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Instituto Politécnico

de Leiria

Escola Superior
de Educação
e Ciências Sociais

[IMPACTOS DOS APOIOS


DO ESTADO NA GESTÃO
DA IMPRENSA REGIONAL
E LOCAL]
Unidade Curricular – Gestão de Empresas e Projectos de Comunicação

Docente: Paulo Faustino


Discente: Nuno de Almeida
Leiria, 20 de Março de 2011
Índice

1. Introdução: .............................................................................................. 2
2. Caracterização da imprensa local/regional: ............................................. 3
3. A importância da existência de PME consolidadas: ................................ 5
4. Apoios a nível europeu: ........................................................................... 7
5. O regime de incentivos: ........................................................................... 9
6. Descrição e análise dos dados empíricos: ............................................ 12
7. O impacto dos apoios: ........................................................................... 18
8. Conclusões: ........................................................................................... 19
Anexos ...................................................................................................... 20
Bibliografia ................................................................................................. 36

Índice de anexos

Anexo 1 ..................................................................................................... 20
Anexo 2 ..................................................................................................... 35

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1. Introdução:

O presente trabalho pretende, de forma modesta, analisar a importância


dos apoios do Estado à imprensa local/regional na primeira década do presente
milénio.
Numa primeira fase foi efectuado o levantamento pormenorizado de
todas as publicações apoiadas, os montantes envolvidos e o horizonte
temporal desses mesmos apoios. Refiro-me a projectos de modernização
tecnológica, construção de sites para colocar as publicações on-line e ainda
projectos de inovação empresarial.
Na análise ficou de fora o apoio concedido pelo Estado como incentivo à
leitura, vulgarmente designado como Porte Pago, que constitui um apoio
indirecto às publicações para que possam chegar aos seus assinantes através
de distribuição postal. A não referência pormenorizada a este incentivo prende-
se com o facto de o Gabinete para os Meios de Comunicação Social não
disponibilizar informação pormenorizada acerca dos montantes atribuídos a
cada publicação.
Não pode ser posto de parte o facto de o mercado da expedição postal
estar numa fase de liberalização. Liberalização esta que já aconteceu para o
mercado internacional com as publicações a serem enviadas para os seus
assinantes fora de Portugal por entidades diversas para além dos CTT.
Para recolha e análise dos dados empíricos foi solicitado à Unidade de
Registos da Entidade Reguladora para a Comunicação Social a
disponibilização da lista actualizada das publicações em actividade uma vez
que importa aferir em que medida as entidades apoiadas prosseguiram com a
publicação para a qual receberam dinheiros públicos ou se as mesmas já
cancelaram a sua actividade.
Outro aspecto a ter em conta é o de que a maioria dos equipamentos
adquiridos ou dos serviços contratados o são a empresas da área geográfica
da publicação apoiada o que configura, ainda que indirectamente, um apoio ao
comércio local, o mesmo que no dia-a-dia contribui para a vida das publicações
ao apostar em espaços publicitários.

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2. Caracterização da imprensa local/regional:

Os títulos de imprensa local/regional caracterizam-se maioritariamente


por empresas com um reduzido número de trabalhadores. Este facto foi
observado pelo investigador Paulo Faustino no Manual de Gestão de Marketing
de Empresas de Media Regionais e Locais editado no ano 2004. Situação que
se mantém, como se pode constatar no Estudo de Impacto dos Incentivos
Directos concedidos pelo Estado aos órgãos de comunicação social regional e
local publicado em Dezembro de 2010 e apresentado publicamente em Março
de 2011 sob coordenação de Arons de Carvalho, Paulo Faustino e Maximiano
Martins.
Na publicação do ano 2004 é constatado que a maioria dos jornais
regionais e locais só possui um ou dois jornalistas a colaborar, que a
esmagadora maioria dos jornais regionais e locais não tem nenhum
colaborador na área comercial e marketing e que o peso do pessoal
administrativo parece ser excessivo comparativamente com as duas principais
áreas do core business (jornalistas e comerciais/marketing). Na altura, mais de
52% dos jornais regionais e locais não tinham nenhum jornalista a tempo
inteiro, o que confirmava o amadorismo das empresas do sector.
Uma década mais tarde os dados não são muito mais animadores. A
maioria das empresas continua a ser classificada de micro-empresas com um
número muito reduzido de trabalhadores.
Aliás, uma das fragilidade que persiste ao longo dos anos é o diminuto
número de funcionários na área do marketing e publicidade o que denota que
as empresas de media regionais e locais não estão orientadas para o mercado,
defende o investigador que sublinha o amadorismo persistente das
publicações.
Também Paulo Ferreira, no seu trabalho O custo das não-decisões na
imprensa local e regional em Portugal publicado em 2005 no caderno
Comunicação e Sociedade nº7 do Centro de Estudos de Comunicação e
Sociedade da Universidade do Minho afirma que a imprensa regional/local é
empresarialmente muito frágil, com grandes dificuldades para chegar aos seus
leitores, muito pouco atractiva e ainda menos arrojada. O autor, cita Arons de
Carvalho quando aquele afirma ter encontrado em 1995, quando assumiu o

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lugar de secretário de Estado da Comunicação Social no primeiro Governo de
António Guterres, “um sector que, a par com alguma gente nova com arrojo e
com ideias, tinha muita gente acomodada, muita gente que estava à frente de
jornais regionais para manter uma tradição familiar, sem nenhuma visão
empresarial”. O mesmo governante é citado quando afirma que “Também tive a
noção de que havia um sistema de auxílios do Estado que afastava a imprensa
regional da procura da qualidade. O Porte Pago a 100% fazia com que
houvesse muitos jornais que tinham uma tiragem ditada pela relação com os
anunciantes e não pela relação com os leitores. Eram jornais praticamente
gratuitos, em grande parte”.
Como conclusão, Paulo Ferreira considera que mais do que incentivar o
desenvolvimento da imprensa local e regional, as políticas (ou a falta delas)
definidas para este sector pelos vários Governos têm sido um factor de
constrangimento à sua evolução. Esta conclusão é sustentada pela tese de que
as empresas proprietárias que investem seriamente num produto jornalístico de
qualidade, produzido por profissionais, é seriamente prejudicado por uma
concorrência mantida artificialmente à custa de apoios com dinheiro público.
Esta tese, como facilmente se constata por uma análise do anexo 1, pelo
menos no que respeita à primeira década do presente milénio, acaba por não
ter expressão já que das 298 publicações apoiadas apenas uma dezena
recebeu apoios acima dos 100 mil euros. Todos os outros valores, se forem
divididos pelo período em apreço, mostram que não é pelo montante envolvido
que uma publicação fará maior ou menor concorrência aos seus parceiros
regionais/locais uma vez que a maioria, ao não ter uma estrutura
profissionalizada nos seus diversos sectores, dificilmente torna esses apoios
num efeito multiplicador.
Reportando-me novamente ao Manual de Gestão de Marketing de
Empresas de Media Regionais e Locais é sublinhado pelo autor o baixo
número de jornalistas existentes nas publicações e, repare-se neste valor, 74%
das empresas considera ter muitas necessidades formativas em diversas
áreas, o que evidencia a necessidade de integrar novas competências.

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3. A importância da existência de PME consolidadas:

Se a consolidação das empresas de comunicação social detentoras de


publicações locais/regionais assume actualmente uma importância acrescida
num quadro de crise económico-financeira, não menos verdade é o facto de no
campo macroeconómico essa mesma estabilidade assumir cada vez maior
importância.
As próprias alterações legislativas introduzidas em Portugal pelos
sucessivos Governos têm esse mesmo objectivo, o de dotar das empresas de
capacidade técnica e de recursos humanos qualificados que contribuam para a
sustentabilidade de um sector que tem vivido ao longo de muitos anos numa
subsidio dependência que lhe tolhe a capacidade crítica e a independência.
De notar que o próprio Parlamento Europeu e o Conselho da União
Europeia aprovaram em Outubro de 2006 o Programa-Quadro para a
Competitividade e a Inovação (2007-2013). Destinado à generalidade das
Pequenas e Médias Empresas, o Programa-Quadro foi delineado para
contribuir para a competitividade e o potencial de inovação da Comunidade
enquanto sociedade de conhecimento avançada, caracterizada por um
desenvolvimento sustentável baseado num crescimento económico sólido e
numa economia social de mercado altamente competitiva, com um nível
elevado de protecção e de melhoria da qualidade do ambiente.
Os objectivos do Programa-Quadro são os seguintes: promover a
competitividade das empresas, em especial das PME; promover todas as
formas de inovação, incluindo a eco--inovação; acelerar o desenvolvimento
sustentável de uma sociedade da informação competitiva, inovadora e
inclusiva; promover a eficiência energética e as fontes de energia novas e
renováveis em todos os sectores, incluindo o dos transportes.
Estes objectivos, desafiantes à generalidade das PME, são realizados
através da execução dos seguintes programas específicos: programa para o
Espírito Empresarial e a Inovação; programa de Apoio à Política de Tecnologias
da Informação e da Comunicação (TIC); programa Energia Inteligente - Europa.
Pode-se questionar em que medida este Programa-Quadro pode
interessar às empresas detentoras de publicações em Portugal. A resposta
pode ser que interessa muito ou que não interessa nada.

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Se as entidades proprietárias continuarem a pensar a sua existência de
forma redutora, apenas dentro da comunidade local onde se inserem,
provavelmente o seu futuro está comprometido. Pelo contrário, se abrirem os
seus horizontes e passarem a entender a sua existência num quadro mais
abrangente, o futuro deverá ser mais risonho, numa sociedade mais informada
mas, fundamentalmente, melhor formada.
Importa então que as entidades proprietárias preparem o futuro das suas
publicações com base num planeamento estratégico que seja formalizado com
vista a produzir um resultado articulado, sob a forma de um sistema integrado
de decisões (Mintzberg, 1994).
Henry Mintzberg no seu livro “The rise and fall of strategic planning”
(1994) refere que o plano estratégico constitui a ferramenta de gestão que visa
ajudar a Organização a ter um melhor desempenho, na medida em que
mobiliza e orienta a energia, os recursos e o tempo de todos os membros da
organização na mesma direcção.
Aplicando este princípio a um meio de comunicação social é
fundamental o estabelecimento do modelo de negócio. Faustino (s/d) preconiza
que a empresa deve definir o que faz e a quem se destinam os seus produtos,
que produtos ou serviços são esses e o que os torna diferentes dos seus
concorrentes e ainda que identifique a forma como se geram rendimentos e a
partir de quem.
Este é pois o dilema do legislador quando constata que a maior parte
das entidades proprietárias apresenta um baixo nível de qualificação e cultura
empresarial.

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4. Apoios a nível europeu

Segundo Jorge Sousa (2002) no seu trabalho Comunicação regional e


local na Europa Ocidental a comunicação social regional e local fervilha em
todos os países europeus, reflectindo simultaneamente compromissos de
cidadania e a satisfação das necessidades comunicacionais das comunidades
regionais e locais. As próprias organizações mediáticas estatais tiveram de se
adaptar às solicitações dos cidadãos, que desejam ter informação e jornalismo
de proximidade. Pelo menos à escala comunicacional existe uma Europa das
Regiões.
O autor defende que a concorrência mediática local e regional é variável.
Na maioria das pequenas e médias localidades europeias normalmente existe
apenas um único jornal, uma única rádio ou, quando existe, mesmo uma única
televisão. “É o que acontece em Portugal, onde normalmente existe um único
jornal ou uma única rádio por município, o que anula a concorrência. Em
Portugal, continuam também a existir muitos órgãos de comunicação regionais
e locais fulanizados que sobrevivem mercê unicamente da carolice dos seus
animadores, apesar da pressão para a empresarialização do subsector –
visível, por exemplo, nas directrizes para a concessão de apoio à
modernização tecnológica, etc.”.
Como se constata, também Jorge Sousa identifica claramente o
amadorismo das empresas de comunicação social como um óbice ao seu
desenvolvimento. Apesar disso, a política de apoios acaba por ser transversal à
maioria dos países europeus que reconhecem, por um lado as mais-valias dos
órgãos de informação para uma sociedade mais inclusiva mas por outro os
riscos inerentes a empresas pouco sólidas que ficam à mercê dos grandes
grupos comunicacionais que reconhecem na informação de proximidade uma
fileira de negócio.
“Não existe na Europa um modelo único de apoios à imprensa, mas
existem diversas variáveis que inspiram os diferentes modelos”. A afirmação é
de Feliciano Barreiras Duarte, na sua obra Informação de Proximidade – jornais
e rádios, publicada em Março de 2005. O autor destaca quatro factores que na
sua óptica sustentam o modelo de apoio mais ou menos proteccionista de cada

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Estado: dimensão de mercado; desenvolvimento económico; comportamento
das audiências; e ambiente político e social geral.
Feliciano Barreiras Duarte, ex-Secretário de Estado Adjunto do Ministro-
Adjunto do Primeiro-ministro, afirma que os seis países (Suécia, Noruega,
Áustria, França, Holanda e Finlândia) objecto de estudo para a obra atrás
referida apresentam sistemas de apoio à comunicação social diferentes do
modelo seguido em Portugal assentando na relação com o sucesso
empresarial dos produtos jornalísticos.

Ao contrário do que acontece em Portugal, nestes países os


apoios à imprensa não são exclusivos para a imprensa regional e local.
França é o país onde se observa a existência de uma maior diversidade
de apoios à imprensa. (…)
Ao contrário da perspectiva anglo-saxónica e alemã, os Governos
da Áustria, França, Holanda, Noruega e Suécia atribuem subsídios para
a sua imprensa, nomeadamente para garantir que os cidadãos tenham
acesso à informação e sejam parte activa do processo político.
Nestes países os apoios para os jornais diários visam contribuir
para a competitividade económica das empresas jornalísticas com o
intuito de assegurar a pluralidade dos títulos e a diversidade de opiniões.
Também existem apoios selectivos directos a novos meios que
entram no mercado por forma a minimizar as barreiras à entrada,
incentivar a competição e reforçar o sistema de mercado.
Para preservar a multiplicidade editorial, por exemplo na Suécia
foi introduzido, entre 1976 e 1977, um apoio que beneficiou os
chamados jornais de baixa periodicidade (entre um a três publicações
por semana), assim como alguns jornais de grande cobertura. Este
apoio, extinto em 1987, era concedido sob a forma de empréstimo por
um período de tempo máximo de dois anos, livre de taxas e de
amortizações, o que permitiu a criação de 25 novos títulos.
Na Noruega e Suécia, assim como na Áustria e França, os
subsídios directos do Governo são concedidos para diários secundários
que têm dificuldade em angariar publicidade. Nestes países, estes
apoios são encarados como uma ajuda aos jornais de segunda categoria
para aumentarem a sua posição no mercado. (p. 119)

Mais à frente na presente publicação são apontados outros exemplos de


países onde os apoios foram extintos (Itália e Espanha) ou então distribuídos
de forma muito direccionada como na Grécia onde preferencialmente são
apoiados os pequenos jornais, na Dinamarca para projectos específicos ou na
Bélgica onde são apoiados mais consistentemente os jornais de língua
francesa.

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5. O regime de incentivos:

Os primeiros Incentivos foram atribuídos no ano de 1986 numa tentativa


de aumentar a qualidade e o profissionalismo dos meios de comunicação social
locais/regionais.
Segundo a legislação da altura, entretanto revogada, podiam candidatar-
se a este incentivo as entidades proprietárias ou editoras de publicações
periódicas de informação geral, de âmbito regional, destinadas às comunidades
portuguesas no estrangeiro ou que estimulassem o relacionamento e o
intercâmbio com os povos dos países e territórios de língua portuguesa.
Quanto às rádios, eram contempladas por esta medida as de conteúdos
generalistas, temático informativo ou temático cultural, licenciadas para
cobertura local.
Entretanto, em 2001 foram publicados o decreto-lei nº 56/2001 e a
portaria nº 204/2001, de 14 de Março, que revogaram a legislação anterior,
passando a existir duas modalidades de incentivos: os directos e os indirectos.
Os primeiros incidiam sobre a modernização tecnológica, os conteúdos
na Internet, inovação e desenvolvimento empresarial, formação e qualificação
de recursos humanos, edição de obras sobre comunicação social e as
iniciativas de interesse relevante para a área da comunicação social. Já os
segundos prendiam-se com o apoio do Estado para a expedição das
publicações por via postal, vulgarmente conhecido como Porte Pago.
O incentivo à Criação de Conteúdos na Internet visava promover o
acesso dos órgãos de comunicação social portuguesa, de âmbito local e
regional, aos novos serviços e às novas tecnologias da informação e
comunicação, fomentando a criação, na Internet, de conteúdos em língua
portuguesa na área da comunicação social e promovendo a utilização dos
novos serviços de informação e comunicação enquanto áreas de negócio da
comunicação social.
O incentivo à Inovação e Desenvolvimento Empresarial tinha como
objectivo estimular o desenvolvimento de projectos empresariais de órgãos de
comunicação social, cujos investimentos fossem inovadores, reforçassem a
qualidade, o profissionalismo e a competitividade do sector.

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Por último, o incentivo à Formação e Qualificação dos Recursos
Humanos tinha como objectivo promover acções de formação e qualificação
dos recursos humanos nas áreas da comunicação social e da organização e
gestão de empresas do sector, consubstanciando-se no financiamento parcial,
a fundo perdido, dos custos das referidas acções.
Em 2005 ocorreu nova alteração legislativa com a publicação do
decreto-lei nº 7/2005 de 6 de Janeiro que se mantém em vigor.
Este passou a englobar incentivos financeiros directos, que se destinam
a apoiar o financiamento das empresas jornalísticas e de radiodifusão, bem
como de projectos no âmbito da comunicação social; outros incentivos que se
destinam a apoiar a formação e a integração dos profissionais da comunicação
social, a promoção da leitura e o desenvolvimento da sociedade da informação
e do conhecimento.
Passaram a existir os seguintes Incentivos Financeiros Directos:
Incentivo à Iniciativa Empresarial e Desenvolvimento Multimédia; Incentivo à
Qualificação e ao Desenvolvimento dos Recursos Humanos; Incentivo à
Investigação e à Edição de Obras sobre Comunicação Social; Incentivos
Específicos.
A partir de 31 de Março de 2007, os incentivos à iniciativa empresarial e
desenvolvimento multimédia e à qualificação e ao desenvolvimento dos
recursos humanos foram substituídos por um único incentivo à consolidação e
ao desenvolvimento das empresas de comunicação social regional e local. Esta
alteração pode ser entendida como uma nova perspectiva sobre o
desenvolvimento e gestão das empresas que passou então a ser visto de
forma global por oposição à desarticulação existente até aí.
Com a publicação do decreto-lei nº 35/2009 de 9 de Fevereiro e por via
da aplicação do programa SIMPLEX 2008, os encargos administrativos com a
apresentação das candidaturas foram reduzidos não pela substituição da
apresentação de estudos de viabilidade económica pela prestação de
informações, nos formulários de candidatura, relativas a indicadores
económicos e financeiros a aprovar por despacho, mas também a substituição
da apresentação de documento comprovativo do respeito das normas legais ou
convencionais aplicáveis às relações de trabalho, emitido pela Autoridade para
as Condições do Trabalho, por declaração do candidato assumindo o

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cumprimento dessas normas legais ou convencionais. Para o mesmo efeito,
visando facilitar a demonstração da classificação das publicações de âmbito
regional, prevê-se a substituição da prova da edição de “conteúdos jornalísticos
[...] vocacionados para outros municípios, além daquele onde (a candidata)
está sediada” e da “distribuição superior a 40 % fora do município onde está
sediada”, por declaração do candidato, sujeita a fiscalização, de que são
cumpridas todas as obrigações e requisitos legais.

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6. Descrição e análise dos dados empíricos:

No período temporal em análise, a primeira década do actual milénio, o


Estado atribuiu Incentivos Directos a 298 publicações num total de
8.121.648,78 euros. Entre os anos 2000 e 2003 o valor dos incentivos esteve
sempre acima de um milhão e duzentos mil euros, sendo o ano em que foram
atribuídos mais incentivos o de 2001 com 1.683.075,03 euros correspondentes
a 127 projectos aprovados e efectivamente implementados. De referir que
neste ano o então Instituto da Comunicação Social aprovou um elevado
número de candidaturas com o mesmo valor (7.481,96 euros) destinados à
produção de conteúdos na Internet, o que revela dois aspectos a ter em conta:
em primeiro lugar o elevado número de publicações que a partir daquela data
passaram a disponibilizar conteúdos informativos on-line; em segundo lugar,
como aquele valor era o tecto máximo do apoio concedido, pode ter levado
algumas publicações a apresentarem o seu projecto nesse montante
independentemente de terem definido a sua presença na rede mundial de
forma mais modesta ou mais efectiva, existindo dessa forma uma
homogeneidade financeira.

Gráfico 1: Evolução dos montantes globais anuais dos incentivos concedidos

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Entre os anos 2004 e 2010 a tendência foi sempre de descida do
montante dos apoios concedidos com uma oscilação no ano 2007 que
apresenta um montante equivalente ao de 2005. Ainda assim a constatação é
de que em 2010 os apoios pouco passaram dos 86 mil euros correspondentes
a quatro projectos aprovados e implementados.
O montante de 322,26 euros é o valor mais baixo concedido a uma
publicação, “A Voz de Loulé”, o que levanta a questão da utilidade dos
Incentivos Directos e da forma como as entidades proprietárias os viam e,
consequentemente, aplicavam. Montantes desta ordem não contribuem de
forma alguma para melhorar a gestão de uma empresa de comunicação social,
modernizando-a ou apostando na qualificação dos seus colaboradores. Se por
um lado os proprietários das publicações cumpriram todos os requisitos para
merecer a aprovação da candidatura cabe à entidade gestora dos dinheiros
públicos uma utilização consentânea com os objectivos gerais das várias linhas
de apoio. Ainda que se tratem de verbas diminutas o volume global das
candidaturas com montantes abaixo dos 1.500 euros alcança os 8.834,72
euros no intervalo 2000-2010, um montante superior a grande parte dos
projectos implementados.
No período temporal em análise a maioria das publicações teve apoio do
Estado apenas uma vez, seguindo-se aquelas que em dois momentos viram os
seus projectos serem objecto de aprovação. Mas há também exemplos de
publicações que no espaço de dez anos tiveram dinâmica para elaborar três ou
mesmo quatro projectos de investimento distribuídos pelas diversas áreas de
apoio revelando um forte sentido de oportunidade para se consolidarem
empresarialmente, apostando na profissionalização e preparando dessa forma
o seu futuro.
A maior parte dos fundos aplicados nos Incentivos Directos foram
direccionados para a Modernização Tecnológica. Existem várias razões para
este facto que importam sublinhar: equipamentos profissionais de preço
elevado que as empresas não adquiririam se o tivessem de fazer sem apoios;
equipamentos anteriormente classificados como tendo baixa importância;
empresários ou entidades proprietárias anteriormente pouco informadas sobre
os processos de produção. Pode mesmo questionar-se se a Modernização
Tecnológica não foi a base para um salto qualitativo das publicações e para o

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despertar de projectos editoriais que até então estavam confinados a práticas
de gestão completamente amadoras.
Existe outro aspecto que talvez seja importante referir. Por uma questão
de proximidade, uma fatia significativa dos equipamentos adquiridos, ou das
páginas de Internet construídas pelas publicações apoiadas foram-no a
empresas da sua área de influência. Quer isto dizer que os apoios directos do
Estado também contribuíram de alguma forma para que outras PME
aumentassem o seu negócio. Obviamente que essa relação comercial entre as
publicações e quem lhes vendeu o equipamento ou prestou o serviço se
estende para além do primeiro momento uma vez que os contratos de
manutenção fazem que esse relacionamento perdure no tempo. Alguns terão
mesmo passado a ser considerados como parceiros de desenvolvimento ou
então foram estabelecidas relações comercias através da inserção de
publicidade na publicação.
Ao longo de dez anos uma dezena de publicações (“A Voz da Quarteira”,
“A Verdade”, “Terras da Feira”, “Região Sul”, “Póvoa Semanário”, “Mensageiro
de Santo António”, “Jornal Nordeste”, “Jornal Carteia”, “Expresso do Ave”,
“Diário de Coimbra”) mudaram de empresa proprietária, ora por alteração do
nome e do pacto social da mesma ora por aquisição por entidade diferente.
Também aqui se levantam questões de ordem económica: poderão estes
títulos, apesar de terem sido apoiados, não ter evoluído o suficiente para serem
rentáveis? Ou terão os mesmos evoluído de forma positiva chamando a
atenção de empresas interessadas na sua aquisição? Poderemos ainda
questionar se a alteração do pacto social e do nome da entidade proprietária,
que na prática se manteve, não se tratou de uma forma de continuar a
concorrer aos apoios públicos que colocam de parte, por exemplo, as
publicações confessionais ou partidárias.
Com a abertura em 2001, com a publicação do decreto-lei nº 56/2001 e
a portaria nº 204/2001, de 14 de Março, o Estado passou a atribuir Incentivos
para a produção de conteúdos na Internet.
Ora, os projectos apresentados e aprovados nesse mesmo ano foram
implementados em 2002 e assim sucessivamente.
Em 2004 existiam mais 22 publicações na Internet do que no ano
anterior. Mas em 2003 foram aprovadas apoios a 29 candidaturas o que quer

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dizer que pelo menos alguns deles não se tratavam de novos projectos mas
sim uma remodelação da presença já existente.
Mas nos dois anos seguintes os dados inverteram-se. Em 2005
passaram a existir mais 48 publicações na Internet quando o número de
projectos aprovados foi de 32 e no ano seguinte entraram na Internet mais 49
publicações enquanto que as candidaturas aprovadas foram 8 sendo que a
linha de apoio passou a destinar-se à Iniciativa Empresarial e Desenvolvimento
Multimédia.

Gráfico 2: Evolução do suporte de publicação, 2003 a 2006


(fonte: INE, estatísticas da cultura, desporto e recreio)

Se repararmos nos dados publicados no Anuário da Comunicação 2006-


2007, editado pelo Observatório da Comunicação (Obercom), o número de
publicações em papel e com presença simultânea na Internet foi sempre
subindo no intervalo em análise (2003-2006) demonstrando por um lado que as
empresas estavam a apostar numa nova área, e por outro que a relação do
número de projectos apoiados com o número de novas publicações presentes
na Internet era completamente distinto. Assim pode-se concluir que nesta área
a maioria das entidades proprietárias não recorreu aos apoios financeiros
públicos para marcar presença na Internet.

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O número de entidades apoiadas mostra-se proporcional ao montante
das verbas aplicadas pelo Estado com especial relevo para o ano 2001 com
126 projectos a serem aprovados.

Gráfico 3: Evolução do número de projectos apoiados

Mais uma vez levanta-se a interrogação sobre qual a razão para um


diminuição drástica do número de projectos apoiados a partir do ano de 2005.
Razões de ordem burocrática na instrução das candidaturas? Critérios mais
apertados na sua aprovação e menos verbas adstritas? Ou terão as empresas
mais dinâmicas sido apoiadas nos anos anteriores o que impossibilitou a sua
recandidatura a apoios estatais?
Por outro lado, as entidades proprietárias que receberam apoios
públicos e que cancelaram a sua actividade (Anexo 2) mostram que os
projectos empresariais já estavam debilitados aquando da elaboração da
candidatura e da decisão do respectivo apoio podendo mesmo considerar-se
que aquela seria apenas mais uma forma que as empresas poderão ter
encontrado para tentar fazer face a dificuldades financeiras existentes.
Levantam-se aqui outras questões como a aplicação dos apoios do Estado que

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no caso da aquisição de equipamentos que as empresas integraram como
activos. Ora, dependendo das razões do encerramento, esses mesmos
equipamentos passaram a integrar a listagem de bens a alienar para suprir
eventuais dívidas a fornecedores ou colaboradores, o que mereceria uma
análise mais aprofundada.
Ao longo do período em apreço foram investidos pelo Estado 770 mil
euros em projectos de comunicação que entretanto fecharam as suas portas.
De notar que apenas nos distritos de Vila Real, Beja e Évora, assim como nas
Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira não existiram encerramentos de
publicações.
Por aferir fica o aspecto da eventual criação de postos de trabalho nas
entidades apoiadas. Este é um dos critérios para a atribuição dos incentivos
mas nos dados disponibilizados pelo Gabinete para os Meios de Comunicação
Social não é possível descortinar se efectivamente essa foi uma aposta das
entidades proprietárias das publicações.

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7. O impacto dos apoios:

Depois de uma análise à implementação dos apoios estatais, Feliciano


Barreiras Duarte em 2005 no livro “Informação de Proximidade – jornais e
rádios”, chega à conclusão que as publicações apoiadas não apresentaram, na
sua generalidade, o desenvolvimento empresarial desejável. Em vez de
aumentarem o número de leitores e as tiragens foi o número de publicações
com Porte Pago que subiu. O governante defendia por isso a redução dos
apoios públicos por considerar que politicamente a democracia está
consolidada no país e porque as empresas proprietárias apresentavam um
mau aproveitamento dos apoios.
Tomando novamente em linha de conta o Estudo de Impacto dos
Incentivos Directos concedidos pelo Estado aos órgãos de comunicação social
regional e local os autores constatam que a maioria das verbas concedidas
foram aplicadas em equipamentos essenciais ao desenvolvimento da
actividade jornalística e não em investimentos estratégicos com vista à
implementação de uma gestão de negócio mais dinâmica o que, em minha
opinião é facilmente constatável pelo montante médio dos apoios concedidos.

Portanto, é de admitir que os incentivos têm pouco ou nenhum


impacto na melhoria das situações financeiras ou de mercado dos
jornais e a longo prazo não criam sustentabilidade, mas sim
dependência da atribuição anual de subvenções. Os incentivos apenas
conseguem criar sustentabilidade a longo prazo se mudarem as
condições financeiras e de mercado do beneficiário, através da
prestação de ajuda na sua reestruturação, expansão de mercado ou na
aquisição de tecnologia que reduza custos (Picard, 1991, citado por
Carvalho, A., Faustino, P., & Martins, M. 2010, p. 270). Estratégias de
mercado claras, práticas de gestão melhoradas e estruturas de custo
mais baixas constituem condições necessárias para melhorar as
condições da maioria dos jornais marginais; os apoios devem ser
dirigidos para apoiar estas actividades (Lichtenberg, 1995, citado por
Carvalho, A., Faustino, P., & Martins, M. 2010, p. 270).

Será necessário implementar uma política que apoie a excelência


empresarial com objectivos e planos de negócio bem definidos, pois só dessa
forma os incentivos estatais poderão ter algum impacto positivo.

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8. Conclusões:

Analisando o atrás descrito pode-se concluir que uma parte significativa


das publicações apoiadas parece estar num ciclo vicioso de subsídio-
dependência. Julgo não se poder entender de outra forma a postura de um
sector que não tendo impacto positivo na sua situação financeira após a
aplicação de verbas provenientes de apoios estatais volte, passado o tempo
mínimo legal, a apresentar candidatura para novos apoios.
Há pois que desejar que o processo de apreciação das candidaturas
passe a ser mais interactivo entre as entidades proponentes e quem avalia, de
modo a que os apoios concedidos tenham verdadeiramente impacto nas
publicações apoiadas.
Quer isto dizer que as políticas seguidas ao longo dos anos pelos
sucessivos governos resultaram em alterações pouco significativas num sector
que é cada vez mais importante na actualidade mas que se está a deixar
ultrapassar pelos grandes grupos de comunicação, esses sim, bem
organizados e com estratégias de mercado bem definidas que vão
precisamente ao encontro do que o seu público-alvo pretende.
Apesar de Feliciano Barreiras Duarte (2005) considerar que a
democracia está devidamente implantada no país como uma das justificações
para a diminuição dos apoios estatais, a cada jornal que encerra as suas portas
são mais vozes locais que deixam de ser escutadas.
Camponez (2002, citado por Vieira 2009) destaca que a imprensa
regional se refere à informação local, isto porque existe um elo de ligação entre
a “localização territorial e territorialização dos conteúdos”. De acordo com o
autor de “Jornalismo de Proximidade”, a imprensa regional constrói-se no
compromisso entre a região e as pessoas que a habitam, sendo “nesse
compromisso que frutifica ou fracassa, se diversifica ou homogeneíza a
comunicação”. (p.64)
Pode-se então concluir que apesar de os apoios públicos virem, na sua
generalidade, a ser aplicados de forma pouco eficaz o seu cancelamento
poderá ditar o encerramento de um grande número de publicações.

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Anexo 1

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Anexo 2

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Bibliografia:

Cardoso, G. (coord.). (2008). Anuário da Comunicação 2006-2007, Obercom:


Lisboa.

Carvalho, A., Faustino, P., & Martins, M. (coord.). (2010). Estudo de impacto
dos Incentivos directos concedidos pelo Estado aos órgãos de comunicação
social regional e local, Media XXI: Lisboa.

Duarte, F. (2005). Informação de proximidade – jornais e rádios, Âncora


Editora: Lisboa.

Faustino, P. (2005). Manual de Gestão de Marketing de Empresas de Media


Regionais e Locais, Cenjor e Colecção Media XXI: Lisboa.

Faustino, P. Pensamento estratégico aplicado às empresas de media –


repensar os modelos de negócio e as cadeias de valor (Comunicação pessoal
s/d)

Ferreira, P. (2005). O custo das não-decisões na imprensa local e regional em


Portugal, Comunicação e Sociedade, vol. 7, pp. 153-180.

Mintzberg, H. (1994). The rise and fall of strategic planning. Freeman: New
York.

Sousa, J. (2002). Comunicação regional e local na Europa Ocidental - Situação


geral e os casos português e galego, Retirado 5, Março, 2011, de
http://www.bocc.ubi.pt/pag/sousa-jorge-pedro-comunicacao-regional-na-
europa-ocidental.pdf

UE (2006). Decisão no 1639/2006/CE, Jornal Oficial da União Europeia, L310,


p.15-40.

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Vieira, J. (2009). O jornalismo de proximidade na era digital: Análise funcional
do jornal da Mealhada. Universidade Fernando Pessoa: dissertação de
mestrado.

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