Estudos de Coorte Prof. Dr. Leonardo Luiz Borges Estudos de coorte • Caracterizados como aqueles com desenho observacional, longitudinal, em que indivíduos constituem a unidade de análise. Os estudos de coorte são também chamados de estudos de incidência, de seguimento, prospectivos ou longitudinais. Estudos de coorte • Envolvem a observação de um grande número de indivíduos durante um período de tempo geralmente prolongado, sendo portanto estudos caros, de operacionalização complexa e pouco adequados à investigação de desfechos raros ou com longos períodos de latência; • Vantagem: permitir aos pesquisadores a observação da sequência temporal de eventos – da exposição ao desfecho de interesse – o que facilita o processo de inferência causal e o cálculo direto de medidas de frequência da enfermidade (incidência e mortalidade). Estudos de coorte • Geralmente pessoas “saudáveis” – sem a doença ou agravo de interesse – são classificadas em grupos segundo o grau de exposição a potenciais fatores de risco (ou proteção), sendo acompanhadas no tempo, para comparar a frequência da doença ou agravo entre os grupos. Como a observação ao longo do tempo permite identificar casos novos, este tipo de estudo possibilita o cálculo de medidas de incidência. Estudos de coorte • Os estudos de coorte também podem ser usados para avaliar prognóstico de enfermidades, em cujo caso o desfecho de interesse é mortalidade/sobrevida ou incidência de recidivas. Estudos de coorte • A estratégia longitudinal permite a investigação de múltiplos desfechos e a estocagem de material biológico para análises futuras; • Incorporação de novas hipóteses durante o estudo e contribuem para reduzir o potencial para vieses. Estudos de coorte • A avaliação da etiologia de doenças (associação entre fumo e câncer de pulmão); • Avaliação da história natural de doenças (evolução de pacientes HIV positivos); • Estudo do impacto de fatores prognósticos (marcadores tumorais e evolução de câncer); • Estudo de intervenções diagnósticas (impacto da realização de colpocitologia sobre a mortalidade por câncer de colo uterino) e terapêuticas (ex. impacto do tipo de tratamento cirúrgico de fraturas de colo do fêmur em idosos sobre a mortalidade). Estudos de coorte • Um dos principais desafios desse tipo de estudo é manter a adesão dos participantes e, quanto maior a duração da pesquisa, maior é o potencial de perdas durante o seguimento. Se estas perdas forem sistematicamente diferentes entre os grupos de exposição ou ligadas ao desfecho de interesse, produzirão viés de seleção. Estudos de coorte
Estudo concorrente (A) é o estudo clássico de coorte em que uma
coorte é identificada, classificada de acordo com a exposição e seguida do presente para o futuro. No estudo de coorte histórica (B), a coorte de 1989 é reconstituída em 2009, utilizando bases de dados existentes em 1989 e seguida do passado ao presente, isto é, de 1989 até 2009, geralmente utilizando record linkage com registro de mortalidade ou morbidade. O estudo de coorte misto ou bidirecional (C) inclui seguimento tanto do passado até o presente quanto do presente para o futuro. Estudos de coorte Estudos de coorte Como estruturar um estudo de coorte: Para cumprir seus propósitos fundamentais, após o estabelecimento das questões da pesquisa, um estudo de coorte esquematicamente inclui as seguintes etapas: • 1. Definição da população de estudo; • 2. Monitoramento dos indivíduos com relação a desfechos e mudanças na exposição a fatores de risco; • 3. Análise dos resultados. Estudos de coorte • Uma das primeiras questões a considerar na escolha da população em um estudo longitudinal é o tipo de exposição que será investigada. Geralmente a coorte é composta por uma amostra da população de referência em que se espera um número razoavelmente elevado de pessoas expostas. Este é o caso típico do Framingham Heart Study, que estudou exposições de alta prevalência, como, por exemplo, hipertensão arterial, tabagismo e hipercolesterolemia. Estudos de coorte • Se, por outro lado, as exposições estudadas são mais raras, é necessário selecionar uma coorte especial que agregue uma grande proporção de pessoas expostas ao fator de interesse, como, por exemplo, certos grupos ocupacionais ou populações com características especiais, como pertencer a uma dada religião ou ter uma dieta incomum. Estudos de coorte • Dois exemplos são as coortes de trabalhadores da indústria de borracha (Mancuso, el-Attar, 1967) e de trabalhadores da indústria expostos à poeira de asbestos nos EUA. Este é o caso também de estudos longitudinais que pretendam avaliar exposições eventuais como aquelas ocorridas em acidentes ou guerra. São exemplos o estudo de sobreviventes da bomba atômica em Hiroshima e Nagasaki, o estudo de veteranos expostos ao agente laranja durante a Guerra do Vietnã e a coorte de holandeses expostos à fome durante a ocupação alemã entre 1944 e 1945. Estudos de coorte A partir dessa consideração primária, três questões adicionais devem orientar a seleção da população em um estudo longitudinal: • 1. Objetivos do estudo; • 2. Necessidade de assegurar a retenção e o seguimento da coorte; • 3. Viabilidade do estudo. Estudos de coorte • Os objetivos do estudo determinam os critérios de inclusão e exclusão; ou seja, critérios relacionados com gênero, idade, ocupação etc. devem ser coerentes com as hipóteses a serem investigadas. Um estudo que tem por objetivo investigar os efeitos de uma exposição sobre o câncer de mama irá estudar apenas mulheres adultas, visto que a incidência do câncer de mama é baixa em homens. Estudos de coorte Estudos de coorte • Os estudos de coorte podem ser classificados como concorrentes (prospectivos, clássicos) ou não concorrentes (retrospectivos). Nos estudos não concorrentes todas as informações sobre a exposição e o desfecho já ocorreram antes do início do estudo. Nos estudos concorrentes a exposição pode (ou não) já ter ocorrido, mas o desfecho ainda não ocorreu. • Os problemas dos estudos não concorrentes são: viés de informação e a inabilidade para controlar variáveis de confusão (falta de informação). Estudos de coorte Estudos de coorte Estudos de coorte • Um aspecto importante relacionado com a validade externa de valores de medidas de associação é a ocorrência de interações. Um exemplo da influência do fenômeno de interação na validade externa de uma medida de associação é o estudo da associação de cirrose hepática com álcool e fumo conduzido por Yu et al. (1997) em portadores crônicos do antígeno de superfície da hepatite B. Nesse estudo, foi identificada uma forte interação entre álcool (modificador de efeito) e tabagismo (fator de risco em potencial) com relação à cirrose hepática: ao se compararem fumantes e não fumantes, os riscos relativos para cirrose foram 1,8 e 7,0 para não consumidores e consumidores de bebidas alcoólicas, respectivamente. Estudos de coorte • A escolha de uma coorte por meio de amostra representativa, de conveniência ou de voluntários deve considerar dois aspectos: 1) a validade interna dos resultados, que depende da prevenção de confundimento e viés de seleção ou de informação; e 2) a validade externa, isto é, a relevância ou interesse de extrapolar as taxas de incidência e prevalência calculadas na coorte para a população que deu origem à mesma. Estudos de coorte • A coorte fechada ou fixa é aquela em que o grupo é definido na linha de base e seus participantes somente saem da coorte através de perdas e mortes, já que mesmo a ocorrência de desfechos sob investigação não justifica a exclusão pelo interesse em aspectos como a sobrevida e recidivas dos agravos ou doenças. Nestes estudos, uma vez finalizado o recrutamento de participantes na linha de base, não se admitem novas entradas ao longo do tempo. Estudos de coorte • A coorte aberta ou dinâmica é aquela em que a composição da coorte muda com o tempo por motivos adicionais às da coorte fixa. Um exemplo de uma coorte aberta é a população de uma pequena cidade, cuja composição pode variar temporalmente não somente por causa de eventos e de perdas, mas também por causa de imigrações, nascimentos etc. Estudos de coorte Estudos de coorte