente em usar o seu
as operações (ou quase) sejam efectuadas se sempre necessário, para este efeito, ser próprio dinheiro on-line. É necessário,
on-line. Desde aplicações em fundos de detentor de cartão de crédito, sujeitando- porém, estar alerta para eventuais ofertas
investimento a simples consultas de sal- se a todas a suas desvantagens. duvidosas e fraudes no que toca aos
dos, raramente se torna necessária a des- Talvez esta solução não seja ainda enca- High Yield Interest Programs. Seria ainda
locação física a um balcão para gerir as rada uma verdadeira janela de oportuni- de esperar uma maior atenção por parte
nossas poupanças. Porém, já seria de se dade pelos bancos. No entanto, uma das instituições bancárias ao fenómeno
justificar uma maior atenção por parte conta bancária a funcionar como siste- das trocas on-line, complementado os
dos bancos (não só portugueses) à emer- ma de pagamentos on-line (ou em sin- vastos serviços já oferecidos pelo sector.
gência do comércio electrónico. Isto por- cronização com algum existente) seria,
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| Actualidade/ Tecnologia |
Feira TPI pela primeira vez em Portugal
Sector industrial e
tecnológico em destaque
Numa iniciativa sem precedentes, a TPI reuniu em Portugal cerca de quinhentos
expositores nacionais e internacionais com os últimos avanços tecnológicos para
o aperfeiçoamento dos processos industriais | Por Dulce Mourato |
A Feira Internacional de Tecnologias e sionais, decorreram em simultâneo di- mostra um conjunto de eventos parale-
Produtos Industriais (TPI) realizada de versos seminários sobre as inovações los, como o primeiro Fórum da
16 a 19 de Novembro, na FIL, em dos sectores em exibição como o 1° Indústria Portuguesa nos sectores da
Lisboa, veio reunir num único evento Evento de Investigação & Inovação Metalurgia, Metalo-mecânica e
transversal a todo o tecido produtivo vá- Tecnológica que teve por objectivo a Electromecânica”, sublinhou Miguel
rias iniciativas como: METALMAQ - promoção da Inovação, transferência Comporta, director geral da FIL.
Salão Internacional Metal, Máquinas e de Tecnologia e o estabelecimento de Num período de abrandamento econó-
Ferramentas, MANTEC - Salão parcerias estratégicas, assim como o 8º mico em Portugal, a aposta da AIP/FIL,
Internacional Manutenção Industrial, Congresso de logística organizado pela em parceria internacional com Reed
AUTOMAC - Salão Internacional da Associação Portuguesa de Logística Exhibitions, veio fornecer novas pers-
Automação e Controlo, IBERPACK - (APLOG), entre outros. pectivas em termos das tecnologias e
Salão Internacional da Embalagem, “A TPI é um projecto novo que repre- produtos industriais internacionais e na-
IBERLOG - Salão Internacional da senta um sucedâneo de algumas feiras cionais, de acordo com aquele responsá-
Logística e Transporte, EXPOAMBIENTE de âmbito tecnológico que vínhamos vel. “A ideia é transformar a TPI num
- Salão Internacional do Ambiente e realizando num calendário bienal, como ponto de encontro da tecnologia euro-
Energia e IBERQUÍMICA - Salão por exemplo a Expo-Ambiente, peia, da Coreia e do Japão. Realço a pre-
Internacional da Química Industrial. Iberquímica e a Automac. Com a TPI sença em força da indústria nacional
Para além da exposição, que recebeu a deu-se a integração destes salões num com os principais produtores de equi-
visita de milhares de visitantes profis- projecto mais amplo, pois juntamos à pamento para a indústria metalo-mecâ-
nica, algumas empresas na área da
Santos Almeida
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| Actualidade/ SI |
Google News e Google Base foram novidades em 2005
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