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Curso de Direito
Niterói
2019.2
ROBERTO RODRIGUES FONTES DE SIQUEIRA
Niterói
2019.2
RESUMO
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
Algumas discussões acessórias, mas também relevantes que serão estudadas dizem
respeito a terceirização de atividade-fim, assunto este que anteriormente era vedado firmemente
e atualmente se encontra permitido por lei, bem como sobre a abrangência da condenação
quanto a responsabilidade da Administração Pública em caso de terceirização, de certo que no
momento o assunto se encontra pacificado no sentido que abrange todas as parcelas laborais,
por meio da criação do Item VI da Súmula n° 331 do Tribunal Superior do Trabalho.
4
2 DESENVOLVIMENTO
Precipuamente, a terceirização trabalhista pode ser definida como fenômeno social onde
uma empresa ou um ente público, tomador de serviços, realiza a contratação de serviços
prestados por outra empresa, executados por meio de trabalhadores que possuem vínculo de
emprego direto com a prestadora do serviço.
[...] a estratégia empresarial que consiste em uma empresa transferir para outra, e sob
o risco desta, a atribuição, parcial ou integral, da produção de uma mercadoria ou a
realização de um serviço, objetivando – isoladamente ou em conjunto – a
especialização, a diminuição de custos, a descentralização da produção ou a
substituição temporária de trabalhadores. 1
Destaca-se, ainda, que a Lei 6.019/74, conforme mencionado, regula outro instituto,
qual seja, o trabalho temporário, de forma que alguns conceitos foram acrescidos à esta
legislação por meio das Leis 14.429/2017 e 14.467/2017, como por exemplo o artigo 4°-B, onde
são preceituados os requisitos para funcionamento da empresa de prestação de serviços.
1
SOBRINHO, Zéu Palmeira apud SANTOS, Diogo Palau Flores dos. Terceirização de serviços pela
Administração Pública: estudo da responsabilidade subsidiária. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 19.
2
BRASIL. LEI No 6.019, DE 3 DE JANEIRO DE 1974. Dispõe sobre o Trabalho Temporário nas Empresas
Urbanas, e dá outras Providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 4 jan. 1974.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6019.htm. Acesso em: 16 set. 2019.
5
Não se trata mais de ser contra ou a favor da terceirização. Está-se diante de uma
realidade inexorável: a terceirização não vai acabar. Ninguém, razoavelmente,
imagina uma economia saudável no Brasil se a contratação de empresas
especializadas na execução de serviços determinados fosse impossibilitada. Estamos,
pois, diante da advertência de George Ripert: “quando o direito ignora a realidade, a
realidade se vinga, ignorando o direito”.3
O tema tratado pode ser verificado em inúmeras decisões judiciais nos dias de hoje. Isto
porque o instituto da terceirização se tornou algo fundamental atualmente, diante do avanço nas
relações sociais e por causa da elevada demanda, a Administração Pública necessita de
trabalhadores lhe prestarem serviços em diversos campos, como por exemplo limpeza,
vigilância, informática, dentre outros.
3
RIPERT, George apud VANTUIL. Terceirização: Normatização – Questionamentos. Rev. TST, Brasília, vol.
74, 4out/dez. 2008. Disponível em:
https://juslaboris.tst.jus.br/bitstream/handle/20.500.12178/5384/001_abdala.pdf?sequence=1. Acesso: 20. set.
2019.
4
ABDALA, Vantuil. op. cit.
6
Seria inconcebível pensar em ausência de terceirização nos dias de hoje pelo simples
motivo de que inexistindo este instituto, os entes públicos seriam obrigados a formularem
diversos concursos para a admissão de trabalhadores que atuariam em funções acessórias, que
a função típica do Estado.
Impossível seria criar, por exemplo, um concurso público para contratação de pessoal
para a realização de tarefas de limpeza. Desde o início já se mostra ao menos esdrúxulo, posto
que não haveria uma forma objetiva de análise dos candidatos. Diante disso, por óbvio, a
terceirização é indubitavelmente imprescindível atualmente, a fim de evitar, inclusive, a
precarização do serviço público e a elevada demanda que necessita a coletividade.
Em sendo assim, o responsável subsidiário por alguma dívida não poderá ter seu
patrimônio afetado sem antes haver a tentativa de recebimento pelo devedor principal, sendo
esta garantia denominada benefício de ordem, conforme conceituado.
5
CONSOLI, Anelícia Verônica Bombana; PALLAORO, Tammy Aira. Reflexões acerca da terceirização face às
inovações trazidas pela lei nº 13.429/17. Revista Jurídica, [S.l.], v. 2, n. 4, p. 21-44, maio 2019. ISSN 2595-945X.
Disponível em: <http://revistajuridica.fadep.br/index.php/revistajuridica/article/view/91>. Acesso em: 28 out.
2019. Acesso: 20. set. 2019
7
Tal instituto pode ser observado em diversas searas no Direito brasileiro, mas para o
Direito do Trabalho é comumente verificado na hipótese de ocorrência do Enunciado de Súmula
n° 331 do Tribunal Superior do Trabalho, conforme se transcreve:
6
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula n° 331. CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS.
LEGALIDADE (nova redação do item IV e inseridos os itens V e VI à redação) - Res. 174/2011, DEJT divulgado
em 27, 30 e 31.05.2011. Rio de Janeiro. Disponível em:
http://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_301_350.html.
8
Se por um lado a empresa contratada possui a responsabilidade direta para com seus
empregados, o ente público, na ocorrência de terceirização, deve zelar pelo adimplemento por
parte da contratada em razão de se beneficiária dos serviços prestados pelos trabalhadores
terceirizados.
A Administração Pública deve tomar alguns cuidados para não incorrer em culpa na
relação entre prestadora de serviço e empregado terceirizado, cuidados estes para não agir com
“culpa in vigilando” e “culpa in eligendo”.
7
Ibid. p. 98
9
fiscalização quanto ao cumprimento das obrigações trabalhistas por parte das empresas
contratadas para com os empregados terceirizados.
Apesar de a terceirização laboral ser verificada em todo o país com frequência, o tema
objeto do estudo ainda causa elevada controvérsia e enormes discussões por parte de
doutrinadores e até mesmo em razão dos recorrentes entendimentos jurisprudenciais distintos.
Se por um lado alguns defendem que a constitucionalidade do artigo 71, §1° da Lei
8.666/93 não implica em eximir a responsabilidade do ente público em caso de cometimento
de culpa, conforme entendimento jurisprudencial abaixo:
8
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho (1ª Região). Recurso Ordinário. Responsabilidade Subsidiária. Do Ente
Público. Possibilidade. Entendimento Sumulado do TRT da 1ª Região. Julgamento do RE 760.931-DF.
Repercussão Geral. Tese Fixada. Observância. Processo n° 0100238-87.2017.5.01.0451. Recorrente: Alcilei
Martins Veloso. Recorrido: Instituto Nacional de Assistência à Saúde e a Educação – INASE e outro. Relator:
Desembargador Paulo Marcelo de Miranda Serrano. Rio de Janeiro, 03 de abril de 2018
11
Sob outra ótica, vale salientar que no julgamento do Recurso Extraordinário n° 760.931
os ministros do Supremo Tribunal Federal apresentaram manifestações indicativas de que a
transferência da responsabilidade não deve ocorrer de modo automático, mas sim quando
verificada a culpa do ente público contratante, conforme trechos dos votos abaixo:
"[...]gostaria de registrar que, se nós não explicitarmos, ainda que em obiter dictum, o
tipo de comportamento que se exige da Administração Pública, o problema vai
continuar. [...] a inércia diante de inequívoca denúncia de violação de deveres
trabalhistas gera responsabilidade. [...] (informação verbal)10
Urge destacar também a advertência feita pelo Exmo. Sr. Min. Dias Toffoli:
"[...]a Administração Pública, ao ser acionada, tem que trazer aos autos elementos
de que diligenciou no acompanhamento do contrato. [...] Eu estou registrando esse
posicionamento no sentido de que a Administração Pública, uma vez acionada, tem
que apresentar defesa, porque, muitas vezes, ela simplesmente diz: "Eu não tenho
nada a ver com isso" - e tem, ela contratou uma empresa."11
9
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho (1ª Região). Recurso Ordinário. Terceirização. Responsabilidade
Subsidiária de Órgão Público. Art. 71, § 1º, Da Lei Nº 8.666/93. Questão Constitucional Já Enfrentada Pelo STF
na ADC 16. Efeito Vinculante (Art. 102, § 2º, Da Constituição Federal). Reafirmação da Jurisprudência no RE
760.931. Processo n° 0100613-65.2017.5.01.0006. Recorrente: Estado do Rio de Janeiro. Recorrido: Kyrian
Cristina Paulino Soares da Cunha e outros. Relator: Desembargador Rildo Albuquerque Mousinho De Brito. 30
de maio de 2019.
10
Comentário proferido pelo Ministro Roberto Barroso no julgamento do Recurso Extraordinário n° 763.931 em
30 de março de 2017.
11
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Trabalhista. Recurso Extraordinário n° 763.931/DF – Distrito Federal.
Relatora: Rosa Weber. Consulta Processual, Acórdão. p 350. 30 mar.2017. Disponível em: Disponível em: <
http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4434203 >. Acesso em: 20 set. 2019
12
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Trabalhista. Recurso Extraordinário n° 763.931. Relatora: Rosa Weber.
Consulta Processual, Acórdão. p 225. 30 mar.2017. Disponível em: Disponível em: <
http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4434203 >. Acesso em: 20 set. 2019
12
Também foi esclarecida a questão pelo Exmo. Sr. Min. Barroso: "[...] nós todos
concordamos que, se houve culpa in vigilando da Administração, ela deve responder; nós todos
concordamos que o ônus de provar que fiscalizou é do Poder Público. Então, nessas três ideias,
nós estamos de acordo."13
"Mas aqui a União não foi capaz de demonstrar qualquer movimento de fiscalização.
De modo que aí eu acho que, se nós dermos ganho de causa para a União, quando ela
confessadamente não fiscalizou, violaremos a própria posição da ADC 16, em que se
entendeu que o art. 71, § 1º, era constitucional. Porém, se houvesse vício na
fiscalização, poder-se-ia responsabilizar o poder público subsidiariamente. Aqui há
confissão de não fiscalização, de maneira que, com todas as vênias, este é tipicamente
um caso em que, se a União ganhar, nós estaremos descumprindo a ADC 16.". 14
No que se refere à abrangência das parcelas, registrou o relator, Exmo. Sr. Min. Luiz
Fux: "[...] o nosso posicionamento é todo no sentido do dever de fiscalização, de verificar se
os salários estão sendo pagos, se as verbas devidas estão sendo pagas.".15
Ocorre que, outros já defendem que apesar da inexistência de lei nesse sentido, existem
outras fontes do Direito que devem ser consideradas, como a doutrina e jurisprudência por
exemplo. Estas fontes foram primordiais para que atualmente se verifique diversas decisões
13
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Trabalhista. Recurso Extraordinário n° 763.931. Relatora: Rosa Weber.
Consulta Processual, Acórdão. p 238. 30 mar.2017. Disponível em: Disponível em: <
http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4434203 >. Acesso em: 20 set. 2019
14
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Trabalhista. Recurso Extraordinário n° 763.931. Relatora: Rosa Weber.
Consulta Processual, Acórdão. p 260. 30 mar.2017. Disponível em: Disponível em: <
http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4434203 >. Acesso em: 20 set. 2019
15
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Trabalhista. Recurso Extraordinário n° 763.931. Relatora: Rosa Weber.
Consulta Processual, Acórdão. p 241. 30 mar.2017. Disponível em: Disponível em: <
http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4434203 >. Acesso em: 20 set. 2019
13
Sendo assim, apesar da jurisprudência dominante bem como pelo entendimento por
parte dos ministros do Supremo Tribunal Federal na decisão do Recurso Extraordinário n°
760.931, constata-se que a tendência é a responsabilização subsidiária da Administração
Pública em caso de omissão.
Por este motivo, foi inserido o inciso VI na Súmula n° 331 do Tribunal Superior do
Trabalho, que estipula que a responsabilidade subsidiária do tomador de serviços se refere a
totalidade das parcelas trabalhistas oriundas da condenação referentes ao período da prestação
do serviço.
Outro assunto inserido no tema objeto do estudo que possui bastante pertinência
atualmente se refere à possiblidade de terceirização de atividade-fim. A atividade-fim se trata
14
Sempre se entendeu que a terceirização de atividade-fim era ilegal, de forma que havia
a possibilidade de caracterização do vínculo empregatício diretamente com o tomador de
serviços.
Ocorre que, tal entendimento fora modificado em virtude do advento do artigo 4°-A da
Lei n° 6.019, de 3 de janeiro de 1974, conforme redação dada pela Lei n° 13.467/2017, quando
facultada a possibilidade de haver a transferência de serviços por parte da contratante à empresa
contratada de atividade de qualquer natureza, inclusive a principal, de forma que todas as
discussões foram encerradas diante da alteração legislativa.16
Portanto, desde então, a terceirização foi se consolidando cada vez mais no dia-a-dia
laboral, apesar de muitas criticarem a terceirização por afetar os direitos trabalhistas dos
terceirizados e os princípios do Direito do Trabalho, acarretando em redução dos direitos do
empregado quanto a promoções, salários, fixação na empresa e outras vantagens decorrentes de
acordo ou convenção coletiva, além de violar o princípio da dignidade da pessoa humana que
é a essência das premissas da OIT (Organização Internacional do Trabalho), quais sejam:
respeito às normas internacionais do trabalho, em especial aos princípios e direitos
fundamentais do trabalho (liberdade sindical e reconhecimento efetivo do direito de negociação
coletiva; eliminação de todas as formas de discriminação em matéria de emprego e ocupação);
promoção do emprego de qualidade; extensão da proteção social; diálogo social. Sendo que o
Brasil assumiu perante a Organização Internacional do Trabalho, o compromisso de possibilitar
o trabalho decente como uma das prioridades políticas do governo.
16
BRASIL. LEI No 6.019, DE 3 DE JANEIRO DE 1974. Dispõe sobre o Trabalho Temporário nas Empresas
Urbanas, e dá outras Providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 4 jan. 1974.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6019.htm. Acesso em: 16 set. 2019.
15
forma passiva, não indicando efetivamente os requisitos de forma objetiva para que seja
cumprido em todas as esferas do Poder Judiciário, de forma que a inércia jurisdicional cada vez
mais se prolonga.
3 CONCLUSÃO
Se por um lado entende-se que a responsabilização não deve ser imputada ao ente
público em razão da falta de previsão legal e pela declaração de constitucionalidade do artigo
71, parágrafo primeiro da Lei 8.666/95 na Ação Declaratória de Constitucionalidade n° 16 pelo
Supremo Tribunal Federal.
Sendo certo que são perceptíveis diversas decisões conflitantes exatamente sobre o
mesmo assunto, que é o centro deste estudo, percebe-se que esta temática somente será
resolvida definitivamente, dando segurança jurídica às decisões nesse sentido, que até o
momento não existe, quando houver uma decisão por parte do Supremo Tribunal Federal que
repercuta nacionalmente favoravelmente para um lado ou para outro, delimitando as hipóteses
em que será possível a responsabilização do ente público, seja em razão da falta de fiscalização
ou qualquer outro requisito, ou, em contrapartida, negando qualquer tipo de responsabilidade
deste, posto que não obstante a decisão de constitucionalidade do parágrafo primeiro do artigo
71 da Lei 8.666/95 a jurisprudência permanece conflituosa permanecendo a instabilidade no
Poder Judiciário quanto a este assunto.
16
Posteriormente, mudou-se o foco dos estudos, pois trouxe ao artigo a ótica de discussões
acessórias no tema principal, como o caso assunto já pacificado acerca dos limites da
condenação do ente público em caso de responsabilidade subsidiária advinda da terceirização,
se concernente somente às verbas de natureza salarial ou a totalidade.
Por fim, foi mencionado que um tema vastamente verificado em processos judiciais bem
como na sociedade brasileira, não deveria ser objeto de omissão jurisdicional tão nítida, sendo
certo que principalmente o Supremo Tribunal Federal por longo período sequer se posicionou
quanto ao tema e quando agiu, agiu de forma passiva, sem indicar parâmetros objetivos para
serem aplicados nos diversos âmbitos do Poder Judiciário, de modo a acarretar em enorme
divergência jurisprudencial e doutrinária até os dias de hoje.
REFERÊNCIAS