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| Dossier | Convergência e Regulação | Opinião |
dos Media 4 Editorial
O advento das novas tecnologias 6 Gerir a Inovação na Aprendizagem
levanta novas questões ao tema 8 Sociedade Bit/ Choque Frontal
da Convergência e Regulação. 25 Mini-inquérito/ Sociedade de Informação
Augusto Santos Silva completa 53 Políticas e agentes media
um ano à frente do sector dos 78 Lá Fora/ Elias Machado
media. Balanço da sua actuação e 81 Aula Aberta/ Recordar Hannah Arendt
os projectos ainda na manga.
| Dossier/ Convergência e Regulação dos Media |
10 10 A Segunda Idade da Convergência
12 Novas tecnologias incentivam convergência
| Entrevista | Rui Rio 22 Um ano de nova tutela
O presidente da Câmara Municipal
do Porto critica a forma como os | Actualidade |
media nacionais tratam a Cidade 30 Reportagem em Comunicação/ O Mercado da
Invicta, e manifesta-se a favor de Fotografia
alterações na legislação do sector. 35 Televisão
36 Rádio
42 37 Olhares
| Portugal Media | Guarda 38 Sociedade de Informação
39 Imprensa
Os media da Guarda pautam-se
pela diversidade e competitividade, 40 Seminário de Marketing Sustentável
e fazendo jus ao epíteto da cidade 42 Entrevista/ Rui Rio
mais alta de Portugal Continental, 46 Dinâmicas de Com. e Sociedade de Informação
são fartos e formosas. 48 Portugal Media/ Guarda
54 Reportagem de Tecnologia e Sociedade de
48 Informação/ Podcast
60 Instituições do Conhecimento
MediaXXI Ficha técnica 61 Centros do Conhecimento
72 Tecnologia
Ano X - n.º 85 Janeiro-Fevereiro 2006 74 Publicidade e Marketing
ADMINISTRADOR EXECUTIVO: Paulo Universidade Independente 84 Recordar Cáceres Monteiro
Ferreira DIRECTOR INTERINO: Paulo ASSINATURAS: Notícias Direct – Tapada
86 Último Olhar
Faustino EDITOR: Mário Guerreiro Nova – Capa Rota – Apartado 55 – 2711-
(editor@mediaxxi.com) REDACÇÃO: Nídia 901 Linhó – Portugal – Tel.:21 924 99 40
Silva (redaccao@mediaxxi.com) IMPRESSÃO: Heska Portuguesa – | Investigação |
COLABORADORES: Carla Martins, Cátia Indústrias Tipográficas, S.A. – Campo 62 Leituras
Candeias, Dulce Mourato, Herlander Elias, Raso – 2710-139 Sintra – Tel.:21 923 89
Margarida Ponte, Rui Martinho, Vanda 00 DISTRIBUIÇÃO: VASP/ CTT –
64 Entrevista/ Carlos Zorrinho
Ferreira OPINIÃO: Carla Martins, Carlos Correios de Portugal SOCIEDADE 68 Estatísticas da Comunicação
Reis Marques, Elias Machado, Paulo Vieira GESTORA DA REVISTA: Formalpress – 76 EduComunicação
de Castro, Reginaldo de Almeida Publicações e Marketing, Lda.
FOTOGRAFIA: N. Silva COPYDESK: ESCRITÓRIOS: Rua Professor Vítor
Margarida Ponte, Nídia Silva DESIGN: Fontes n.º 8D, 1600-671 Lisboa – Tel.: | Mercados |
Tânia Borges (design@mediaxxi.com) 217 573 459 – Fax: 217 576 316 E-Mail: 71 Empresas XXI/ Sage Portugal
MARKETING E PUBLICIDADE: Amélia geral@mediaxxi.com - Revista Fundada
Sousa (publicidade@mediaxxi.com) por Nuno Rocha, em 1996 DEPÓSITO
COLABORAÇÃO: Centro de Estudos em LEGAL nº 99516/96; Registo nº 120427
Ciências da Comunicação da TIRAGEM: 7000 exemplares
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| Editorial |
A febre de sábado de
manhã na imprensa
Nos últimos meses tem vindo a falar-se da necessidade de ha- transversal, embora mais situado ao
ver um semanário a concorrer com o Expresso. Como se sabe, centro, como de resto já acontece
a questão da existência de um semanário alternativo ao com os jornais de informação geral.
Expresso há muito que é questionada. Parece realmente haver A este nível, será mais do mesmo. O
espaço e necessidades de informação neste segmento. Durante mercado é pequeno para segmen-
alguns anos essa alternativa foi preenchida pelo Independente. tações ideológicas. Penso também
Quanto mais tarde, mais oportunidades se perdem pelo efeito que pode haver algum espaço em | Paulo Faustino * |
de substituição de outros produtos jornalísticos. termos de inovação editorial, dando
O problema é que agora - de repente - parece ter chegado menos importância à política. A cultura, educação,
a “febre” dos semanários. Existem vários projectos na for- ciência, saúde, tecnologia e temas úteis para os
ja. Por um lado, o de José António Saraiva; o projecto do cidadãos ainda não estão bem satisfeitas pela oferta
Jorge Vicente Silva e o relançamento do Independente, em semanal e diária existente. Para quem está atento ao sec-
que se admite que a Cofina, indirectamente, possa estar en- tor da comunicação em Portugal, é sempre uma satisfação
volvida. Por outro lado, é necessário ter em conta que exis- ver as dinâmicas que se observam no sector. A OPA na
tem mais semanários: Visão, Focus e Sábado. Em Portugal, Sonaecom, caso vença, irá ter fortes impactos na recon-
observa-se uma situação atípica: temos uma certa tradição figuração do sistema mediático. As reformas de Cavaco
de hábitos de leitura de semanários. Nos mercados de im- Silva nos media foram cruciais para que hoje tenhamos
prensa mais desenvolvidos, a importância dos semanários é um sector mais evoluído e competitivo e para que seja
pouco relevante. Embora admita que haja espaço para um possível o aparecimento de OPA’s. Mesmo algumas críticas
novo semanário (apenas um), não acredito que consiga que surgem pelo facto da RTP não ter sido protegida para
destronar em audiências o Expresso ou chegar lá perto. O enfrentar melhor a concorrência das televisões privadas,
novo semanário poderá, no melhor cenário, chegar a uma hoje não parecem fazer muito sentido. O problema da RTP
circulação média paga na ordem dos 60 a 70 mil exempla- durante anos decorreu, precisamente, do excesso de pro-
res. O que já é relevante para o investimento publicitário na tecção do Estado, o que proporcionou uma má gestão e des-
imprensa generalista. Para chegar a esses valores, para além perdício de recursos. A actual administração tem demons-
da pertinência dos conteúdos, vai ser necessário ter capaci- trado que a RTP pode coexistir num sistema concorrencial
dade financeira para aguentar o projecto que será deficitá- com sucesso. A propósito da evolução do sector dos media,
rio durante algum tempo. Este vai ser um dos pontos críti- Rui Rio, em entrevista nesta edição, realça a importância
cos. Por exemplo, se o Público não estivesse na Sonae - que a concorrência teve para que se constituíssem grupos
agora Sonaecom - já teria desaparecido porque nunca foi com massa crítica empresarial capaz de elevar a qualidade
uma actividade de grande rendibilidade, pelo contrário. dos produtos. Não obstante algumas situações de más práti-
Não havia OPA que o salvasse. Não sendo fácil dar receitas, cas jornalísticas, Rui Rio considera que o jornalismo tem
penso que o novo semanário deverá posicionar-se também actualmente uma qualidade superior ao praticado no pas-
como complementar ao Expresso e às revistas semanais e sado.Um dos temas quentes nos próximos meses vai ser a
diários. Grande parte dos leitores serão os mesmos: o merca- nova entidade reguladora da comunicação. Para já, está cons-
do é pouco elástico e o poder de compra do consumidor tituída a cúpula. Falta ver se a entidade irá ser capaz de reunir
não é propriamente abundante. Outro dos factores críticos bons técnicos que possam apoiar a direcção por forma a
de sucesso do novo semanário dependerá, em parte, da capa- “esbater” as críticas públicas sobre uma nova “politização”.
cidade de apresentar novas perspectivas de abordagens. Também se espera que a ERC consiga desprender-se da
Também existem oportunidades de crescimento junto do tendência portuguesa para uma regulação muito administra-
mercado feminino e dos jovens. O novo semanário terá de tiva e possa estar mais atenta às dinâmicas sociais e económi-
ter em conta estes aspectos. cas do mercado.
No plano ideológico - partidário, terá de ser um jornal * Director
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| Opinião |
Gerir a Inovação
na Aprendizagem
A necessidade de adaptação à mudança é cada vez mais um fiquem, de modo claro, as
requisito para qualquer pessoa. Hoje as Organizações vi- características dos proces-
vem a inevitabilidade de se repensarem e transformarem sos internos de Formação e
em contínuo, reflectindo acerca das suas competências e da Desenvolvimento dos
necessidade permanente de satisfazer e fidelizar clientes, Recursos Humanos e as
procurando diferenciar-se através da inovação em produtos principais diferenças a con-
e métodos/processos. seguir, face a objectivos de | Carlos Reis Marques * |
A inovação decorrente da implementação de Soluções de e- mudança organizacional e
-Learning, no contexto do universo empresarial, aconselha de obtenção de resultados
uma análise atenta das motivações que estão na sua ori- que se pretendem assegurar (Desenvolvimento de
gem, valorizando as potencialidades dessa solução enquan- Competências), estimando-se ainda os custos associados à
to alavanca de desenvolvimento organizacional. Seja por mudança e o retorno esperado; 3 - Identificar as compo-
imperativos de Inovação Tecnológica (Technological Push), nentes da mudança – sendo um processo de mudança ge-
ou pelo constrangimento de responder melhor às necessi- rado pela implementação de uma nova abordagem à pro-
dades colocadas pelo mercado (Market Pull), compete a es- blemática da aprendizagem individual e organizacional,
sas Organizações pensarem estrategicamente e agirem dever-se-á reflectir acerca de possíveis mudanças a operar
criando valor na sua oferta de serviços/produtos. na Cultura relacionada com o Modelo de Aprendizagem
Equacionar a implementação de uma Solução de e- Organizacional e de como as Pessoas (Capital Humano)
-Learning, sugere uma cuidada preparação desse processo acedem à Informação e partilham Conhecimento. As altera-
de mudança em que a Inovação marca presença preponde- ções a introduzir terão reflexos no modo como as Pessoas
rante. Dever-se-á, assim, ponderar acerca de possíveis im- venham a estabelecer novas formas de se relacionarem e de
pactos em termos de Cultura e Aprendizagem se implicarem nos resultados da Organização; 4 -
Organizacional, dos procedimentos relativos à Gestão de Estabelecer estratégias para lidar com a resistência – a resis-
Competências e de Desenvolvimento das Pessoas, assim co- tência tem componentes individuais e organizacionais. Será
mo sobre a Avaliação de Desempenho existente e as altera- útil a colocação em prática de um Programa de Preparação
ções que se venham a decidir. Pensar em e-Learning é tam- para a Mudança dirigido aos colaboradores, mas também a
bém reflectir acerca da Gestão do Conhecimento e das Clientes e Fornecedores, reforçando junto destes a imagem
tomadas de posição que a este nível a Empresa poderá ra- de inovação e desenvolvimento da Organização e gerindo
cionalizar e integrar em práticas internas e na relação com igualmente, desse modo, a expectativa da situação através
parceiros estratégicos, clientes e fornecedores. da disponibilização de informação sobre a iniciativa e o seu
Para gerir um processo de mudança com estas característi- desenrolar.
cas existem alguns procedimentos que devem ser tidos em A preparação consciente das Pessoas para a Mudança e a
consideração: 1 - Identificar e clarificar a(s) necessidade(s) determinação responsável na criação de situações em que
de inovação – perceber em que moldes o imperativo de i- a Inovação, em particular aquela que decorra de incorpo-
novação se prende com a necessidade de melhorar as con- ração tecnológica, sejam vivenciadas como componentes
dições de acesso à Informação e ao Conhecimento, promo- normais da vida das Organizações, revela-se como tarefa
vendo o desenvolvimento organizacional por via da capital em qualquer dinâmica de desenvolvimento orga-
partilha do mesmo e da inclusão de novos saberes na nizacional.
Cadeia de Valor da Organização; 2 - Definir os objectivos a
alcançar, as características e as fases de mudança (Inovação
nos Métodos e Processos) – atendendo à natureza da mu- * Business Manager – Vivere Consulting
dança identificada, será conveniente que se tracem e identi- crmarques@vivere.pt
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| Sociedade Bit |
Choque Frontal
O Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior fez de nova dinâmica económica
publicar recentemente um edital nos mais diversificados e social. A bem da iniciativa, é
órgãos de comunicação social, com o título LIGAR PORTU- preciso que os contextos uni-
GAL, onde se podia ler: versitários e empresariais,
“Promover a ampla apropriação social das tecnologias da bem como o querer indivi-
informação e comunicação, garantir aos cidadãos e às insti- dual de todos nós, estejam tão
tuições localizadas em qualquer ponto do território nacio- bem posicionados como um
nal o acesso à Internet e a serviços avançados em banda lar- exército que vai entrar numa
ga, e estimular a oferta de conteúdos de interesse público batalha e tem a convicção dos | Reginaldo de Almeida* |
na Internet constituem objectivos estruturantes da iniciati- vencedores e dos grandes
va LIGAR PORTUGAL, um dos vectores estratégicos do conquistadores quanto ao calcorrear das auto-estradas do
Plano Tecnológico.... “ futuro, de forma triunfal.
Este edital pôde também ser lido nos dias em que o “bom O Plano Tecnológico, para lá das duas palavras que o com-
samaritano”, o mediático e multimilionário Bill Gates visi- põem, tem que ser encarado na sua globalidade e tem que
tou o nosso país, participando no Microsoft Government ir muito para lá da disseminação da banda larga nas esco-
Leaders Forum Europe 2006, depois de um aceso despique las, por maior importância que esta medida tenha (e tem!)
entre as diplomacias portuguesa e austríaca que conseguiu fi- nos Alentejos profundos: tem que ser algo que esteja pre-
xar o encontro em Portugal. Estamos, indubitavelmente, de sente nos nossos quotidianos em formato de rede e conver-
parabéns. Todos nós, sem excepção, apesar dos juízos críticos gência, ou seja, da partilha de informação e de recursos, da
e vozes detractoras daqueles que apesar de nada fazerem pre- distribuição de competências, do aumentar a proximidade
tendem ainda que nada se faça, como se a gestão da confli- entre todas as comunidades de aprendizagem, as empresas
tualidade pudesse presidir ao desenvolvimento social... e instituições diversas, sem obviamente esquecer a
Dia que assinalou também a viagem de significativa comiti- Administração Pública.
va de responsáveis políticos, chefiada pelo próprio primei- Só dessa forma conseguiremos usufruir das mais-valias que
ro-ministro, à Escola Básica da Oriola, no concelho de a tecnologia e a ciência em geral colocam ao nosso alcance
Portel e ali se consagrou o fechar do ciclo verdadeiramente pois, não é o computador em si que nos dá a optimização
virtuoso da entrada da rede pública de escolas na chama- da qualidade de vida que pretendemos desenvolver, mas
da Internet de banda larga, precisamente uma das princi- sim o facto de estarmos verdadeiramente sintonizados, em
pais metas desde sempre anunciadas pelo denominado plena cultura digital.
Plano Tecnológico, mostrando que o semblante da As estruturas da macro decisão devem criar uma verdadeira
Estratégia de Lisboa está bem vivo e recomenda-se. cosmética de conteúdos, torná-los apelativos, incrementa-
Porém, nunca será de mais realçar que a iniciativa não deve rem experiências persuasivas com públicos tradicional-
nem pode ser só governamental e os renovados programas mente excluídos tais como os mais velhos ou mesmo as
de fomento à criação de novos negócios, no âmbito do denominadas donas de casa. É certo que já é significativo
Programa Operacional Sociedade do Conhecimento e da que exista generalizada e salutar preocupação com a temá-
Nova Economia em geral, têm obrigatoriamente de contar tica, coisa que até há bem pouco tempo, não existia.
com a participação conjugada, sólida e firme, dos mais va- Contudo é uma matéria que nunca se pode dar por conclu-
riados interesses, ou seja, a robustez das políticas públicas ída pois a Inovação é a única arma de arremesso que per-
só produzirão verdadeiras e úteis consequências para os ci- mite encarar com confiança o progresso ao mesmo tempo
dadãos quando apoiadas, mesmo misturadas, com as ini- que vamos debelando, geração após geração, o enervante
ciativas privadas. fosso digital.
Por outro lado, apesar de sabermos que podemos continuar
a receber a dotação de fundos europeus devemos ir buscar * Reginaldo Rodrigues de Almeida
as lições do passado recente e relembrar que essas verbas, Professor Universitário
venham lá de onde vierem não são só por si reprodutivas sociedadebit@sociedadebit.com
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A segunda idade da
convergência
Com a entrada de novas empresas no sector dos media, as necessidades de
regulação e convergência também se alteraram. Entidades reguladores
enfrentam agora uma tarefa complexa | Por Carla Martins e Vanda Ferreira |
Numa retrospectiva crítica da história “No frenesim negocial em curso, o con- Em 2001, o Governo, por determinação
recente do sector dos media em texto é claro: as empresas detentoras dos dos então ministros da Presidência e do
Portugal, Fernando Correia identifica o novos canais de circulação precisam de Equipamento Social, lançou a Iniciativa
ano 2000 como um ano de viragem sob ter algo para distribuir, e as produtoras Convergência e Regulação, conduzida pe-
o signo da “nova economia”. Em necessitam de veículos de distribuição... lo Instituto da Comunicação Social e pela
“Jornalismo, Grupos Económicos e Cada parte joga os trunfos que tem”, es- Autoridade Nacional das Comunicações.
Democracia”, o professor universitário creve Correia. O objectivo consistia em dotar o
sublinha como factores de mudança a Representativa deste “frenesim” é a en- Executivo “de instrumentos de análise
entrada nos media de empresas de ou- trada da PT no sector dos media. A ca- que lhe permitam definir uma orienta-
tros sectores de actividade, a consolida- racterização como grupo multimédia ção estratégica para o desenvolvimento
ção da Internet e a progressiva conver- decorreu da compra da Lusomundo ao dos sectores do audiovisual e das tele-
gência entre telecomunicações, coronel Luís Silva, em 2000, pela PT comunicações num ambiente de con-
tecnologias da informação e audiovisual. Multimédia. A PTM, constituída em vergência tecnológica”. Esta orientação
Em 2000, empresas e grupos movem-se 1999, detinha 91 por cento do mercado estratégica deveria equilibrar-se com a
em nome de um novo paradigma: mais da televisão por subscrição (cabo e saté- salvaguarda de princípios de interesse
do que verem isoladamente cada me- lite), e controlava ainda o maior portal geral como a garantia do acesso uni-
dium, preso às suas especificidades tec- português, o Sapo.pt. versal ou a promoção da diversidade e
nológicas e enunciativas, com as suas Segundo Elsa Costa e Silva, no livro do pluralismo.
potencialidades de comercialização, im- “Concentração da propriedade dos Um grupo de reflexão, constituído no
portava-lhes relacionar, numa geometria meios de comunicação social em âmbito desta iniciativa, considerou então
variável, “redes” e “conteúdos”. Portugal”,a entrada da holding nos con- que “a convergência aconselha a não se-
Os processos de digitalização, o novo teúdos respondeu “às tendências verifi- paração orgânica da regulação de conteú-
mundo da Internet, a gradual transfor- cadas a nível mundial”, nomeadamente, dos da regulação das redes e dos acessos,
mação dos telemóveis em aparelhos a fusão AOL / Time Warner, a constitui- podendo uma entidade única ser respon-
multimédia e multiserviços, a promessa ção da Vivendi Universal e as aquisições sável pela regulação das duas realidades,
da televisão e da rádio digitais, o con- da Telefónica. apesar dos interesses e dos valores diver-
texto internacional de mega-operações gentes que presidem a cada uma”.
de fusão intersectorial suportavam o en- | O modelo inglês | O mesmo conjunto de personalidades
tusiasmo. As empresas e grupos actuantes nos sec- – entre as quais se incluíam Diana
Em Maio de 2000, recorda Fernando tores dos media e das comunicações Andringa, Diogo Lucena, Raul
Correia, a Sonae.com publica um anún- electrónicas procuraram adaptar-se ao Junqueiro, Artur Castro Neves, Manuel
cio em que se publicitam, em conjunto, contexto de acelerada mutação tecnoló- Pedroso de Lima, Paulo Azevedo – de-
“Público”, Optimus, Clix, Novis – “tele- gica e de globalização dos mercados, fendeu a existência de um regulador
comunicações, internet e conteúdos” é designadamente, reforçando operações único a nível nacional para as indús-
mote da campanha. Outro anúncio do de concentração horizontal e vertical. trias da convergência, agregando com-
mesmo ano, da Impresa, expressava a Perante este dinamismo, importava an- petências dispersas por vários organis-
“comunicação com conteúdo” como fi- tever desenvolvimentos e prover formas mos, e sublinhou “a possível
losofia do grupo. de intervenção regulatórias adequadas. necessidade de uma regulação interna-
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Casa da Imagem
cional para certos serviços”, como a dades. Ao abrigo do Competition Act representaram perdas de milhões. Em
Internet. Na mesma altura, no Reino 1998, tem ainda poder de jurisdição Portugal, a PT acabou por vender a
Unido, estava em marcha o processo de em matéria de concorrência relativa- Lusomundo. No entanto, a convergên-
constituição do OFCOM – Office of mente a todas as questões atinentes às cia é imparável. As tecnologias digitais,
Communications. No termo deste pro- comunicações, em parceria com o a Internet, novas gerações de telemó-
cesso, passaram para a alçada deste novo Office of Fair Trading. veis, a transição para a televisão digital,
órgão as competências e atribuições dos A instabilidade política em Portugal e a o aproveitamento para múltiplos servi-
cinco reguladores dos media e das comu- necessidade de revisão constitucional pa- ços das redes de distribuição mostram
nicações – Independent Television ra extinguir a Alta Autoridade para a isso mesmo.
Commission (ITC), Broadcasting Comunicação Social explicam a lentidão Recentemente, numa conferência na
Standard Commission (BSC), Radio no processo de criação da Entidade Universidade Lusófona, Francisco Pinto
Authority, Radiocommunications Agency Reguladora da Comunicação Social Balsemão, presidente da Impresa, salien-
e Office of Telecommunications (Oftel). (ERCS). Prevaleceu, por fim, a tese de tava como uma inevitabilidade no sector
Através da concentração de responsabili- que sectores distintos, com diferentes a emergência de novos concorrentes,
dades, o Office of Communications tem culturas e modelos de actuação, reco- novos conteúdos, novos media, novos
agora poderes regulatórios sobre as co- mendam distintas entidades reguladoras. modelos de negócio.
municações electrónicas (redes e servi- E as entidades reguladoras têm nas mãos
ços), broadcasting (licenciamento, ser- | Articulação entre reguladores | a complexa tarefa de lidar com esta pro-
viço público de radiodifusão, Volvidos alguns anos de distância, de gressiva integração de redes, equipa-
programação e publicidade) e gestão do experiência e de conhecimento, os in- mentos, serviços, mercados e empresas.
espectro radioeléctrico. vestimentos estimulados pelo fenóme- Para o efeito, a lei que estabelece a ERC
Especificamente na área da regulação no convergência são rodeados da maior (n.º 53/2005, de 8 de Novembro) pre-
dos conteúdos, o OFCOM dispõe de prudência e sangue frio. Algumas me- vê precisamente a articulação com a
um content board, que aconselha sobre ga-associações entre empresas de tele- ANACOM e a Autoridade da
a regulação dos conteúdos nos diferen- comunicações, tecnologias da informa- Concorrência.
tes mercados em que tem responsabili- ção e media foram desastrosas e
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Novas tecnologias
incentivam convergência
A convergência exprime a possibilidade de interligação de infra-estruturas,
plataformas e serviços de troca de informação, a criação de redes e a
exploração de conteúdos e serviços multimédia, difundindo-os através de uma
diversidade de plataformas | Por Carla Martins e Vanda Ferreira |
O conceito de convergência entrou no de diferentes empresas e serviços reme- cia: de agregador a difusor de dados,
vocabulário dos sectores da comunica- tem para a exploração de sinergias entre passando pelo seu processamento, até à
ção no final dos anos 90. Com ele che- empresas de diversas áreas. O resultado ligação a outros operadores e serviços;
gou uma maior complexidade na oferta final é um conjunto de conteúdos e a rádio, televisão, fax e telefone. O mesmo
das empresas de comunicação e uma possibilidade de os comunicar a partir se passa com o telemóvel, que começou
maior facilidade na ligação entre os pú- de qualquer lado, a qualquer hora, diri- por ser um telefone transportável de e
blicos a quem se dirige. gidos para os mercados segmentados para o carro, com uma agenda telefóni-
Ao nível dos equipamentos, a conver- em função dos públicos-alvo. ca e uma lista de tarefas, até que se tor-
gência significa a reunião de imagem, O computador é o melhor exemplo de nou num potencial infinito; uma má-
som, vídeo, voz e dados. Ao nível em- um objecto quotidiano que foi agregan- quina fotográfica ou uma televisão
presarial, a ligação e exploração cruzada do funções num sentido de convergên- móvel.
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N. Silva
novas oportunidades de negócio resul- ras em ambiente de redes múltiplas. gal europeu de 1998, essas redes devem
tantes da banda larga. Os operadores de redes de comunicação ser estabelecidas em defesa dos princí-
A interconectividade entre redes de in- públicos da União Europeia têm o direi- pios da transparência, da não-discrimi-
formação e comunicação abrange o to e o dever de negociar a interligação nação e consideração dos custos, bem
mundo físico e as ligações entre estrutu- entre eles. De acordo com o quadro le- como da publicação de uma Oferta de
Interligação de Referência, de
que devem constar os termos
e as condições relevantes.
O acesso é um conceito gené-
rico relativo a qualquer situa-
ção em que uma parte tem o
direito de usar a rede ou as
instalações de outra, em ter-
mos exclusivos ou numa base
de partilha de estruturas. A in-
terconectividade é uma forma
especial de acesso, de acordo
com a Directiva respectiva. Os
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predomínio do mercado.
Um dos mais recentes
casos de convergência
entre tecnologias e plata-
formas é a IPTV – a tele-
visão através da rede
Internet. A nível mun-
dial, existem hoje mais
de dois milhões de subs-
reguladores nacionais terão que respon- nova oferta e criação de necessidades de critores de serviços de IPTV. Das 40
der a questões como “quem fornece o procura de serviços, as redes transfor- maiores empresas globais de comunica-
acesso?”, “a que serviços?” e “por que mar-se-ão para corresponder-lhes. ção, 35 estão envolvidas em projectos de
preços”? no contexto de criação de uma Dentro deste modelo, o mercado das IPTV. As receitas esperadas deverão atin-
nova indústria. comunicações será cada vez mais uma gir os sete mil milhões de dólares em
A interconectividade de redes não ga- rede de sistemas, por sua vez ligados em 2007. A expansão do serviço assenta no
rante a interoperacionalidade dos servi- rede. Operadores de telecomunicações, potencial da televisão unida à Internet.
ços permitidos por essas redes electróni- fornecedores de conteúdos, produtores Há problemas previstos para esta nova
cas de comunicação (infra-estruturas e de equipamentos, vendedores de infra- área da convergência, nomeadamente, a
serviços electrónicos de comunicação estruturas e instituições responsáveis pe- complexidade do modelo de negócio, a
associados). A interoperacionalidade úl- la regulação e padronização serão os no- necessidade de negociar os conteúdos
tima implica a utilização de protocolos e vos parceiros nos mercados dos media, desejados pelos públicos a um preço
padrões ou a definição de funções de conteúdos, entretenimento tecnologias acessível e a segmentação precisa em
conversão capazes de gerirem as relações de informação e comunicação. função dos consumidores. A transforma-
entre os diferentes sistemas e a oportu- Em termos da cadeia de valor da indús- ção da estrutura de relações institucio-
nidade de escolha livre entre os diferen- tria das comunicações, os constrangi- nais e face aos mercados estabelecidos
tes utilizadores. A sua promoção é da mentos ao livre funcionamento do mer- trás novas dinâmicas a gerir pelos agen-
responsabilidade dos Estados membros. cado poderão ser o fechamento a novas tes do sector e pelo regulador.
entradas por parte de uma empresa com Em Portugal, a Sonae.com manifestou
| Os mercados | maior parcela do mercado, ou detentora interesse em lançar um serviço de IPTV,
A convergência cria também novos de uma rede, de conhecimentos, tecno- com uma oferta de cerca de 100 canais
equilíbrios no mercado. A mesma tec- logias, padrões e conteúdos generaliza- até ao final de 2006. O projecto do gru-
nologia que cria e incrementa a conver- dos. Também a posse dos direitos de ex- po de Belmiro de Azevedo denunciou o
gência, promove também a segmenta- ploração de um determinado que considera ser um bloqueio ao des-
ção do mercado e o desenvolvimento de equipamento ou convenção, por parte envolvimento do seu novo negócio; a
serviços para público-nicho. de uma empresa de tecnologias de in- recusa da Portugal Telecom em disponi-
O contexto de convergência dos sectores formação, pode criar uma situação de bilizar os conteúdos dos canais Sport TV,
da comunicação e da informação
faz com que a tendência dos mer-
cados seja para o estabelecimento
de parcerias entre operadores, for-
necedores e produtores de conteú-
dos. Em consequência, surgirá
uma nova arquitectura e um novo
modelo de negócio direccionada
para a oferta de serviços móveis,
fixos e empresariais, baseados em
redes, a preços cada vez mais re-
duzidos e acessíveis a partir de
qualquer local “ligado”. A cada
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Casa da Imagem
Lusomundo Action e Lusomundo conluios de factores produtivos, por au- que dá pelo nome de i2010. O docu-
Premium, até agora só acessíveis através xílios do Estado, pelo bloqueamento do mento é na verdade um programa de re-
do cabo e (já vendidos às operadoras mercado, pela restrição da liberdade de formas em que são definidas as linhas de
Cabovisão, TVTel e Braga Tel). A situação acesso de novos concorrentes e pelos orientação estratégica para as empresas
levou a Sonaecom a apresentar queixa bloqueios à inovação. de informação, comunicação e média.
na Autoridade da Concorrência. Em favor da concorrência, o regulador Nos anos mais recentes, a indústria an-
A Sonaecom tem presença em 80 cen- deve garantir condições de interopera- tecipou-se ao mercado e tem sido na se-
trais, das quais 34 possuem ADSL2. cionalidade entre as tecnologias e o quência da oferta de novas potencialida-
Actualmente a Sonaecom possui 20 mil acesso e funcionamento livre dos opera- des técnicas que as empresas procuram
clientes activos com serviço de voz e in- dores nas redes, nomeadamente através estabelecer parcerias para a oferta de
ternet instalados.Com base na sua rede, de plataformas abertas.Também a gestão serviços integrados.
a Sonaecom antecipou a intenção de in- dos direitos digitais (DRM Digital Rights Num mercado liberalizado, a definição
vestimento numa rede para servir conte- Management) deve ser uma preocupa- dos termos e das condições da interco-
údos televisivos/vídeo, Internet e telefo- ção do regulador, na medida em que nectividade das redes compete aos ope-
ne por cabo. Para já, este último serviço envolve o equilíbrio da convergência radores e aos reguladores respectivos
é por enquanto apenas uma hipótese di- num ambiente de redes de transmissão, (audiovisual, telecomunicações, conteú-
vulgada pelos responsáveis da Sonae conteúdos e software. dos, nos casos aplicáveis), ou a uma ins-
através da comunicação social. Para promover a competitividade da tituição responsável pela harmonia da
Alguns dos principais bloqueios gerados economia europeia, baseada na inovação convergência.
pela convergência resultam de situações e no conhecimento e portanto impli-
de redução da concorrência, entre ou- cando a construção de uma Sociedade | Regulação Internacional |
tras, pela subsidiação cruzada, pelos de Informação de acesso pleno, os No contexto europeu, o tipo de entida-
abusos de posição dominante, pelos Estados-membros assinaram o programa de de regulação dos media mais comum
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mendações ao Governo.
A regulação das entidades emissoras
de radiodifusão é geralmente exercida
na Europa por autoridades administra-
tivas de Estado ou pelos Tribunais (em
matérias relativas à protecção dos di-
reitos fundamentais). A principal ca-
racterística das organizações europeias
de regulação é a de serem autoridades
independentes da Administração de
é a instituição única encarregue dos au- tuições autónomas encarregues, respec- Estado (face aos governos) e caracteriza-
diovisuais e, por vezes, do sector das te- tivamente, da regulação do audiovisual da pela utilização exclusiva dos recursos
lecomunicações, enquanto a imprensa é (rádio, televisão, cabo, Internet), im- em proveito da sua missão. Só no
supervisionada por um organismo autó- prensa e telecomunicações. Luxemburgo é que a regulação dos mé-
nomo. Em conjunto, são responsáveis Tal modelo de regulação corresponde ao dia é uma responsabilidade do Governo.
pela implementação e cumprimento actual panorama de convergência dos As suas competências, nomeadamente
harmonioso das normas comunitárias e meios, à natureza das redes, às situações nos sectores do audiovisual, incluem a
das legislações nacionais. de propriedade cruzada de empresas de coordenação da actividade dos emisso-
Desde o início do século XXI e cada vez média e à necessidade de gestão de con- res licenciados, sendo responsáveis por
mais, as instâncias de regulação a nível teúdos integrados. No contexto interna- garantir o respeito pelas obrigações le-
internacional procuram responder a um cional, as entidades de regulação do au- gais e por aplicar sanções nos casos de
contexto de convergência dos meios, diovisual zelam na maior parte dos casos incumprimento. Nos países em que o
tendo em conta a criação de novos mer- pelo cumprimento de directivas comuni- Estado assume um papel mais interven-
cados e as modalidades de consu-
mo promovidas pelas redes de in-
formação e comunicação. Deste
modo, as entidades encarregues
da regulação integram competên-
cias dirigidas aos vários meios e a
plataformas integradas.
Na Europa, há uma tendência pa-
ra a unificação de entidades de regula- tárias em harmonia com as nacionais. tivo, às funções de regulação do finan-
ção do audiovisual (Rádio, televisão, ca- A ENPA, European Platform of ciamento das empresas de radiodifusão
bo) e telecomunicações, como acontece, Regulatory Authorities, identifica três públicas, juntam-se a organização e co-
por exemplo, em Itália (Autorità per le categorias de poderes para caracterizar ordenação do sector.
Garanzie delle Comunicazioni). O Reino as entidades de regulação do Velho Na maioria dos países europeus, o sur-
Unido (OFCOM) e a Áustria Continente: a administração pública do gimento das autoridades de regulação
(KommAustria) adoptaram pelo seu la- sector de radiodifusão (concessão de li- independentes coincidiu com o declínio
do entidades reguladoras da convergên- cenças); a supervisão do cumprimento dos monopólios dos serviços públicos
cia (englobando o audiovisual – rádio e de regras e quotas para conteúdos e a de radiodifusão, nos anos 80 e com a
televisão - e as telecomunicações), sen- promoção de acordos de auto-regulação multiplicação de operadores e serviços
do que em Inglaterra a nova entidade (i.e. códigos de conduta, normas deon- em mercados do audiovisual e das tele-
agregou poderes até então dispersos por tológicas, etc.). comunicações liberalizados. Em países
cinco instituições reguladoras das rádios Novamente, os poderes das autoridades como a Alemanha ou o Reino Unido, os
e televisões. de regulação diferem em função das es- reguladores e as empresas encarregues do
Na maioria dos países europeus, contu- pecificidades nacionais. Por exemplo, cumprimento dos serviços públicos de
do, e tal como acontece em Portugal, a muitas entidades de regulação dos mé- radiodifusão assumem desde esse mo-
regra é a da separação das competências dia têm poder de concessão de licenças, mento compromissos de auto-regulação.
em função dos sectores, através de insti- mas alguns podem apenas dirigir reco- A maioria das entidades reguladoras da
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de euros, vindos do Orçamento de SJ endereçou nova bra de “uma garantia constitucional es-
Estado (verba anteriormente destinada à missiva a Jorge truturante da vida democrática e da pró-
AACS) a que se juntam (até 30 dias de- Sampaio, pe- pria liberdade, ao impedir a designação
pois da sua entrada em funcionamento) dindo que para a ERC de pessoas que tenham sido
perto de 700 mil euros. As formas adi- não promul- membros os órgãos de associações sin-
cionais de financiamento têm merecido gasse a lei da dicais ou patronais nos dois anos ante-
críticas por parte dos meios, dado advi- entidade regu- riores”, e ainda a proibição de exerce-
rem de taxas cobradas às entidades re- ladora, com ba- rem essas mesmas funções nos dois
guladas. Em termos de financiamento, se no que consi- anos seguintes ao seu mandato. O SJ,
a proposta da tutela faz depen- derou ser a que sempre se mostrou crítico por não
der as verbas da ERC da que- ser consultado em sede de especialidade
dotação orçamental e sobre o conteúdo do diploma da ERC,
criação de taxas de re- tentou também adiar a votação dos seus
gulação. Março é o membros, mas a pretensão foi gorada.
mês escolhido para Apesar do atraso em relação ao estipula-
a entrada em fun- do previamente pela tutela, devido à ne-
ções da entidade. gociação dos nomes a fazer parte do
Comparada com Conselho Regulador, entre PS e PSD, os
a AACS, a ERC irá quatros nomes dos conselheiros seriam
ter poderes mais aprovados com os necessários dois ter-
abrangentes, com ços dos votos. PS, PSD e CDS/PP vota-
uma área de ac- ram favoravelmente, cabendo ao PCP e o
tuação extensível Bloco de Esquerda os votos contrários.
ao campo da pu- A primeira prova de fogo da ERC serão
blicidade e dos as licenças de televisão. Em Setembro, já
novos suportes com os processos de renovação das li-
tecnológicos. cenças de emissão das televisões priva-
das SIC e TVI, Artur Portela, da AACS, re-
| Sindicato pediu despar- nunciou ao seu cargo em protesto com
tidarização da ERC | o que considerou ser uma pressão do
“Nenhuma regulação será Governo sobre o método utilizado para
efectivamente eficaz e res- analisar os pedidos. Augusto Santos Silva
peitada se não exprimir ver- reuniu-se com Artur Portela, conside-
dadeiramente a diversidade rando o membro da AACS esta uma me-
da comunidade que serve e dida inadequada por parte de um mem-
se não convocar efectiva- bro do Governo, relativamente a um
mente o sector para as tare- órgão regulador independente.
fas de regulação. Muito Tanto a SIC como a TVI discordam da
menos se libertará do interpretação do processo, feita pela
anátema do controlo político AACS. A estação de Carnaxide apresen-
se a sua composição não for tou mesmo um processo judicial contra
despolitizada”, referia o a entidade, onde pede que lhe seja re-
Sindicato dos Jornalistas (SJ), conhecida a renovação imediata da li-
em missiva dirigida a Augusto cença, argumentando que o órgão dei-
Santos Silva, partidos com as- xou passar prazo-limite para tomar uma
Luís Filipe Maia
D.R.
Glosava à Media XXI Augusto
Santos Silva, em Junho passa-
do: “Das duas últimas vezes
que entrou uma autorização
legislativa na AR para ser alte-
rada, o Governo caiu. (…)
Digo por brincadeira que, se
há compromisso firme que
tenho, é que vou dispensar-
-me de uma proposta de alte-
ração legislativa, apresento lo-
go a proposta de lei, para evi-
tar o ditado português”. A lei
da rádio seria mesmo aprovada, a 19 de O texto da lei votado define como mú- tes” ou outras que “não veiculando a
Janeiro, com a abstenção da bancada so- sica portuguesa as “composições musi- língua portuguesa por razões associadas
cial-democrata e os votos a favor das res- cais que veiculem a língua portuguesa à natureza dos géneros musicais pratica-
tantes. A nível formal, as principais altera- ou reflictam o património cultural por- dos, representem uma contribuição para
ções da lei relacionaram-se com as quotas tuguês, inspirando-se nomeadamente, a cultura portuguesa”.
mínimas de música portuguesa a ser nas suas tradições, ambientes ou sonori- A nova lei da rádio mereceu críticas por
transmitida nas rádios portuguesas, e que dades características, seja qual for a na- parte da Associação Portuguesa de
pode variar entre os 25 e 40 por cento. cionalidade dos seus autores e intérpre- Radiodifusão (APR), que apresentou à
tutela uma versão própria da lei da rá-
Pedro Mota Soares – CDS/PP dio, onde pontificavam várias altera-
ções, como uma quota de 15 por cen-
Adiantando que “no caso da comunicação social”, cabe ao Estado o “cum- to para a música portuguesa.
primento das regras essenciais a um mercado livre”, a “salvaguarda de direi- Em comunicado, José Faustino, presi-
tos como a liberdade de informação” ou “a protecção dos públicos sensíveis dente da APR criticou o facto de se
e desprotegidos”, Pedro Mota Soares considera que a “AACS nunca foi capaz proceder à alteração da lei apenas com
de assegurar estas funções”. Por esse motivo, o CDS/PP, na revisão constitu- o intuito de indicar quotas de música
cional, “propôs a substituição da AACS (…) por uma nova autoridade admi- portuguesa a transmitir, perdendo-se
nistrativa”. “Não estamos arrependidos”, prossegue o deputado. “Nesse sen- a oportunidade de fazer “todas as alte-
tido, apoiamos a criação da ERC”, diz. A designação dos reguladores já rações de uma só vez, bem feitas e
merece reservas da parte de Pedro Mota Soares, que assim lança uma adver- duráveis por muito tempo”.
tência: “Estaremos muito atentos ao seu desempenho”. Considerando que a alteração da le-
Para o deputado, a criação da ERC e designação dos seus membros “tardou gislação sucedeu “a pedido da indús-
muito”, e questões “como a renovação das licenças deveriam ter sido prepa- tria fonográfica”, o presidente da APR
radas na totalidade por esta entidade”. sempre defendeu uma lei que abran-
Fazendo uma análise à actuação de Augusto Santos Silva, Pedro Mota Soares gesse todas as vertentes da radiodifu-
refere que o PP ainda está na “expectativa”, devido à falta de informações são em Portugal.
fornecidas pela tutela sobre possíveis alterações à lei da rádio e da televisão,
o que o deputado considera “criticável”. | Do provedor dos ouvintes ao Estatuto do
Sobre todo o desenrolar do processo de renovação das licenças de televisão, Jornalista |
Pedro Mota Soares define-o como “desastroso para o Governo”, tendo “afec- Augusto Santos Silva também preten-
tado a credibilidade do sector”, colocando mesmo em causa a relação cons- de alterar o Estatuto do Jornalista. Em
titucional entre Governo e Presidente da República, por Jorge Sampaio ter si- Junho, à Media XXI, o ministro pro-
do “sido forçado a devolver um projecto manifestamente mal preparado”. punha-se a esclarecer três situações:
“primeira, aquela que consagra que
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A Sociedade de
Informação em Portugal
1) Quais os principais entraves actuais à prossecução de uma verdadeira
Sociedade da Informação em Portugal?
texto que facilite a ultrapassagem de al- Mas o papel do sector privado é decisivo
gumas barreiras ao maior desenvolvi- no apoio e reforço das linhas orientado-
mento da SI: criar um ambiente de exi- ras do Plano Tecnológico.
gência e qualidade no nosso sistema de
ensino, dando prioridade aos níveis etá-
rios mais baixos;Apoiar a qualificação dos
trabalhadores nas áreas tecnológicas das
TIC (começando pela Administração
Pública central e autárquica); Divulgar
boas práticas do uso das TIC por todos os
| Pedro Veiga | meios, em especial através dos meios de
Presidente da Fundação para a Computação comunicação ainda detidos pelo Estado,
Científica Nacional por exemplo; Criar um ambiente econó-
mico que estimule a concorrência no sec-
1) O baixo nível de literacia dos portu- tor das telecomunicações (e investindo na | Luis Borges Gouveia |
gueses, que dificulta a sua inserção nu- criação de alguns tipos de infra-estruturas Professor Associado da Faculdade de Ciência
ma sociedade em que a capacidade de se esta concorrência estiver em perigo – e Tecnologia da Universidade Fernando
produzir conhecimento útil a partir do por exemplo, criando redes de condutas Pessoa
acesso e selecção da informação, é um que sejam abertas a todos os operadores (http://lmbg.blogspot.com - lmbg@ufp.pt)
aspecto chave. O nível de vida baixo para instalação de cabos).
também dificulta o acesso aos equipa- 1) A Sociedade da Informação (SI) pode
mentos e aos serviços da sociedade da 3) Pode, na medida em que aponta al- ser caracterizada por três aspectos essen-
informação. gumas linhas prioritárias de intervenção ciais: (1) a grande importância do recurso
que são importantes vectores para a di- informação e de esta estar predominante-
2) Deve contribuir para criar um con- namização da Sociedade da Informação. mente em formato digital (facilmente uti-
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lizável, transportável e convertível); (2) o alização muito para além do visível. E gabinete e ainda mais se se tomar a ten-
uso intensivo de tecnologias de informa- são essencialmente desafios de mudan- tação de produzir um plano que seja um
ção e comunicação – TIC (em especial ça, os desafios que se colocam. livro de receitas ou um conjunto de me-
computadores e redes e num número didas que sejam tomadas, independen-
crescente de dispositivos do dia a dia que 2) O poder político nos seus diversos temente dos contextos particulares dos
incorporam computadores e redes); e (3) planos ao nível de intervenção do terri- territórios torna-se muito difícil poten-
a predominância da organização em rede, tório deve prover as condições para a ciar e obter valor do investimento reali-
quer para as relações entre indivíduos, qualificação e incremento de compe- zado. Quero crer que não é o caso.
quer nas empresas e demais formas de or- tências, investindo em mais rigor e li-
ganização da nossa sociedade. Estas carac- berdade de acção. À primeira vista po- 3) O plano tecnológico é em si impor-
terísticas são válidas à escala global, alte- de parecer contraditório, mas tal não é tante, pois retoma a preocupação de
rando o nosso sentido de limites o caso. A tentação de controlo e dirigir governos anteriores para com a socie-
geográficos. Um dos efeitos da globaliza- a evolução é muito grande e uma tradi- dade da informação. Possui, no entan-
ção (companheiro inseparável da SI) é ção das políticas europeias associadas à to, alguns dos potenciais riscos que fo-
que não existe verdadeiramente diferença SI. Embora pelo discurso estas políticas ram já referidos. Uma excessiva ênfase
entre falar da sociedade da informação no se centrem muito nas preocupações em meios tecnológicos apenas vem
mundo ou em Portugal. Vivemos assim com o social, muito pouco tem sido tornar mais visíveis os problemas senti-
um novo mundo no antigo, em que a feito além da criação de infra-estrutu- dos pelas pessoas (esta parece ser uma
mudança de atitudes e comportamentos é ras tecnológicas que consomem avulta- maior preocupação em relação a planos
fundamental. Tanto para fazer face à glo- dos investimentos que nunca são ver- anteriores). A perspectiva do território
balização como para tirar partido das ca- dadeiramente recuperados, quer pelo continua distante e muitas das preocu-
pacidades locais existem inúmeros desa- efeito da própria evolução tecnológica pações já referidas pelo grupo de alto
fios a vencer. que tem sido muito acelerada, quer pe- nível da APDSI parecem ser bastante re-
Os principais entraves são vencer os la desadequação das tecnologias aos levantes, principalmente no que toca
problemas de qualificação (de forma a seus potenciais utilizadores. O poder ao estabelecimento de prioridades, ao
incrementar a responsabilização e cida- político mais do que emitir planos de retorno a medidas fechadas e com pro-
dania de todos nós) e a falta de compe- maior ou menor detalhe deveria deixar visão financeira pouco clara, ou mes-
tências (para assegurar o conhecimento à sociedade civil o desenvolvimento e mo ao simples facto de as medidas
que leve a uma acção efectiva, quer efi- exploração das suas propostas de valor, enunciadas nos seus três eixos possuí-
caz, quer eficiente). Até muito recente- provendo uma visão unificadora e as rem diferentes níveis de abstracção, de
mente, o investimento em qualificação balizas para esse tipo de acção. realização e, mesmo de verificação, tor-
era suficiente, mas actualmente, pelo Responsabilizando e delegando em ca- nando o controlo do plano no seu glo-
efeito acelerado da mudança, que im- da região, de forma a preservar valores bal, difícil e caro (uma tradição euro-
põe taxas de renovação do conheci- identitários e culturais que se pode- peia, em que se gasta quase tanto no
mento extremamente altas (implica riam explorar no contexto da SI, o pa- controlo e nas questões administrativas
que o que hoje se aprende apenas é vá- pel mais importante do poder político como no terreno, na acção).
lido por um curso período de anos), seria o de estabelecer metas estratégicas No entanto, o efeito de comunicação e
leva a que seja necessário criar dinâmi- e orientadoras para uma acção do estado de mobilização nacional que este tipo
cas sociais e investir em pessoas mais como regulador e não como actor prin- de plano pode proporcionar, torna-o
do que nunca. cipal, indutor de boas práticas e não co- desde logo um vencedor, porque trás
Apesar de tudo, fica mais barato que in- mo elemento bloqueador de iniciativas para a ordem do dia a discussão de te-
vestir em tecnologia e acaba por ter um e tomando em especial a administração mas como o co-nhecimento, a inova-
efeito mais sustentado num dado terri- pública central e local como primeiros ção, a globalização e o valor dos nossos
tório. É claro que o desafio da qualifica- exemplos do uso de TIC para “empur- recursos humanos para primeiro plano.
ção e incremento das competências para rar” a sociedade civil rumo à SI. Importa agora discutir e fixar a estraté-
a sociedade da informação é um desafio No plano nacional e local existem inte- gia que assegure as prioridades para es-
grande, moroso e difícil. Mas atenção! resses e necessidades a colmatar que em te ciclo político (indicando o que tem
Um povo que emigra, um povo de diás- si proporcionam tensões difíceis de re- de ser feito, o que pode ser feito e
pora, tem capacidade de adaptação e re- solver e conciliar. Numa perspectiva de aquilo que não havendo recursos não
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será feito) e ter a coragem de levar essa cidadania enquanto membros de uma -nos potencialmente a todos em igual-
estratégia a diante. comunidade territorial, cultural e lin- dade de circunstâncias, mas esta evolu-
guística. Muitas vezes somos capazes de ção ainda é apenas para alguns e depen-
nos abrir para o mundo, mas somos in- de sobretudo da capacidade que cada
capazes de resolver os problemas na país tem para planear e arquitectar o
nossa vizinhança. futuro de forma clara e concertada.
Infelizmente o Plano Tecnológico ainda
2) As tecnologias da informação e co- não é suficientemente mobilizador para
municação são sem dúvida um meio metas concretas e ainda não constitui
para o exercício de uma cidadania mais um verdadeiro quadro de referência pa-
justa e equitativa. A universalidade do ra o desenvolvimento do país. Como a
acesso aos novos canais digitais de pres- maioria dos documentos políticos, ten-
| Luís Vidigal | tação de serviços públicos deve consti- de-se a alargar o alvo para nunca se dei-
Vogal do Conselho de Direcção do Instituto de tuir uma prioridade para os Governos e xar de acertar no objectivo, como foi o
Informática do Ministério das Finanças, Criou não apenas uma bandeira de campanha caso dos vários planos eEurope, onde ao
e mantem actualizado o site “O e- política. As oportunidades tecnológicas longo do tempo se foram desvanecendo
Government no Mundo” não podem transformar-se num privilé- as metas e os respectivos indicadores de
(http://egov.alentejodigital.pt/) gio apenas de alguns e ser um motivo medida, para se evitar os dissabores de
de exclusão para a maioria dos cida- possíveis fracassos e os inevitáveis es-
1) Sem dúvida que elejo a iliteracia dãos. O fosso ainda é enorme quando crutínios menos favoráveis.
tecnológica e outras formas de exclu- pensamos nos dois terços de portugue- No entanto a competitividade à escala
são digital, como principais entraves ao ses que ainda não têm qualquer tipo de mundial exige respostas urgentes e mui-
desenvolvimento da Sociedade da acesso a este admirável mundo novo e to concretas.
Informação, mas existem outras barrei- quando conhecemos as dificuldades de Temos de saber se queremos ser um país
ras culturais que parecem tornar-se ultrapassar barreiras estruturais como a de meros consumidores passivos e des-
obstáculos crónicos ao nosso desenvol- iliteracia e o envelhecimento da nossa lumbrados em relação às tecnologias
vimento. sociedade. que importamos ou se pelo contrário
Assim como somos capazes de ser criati- Os políticos têm que ser capazes de aceitamos o desafio de participarmos co-
vos e engenhosos quando confrontados separar o que os distingue no exercício mo agentes activos e capazes de gerar va-
com problemas incertos, desafiantes e da soberania e na luta pelo poder, da ur- lor no desenvolvimento da Sociedade da
de curto prazo, temos dificuldade em gência em convergir para melhorar o Informação à escala nacional e planetária.
sustentar uma visão consistente e mobi- funcionamento de toda a máquina ad- O Plano Tecnológico deve ser capaz de
lizadora sobre o futuro que interessa a ministrativa do Estado, naquilo em que mobilizar os activos de conhecimento
todos nós. Talvez por isso temos assisti- ela embaraça a vida de todos os portu- para a descoberta de alguns nichos ex-
do nos últimos vinte anos a um siste- gueses, nomeadamente desobstruindo clusivos nas grandes cadeias de valor à
mático “infanticídio tecnológico” e a processos que trespassam os vários ní- escala global. Os portugueses nunca ti-
vagas sucessivas de euforias e desencan- veis de poder político, central, regional veram medo do desconhecido e sempre
tos em relação a iniciativas que se tor- e local e de forma transversal abrindo as foram capazes de se integrar com algu-
nam efémeras e vítimas da inveja e da portas que sistematicamente se fecham ma originalidade e coragem nas grandes
luta pelo poder. na ausência de colaboração entre todos redes de conhecimento mundial. Os ca-
Quando falamos em Sociedade da os ministérios e órgãos de soberania, sos de sucesso que conhecemos no do-
Informação falamos sobretudo no aces- em franco desrespeito pelos cidadãos e mínio das tecnologias da sociedade da
so mais ou menos generalizado da po- agentes económicos. informação são um bom exemplo da
pulação às tecnologias, mas esquece- nossa capacidade de integração nos gran-
mo-nos que não basta abrir novos 3) A Sociedade da Informação e do des clusters produtivos transnacionais.
canais de acesso é necessário criar no- Conhecimento é sem dúvida uma opção Mas não basta produzir é necessário ar-
vos conteúdos e novos serviços digitais de desenvolvimento desejada para a quitectar e modelar novos processos
em torno da nossa qualidade de vida e maioria dos países mais ou menos de- produtivos baseados nos recursos infor-
capazes de facilitar o exercício da nossa senvolvidos em todo o mundo e coloca- macionais cada vez mais simbólicos e
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conceptuais. Um pais que quer triunfar tugueses, tanto a iliteracia tradicional, Por último, um dos maiores entraves à
não é um país de meros seguidores a como a iliteracia informática. De acordo existência de uma verdadeira Sociedade
correr atrás dos velhos comboios que com dados de 2004, apenas 41 % dos de Informação em Portugal é a comple-
nos passam à frente, pois terá de ser um agregados familiares possuem um com- xidade burocrática e morosa da
país onde se é capaz de inovar concep- putador e apenas 26% têm acesso à Administração Pública, que necessita de
tualmente e saltar para os comandos de Internet, o que se traduz no facto de reformas urgentes.
algumas das mais modernas locomoti- apenas 43% da população portuguesa
vas construídas para a era digital. seja utilizadora da Internet. 2) Na minha perspectiva, o poder po-
Pela minha parte, que sempre fui um A qualidade do ensino em Portugal, so- lítico, seja ele central ou local, tem um
optimista, continuo a acreditar na op- bretudo do Ensino Secundário, por nor- papel crucial a desempenhar de forma
ção pela Sociedade da Informação e do ma caracterizado por ser pouco exigen- a combater a info-exclusão.
Conhecimento e na secular vocação te, que não premeia os bons alunos, Antes de mais, o poder político deve
dos portugueses para desafiar o futuro. associado ao acesso ao Ensino Superior desenvolver iniciativas que facilitem o
baseado num sistema de “Numerus acesso às tecnologias de informação e
Clausus”, no meu entender totalmente comunicação, como sejam, a existência
ultrapassado, e um modelo de financia- de acesso à Internet em Banda Larga,
mento das Universidades totalmente em quase todo o país, os benefícios fis-
desajustado da realidade é igualmente cais para a compra de computadores
um entrave à Sociedade de Informação. ou apoiar projectos de produção de
No contexto empresarial, a utilização conteúdos portugueses.
das novas tecnologias está longe de ser Por outro lado, o poder político deverá
uma realidade efectiva. Segundo os da- também levar a cabo projectos que en-
dos do Inquérito à Utilização das sinem crianças e adultos a tirar o máxi-
Tecnologias da Informação e da mo partido das novas tecnologias, quer
Comunicação nas Empresas de 2004, seja através da introdução das tecnolo-
apenas 50% das empresas com activida- gias de informação e comunicação nas
| Hugo Neves da Silva | de económica tinham acesso à Internet escolas, como no caso do projecto
Mestrando em Ciências da Comunicação e au- através de Banda Larga. No entanto, Escolas Navegadoras, ou através de bol-
tor do blog Lisbonlab mais grave é que, de acordo com o mes- sas de formação para adultos.
(http://blog.lisbonlab.com/), dedicado às mo estudo, apenas 30% das empresas
novas tecnologias portuguesas marcavam presença na 3) Apesar de não conhecer em porme-
Internet. nor o Plano Tecnológico, julgo que sim.
1) No meu entender, existem vários en- Do mesmo modo, são raras as empresas A avaliar pelas iniciativas anunciadas e
traves para a prossecução de uma verda- portuguesas que investem verdadeira- pelo empenho do actual governo, esta
deira Sociedade da Informação em mente em Investigação e Desenvolvi- pode ser uma medida estrutural impor-
Portugal. mento (I&D ou R&D), de forma a pode- tante para a Sociedade da Informação se
A Sociedade da Informação é um con- rem aumentar a sua competitividade tornar uma realidade em Portugal.
ceito que se usa amiúde (frequente- internacional, através da melhoria da No entanto, penso que falta uma visão
mente), mas que julgo que ainda nin- qualidade dos seus produtos ou através estratégica ao Plano Tecnológico, que
guém explicou correctamente aos da introdução de produtos/serviços i- integre as várias iniciativas dos 3 eixos
portugueses, em geral, e aos empresá- novadores no mercado. (Eixo 1 - Incremento qualificado dos
rios, em particular, do que se trata. A Também as relações/parcerias entre as níveis de conhecimento dos portugue-
Sociedade da Informação não consiste empresas e as Universidades, onde nos ses, Eixo 2 - Vencer o atraso Científico e
apenas na massificação da utilização da últimos anos temos assistido ao apareci- Tecnológico, Eixo 3 - Imprimir novo
Internet, quer se trate de banda estreita mento de excelentes centros de compe- impulso à inovação). Do mesmo mo-
ou banda larga. tências, como nos casos do Instituto do, a maioria das iniciativas parecem-
Na minha perspectiva um dos principais Superior Técnico, da Universidade Nova me muito abstractas, sem referência a
entraves à Sociedade de Informação em de Lisboa ou da Universidade de Aveiro quaisquer objectivos quantitativos.
Portugal, é o grau de iliteracia dos por- entre outras, têm sido uma excepção.
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| Reportagem/ Comunicação |
Formato digital alterou as regras do mercado
Revolução na fotografia
O advento do digital na fotografia obrigou os seus profissionais a adaptarem-se
a uma nova realidade, onde, paradoxalmente, as impressões diminuíram,
embora hoje se tirem mais fotografias | Por Rui Martinho |
O aparecimento do formato digital alte- ças. “Foi muito rápido. Do preto e bran- riormente com muito poucas oportuni-
rou o equilíbrio de forças no sector fo- co para a cor houve um período de dades de entrada no mercado, vão agora
tográfico: reposicionamento das grandes adaptação de dois ou três anos pelo que assumir os papéis de líder. Estou a refe-
marcas, entrada em cena de empresas o choque não foi muito acentuado. No rir-me concretamente à Epson, uma em-
sem tradição no mercado e mudança na digital, as mudanças aconteceram de um presa da área da informática que desen-
relação do público amador com a má- dia para o outro.” volve neste momento uma estratégia
quina fotográfica. Do dia para a noite, o Ambos são unânimes em destacar as di- notável para assumir um papel cimeiro
mundo das imagens fixas tornou-se ca- ficuldades das grandes marcas em no mundo da imagem, envolvendo des-
da vez mais veloz, num caleidoscópio de acompanhar o ritmo vertiginoso da era de as lojas de fotografia aos laboratórios
cor e “pixeis”. digital. “O panorama é muito negro, so- e à eventual substituição da própria grá-
A Media XXI falou com três profissio- bretudo para as grandes marcas, a Fuji, a fica tradicional” realça Jorge Guedes.
nais da fotografia para fazer o balanço Kodak, a Agfa, a Konika, que detinham o O aparecimento de telemóveis com câ-
dos últimos anos, traçar perspectivas e monopólio do mercado da fotografia e maras fotográficas incorporadas, cada
analisar as mudanças do mercado. Jorge neste momento têm uma estrutura de- vez com melhor qualidade, foi outro
Guedes, fotógrafo e director da revista masiado pesada.”, explica Carlos Vilas. A acontecimento que veio mudar a relação
de fotografia Imagem Profissional, Rui filosofia da nova tecnologia levou a uma do cidadão comum com a fotografia.
Gageiro, fotojornalista da revista TV Guia descida a pique no volume das revela- Não falta quem veja no telemóvel o fu-
e Carlos Vilas, fotógrafo, retalhista e vi- ções, porque o público perdeu o inte- turo. O director da Imagem Profissional
ce-presidente da Associação Nacional resse em imprimir as fotografias, optan- dá como exemplo a marca emblemática
de Industriais de Fotografia (ANIF), re- do por arquivá-las no computador ou da fotografia, cujo nome quase se tor-
velaram as suas expectativas para o mer- em suportes digitais como o DVD. Um nou sinónimo de rolo fotográfico: a
cado da fotografia. paradoxo. Nunca se tiraram tantas foto- Kodak. “A Eastman Kodak, uma das
grafias como hoje, mas também nunca grandes empresas de fotografia há 100
| Quebra das grandes marcas | foi tão baixo o número de revelações. anos, neste momento fundiu-se com a
Uma revolução. É a forma como os pro- Carlos Vilas faz as contas. De um volume Motorola, depois de uma tentativa falha-
fissionais da fotografia qualificam a en- de facturação que podia ir “dos 30 aos da de fusão com a Nokia”.
trada em cena das câmaras digitais. Uma 45 mil euros por mês” passou-se para
mudança tão radical que justifica mes- “3 a 4 mil euros”, com impacto directo | Lojas de fotografia inovadoras |
mo a revisão dos conceitos usados há no escoamento dos “ produtos de alto As lojas de fotografia tradicionais, cujos
mais de um século para definir o ofício, consumo das grandes marcas: o papel, lucros na era da película dependiam so-
como faz Jorge Guedes. os químicos e os rolos de filmes”. bretudo das revelações, sofreram uma
“Deixámos de ter ‘fotografia’ e passá- As mudanças tiveram como contraparti- mudança radical. “ Os fotógrafos sofre-
mos a ter ‘imagem’. A ‘imagem’, no for- da a criação de uma nova dinâmica no ram um abanão de tal maneira que tive-
mato digital, inclui captação, manipula- meio, com o aparecimento de novos in- ram de procurar novas áreas de traba-
ção e tratamento informático. Passou a tervenientes, num ambiente de compe- lho”, diz Carlos Vilas. Não acredita no
estar tudo ligado”, realça o director da tição feroz, que contribui para dar novas regresso do público à impressão de fo-
Imagem Profissional. cores ao mercado.“ Actualmente diz-se tografias, embora aponte a impressão de
Carlos Vilas, espectador privilegiado de que o mercado da fotografia é o mais fotografias de telemóveis como um seg-
outra revolução, a passagem do preto e competitivo do mundo. As novas opor- mento do mercado com potencial de
branco a cor, salienta as devidas diferen- tunidades são imensas. Empresas ante- crescimento. “Não existe fórmula para
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D.R.
das pelo cliente, está a ter imenso
impacto”, acrescenta. Foi o que fez
Carlos Vilas na sua loja de fotogra-
fia, em Lisboa.
As ferramentas proporcionadas
pela revolução digital puseram à
sua disposição novas técnicas de
tratamento e composição da ima-
gem, permitindo-lhe “valorizar
muito mais o trabalho e entregá-lo
às pessoas de uma forma diferen-
te”. Mostra-nos um álbum feito
para um casamento. Verdadeiro li-
vro de fotografia, no sentido pró-
prio do termo. Cada fotografia é
valorizada ao máximo, integrada
numa sequência narrativa, realçada
através da montagem, da pagina-
ção cuidadosa e de um design pes-
soal. Ao mesmo tempo, não des-
cura as novas possibilidades de
mercado abertas pelos telemóveis
de 3ª geração. “Começámos a pu-
blicitar há 3 anos atrás, na montra
da loja, a impressão das fotografias
de telemóvel”, refere.
| Jornalismo em mutação |
O jornalismo foi outra das áreas
Jorge Guedes, fotógrafo e director da revista Imagem Profissional
rapidamente transformada pela
chegada das máquinas digitais. O fo-
fazer com que as pessoas voltem a im- tância fulcral da formação permanente tojornalista Rui Gageiro trocou comple-
primir as fotografias.”, realça. “Temos de do fotógrafo, numa era de simbiose es- tamente a película pelo digital, embora
investir no atendimento e na personali- treita entre fotografia e informática. “As ainda ponha algumas reticências à quali-
zação dos serviços.” lojas de fotografia têm oportunidades dade do novo formato. “A película tinha
Opinião contrária tem Jorge Guedes, imensas. É uma questão de formação. uma qualidade porventura superior ao
para quem “fontes de informação fide- Tem de haver uma actualização perma- digital. No entanto, hoje em dia já exis-
dignas a nível mundial” fazem prever nente aos novos sistemas, equipamentos tem muitas máquinas fotográficas digi-
“um boom das impressões das fotogra- e software”, resume o director da revista tais que se aproximam muito da quali-
fias em 2006-2007”, liderado precisa- Imagem Profissional. Dá exemplos. dade das máquinas tradicionais. E a
mente pela impressão de fotografias ti- “Uma loja de fotografia hoje pode subs- tendência será igualarem ou até mesmo
radas por telemóveis. A seu ver, tituir uma gráfica em muitíssimas coi- suplantarem a qualidade da película” ,
continua a não existir nenhum suporte sas, com grandes vantagens em termos considera.
de arquivo mais fiável do que a pelícu- de preço. Cartões de visita, material de A rotina do ofício, a sucessão de fases
la. “As fotografias digitais são virtuais e escritório (envelopes e papel de carta aperfeiçoada por anos de experiência,
a única forma de guardar imagens di- com o nome da pessoa ou da empresa) subitamente, como em todas as revolu-
gitais é em papel”, realça. e pósteres podem ser produzidos nas lo- ções tecnológicas, dispensou um dos
Ambos os fotógrafos coincidem, no en- jas de fotografia”, realça. “A estampa- elos da cadeia: o laboratório. “Já não
tanto, na visão de um novo papel desti- gem de carteiras, de malas, de porta- tem de se estar à espera duas horas que
nado às lojas de fotografia e na impor- -moedas, com base em imagens capta- a película venha do laboratório. O digi-
Media XXI [ 31 ]
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| Reportagem/ Comunicação |
D.R.
tal é quase imediato. Acaba de fazer-se o subverter a imagem original. Apagar um telemóvel tira fotografias, muitas ve-
trabalho e descarrega-se a fotografia pa- coisas que estavam na imagem ou acres- zes sem consentimento dos visados.
ra o computador. Depois é só trabalhá-la centar outras, na minha opinião, não é Algumas têm sido inclusive aproveitadas
no computador”, explica . deontologicamente correcto. Está-se a para publicação. Os paparazzi já existem
A evolução tecnológica trouxe, no en- alterar factos que existiam ou que não há muitos anos no estrangeiro e agora
tanto, novos problemas deontológicos. A existiam e passaram a existir”. estão a vulgarizar-se”, aponta.
facilidade de manipulação permitida pe- O aparecimento de telemóveis com câ- Carlos Vilas, por seu lado, equaciona
lo digital conduziu ao retoque das foto- maras fotográficas incorporadas apre- mesmo a crescente substituição do foto-
grafias com o fim de as tornar menos senta igualmente novas possibilidades jornalista. “O telemóvel vai substituir a
chocantes ou mais apelativas, inclusive de desenvolvimento para os media. máquina fotográfica”, afirma o antigo
com o apagamento de elementos, como Jorge Guedes enfatiza o potencial demo- fotógrafo do Diário de Notícias e do
aconteceu nas fotografias dos atentados crático da tecnologia, falando do “cida- Tempo.
de 11 de Março em Madrid. “ Não con- dão repórter” e mencionando experiên-
cordo que a fotografia seja manipulada cias inovadoras, como o canal de | Associativismo dividido |
na sua essência“, aponta Rui Gageiro. televisão do antigo vice-presidente dos Em épocas de crise é mais necessária a
“Concordo que se melhore a imagem Estados Unidos, Al Gore, em que qual- união e diálogo entre os vários protago-
em termos de contraste, cor e nitidez, quer pessoa pode “colocar os seus fil- nistas do mercado. Porém, tanto Jorge
até porque isso já era feito no laborató- mes”. Rui Gageiro, no entanto, mostra- Guedes, como Carlos Vilas e Rui Gajeiro
rio, no tempo da película. Mas há ele- se um pouco reticente, sublinhando o traçam o retrato de um sector “historica-
mentos que não podem ser de maneira risco de violação do direito à privacida- mente dividido”, caracterizado pela falta
nenhuma alterados, porque isso implica de. “Hoje em dia qualquer pessoa com de comunicação e a resistência à inovação.
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| Reportagem/ Comunicação |
Nacional de Industriais de
Fotografia) e a AFP (Associação dos
Fotógrafos Portugueses). A mentali-
dade conservadora dos fotógrafos é
apontada como o principal obstácu-
lo ao dinamismo associativo. Carlos
Vilas, vice-presidente da ANIF, com
cerca de 700 associados, lamenta a
falta de adesão dos profissionais da
fotografia. “Tenho muita pena que
as pessoas só recorram a nós quando
têm problemas”, afirma. A ANIF
desenvolve actividades na área da
formação, considerada fulcral na era
da fotografia digital. Seminários
com convidados internacionais e
cursos de formação, no entanto, não
são o suficiente para atrair os asso-
ciados. “Tenho muita pena de ver
pessoas que têm potencial para me-
lhorarem o seu trabalho e não evo-
luem devido à sua mentalidade”,
desabafa Carlos Vilas.
A incompatibilidade entre os inte-
resses empresariais e os interesses
associativos é outro dos problemas
das associações. “Os quadros directi-
vos normalmente são empresários e
quando tomam uma decisão fazem-
-no com base nos benefícios da sua
empresa e não com base nos benefí-
cios dos fotógrafos ou do mercado a
que se dirigem.”, refere Jorge
Guedes. Não deixa, no entanto, de
considerar a definição de estratégias
de coordenação do mercado e apoio
aos lojistas como uma tarefa funda-
mental das associações do sector fo-
tográfico. “Só o associativismo vai
conseguir reunir e orientar as lojas
de fotografia que ficaram órfãs com
D.R.
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| Actualidade/ TV |
Quarta televisão por internet em Portugal
Alentejo em movimento
A emissão experimental da TV Alentejo, a 9 de Janeiro, foi um sucesso. Com
sede em Beja, é o mais recente projecto de uma televisão local via “web”
| Por Mário Guerreiro |
Media XXI [ 35 ]
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| Actualidade/ Rádio |
Projecto Nokia – Hewlet Packard introduz novos conteúdos na rádio
Rádio Visual
Novo sistema interactivo sincroniza emissão de rádio
com conteúdos multimédia no telemóvel | Por Paula dos Santos Cordeiro |
O conceito do sistema Visual Radio foi radores de telecomunicações para os te-
criado pela Nokia em 2003 e traduz-se lemóveis Nokia, existindo já um con-
numa nova proposta para a rádio, que junto interessante de modelos que
permite que os ouvintes sintonizem permitem o acesso a este serviço, al-
uma estação em FM através do telemó- guns dos quais disponíveis em
vel e recebam conteúdos sincronizados Portugal.
com o que está a ser transmitido. A Visual Radio assume-se como ac-
O sistema Visual Radio redefine a expe- um sistema inovador para a rá- tuali-
riência de escuta e emissão de rádio em dio com vantagens para o ou- zação
FM associando novos conteúdos (texto, vinte, estação emissora e e conte-
imagem, gráficos) que transformam a anunciantes. Vários estudos údos que
rádio analógica numa rádio multimé- indicam que um dos ele- possam
dia, sem contudo, perder as caracterís- mentos audio mais utili- ter, a única
ticas típicas do FM, pois os textos e as zados nos telemóveis é infor mação
imagens são sincronizados com os con- a rádio FM pelo em tempo real
teúdos da emissão e apresentados no que, juntar que disponibili-
visor do telemóvel. zam é o nome da
Este sistema resulta de uma parceria en- música e do artis-
tre as empresas Hewlet Packard e ta que está a to-
Nokia, para disponibilizar car, aspecto
um serviço comple- que, até aqui,
mentar à radiodifu- estava apenas
são. No telemóvel, a disponível
Visual Radio pode quando a
disponibilizar infor- escuta se
mação sobre a músi- fazia através
ca que está a ser transmitida, conteúdos da página web da
notícias, trânsito e estado do tempo, a à emissão é enri- estação.
par com a apresentação quecer a experiência Na Europa, a Visual Radio já tem acor-
de conteúdos promo- para o ouvinte, sem dos com estações de rádio de países co-
cionais e publicitários contudo, alterar o mo a Alemanha, Suécia e Reino Unido,
que estimulam e facili- conceito de rádio. muito embora ainda não tenha parceria
tam as compras. Esta Melhora o formato firmada com operadores de telecomuni-
aplicação de recepção habitual das páginas cações para distribuição dos conteúdos.
de conteúdos interacti- das estações de rádio O serviço já está disponível na
vos visuais é transmiti- na web que, inde- Finlândia, Singapura e Tailândia, preven-
da via GPRS pelos ope- pendentemente da do-se que ainda este ano chegue à
Turquia. Em Fevereiro, a Visual Radio
foi uma das atracções do 3GSM World
Congress que decorreu entre os dias
13 e 16 em Barcelona.
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| Olhares |
| Actualidade/ SI |
Portal adquire alojador de blogues
AEIOU compra
weblog.com.pt
O portal pode angariar mais publicidade com o negócio e entra no universo dos
blogues, no ano em que completa o seu décimo aniversário | Por Mário Guerreiro |
Fevereiro iniciou-se com a compra do com algum tempo livre e espírito empre- mos o Estado a prometer tamanhas ver-
alojador de blogues weblog.com.pt pelo endedor gerir um projecto que não sou- bas para a Sociedade de Informação que
portal aeiou.pt, um negócio como há be dimensionar”, explica Paulo Querido. depois ou são devolvidas, ou queimadas
muito não se via na web nacional. O Com a plataforma a crescer, surgiram em gasóleo (…) a dor de alma só é su-
Weblog, criado em 2003 pelo jornalista “problemas técnicos que estavam fora perada quando vemos um triunfo”.
Paulo Querido, conta com um total de dos meus conhecimentos amadorísti- Em jeito de balanço, Paulo Querido de-
7500 blogues criados, valor repartido cos”, adianta o jornalista. “Desde o Verão fine o tempo à frente dos destinos do
pelos cerca de quatro mil inscritos e passado que tem sido cada vez mais difí- Weblog como “tempos deliciosos, uma
dois mil blogues realmente activos. cil responder aos subscritores”. Assim, a aventura que ousei com prazer e gosto,
A hipótese de venda do Weblog “já vi- solução passou por vender o alojador, a e também muita satisfação pessoal”. A
nha a ser equacionada há algum tempo, “uma empresa que confiasse”. criação da plataforma serviu também
mas em sede privada”, como explica Além de uma maior capacidade estrutu- para provar “que a iniciativa individual
Paulo Querido. No entanto, as conversa- ral para enfrentar os problemas do tem valor e que existe muito talento
ções que viriam a resultar na venda da Weblog e “para impor definitivamente o sem espaço para se exprimir”.
plataforma, só tiveram lugar na última weblog.com.pt como A Melhor Tanto Paulo Querido como o AEIOU es-
semana de Janeiro. Plataforma de blogs”, o “AEIOU respeita peram uma transição suave do serviço.
Paulo Querido refere as dificuldades téc- o weblog.com.pt, o seu nome, simbolo- Em comunicado, Luís Coutinho presi-
nicas sentidas em gerir o Weblog como a gia e sobretudo espírito comunitário”, dente do conselho de administração da
principal razão para o negócio. “Como a explica Paulo Querido. AEIOU, Investimentos Multimédia S.A.,
comunidade weblog.com.pt em particu- prometeu que “a transição do serviço
lar e a comunidade blogger em geral sa- | Negócio é novidade no mercado | irá ocorrer de forma suave e transparen-
bem, tem sido difícil para um jornalista O negócio vem romper com o marasmo te para os utilizadores”. O AEIOU, que
que se tem vivido no disponibiliza vários serviços, como o
mercado da web na- webmail Xekmail, a Bolsa.de/emprego,
cional. A aquisição ou o webchat Blá acredita que o negó-
do Weblog pelo cio irá abrir portas à “maior e mais
AEIOU poderá ser prestigiada rede de blogues em
um tónico para um Portugal”. O portal compromete-se “em
mercado adormeci- oferecer um serviço ainda mais persona-
do? Paulo Querido lizado, novas funcionalidades técnicas,
espera que sim: “não alargamento dos limites de espaço, ban-
tenho dúvidas que, da e tempo, e notoriedade acrescida ao
como eu, há centenas seus blogues”.
de pessoas, muitas Ainda muito longe do peso do Sapo.pt,
delas com belíssimas a aquisição do Weblog pode significar
ideias e projectos já a uma importante receita para o AEIOU
correr, a esperar por na luta por espaços publicitários na web,
esse tónico”. onde compete directamente com o por-
Para o criador do tal Clix e o IOL.
Weblog “quando ve-
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| Actualidade/ Imprensa|
Imprensa renova-se para 2006
Media XXI [ 39 ]
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Marketing sustentável
ganha importância
Tendência pretende responder às necessidades actuais, sem colocar em causa
as gerações futuras e suas próprias necessidades | Por Mário Guerreiro |
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“O Porto só é notícia
pelas piores razões”
Em entrevista, o presidente da autarquia portuense revela-se a favor de
alterações na regulação dos media, e critica a forma como as televisões
secundarizam o Porto | Por Paulo Faustino |
Rui Rio, presidente da Câmara Logo a seguir à sua tomada de posse para o tei ainda que as entrevistas à imprensa
Municipal do Porto (CMP), reeleito com segundo mandato fez questão de definir um passavam a ser por escrito, sem prejuízo
maioria absoluta, é porventura o políti- conjunto de regras de relacionamento com os de um eventual encontro pessoal, para
co português com funções executivas media. Pelas reacções públicas que se clarificação de uma ou outra questão.
que mais desassombradamente tem pro- seguiram pode dizer-se que aquelas regras Olhe, como é o caso com esta mesma
tagonizado algumas polémicas com a foram mal recebidas pelos jornalistas, que as entrevista. Sinceramente, não percebo
Comunicação Social. Assumindo um entenderam como restritivas ao acesso às fon- porque é que algum jornalista de boa-fé
pensamento próprio na relação que o tes. Quais as principais razões para tal opção? se pode insurgir contra estas orientações.
poder político deve (ou não) ter com os Ao contrário do que os próprios órgãos A não ser que o objectivo seja manipular
media, manteve ao longo do seu primeiro de comunicação social tentaram fazer as respostas... Aliás, nessa matéria bastava
mandato uma relação por vezes crítica passar nunca impus nem pratiquei qual- lembrar-me de tudo o que se passou no
com alguns sectores da sociedade norte- quer restrição aos contactos com a im- último mandato e, em particular, durante
nha, e nunca deixou de denunciar o que prensa. Apenas defini orientações e a campanha eleitoral para reforçar a min-
considera um “relacionamento promís- apresentei-as publicamente. Se ler a de- ha convicção de que este método é bené-
cuo entre alguns poderes fácticos que claração que tive oportunidade de dis- fico para todos.Tudo o mais que foi criti-
apenas subsistem por encontrarem aco- cado e caricaturado publicamente a
lhimento em certa imprensa fortemente propósito das tais orientações foram
comprometida com interesses comuns.” OS NOVOS MEDIA DA SOCIEDADE DA simples disparates de quem nem se
Por isso mesmo, Rui Rio defende a neces- deu ao trabalho de ler a nota que con-
INFORMAÇÃO VIERAM REDISTRIBUIR
sidade da revisão da legislação do sector tém as regras, ou então de quem está
dos media de molde a que esta “traduza politicamente contra mim.
O JOGO DO PODER MEDIÁTICO
de forma efectiva e coerente a responsabi-
lidade objectiva sobre quem comete gra- Mas considera então que o tratamento da-
ves erros e atropelos aos princípios uni- tribuir à imprensa nessa altura, verifica- do pelos media a questões autárquicas é
versais da liberdade de expressão”. rá que são as práticas habitualmente diferente da forma de actuar dos media em
Logo no início do seu segundo mandato seguidas quando qualquer jornalista relação às questões nacionais?
definiu regras próprias nas relações que pretende obter, por exemplo, uma reac- Nem sempre. Depende. Desde logo te-
a CMP manterá com os media, visando ção do primeiro-ministro ou de qual- mos que distinguir as televisões da im-
o que considera garantir uma relação de quer outro membro do Governo. Mas é prensa escrita. No caso das televisões to-
transparência total, no respeito absoluto igualmente o que se pratica em qual- dos sabemos que qualquer inauguração
pela separação dos poderes. Um rio de quer grande município da Europa, co- em Lisboa pode abrir um telejornal, en-
protestos fez-se ouvir num primeiro mo seja Barcelona, Marselha, Milão, quanto o Porto só é notícia pelas piores
instante, mas tudo indica que as relações apenas para falar de segundas cidades… razões. Se não for uma grande desgraça
tendem para a normalidade. Na entre- Nem faria sentido que fosse de outra ou não envolver polémica raramente é
vista que aqui publicamos, o presidente maneira. Ou seja: os contactos devem notícia. É terrível, mas não se consegue
da CMP aprofunda o seu pensamento ser feitos através do Gabinete de afirmar projectos de relevo para a cida-
sobre a sempre polémica convivência Comunicação, até para facilitar o pró- de, ou mesmo para a região, através das
entre os diversos poderes. prio trabalho dos jornalistas; e acrescen- televisões. Nos jornais é um pouco dife-
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“NÃO SE CONSEGUE AFIRMAR PROJECTOS DE RELEVO PARA A CIDADE, OU MESMO PARA A REGIÃO, ATRAVÉS DAS TELEVISÕ-
rente, embora no caso dos jornais na- ender os intervenientes no sistema que do da palavra. Mas não me parece que
cionais, marcadamente de Lisboa, o pro- apenas estou a utilizar o bom senso e as seja isso que está a acontecer actualmen-
cesso acabe por ser mais ou menos idênti- melhores práticas já testadas noutros paí- te, muito pelo contrário. Hoje o sistema
co - o Porto está quase sempre resumido ses em iguais circunstâncias. E assim político e o judicial estão enfraquecidos
a uma breve. É claro que estamos apenas a sendo o problema deixará de existir, – em grande parte por sua responsabili-
reflectir a tendência centralista do poder porque passará a ser meramente uma dade - enquanto uma parte significativa
que continua a ser fortíssima no nosso questão de hábito. Também nestas coisas da Comunicação Social faz política e
país. Acresce que no Porto o Jornal de a aculturação faz-se com o tempo. E sin- julga as pessoas na praça pública, desres-
Notícias é o único jornal com peso, mas to-me bem neste papel de ser um políti- peitando direitos básicos da pessoa hu-
a sua direcção optou por ser oposição co pró-activo na separação das águas: a mana e da democracia. Nesta perspecti-
política à autarquia o que obriga a CMP comunicação social existe para infor- va, uma parte significativa da
a utilizar cada vez mais os meios que mar, os políticos para fazer política nos comunicação social tem-se assumido
tem disponíveis para poder esclarecer as diversos espaços que lhe estão reserva- como todo-poderosa, direi mes-
pessoas, e pôr em evidência uma prática dos pelo nosso sistema. mo totalitária.
que em nada prestigia a democracia, Penso que isto tem que
bem pelo contrário. Quer isto dizer que tem reservas mudar, e todos deve-
à ideia de que os media são o mos dar o nosso
Caso não tivesse tido maioria absoluta toma- quarto poder, como alguns contributo para is-
ria a mesma posição no que se refere ao seu analistas referem? so. Além do mais,
relacionamento com os media? Quando nos referimos é bom que as pes-
Seguramente. É claro que tenho a noção aos media como o soas comecem a
que seria mais difícil, embora pudesse quarto poder, no sentido perceber, e temos
sempre, tendo em conta a experiência académico, estamos a hoje as condições
adquirida ao longo do último mandato, conferir-lhe uma espé- ideais para isso, que
ter algumas pequenas diferenças. Sei que cie de papel de fiscaliza- a comunica-
não poderia ser tão rígido na defesa des- dor, no bom ção so-
tes princípios, até porque a oposição senti-
sempre foi razoavelmente protegida. Se
eu tivesse continuado dependente da
oposição para aprovar projectos impor-
tantes para a cidade, como tantas vezes
aconteceu no passado, e com a política
de terra queimada que foi praticada ao
longo do último mandato, reconheço
que, se calhar, teria que ceder um pou-
co mais. Mas tenho a certeza que se-
ria mau para todos, sobretudo para o
desenvolvimento da sociedade e, nes-
te caso, para a cidade do Porto.
mandato?
Como já tive oportunidade de referir
não há qualquer restrição. No entan-
to, espero que até ao fim do mandato
o relacionamento com a Comunica-
ção Social tenda para a normalidade
absoluta, e que o tempo faça compre-
Media XXI [ 43 ]
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[ 44 ] Media XXI
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“O COMÉRCIO DO PORTO NÃO ESCOLHEU, NOS ÚLTIMOS ANOS, O MELHOR CAMINHO PARA SE AFIRMAR”
versidade e concorrência, tenho a certeza ocasiões gerar os consensos necessários tre as forças que disputam o poder. A vi-
que o JN e, sobretudo quem o dirige, se- entre os dois maiores partidos para in- tória nas eleições serviu para ficar a sa-
ria obrigado a repensar a estratégia que troduzir algumas alterações na área re- ber que a maioria dos portuenses con-
tem vindo a seguir, e a melhorar a quali- guladora dos media. Mas nunca foi pos- corda com uma maneira diferente de
dade editorial. sível, por falta de vontade política. fazer política e, por isso, teve um signifi-
Já dei alguns contributos quando o PSD cado especial. Senti que vale a pena lutar
Como vê o aparecimento de mais dois canais estava no Governo e tento fazer todos por alguns princípios…
por cabo dirigidos ao Norte? os dias, na actividade que exerço, algu-
Exactamente na mesma lógica. A con- ma pedagogia nessa matéria que consi- Quais os projectos que pretende deixar reali-
corrência é sempre boa, mas espero que dero fundamental para que possamos zados até ao final do mandato?
não caiam nos mesmos erros em que a viver num verdadeiro regime democrá- Espero poder cumprir os compromissos
extinta NTV caiu; há um mercado nessa tico. No fundo a minha receita é muito que assumi com os portuenses através
área para explorar no Norte, até por to- simples: defendo que a legislação para do meu programa eleitoral.
das as razões que tenho vindo a expor o sector traduza de forma efectiva e co- Nomeadamente, a requalificação dos
ao longo da entrevista. Já tive oportuni- erente a responsabilidade objectiva so- bairros sociais do Porto, a reabilitação
dade de conhecer as principais linhas bre quem comete graves erros e atro- da Baixa, criando uma dinâmica que
dos dois novos projectos.... vamos espe- pelos aos princípios universais da torne o processo de recuperação irrever-
rar para ver. liberdade de expressão. Isto hoje não sível, e ainda a melhoria das condições
acontece, como já atrás referi. de mobilidade na cidade. Estes são os
Como analisa o encerramento d’ O Comércio principais vectores do meu programa,
do Porto? Há espaço para um jornal regional Qual é o ponto da situação do Porto Digital? mas não posso deixar também de refe-
sobre o Grande Porto? Que impactos espera após a sua conclusão? renciar a grande aposta que estamos a
Já tive oportunidade de dizer na altura, O Projecto Porto Digital não teve duran- fazer na educação, através da requalifica-
o que aparentemente até terá chocado te o anterior mandato o impulso que ção de todo o parque escolar e no incre-
alguns, que O Comércio não escolheu, deveria ter tido. Mas posso desde já mento de actividades extra-curriculares
nos últimos anos, o melhor caminho adiantar que os projectos terão obriga- essenciais ao desenvolvimento das crian-
para se afirmar e que foi vítima da sua toriamente que ficar implementados até ças, bem como a consolidação do pro-
própria estratégia. O Comércio do jecto Porto Feliz, que se destacou pelo
Porto morreu na banca, ou seja, O JN TEM A SUA CREDIBILIDADE ABALADA trabalho que desenvolve junto dos
morreu porque deixou de ter lei- arrumadores, a maioria toxicodepen-
tores. E deixou de ter leitores por- PELA ORIENTAÇÃO POLÍTICA A QUE SE dentes, e que é hoje reconhecido fora
que ofendia, nos últimos anos, do Porto e mesmo de Portugal. Por úl-
permanentemente o seu mercado RESOLVEU SUJEITAR timo, não posso deixar de assinalar a
natural pelas opções editoriais que componente política que considero de
seguia, e não conseguiu novos leitores ao fim do ano de 2006, sob pena de extrema importância para afirmar a ci-
noutros segmentos porque não transmitia perdermos os fundos europeus do pro- dade do Porto. O Porto tem de ser re-
credibilidade nem isenção para se impor. grama POSI. Entre os projectos previs- conhecido pelo que faz de melhor e não
Ou seja, morreu da pior maneira, à mão tos, destacaria a ligação das principais só pelo seu carácter reivindicativo, co-
dos seus últimos dirigentes. A bem dizer, instituições da cidade em rede. mo aconteceu no passado. Entendo que
escolheu o caminho do suicídio… isso nos menoriza.
Acredito, todavia, que com a força da sua Que balanço faz do ano de 2005, em que
grande história possa um dia voltar às conseguiu ver renovado o seu mandato para a Um terceiro mandato estará nos seus
bancas, fazendo justiça a um honroso pas- CMP? planos?
sado de mais de século e meio. Não é um balanço muito diferente dos Ao longo da minha vida política as si-
outros anos, embora, por se tratar de tuações foram surgindo sem eu ter feito
Se fosse membro do Governo, acharia impor- um ano eleitoral, seja sempre menos nada para isso, a longo prazo. Neste mo-
tante fazer algum tipo de intervenção no sec- polémico, pese embora as armadilhas mento não faço a mínima ideia do que
tor dos media? que a atmosfera de pré-campanha e vai acontecer.
Enquanto deputado tentei por diversas campanha eleitoral sempre suscitam en-
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Segundo o relatório “Mercado de TIC - Portugal Vs Europa, A Microsoft Portugal vai lançar
Análise e Previsões 2005-2009”, da IDC, divulgado em Janeiro, um concurso nacional de cria-
o mercado nacional de Tecnologias de Informação (TI) vai ção de páginas web, intitulado
apresentar um ritmo de crescimento superior ao da média eu- WebMaster 2006.
ropeia, ultrapassando os 2,63 mil milhões de euros, até 2009. A iniciativa tem como objectivo
O investimento em Portugal vai apresentar, de acordo com o desenvolver o espírito criativo e
estudo, um crescimento acumulado superior a 40 por cento empreendedor dos estudantes
no fim dos cinco anos em análise, o que representa taxas de portugueses, sendo dirigida a estudantes do ensino básico e
crescimento médias anuais de 7,8 por cento para o período secundário matriculados em escolas públicas ou privadas. O
2005- 2009. concurso versa quatro temas (Hobbies e Tempos Livres;
Relativamente ao total da Europa, a IDC estima um cresci- Grandes Causas; Segurança na Net; Jornal da Turma) e os in-
mento acumulado da despesa em TI de cerca de 30 por cento, teressados podem apresentar-se em grupos de quatro ele-
com um crescimento médio anual de 5,8 por cento para o mentos, individualmente acompanhados por um professor
mesmo período. O estudo indica que mais de 50% do inves- ou cumprindo outras condições do regulamento. A data limi-
timento será em hardware, seguindo-se os serviços e final- te para a entrega dos trabalhos desenvolvidos é 30 de Março,
mente o software. e dia 10 de Abril são divulgados os dez trabalhos finalistas.
No final do período, a IDC prevê que o investimento no seg- Os participantes são premiados com produtos do líder mun-
mento do hardware em Portugal represente quase 60 por cento dial do software informático.
do total, com o sacrifício do segmento dos serviços em que se
prevê um crescimento acumulado de apenas 25 por cento. Para
o software prevê-se uma taxa de crescimento acumulada de Suplemento para imigrantes em Itália
cerca de 35 por cento nos 5 anos em análise.
O jornal italiano La Repubblica distribui com a sua edição,
aos Domingos, um suplemento dirigido aos imigrantes,
Lusa e Radiobrás assinam acordo que totalizam no país 2,5 milhões, ou seja, 3,5 por cento
da população.
Com o objectivo de aumentar circulação de informação entre O nome do suplemento é “Metropoli” e é definido, pela di-
os dois países e na comunidade de língua portuguesa, a Lusa-
-Agência de Notícias de Portugal e a Radiobrás assinaram um
acordo, no passado dia 13 de Janeiro.
As duas entidades pretendem desenvolver projectos de interes-
se comum na área da comunicação, promover o intercâmbio
dos seus profissionais e possibilitar um maior conhecimento
das respectivas realidades nacionais em cada um dos países. O recção do periódico como “o jornal da Itália multiétnica”,
acordo prevê ainda a criação de links de sendo segundo o director, Ezio Mauro, “a confirmação de
acesso aos sites das duas empresas e maior que os imigrantes são uma realidade social, política, cultural
integração em coberturas jornalísticas de e económica.
interesse mútuo. O “Metropoli” nasce, segundo o La Repubblica, para dar res-
Esta parceria abrange ainda o apoio e assis- posta não apenas a potenciais novos leitores mas também aos
tência recíprocos no campo jornalístico, leitores habituais, interessados no fenómeno migratório e na
técnico e logístico aos correspondentes e enviados especiais de integração dos novos cidadãos.
cada uma das partes, através de suas estruturas no país e no es- O suplemento tem 24 páginas a cores e o mesmo formato
trangeiro, e ainda uma avaliação da possibilidade de implanta- que o resto do jornal. O primeiro número abordou a questão
ção de um programa anual de formação e qualificação de jor- dos vistos de trabalho e das dificuldades para obter uma au-
nalistas e fotógrafos. torização de residência.
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Imprensa*
TÍTULO ORIGEM JORNALISTAS TIRAGEM* CIRCULAÇÃO SITE
A Guarda (semanal) Guarda 2 3500 Distrito da Guarda www.jornalaguarda.com
Cinco Quinas (mensal) Sabugal 1 2000 Concelho do Sabugal n.t.
Diário da Guarda (semanal) Guarda 3 6500 Distrito da Guarda www.diariodaguarda.com
Ecos da Marofa (quinzenal) F. Castelo Rodrigo 1 2400 Concelho e Assinaturas n.t.
Jornal de Santa Marinha (quinzenal) Santa Marinha 1 3500 Concelho n.t.
Notícias de Manteigas (mensal) Manteigas 0 1500 Vila n.t.
Nova Guarda (semanal) Guarda 3 5100 Distrito da Guarda www.novaguarda.pt
O Interior (semanal) Guarda e Covilhã 5 5200 Guarda e norte de Castelo Branco www.ointerior.pt/home
Pinhelfalcão (quinzenal) Guarda 1 2000 Região n.t.
Terras da Beira (semanal) Guarda 4 20000 Distrito da Guarda e Assinaturas www.terrasdabeira.com
*Fonte: Empresas, Fichas técnicas e sítios institucionais); *nº. médio mensal de exemplares; n.t.- não tem.
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mensal noticia a vila e publica ar- Expresso, que possibilita a sinergia jor-
tigos de opinião, filosofia, políti- nalística e comercial entre o jornal na-
ca e poesia com uma linha edito- cional e vários jornais regionais. O di-
rial de promoção da cultura rector de O Interior orgulha-se da
manteiguense. publicação pelo Expresso de vários tex-
tos realizados na Guarda.
| Jornalismo A estrutura profissional da empresa e os
de proximida- dois eventos que são promovidos pelo
de | jornal, a Gala do Desporto em que “ho-
“Esta zona menagearemos atletas e clubes” e a Gala
assistiu a Empresarial do Distrito da Guarda onde
uma emi- “se distinguem as empresas da região”,
rios proces- gração forte são, para António Pissarra, as razões do
sos em tri- em que cer- sucesso do Nova Guarda. Por ocasião das
bunal. “O ca de 80 galas “saem com o jornal 15 mil exem-
Nova Guarda por cento plares de duas revistas a cores, uma com
é um jornal da popula- as fichas das empresas finalistas e outra
desportivo e ção foi para com as equipas, as modalidades e os ho-
o Terras da França, pri- menageados”.
Beira é um meiro os
jornal com qualidade, mas parado no pais, depois as mulheres e os filhos até | Os números dos jornais |
tempo”, diz o director de O Interior so- que já na 3ª geração ninguém ficava pa- A opinião é unânime quanto aos efeitos
bre a concorrência. ra dar as novas da terra. Assim, gostaria da conjuntura económica nacional na
O jornal A Guarda,que pertencente à que o jornal fosse a tal via de comunica- diminuição do investimento em publici-
diocese do distrito, distingue-se pelo ção entre a aldeia e as pessoas”, explica dade. “É difícil porque a Guarda é pouco
seu cariz religioso. Publicação centená- Rui Monteiro. Entre a procura de notí- industrializada, o comércio está péssimo
ria, este é o seu 101º ano, inclui temas cias da terra e a vontade dos que ficam e as autarquias investem cada vez me-
como política, sociedade e desporto. para que as novas gerações criem raízes nos”, diz Edite Sanches, jornalista do
António Marques define-o como “um estão os jornais regionais. “Esta é uma Diário da Guarda. “Os jornais sobrevivem
semanário católico regionalista que não terra de pouca gente e interessa-me só porque estão ligados a associações”, con-
abandona a informação geral.” publicar coisas que o conterrâneo que clui. No Notícias de Manteigas, o dinhei-
está em França identifique”, conclui. ro recebido das assinaturas “serve apenas
| Os jornais fora da cidade dos cinco F | “Fazer uma actividade comercial, pro- para dar cobertura às despesas”.
O Pinhelfalcão, um quinzenário sedeado mover o distrito da Guarda, os seus va- Muitos dos jornais mais pequenos fun-
em Pinhel, orgulha-se de ser distribuído lores endógenos, a sua terra e as suas cionam com poucas pessoas e poucos
pelos vários países da diáspora portu- gentes” são os objectivos do Nova recursos. Poucas são as publicações com
guesa. Segundo explica a jornalista Guarda. “Vamos a todas”, conclui trabalhadores a tempo inteiro e sem si-
Tatiana Fernandes, o jornal abrange no- António Pissarra que defende que tuação de duplo emprego. Para António
tícias da região, principalmente do con- “compete à comunicação social regional Pissara, o Nova Guarda, o Terras da Beira
celho. Rui Monteiro, coordenador do fazer determinadas coberturas que o na- e o Interior são os três jornais do distri-
jornal mensal Cinco Quinas, criado há cional não faria como, por exemplo, a i- to que têm estrutura profissional.
seis anos no Sabugal, define o periódico nauguração de um lar da terceira idade”. “Não é fácil e um jornal novo precisa de
como o jornal do concelho. Depois de uma fase para se afirmar”, diz o director
uma fase de menor divulgação, é agora | Prémios e actividades da imprensa de O Interior. “Os apoios do estado são
mais conhecido “porque temos tentado regional | cada vez mais reduzidos e os custos
deste há meio ano promovê-lo”, expli- O jornal O Interior recebeu em 2001 o mensais são muitos. Não há grandes
ca. O Notícias de Manteigas é um jornal Prémio Gazeta Regional, feito inédito campanhas para as pessoas serem cativa-
local feito para os manteiguenses, define no âmbito dos jornais da região. O se- das para a imprensa”, conclui.
o seu director, José Matos. Este jornal manário é membro fundador da rede
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Comunicação e Internet
na Guarda
No distrito, jornais e rádios têm uma
presença forte na Internet onde procuram
angariar mais leitores e ouvintes. Na área do
ensino da comunicação, o Instituto
Politécnico da Guarda é o centro de
conhecimento do distrito | Por Margarida Ponte |
Quase todos os jornais e rádios do dis- beu cerca de 5500 visitas
trito têm uma página na Internet e ten- com mais de 30 mil páginas
tam agora rentabilizar e promover o es- visualizadas.
paço, encontrando assim novas formas Os jornais também não se
de cativar mais público e mais publici- deixam ficar atrás com o
dade. As rádios do distrito têm apostado Terras da Beira a disponibi-
na emissão online como forma de atrair lizar todos os seus números
mais ouvintes, sobretudo fora do distrito. na íntegra em versão electrónica. O ce todos os anos a mais de 85 candida-
A rádio F “é muito ouvida e consultada Interior tem também uma edição online tos. Para o director do IPG, Joaquim
na Internet”, realça Virgílio Arderius, di- que é um sucesso “com uma média de Brigas, a ESEG “está determinada a con-
rector da estação que colocou a emissão 38 mil hits e 4000 pessoas a acederem quistar um espaço próprio, tanto na for-
na Internet há já nove anos. Também a ao site todas as semanas”, refere o direc- mação de professores como na formação
Rádio Elmo actualiza diariamente o seu tor da publicação, Luís Baptista-Martins. de profissionais da comunicação”. A loca-
site e tem tido “muitas leituras online”, Do total, 50% das pessoas que visitam O lização do instituto não é impedimento
refere o responsável, Artur Matos. Só no Interior na Internet são de Portugal, mas para a implementação da ESEG na área da
mês de Dezembro, a página da rádio rece- 30% já o fazem a partir de França, Suiça comunicação. “Há já algum tempo que
e Estados Unidos da América. A somos reconhecidos como pólo dinami-
Casa da Imagem
grande aposta é agora angariar pu- zador do desenvolvimento regional e não
blicidade para este novo meio e ter temos complexos de inferioridade”, afir-
RSS, um sistema que agrega conte- ma Joaquim Brigas. Quanto ao mercado
údos e serve como índice de alte- de trabalho, as duas licenciaturas têm uma
rações que ocorram em determi- forte componente prática, além da teóri-
nado site. “Já temos também ca, que visa formar os alunos para os
banners preparados para a publici- apoiar na inserção na vida activa “porque
dade”, anuncia Baptista-Martins. pensamos o ensino de uma forma inte-
grada com o meio”, diz Joaquim Brigas.
| Ensino da Comunicação na Guarda | A escola tem procurado também estar
Criadas em 1999, as licenciaturas na Internet com a versão electrónica da
em Comunicação e Relações ESEG Magazine, revista científica feita
Económicas e Comunicação e por docentes, e alunos e com a rádio da
Relações Públicas são as duas op- instituição, a ESE FM, criada em 2002,
ções dentro da área da comunica- também a marcar presença com uma
ção que a Escola Superior de emissão online.
Educação da Guarda (ESEG) ofere-
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| Opinião |
Política e agentes
media
No final dos anos setenta Foucault referia que no “..mundo do que um bom candidato, em
político, a crise do sistema de partidos é cada vez mais pro- termos de media, seja necessa-
funda, em alternativa surgem novas formas de participação riamente um bom candidato”4.
| Paulo Vieira de Castro* |
política, mais personalizadas, directas e expressivas; o jogo Abeles afirma que “o político
político abandona os quadros institucionais e transfere-se funda o seu poder na confiança e na crença. Todo o seu tra-
para as esferas informais da vida quotidiana..” 1 . balho consiste em melhorar a sua credibilidade, a sua noto-
Actualmente, esta certeza depende do esforço de interme- riedade”5. Inconfundivelmente, a opinião emitida por um
diários provenientes das mais diversas áreas, de onde desta- meio de comunicação social, ou por um opinion-maker, é
camos os jornalistas, os opinion makers, os estudos de opi- mais credível, que a manifestada através da publicidade.
nião, os marketers, os publicitários, a engenharia Assim, influenciar politicamente a opinião publica, será
relacional, de entre outros. Saussez referiu-se a eles como maioritariamente actuar sobre a percepção dos agentes me-
“..um conjunto de técnicas, um terreno de riqueza pouco dias, de forma a ampliar os vínculos de privilégio nas rela-
conhecida e ainda mal explorada com base em estudos e ções informais. Schwartz vem neste mesmo sentido, acen-
sondagens, criação de acontecimentos, promoção, publici- tuando que os “..media – muito mais que um partido
dade e relações publicas. Saliente-se aqui a ajuda pedida às político – são responsáveis pela informação e formação das
ciências sociais, à sua linguagem e às suas aquisições, avan- nossas ideias e comportamentos políticos.”, vai , ainda
çando pela descrição dos controlos internos e externos pa- mais longe, ao referir que os “..media substituíram os par-
ra a elaboração de produtos em conformidade com os pro- tidos políticos, tornando-se o principal canal de comunica-
tocolos e às regras de deontologia do tipo, com o recurso a ção para o eleitorado, e um meio de organizar o público
conselheiros em comunicação e publicitários”2. trazendo-o à votação”6. Esta é uma das mais importantes
Vamos assistir não só ao crescimento descontrolado do poder tarefas da gestão de influência política ao nível dos impera-
destes novos mediadores, mas igualmente, a uma nova confi- tivos ideológicos, técnicos, etc.. Falamos do poder de quem
guração política, onde mais importante que as variáveis quali- constrói a opinião política no nosso país, sendo esta acção
tativas do candidato será o seu estilo de comunicação, passan- assegurada pela capacidade de representação, avaliação e
do da denotação à conotação, invertendo a lógica, ou se reivindicação dos agentes informais, face a todos os pode-
quisermos, a inteligência na política. Assim a verdade expres- res envolvidos. Nos acontecimentos mais mediatizados os
sa pelo candidato “X” não será mais que a verdade pensada agentes da comunicação social não são simples retransmis-
por um grupo de agentes da comunicação3, ganhando, se- sores de mensagens, já que nos nossos dias se estima que
gundo Marcelo Rebelo de Sousa, “não necessariamente aque- relatem “..mais do que o conflito”, esperando-se que “eles
le que é melhor para exercer uma função, mas aquele que celebrem a resolução ou o vencer do conflito ..”7.
vende melhor o seu produto. E, assim, como não está prova-
do que o anuncio para a pasta dentífrica que tem a melhor *Consultor de Empresas, Director do Centro de Estudos
campanha de marketing, que, por causa disso, vende mais Aplicados em Marketing do ISAG do Porto
que outra, é substancialmente melhor, como não está prova-
1FOUCAULT, Michel – Microfísica do poder, Rio de Janeiro, 4ª edição, 1984, p.6.
3O que altera radicalmente o debate político; das ideias para a simples proximidade emocional.
4MARCELO, Rebelo de Sousa – “Pura Política”, Grande Reportagem , nº44, Ano V, 2ª série, Lisboa,
Novembro, 1994,p.27.
5ABELE, Marc – Encenações e Rituais Políticos, Paris, CNR, 1995,p.112.
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| História |
Tudo começou quando saiu o leitor de
MP3 iPod, o seu design ergonómico,
prático e futurista conquistou o público
dos produtos de cômputo da Apple e
novos adeptos. Em pouco espaço de
tempo saíram também leitores iPod
com ecrã colorido, o famoso iPod Nano
e, mais recentemente, o iPod vídeo.
Contudo, há que sublinhar o seguinte: o
iPod surge num momento em que as li-
gações online estão mais rápidas e em
que os conteúdos de som, audiovisual, e
as animações em Flash na Internet estão
mais soberbas.
O único problema do iPod é que está
feito para ser um leitor de MP3 e não
um aparelho de mero transporte de mú-
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| Ipod Vídeo |
O iPod Vídeo é o equipamento que
mais sentido faz neste momento, face à
Casa da Imagem
quantidade programas já existente em
formato vídeo na Internet, sobretudo de til. Com este serviço a Google expande o é superpropício ao PodCasting.
música e de notícias. No entanto exis- seu negócio, depois de ter criado a barra
tem concorrentes, como a Sony PSP de ferramentas Google, e depois do êxito | Podcasting |
(PlayStation Portable), o Creative Media do tão criticado Google Earth. Note-se PodCasting é a nova forma de difundir
Center ou o Creative Zen Vision, por que este tipo de serviço faz cada vez (“broadcasting” + iPod) conteúdos que
exemplo. Mas em geral todos os leitores mais sentido, disponibilizar conteúdos possam ser puxados da Internet, quer
de MP3 que surgirão neste momento em vídeo, pois os utilizadores de através de páginas Web oficiais, quer
são sinónimo de “iPods”, porque o ter- Internet do mundo inteiro têm cada vez através de software de partilha de fichei-
mo já entrou na linguagem do grande mais ligações online rápidas, e muitos ros como KAzaa, eMule, Bitorrent, ou
público, quer se trate de um leitor de dos Internautas têm leitores de MP3 ou Direct Connect (Dc++). Só que para
música ou de conteúdos multimédia. de conteúdos multimédia. E é aqui que que esses ficheiros de conteúdo multi-
o Google Vídeo entra em cena, ajuda a média estejam disponíveis para serem
| Google Vídeo | que qualquer pessoa faça pesquisa e en- transferidos online, é preciso colocá-los
Com o actual surgimento do Google contre vídeos de grupos de música, fil- online e antes disso, criá-los, editá-los e
Vídeo, qualquer utilizador pode fazer mes, apresentações, reportagens, docu- difundi-los.
uma procura de ficheiros de vídeo e as- mentários, vídeos caseiros, etc. O O caso mais vulgar é que alguém com
sisti-los em formato Windows Media Google Vídeo encaixa perfeitamente no software de edição de som, de vídeo,
Player no PC, seja este de mesa ou portá- espírito do iPod vídeo, que por sua vez uma câmara de filmar, e que saiba fazer
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Podcast em português
O panorama nacional não sofre ainda da febre podcast, mas o fenómeno tem
granjeado seguidores. A falta de variedade é um dos problemas dos podcasts
lusos | Por Mário Guerreiro |
Até à data a web portuguesa tem passa- próprio conceito entre os internautas.
do ao lado do “boom” do podcast. O jornalista e web-activista Paulo
Ainda assim, no directório de podcasts Querido, autor do livro “Homo
lusófonos, Lusocast (www.lusocast. Conexus – O Que Nos Acontece Depois
com), “são adicionados em média 15 De Nos Ligarmos à Internet” e co-autor
podcasts por mês”, refere o seu respon- de “Blogs”, considera que a evolução do
sável, Carlos Andrade. O prenúncio de podcast em Portugal “tem sido lenta e
uma podcast-mania? “Tenho notado um triste”, dado que “apenas um punhado
‘boom’ mais recente dos podcasts na- de apaixonados entre a tecnologia e o
cionais nos últimos meses”, adianta o som criou os seus podcasts, tendo o fe-
blogger. O facto da criação de podcasts nómeno passado, até agora, ao lado das
ser “compreensivelmente mais lenta, já grandes massas que publicam na web”.
que tem um processo de produção mais Paulo Querido duvida de uma verdadei-
trabalhoso e demorado [que os blogs]” ra afirmação do podcast na web nacio-
pode ajudar a explicar um desfasamento nal, em 2006: “Penso que ficará confi-
da realidade nacional com o verificado nado a um nicho de entusiastas”. Em sua maioria são todos dedicados a mú-
noutros países. relação ao videocast, o jornalista é mais sica”. O autor de Blitzkrieg Bop é da
O Lusocast, que lista podcasts lusófonos, peremptório em afirmar que será ainda opinião que a quantidade é secundária,
e não apenas nacionais, surgiu em mais difícil um verdadeiro “boom” do “o que faz mais falta é mesmo a varie-
Setembro de 2005, “após a Apple ter formato em Portugal. “Não temos uma dade de estilos”.
anunciado que iria adicionar suporte cultura de audiovisual, não temos largu- Carlos Andrade também se mostra crí-
para podcasts ao iTunes e ao iPod”, re- ra de banda, não temos serviços nacio- tico da falta de variedade: “criar um
lembra Carlos Andrade. nais de alojamento, não temos guias podcast para dizer banalidades e en-
Entre os podcasts listados no Lusocast nem livros”, refere. cher o resto do tempo com música não
conta-se o Blitzkrieg Bop (blitzkrieg- Carlos Andrade, por sua vez, considera acrescenta nada à rádio tradicional”.
bop.blogspot.com/), o primeiro pod- ser difícil perspectivar a evolução do pod- Para o responsável da Lusocast, o futu-
cast português, de Duarte Velez Grilo, cast, mas vai adiantando que, “à seme- ro ditará que os podcasts mais ouvidos
iniciado a Março de 2005, “simples- lhança do fenómeno das rádios piratas, serão os de “opinião e comentário, e os
mente porque não havia nada do género muitos irão ter qualidade e conquistar se- de nicho”. Entre os podcasts favoritos,
em Portugal”. O podcast, que conta guidores e outros não vão passar de ex- Carlos Andrade destaca dois, “comple-
com uma média de 41 visitantes únicos periências e desaparecer”. Para Carlos tamente amadores”, o SixHat Agridoce
por dia, “não tinha um modelo definido Andrade é uma certeza que mais rádios (sixhat.blogspot.com) e o Podcast do
no início”, mas é hoje um misto de “irão aderir ao podcast e talvez o inverso Atrasado.
“talk-show e programa de divulgação”, também se verifique, que podcasters pas- Entre as rádios nacionais, apenas o
diz o seu autor. sem para o lado da rádio tradicional”. Rádio Clube Português, a Rádio
Apesar de não se registar em Portugal Comercial e a TSF disponibilizam con-
uma “podcast-mania”, Duarte Velez Grilo | Pouca diversidade nos podcasts nacionais | teúdos em formato podcast. No início
acredita que 2006 trará “mais e melhores “Não há nenhum que se possa consi- de Fevereiro, a SIC começou também a
podcasts nacionais”, devido a um maior derar mau”, refere Duarte Velez Grilo disponibilizar alguns dos seus progra-
interesse dos media tradicionais, mas sobre os podcasts nacionais, ressalvan- mas em formato áudio.
também a uma maior familiaridade do do “que não há é variedade, pois na
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Promover o conhecimento
Contribuir para o aperfeiçoamento do desempenho das organizações, da
competetividade do país e qualidade de vida das pessoas são os objectivos da
APGC | Por Nídia Silva |
A APGC – Associação Portuguesa para a Gestão do Conhecimento, em gestão do conhecimento. Pretendem
Gestão do Conhecimento, tem como Comunidades de Aprendizagem, na ainda organizar acções de formação,
principal objectivo o estudo e a pro- Liderança de Comunidades, na partici- designadamente através da concepção e
moção da gestão do conhecimento, pação e partilha em Fóruns de concretização de um programa edito-
contribuindo para o aperfeiçoamento Experiências e Lições Aprendidas. rial próprio, em regime de b-learning
do desempenho das organizações, a Entre muitas actividades, a associação e realizar o 1º congresso sobre Gestão
competitividade do país e a qualidade tem promovido diversas iniciativas ao do Conhecimento, a decorrer entre
de vida das pessoas. longo da sua curta existência. Entre Setembro e Outubro de 2007.
Criada a partir de um encontro infor- muitas destaca-se: a organização de
mal de uma comunidade de interessa- conferências sobre “Gestão de empre- | O conceito |
dos nas temáticas de Gestão do sas na Era do Conhecimento” e A APGC nasceu de um compromisso de
Conhecimento e Aprendizagem “Organizações de aprendizagem em um sócio fundador e organizador de
Organizacional e afins, a APGC consti- Portugal”; o lançamento de uma colec- uma obra colectiva pioneira em
tuiu-se em Outubro de 2003, tendo a ção de livros da APGC com o objectivo Portugal, “Gestão de Empresas na Era
sua escritura sido realizada em Maio de de promover obras inéditas de investi- do Conhecimento”, Ricardo Vidigal da
2004. gadores e empresários portuguesas ou Silva, que contou com a colaboração de
Sem fins lucrativos, a APGC tem, segun- obras de referência nunca publicadas 26 co-autores, portugueses e brasilei-
do Ricardo Vidigal da Silva, sócio funda- em língua portuguesa; a realização de ros, que, sem se conhecerem, desenvol-
dor, “uma perspectiva técnico-científi- conferências online numa plataforma veram este trabalho através das redes
ca, com total independência de de comunicação electrónica assíncrona, electrónicas de comunicação. O livro
quaisquer iniciativas de carácter políti- com quinze especialistas de diferentes; homenageia Jayme Teixeira Filho, fun-
co-partidário, confessional ou étnico”. e o lançamento de newslleters para os dador e primeiro presidente da SBGC –
Actuam fazendo a ponte na transferên- associados com acções de informação e Sociedade de Brasileira de Gestão do
cia de conhecimento entre a academia de divulgação de posições sobre a Conhecimento, que veio a falecer em 9
e as organizações portuguesas, pelo Sociedade do Conhecimento. de Julho de 2002, até então Líder de
que estão receptivos a todos os que Para o futuro pretendem, através do si- uma Comunidade Virtual, com mais de
pretendem aprender pela prática da te institucional, suportar fóruns de de- 800 participantes, que debate as temá-
bate, criar um fundo documental e bi- ticas da Gestão do Conhecimento desde
bliográfico sobre Gestão do 1988, na qual Ricardo Vidigal da Silva
Conhecimento, fornecer aos associados era o único português participante.
as ferramentas de auto-diagnóstico e Segundo Ricardo Vidigal da Silva, este
avaliação a partir de inquéritos dos es- livro “foi o embrião dum sonho parti-
tudos e projectos de análise e de inves- lhado, de consolidar a APGC como uma
tigação sobre a utilização de modelos organização activa, actuante, exigente,
de maturidade e práticas de Gestão do espaço de partilha de saberes e expe-
Conhecimento e riências, capaz de influenciar decisões
respectivos os im- fundamentais para que o conhecimen-
pactes nas organi- to seja mais valorizado e aproveitado
zações que resul- em Portugal”.
tam da adopção da
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| Leituras |
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| Classificados |
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D.R.
de ensino. Mas não podemos investir só o sistema tem de criar as condições ne-
Não faltarão a Portugal algumas medidas es- na formação inicial. Oitenta por cento cessárias para que isso aconteça com
truturais que permitam à população dos activos da nossa economia não têm qualidade.
responder com maior preparação às novas qualificação acima do 12º ano ou supe-
tecnologias? Como pretende o Plano rior, portanto, precisamos também de Como pretende motivar o sector empresarial
Tecnológico responder a essa lacuna? requalificar essas pessoas com incentivo a aderir às medidas do plano?
É evidente que faltam algumas medidas. a novas oportunidades, com a certifica- As empresas estão actualmente motiva-
Uma das linhas fundamentais do Plano ção e acordos com as empresas para que das porque este é o unico caminho que
é qualificar, não apenas as novas gera- seja dada formação em tecnologias de existe para poderem sobreviver. Temos
ções mas também os trabalhadores. É informação e comunicação. Uma das em Portugal excelentes exemplos de
um esforço muito grande para que as prioridades para o Plano Tecnológico e empresas inovadoras. No ranking euro-
novas gerações, desde o primeiro mo- para Portugal é qualificar a nossa popu- peu a inovação, o empreendorismo e a
mento, tenham algumas ferramentas co- lação activa, não apenas para aumentar o capacidade de criar novos produtos não
mo a formação em tecnologias de infor- seu conhecimento mas também para são de forma alguma pontos fracos em
mação, como o ensino experimental, o qualificar para novas competências. Nós Portugal. O que é mais difícil é o desen-
inglês no ensino básico, a formação de temos uma estratégia, temos objectivos, volvimento de toda a base tecnológica e
professores para as novas metodologias sabemos onde queremos chegar e todo a criação de capacidade competitiva, em
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termos de volume e dimensão. ponto essencial. Outra dificuldade é do em que tem uma politica de cresci-
Temos de motivar as empresas para que que, ao mesmo tempo que vamos mento e desenvolvimento, baseado nas
elas trabalhem em três eixos fundamen- apoiar sobretudo dinâmicas emergentes, pessoas, nas qualificações, nas novas tec-
tais do Plano Tecnológico: apostar forte- temos de garantir um suporte especial e nologias, na inovação. É uma política
mente em tudo o que é desburocratiza- assegurar oportunidades àqueles que es- compatível com os princípios dos prin-
ção e simplificação de processos; apoiar tão noutras indústrias. Este processo de cipais partidos que existem em Portugal.
tudo o que seja desenvolvimento de par- mobilidade tem de ter capacidade de É óbvio que nas medidas de execução
cerias e redes, para dar mais dimensão correr riscos, pois a mudança implica há variantes e diferença, situação normal
competitiva às empresas; e procurar, so- haver sempre gente que ganha e outros num regime democrático.
bretudo para aqueles nichos mais de que ganham menos. Para estes últimos
arranque, um modelo de financiamento, temos de garantir a sua dignidade e dar Sendo um projecto que à partida se revelou
oferta de capital de risco ou micro-crédi- novas oportunidades. polémico, porque decidiu aceitar a sua
to, para ajudar as empresas a terem o ca- coordenação?
pital necessário para poderem inovar. Existe ainda algum desconhecimento generali- Eu sou o cordenador nacional da estra-
zado em relação às medidas concretas que tégia para Lisboa que tem um pilar mui-
O facto do Plano Tecnológico ter vivido uma compõem o projecto. Como pretendem fazer to forte para o crescimento e competiti-
turbulência recente, pode significar que seja chegar essa informação à população em vidade, e se esse pilar é o Plano
actualmente visto com descrença pelos agen- geral? Tecnológico, para mim faz todo o senti-
tes económicos e sociais nacionais, parceiros Toda a documentação relativa ao Plano do que eu dê o melhor de mim para
também em algumas fases que este plano dê certo.
do projecto? Além do mais, ficaria
Não me parece que isso UMA DAS PRIORIDADES PARA O PLANO TECNOLÓGICO E PARA muito mais preocupado se
esteja a acontecer. este plano tivesse passado
PORTUGAL É QUALIFICAR A NOSSA POPULAÇÃO ACTIVA, NÃO
Contacto com muitas despercebido à sociedade
pessoas, muitos agentes APENAS PARA AUMENTAR O SEU CONHECIMENTO MAS TAMBÉM
portuguesas pois significa-
privados, institucionais. va que não estaria a mu-
O que existe, neste mo- PARA QUALIFICAR PARA NOVAS COMPETÊNCIAS dar nada. Um plano, que é
mento, é uma grande ambicioso e ousado, tem
vontade de transformar de ser polémico porque
um consenso sobre a necessidade de um Tecnológico está disponível nos meios num processo de mudança não há só
Plano Tecnológico, num consenso em informáticos em www.planotecnologi- vencedores. A longo prazo todos sere-
relação à sua implementação. As turbu- co.pt. Vamos multiplicar as acções de in- mos vencedores, mas a curto prazo há
lências recentes estiveram ao nível da co- formação dando a conhecer as medidas algumas expectativas que se frustram.
ordenação, não do Plano Tecnológico. Essa que vão sendo tomadas através dos me- Estou preparado para que a sua coorde-
confusão não pode de forma alguma ser dia. Há também um esforço grande para nação seja um processo permanente-
feita. Foram acontecimentos normais que os agentes privados e o Estado, atra- mente polémico mas também estou
num processo transparente e complexo. vés dos seus ministérios, possam ser convicto que será extremamente benéfi-
porta-vozes do que é o plano tecnológi- co para o país.
Quais são as principais dificuldades para co e das medidas que tem para cada
executar as acções previstas? uma das áreas intervenientes. Que gostaria que fosse dito sobre o Plano
Este é um plano de mudança e, como Tecnológico daqui a 5 anos?
tal, tem de ser feito com uma sensibili- O plano está dependente da continuidade do Que a sociedade portuguesa mudou e
dade especial. A grande dificuldade num actual Governo socialista ou acredita que a que o plano contribuiu como um im-
processo destes é romper algumas bar- sua importância não pode ser restringida a pulso de mudança. A sociedade portu-
reiras que existem em Portugal em to- ciclos políticos? guesa não vai mudar para melhor ape-
dos os níveis do ponto de vista da não Este projecto tem todas as condições pa- nas por causa do Plano Tecnológico mas
disponibilidade para a cooperação entre ra ser um plano para a sociedade portu- assinala, num mundo que é cada vez
as várias empresas e entre instituições. guesa, supracíclico. Não é um plano mais complexo, um ponto de viragem.
Não temos a cultura de rede que é um apolítico, é um plano político no senti-
Media XXI [ 67 ]
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| Estatísticas da Comunicação |
Terceira edição do relatório anual da Reportium XXI Consulting
Telecomunicações com
quebra de investimento
Previsões apontam para que o volume de negócios do sector mantenha a
tendência negativa até 2007, começando a recuperar a partir de 2008 | Por Mário Guerreiro |
Pelo terceiro ano consecutivo a período homólogo de 2003. mesmo período. Para o período entre o
Reportium XXI Consulting elaborou um O relatório da Reportium XXI final de 2005 e Dezembro de 2008, o re-
relatório sobre o mercado das telecomu- Consulting foi elaborado com base na latório prevê que a quebra acumulada no
nicações, media e tecnologias de infor- análise dos resultados de mais de 440 emprego do sector possa ascender a mais
mação (TMT). O documento, intitulado empresas do sector,e refere também que de 7 mil postos de trabalho, o que signi-
“O Mercado das TMT’s em Portugal”, o ano de 2001 registou o maior índice ficará 42 por cento do total de “downsi-
refere que entre 2001 e 2004 as empre- de emprego no sector, com mais de 76 zing” previsto entre 2002 e 2008.
sas do sector reduziram o seu número mil trabalhadores. A partir do final regis- O relatório conclui então que os anos de
de funcionários, uma tendência que de- tou-se então uma quebra de emprego, 2002, 2003 e 2004 “foram bastante
verá terminar apenas em 2008. cujo fim está perspectivado para 2008. mais penalizadores para o emprego que
Assim, entre Dezembro de 2001 e Até lá, as TMT nacionais perderão 24 os anos do horizonte das previsões”, de
Dezembro de 2004, as empresas de tele- por cento da sua força de trabalho, 2005 a 2008 (ver gráfico 1). De acordo
comunicações, media e tecnologias de “uma grave situação social para o sec- com o estudo, a verificar-se um merca-
informação (TMT) nacionais despedi- tor”, de acordo com o relatório. do de trabalho de cerca de 57 mil tra-
ram mais de 10 mil trabalhadores. Apesar do “downsizing” dos trabalha- balhadores nas TMT em 2008, quererá
Durante o ano de 2004, essa redução dores das TMT entre 2002 e 2008, estas dizer que “o sector estará no limiar mí-
dos postos de trabalho atingiu os 3,8 irão registar um aumento de 5,4 por nimo da sua eficiência”.
por cento, quando comparado com o cento nos Proveitos Operacionais, no
| Fragilidade da economia
Gráfico 1 - Evolução histórica e perspectivada dos recursos humanos no nacional influencia TMT |
sector das TNT O relatório da Reportium
XXI Consulting identifica
como uma das principais
conclusões obtidas, que o
desemprego perspectivado
para as TMT não corres-
ponde a uma questão sec-
torial, mas “consequência
da fragilidade da produtivi-
dade e competitividade da
globalidade da economia
nacional que se arrasta des-
de o final de 2001” (ver ta-
bela 1, com identificação
do emprego/desemprego
por Sub-cluster das TMT).
Entre os factores apontados
como causa para o desem-
prego nas TMT é a “adop-
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Tabela 1
ção de estratégias empresariais (em par- das dificuldades com que se debate a receitas geradas pelos Operadores do
ticular de empresas com elevado peso economia nacional tem estado o merca- Serviço Telefónico Fixo (STF), que che-
no sector)”. Estas empresas dão prima- do das comunicações móveis, que em garam aos 1.549,7 milhões de euros.
zia à “melhoria acelerada dos rácios “atingiu em 2004 o maior peso de sem- Pela primeira vez no historial do sector
económicos-financeiros”, assente em pre em receitas face ao total do mercado das telecomunicações, o STM apresen-
processos de “free cash-flow”, “em de- das telecomunicações”. O mercado do tou receitas maiores que o STF. Rui
trimento de um posicionamento com Serviço Telefónico Móvel (STM) registou Pires, da Reportium XI Consulting con-
responsabilidade social perante os recur- 3.204,4 milhões de euros de prestação sidera que “pelas suas particularides,
sos humanos”, explica o relatório. de serviços, o que equivale a 47,4 por aparentemente, [o STM] é o único seg-
Outra das explicações avançadas é tam- cento do total deste mercado. Em relação mento de mercado onde a conjuntura
bém a opção que muitas empresas to- às receitas obtidas, estas incluíram apenas da economia nacional se faz sentir com
mam, de redução a curto prazo da sua a prestação de serviços, não tendo sido menor impacto”.
dívida líquida, através do redimensiona- contabilizados, por exemplo, as receitas Desde 1991, os três operadores do STM
mento das suas estruturas de recursos resultantes da venda de terminais. (TMN, Vodafone e Optimus) geraram
humanos. A situação decorre da “forma As receitas conseguidas pelo STM em uma receita acumulada de 18.105,42
permissiva e desinteressada” como o 2004, representaram mais do dobro das milhões de euros, resultante da presta-
Estado aborda a ques-
tão, avança o relató- Gráfico 2 - Segregação das receitas de prestação de serviços dos
rio. A solução poderia operadores de comunicações móveis
passar por “medidas
de incentivo à criação
de postos de trabalho
com contrapartidas
de bónus nos impos-
tos sobre os resulta-
dos líquidos – medi-
da que permitiria a
entrada de verbas pa-
ra a segurança social,
ao invés do desem-
prego”, menciona o
texto da Reportium
XXI Consulting.
| Comunicações móveis à
margem das fragilidades
nacionais |
A navegar ao largo
Media XXI [ 69 ]
ED_85 06/02/10 12:01 Page 70
| Estatísticas da Comunicação |
[ 70 ] Media XXI
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| Actualidade/ Tecnologia |
Soluções de software de gestão
Inovação e Tecnologia
As traves mestras do negócio da Sage Portugal assentam numa empresa global
com actuação local e relações fortes baseadas na confiança e colaboração entre
parceiros e clientes | Por Dulce Mourato |
O desenvolvimento de soluções inte- do por isso a ser determinantes para os lançamento do Portal Empresarial e do
gradas de gestão para Pequenas e resultados obti- Portal de Contas,
Médias Empresas (PME’s) deu ao grupo dos”, concretiza cujos contornos,
Sage grande notoriedade, mas desde Jorge Carneiro, foram descritos por
que chegou a Portugal, em 1999, o ob- não deixando de Jorge Carneiro no
jectivo foi apostar no mercado local, sublinhar que “o dia de apresentação
apercebendo-se das especificidades dos utilizador é em à imprensa: “englo-
negócios e em chegar mais perto dos última instância bam novas possibi-
utilizadores, simplificando as aplicações. a razão funda- lidades de interfa-
Jorge Carneiro, CEO da Sage Portugal, mental da nossa ce, fáceis de
considera que a empresa se tem vindo existência. Já lá costumizar e adap-
a afirmar nos últimos três anos em ter- vai o tempo em Jorge Carneiro, CEO da Sage Portugal tadas às necessida-
ritório nacional “como uma marca ca- que na informá- des concretas das
da vez mais forte, cuja força resulta por tica era o utilizador que se adaptava aos PMEs e a diferentes perfis de utilizador
um lado da evolução positiva da pró- sistemas. Hoje em qualquer dos seg- como por exemplo gestor, cliente e co-
pria empresa e em particular dos seus mentos e em qualquer área o nível mé- laborador. A finalidade é simplificar as
produtos e por outro da aglutinação dio de conhecimentos dos utilizadores tarefas do dia-a-dia”, esclareceu.
das empresas entretanto adquiridas”. é muito superior e consequentemente Mas as novidades não ficam por aqui. A
Essa integração crucial que se ini- Sage Portugal acredita que pode
ciou com a Infologia e depois contribuir para o plano de mo-
com a Saari e a Adonix, entre ou- dernização das PMEs e por isso
tras, permitiu uma série de ini- lançou também as novas versões
ciativas estratégicas como o inves- do produto ERP Next, concreta-
timento em Investigação e mente o Next Vision e o Next
Desenvolvimento e a criação de Prime, ambas soluções de gestão
uma área de serviços vocacionada que permitem novas funcionali-
para a formação e suporte técnico dades de navegação e graus de
quer de parceiros quer de utiliza- personalização orientados para as
dores finais cada vez mais espe- especificidades de cada negócio.
cializada. Mas o grande valor acrescen- sobe o seu nível de exigência. Hoje a Na Sage Portugal a inovação não pára e
tado desta organização assenta no canal uma aplicação de gestão não basta fa- essa é uma das características diferen-
de distribuição que conta mais de mil zer, terá de fazer bem e de forma sim- ciadoras “de uma das maiores empre-
parceiros (conhecedores do mercado e ples para quem a utiliza.” sas do Mundo de software de gestão
que são peças fundamentais de uma re- que desenvolve localmente, em cada
de de conhecimento junto dos clien- | Aplicações à medida do utilizador | país, as soluções e serviços adequadas
tes) em todo o território nacional. Essa opção de disponibilizar o acesso à ou requisitadas pelas suas empresas”,
“Os parceiros têm para o negócio da informação mediante sistemas descen- salienta Jorge Carneiro.
Sage um papel fundamental continuan- tralizados foi contemplada no recente
Media XXI [ 71 ]
ED_85 06/02/17 16:13 Page 72
| Actualidade/ Tecnologia |
Centro Ciência Viva Amadora
Pólo dinamizador de
conhecimento
Convites para seminários, ilustrações de personalidades importantes nas
janelas, anúncios de exposições. Na Amadora não passa despercebido um
edifício branco que convida ao conhecimento - muita gente já sabe que a Ciência
Viva mora ali | Por Dulce Mourato |
D.R.
Desde 2003 que a associação
Ciência Viva e Câmara Municipal
da Amadora estabeleceram uma
parceria, mas o projecto Ciência
Viva da Amadora só arrancou em
Setembro de 2005, com uma equi-
pa constituída, entre outros cola-
boradores especializados, pelo di-
rector José Albergaria, por João de
Sousa e Adelina Machado – ambos
professores do ensino secundário
da área de física, mas com grande
experiência em divulgação científi-
ca e tecnológica, na mediação de
contactos institucionais com a co-
munidade educativa e com o públi-
co em geral.
“Divulgar o mais possível a cultura
científica, proporcionar consultoria
junto das escolas para concursos a
projectos nacionais e internacio-
nais, trabalhar com as Tecnologias
de Informação, organizar semanas Conferência de Manuel Matos Lopes no Auditório da Câmara Municipal da Amadora
e exposições temáticas são algumas das a todas as idades”, concretizou aquela culinárias para transformar “a cozinha
nossas tarefas regulares”, salientou coordenadora. num laboratório” e “ver a casa com os
Adelina Machado, apontando casos par- João de Sousa, por sua vez, destaca que olhos da ciência”, para as escolas e para
ticulares como o seminário “Perturba- “apesar do pouco espaço disponível pa- a comunidade em geral.
ções da Alimentação: Mitos e ra exposições no edifício (oferecido à Para além de um programa repleto até
Realidade”; a determinação do índice de cidade há cerca de um século por ao final do ano e aberto a todos, projec-
massa corporal efectuado na estação de Aprígio Gomes) é importante assinalar tam-se novas parcerias e permanece a
comboios, junto da população; ou até a dias especiais ou efemérides (como o esperança de, proximamente, estrearem
semana do espaço, comemorada pela dia da Internet, do teatro, dos museus) o Moinho do Penedo: um espaço mul-
primeira vez em Novembro de 2005, e para trazer mais pessoas às actividades tiusos, com auditório, planetário e ob-
que reuniu no auditório municipal da produzidas naquele núcleo de Ciência servatório astronómico que pode dar
Amadora quase duas centenas de pesso- Viva”. Mas o grande segredo desta equi- novo ânimo à divulgação científica e
as: “provou-se que a curiosidade sobre pa é aproveitar “a magia das coisas sim- tecnológica na Amadora.
qualquer temática científica é transversal ples” como a exploração de sugestões
[ 72 ] Media XXI
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Um festival diferente
A última edição do maior festival de publicidade realizado em Portugal chegou a
mais de 15 mil “publiapaixonados” | Por Mário Guerreiro |
Difere dos demais festivais de publici-
dade, onde é habitual as agências pu-
blicitárias pagarem para levar os seus
anúncios a concurso, sendo depois os
júris compostos por profissionais des-
sas mesmas agências. No Publi…
Fordoc, organizado pela Associação
Nacional de Jovens Formadores e
Docentes (FORDOC), o poder está na
rua. Ou neste caso, nas equipas de júri, Na edição 2005 do Publi…Fordoc, a meira edição do festival a contar com
“sem quaisquer interesses comerciais”, “best-hour” publicitária foi composta por um total de 7200 espectadores. No ano
formadas durante as várias sessões reali- 78 anúncios, que saíram de uma shortlist seguinte, esse número chegou aos
zadas pelo festival, e habitualmente com- inicial de 240 filmes publicitários. 12500 espectadores, e a fasquia dos 15
postas por “docentes, formadores e con- A última sessão do Publi…Fordoc 2005 mil foi finalmente ultrapassada com a re-
sultores nas áreas do cente edição de 2005.
marketing, estratégia, Um número que
comunicação, publicida- junta os participantes
de”, ou simples aprecia- nas várias iniciativas
dores de publicidade. do festival, como os
Os júris seleccionam seminários, work-
então aqueles que con- shops e mostras.
sideram os melhores A edição 2005 do
anúncios, do conjunto Publi… Fordoc ini-
de uma hora de filmes publicitários, re- aconteceu no Instituto Português de ciou-se em Março, e em 24 sessões, per-
colhidos durante o ano pela organiza- Administração e Marketing de Lisboa, correu localidades como Coimbra,
ção, onde se incluem vencedoras de vá- no dia 4 de Janeiro. A 12 de Janeiro, foi Porto, Tomar, Matosinhos, Seia, Viseu,
rios certames do género, e outros a vez do Salão Nobre da Câmara Figueira da Foz, Aveiro ou Santarém.
trabalhos com sobeja qualidade. Municipal de Matosinhos conhecer os Os filmes publicitários a concurso
O conjunto das votações destes júris de- resultados de uma edição que tem veri- (sempre traduzidos ou legendados para
cide o prémio Fordoc, para o melhor ficado um crescendo de popularidade. inglês) em 2005 pertenceram a 30 paí-
anúncio a concurso, e também as Criada em 2001, a FORDOC iniciou o ses, com primazia para os EUA, segui-
Menções Honrosas. A distinção Publi… Festival Internacional de Publicidade dos de perto pelo Reino Unido. Entre
é decidida pelos associados da FORDOC. Publi… Fordoc em 2003, com a pri- os restantes países mais representados
destacam-se a França, a Alemanha, a
Austrália e a Tailândia. Depois de estar
presente na shortlist de 2004, com
um conjunto de três anúncios dedica-
dos à prevenção rodoviária, Portugal
voltou a estar representado na shortlist
de 2005, com o anúncio “Corrente”,
da Optimus.
Lista completa de anúncios vencedores em http://fordoc.eventospt.com
[ 74 ] Media XXI
ED_85 06/02/17 16:14 Page 75
| Vizinhança Mediática |
Cofina no mercado rá “um órgão independente do qual a fora dos Estados Unidos. Espanha e
RTVE se dota para o exercício da auto- Chile foram os países escolhidos para
espanhol crítica”. Entre outras funções estará “a acolher os dois laboratórios do motor
A empresa portuguesa Cofina registou o defesa e o apoio dos direitos dos teles- de busca. A cidade de Barcelona deve
domínio e o título Penalti, mostrando pectadores e dos ouvintes do grupo”, ser a escolhida para recber o laborató-
assim o interesse no mercado espanhol. com o objectivo de “salvaguardar e im- rio espanhol.
pulsionar a transparência e a Este investimento, segundo a Associated
democracia na rádio e na tele- Press, tem como principal objectivo de-
visão pública nacional como senvolver produtos e serviços que per-
elementos destacados de credi- mitam ao Yahoo! recuperar o atraso face
bilidade”. ao Google que é líder dos motores de
A notícia foi avançada, dia 12 de Manuel Alonso Eraus-
Janeiro, pelo jornal espanhol, o El quin foi profissional da
Confidencial, onde fontes da Cofina ad- RTVE durante muitos
mitiram que “a empresa estuda diversos anos e é doutorado em
mercados onde podem existir oportuni- Ciências da Comunica-
dades. Espanha é um deles”, salientando ção na Universidade
que “neste momento não existe um Complutense de Madrid. busca. Segundo a ComScore Media
projecto definido nem data definida”. Metrix, o Google lidera nos EUA com
Fontes da empresa portuguesa confir- 39,8 por cento de quota de mercado
maram a informação mas não adianta-
Revista para pequenos e contra 29,5 por cento do Yahoo!.
ram pormenores sobre o eventual lança- médios empresários
mento da nova publicação.
A publicação espanhola adianta ainda O mercado espanhol de imprensa con- Javier Ferrari insiste na
que a marca foi comprada no dia 27 de ta, desde Janeiro, com mais um título
Janeiro e que conta já com um espaço nas bancas, dedicado aos pequenos e
modernização da EGM
na Rua Orense, em Madrid, e que a médios empresários. Todopyme é o no- O presidente da Onda Cero, Javier
Cofina está em negociações com o gru- me da publicação, lançada pelo Grupo González Ferrari, quer actualizar a for-
po de El Crack 10, uma das publicações Epsilon. ma de realização da exposição da EGM –
gratuitas em Madrid e Barcelona. O grupo, formado no final de 2004 por Estudio General de Medios, com o ob-
A Gaceta Universitária, do grupo um grupo de empresário, publicitário e jectivo de atrair mais público. Ferrari
Recoletos, é também referida como alvo jornalistas espanhóis, apresentou o novo considera o sistema actual antiquado e
de interesse do grupo Cofina. projecto de publicidade mensal. de credibilidade relativa.
A revista Todopyme conta com uma tira- O presidente salientou ainda, em decla-
gem de 25 mil exemplares e uma estru- rações aos jornalistas presentes no en-
RTVE cria provedor tura editorial de cerca de 100 páginas, contro de directores de emissoras em
A RTVE - Rádio Televisão Espanhola, sendo vendida em banca por um preço Segovia, que “continuar a fazer uma ex-
criou o cargo do Provedor da Televisão de capa de 2 euros. posição baseada no passado, com todas
Pública Espanhola (TVE) e da Rádio as inovações tecnológicas que existem
Nacional de Espanha. actualmente, parece-me antiquado”.
Segundo o jornal El Mundo, Manuel
Yahoo! aposta em Qualto à credibilidade relativa, o presi-
Alonso Eraus- Espanha dente justificou a afirmação com o facto
quin, ex-jornalis- de , em Julho passado, a Onda Cero ter
ta da TVE, será o A Yahoo! anun- ganho 90 mil utentes e, em Novembro,
primeiro titular ciou que vai abrir ter perdido outros tantos. “Temos um
desta função. os dosi primeiros target magnífico de utentes, pessoas pre-
No comunicado laboratórios de paradas e exigentes quem não se pode
divulgado pela investigação e dar gato por lebre”, sublinhou.
RTVE, o cargo se- desenvolvimento
Media XXI [ 75 ]
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| EduComunicação |
Projectos Educação para os Media na Argentina
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Media XXI [ 77 ]
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| Lá Fora |
O jornalismo e a
Academia
A criação do instituto de estudos do jornalismo, a partir da Constituída como uma
parceria da Universidade de Oxford com a Reuters, revela o área tutelada pela tradição
aumento do interesse da Academia em compreender as das Ciências Humanas, a
particularidades dessa prática profissional essencial para as comunicação sempre ma-
democracias contemporâneas. O Reuters Institute for the nifestou desconfiança,
Study of Journalism irá funcionar no Departamento de quando não ojeriza a | Elias Machado* |
Política e Relações Internacionais, e receberá 1,75 milhão qualquer possibilidade de
de libras da agência de notícias. O objetivo é criar um cen- interação com as demais instituições da sociedade, notada-
tro de pesquisa no estudo do jornalismo, examinando as mente as de caráter empresarial. O que deveria ficar claro é
bases para uma prática confiável e precisa da profissão na que o estimulo à pesquisa aplicada necessita ser defendido
era digital. “Nós queremos criar uma arena onde os mun- como prioridade no campo do jornalismo. Como em qual-
dos midiático e acadêmico se unam, e queremos dar a jor- quer campo do conhecimento, não existe e nem deveria
nalistas e acadêmicos que trabalham nesta área o tempo e o existir contraposição entre pesquisa pura e a aplicada.
espaço para refletirem sobre as questões que ligam o jorna- As duas são essenciais para o avanço da ciência e para o
lismo à política e a nossa sociedade”, adianta o professor e desenvolvimento social. A quase inexistência deste tipo de
jornalista Tim Gardam, presidente do Comitê responsável pesquisa somente demonstra o quanto deveríamos avançar
pelo Instituto. para constituirmos condições
O DISTANCIAMENTO DAS PESQUISAS DAS
O anúncio de Gardam vem aceitáveis de pesquisa, em que,
em boa hora e se espera que como área, fossemos capazes de
DEMANDAS DA PRÁTICA PROFISSIONAL
signifique um passo na mu- atender às demandas da socieda-
dança de atitude da academia DECORRE DE UM EQUÍVOCO IDEOLÓGICO de, seja pelo conhecimento teóri-
em relação ao Jornalismo. Até co, seja pelo desenvolvimento de
aqui na maioria dos programas de pós-graduação em co- tecnologia de ponta.
municação a pesquisa aplicada aparece como muito em- Quando renuncia a aplicação das teorias que desenvolve o
brionária quando não inexistente. O que pode aparecer co- campo do jornalismo comete um duplo equívoco. De um
mo um paradoxo decorre de uma desvinculação existente lado, quando se trata de uma teoria criativa, deixa de possi-
desde a criação da pós-graduação em comunicação como bilitar que este tipo de conhecimento seja traduzido em
campo, entre a pesquisa feita e as demandas dos cursos de aplicações que poderiam melhorar a qualidade de vida das
graduação. Como se o curso de graduação tivesse de se res- pessoas. De outro, por não aceitar sequer a possibilidade de
tringir a uma simples formação técnica, desprovida de teo- por à prova da prática as suas hipóteses, o pesquisador aca-
rias e a pós-graduação nada tivesse que contribuir para a ba por assumir uma postura reativa ou mesmo contestató-
sua melhoria, seja com novas teorias, seja com o estímulo à ria ao mundo dado. Não raras vezes, mais que teorias rea-
inovação tecnológica. Ao contrário da pesquisa teórica em firma princípios políticos.
que, desde que a instituição conte com pesquisadores qua- Ao defendermos a prioridade para a pesquisa aplicada nada
lificados, pode ser feita com recursos muito menores, a mais queremos que, com mais de dois séculos de atraso, o
pesquisa aplicada exige pesados investimentos na criação circuito da produção de conhecimento seja completado no
da infra-estrutura laboratorial necessária para dar conti- campo do jornalismo. Com o estímulo à pesquisa aplicada
nuidade aos projetos. E mais: os resultados práticos da haveria a possibilidade para a pesquisa auto-reflexiva, – a
pesquisa aplicada podem ser melhor aferidos pelos ór- que determina o nível de amadurecimento do próprio
gãos financiadores. campo – e que permitiria a cobertura de uma lacuna que
O distanciamento das pesquisas das demandas da prática provoca muitos prejuízos ao processo de formação: o des-
profissional decorre de um equívoco ideológico. envolvimento de métodos de pesquisa e metodologias de
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N. Silva
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| Aula Aberta |
Media XXI [ 81 ]
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| Aldeia Global |
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| Carreira |
Morte de Cáceres Monteiro deixa jornalismo mais pobre
A última viagem
O desaparecimento de um grande repórter deixa-nos um percurso de vida onde
a honestidade e a audácia andaram de mãos dadas | João Morales |
Em Maio de 2003 Cáceres Monteiro, di- por detrás das mais espectaculares ima- mais duros, conflitos além-fronteiras, la-
rector da Visão, concedeu uma entrevista gens ou das descrições que tantas vezes tentes ou adormecidos.
à Media XXI, por ocasião do décimo ani- encabeçam as manchetes “apelativas”
versário da publicação que ajudou a fun- das bancas e quiosques, estão, não raras | De Lisboa para o mundo |
dar. Na última questão era confrontado vezes, outras tantas histórias repletas de Carlos Cáceres Monteiro nasceu em
com o futuro. Imaginava-se ele como di- humanidade e riqueza sociológica. Lisboa, a 9 de Agosto de 1948. A infân-
rector da revista, daí por dez anos? Mesmo com o objectivo de concretizar cia e adolescência foram passadas num
«Não! De maneira nenhuma!». Hoje, in- uma reportagem de guerra é possível dos mais carismáticos bairros da cidade,
felizmente, sabemos estas palavras mais recordar cheiros, sons, texturas, outras a Graça. A grande admiração por diver-
do que certas. Carlos Cáceres Monteiro cores para além do magenta. sos escritores conotados com uma vida
morreu a 3 de Janeiro de 2005. A escrita de Cáceres Monteiro coincidia de viagens e aventuras, bem como o seu
Muito já se escreveu sobre o perfil deste com uma postura humilde, em que a rápido envolvimento com movimentos
magnífico jornalista – e muito mais do sempre necessária capacidade de impro- estudantis, são dois dos indícios sobre a
que isso, como é fácil depreender pelo visação não inibia um olhar mais poéti- personalidade que viria a revelar (e cul-
tom de vários dos depoimentos que se co, aliando a reportagem à abordagem tivar) – um desprendimento que o im-
seguiram ao anúncio da fatídica notícia. sociológica; a explicação política e mili- pulsionaria para os quatro cantos do
Esse é, aliás, um dos pontos que inte- tar à consternação de quem vê na mundo, convivendo com a assumida
ressa salientar. Num tempo em que Antropologia uma ferramenta, não um noção de uma constante preocupação
muito do jornalismo que se pratica é empecilho. Não por acaso, bastas vezes cívica e social, como aqueles que com
pautado no mais enraizado desinteresse defendeu os argumentos necessários pa- ele privaram durante a sua ligação ao
pela vertente humana, esquecendo que ra que fosse ele o enviado aos terrenos movimento sindical fizeram questão de
FICÇÂO
“Apogeu e Queda de Bernardo Malaquias, Ministro Libertino”, Europa-América, 1989
“Fast Lane”; Heptágono, 1984
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Artur
testemunhar (entre 1977 e 1981 foi adjunto. Na sequência
presidente do Sindicato dos Jornalistas, do fecho deste título
com um importante contributo nas atri- participa com grande
buladas discussões sobre legislação labo- parte do seu “núcleo
ral que marcam esse período). duro” na criação de
A porta de entrada para a profissão foi a uma revista semanal,
revista Flama. Em 1968 o chefe de re- uma newsmagazine
dacção, Manuel Beça Múrias, desafiou-o que mudaria o pano-
para se deslocar ao México, a fim de co- rama editorial portu-
brir os Jogos Olímpicos. Aceitou, algo guês. Em 1993 nascia
contrariado, pois, receava deixar para assim a Visão, que di-
trás os estudos de Direito (o que viria, rigiu até Junho de
de facto, a acontecer). Mais tarde, em 2005, quando aceitou
2004, numa entrevista concedida ao ser director editorial
Diário de Notícias, descreve o episódio da Edimpresa, editora
de forma romântica e certeira: «Eu mor- de revistas da Impresa,
di a maçã, foi decisivo. Apanhei logo ali de Francisco Pinto
o bichinho do jornalismo». Balsemão.
O seu mais recente livro, Hotel Babilónia Foi comentador políti-
(dado à estampa em 2004, pela Verbo) é co em diversas estaçõ-
o repositório final de uma experiência es de rádio e cobriu a
onde é desvendado um outro lado da ac- Guerra do Golfo para
tividade do repórter: dos meios de trans- a TSF em 1991. Entre
porte adoptados a considerações várias 1980 e 2000, foi co-
sobre a alimentação, em territórios tão mentador político na
díspares como os Estados Unidos, África, RTP, papel que viria
Saigão, as florestas da Amazónia ou o mí- depois a desempenhar
tico Expresso do Oriente, de tudo um na SIC/Notícias
pouco aqui se encontra. Foi agraciado com os galardões Prémio Janeiro: «Com o seu desaparecimento
Um pormenor curioso, porém, revelador Gazeta (em 1985, pelo Clube de não é apenas a tribo que chora. É um
do rigor que pautou o trabalho deste jor- Jornalistas) e Grande Prémio de pouco de nós todos, testemunhas e ac-
nalista e do modo como encarava a pro- Jornalismo de 2001 (Clube Português tores deste tempo, que empobrece, por-
fissão. Quando questionado sobre como de Imprensa) que perde o repórter errante que abriu a
era possível lembrar-se com exactidão de O desaparecimento de Cáceres Monteiro personagens e povos as portas da reali-
determinados detalhes já tão longínquos é uma oportunidade para alertar os mais dade global, para além dos limites es-
no tempo, revelou que conservara os ca- jovens que abraçam esta profissão: a rec- treitos da rua, da aldeia, do país».
dernos de apontamentos dessas viagens, tidão da sua postura; a constante vonta- Cáceres Monteiro sucumbiu a 3 de
repositórios das suas reflexões… de de fazer mais e melhor; a humildade Janeiro, vitimado por “doença prolonga-
de saber distinguir-se da notícia reme- da”, uma anónima e eufemista designa-
| Projectos que marcaram | tendo-se ao papel de mensageiro (ne- ção que povoa a agenda necrológica da
Seguir-se-ia o Século Ilustrado; A Capital cessidade fulcral no bom exercício do Comunicação Social, sempre tão corajosa
(onde foi subchefe de redacção); o exercício do jornalismo) e a capacidade para outras manchetes espampanantes. A
Diário de Notícias (como editor de po- de discernir na amálgama de sentimen- grandiloquência e a prontidão com que
lítica). Foi ainda correspondente da re- tos e acontecimentos que povoam a muitos se prestaram a dar o seu contribu-
vista espanhola Câmbio e director do se- densa actualidade mediática (e mediati- to na despedida a este repórter maior da
manário de espectáculos Se7e. zada) são elementos de uma sábia peda- sociedade portuguesa, são uma prova in-
É aqui que se gera uma dinâmica decisi- gogia que não é de mais realçar. desmentível de que vale a pena viver sob
va para o futuro. Participa na criação de Atente-se nas palavras de Adelino o lema da verdade. Com V grande.
O Jornal, em 1975, onde foi director Gomes, impressas no Público de 4 de
Media XXI [ 85 ]
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| Último Olhar |
Negócio da década
Sonae quer PT
Empresa de Belmiro de Azevedo condiciona negócio à
restrição dos poderes do Estado no grupo PT, e oferece 9,5
euros por cada acção da PT | Por Mário Guerreiro |
Pode ser o final do sector das telecomu- NAE pretende também uma alteração telecomu-
nicações em Portugal, como o conhece- dos estatutos da PT, de modo a não ha- nicações Paulo Azevedo, presidente da
mos. A SONAE SGPS, de Belmiro de ver “limite à contagem de votos quando nacionais, Sonaecom
Azevedo, pretende adquirir a cem por emitidos por um só accionista”. No co- e existe a possibilidade de ocorrerem
cento o capital da PT, a que se junta o municado enviado à Comissão do OPA’s concorrentes, da parte de João
capital não detido na PT Multimédia. Mercado de Valores Mobiliários, a SONAE Pereira Coutinho, ou até de alguns dos
As condições ao negócio, impostas pela explica que a proposta oferece 9,5 euros patrões dos media nacionais, de olhos
SONAE, detentora da operadora por cada acção da operadora telefónica. postos em alguns dos activos da PT
Optimus e do jornal Público (através da Miguel Horta e Costa, presidente do Multimédia. O Governo já afirmou publi-
Sonaecom), relacionam-se com o final Conselho de Administração da PT, consi- camente que quer manter a sua “golden-
da “golden share” do Estado na empre- derou a OPA “hostil”, por poder signifi- share”, o que poderá demorar uma deci-
sas e a aquisição de “pelo menos 50,01 car o “desmantelamento” do grupo. O são sobre o negócio.
por cento”do capital da PT. O grupo SO- negócio agitou as águas do mercado das
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